Enferm Bras 2022;21(4):400-12
ARTIGO ORIGINAL
Características
sociodemográficas, estado de saúde e capacidades de autocuidado de cuidadores
familiares primários de pessoas idosas
José Vitor da Silva, D.Sc.*, Bruno Vilas Boas Dias, M.Sc.**,
Murilo César do Nascimento, D.Sc.***, Jessica Luanda
Lemos Melo***, Rodolfo Francisco***, Silvana Maria Coelho Leite Fava***,
Rogério Donizeti Reis, M.Sc.****
*Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, SP, **Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí, SP e Centro Universitário Campo Limpo Paulista de Campo Limpo Paulista, SP, ***Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Alfenas, MG, ****Faculdade de Medicina de Itajubá, MG
Recebido em 14 de dezembro
de 2021; Aceito em 25 de julho de 2022.
Correspondência: José Vitor da Silva, Rua João Faria
Sobrinho, 59 Bairro Varginha 37501-080 Itajubá, MG
José Vitor
da Silva: enfjvitorsilva2019@gmail.com
Bruno
Vilas Boas Dias: prof.me.bruno@gmail.com
Murilo
César do Nascimento: murilo.nascimento@unifal-mg.edu.br
Jessica
Luanda Lemos Melo: jessica.melo@sou.unifal-mg.edu.br
Rodolfo
Francisco: rodolfo.francisco@sou.unifal-mg.edu.br
Silvana
Maria Coelho Leite Fava: silvana.fava@unifal-mg.edu.br
Rogério Donizeti Reis: rogerioreisfisio@yahoo.com.br
Resumo
Introdução: O cuidador informal familiar primário
requer para si próprio, em seu cotidiano, uma série de demandas que pode
prejudicar o autocuidado. Objetivo: Identificar as características
sociodemográficas e de saúde, dos cuidadores informais familiares primários de
pessoas idosas e avaliar as capacidades de autocuidado. Métodos: Estudo
quantitativo, descritivo e transversal, com 50 cuidadores, familiares primários
de pessoas idosas. A amostragem foi não probabilística do tipo snow-ball. Utilizaram-se dois instrumentos: Caracterização
Sociodemográfica e de Saúde do Cuidador e a Escala para Avaliar as Capacidades
de Autocuidado (ASA-A). Para a análise dos dados, utilizou-se a estatística
descritiva; para as variáveis categóricas e contínuas. Da estatística inferencial,
empregou-se o coeficiente de alfa de Cronbach. Resultados:
62% dos participantes foram homens, idade média = 40,7 anos (DP= 15,8), com
ensino fundamental incompleto (60%), casados (60%) e empregados (64%). As
capacidades de autocuidado obtiveram média = 64,48 ± 17,76). Conclusão:
Na condição de cuidador informal familiar primário, prevaleceram adultos do
sexo masculino e com autocuidado em nível regular.
Palavras-chave: autocuidado; cuidador; idoso.
Abstract
Sociodemographic characteristics, health status and self-care agency of
primary family caregivers of elderly people
Introduction: The informal primary family caregiver requires for
him/herself, in his/her daily life, a series of demands that can harm
self-care. Objective: To identify the sociodemographic and health
characteristics of informal primary family caregivers of elderly people and to
assess their self-care capabilities. Methods: Quantitative, descriptive
and cross-sectional study, with 50 caregivers, elderly people’s first-degree relatives.
The sampling was non-probabilistic of the snow-ball type. Two instruments were
used: Sociodemographic and Health Characterization of the Caregiver and the
Scale to Assess Self-Care Capabilities (ASA-A). For data analysis, descriptive
statistics was used; for categorical and continuous variables. From the
inferential statistics, Cronbach's alpha coefficient was used. Results:
62% of the participants were men, mean age = 40.7 years (SD= 15.8), with
incomplete primary education (60%), married (60%) and employed (64%). The
self-care skills had a mean = 64.48 ± 17.76). Conclusion: In the
condition of informal primary family caregiver, male adults with regular
self-care prevailed.
Keywords: selfcare; caregiver; elderly.
Resumen
Características
sociodemográficas, estado de salud y capacidades de
autocuidado de los cuidadores familiares primarios de adultos mayores
Introducción: El cuidador informal familiar primario requiere para sí propio en
su cotidiano una serie de demandas, que puede perjudicar el autocuidado. Objetivos: Identificar las características sociodemográficas y de salud, de los cuidadores informales familiares primarios
de adultos mayores y valuar
las capacidades de autocuidado. Métodos: Estudio cuantitativo, descriptivo y transversal, con 50
cuidadores, familiares primarios de adultos mayores. El muestreo fue no probabilístico del tipo “snow-ball” . Se utilizaron dos instrumentos: Caracterización
Sociodemográfica y de Salud del
Cuidador y la Escala para Evaluar
las Capacidades de Autocuidado (ASA-A). Para el análisis de los datos, se utilizó
la estadística descriptiva
para las variables
categóricas y continuas. De la estadística
inferencial, se empleó el
alfa de Cronbach. Resultados: El 62% de los participantes fueron hombres, edad promedia
de 40,7 años (DS = 15,8), con
enseñanza fundamental incompleta (60%), casados (60%)
y empleado (64%). Las
capacidades de autocuidado obtuvieron promedia = 64,48 ± 17,76). Conclusión:
En la condición
de cuidador informal familiar primario, se evidenció el sexo masculino y con autocuidado en nivel regular.
Palabras-clave: autocuidado; cuidadores; adulto mayor.
Na
contemporaneidade, vive-se a realidade das doenças crônicas, que estão se
acelerando no contexto de vida e de saúde das pessoas idosas. As doenças
crônicas já são consideradas problemas de saúde pública, sendo responsáveis por
68% das mortes globais registradas no ano de 2012. As complicações das doenças
crônicas, que ocorrem com o passar dos anos, concentrando-se nas pessoas
idosas, requerem a necessidade e a presença de cuidador [1].
O
cuidador informal familiar é aquele que realiza o ato de cuidar a partir de
finalidades estabelecidas por familiares e que não recebem recursos financeiros
pelos cuidados prestados. Esse familiar presta cuidados de natureza física,
como, por exemplo, higiene corporal, alimentação, administração de
medicamentos, dentre outros [2].
Há dois
grupos: 1) Cuidador formal, que é o indivíduo com treinamento específico em
instituição reconhecida que receba remuneração pelo serviço prestado e 2)
Cuidador informal, que se refere a um familiar ou pessoa próxima do ser idoso,
como amigo ou vizinho, que irá prestar cuidados sem que haja remuneração. O
cuidador informal familiar realiza suas atividades devido a vínculos ou a laços
familiares e de amizade, sem financiamento de benefícios e exercendo a
atividade em tempo integral [3].
A escolha
pelo cuidador informal pode estar relacionada a diversos fatores, sendo os mais
frequentes, a dificuldade financeira, a tradição familiar, a obrigação
matrimonial, filial ou sentimental. À medida que a dependência e a debilidade
da pessoa idosa evoluem, as exigências do ato de cuidar aumentam, ocasionando
mudanças e maiores esforços para que as necessidades geradas pela diminuição
das capacidades sejam supridas. Isso pode ocasionar no cuidador algum tipo de
fragilidade física, psíquica ou social [1].
Nesse
contexto, com o surgimento de uma doença crônica na família, o familiar
adoecido passa a necessitar de cuidados devido às complicações clínicas de seu
estado de saúde. A vida ocupacional do cuidador apresenta comprometimentos, no
que tange às áreas de desempenho, de trabalho e de lazer, pois este possui
menos tempo para cuidar de si e para se relacionar fora de seu núcleo familiar.
Passa a ter dificuldades que podem gerar consequências negativas em seu
cotidiano, tais como sobrecarga, sintomas depressivos, ansiedade, aumento dos
níveis de estresse e ausência de autocuidado [4,5].
A
ausência de autocuidado pode ser um dos fatores que mais comprometem a vida e a
saúde do cuidador familiar, pois essa ausência leva a diversas consequências em
relação às atividades da vida diária e às que requerem o autocuidado,
relacionado com a presença de problemas de saúde desses cuidadores. O autocuidado
é a prática ou a ação de algo de forma deliberada para a manutenção da vida, da
saúde e do bem-estar, assim como para evitar complicações de doenças já
instaladas no organismo e que requerem o devido controle [6].
Nesse
sentido, o conceito de autocuidado remete a uma abordagem no sentido de cuidar
da saúde e de prevenir doenças, o que demanda conhecimento e tempo para seu
desenvolvimento, haja vista que reflete tomada de decisão sobre a própria
saúde. O conceito é amplo e possui relação estreita com a autonomia e com o
autocontrole, ou seja, são ações avaliadas e implementadas pelos próprios
indivíduos para benefício próprio de manutenção da saúde e para propósitos de
bem-estar e de saúde. É importante esclarecer que, em relação ao autocuidado, é
preciso conhecer, decidir livremente e exercer a ação de autocuidado [7,8].
Realizar
ações de autocuidado significa entender, avaliar e aplicar para si, de forma
deliberada, ações para satisfazer necessidades de saúde, tornando-se
protagonista das próprias decisões assertivas na manutenção da saúde, do
bem-estar e da qualidade de vida. Nessa perspectiva, o cuidador precisa de
tempo e de conhecimento para cuidar de si e para cuidar do outro. Todos são
protagonistas nesse processo. É preciso que o cuidador conheça os próprios
limites como as capacidades físicas, psicológicas e emocionais, as entenda como
limitadas e as respeite [9].
O
presente trabalho trata de um tema que é recorrente na área de geriatria e da
gerontologia. Entretanto, não se encontraram estudos na literatura que
considerem a avaliação das capacidades de autocuidado de cuidador informal
familiar primário ou agregado de pessoas idosas, assim como de aspectos que
contribuíram ou não para o autocuidado, o que torna este estudo inovador, com
informações e preenchendo lacunas de conhecimento.
Esses
resultados poderão ser importantes na elaboração de programas de atenção à
saúde dessa população, com a participação assídua da enfermagem, considerando o
estabelecimento de políticas públicas de autocuidado de cuidadores informais,
visto que o déficit de autocuidado poderá comprometer acentuadamente não só o
cuidador, mas também a pessoa idosa sob cuidados.
Diante do
exposto anteriormente, identificaram-se os seguintes objetivos: analisar o
perfil e o autocuidado de cuidadores informais familiares primários de pessoas
idosas; identificar as características pessoais, familiares, sociais e de saúde
e o autocuidado dos cuidadores informais familiares primários de pessoas
idosas.
O
presente estudo foi de abordagem quantitativa do tipo descritivo e transversal.
Os participantes do estudo foram 50 cuidadores informais familiares primários
de pessoas idosas, residentes na cidade de Itajubá, MG e a amostragem foi não
probabilística do tipo “snowball”, que consiste em o
pesquisador solicitar aos participantes referências de novos informantes que
possuam as características desejadas ao estudo em questão [10]. O primeiro
entrevistado foi localizado, após informação de um aluno de enfermagem.
Os
critérios de inclusão se limitaram a: ser cuidador informal familiar primário
de pessoas idosas há pelo menos seis meses, ter capacidade cognitiva e de
comunicação verbal preservadas, que foram avaliadas por meio do Questionário de
Avaliação Mental [11] e também ser maior de 18 anos de idade. Os critérios
estabelecidos para a exclusão constituíram em os instrumentos preenchidos de
forma incorreta ou incompletos.
A
entrevista foi estruturada direta, durante a qual o pesquisador leu para o
participante cada item dos instrumentos, com as possíveis opções de respostas,
identificando a resposta do participante e a registrando no respectivo
instrumento. A coleta de dados ocorreu no próprio domicílio do cuidador
informal familiar primário, no período de março a maio de 2017, com data e
horário agendados de acordo com a disponibilidade do entrevistado.
Os
instrumentos selecionados para a investigação foram:
1)
Caracterização pessoal, familiar, social e de saúde do cuidador: constituído
por perguntas fechadas, abrangendo aspectos relacionados a sexo, idade, estado
civil, escolaridade, religião, situação atual de trabalho, tipo de família,
percepção do estado de saúde.
2) Escala
para Avaliar as Capacidades de Autocuidado (ASA-A): É uma escala desenhada por Isenberg e Evers (1993) [12],
adaptada transculturalmente e validada para o Brasil,
por Silva e Domingues [13]. O instrumento incluiu 24 itens, sem nenhum domínio,
aos quais as pessoas atribuem valor em uma escala de Likert
que vai de um a cinco pontos. As opções de resposta são: discordo totalmente;
discordo; nem discordo nem concordo; concordo e concordo totalmente. As
respostas tomam um valor mínimo de 24 e, máximo, de 120 pontos. Quanto maiores
os escores, melhores serão as operações das capacidades de autocuidado da
pessoa que responde à escala. Cada pessoa entrevistada indicou o número que
correspondia ao grau que melhor lhe descreveu, sendo este circulado.
Realizou-se
o pré-teste, com cinco cuidadores informais familiares primários,
correspondendo a 10% da amostra definitiva, que não se integraram a mesma,
porém estiveram de acordo com os critérios de inclusão e de exclusão. A
realização desse procedimento mostrou total entendimento dos itens dos
instrumentos pelos participantes, dispensando estratégias complementares de
aplicação ou mudanças de itens.
Os dados
foram inseridos, eletronicamente, em banco de dados próprio, elaborado a partir
do programa computacional SSPS, versão 22.0. Para a análise dos dados, foi
utilizada a estatística descritiva por meio da frequência absoluta e relativa
para as variáveis categóricas, assim como das medidas de tendência e de
dispersão central para as variáveis contínuas. Na estatística inferencial,
utilizou-se o coeficiente alfa de Cronbach.
Após a
aprovação do estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade
Wenceslau Braz de Itajubá, MG, sob o Parecer Consubstanciado n° 498.103 e CAAE:
26023913.3.0000.5099 e de acordo com cumprimento dos preceitos estabelecidos
pela Resolução CNS 466/2012, de 12 de dezembro de 2012, do Ministério da Saúde,
deu-se o início ao procedimento de coleta de dados.
Em
relação às características sociodemográficas, dos 50 participantes, cuidadores
informais familiares primários, 31 (62%) dos cuidadores eram do sexo masculino
(na condição de filhos das pessoas idosas); a média de idade foi de 40,7 anos
(Desvio padrão DP = ± 15,8); 30 (60%) eram casados e os demais, solteiros; 41
(82%) eram católicos e os demais eram adeptos de outras religiões; a média de
filhos dos cuidadores por família era de 1,3
± 1,3; 30 (60%) tinham o Ensino Fundamental Incompleto; 64% pertenciam à
família nuclear. Identificou-se que 32 (64%) estavam empregados.
Tabela I - Percepção de saúde, informações
sobre doença e atividade física dos participantes do estudo. Itajubá, MG, 2018
(n = 50)
Fonte:
instrumento de pesquisa
Tabela II - Avaliação das capacidades de
autocuidado dos participantes do estudo. Itajubá, MG, 2018 (n = 50)
Fonte:
instrumento de pesquisa; DP = Desvio padrão
Tabela III - Itens que mais contribuíram e os
itens que menos contribuíram para as capacidades de autocuidado dos
participantes do estudo 2018 (n = 50)
Fonte:
instrumento de pesquisa
A
consistência interna da Escala de Capacidades de Autocuidado, realizada pelo
Teste de alfa de Cronbach, apresentou valor de α
= 0,944.
A
discussão do presente trabalho foi feita em duas partes distintas: na primeira,
foram analisados dados sociodemográficos e de saúde e, na segunda, o
autocuidado do cuidador informal familiar primário.
Observou-se
predominância do gênero masculino. Esse dado não corresponde aos demais
trabalhos sobre cuidadores familiares, pois, nestes, a maior frequência com
esse ator está relacionada ao sexo feminino. A literatura evidencia a maioria
dos cuidadores como sendo as mulheres e, geralmente, também idosas, no cuidado
informal [14,15]. A maioria das famílias tem como foco, até então, a mulher
para ser a cuidadora [1] por entenderem que tal papel é “naturalmente” feito
pelo gênero [16].
A
possível explicação para a maior ocorrência do sexo masculino, neste trabalho,
pode estar relacionada ao fato de a mulher, no contexto atual, estar assumindo
outros papéis sociais e, neste, está também sua inserção no mundo do trabalho.
Elas estão concorrendo com os homens, muitas vezes, na empregabilidade. Há
famílias nas quais a mulher está exercendo a função de provedora e o homem está
desenvolvendo as funções domiciliares, devido ao fato do aumento de desemprego
em nível nacional [17,18].
Por outro
lado, há um evidente aceno para a mudança nesse cenário. No Reino Unido, por
exemplo, os homens já ocupam grande parte do cuidado informal [19]. No Brasil,
parece não ser diferente e o que pode ajudar a explicar a maior participação
dos homens no cuidado, ainda que a literatura careça de mais pesquisas
relacionadas, é o sentimento de “obrigação” e/ou de reciprocidade como dever
familiar, de lealdade, de gratidão, além de questões financeiras [20].
Em
relação à idade, encontrou-se que pessoas na quarta década da vida estavam
exercendo a função de cuidador. Em um trabalho realizado por Loureiro et al.
[14], acerca da sobrecarga de cuidadores familiares de pessoas idosas, a faixa
etária predominante de cuidadores foi de 80 anos ou mais (51,9%); em estudo
realizado por Wachholz, Santos e Wolf [15], a
respeito de sobrecarga e de qualidade de vida de cuidadores, prevaleceu idade
média de 55,13 (45-65) anos; em pesquisa realizada por Durante et al.
[20], sobre a contribuição do cuidador para o autocuidado, encontrou-se que os
cuidadores tinham em média 53,6 anos; no trabalho realizado por Souza et al.
[21], acerca de dificuldades encontradas pelo cuidador com Alzheimer, as idades
foram entre 30 e 69 anos.
Ao
confrontar esses trabalhos com a idade dos cuidadores do presente trabalho,
observou-se que, de forma geral, os cuidadores informais familiares das outras
pesquisas tinham maiores idades. Pode-se deduzir que os dados encontrados não
corroboram os resultados obtidos neste estudo. O fato de eles serem mais jovens
poderá ser um facilitador em relação ao vigor físico para prestação do cuidado,
entretanto não dispõem de tempo para seu autocuidado, considerando que além de
serem cuidadores têm outro tipo de trabalho, o profissional ou formal. Além
disso, cuidam da sua família de origem, sejam como mães ou pais. As pessoas
idosas, cuidadas por esses cuidadores eram, na sua grande maioria, totalmente
dependentes, exigindo dos cuidadores tempo dedicação e muitos cuidados.
Quanto à
escolaridade, predominou o ensino fundamental incompleto. Ao comparar esse dado
com a escolaridade de outros trabalhos realizados, tais como de Loureiro et
al. [14]; Wachholz et al. [15] e Santos et
al. [22], encontrou-se oscilação entre primeiro grau incompleto, completo e
nível superior. As pessoas com diferentes níveis de escolaridade estão
realizando a função de cuidador. É importante mencionar que, nas suas
atividades diárias os cuidadores ministram medicamentos. Para tanto, necessitam
de saber ler e conhecer as operações matemáticas para ministração dos
medicamentos e suas dosagens de forma completa. Esse é um dos motivos que
evidencia a importância do nível de escolaridade aos cuidadores.
No que
tange ao estado civil, detectou-se que a maioria dos participantes eram
casados. Esse dado coincide com outros estudos [15,22] que obtiveram
predominância do estado civil casado, união consensual (70%) ou presença de um
companheiro (22,69%). Entretanto, o trabalho de Loureiro et al. [14]
mostrou predominância de viúvos (40,4%). Isso significa que as pessoas casadas
ou que vivem com companheiro têm mais disponibilidade para assumir as funções
de cuidador. Pode-se inferir que, do ponto de vista de saúde, os cuidadores
apresentaram melhores condições ao realizarem suas atividades de cuidar do seu
parente, pois ter boa saúde é excelente indicador para a realização das atividades
da vida diária.
Normalmente,
é encontrado na literatura que os cuidadores são aqueles desprovidos de um
trabalho formal ou informal e essa incumbência está mais reservada às mulheres,
na condição de donas de casa ou solteiras sem trabalho. Entretanto, no presente
trabalho, encontrou-se uma situação adversa, na qual a predominância de
cuidadores coube ao gênero masculino. Esse dado remete à reflexão de que, ao
homem, cabem as funções de provedor do lar. Logo, esse raciocínio remete ao
fato de que ele exercia duas funções: cuidador e trabalhador, ao se considerar
que a proporção maior de cuidadores estava empregada. No que diz respeito aos
tipos de família, a família nuclear, que é constituída por pai, mãe e filho,
foi a mais frequente entre os integrantes do estudo. Pode-se explicar essa
ocorrência pela idade dos cuidadores familiares que foi, em média 40 anos, o
que indica ainda os filhos dependentes e vivendo no seio familiar, o que sugere
que esses cuidadores tinham filhos menores de idade, vivendo com a família.
Em
relação à saúde física, os cuidadores a perceberam como “boa”. Pode-se afirmar
que essa percepção esteja relacionada com a idade dessas pessoas,
considerando-se que a média foi de 40 anos. Em um estudo realizado na Espanha,
encontrou-se que a média de idade dos cuidadores foi de 47 anos (interquartil
igual a 21) e também perceberam a própria saúde como boa, não havendo menção de
doenças crônicas [23], dados que corroboram o presente estudo.
Na
condição de cuidador, perceber o próprio estado de saúde como conceito “bom” é
muito significativo, pois a saúde é essencial. Por outro lado, levando-se em
consideração, ainda, a idade, esse fator condicionante básico pode ser um
elemento indicador do motivo dessa percepção, pois as doenças crônicas não
transmissíveis são frequentes após a quarta década da vida. Segundo estudo
realizado por Silva e Reis [24], do ponto vista etário, as Doenças Crônicas não
Transmissíveis surgem no final da terceira década da vida, porém com mais
frequência, após a quarta década. A ausência de atividade física pode estar
relacionada com dois aspectos. O primeiro, pela falta de tempo, considerando-se
que esses cuidadores tinham duas jornadas diárias de trabalho. O segundo
aspecto está relacionado à falta de cultura ainda entre a população brasileira
em realizar atividades físicas no dia a dia, porém esse tipo de atividade
física, muitas vezes, também é confundido com a ação de utilizar a bicicleta
para o trabalho ou para outras atividades, o que, na realidade, não constitui atividade
física [25].
De acordo
com os participantes do estudo, o autocuidado foi classificado com conceito
“regular”. Isso significa que os cuidadores informais familiares primários
desenvolviam o autocuidado de forma comprometida, incompleta ou até mesmo
inadequadamente, pois, segundo Ore [6], o conhecimento e a prática de
autocuidado devem ser desenvolvidos sistemática e deliberadamente para que suas
necessidades sejam atendidas ao longo da vida e, com isso, haver prevenção,
promoção, recuperação e reabilitação da saúde.
As
prováveis justificativas da classificação de autocuidado como “regular” podem
estar relacionadas, inferencialmente, com a dupla
jornada desses cuidadores, pois, além das funções de cuidadores, cumpriam um
trabalho formal ou informal. A redução do autocuidado pode estar ainda
relacionada com o cansaço físico resultante dos trabalhos diários.
Entre os
participantes do estudo, predominou o gênero masculino, com idade média de 40
anos de idade, nível fundamental incompleto de escolaridade, casados,
católicos, que, além da função de cuidador informal, tinham um trabalho formal
e não realizavam atividades físicas.
O
autocuidado foi conceituado regular. As práticas de autocuidado mais realizadas
foram a verificação de alguma anormalidade física corporal e as providências
para a manutenção da segurança pessoal e familiar. As atividades de autocuidado
menos praticadas foram praticar atividades físicas, encontrar um tempo para
descansar durante o dia e para autocuidar-se.
O tema
cuidador familiar é considerado recorrente na área de gerontologia, porém
trata-se de um assunto considerado problema de saúde pública. Apesar das
repetidas pesquisas que mostram os comprometimentos de natureza física, mental,
familiar, social e espiritual, nenhuma política pública ou programas de
atendimento a esse segmento populacional foi elaborada. São pessoas ainda
secundárias e pouco valorizadas no contexto familiar, social e, sobretudo, de
saúde.
Finalmente,
pode-se afirmar que os resultados advindos deste trabalho podem ser
generalizados a essa população da cidade que foi cenário de estudo dos
cuidadores, o que requer da área de saúde providências para que o autocuidado
seja prioritário e sistemático junto a essas pessoas.
Cabe,
nesse contexto, à enfermagem, estabelecer planos de trabalho e contribuir na
elaboração de programas de saúde para o atendimento não só aos familiares
idosos sob cuidados, mas também aos seus cuidadores, levando-se em consideração
a promoção do autocuidado e, com isso, proporcionar-lhes condições adequadas
para a realização do próprio cuidado e do cuidado do outro. Nesse contexto é
indispensável que, sistematicamente, a enfermagem possa acompanhar esses
cuidadores no sentido de orientá-los na prestação dos cuidados como também na
realização do seu autocuidado.
Conflitos
de interesse
Os autores
declaram que não houve conflito de interesse.
Fontes
de financiamento
Não houve
fonte de financiamento.
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Dias BVD, Nascimento MC, Silva JV; Coleta de dados: Reis RD, Melo JLL,
Francisco R; Análise e interpretação dos dados: Silva JV, Nascimento MC,
Fava SML; Análise estatística: Silva JV, Nascimento MC; Redação do
manuscrito: Dias BVD, Melo JLL, Reis RD, Francisco R; Revisão crítica do
manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Silva JV, Fava SML