ARTIGO
ORIGINAL
Perfil
epidemiológico dos portadores de câncer de próstata em tratamento na unidade de
referência em oncologia do município de Sinop/MT
Rosilene Santana
Rodrigues*, Robson Gomes de Sá**, Claudia Zangrande***
*Graduanda
do Curso de Enfermagem na Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Sinop
(FACISAS), UNIC Sinop Aeroporto, **Enfermeiro da Prefeitura Municipal de
Sinop, Especialista em Enfermagem do Trabalho e Saúde Ocupacional e Enfermagem
um Unidade de Terapia Intensiva,*** Enfermeira, Professora do Curso de
Enfermagem da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Sinop (FACISAS), UNIC
Sinop Aeroporto, Especialista em Saúde Coletiva com Ênfase em PSF e Enfermagem
do Trabalho
Recebido em 17 de
julho de 2015; aceito em 18 de fevereiro de 2016.
Endereço
para correspondência:
Claudia Zangrade, UNIC Sinop Aeroporto, Estrada Nanci, 900, 78550-970 Sinop MT,
E-mail: Claudia.mt_2007@hotmail.com
Resumo
O câncer de próstata
é a segunda patologia mais incidente entre os homens em todas as regiões do
país, mostrando-se como a mais comum na população masculina da terceira idade.
Este estudo teve como objetivo identificar o perfil epidemiológico dos
portadores acometidos por câncer de próstata em tratamento na unidade de referência
em oncologia do município de Sinop/MT. Tratou-se de um estudo de caráter
exploratório descritivo com abordagem qualitativa e quantitativa, realizado no
período de março a abril de 2015. Os dados qualitativos foram submetidos à
análise temática de conteúdo, e os dados quantitativos representados por meio
de estatística simples em tabelas. Obteve-se a participação de 23 pacientes em
tratamento e acompanhamento para câncer de próstata, observou-se uma média de
idade de 73 anos, com variação de 54 a 88 anos, a maioria de etnia branca e com
baixo grau de escolaridade. A baixa adesão do público masculino acerca da
realização dos exames de rastreamento para o câncer de próstata se deve à falta
de informação e conhecimento, fato que evidencia a necessidade de implementação das ações em saúde de forma eficaz por parte
dos profissionais de saúde no intuito de melhorar a adesão e conscientização
deste público.
Palavras-chave: neoplasia da
próstata, saúde do homem, perfil de saúde.
Abstract
Epidemiological profile of patients with prostate cancer treated at the
referral center for oncology in the city of Sinop/MT
Prostate cancer is the second most frequent disease among men in all
regions of the country, showing up as the most common in the male population of
seniors. This study aimed to identify the epidemiological profile of patients
affected by prostate cancer who were treated at the referral center for
oncology in the municipality of Sinop/MT. This was a
descriptive exploratory study with a qualitative and quantitative approach,
performed from March to April 2015. The qualitative data were submitted to
thematic content analysis and quantitative data represented by simple
statistics in tables. Twenty three patients participated in treatment and were
monitored for prostate cancer, average age 73 (54-88) years old, most Caucasian
and with low level of education. It was clear the low adherence of the male
public concerning screening examination for prostate cancer due to lack of
information and knowledge, a fact which highlights the need to implement the
health actions effectively by health professionals in order to improve
adherence and awareness of the public.
Key-words: prostatic
neoplasm, men’s health, health profile.
Resumen
Perfil epidemiológico de pacientes con cáncer
de próstata tratados en el centro de referencia en
oncología en la ciudad de Sinop/MT
El cáncer de próstata
es la segunda enfermedad más frecuente entre los
hombres en todas las regiones del país, la mayoría de los hombres en la tercera
edad. Este estudio tuvo como objetivo identificar el
perfil epidemiológico de pacientes en el tratamiento de cáncer de próstata en
el centro de referencia en oncología en el municipio de Sinop, MT. Este es un estudio exploratorio descriptivo con abordaje cualitativo
y cuantitativo, realizado entre marzo y abril de 2015. Los datos cualitativos
fueron sometidos a análisis de contenido temático y los datos cuantitativos
representados por simples estadísticas en tablas. Participaron 23 pacientes en
tratamiento y seguimiento del cáncer de próstata, se
produjo una media de edad de 73 años, entre 54 y 88 años, la mayoría de raza
caucásica y de bajo nivel educativo. Se observó baja adhesión del público masculino con relación a los exámenes de
detección del cáncer de próstata debido a la falta de información y
conocimiento, lo que pone de relieve la necesidad de implementar acciones de
salud con eficacia por profesionales de la salud con el fin de mejorar la
adherencia y la concienciación del público.
Palabras-clave: neoplasia de
próstata, salud del hombre, perfil de salud.
A próstata é uma
glândula que se localiza a frente do reto e abaixo da bexiga e que envolve a
uretra. Este órgão é responsável pela produção de uma parte do sêmen e suas
células epiteliais são responsáveis pela produção do antígeno específico
prostático (PSA), o qual, quando elevado na corrente sanguínea, requer uma
investigação minuciosa, pois várias patologias alteram suas concentrações, como
a prostatite, a hiperplasia prostática benigna e o próprio câncer de próstata (CaP) [1-3].
De acordo com o
Instituto Nacional do Câncer [5], o tumor de próstata é a segunda patologia
mais incidente entre os homens em todas as regiões do país, mostrando-se como a
mais comum na população masculina da terceira idade. Ainda, sua estimativa para
o Brasil é de 68.800 casos novos para o ano de 2014, correspondendo a um risco
estimado de 70,42 casos novos para cada 100 mil homens, e para o estado de Mato
Grosso a taxa estimada é de 49,18 casos para cada 100 mil homens [1,4,5].
Vários são os fatores
de riscos relevantes para o desenvolvimento do CaP,
tais como: a idade, a predisposição familiar em homens cujo irmão/pai fora
diagnosticado com a doença, a etnia, dieta altamente calórica, influências
ambientais e alimentares, baixa adesão aos serviços de saúde e consequentemente
a não realização dos exames de prevenção regularmente [1,6].
Na literatura
encontrava-se a idade de 45 anos considerada para o início do rastreamento do CaP, atualmente a idade de 50 anos é a de escolha desde que
este homem não tenha histórico familiar da patologia, para estes o rastreamento
deverá ser iniciado aos 45 anos e não mais aos 40 como estava descrito
anteriormente. O fator etnia nesse caso faz referência ao fato de que a origem
negra apresenta duas vezes mais a probabilidade de óbito por esta patologia do
que os outros grupos raciais ou étnicos, devendo-se ser caracterizado como
importante fator de risco. Estatisticamente, 85% dos casos diagnosticados com a
doença apresentaram estágios avançados após os 65 anos de idade [3,4,6,7].
O rastreamento do CaP é realizado por meio da dosagem do PSA e do toque retal
que é feito pelo profissional médico. Apesar de o toque retal ainda ser um
exame negado pelos homens, devido a preconceitos em relação à masculinidade,
ainda é uma técnica utilizada para avaliar o tamanho, a forma, a consistência
da próstata e a presença de nódulos. Considera-se, no entanto, que pode haver
falhas entre 30% e 40% dos diagnósticos no toque retal e 20% de falha na
dosagem sérica do PSA. Para o diagnóstico do câncer de próstata uma das
limitações do toque retal é verificado quando a lesão não é palpável, devido ao
difícil acesso e principalmente quando está em estágio inicial, outra limitação
encontrada pelo examinador no toque retal é a diferenciação de lesão, entre
benigna e maligna [2,8].
Ressalta-se que, pelo
fato do CaP ter um crescimento muito lento, o
aparecimento dos sinais e sintomas dependerá do tamanho e da área do
comprometimento em que se encontra o câncer, podendo apresentar disúria,
poliúria, hematúria e disfunção erétil, devido a um crescimento desorganizado
das células neoplásicas na próstata. Já a metástase do câncer pode atingir os
ossos e linfonodos, levando o homem a procurar um serviço médico com queixas de
algia no quadril e lombar, com perda de peso, desconforto retal e perineal,
fraqueza, anemia, oligúria, náuseas e também fraturas patológicas espontâneas
[1,6].
A Política Nacional
de Atenção Integral a Saúde do Homem (PNAISH) foi criada, dentre outros
motivos, para ampliar e facilitar o acesso da população masculina nas unidades
de saúde com atendimento humanizado e de qualidade. Seu objetivo é promover
ações de saúde que contribuam para a compreensão da realidade singular
masculina, considerando os agravos a este gênero como importantes problemas de
saúde pública [9].
Devido ao aumento da
população idosa relacionada ao aumento da expectativa de vida, o perfil
epidemiológico do câncer vem demonstrando alterações que afetam
significativamente o cenário das neoplasias no mundo. Para que ocorra mudança
neste cenário, os profissionais de saúde devem implantar e implementar
ações de promoção à saúde que estimulem o homem a conscientizar-se da
relevância relacionada à prevenção e detecção precoce desta patologia, com o
objetivo de diminuir as taxas de mortalidade e agravos à sua saúde [10].
A importância deste
estudo pode ser demonstrada pelo elevado número de casos de CaP
e escassez de pesquisas no estado de Mato Grosso acerca da saúde do homem.
Ainda, neste contexto, insere-se o papel indispensável do profissional
enfermeiro desenvolvendo e implementando
estratégias e
ações de prevenção e promoção
da saúde, no intuito de conscientizar a população
masculina sobre os agravos desta patologia e passem a realizar com
regularidade
as medidas preventivas. Assim, pretende-se identificar o perfil
epidemiológico
dos portadores de câncer de próstata em tratamento na
unidade de referência em
oncologia do município de Sinop/MT.
Tratou-se de um
estudo de caráter exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa e
quantitativa realizado na unidade de referência em oncologia do município de
Sinop/MT. Optou-se pelo estudo exploratório-descritivo devido a sua indicação
para investigar tópicos pouco conhecidos, descrevendo as “características de determinada população,” pela abordagem qualitativa,
visto que “há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um
vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que
não pode ser traduzido em números” [11] e pela abordagem quantitativa,
considerando que o estudo “pode ser
mensurado numericamente, ou seja, pode ser traduzido em números, opiniões e
informações para classificá-las e analisá-las” [12,13].
A coleta de dados foi
realizada no período de março a abril de 2015, após a autorização do
responsável pela unidade de oncologia e aprovação pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade de Cuiabá sob o aparecer nº 925.611.
Os critérios para
inclusão dos participantes no estudo foram: ser portador de câncer de próstata,
residente no município de Sinop/MT em acompanhamento ou tratamento para esta
patologia e que aceitaram em participar voluntariamente da pesquisa assinando o
termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Foram excluídos aqueles que
não se disponibilizaram voluntariamente a participar do estudo, negando-se em
assinar o TCLE e que não se enquadraram nos critérios de inclusão.
A abordagem ao
participante do estudo aconteceu diretamente na unidade de oncologia em dias
pré-agendados de acompanhamento e/ou tratamento dos mesmos. A coleta de dados
foi realizada por meio da aplicação de um questionário contendo questões
abertas e fechadas, aplicados individualmente, conforme a disponibilidade de
cada voluntário. As áreas temáticas abordadas foram: perfil epidemiológico do
entrevistado e o processo de saúde e adoecimento.
Foi assegurada a
privacidade e a confidencialidade das informações coletadas, garantindo a
utilização dos dados apenas para fins científicos, sem prejuízos aos
participantes, os quais foram identificados pelas iniciais de seus nomes. Desta
forma, foram observadas todas as normas legais e éticas da Resolução nº 466 de
12 de dezembro de 2012 que dispõe sobre as Diretrizes e Normas Regulamentadoras
de Pesquisa com Seres Humanos [14].
Os dados qualitativos
foram submetidos à análise temática, uma das modalidades da análise de
conteúdo, fundamentada na regularidade das afirmações, que busca revelar, dessa
forma, estruturas de relevância, valores de referência e comportamentos [15].
Para análise dos dados quantitativos foi utilizado à estatística simples com
frequência relativa e absoluta, apresentados por meio de tabelas.
Resultados
e discussão
Na época da
realização do estudo havia 25 pacientes em tratamento para o câncer de
próstata, destes, 23 participaram do estudo e apenas 2
negaram-se a participar, por não sentirem-se preparados a falar a respeito da
patologia naquele momento. Entende-se a não aceitação pelo fato de que o
diagnóstico de câncer de próstata causa ao homem sentimento de impotência e
exclusão [16].
A média de idade dos
participantes foi de 73 anos, com variação de 54 a 88 anos, e uma predominância
de casos na faixa etária de 70 a 88 anos de idade. Em estudo realizado por
Ribeiro et al. [17], perceberam-se casos com idade
ainda menor e uma variação entre 40 e 90 anos, entretanto, a grande maioria dos
participantes apresentava idade entre 71 e 80 anos, o que corrobora os dados
desta pesquisa.
Em relação à etnia 13
(56,5%), declaram-se brancos, 7 (30,4%) pardos e 2
(9%) negros. Observou-se um total de 14 (61%) participantes casados e 3 (13%) viúvos. Em relação ao grau de escolaridade, 12
(52,1%) possuem ensino fundamental incompleto, 3 (13%)
ensino médio incompleto e 7 (30,4%) não são alfabetizados, relataram saber
escrever apenas seus nomes próprios e a grande maioria dos entrevistados 20
(87%) seguem a religião católica (tabela I).
Tabela
I - Caracterização dos pacientes portadores de
câncer de próstata, Sinop/MT, 2015.
Dados semelhantes
foram encontrados em estudo realizado com 50 pacientes portadores de câncer de
próstata em um ambulatório de oncologia na cidade de Uberaba, Minas Gerais, no
qual se evidenciou uma prevalência para a cor branca com um total de 36 (72%)
participantes, 30 (60%) eram casados, 30 (60%) possuíam ensino fundamental
incompleto e 16 (32%) não eram alfabetizados [18].
No momento da
confirmação do diagnóstico de CaP, notou-se que a
menor idade encontrada foi de 54 anos, o que ressalta a importância do
rastreamento para detecção precoce do câncer de próstata ter início aos 50
anos, conforme recomenda a Sociedade Brasileira de Urologia [7]. Afirmou-se
ainda que em 21 (91,3%) dos participantes a suspeita surgiu devido à alteração
do resultado do PSA e 2 (9%) relataram alteração no
exame digital transrretal da próstata, conhecido como o exame de toque retal,
sendo estes os métodos primeiramente utilizados para o rastreamento e detecção
precoce do CaP.
Dos participantes,
apenas 7 (30,4%) realizaram um dos exames para o
rastreamento do câncer de próstata pela primeira vez com média de idade de 60,5
anos. Destes, 3(13%) fizeram a dosagem do antígeno
prostático específico (PSA) e 4 (17%), apenas o toque retal. Além disso, dentre
os entrevistados que realizaram o exame, 3 (13%)
afirmaram que foram esclarecidas as dúvidas sobre o exame preventivo e 4 (17%)
relataram que não houve esclarecimento sobre o exame realizado (tabela II).
Tabela
II -
Número de pacientes que realizaram e não
realizaram o exame preventivo, Sinop/MT, 2015.
O exame de toque
retal é uma das maneiras citadas na literatura como eficazmente utilizado para
o auxílio na detecção do CaP, ele permite avaliar o
tamanho, a forma e consistência da glândula, além de ser rápido e de baixo
custo. Porém, ainda é interpretado como uma ofensa à masculinidade, fazendo com
que o homem não perceba a importância deste para sua saúde [19].
Evidenciou-se neste
estudo que 16 (69,5%) participantes não realizaram exames preventivos para
detecção do CaP, o que comprova a baixa adesão do
público masculino a esta prática e os motivos estão dispostos nas falas.
“Não fiz o exame por
vergonha e preconceito”. (J.A.F)
“Falta de orientação,
conscientização e por me sentir acomodado”. (W.V.N)
“Nunca me interessei
em fazer o exame”. (E.U.C)
“Nunca ouvi falar do
assunto”. (A.H.A)
Estes dados se
revelam preocupantes, pois mesmo com o número elevado de casos de CaP,
o homem não percebe a necessidade da busca para
detecção precoce, os vários motivos citados para a
não realização do exame
traduz a falta de conhecimento e precárias
informações recebidas. O baixo grau
de escolaridade e as ineficazes ações estratégicas
de promoção à saúde nas
rotinas das unidades de saúde públicas e privadas tornam
visível a necessidade
de melhorias no que tange às ações de
promoção e prevenção de saúde
dispensada
a este público [20,21].
Em estudo
comparativo, evidenciaram-se os motivos pelos quais os homens não realizaram o
exame de toque retal: o fato de o médico nunca ter solicitado,
não perceberem a necessidade, descuido e esquecimento, falta de tempo,
preconceito e medo, o que confirma a importância da educação em saúde. A
enfermagem exerce papel fundamental, embasado na prática da educação em saúde,
instigando nas pessoas e grupos sociais a consciência crítica de assuntos
voltados à saúde e a realidade social [19].
Quando questionados
acerca de campanhas e palestras que abordam o tema pelas Unidades Básicas de
Saúde, percebeu-se que se fazem necessárias melhorias nas ações de educação,
promoção e prevenção em saúde, pois apenas 6 (26%)
declaram ter visto campanhas incentivando a população masculina à prevenção
precoce do câncer de próstata; 15 (65,2%), afirmaram não ter visto nenhum tipo
de ação; e 2 (9%) não souberam responder. Estudo realizado no município de
Cuité Paraíba em unidades básicas ressalta a dificuldade para a implantação da
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, devido à falta da
capacitação dos profissionais, a não adesão da população masculina aos serviços
de saúde e a falta de compromisso dos gestores de saúde [22].
Pouco mais da metade
dos homens 13 (56,5%), informaram a procura pela unidade de saúde para
consultas médicas, 2 (9%) declararam frequentar a
unidade básica unicamente para realização de exames de rotina e 8 (35%)
afirmaram nunca ter frequentado a unidade básica de saúde. Quanto à procura da
assistência médica na hora do adoecimento, 13 (56,5%) dos entrevistados
declararam que buscaram atendimento na unidade básica de saúde, 3 (13%) em hospital particular, 1 (4,3%) na Unidade de
Pronto Atendimento (UPA) 24 horas, 2 (9%) hospital regional e 3 (13%) não
buscaram atendimento. A baixa procura das práticas preventivas pela população
masculina é notória, ela só existe na presença de dor ou enfermidade instalada
que esteja prejudicando o desempenho no trabalho, dessa forma, percebe-se
ainda, a grande valorização pelas consultas curativas e ignoram-se as ações de
caráter preventivo [23].
A falta de tempo é um
apontamento importante e que também deve ser levado em consideração para o
planejamento das ações de saúde. O horário de atendimento das unidades básicas
de saúde coincide com a jornada de trabalho da grande maioria dos homens,
destarte, devem estar incluídos no cronograma de trabalho das unidades de saúde
[8].
Quanto ao
conhecimento acerca da prevenção precoce para o câncer de próstata, 13 (56,5 %)
relataram que ouviram falar da prevenção por meios de comunicação e outras
pessoas, 10 (43,4%) afirmaram nunca ter ouvido falar em prevenção precoce.
Muitas são as dúvidas a respeito das causas e da melhor abordagem para a
detecção precoce e tratamento dessa doença. No entanto, deve-se estimular a
prática das medidas experimentadas, destacando-se o rastreamento dos homens
assintomáticos, por meio da realização do exame de toque retal e PSA
concomitantemente, já que a melhor forma para diagnosticar o CaP
é pela combinação destes exames. Ainda, atendendo a Política Nacional de
Prevenção e Controle do Câncer de Próstata do Ministério da Saúde, ações
contínuas de educação em saúde que estimulem a consciência dos homens acerca da
inserção dos mesmos no que tange à sua saúde devem ser intensificadas [8].
Quando os
participantes foram questionados a respeito da Política Nacional de Assistência
Integral a Saúde do Homem (PNAISH), 18 (78,2%) declaram nunca ter ouvido falar
do assunto e 5 (22%) afirmaram ter ouvido alguma coisa
pelos meios de comunicação televisiva. E ao questionar da importância da
Política para a saúde do homem, vários depoimentos apontaram a mesma resposta,
como podemos notar nos depoimentos abaixo:
“Se funcionasse seria
importante para o homem”. (A.S.A)
“Acho que deve ser
importante”. (A.P.B)
“É muito importante, só falta divulgação para que o homem
conheça seus direitos na saúde”. (J.C.M)
Segundo Moura et al. [9] a PNAISH tem como objetivo
facilitar o acesso da população masculina aos serviços e as ações de
assistência à saúde de qualidade, contribuindo com a redução da mortalidade, da
morbidade e dos agravos que podem acometer o homem. Entretanto, faz-se
necessário um maior engajamento dos gestores, para que realmente ações de
educação, detecção precoce e tratamento adequado sejam ofertados a população e
os objetivos sejam concretizados.
Com relação aos
fatores de risco para o desenvolvimento da doença, a idade e o histórico
familiar apresentam certo consenso em estudos realizados previamente,
acometendo homens com idade superior a 50 anos e naqueles com história de pai
ou irmão com câncer de próstata [24].
Pode-se perceber pelo
estudo que o histórico familiar é importante fator de risco para a doença, 7 (30,4%) dos entrevistados possuem história de CaP na
família, 4 (17%) afirmaram que o pai era portador de CaP, 2 (9%) relataram ter
irmão e 1 (4,3%) o sobrinho. De acordo com estudos epidemiológicos, o indivíduo
com histórico familiar de câncer de próstata aumenta até três vezes o risco de
desenvolver a doença do que homens da mesma faixa etária e grupo étnico, sem
nenhum histórico familiar da patologia [25]. Observa-se ainda que os riscos aumentam 2,2 vezes quando um parente de 1º grau, ou seja,
pai ou irmão é acometido pela doença, 4,9 vezes quando dois parentes de 1º grau
são portadores e de 10,9 vezes quando três parentes de 1º grau têm a neoplasia
[24].
Outros fatores estão
associados ao aumento da incidência do CaP, dentre os
quais, verifica-se, aumento da expectativa de vida, ações de saúde voltadas ao
público masculino, diagnosticando mais homens com a patologia, além de condições
ambientais e alimentares, com elevado consumo energético, ingestão de carnes
vermelhas, gorduras e leite [26].
Em relação ao estilo
de vida dos entrevistados relacionado com o consumo de alimentos, bebidas,
tabagismo e prática de atividade física antes do diagnóstico do câncer de
próstata, evidenciou-se um elevado índice de consumo de carnes vermelhas: 23
(100%) afirmaram consumo diário de carne vermelha; 22 (95,6%) massas; 21
(91,3%) legumes; 18 (78,2%) frutas; 18 (78,2%) alimentos gordurosos; 13 (45,5%)
bebidas alcoólicas; 16 (69,5%) eram ex- fumantes, e 2
(9%) ainda fumavam, 12 (52,1%) relataram ter praticado algum tipo de atividade
física como, caminhada, corrida e futebol. Estudos atuais demonstram que
rotinas de vida e hábitos alimentares, tais como consumo de bebidas alcoólicas
em excesso, alta ingestão de gorduras, carnes vermelhas e o tabagismo podem
estar associados a várias doenças crônico degenerativas, inclusive ao CaP, pois apresentam potencial mutagênico considerável para
o favorecimento de doenças [21,27]. Muitos dos participantes deste estudo estão
em tratamento de doenças crônicas, 12 (52,1%) declararam fazer tratamento para
hipertensão arterial, 5 (22%) afirmaram ser
diabéticos, 3 (13%) ter problemas cardíacos.
Estudos ressaltam que
a procura pelo serviço de saúde acontece, após o surgimento de sintomas, quando
a doença encontra-se em estágio avançado, e os principais sinais e sintomas são
os relacionados à função urinária. Outros também mencionados foram
impotência, febre, falta de apetite, edema de testículos, dentre outros
[19].
Com relação aos
sinais e sintomas apresentados entre os participantes deste estudo antes da
descoberta da patologia, pode-se observar que sinais sugestivos de alterações
prostáticas estiveram presentes. Em 16 (66,5%) dos participantes, evidenciou-se
diminuição da quantidade de urina, 17 (74%) afirmaram ter disfunção erétil, 12
(52,1%) relataram dor no quadril, 9 (39,1%) declararam
fraqueza, 11 (48%) aumento da frequência urinária, 5 (22%) hematúria, 11 (48%)
apresentaram desconforto retal e 12 (52,1%) disúria (tabela III). De acordo com
Rodrigues et al.
[27], o câncer de próstata,
inicialmente, está relacionado a sintomas comuns como
disfunção miccional, por
exemplo, disúria, redução da força e
calibre do jato urinário, polaciúria,
hesitação, noctúria e sensação de
depleção miccional. Além disso, a
hematúria,
obstrução uretral e sangramento retal estão
presentes nos estágios mais
avançados da doença.
Tabela
III
- Sinais e sintomas apresentado nos
participantes antes da confirmação do câncer de próstata, Sinop/MT, 2015.
No que diz respeito à
ocupação, 2 (9%) trabalhavam por conta própria
(autônomo) e recebiam benefício do governo (auxílio doença), 2 (9%) declararam
ser autônomos e aposentados, 2 (9%) só recebiam o auxílio doença, 2 (9%)
autônomos, 2 (9%) era aposentado e recebiam benefício do governo, 12 (52,1%) só
recebia a aposentadoria e 1 (4,3%) não recebia nada. Segundo Rosa et al. [28], pela falta de informação e
conhecimento, o portador de neoplasia maligna muitas vezes deixa de usufruir
dos direitos e benefícios assegurados por lei.
Pesquisas apontam
para o fato de que muitos pacientes não possuem nenhum vínculo empregatício
quando da obtenção do diagnóstico da doença, o que prejudica muitas vezes a
dinâmica familiar, especialmente no período do tratamento, pois gastos que não
constavam no orçamento da família podem ocorrer [29].
Os dados deste estudo
ressaltam que, dentre os participantes que exerciam atividades remuneradas
antes do diagnóstico da doença, todos eram autônomos, o que facilitava a
continuidade na ocupação sem comprometer o tratamento. Como podemos observar
nos depoimentos abaixo:
“Eu trabalho por conta
própria, tenho uma oficina de motos”. (C.T)
“Sou taxista
autônomo”. (A.R)
“Sou eletricista
autônomo”. (J.C.M)
“Tenho juntamente com
meus filhos um mercadinho”. (A.B)
“Eu tenho uma pequena
empresa de sistema de segurança em casa”. (D.A.O)
“Eu e minha esposa temos
uma loja de confecções em gerais”. (M.O)
A literatura aponta
que, dentre as principais mudanças vivenciadas pelos pacientes com câncer, o
fato de não poder trabalhar torna-se algo temeroso e que tende ao isolamento. O
trabalho é uma das maneiras pela qual o ser humano busca sua identidade, sua
realização pessoal e sua sobrevivência. Entretanto, este ausentar-se da vida
laboral traduz-se em sentimentos negativos e dificuldades financeiras, o que
acarreta preocupações aos pacientes, principalmente àqueles que utilizam sua
renda para o sustento familiar [30].
Obter do paciente
oncológico adesão ao tratamento é um dos principais desafios da equipe
multiprofissional, já que é um momento caracterizado de grandes mudanças e
adaptações. Fatores relacionados ao paciente, tratamento, serviços de saúde,
crenças e hábitos de vida podem ter influência significativa na aceitação do
tratamento proposto. Torna-se importante ferramenta aos profissionais de saúde
que acompanham a evolução do paciente portador de doença crônica o conhecimento
de tais fatores, para então planejar um tratamento eficiente e garantir que as
recomendações sejam seguidas [31].
O apoio e companhia
familiar são de total importância para o enfrentamento da patologia. Dos participantes,
22 (96%) afirmaram ter apoio familiar e 1 (4,3%)
declarou que não recebe nenhum tipo de apoio. Desses, 8
(35%) declaram morar só com a esposa, 3 (13%) afirmaram que residem com (filha,
neta, bisnetos, genro, irmãos e outros), 11 (48%) com esposa, filhos e netos e
1 (4,3%) mora sozinho. Segundo Mocheta et al. [16] o
apoio da família juntamente com a rede de apoio social, logo após o diagnóstico
da patologia, auxilia na melhor adesão ao tratamento proposto e favorece melhor
qualidade de vida ao homem acometido pelo câncer de próstata.
O quanto antes
realizar o rastreamento para o câncer de próstata, maior as chances de cura,
possibilitando um tratamento com ações menos agressivas para homem, redução dos
custos financeiros e outros agravos [32].
Para isso, a educação
em saúde, no que concerne ao câncer, exige primariamente a desmistificação do
mesmo, enfermeiros e médicos são os responsáveis pela orientação, informação e
condutas de saúde da população. E por ser o enfermeiro quem mais permanece com
o paciente, seu papel dentro da equipe torna-se fundamental para a promoção de
saúde, detecção precoce e prevenção de doenças [33].
Por meio deste estudo
conclui-se que a média de idade dos participantes foi de 73 anos, com variação
de 54 a 88 anos. Com relação à etnia, observou-se predomínio de brancos com 13
(56,5%) e 2 (9%) negros, diferenciando-se de outros
estudos realizados, a grande maioria era casada 14 (61%) e possuía baixo grau
de escolaridade. Quanto à adesão às práticas preventivas e principalmente
realização de exames para detecção precoce do câncer de próstata, pode-se
perceber uma grande lacuna e desconhecimento da necessidade de realização desta
prevenção periódica.
Vale ressaltar, a
notória necessidade de práticas educativas e preventivas voltadas a este
público por parte dos profissionais de saúde, no intuito de modificar este
cenário, pois pouco ainda se faz para que o homem sinta-se inserido nos
programas de saúde.
A unidade de
referência em oncologia do município de Sinop/MT, pela autorização do estudo e
aos voluntários que aceitaram participar da pesquisa.