Enferm
Bras. 2023;22(5):532-46
ARTIGO
ORIGINAL
Análise
do conhecimento dos gestores de escolas de educação infantil sobre as políticas
públicas de alimentação e nutrição
Luciana
Patrícia Brito Lopes1,2, Cheila Nataly Galindo Bedor1, Ferdinando Oliveira
Carvalho1
1Universidade Federal do Vale do São
Francisco (UNIVASF), Juazeiro, BA, Brasil
2Faculdade UniFTC,
Petrolina PE, Brasil
Recebido
em: 10 de novembro de 2022; Aceito em: 28 de agosto de 2023.
Correspondência: Luciana Patrícia Brito Lopes,
lucipatilopes@gmail.com
Como citar
Lopes LPB, Bedor CNG, Carvalho FO. Análise
do conhecimento dos gestores de escolas de educação infantil sobre as políticas
públicas de alimentação e nutrição. Enferm Bras. 2023;22(5):532-46. doi: 10.33233/eb.v22i5.4978
Resumo
Introdução: A partir dos anos 1980 a obesidade
mundial quase que duplicou, apresentando uma alta prevalência nas Américas,
tendo maiores índices em países como México, Chile e Estados Unidos em que a
cada 10 adultos, 7 apresentam obesidade. Objetivo: Estudar a aplicação
da política pública de alimentação e nutrição em escolas de um município no
sertão Pernambucano. Métodos: Estudo descritivo, transversal,
qualitativo realizado com gestores das escolas municipais de educação infantil
do município do sertão pernambucano. Foram incluídas 29 escolas de ensino
infantil que atendiam escolares a partir dos cinco anos de idade, com o
objetivo de avaliar a aplicabilidade da PNAN, PNAE e PSE nessas escolas.
Aceitaram participar do estudo 27 gestores, sendo esses coordenadores
pedagógicos, diretores ou vice-diretores, além da coordenadora da merenda
escolar do município. Resultados:
Emergiram as categorias: A importância
da percepção da alimentação saudável
como promoção de saúde; A aplicação
da
Política Nacional de alimentação e
nutrição em Escolas. Conclusão: O
desconhecimento da PNAN entre a maioria dos gestores é preocupante, pois a
parceria escola, governo e família são essenciais para a diminuição do excesso
de peso. A partir do momento que uma destas partes é negligenciada a ação e
resolução do problema torna-se de difícil elucidação e cada vez mais o desafio
de se reduzir os índices de sobrepeso e obesidade tornam-se distantes.
Palavras-chave: políticas públicas de saúde; dieta
saudável; obesidade; estudantes; alimentação escolar
Abstract
Analysis of the knowledge of the managers of early
childhood education schools on the public policies of food and nutrition
Introduction: Since the 1980s,
world obesity has almost doubled, with a high prevalence in the Americas, with
higher rates in countries such as Mexico, Chile and the United States in which
7 people are obese for every 10 adults. Objective: To study the
application of public food and nutrition policy in schools in a municipality in
the state of Pernambuco. Methods: Descriptive, cross-sectional,
qualitative study conducted with managers of the municipal schools of early
childhood education in the municipality state of Pernambuco. Twenty-nine early
childhood schools that attended schoolchildren from the age of five were
included, aiming to evaluate the applicability of PNAN, PNAE and PSE in these
schools. Twenty-seven managers agreed to participate in the study, being these
pedagogical coordinators, principals or vice-principals, in addition to the
coordinator of the municipal school lunch. Results: The following
categories emerged: The importance of the perception of healthy eating as
health promotion; The implementation of the National Food and Nutrition Policy
in Schools. Conclusion: The ignorance of PNAN among most managers is
worrisome because the partnership between school, government and family are
essential for reducing overweight. From the moment one of these parts is
neglected the action and resolution of the problem becomes difficult to
elucidate and increasingly the challenge of reducing the rates of overweight
and obesity become distant.
Keywords: health policy; healthy diet;
obesity; students; school feeding
Resumen
Análisis del conocimiento
de los gestores de las escuelas de educación infantil
sobre las políticas públicas de alimentación
y nutrición
Introducción: Desde la
década de 1980, la obesidad
mundial casi se ha
duplicado, con una alta prevalencia
en las Américas, con tasas más altas en países como México, Chile y Estados Unidos en los que 7 personas son obesas por cada 10 adultos. Objetivo: Estudiar la aplicación
de la política pública de alimentación
y nutrición en las escuelas de un municipio de Pernambuco. Métodos:
Estudio descriptivo,
transversal, cualitativo realizado con directivos de las escuelas municipales
de educación infantil del municipio Pernambucano. Se incluyeron
veintinueve escuelas de la primera infancia
que asistían a escolares desde la
edad de cinco años, con el objetivo de evaluar la aplicabilidad
de PNAN, PNAE y PSE en estas escuelas.
Veintisiete gerentes aceptaron
participar en el estudio, siendo estos coordinadores pedagógicos, directores o subdirectores, además del coordinador
del almuerzo escolar
municipal. Resultados: Surgieron las siguientes categorías: La importancia de la percepción de la alimentación saludable como promoción de la salud; La implementación
de la Política Nacional de Alimentación
y Nutrición en las Escuelas. Conclusión:
La ignorancia del PNAN
entre la mayoría de los gerentes es preocupante porque
la asociación entre la escuela, el
gobierno y la familia son esenciales
para reducir el sobrepeso.
Desde el momento en que se
descuida una de estas partes, la acción
y resolución del problema
se vuelve difícil de dilucidar y cada vez más se aleja el desafío
de reducir las tasas de sobrepeso y obesidad.
Palabras-clave: políticas de salud pública;
dieta saludable; obesidad; estudiantes; alimentación
escolar.
A
partir dos anos 1980, a obesidade mundial quase que duplicou, apresentando uma
alta prevalência nas Américas, tendo maiores índices em países como México,
Chile e Estados Unidos em que a cada 10 adultos, 7 apresentam obesidade [1].
No
Brasil, os índices de desnutrição observados na década de 80, que mostravam a
vulnerabilidade social e de saúde da população, deu lugar ao ganho de peso.
Ocorrendo um aumento do excesso de peso na população adulta de 18,5% entre
1974-1975 para 52,5% em 2014 e aumento na prevalência de obesidade de 2,8% para
17,9% no mesmo período [2].
A
ocorrência de excesso de peso entre as crianças, no país, também se mostrou
significativa, pois os dados mais recentes divulgados mostram que 10% destas
até os 5 anos apresentaram esse problema, dos quais um quinto (18,6%) desta
faixa etária estão em uma zona de risco de sobrepeso [3].
Define-se
excesso de peso o acúmulo de gordura corporal, desencadeada pelo desequilíbrio
entre a ingesta de calorias e seu gasto diário, prejudicando a saúde do
indivíduo, e tornando-o vulnerável a diversos tipos de patologias [1,4].
Vários
fatores podem desencadear o ganho de peso no indivíduo, tais como: sociais,
ambientais, psicológicos, estilo de vida e genéticos [5]. Porém quando esses
são expostos a ambientes não saudáveis, com fácil acesso a alimentos e bebidas
industrializados, estes tornam-se ingredientes importantes para o aumento do
sobrepeso e obesidade [1].
Com
o intuito de diminuir estes índices de obesidade, o Sistema
Único de Saúde
(SUS) criou, em 2010, a Política Nacional de
alimentação e Nutrição (PNAN) que
tem como propósito a melhoria das condições de
alimentação, nutrição e saúde da
população brasileira, mediante a promoção
de práticas alimentares adequadas e
saudáveis, a vigilância alimentar e nutricional, a
prevenção e o cuidado
integral dos agravos relacionados à alimentação e
nutrição [6], que podem ser
orientados por nutricionistas, enfermeiros, médicos e educadores físicos.
Complementando
a PNAN, destacam-se os programas Saúde na Escola (PSE), que objetiva promover
saúde integral às crianças, adolescentes, jovens e adultos através de ações
intersetoriais entre Unidades Básicas de Saúde (UBS) e escolas e o Programa de
Nutrição Escolar (PNAE), que consiste em ofertar aos estudantes da educação
básica de escolas públicas, federais e filantrópicas do país uma alimentação
adequada e saudável. Esses executam um melhor acompanhamento da saúde da
população escolar no Brasil [7].
Um
dos setores primordiais para a implementação de ações no combate à obesidade
infantil é o ambiente escolar, pois este exerce influência na vida dos
estudantes, repassando a estes valores que são expressos por meio de práticas
educacionais com hábitos de higiene e alimentação adequados para o bom
desenvolvimento infantil, porém há muito que se averiguar sobre a subjetividade
que é dada ao professor e à escola para conduzir tais temas [8]. Nesse sentido,
orientações feitas por profissionais (Enfermagem, nutricionistas, educadores
físicos e médicos) qualificados podem auxiliar nessas práticas.
Diante
do exposto, o presente artigo objetivou estudar a aplicação da política pública
de alimentação e nutrição em escolas de um município no sertão Pernambucano.
Estudo
descritivo, transversal, qualitativo realizado com gestores das escolas
municipais de educação infantil do Sertão Pernambucano.
No
momento do estudo, o município possuía na zona urbana 46 escolas de ensino
infantil, 29 destas atendiam escolares a partir dos cinco anos de idade.
Objetivando avaliar a aplicabilidade da PNAN, PNAE e PSE nessas escolas,
aceitaram participar do estudo 27 gestores, sendo esses coordenadores
pedagógicos, diretores ou vice-diretores, além da coordenadora da merenda
escolar do município.
A
população do estudo foi constituída de 25 mulheres e 2 homens, tendo a maioria
(81,4%) mais de 10 anos de exercício profissional na área de gestão,
coordenação ou ensino. A coordenadora da merenda escolar do município trabalha
na educação há 20 anos, exercendo o cargo há oito anos.
A
coleta dos dados foi realizada nos meses de maio a julho de 2016 por meio de
entrevistas guiadas por roteiro semiestruturado. As entrevistas eram
individuais e marcadas previamente.
O
roteiro de entrevista versava sobre o conhecimento dos gestores sobre a PNAN,
PNAE e PSE. Já para a coordenadora da merenda escolar do município tinha como
propósito o conhecimento e aplicabilidade desta política e programas de
alimentação para escolares, já que se dava a participação dos profissionais das
escolas do município ligados diretamente ao PNAE (nutricionistas, merendeiras, gestor
escolar).
As
entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas para avalizar as
declarações e garantir a fidedignidade dos dados.
Para
análise dos dados foi realizada uma leitura superficial, flutuante, de todo o
material e posteriormente uma leitura minuciosa do material coletado, como
propõe Bardin (2011) [9]. Após o surgimento de termos repetidos entre os
entrevistados acerca de conceitos de saúde, conhecimento sobre riscos à saúde
das crianças e a política pública de alimentação e nutrição, foram elencadas
categorias e subcategorias.
Para
assegurar o anonimato, os entrevistados foram identificados, por códigos,
seguindo a ordem de entrevista, sendo D para diretor, VD vice-diretor, CP
coordenador pedagógico, C coordenador.
Este
estudo atendeu às normas da resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012 do
Conselho Nacional de Saúde (CNS), sendo aprovada pelo comitê de ética em
Pesquisa da Universidade Federal do Vale do São Francisco (parecer nº
1.520.819, de 28 de Abril de 2016).
Das
46 escolas municipais da zona urbana de Petrolina/PE, 29 (63%) foram elencadas
para a realização de entrevistas com seus gestores objetivando avaliar o
conhecimento desses sobre políticas públicas de alimentação e nutrição. Desses
27(93,1%) coordenadores pedagógicos, diretores, vice-diretores e a coordenadora
da merenda escolar do município aceitaram participar do estudo.
Dentre
os gestores entrevistados, 25 (92,6%) das participantes eram do gênero
feminino. 22 (81,4%) tinham mais de 10 anos de exercício profissional na área
de gestão, coordenação ou ensino. A caracterização da amostra está representada
no quadro 1.
Quadro
1 - Perfil dos
gestores escolares do município de Petrolina – 2016
Fonte:
A autora*; D = diretor; VD = vice-diretor; CP = coordenador pedagógico** F:
sexo feminino; M: sexo masculino; *** NI: não informado
Além
dos gestores das escolas também foi entrevistada a coordenadora da merenda
escolar do município, que trabalha na educação há 20 anos e exerce esse cargo
na gestão há 8 anos.
A
partir da análise dos discursos foram construídas duas categorias temáticas,
cada uma com três subcategorias. Para melhor entendimento dessas, foram
selecionados excertos que visam a representar e caracterizar os achados
encontrados.
Categoria
1: Concepção do gestor sobre alimentação saudável.
1.1-Subcategoria:
Entendimento sobre alimentação saudável.
1.2-
Subcategoria: Entendimento sobre promoção de saúde.
1.3-
Subcategoria: Orientação aos pais e estudantes sobre alimentação saudável.
Categoria
2: Entendimento e operacionalização da Política Nacional de Alimentação e
Nutrição.
2.1-
Subcategoria: Orientação do cardápio
2.2-
Subcategoria: Existência de parceria entre Unidade de Saúde e Escola
2.3 -
Subcategoria: Conhecimento sobre PNAN, PNAE e PSE
As
categorias são apresentadas a seguir:
Esse
estudo dialoga, a partir da fala dos atores entrevistados, como as Políticas e
Programas voltados para alimentação são aplicados nas escolas municipais de
educação infantil.
A
importância da percepção da
alimentação saudável como promoção
de saúde.
“É não
comer gordura, é ter uma alimentação mais de vegetais, muita fruta, e menos
massa” (D2).
“Ações
direcionadas pelo poder público ou de iniciativa pessoal que fomentem a uma
prática, seja ela esportiva ou estilo de vida saudável, onde é preciso entender
o contexto de como os alimentos são produzidos e o que rege toda a demanda do
processo” (CP1).
“Promover
saúde pra mim é justamente esse trabalho que é feito com a saúde, esse trabalho
de conscientização, que a escola também faz, de certa forma, porque a gente tem
uma parceria com a Unidade de Saúde, deveria ser maior, mas a gente tem essa
parceria, inclusive aqui na escola a gente já promoveu algumas palestras, com a
questão da alimentação” (D13).
“Seria através de projetos, campanhas dos
órgãos públicos, seriam parcerias das Universidades, da sociedade em geral”
(D5).
Ao
serem questionados sobre a existência de orientação sobre alimentação saudável
para os alunos, muitos gestores afirmaram que essa orientação é realizada pelos
professores nas salas de aula, uma vez que o tema está presente no currículo
escolar:
“Os
professores orientam, porque dentro do cronograma tem pra eles orientarem”
(CP3).
A
aplicação da Política Nacional de Alimentação e Nutrição em escolas
“É oferecida de acordo com o cardápio que a
gente tem. E é uma alimentação que a gente busca seguir os padrões que é
apresentado pela nutricionista que eles dizem que é favorável a saúde a
aprendizagem do aluno” (D16).
“Os nutricionistas da secretaria de educação
elaboram para a rede toda, geralmente é seguido de acordo com o que tem, como
nós sabemos que os alimentos perecíveis vêm a cada 15 dias, mas se atrasar, e
tiver ali uma sopa que precisa de legumes e verduras, aí já vai ter que ser
substituído, mas geralmente a orientação realmente é seguir o que está lá no
cardápio” (D1).
“...Às
vezes não dá pra seguir à risca, a gente iniciou esse ano, ainda teve uns
imprevistos em relação à entrega de frutas que a gente não recebeu, mas quando
esta vem regular a entrega da pra seguir bem direitinho o cardápio. Porém
quando chega acabam apodrecendo, deveriam entregar em menor quantidade e
semanalmente” (D13).
“Tem palestras, não são frequentes, duas vezes
por ano. Professores, nutricionistas da secretaria, estão sempre dispostos a
nos atender” (D14).
“Tem sim, desde que eu cheguei aqui que a
gente vem fazendo essa parceria, ano passado elas fizeram um trabalho, pesaram
as crianças, mediram altura e fizeram esse acompanhamento. Inclusive eles
concluíram ano passado... mas ainda não houve o
retorno, ficou pra ser agora, na verdade era pra ter sido ano passado, o que
fizeram foi um levantamento de pesquisa, essas questões de sobrepeso, mas o
retorno à escola eles ainda não deram” (D13).
Outros
gestores referiram serem essas políticas municipais e não nacionais.
“Existe
a política da merenda saudável do município de Petrolina onde existem ações
direcionadas nesse sentido” (CP1).
O fato
da maioria dos gestores desconhecerem a PNAN não é reconhecido pela
coordenadora da merenda escolar no município.
“Os
gestores escolares, participam periodicamente de capacitação sobre a merenda
escolar... mês passado mesmo teve uma... eles também têm acesso ao portal do
FNDE, que dentre outras informações, tem um link para acesso às informações
sobre a merenda escolar...” (CME).
''Tem a
política nacional de alimentação escolar, é uma política nacional, então todo
cardápio é submetido a umas regras, daí tem uma cartilha de alimentação escolar
que vem claramente falando sobre todos os tipos alimentares, tanto para as
crianças que tem desenvolvimento típico, quanto às crianças que têm alguma
disfunção fisiológica” (D6).
Um
dos objetivos da PNAN é a melhoraria das condições de alimentação, nutrição e
saúde, em busca da garantia da segurança alimentar e nutricional da população
brasileira [6]. Bons hábitos de saúde, incluindo a prática da alimentação
saudável, devem ser iniciados desde os primórdios da vida do indivíduo. Quanto
mais cedo a pessoa aprender bons hábitos alimentares, mais fácil de permanecer
com estes por toda a vida [10].
A
má alimentação pode ocasionar riscos à saúde como, por exemplo, problemas
cardiovasculares, pois quanto menor o acesso a alimentos saudáveis, maiores as
chances para o desenvolvimento de doenças como obesidade e dislipidemias [11].
O hábito de se alimentar bem ultrapassa certas condições sociais e econômicas,
uma vez que, além da renda ser condicionante para a aquisição de maior oferta
de alimentos saudáveis o nível de escolaridade das pessoas é considerado um
fator primordial para aquisição de bons hábitos de saúde inclusive alimentar
[12].
Esse
objetivo está em consonância com a promoção
de saúde, já que essa promoção
supõe uma concepção que não restrinja a
saúde à ausência de doença, mas que
seja capaz de atuar sobre seus determinantes. Incidindo sobre as
condições de
vida da população, extrapola a prestação de
serviços clínico-assistenciais,
supondo ações intersetoriais que envolvam a
educação, o saneamento básico, a
habitação, a renda, o trabalho, a
alimentação, o meio ambiente, o acesso a bens
e serviços essenciais, o lazer, entre outros determinantes
sociais da saúde
[13].
As
ações educativas relacionadas a alimentação e nutrição constam como diretrizes
para inclusão no processo de ensino e aprendizagem, que perpassa pelo
currículo, abordando a temática no ambiente escolar [14]. Assim, todos os
sujeitos atuantes nas escolas devem estar envolvidos no processo de ensino à
saúde dos escolares, a partir da elaboração de estratégias para melhor
aplicabilidade nas orientações tanto para os escolares quanto para os seus
familiares [15].
Percebe-se
com as falas dos gestores, que há uma delegação desta atividade apenas ao
professor em sala de aula, sem existir entre a equipe um planejamento anual ou
periódico das atividades propostas durante o período letivo, tal achado
corrobora o estudo [16], que investigou o planejamento e desenvolvimento de
promoção à saúde nas escolas brasileiras a partir da visão dos profissionais da
saúde e da educação e percebeu uma desarticulação entre estes integrantes.
Esta
situação acaba por trazer uma limitação
às ações de saúde no ambiente escolar e
também familiar. A partir do momento que existem
ações conjuntas entre
profissionais das escolas, familiares e profissionais de saúde,
ações
direcionadas e mais efetivas poderão ser realizadas e bons
hábitos alimentares
poderão ser aplicados no dia a dia destes escolares [17].
A
integralidade na atenção nutricional implica a articulação entre os diversos
setores sociais como o sistema público de saúde, educacionais e familiares das
crianças, seguindo o que preconiza a PNAN para a adoção de medidas que promovam
segurança alimentar à população tanto na oferta de alimentos em quantidade e
qualidade suficiente sem comprometer o acesso a outras necessidades básicas
[6].
Quando
a prefeitura recebe, administra e presta conta dos seus gastos ao Governo
Federal ocorre o sistema centralizado. Neste sistema a prefeitura é responsável
pela aquisição e distribuição dos alimentos e também pela elaboração dos
cardápios. Já na escolarização a transferência dos recursos é feita de forma
direta às creches e escolas pertencentes à sua rede, que passam a se
responsabilizar pela execução do programa, sendo possível também a combinação
das duas modalidades de gestão, chamada de gestão mista [18].
É
interessante observar que neste modelo de administração de recursos, os
gestores acabam não se incluindo como sujeitos atuantes neste processo
alimentar na sua unidade de gestão, cabendo a ele apenas administrar e
acompanhar a aceitabilidade do cardápio ofertado e repassar estas informações à
Secretaria de Educação [19]. Apesar de não ser do conhecimento dos gestores,
esses têm consciência de que o cardápio é programado e enviado para a escola,
onde será executado:
Para
que ocorra de maneira efetiva a descentralização, a fim de alcançar uma maior
aproximação entre todas as especificidades alimentares, o PNAE indica o planejamento
de cardápios diferenciados. Essa diferenciação também não foi observada em
estudo no Estado de Santa Catarina, que apresentou cardápios padronizados para
todas as unidades de ensino, além de dificuldades na oferta de produtos e
fornecedores [20].
Outro
ponto a ser discutido é a introdução de frutas e verduras através da
agricultura familiar, que segundo a coordenadora da merenda escolar não estava
sendo realizada devido a problemas com a licitação por parte da prefeitura, a
aquisição dos alimentos estava sendo feita por uma empresa privada. A aquisição
de gêneros alimentícios como apoio ao desenvolvimento sustentável, produzidos
por agricultores locais está inserida entre as diretrizes do PNAE. Segundo a
lei n. 11947 de 16 de junho de 2009 -Art. 14:
Do
total dos recursos financeiros repassados pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE), no âmbito do Programa Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE), no mínimo 30% deverão ser utilizados na aquisição
de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar e do empreendedor
familiar rural ou de suas organizações, priorizando-se os assentamentos da
reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades
quilombolas [7].
A
aquisição de que trata este artigo poderá ser realizada dispensando-se o
procedimento licitatório, desde que os preços sejam compatíveis com os vigentes
no mercado local, observando-se os princípios inscritos no art. 37 da
Constituição Federal, e os alimentos atendam às exigências do controle de qualidade
estabelecidas pelas normas que regulamentam a matéria.
A
parceria entre outros setores públicos voltados à saúde dos escolares também
foi investigada principalmente entre a unidade básica de saúde e as escolas
através do Programa Saúde na Escola (PSE), política Inter setorial entre os
ministérios da Saúde e Educação que visa promover saúde integral a crianças e
jovens nas escolas, interligando, creches e pré-escolas, ocorrendo assim uma
junção de diversos profissionais envolvidos em um só propósito: a melhoria da
qualidade de vida das crianças e jovens [7].
As
ações do PSE, em todas as dimensões, devem estar inseridas no projeto político
pedagógico da escola, levando-se em consideração o respeito à competência
político executiva dos Estados e Municípios, à diversidade sociocultural das
diferentes regiões do País e à autonomia dos educadores e das equipes
pedagógicas [21].
Exemplos
de ações que podem ser fomentadas a partir dessa parceria são realizações de
eventos de educação em saúde no ambiente escolar, com palestras educativas,
atualização do calendário vacinal, avaliação clínica e nutricional, práticas
esportivas e culturais; realização de oficinas culinárias em parceria com a
comunidade escolar, valorizando frutas e verduras produzidas localmente e o
estabelecimento de espaços de divulgação de informações sobre alimentação e
nutrição [22].
Tal
achado foi equivalente a estudo [23] que ao verificarem a efetividade do PSE na
promoção à saúde do adolescente, observou-se uma dificuldade dos gestores em
articular ações entre esse público e as Unidades Básicas de Saúde (UBS),
principalmente no retorno e importância dessas ações.
Pode-se
inferir que o PSE está presente na maioria das escolas entrevistadas, porém
poucos gestores souberam o nome do programa, assim como explicar com mais
detalhes do que se trata, apenas relatando que há uma parceria, devido aos
funcionários da área de saúde estarem sempre presentes praticando ações nas
escolas.
A
Política Nacional de Alimentação e
Nutrição (PNAN) surge como forma de controle
dos problemas nutricionais de relevância na Saúde
Pública, e para contribuir na
melhoria das condições da saúde da
população, mediante a promoção de
práticas
alimentares adequadas e saudáveis, garantindo assim melhor
qualidade de vida
para as pessoas, principalmente o público infantil [6].
O
programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é
um programa de assistência
financeira suplementar com vistas a garantir no mínimo uma
refeição diária aos
alunos beneficiários. Quando surgiu na década de 50 era
chamado Programa
Nacional de Merenda Escolar (PNME) tendo como objetivo combater a fome
nos
Estados do Nordeste, porém foi avançado para outras
regiões e hoje já atinge todo
território nacional. Em conjunto com a PNAN, integram
ações para melhorias das
condições de alimentação,
nutrição e saúde da população
brasileira na prevenção
e cuidado integral das doenças relacionadas à
alimentação e nutrição [7].
Ocorre
certa ambiguidade quando os gestores mencionam sobre o programa de alimentação
e nutrição ofertado, ora entendem que é um dever do estado ofertar o alimento
outra não sabem como implementá-la. Este desconhecimento da legislação
dificulta a implementação do programa [24].
Tal
situação fere o que preconiza o PNAE que entre as suas diretrizes garante o
direito à alimentação escolar, fornecendo segurança alimentar e nutricional de
forma igualitária, respeitando as diferenças biológicas entre idades e
condições de saúde dos alunos que necessitem de atenção específica [7].
Uma merenda escolar adequada às
necessidades específicas de algumas crianças ainda é pouco utilizada nas
escolas, fazendo com que estas não tenham acesso aos alimentos específicos para
a sua condição. O que contribui com o afastamento dessas crianças da escola ou
em prejuízos à saúde de uma alimentação específica [25].
A
maioria dos gestores de escolas municipais de educação infantil do município de
Petrolina/PE mostrou desconhecimento sobre a Política Nacional de Alimentação e
Nutrição, bem como sua aplicabilidade e os programas advindos dela. Ocorrendo
assim uma necessidade de reavaliação da aplicabilidade da PNAN e programas
decorrentes dessa nas escolas.
Também
se faz necessária uma avaliação de todos os integrantes previstos no processo,
inclusive os gestores escolares, pois, apesar desta política ser aplicada nas
escolas, ainda ocorrem falhas tanto na parte administrativa quanto nas de
recursos humanos.
O
empenho por parte da gestão da merenda escolar do município, assim como dos
gestores nas escolas, poderá ajudar no controle dos altos índices de sobrepeso
e obesidade para que assim ocorram melhorias na merenda ofertada, respeitando
as limitações dos escolares, conseguindo absorver maior quantidade de pessoas e
as limitações quanto ao tipo de alimento fornecido serão resolvidas.
O
desconhecimento da PNAN entre a maioria dos gestores é preocupante, pois a
parceria escola, governo e família são essenciais para a diminuição do excesso
de peso. A partir do momento que uma destas partes é negligenciada a ação e
resolução do problema torna-se de difícil elucidação e cada vez mais o desafio
de se reduzir os índices de sobrepeso e obesidade tornam-se distantes.
O
gestor empenhado em busca de maior conhecimento por ações de saúde, incluindo
ações para alimentação saudável, contribuirá na sua escola em uma melhor
aplicabilidade e direcionamento das necessidades dos escolares, não percebendo
a alimentação escolar apenas para atender carências nutricionais. Este se
tornará um facilitador ou mediador de ações, promovendo melhor a promoção à
saúde especificamente das crianças, atuando de forma direta em doenças advindas
da má alimentação, dentre elas a obesidade infantil.
A
alimentação na escola vista como uma ação de promoção da saúde pode ser
favorável no combate à obesidade infantil, por esse ser um espaço privilegiado
para o desenvolvimento das crianças e fornecimento de informação a toda
comunidade escolar.
Agradecimentos
À
Secretaria de Educação do Município de Petrolina/PE por aceitar o
desenvolvimento do estudo nas escolas municipais.
Conflitos
de interesse
Os
autores declaram não haver conflitos de interesse.
Fontes
de financiamento
Não
houve fontes de financiamento
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Lopes LPB, Bedor CNG, Carvalho FO; Coleta de dados:
Lopes LPB; Análise e interpretação dos dados: Lopes LPB; Bedor CNG; Redação do manuscrito: Lopes LPB, Bedor CNG, Carvalho FO; Revisão crítica do manuscrito
quanto ao conteúdo intelectual importante: Lopes LPB, Bedor
CNG, Carvalho FO.