ARTIGO
ORIGINAL
Presença
do pai no momento do parto: percepções e sentimentos das puérperas
Aldaíza Ferreira
Antunes Fortes, M.Sc.*, Tatiana Von Pinho Costa**
*Enfermeira,
Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Docente
das disciplinas Estágio Supervisionado II, Estágio Supervisionado IV, Relato de
Práticas Clínicas em Enfermagem e Relato de Práticas Gerenciais em Enfermagem
do Curso de Graduação em Enfermagem, da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz
(EEWB), Membro do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Enfermagem e Coordenadora do
Comitê de Ética em Pesquisa da EEWB, Minas Gerais, **Enfermeira, Graduada em
Enfermagem, pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Enfermeira
Auditora da Unimed Lavras Cooperativa de Trabalho Médico, Lavras/MG
Texto
construído a partir da Monografia, do Curso de Pós-graduação “Latu Sensu” em
Enfermagem Obstétrica e Neonatologia, Escola de Enfermagem Wenceslau Braz
(EEWB), Itajubá/MG.
Recebido em 22 de
junho de 2015; aceito em 25 de fevereiro de 2016.
Endereço
para correspondência:
Aldaíza Ferreira Antunes Fortes, Rua Zequinha Luiz, 29, Bairro Varginha
37501-074 Itajubá MG, E-mail: aldaizafortes1@hotmail.com.br, tatianavpcosta@yahoo.com.br
Resumo
Objetivos: Conhecer as
percepções e os sentimentos das puérperas acerca da presença do pai no momento
do parto. Métodos: Estudo
qualitativo, do tipo exploratório, descritivo. A amostragem foi do tipo proposital.
Após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem Wenceslau
Braz, de Itajubá/MG colheram-se os dados por meio de dois instrumentos: um
estruturado contendo informações relacionadas às características pessoais das
participantes do estudo e um roteiro de entrevista aberta
composto por duas questões. Tais dados foram analisados e interpretados
utilizando a estatística descritiva e a análise de conteúdo, respectivamente,
para cada instrumento. Resultados:
Para as 10 puérperas entrevistadas a presença do pai no momento do parto
significa “segurança, força, união e interesse”; “foi muito importante” e,
“calma e tranquilidade”. Ao terem o pai presente no momento do parto elas se
sentem “bem, bastante emocionadas e muito felizes”; “mais confiantes e
seguras”, “estar vivendo e dividindo um momento só nosso” e, “mais tranquilas”.
Conclusão: As puérperas são
extremamente beneficiadas com a presença do pai no momento do parto.
Palavras-chave: pai,
parto humanizado, percepção, assistência de enfermagem.
Abstract
Father's presence at birth: perceptions and feelings of mothers
Objectives: To know the perceptions and the feelings of mothers concerning
father’s presence at childbirth. Methods:
This is a qualitative, exploratory and descriptive study. The sampling was
purposeful type. After approved by the Ethics and Research Committee of School
of Nursing Wenceslau Braz,
of Itajubá/MG data was collected using two
instruments: one structured containing information related to personal
characteristics of the participants of the study and a composed script of open
interview for two questions. Data were analyzed and interpreted using the
descriptive statistics and the analysis of content, respectively, for each
instrument. Results: The ten
puerperal interviewed reported that father’s presence at childbirth means
“security, strength, union and interest”; “it was very important; and “calm and
peace of mind”. The father’s presence at childbirth helps the women feel “well,
deeply moved and very happy”; “more confident and secure”, “experiencing and
sharing a moment just for us” and, “more peaceful”. Conclusion: The women are
extremely benefited from their husband’s presence at childbirth.
Key-words: father,
humanized delivery, perception, nursing care.
Resumen
La presencia del
padre en el momento del parto: percepciones y sentimientos de las madres
Objetivos: Conocer las
percepciones y sentimientos de puérperas acerca de la
presencia del padre en el momento del parto. Métodos: Se trata de estudio cualitativo, exploratorio, tipo
descriptivo. El muestreo ha sido del tipo
intencionado. Después de la aprobación del Comité de
Ética en Investigación de la Escuela de Enfermería Wenceslau Braz, Itajubá/MG,
los datos fueron recolectados por medio de dos instrumentos: uno estructurado
conteniendo información relacionada con las características personales de los
participantes del estudio y de un guion de entrevista compuesto por dos
preguntas. Los datos fueron analizados e interpretados usando la estadística descriptiva y el análisis de contenido,
respectivamente, para cada instrumento. Resultados:
Para las 10 puérperas la presencia del padre en el
momento del parto significa “seguridad, fuerza, unión e interés”; “muy
importante” y “calma y tranquilidad”. Al tener la
presenciad del padre en el momento del parto se sienten “bien, muy emocionadas
y muy felices”; “más confiadas y seguras”, “viviendo y compartiendo un momento
solamente nuestro” y “más tranquilas”. Conclusión:
Las puérperas se benefician extremadamente con la
presencia del padre en el momento del parto.
Palabra-clave: padre, parto
humanizado, percepción, atención de enfermería.
Os hospitais são
referências no atendimento à saúde e, na maioria das vezes, são equipados com
recursos humanos especializados; recursos físicos e financeiros para um
atendimento de qualidade às gestantes. Entretanto o que parece ser adequado
para esses requisitos nem sempre é humanizado ao paciente.
O Ministério da Saúde
(MS) criou, em 2001, o Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento (PHPN)
com o objetivo de disseminar conceitos e práticas da assistência ao parto entre
os profissionais de saúde; incorporando a capacitação técnica à necessidade de
humanizar o processo de atenção à mulher durante a gestação e o parto.
Foi necessário criar
uma lei específica para que houvesse mudanças no modelo assistencial dominante
e garantisse uma medida que humanizasse o parto hospitalar, permitindo a
gestante o direito de um acompanhante durante todo o trabalho de parto e pós-parto
imediato.
A Lei Federal nº
11.108, de 7 de abril de 2005, sancionada pelo
presidente em exercício José Alencar, garante às gestantes o direito à presença
de um acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), de redes próprias ou conveniadas [1].
Para as parturientes
entrar em um local desconhecido, frio, branco, silencioso, com odores
distintos, encontrar pessoas diversas e deixar serem tocadas ou serem
submetidas a algum procedimento médico é, na maioria das vezes, assustador e
até mesmo traumático. Por mais que um Hospital seja bem estruturado, as
gestantes não estão familiarizadas com esse ambiente e muito menos com as
pessoas que ali trabalham, tornando o momento do parto muitas vezes complicado;
pela ansiedade, insegurança e medo.
O médico obstetra de
renome Dr. Grantly Dick Read publicou, em 1933, em seu livro, a teoria que a
dor durante o trabalho de parto é causada pelo medo. Sendo assim, as mulheres
que são orientadas e preparadas para o trabalho de parto natural conseguem
controlar o medo, a tensão e a dor [2].
O acompanhante
escolhido pela gestante é uma pessoa familiar, na qual ela confia. Por isso,
passar a experiência do parto com o esposo ao lado, e este participando
efetivamente, acalmando-a, confortando-a e ajudando-a a suportar o medo, a
tensão e a dor é muito significativo para a parturiente.
Para que o esposo
possa ajudar a mulher, durante o trabalho de parto, é importante auxiliá-lo a
tomar conhecimento da impressão que poderá ter ao ver alguém que ama sentindo
dores e como reagirá às diversas observações, sons e odores do hospital e da
sala de parto. A orientação ao pai é fundamental para enfrentar com maior
eficácia o momento do parto, tornando-se participativo e não apenas mero
observador [2].
Entretanto, mesmo
criando programas, lei e ações para humanizar o parto; percebe-se o despreparo
de hospitais e a insatisfação de profissionais de saúde ao lidar com a presença
de acompanhante; o qual observa e pode opinar nas ações intervencionistas que a
gestante será submetida.
Humanizar a
assistência ao parto e nascimento é um desafio para as instituições e
profissionais de saúde, pois implica em mudanças de atitudes e rotinas, tornando
esse momento o menos medicalizado possível, utilizando-se de práticas
assistenciais que garantam a integridade física e psíquica dos seres envolvidos
nesse processo [3].
Dodou et al. [4:268] ressaltam que “é importante
não só incentivar a presença de um acompanhante para todas as mulheres, mas
também que esses sejam preparados e orientados para ajudar a mulher durante o
parto e nascimento, assumindo uma participação ativa nesse período que envolve
tantas emoções”.
Mediante este
contexto e as dificuldades da equipe de saúde em lidar com a presença do
acompanhante na sala de parto e salas operatórias, surgiu à inquietude em
conhecer as percepções e os sentimentos das puérperas em relação à presença do
esposo no momento do parto.
Diante deste
panorama, este estudo teve como objetivos: conhecer as percepções e os
sentimentos das puérperas acerca da presença do pai no momento do parto.
Trata-se de uma
pesquisa de abordagem qualitativa, do tipo exploratório, descritivo e
transversal, realizada com 10 puérperas assistidas na Maternidade Delma Eli
Brunhara do Hospital Vaz Monteiro de Assistência Materno-Infantil, da cidade de
Lavras/MG e que tiveram o pai da criança acompanhando-as no momento do parto.
É importante destacar
que estas puérperas podiam ser de parto vaginal ou cesáreo.
Os critérios de
inclusão das participantes da pesquisa foram: ser puérpera, no mínimo
secundípara, de parto vaginal ou cesáreo que teve o pai acompanhando-a no
momento do parto na Maternidade Delma Eli Brunhara do Hospital Vaz Monteiro de
Assistência Materno-Infantil, da cidade de Lavras/mg;
ser maior de 18 anos e concordar em participar do estudo. Enquanto os critérios
de exclusão foram: ser puérpera, no mínimo secundípara ou não, de parto vaginal
ou cesáreo que não teve o pai acompanhando-a no momento do parto na referida
Maternidade; ser puérpera primípara de parto vaginal ou cesáreo que teve o
esposo acompanhando-a no momento do parto na Maternidade em questão; ser menor de
18 anos e não concordar em participar da pesquisa.
Optou-se pelas
puérperas, no mínimo secundíparas, por achar que certamente a percepção e
sentimentos das primíparas são diferentes em relação às demais puérperas.
A coleta de dados só
foi iniciada após a autorização da Gestora Administrativa do Hospital
supracitado, e, a aprovação do projeto desta pesquisa, pelo Comitê de Ética em
Pesquisa, da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, da cidade de Itajubá/MG,
conforme parecer consubstanciado nº 331.840/2013. Ocorreu por meio de dois
instrumentos: o primeiro referente à caracterização pessoal das participantes
do estudo como idade, religião, escolaridade, profissão, estado civil, número
de filhos, participação anterior do pai no momento do parto e quem quis a
presença do pai no momento do parto; já o segundo abordou duas questões abertas
inerentes aos objetivos do estudo: “O que
significou, para você, a presença do pai no momento do parto?” e “Como você se sentiu ao ter o pai presente no
momento do parto?”.
Antes da utilização
definitiva destes instrumentos, foi realizado um pré-teste com três puérperas,
que satisfizeram os critérios de inclusão expostos anteriormente. Elas fizeram
parte da amostra, pois não houve a necessidade de ajuste ou modificação nos
instrumentos utilizados para a coleta de dados. O pré-teste serviu para indicar
três importantes elementos: fidedignidade, validade e operatividade [5].
As entrevistas
ocorreram no período de agosto a outubro de 2013 e foram registradas em gravador
de voz em MP4 com 2G de memória e a seguir transcritas conforme os critérios
metodológicos, permitindo a fidedignidade das informações colhidas. Após a
transcrição das falas do registro gravado, foram transferidas e arquivadas em
um pendrive, onde permanecerão arquivadas por um período de cinco anos após o
término da pesquisa. Em seguida, serão deletadas.
O tempo gasto para
cada entrevista foi em torno de 15 minutos. É importante ressaltar que as
puérperas foram entrevistadas pelo menos oito horas após o parto para que
pudessem descansar e recuperar, haja vista que o desgaste emocional ocorrido
durante o mesmo poderia interferir na natureza dos dados coletados.
Para análise dos dados relacionados à
caracterização pessoal das participantes foi utilizada a estatística
descritiva, por meio das frequências, absoluta e relativa. Enquanto que os
referentes às duas questões abertas foram analisados e interpretados por meio
da análise de conteúdo, que, é um procedimento bastante utilizado nas
abordagens qualitativas [6].
A análise de conteúdo
consiste em uma técnica para investigar o conteúdo das comunicações humanas,
isto é, visa os produtos das ações humanas, voltando-se para o
estudo das ideias e não das palavras em si. É
caracterizada pela busca do atendimento da comunicação entre os homens
baseando-se no reconhecimento do conteúdo das mensagens [5]. Pode ser
sintetizada em cinco passos, a saber: apreensão da globalidade dos relatos;
obtenção de uma visão global dos relatos e do local onde se encontram os
significados; agrupamento das unidades de significados semelhantes; agrupamento
dos temas, extraídos das unidades de significados, originando as categorias e
análise das categorias emergidas [6].
O presente estudo
seguiu os preceitos estabelecidos pela Resolução 196/96 versão 2012, do
Conselho Nacional de Saúde. O anonimato de cada participante foi preservado
utilizando a codificação P1, P2, P3, proveniente da palavra puérpera e do
número ordinal sequencial de acordo com o número de entrevistadas, totalizando
dez puérperas.
No tocante às
características pessoais das entrevistadas, observou-se que a faixa etária
oscilou entre 20 e 43 anos, predominando as idades entre 31 e 40 anos,
correspondendo a 80% da amostra. Prevaleceu a religião católica com 50%; o
terceiro grau completo como nível de escolaridade com 50%; odontóloga como
profissão com 20%; casada como estado conjugal com 100%; dois filhos como
número de filhos com 90%; ambos, pai e puérperas, quiseram a presença do pai no
momento do parto com 70%; não ter a presença anterior do pai no momento do
parto, com 60%; e dos 40% que teve a presença anterior do pai no momento do
parto, 20% informaram que isso ocorreu uma vez e 20% mencionou duas vezes.
Ao analisar as
respostas das entrevistadas inerentes à primeira questão aberta: “O que significou, para você, a presença
do pai no momento do parto?”, evidenciaram-se três categorias: “segurança, força, união e interesse”; “foi muito importante” e “calma e tranquilidade”.
1ª
Categoria: Segurança, força, união e interesse
Analisando esta
categoria, percebe-se que, para as 10 entrevistadas, terem o pai presente no
momento do parto significou segurança, força, união e interesse para elas, como
expresso nos depoimentos:
“Segurança. É ficar acompanhada, se precisar
de alguma coisa, tá ali alguém da família presente.” (P1).
“[...]
ele me dá mais segurança, tendo ele do meu lado. Eu me senti mais segura.”
(P2).
“Eu
me senti mais segura com ele.” (P3).
“Ele
acompanhou a gravidez inteira, em todos os momentos ele estava lá presente. É
uma força que dá pra gente, segurança.”(P4).
“[...]
traz segurança, não fiquei ali sozinha e ai tem alguém para acompanhar o neném,
então é segurança mesmo.” (P5).
“Mais
segurança, porque eu tive medo, ai uma pessoa que eu gosto, que eu conheço,
estava ali para ficar me dando força.” (P6).
“Bom,
muito bom, segurança, isso é bom.” (P7).
“Segurança,
união, interesse, foi isso.” (P8).
“Segurança
por ele estar ali comigo. Ele ver que está tudo bem.” (P9).
“[...]
me senti mais segura, ter ele ali do meu lado.” (P10).
Ter a presença do pai
no momento do parto propícia a puérpera vários significados, um deles é a
segurança, que foi mencionada por todas as entrevistadas. A puérpera cria
expectativa em relação ao trabalho de parto e parto, sente medo do
desconhecido, e ter alguém conhecido, principalmente o pai de seu bebê,
acompanhando-a faz com que ela sinta mais força, segurança e a certeza de que
se precisar de alguma ajuda será atendida. Ademais estabelece uma união da
tríade ao fortalecer o vínculo entre pai, mãe e filho.
A presença do pai
durante o trabalho de parto de sua companheira é fonte de apoio, segurança,
conforto e fortalecimento de vínculos afetivos. A responsabilidade perdura
mesmo após o parto, incluindo-o no aconchego da família como ser que sofre,
chora, emociona-se, deseja participar dos momentos do ciclo da vida, dentre
eles o processo de gravidez, parto e puerpério [6].
“A presença do
acompanhante no parto descrito como humanizado é esperada e indicada como
medida que traz benefícios diretos à mulher, ao RN, a família” [7: 387].
Fortes et al. [8:40] acrescentam que “na hora do
parto, a mulher escolheu seu parceiro como companheiro, inconscientemente o
mesmo se responsabilizaria por todos os acontecimentos, pelo psicológico de sua
mulher, e o desejo de tentar aliviar os medos e a dor que a mesma estava
sentindo naquele momento, afinal, ele se vê ali, sendo a única fonte de apoio,
ou seja, ele se vê como a única pessoa conhecida que sua mulher pode contar
naquele momento”.
2ª
Categoria: Foi muito importante
Apurando esta
categoria, percebe-se que três informantes afirmam que foi muito importante a presença do pai no momento do parto. Elas gostaram muito
de compartilharem e dividirem com ele essa ocasião:
“Foi muito importante gostei muito da ideia,
sem muita burocracia. Perguntou se podia entrar, na mesma hora foi e foi muito
bom, gostei muito.” (P1).
“Achei
muito importante porque ele pode como posso dizer, dividir né. Ele acompanhou a
gravidez inteira, em todos os momentos ele estava lá presente.” (P4).
“Foi
muito importante pra mim [...] Saber que ele está vendo as filhas dele nascerem
e que ele vai estar do lado delas o tempo todo. Foi o mais importante saber que
ele desde o nascimento estava presente.” (P10).
A importância de ter
o companheiro no momento do parto desperta à puérpera significados jamais
vivenciados em outras situações, marcando-o como único e de grande importância.
Longo et al. [7:390] expressam que “os benefícios promovidos pela presença
física e/ou pelo suporte do acompanhante à parturiente, durante o processo de
parturição, são descritos como consistentes pela Medicina Baseada em
Evidência”.
3ª
Categoria: Calma e tranquilidade
Apenas uma
respondente afirma que a presença do pai deixou-a mais calma e tranquila:
“Depois que ele entrou
eu fiquei bem mais calma. Eu fiquei mais tranquila.” (P3).
Para essa participante a presença do
pai proporcionou mais tranquilidade e a acalmou, o que foi muito importante
para ela, haja vista que no momento do parto a mulher fica fragilizada e tendo
alguém por perto que a acalme e a tranquilize ela enfrenta as dificuldades
muito melhor.
No entender de Fortes
et al. [8:52] “acompanhando a mulher em
todo o processo do parto o homem ajuda indiretamente dando apoio e carinho a
ela e ao filho a nascer. Sem este apoio seria muito mais difícil para a mulher
passar por tudo isso sozinha, o que poderia refletir no parto”.
Ao analisar as
respostas das integrantes do estudo referentes à segunda questão aberta: “Como você se sentiu ao ter o pai presente
no momento do parto?”, emergiram-se quatro categorias: “bem, bastante emocionada e muito feliz”; “mais confiante e segura”; “estar
vivendo e dividindo um momento só nosso” e “mais tranquila”.
1ª
Categoria: Bem, bastante emocionada e muito feliz
Ao analisar esta
categoria, constata-se que cinco participantes sentiram-se bem, bastante
emocionadas e muito felizes ao terem, no momento do parto, a presença de um
familiar tão importante que quis participar, proporcionando o encontro de pai,
mãe e filho. Ademais dá para ver a emoção do pai neste instante.
“Me senti bem, senti que tem alguém da minha família.” (P1).
“Fiquei
emocionada, bastante emocionada porque a gente vê a emoção ‘dele’ também na
hora do nascimento.” (P4).
“Me senti muito feliz por ele participar.” (P6).
“Me senti muito bem.” (P7).
“Ai,
nem sei te explicar [...] assim, felicidade por estar
ali os três, por ele querer estar ali junto. Felicidade.” (P9).
O nascimento de uma
criança é um acontecimento inesquecível, único e cercado de emoções para
mulheres que sonhavam em ser mãe. Quando uma mulher vivencia esse acontecimento
junto com o pai, sentimentos de felicidade, emoção e bem-estar se intensificam.
A mulher agora mãe e o homem agora pai, deixam de ser marido e mulher e se
tornam uma família completa: mãe, pai e filho.
O homem dos dias
atuais tem o desejo de estar presente em todos os momentos que envolvem o
nascimento do seu filho, quer tornar-se pai ao mesmo tempo em que a mulher se
torna mãe. Quer ficar junto de sua companheira, participando da gestação e de
todo o processo da parturição, ajudando-a a parir o filho, que enfim, é dos
dois [9].
2ª
Categoria: Mais confiante e segura
Aguçando esta
categoria, é possível ver através das falas de quatro puérperas o quanto a
presença do pai neste momento as deixou mais confiantes e seguras, sendo até
mesmo comparada com um abrigo.
“Além de confiar no
médico, você tem mais confiança de ter alguém da família ali.” (P1).
“[...]
sentimento de segurança mesmo.” (P2).
“Exatamente
isso: segurança [...].” (P8).
“Uma
segurança. Como se diz um abrigo. Um abrigo seguro ter ele ali. Foi muito bom
ter ele ali.” (P10).
O trabalho de parto e
o parto podem ser cercados por sentimentos de insegurança e medo quando não
vivenciados anteriormente. A puérpera se sente mais segura com alguém ao seu
lado durante a vivência de tal situação.
No entender de Zorzi
[9], o marido não envolve preparo técnico, mas representa o suporte psíquico e
emocional de que a parturiente necessita nesse momento.
Dentro das concepções
de Longo et al. [7] a parturiente deposita no
acompanhante a segurança de ter alguém próximo e confiável.
3ª
Categoria: Estar vivendo e dividindo um momento só nosso
Apenas uma
respondente relata estar vivendo e dividindo um momento único entre eles: pai e
mãe.
“Eu
tive um sentimento assim de estar vivendo uma coisa nossa. De estar dividindo
um momento só nosso. Outras pessoas quiseram assistir o parto, mas eu disse que
não, que tinha que ser só nós dois mesmo.” (P3).
O momento do parto
vivenciado pelo casal não apenas fortalece o vínculo familiar entre mãe, pai e
filho, mais se torna uma experiência única e enriquecedora para as pessoas
envolvidas.
O que se percebe é
que o envolvimento paterno intenso, quando permitido fortalecerá os vínculos
futuros de assistência e afeto familiar, tanto em relação ao bebê quanto com a
mãe [10].
.
4ª
Categoria: Mais tranquila
Por meio da fala de
uma puérpera pode-se perceber o quanto ela se sentiu mais tranquila com a
presença do pai no momento do parto.
“Me senti mais tranquila, enquanto não entra parece que você
fica meio tensa, na expectativa, porque você não sabe se vai acontecer alguma
coisa, como é que vai ser, quem vai ver o que está acontecendo. Então acho que
dá tranquilidade durante o momento do parto.” (P5).
Em um local
desconhecido e com pessoas não habituais de sua convivência, a puérpera se
fragiliza, sofre tensão e insegurança pelo incerto. Quando se torna presente a companhia do pai no momento do parto a puérpera se sente
mais tranquila frente à situação vivenciada, o que favorece uma vivência
positiva do processo de parturição.
A efetivação da
presente pesquisa permitiu visualizar o quão importante é para a mulher a
presença do pai no momento do parto, haja vista que lhe proporciona segurança, força, felicidade, calma e tranquilidade. Ademais une o
casal, pois estarão vivendo e dividindo um momento muito especial para ambos.
Estando o pai
presente na hora do parto, a mulher ficará menos ansiosa, visto que alguém de
seu convívio pessoal e fundamental na partilha desta vivência estará lhe
fornecendo apoio, atenção e carinho.
Os profissionais de
saúde precisam ter ciência da importância do acompanhante no processo de
parturição procurando ter um bom relacionamento com ele.
Espera-se que a
situação de dimensão positiva, constatada neste
estudo, de benefícios proporcionados não somente a mulher como também ao pai e
ao bebê, relatada pelas entrevistadas ao vivenciaram o acompanhamento do pai no
momento do parto, contribua para que os profissionais da área da saúde se
comprometam em buscar estratégias que melhorem a participação e comunicação com
os pais, seguindo a ética profissional, respeitando o direito da gestante em
ter seu parceiro acompanhando-a não apenas no momento do parto, mas durante
todo o pré-natal até o pós-parto imediato, e consequentemente, promovendo uma
assistência com qualidade tanto para a gestante quanto para a díade: pai e
filho.