Enferm
Bras 2021;20(6):838-64
REVISÃO
Aposentaria com melhor qualidade de vida
no Brasil: evidências em artigos empíricos e de revisão da literatura
Samuel da Cruz Marques*, Zaida Aurora Sperli
Geraldes Soler, D.Sc.**
*Advogado,
mestrando do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Enfermagem – Mestrado Acadêmico
da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto/SP (FAMERP), **Obstetriz, enfermeira, livre-docente em enfermagem, docente
e orientadora de graduação e pós-graduação de enfermagem da FAMERP, SP
Recebido em 22 de novembro de 2021; aceito em 20 de dezembro
de 2021.
Correspondência: Samuel da Cruz Marques, Av. Luciano Lopes
de Carvalho, 1070, 15450-000 Onda Verde SP
Samuel da Cruz Marques: professor@samuelmarques.com.br
Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler: zaidaaurora@gmail.com
Resumo
Introdução: O Brasil enfrenta o desafio de lidar com
o envelhecimento populacional sem contar com o respaldo cultural propício ao envelhecimento
com qualidade de vida. Objetivo: Analisar artigos científicos empíricos e
de revisão da literatura que abordem o preparo para a aposentadoria para melhor
qualidade de vida, no Brasil. Métodos: Revisão de artigos científicos empíricos
e de revisões integrativas e sistemáticas, que abordam aspectos de preparo para
a aposentadoria com qualidade de vida, com busca bibliográfica na base de dados
Lilacs e no Google Acadêmico, de 2000 até 2021, com textos
completos e gratuitos. Resultados: Foram selecionados 29 artigos, sendo 10
de revisão da literatura e 19 empíricos; com maior número de publicações nos anos
de 2017, 2020 e 2021; foram publicados principalmente em periódicos interdisciplinares.
Conclusão: Constatou-se baixo número de artigos científicos nesta área, indicando
necessidade de realização de pesquisas sobre preparação da aposentadoria com maior
qualidade de vida, no contexto brasileiro.
Palavras-chave: aposentadoria; pensões; previdência social;
qualidade de vida.
Abstract
Retirement with better
quality of life in Brazil: evidence from empirical articles and literature review
Introduction: Population
aging in Brazil presents the challenge of dealing with old age without having the
cultural support that favors aging with quality of life. Objective: To analyze
empirical scientific articles and literature reviews that address the preparation
for retirement with better quality of life in Brazil. Methods: Review of
empirical articles and integrative and systematic reviews, which address aspects
of preparing for retirement with quality of life, with literature search in Lilacs
database and Academic Google, from 2000 to 2021, with free full texts. Results:
29 articles were selected, 10 from literature review and 19 empirical; with the
highest number of publications in the years 2017, 2020 and 2021; they were published
mainly in interdisciplinary journals. Conclusion: There was a low number
of scientific articles in this area, indicating the need to carry out research on
retirement preparation with better quality of life, in the Brazilian context.
Keywords: retirement;
pensions; social security; quality of life.
Resumen
Jubilación con mejor calidad de vida en Brasil: evidencias de artículos empíricos y revisión de la literatura
Introducción: El envejecimiento
poblacional en Brasil presenta
el desafío de enfrentar la vejez sin
contar con el apoyo cultural que promueve el envejecimiento con calidad de vida. Objetivo:
Analizar artículos científicos empíricos y revisión de literatura que aborden
la preparación para la jubilación con
mejor calidad de vida en Brasil. Métodos: Revisión
de artículos científicos empíricos y revisiones integrativas
y sistemáticas, que abordan aspectos de la preparación para la jubilación con
calidad de vida, con búsqueda bibliográfica en la base de datos Lilacs y Google Académico, de 2000 a 2021, con textos completos gratuitos. Resultados: Se seleccionaron 29 artículos, 10 de revisión
bibliográfica y 19 empíricos; con mayor
número de publicaciones en los años 2017, 2020 y 2021; se publicaron principalmente en revistas
interdisciplinarias. Conclusión:
Hubo un bajo número de artículos
científicos en esta área, lo
que indica la necesidad de realizar
investigaciones sobre la preparación para la jubilación con mejor calidad de vida, en el contexto brasileño.
Palabras-clave: jubilación; pensiones; seguridad social; calidad de vida.
Durante a maior parte da história, o ser
humano trabalhou até que cessassem suas condições físicas ou mentais para o trabalho,
sem direito a qualquer rendimento na velhice. Era inimaginável na antiguidade um
sistema capaz de fornecer renda na velhice e o melhor plano de aposentadoria era
ter muitos filhos e confiar que eles ofereceriam sustento e cuidados quando os pais
não estivessem mais produtivos [1].
Com o aumento populacional de idosos em todo
o mundo, muitas discussões têm sido feitas sobre a temática da aposentadoria. Os
termos jubilación em espanhol e jubilatio
em latim são traduzidos em português do Brasil como aposentadoria, mas não representam
os sentimentos de quem se aposenta. Esses termos têm significado claramente positivo
entre alegria e júbilo, mas a percepção de muitos que se aposentam é de retirada,
separação, isolamento, de não ser mais útil [2].
O processo de envelhecimento de trabalhadores
envolve reflexões cada vez mais profundas e tem despertado o interesse de pesquisadores
de todo o mundo. No Brasil, geralmente o idoso tem sido visto como incapaz, improdutivo
e dependente. Talvez contribua para isso o fato do valor
da aposentadoria ser baixo e se defasar com o tempo, forçando o idoso a buscar alternativas
para retornar ao mercado de trabalho [3,4,5].
Os primeiros sistemas de aposentadoria foram
criados a partir do século XVIII, mas não era uma temática de interesse coletivo,
já que muitos não tinham direitos a esses benefícios [6]. A primeira iniciativa
de aposentadoria foi proposta pelo Chanceler Otto von Bismarck, na Alemanha, no
final do século XIX, enquanto no Brasil a Lei Eloy Chaves (Decreto Legislativo)
n. 4.682, de 24 de janeiro de 1923 é considerado o marco inicial da proteção previdenciária
[7,8].
O Brasil, que sempre foi reconhecido como
uma nação de população jovem, neste século XXI enfrenta o desafio de lidar com o
envelhecimento populacional, mas não conta com respaldo cultural propício ao envelhecimento
com qualidade de vida. O viver por mais tempo contando com uma fonte de renda pode
não ser encarado de forma positiva se o indivíduo não alcançar a qualidade de vida
idealizada/planejada para este período da vida [9]. Neste contexto, o preparo para
a aposentadoria se apresenta como uma resposta à necessidade de planejamento desta
etapa de vida, contemplada pela legislação como um direito do idoso e assumida como
parte da responsabilidade social de muitas organizações de trabalho, que proporcionam
ao trabalhador de empresas privadas e órgãos públicos, a participação em programas
de preparo para a aposentadoria (PPA) com reflexões sobre envelhecimento e transição
de carreira [10,11,12,13,14].
É certo que os hábitos praticados durante
a vida laboral refletem na qualidade de vida durante a aposentadoria, a identificação
e reflexão sobre estas condutas pode contribuir fortemente para uma aposentadoria
vista como positiva, ou seja, que contemple a qualidade de vida esperada/buscada
para este período. Tais hábitos são oriundos das mais diversas áreas da vida, desde
o esforço repetitivo ou a postura ergonômica no trabalho, até o hábito de fazer
poupança ou cultivar os laços familiares [4].
Ante o exposto, este estudo tem como objetivo:
analisar artigos científicos empíricos e de revisão da literatura que abordem o
preparo para a aposentadoria para melhor qualidade de vida, no Brasil.
A presente pesquisa é uma revisão narrativa
reflexiva de artigos científicos empíricos e artigos de revisões integrativas e
sistemáticas que abordam aspectos de preparo para a aposentadoria com qualidade
de vida. O roteiro metodológico consistiu na identificação da questão da pesquisa,
busca na literatura, categorização e avaliação dos estudos obtidos, interpretação
dos resultados e síntese do conhecimento.
A busca bibliográfica dos artigos foi realizada
na base de dados Lilacs (Literatura Latino-Americana e
do Caribe em Ciências da Saúde), que é o mais importante e abrangente índice da
literatura científica e técnica da América Latina e Caribe e no Google Acadêmico,
considerado nos últimos anos como uma base de dados bem organizada e com maior repertório
de publicações científicas online. As palavras-chave utilizadas foram aposentadoria,
preparo para aposentadoria e qualidade de vida.
Foram
pesquisados artigos publicados nas
bases de dados mencionadas, a partir dos anos 2000 até 2021, com
vistas a verificar
a evolução do interesse na investigação da
temática aposentadoria associada à qualidade
de vida, no século XXI, no Brasil. Como critério de
inclusão os artigos deveriam
ter texto completo disponível.
Para
a extração das informações, utilizou-se
instrumento de coleta de dados que denominamos de resenha, contendo
variáveis relacionadas
à identificação do estudo,
introdução e objetivo, características
metodológicas,
resultados e conclusões.
Foram selecionados os artigos que abordavam
diretamente a questão da aposentaria e qualidade de vida e estão expostos em síntese,
com a elaboração da resenha de cada um. São apresentados com nome do periódico de
publicação, ano e numeral correspondente à referência bibliográfica. Encontramos
28 artigos com tal abordagem a partir de 2008 até 2021, correspondendo a um (1 –
3,45%) artigo nos anos de 2008, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016 e 2019; três (3 – 10,34%)
artigos em 2009 e 2018, cinco artigos (5 – 17,24 %) nos anos de 2017 e 2021 e seis
(6 – 20,69%) artigos em 2020.
Dos 29 artigos selecionados, 10 (34,48%)
eram de revisão da literatura; foram publicados em periódicos das seguintes áreas
profissionais: Interdisciplinar (10 – 34,48%) de Psicologia (5 – 17,24%), de Enfermagem
e de Saúde Coletiva (4 – 13,79%), de Medicina, de Geriatria e Gerontologia e de
Anais de eventos (2 – 6,90%). A seguir, uma breve síntese dos artigos selecionados.
Avaliação da qualidade de vida de aposentados
com a utilização do questionário SF-36
Revista da Associação Médica Brasileira,
2008 [15]
O aumento que vem ocorrendo na população idosa no Brasil justifica
a necessidade de avaliar os aspectos que podem interferir na qualidade de vida de
aposentados. Em estudo com 87 aposentados, usou-se a versão brasileira do questionário
SF-36 para avaliação da qualidade de vida, associados às características demográficas,
socioeconômicas, condições de saúde e estilo de vida. A depressão e hipertensão
arterial sistêmica foram as doenças mais prevalentes. Evidenciou-se melhor qualidade
de vida apenas nos aposentados que praticavam atividade física regular ou que tinham
alguma atividade de trabalho.
As contribuições da internet para o idoso:
uma revisão de literatura
Revista Interface (Botucatu), 2009 [16]
A internet introduziu uma nova forma de aquisição de informação,
raciocínio, comunicação e lazer para toda a população, inclusive para o idoso, como
meio efetivo de divulgação de informações sobre saúde e atividade física, uma forma
de lazer e uma ferramenta importante para a prevenção do isolamento social e da
depressão, estimulando a atividade cerebral. O uso apropriado da rede contribui
positivamente para o bem-estar do idoso, tanto por seu perfil informativo e lúdico
quanto por seu uso caracterizar um processo de aprendizagem, com reflexos em melhor
qualidade de vida. O idoso usuário da rede mundial de computadores tem benefícios
psicológicos importantes, tais como: prevenção da depressão e do isolamento social,
especialmente os limitados fisicamente, e manutenção dos níveis cognitivos. Além
de a internet ser utilizada como recurso para estimular as atividades cerebrais,
ela oferece diferentes possibilidades de interação social para todas as faixas etárias.
Estudos demonstraram a sua efetividade como ferramenta de comunicação social para
os idosos.
A educação em saúde como agente promotor
de qualidade de vida para o idoso
Revista de Ciência e Saúde Coletiva, 2009
[17]
A educação em saúde como agente promotor da qualidade de vida,
tendo como desafio a integração de conhecimentos dispersos das áreas humanas e biológicas
aos saberes populares, pressupondo novas interfaces de atuação no modelo de assistência
à saúde. Representa um elo entre os desejos e expectativas da população idosa por
uma vida melhor e as projeções e estimativas dos governantes ao oferecer programas
de saúde mais eficientes.
Repercussões da aposentadoria na qualidade
de vida do idoso
Revista da Escola de Enfermagem da USP, 2009
[18]
O estudo destacou o quanto o advento da aposentadoria pode trazer
benefícios ou malefícios, de acordo com o significado que cada pessoa atribui à
aposentadoria. Os aspectos mencionados sobre a aposentadoria foram: ampliou outros
espaços para seu papel social; uma fase de descanso e sem perspectivas de novos
projetos para suas vidas; atitude de insatisfação frente à aposentadoria devido
à diminuição de renda e a presença de sentimentos de inutilidade e de baixa autoestima.
Outro aspecto que influencia no modo como a aposentadoria será vivenciada é a existência
ou não de um pré-planejamento, com visão multidimensional,
devendo ser estimulada a distribuição equilibrada do tempo entre a afetividade,
vida familiar, lazer, participação sociocomunitária e
uma atividade laborativa com tempo reduzido, remunerada ou voluntária, para melhor
qualidade de vida.
Processos Psicossociais, bem-estar e estresse
na aposentadoria
Revista Psicologia, Organizações e Trabalho,
2012 [19]
As
dificuldades no enfrentamento dos eventos associados à
aposentadoria,
podem ser derivadas de um foco excessivo nas perdas e
privações: das atividades
de trabalho, do status, dos relacionamentos, do reconhecimento
profissional, entre
outras. O tempo livre, nessa configuração, pode deixar de
ser visto como oportunidade
para novas descobertas e aprendizagens e reduzir a capacidade de
enfrentamento dos
estressores característicos desse período de vida. Tudo
fica ligado à história de
vida no trabalho, contexto social e de lazer, condições
socioeconômicas, ajustamento
familiar, convicções filosóficas e religiosas,
espiritualidade, construção da subjetividade
e percepção da velhice, além de
percepção da saúde, satisfação com a
família, situação
econômica, atividades fora da família, status social,
capacidade de iniciar e manter
contatos sociais e avaliação da situação
atual.
Aposentadoria e saúde mental: uma revisão
da literatura
Cadernos de Psicologia, Sociedade e Trabalho,
2013 [20]
A qualidade de vida pós-aposentadoria foi a terceira temática
mais estudada nesta revisão da literatura. Os achados foram agrupados nas seguintes
categorias: 1) Qualidade de vida e satisfação com a aposentadoria; 2) Preparação
para aposentadoria; 3) Expectativas e perspectivas frente à aposentadoria; 4) Envelhecimento
e 5) Consequências da aposentadoria na saúde. Houve um predomínio de estudos quantitativos
e a temática consequências da aposentadoria na saúde foi a mais estudada na literatura
internacional, proporcionando maior compreensão sobre essa relação.
Aposentadoria na Enfermagem: uma revisão
da literatura
Revista Mineira de Enfermagem, 2014 [21]
A escassez de profissionais de enfermagem configura-se como
uma preocupação mundial e a redução se dá, particularmente, pela aposentadoria de
grande número de profissionais, com repercussões no ensino e na prática assistencial
da enfermagem. Os fatores determinantes que dificultam a permanência da força de
trabalho na enfermagem dizem respeito às questões sociais e pessoais, carga de trabalho
e adoecimento dos trabalhadores, além de ambientes de trabalho sem condições adequadas.
Identificou-se restrita produção de trabalhos referentes à temática em nível nacional,
cabendo aos pesquisadores a realização de estudos que busquem características da
aposentadoria da enfermagem no contexto brasileiro.
Qualidade de vida na terceira idade na pós-aposentadoria:
uma revisão da literatura nacional nas duas últimas décadas
XIV SEPA- Seminário Estudantil de Produção
Acadêmica, 2015 [22]
As produções empíricas e teóricas analisadas nesta pesquisa
abordam o conceito de qualidade de vida para os idosos na mesma perspectiva da Organização
Mundial de Saúde (OMS), tendo em conta que para viver com qualidade é necessário
cultivar relacionamentos interpessoais, manter uma boa saúde física e mental, ter
equilíbrio emocional, lazer, trabalhar com prazer e vivenciar a espiritualidade,
ter acesso permanente aos conhecimentos e viver em ambientes favoráveis. Entre os
aspectos negativos estão: surgimento das doenças crônico-degenerativas, viuvez,
morte dos amigos e parentes, ausência de papeis sociais valorizados, isolamento
social, perda de vínculos e dificuldades financeiras, afetando sua autoestima. Os
dados mostram que são necessárias políticas públicas e mudanças de mentalidade sobre
o envelhecimento, para permitir uma boa qualidade de vida pós-aposentadoria.
Qualidade de vida na concepção de docentes
de enfermagem aposentadas por uma universidade pública
Ciência Cuidado e Saúde, 2016 [23]
Realizada pesquisa qualitativa com nove docentes de enfermagem
aposentadas de uma universidade pública da Região Sul do Brasil, por meio de entrevistas
semiestruturadas e as falas foram submetidas à análise de conteúdo temática. Das
narrativas, foram elaboradas seis categorias temáticas: saúde como qualidade de
vida; recursos financeiros como qualidade de vida; relacionamentos interpessoais
como qualidade de vida; sentimento de sentir-se útil como qualidade de vida, cuidar-se
como qualidade vida e planejamento para ter qualidade de vida. A aposentadoria com
qualidade de vida teve concepções singulares e de ordem subjetiva, devendo haver
o preparo para esta nova etapa da vida que precisa ser vivenciada com máximo de
bem-estar.
Correlação entre desesperança e qualidade
de vida, menos qualidade de vida em aposentados do Alto Tietê
Revista Científica UMC, 2017 [24]
Alguns estudos indicam que a aposentadoria se relaciona a representações
como improdutividade, inutilidade e velhice. No trabalho desenvolvido com servidores
federais, a aposentadoria é retratada como momento que permite às pessoas terem
mais tempo para realizar novas atividades. Também foram observadas participantes
do estudo, emoções como medo e insegurança frente às perdas relativas ao trabalho.
Chegada a hora da aposentadoria há três possíveis desfechos: a aposentadoria definitiva,
o adiamento da aposentadoria e permanência no mesmo trabalho, ou o trabalho após
a aposentadoria (bridge employment). A intenção de aposentar-se
está vinculada à ideia de usufruir o tempo e viver com mais qualidade, e o adiamento
em resposta ao sentir-se atuante no trabalho, não ter atividades substitutivas,
além de estratégias contra a ociosidade.
Papel do trabalho, carreira, satisfação de
vida e ajuste na aposentadoria
Revista Brasileira de Orientação Profissional,
2017 [25]
O advento da aposentadoria pode gerar um desequilíbrio na organização
dos papéis que as pessoas desempenham durante suas vidas. Quatro fatores são considerados
na satisfação de vida na aposentadoria: o financeiro, a rede social de apoio, a
voluntariedade/involuntariedade
da decisão de aposentar
e a realização de trabalho voluntário. É
preciso desmistificar o conceito que a
aposentadoria é uma etapa de não atividade, pois a
realização de ações não remuneradas
como de voluntariado, comunitárias, sociais, familiares, de
lazer ou de estudo,
permitem uma nova configuração de
organização do tempo antes ocupado pelas atividades
laborais. A realização de pesquisas sobre aposentados
oriundos de diferentes configurações
(empresas privadas e públicas de portes distintos, profissionais
liberais e autônomos)
pode vir a enriquecer as descobertas sobre os fatores que influenciam a
satisfação
de vida na aposentadoria.
Revisão da literatura latino-americana sobre
aposentadoria e trabalho: perspectivas psicológicas
Revista Psicologia, Organizações e Trabalho,
2017 [26]
Compreender a aposentadoria sob uma perspectiva psicológica
significa enfatizar o estudo dos antecedentes comportamentais, subjetivos e os resultados
da aposentadoria, considerando as diferenças inter e intraindividuais. Verificou-se que são incipientes os estudos
latino-americanos sobre a perspectiva psicológica na relação trabalho/aposentadoria,
examinados a partir de uma visão processual, em que as três fases (preparação, tomada
de decisão e ajuste) sejam percebidas em um contínuo, de forma interligada. O aprofundamento
e a diversificação das abordagens e dos métodos de pesquisa e de intervenção sobre
o tema, a partir de abordagens psicológicas, a ênfase no caráter processual, no
intercâmbio de informações entre pesquisadores e na criação e desenvolvimento de
equipes de pesquisa, são caminhos promissores para dar continuidade aos avanços
já conquistados.
Capacidade para o trabalho e fatores associados
em profissionais no Brasil
Revista Brasileira de Medicina do Trabalho,
2017 [27]
A promoção da capacidade funcional dos trabalhadores pode contribuir
com a redução dos custos para a qualidade de vida na aposentadoria. A mensuração
da capacidade para o trabalho pode ser realizada por meio do Índice de Capacidade
para o Trabalho (ICT) e possibilita avaliar e detectar precocemente alterações e
predizer a incidência de incapacidades de trabalhadores em fase de envelhecimento,
além de subsidiar medidas preventivas. Para isso, são necessárias intervenções em
níveis individual e coletivo, de natureza ambiental e organizacional, por parte
de trabalhadores e gestores. A redução dos fatores de risco é importante para melhorar
a capacidade para o trabalho e a qualidade de vida dos trabalhadores.
Educação para aposentadoria: avaliação dos
impactos de um programa para melhorar qualidade de vida pós-trabalho
Interações Campo Grande, 2017 [28]
Como um processo complexo, particular e heterogêneo, a aposentadoria
relaciona-se, muitas vezes, com a velhice ou a inatividade, podendo impactar negativamente
na qualidade de vida do indivíduo e provocar uma crise identitária. Também pode
representar uma fase de recomeço, com novas possibilidades prazerosas e maior bem-estar.
As ações de preparação para a aposentadoria devem estar respaldadas no autoconhecimento,
no reconhecimento de potencialidades e limitações, bem como auxiliar na prevenção
de possíveis conflitos e no apoio para o planejamento do seu futuro. Com programas
de preparação, pode ser despertado em cada um a necessidade de se planejar e cuidar
dos múltiplos fatores relacionados ao bem-estar na aposentadoria, como: planejamento
financeiro, a promoção de autonomia, ao suporte afetivo e integração social com
a família e amigos, no intuito de proporcionar a manutenção da saúde e mais qualidade
de vida.
Qualidade de vida e fatores associados em
aposentados por invalidez de uma universidade pública brasileira
Ciencia y Enfermeria,
2018 [29]
O estudo teve algumas limitações, mas permitiu identificar fatores
associados e qualidade de vida de aposentados por invalidez, em uma universidade
pública. Os aposentados apresentaram escores médios de qualidade de vida de componente
físico e mental. As menores percepções nos domínios de qualidade de vida estiveram
associadas sobretudo às doenças crônicas, enquanto que as melhores percepções de
alguns domínios foram associadas ao lazer e possuir relacionamento conjugal. De
modo geral, os participantes apresentaram uma qualidade de vida insatisfatória.
Assim, faz-se necessário o controle das doenças crônicas, estímulo aos hábitos de
vida saudáveis e promoção de saúde, a fim de melhorar a qualidade de vida dessas
pessoas.
Aspectos sociais e psicológicos frente à
falta de planejamento e preparação para a aposentadoria na terceira idade
Revista FAROL, 2018 [30]
Tanto a terceira idade, quanto a aposentadoria tendem a desencadear
diversos problemas psicossociais, na vida do indivíduo que se aproxima desta fase,
sendo necessário o planejamento e preparação, aliados ao acompanhamento psicológico.
O propósito é minimizar os danos causados pelo processo de aposentadoria do envelhecimento,
pela quebra da estrutura social, da qual os trabalhadores sempre estiveram organizados.
Durante este processo o indivíduo enfrenta uma série de mudanças, que são fatores
desencadeantes de insegurança, medo, estresse, ansiedade, sentimento de inutilidade,
isolamento, solidão e baixa autoestima, ou seja, produz instabilidade emocional,
que pode evoluir para algo mais grave, como a depressão, ocasionando-se em um envelhecimento
mais dolorosos.
Impacto da aposentadoria no cotidiano do
servidor público federal
Revista Interinstitucional Brasileira de
Terapia Ocupacional, 2018 [31]
O objetivo principal da pesquisa foi analisar os impactos da
aposentadoria no cotidiano de servidores públicos federais. Ocorreram mudanças positivas
e negativas, sendo importante salientar que o primeiro impacto percebido com a aposentadoria
foi a ausência de uma rotina que antes era proporcionada pelo trabalho. Ficou claro
que a forma negativa de vivenciar a aposentadoria se deu em virtude do não planejamento
da mesma e do significado que o trabalho teve na vida do sujeito. Notou-se que os
sujeitos que possuíam maior dificuldade nessa ressignificação sofreram mais. Para
a pessoa conseguir obter uma melhor qualidade de vida na aposentadoria, é necessário
que se aproprie da resiliência para conseguir ressignificar seu cotidiano modificado.
Desligamento por aposentadoria: um estudo
acerca dos aspectos psicológicos do aposentado. Cadernos de Graduação - Ciências
Humanas e Sociais – UNIT, 2019 [32]
A privação do papel ocupacional pode acarretar para os idosos
distintos níveis de ansiedade, porém irá depender de fatores como história pessoal,
suporte afetivo, entre outros. Assim, percebeu-se a complexidade desse assunto,
visto que é uma fase de transição em que pode ocorrer a perda da identidade do sujeito
ligado anteriormente ao trabalho, de forma que é necessário que a organização institua
programas de preparo para a aposentadoria. Quanto à atuação da Psicologia neste
contexto, deve-se priorizar a concreticidade da aposentadoria
e a fala do sujeito, visto como ser social, transformador da sua realidade e transformado
por esta.
Fatores de postergação da aposentadoria de
idosos: revisão integrativa da literatura
Ciências Saúde Coletiva, 2020 [33]
O fenômeno do envelhecimento populacional acarreta impactos
sociais e econômicos diferentes entre as nações desenvolvidas e naquelas em desenvolvimento,
como o Brasil. Neste estudo verificou-se que a decisão de aposentadoria dos idosos
envolve uma variedade de fatores pessoais, organizacionais e outros (legislativos,
culturais, sociopolíticos e tecnológicos). Ficou constatado escassez de estudos
na temática com amostras exclusivas de idosos em ambas as categorias, assim como
a maior ou menor relevância de determinado fator dependerá do contexto de vida de
cada trabalhador. A decisão de aposentadoria é um processo dinâmico, existe carência
de estudos longitudinais que necessitam ser supridos com pesquisas mais robustas
nacionais, sobre a população idosa.
A relação entre educação financeira e aposentadoria:
as decisões previdenciárias dos indivíduos são consistentes?
XX USP International
Conference in Accounting, São
Paulo – 29 a 31 de julho de 2020, 2020 [34]
Este trabalho teve como objetivo analisar a relação entre a
educação financeira e as decisões relativas à aposentadoria, considerando que o
conhecimento sobre decisões financeiras de longo prazo é fundamental para o planejamento
do período de inatividade. Foi construído um índice de educação financeira, que
apresentou resultados superiores àqueles constatados em trabalhos similares, o que
deve estar associado à elevada escolaridade média dos respondentes. Corroborando
a literatura, encontrou-se que mulheres têm menor índice de acerto nas questões
sobre educação financeira. Indivíduos que possuíam planos de previdência complementar
obtiveram melhor desempenho nas questões de educação financeira. Foram realizadas
duas análises adicionais de forma que se supõe original na literatura. A primeira
foi a comparação da taxa de reposição esperada pelos respondentes com sua taxa de
poupança e a idade esperada de aposentadoria. Mesmo indivíduos de elevada escolaridade
podem fazer escolhas previdenciárias inadequadas e que a educação financeira tem
um papel fundamental para melhorar estas escolhas.
Programas de preparação para aposentadoria
no Brasil: uma revisão da literatura.
Estudos Interdisciplinares do Envelhecimento,
2020 [35]
Os estudos sugerem que a maioria dos trabalhadores que têm contato
com alguma experiência de preparação para a aposentadoria PPA reconhece o potencial
transformador de tais iniciativas, no sentido da aquisição de conhecimentos ou da
elaboração de decisões que permitem vislumbrar a nova etapa com mais otimismo ou
com novas oportunidades. Pode-se defender que não basta instaurar um PPA: é preciso
avaliar a experiência a partir da visão dos destinatários, para que se possa corrigir
os defeitos e otimizar a inclusão, a assiduidade e a qualidade de participação dos
interessados. Também se observa que para o necessário investimento de recursos financeiros
nos programas, há necessidade de palestrantes qualificados, de locais adequados
e de uma duração do programa que permita que os temas sejam tratados de forma mais
aprofundada. Por fim, sugere-se que o poder público estabeleça estratégias de incentivo
para que mais instituições (e não apenas entidades públicas) promovam PPAs, na medida em que os ganhos identificados pelos participantes
dos PPAs dos estudos analisados englobam desde uma melhoria
da autoestima individual, um impacto positivo nas relações familiares e sociais,
até novas perspectivas de atuação profissional ou de voluntariado, com melhor qualidade
de vida pós-aposentadoria.
Fatores sociodemográficos e ocupacionais
associados aos recursos de bem-estar no planejamento da aposentadoria
Cogitare Enfermagem, 2020 [36]
O
objetivo do estudo foi analisar os fatores sociodemográficos
e ocupacionais associados à adoção de recursos de
bem-estar no planejamento da aposentadoria.
A adoção dos recursos de bem-estar no planejamento da
aposentadoria esteve associada
positivamente aos aspectos físico, social, emocional, cognitivo
e motivacional e
ao global. As variáveis sexo, titulação,
religião, renda familiar e estar empregado
representaram menor adoção de recursos de bem-estar. Os
resultados fundamentam o
processo de trabalho do enfermeiro, ao contribuir para o direcionamento
das ações
de promoção à saúde do trabalhador e para a
necessidade de planejamento para a adaptação
à aposentadoria.
Intervenções psicológicas no processo de
aposentadoria: revisão integrativa da literatura brasileira
Revista Psicologia e Saúde, 2021 [37]
A aposentadoria representa uma fase de transição, com importantes
repercussões para a vida do indivíduo em suas diferentes dimensões, como: carreira,
saúde, família e socialização. As intervenções psicológicas pré
e pós-aposentadoria objetivam contribuir nessa transição, promovendo bem-estar,
adaptação e maior qualidade de vida no enfrentamento das mudanças inerentes a essa
etapa desenvolvimental. A questão norteadora foi: qual
o perfil das intervenções psicológicas no contexto da aposentadoria em termos de
características, resultados e recomendações no Brasil? A partir das bases de dados
Lilacs, Scielo, PePSIC e PsycINFO, foram realizadas
buscas no período de 2002 a 2017. Foram recuperados dez artigos, sendo cinco empíricos
e cinco teóricos. As intervenções atingiram mais o público feminino e buscaram promover
o bem-estar a partir da exploração das perdas, dos ganhos e das mudanças ocorridas
nessa fase. Recomenda-se a participação de psicólogos nesses programas, bem como
a avaliação longitudinal das propostas existentes, buscando seu aperfeiçoamento
constante.
Planejamento financeiro para a aposentadoria:
uma revisão sistemática da literatura nacional sob o viés da psicologia
Estudos e Pesquisas em Psicologia, 2020 [38]
O objetivo deste estudo foi descrever e analisar o estado da
arte nacional sobre o planejamento financeiro para aposentadoria, sob o escopo da
Psicologia. Os artigos foram analisados a partir de sete categorias: ano de publicação,
abordagem metodológica, setor, público investigado, instituição, elaboração de escalas
e forma de abordar o planejamento financeiro. Ao final, foi constatada a necessidade
de desenvolver novos estudos e políticas organizacionais que conduzam ao planejamento
financeiro para a aposentadoria, fundamental para envelhecer com qualidade. Além
do âmbito acadêmico, ações estratégicas precisam ser traçadas principalmente pela
área de Recursos Humanos, a fim de sensibilizar os trabalhadores quanto ao planejamento
financeiro como medida que deve acompanhar toda a trajetória profissional, para
promover bem-estar.
Aposentadoria e planejamento para vida pós-trabalho:
um estudo com servidores de um Instituto Federal de Educação
Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia,
2021 [39]
Buscou-se investigar fatores associados à construção de projeto
de vida pós-trabalho em servidores do Instituto Federal do Tocantins e verificar
temas de interesse para elaboração de um Programa de Preparação para a Aposentadoria.
Foram entrevistados 94 servidores dentre técnicos administrativos e docentes, que
estavam com 5, 10 e 15 anos para se aposentarem. Os participantes foram avaliados
por meio de questionário sociodemográfico, QWLQbref questionário
de avaliação da qualidade de vida no trabalho (QVT) e Escala dos Fatores-Chave de
Planejamento para a Aposentadoria (KFRP). Houve correlações estatisticamente significantes
e positivas entre o subdomínio psicológico de QVT e o Fator Risco ou Sobrevivência,
e entre o domínio profissional de QVT e o Fator Relacionamentos Familiares. O grupo
de profissionais com 5 a 10 anos para se aposentar apresentou a maior média no domínio
psicológico de QVT; as mulheres focalizaram mais o novo começo profissional; participantes
sem companheiro(a) apresentaram menor pontuação no item relacionamento familiar
como fator de planejamento pós-aposentadoria. As temáticas propostas pelos servidores
podem contribuir para o planejamento de um Programa de Preparação para a Aposentadoria.
Preparação para aposentadoria de docentes
universitários: revisão integrativa
Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia,
2021 [40]
Foi feita análise de evidências disponíveis na literatura relacionadas
à preparação para aposentadoria de docentes universitários. Os achados do estudo
apontam que a produção científica sobre aposentadoria foi sendo gradativamente desenvolvida
a partir da década de 1980. Apesar de serem discutidos, majoritariamente, aspectos
que envolvem todos os docentes de uma instituição, os estudos apresentam discussões
específicas para a área do saber da Medicina e Farmácia e para docentes Técnicos
Administrativos e Seniores. Apesar de serem conduzidos a partir de delineamentos
quantitativos, os resultados das pesquisas contemplaram as questões complexas e
subjetivas que envolvem a aposentadoria e foram publicados em periódicos que abordam
o processo de envelhecimento humano. A decisão por aposentadoria está relacionada
ao planejamento implícito de se manter ativo, seja no ambiente laboral ou na pós-aposentadoria.
Portanto, a preparação para a retirada do ambiente laboral pode promover e favorecer
uma transição flexível e progressiva, com qualidade e saúde. Constata-se que cada
trabalhador vivencia de diferentes formas a interrupção das atividades laborais.
O rompimento com o trabalho pode despertar ansiedade, crises de identidade, sentimentos
ambivalentes e confusos, alternâncias de humor e doenças psicossomáticas. Logo,
programas de preparação para aposentadoria tendem a colaborar nesse processo, desde
que o trabalhador integre e se prepare ainda durante o exercício da função. Os programas
de preparação para aposentadoria podem ser referência para os trabalhadores que
estão próximos de se aposentar, auxiliando na construção de projetos de vida após
o trabalho
Efeitos das aposentadorias por tempo de contribuição
e por idade sobre saúde e bem-estar dos indivíduos no Brasil
Cadernos de Saúde Pública, 2021 [41]
Foram analisados os efeitos das aposentadorias no Brasil por
idade e tempo de contribuição por meio de medidas de saúde geral autoavaliada, sintomas depressivos da escala CES-D e rendas
domiciliar e individual do responsável pelo domicílio. As análises também foram
desagregadas por gênero e localidade. O método utilizado foi o Propensity Score Matching com dados
de 9.412 indivíduos com 50 anos ou mais, obtidos do Estudo Longitudinal da Saúde
dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil), coletados nos anos de 2015 e 2016. Sobre a
saúde geral autoavaliada, há aumento na probabilidade
de avaliação da saúde como boa ou excelente para as mulheres da zona urbana, tanto
para as que aposentaram por tempo de contribuição, em mais de 9%, como por idade,
em mais de 7%. Há redução na probabilidade de presença de sintomas depressivos para
as mulheres que aposentaram por tempo de contribuição em 11%, e, para homens da
zona rural, há redução em mais de 16%. Já sobre a renda, os efeitos são de aumentos
expressivos para todos os subgrupos. A pesquisa buscou contribuir para mitigar a
escassez de evidências sobre efeitos das aposentadorias no Brasil, e, em geral,
os resultados sugerem que os efeitos das aposentadorias sobre a saúde e o bem-estar
dos indivíduos são benéficos, contudo, bastante heterogêneos entre homens e mulheres
das zonas rural e urbana.
Envelhecimento e a preparação para a aposentadoria
e a cessação do trabalho
Revista Longeviver,
2021[42]
Esta reflexão surgiu a partir dos conhecimentos adquiridos no
Curso Fragilidades na Velhice (PUC-SP) e base para o projeto Preparação para Aposentadoria
e Cessação do Trabalho. Seu objetivo principal é aplicar no cotidiano esse aprendizado,
de forma a agregar ainda mais conhecimento sobre o envelhecimento e também replicá-lo,
e a melhor forma encontrada foi aplicá-lo no trabalho como assistente social, agrupando
ao projeto de trabalho do Serviço Social em uma empresa. Conhecer ainda mais formas
de bem envelhecer e contribuir profissionalmente para que outras pessoas tenham
acesso a mais conhecimento e melhores formas de envelhecer; buscar realização e
bem-estar em qualquer fase da vida; diminuir prejuízos em diversos aspectos de sua
vida na velhice. Um projeto de preparação para a aposentadoria deve prever um espaço
diferenciado, propício à reflexão, e partir de temas que fazem sentido para o público
alvo, entre eles: sobre o trabalho que exercem; o período de vida que estão vivendo
com suas possibilidades e fragilidades - geralmente com a velhice se aproximando;
refletir sobre projetos de vida a construir, seu planejamento antes e pós-aposentadoria.
O que fica claro na leitura dos 29 artigos
que analisamos neste estudo e outros apresentados, é o sofrimento de perda que a
aposentadoria representa na vida de uma pessoa, que pode abalar sua saúde mental
e sua qualidade de vida. No âmbito da qualidade de vida pós-aposentadoria, o primeiro
impacto é a ausência de uma rotina, antes proporcionada pelo trabalho, sem a qual
cada indivíduo busca alternativas a fim de se reestabelecer e se reconhecer na nova
realidade da aposentadoria. Neste sentido, a formatação de novos projetos contribui
na busca por mais qualidade de vida neste período [10].
O tempo livre que muitos desejam também é
temido por outros, pelo sentimento de inutilidade e abandono que ele sugere [11].
Nosso interesse foi verificar e discutir as diferentes abordagens das pesquisas
selecionadas no contexto brasileiro, de programas de preparo para aposentadoria
e aposentadoria com vistas a melhor qualidade de vida, como segue:
Aposentadoria no Brasil
O
cenário populacional no Brasil mostra que
estamos saindo da condição de país com uma
população jovem para um país de
população
idosa, o que certamente provocará intensas mudanças em
diversos setores da sociedade,
destacando-se a questão das aposentadorias. O envelhecimento da
população tem impulsionado
as pesquisas sobre a decisão trabalho-aposentadoria, uma vez que
este fenômeno se
mostra altamente dinâmico, complexo e multideterminado. Entre as
diversas classes
de variáveis encontramos as vivências individuais,
familiares, tipo de organização
de trabalho, cultura e outras [9].
A Lei Eloy Chaves (Decreto Legislativo) n.
4,682, de 24 de janeiro de 1923 representa o marco inicial da proteção previdenciária
em nosso país, autorizando as empresas ferroviárias a criarem suas caixas de aposentadoria
e pensão. Nesse modelo embrionário, a proteção se efetivava em relação aos riscos
de doença, invalidez, idade e morte [7]. Com a Lei Elói Chaves, a saúde dos trabalhadores
atrelada à previdência, torna-se componente de um sistema para os trabalhadores.
Começa com as caixas de pensão, depois, os institutos e, finalmente, o grande instituto
agregador de todos: o INPS, precursor do INSS [8].
Vale esclarecer que a Previdência Social
no Brasil apresenta três regimes: a) Regime Geral de Previdência Social (RGPS),
com caráter contributivo e de filiação obrigatória para os empregadores, empregados
assalariados, domésticos, autônomos, contribuintes individuais e trabalhadores rurais;
b) Regime Próprio de Previdência Social (RPPS), compulsório para o servidor público
do ente federativo que o tenha instituído e que não inclui os empregados das empresas
públicas, os agentes políticos, servidores temporários e detentores de cargos de
confiança, os quais são todos filiados obrigatoriamente ao RGPS; e c) Regime de
Previdência Complementar (RPC), que se diferencia dos demais, principalmente por
ser facultativo [43].
São muitas as normas previdenciárias no Brasil,
com diferenças entre o trabalhador rural e urbano, do setor público e privado, para
homem e mulher; servidor federal e municipal, além de muitas outras situações peculiares
tratadas pela legislação pertinente, aprofundando o problema da desigualdade de
renda no país [44]. Além de excesso de normas, a Previdência Social brasileira tem
preocupado os governos em razão dos constantes déficits e dos perigos que trazem
ao equilíbrio das contas nacionais. Esta realidade tem provocado um cenário de constantes
mudanças nas normas do setor, com o objetivo de reduzir os custos previdenciários
[43].
Um
exemplo de alteração constitucional foi a Emenda Constitucional 95/2016 que estabeleceu
um teto, ou limite, para os gastos público pelos próximos 20 anos, incluindo os
gastos com a Seguridade Social [45]. Toda esta imensidão de regras e de mudanças
nas regras, deixa em evidência a deterioração do sistema previdenciário brasileiro,
constatada pelo fato de que, em 1940 a razão entre contribuintes e beneficiários
era de 31 contribuintes para cada beneficiário, enquanto em 2004 era menos de dois
contribuintes na ativa para cada beneficiário do sistema [4].
Assim, a aposentadoria pode apresentar significados
totalmente opostos conforme a experiência pessoal em família e nas relações de trabalho.
De um lado pode significar o reconhecimento pelos anos dedicados ao trabalho, um
momento de liberdade para realização de atividades que o trabalho privou. De outro,
pode denotar a necessidade de enfrentar o envelhecimento e possíveis doenças, sentimentos
de inutilidade e improdutividade perante a sociedade [12]. Da decisão de aposentar-se,
três desfechos são possíveis: a aposentadoria definitiva, adiamento da aposentadoria
e permanência no mesmo trabalho ou outro trabalho após a aposentadoria [13,14].
Na análise dos 29 artigos selecionados verificamos
escassez de pesquisas sobre temas relacionados ao envelhecimento da forca de trabalho, bem como da transição entre a vida ativa e
a aposentadoria, o que se constitui em obstáculo ao avanço dos debates e das políticas
públicas neste contexto. Também, apesar da aposentadoria ser um assunto recorrente
no contexto político e econômico, pouco se sabe a respeito dos critérios individuais
que levam á decisão de se aposentar e a respeito da adaptação
do aposentado a essa nova condição de vida [17].
O cenário da produção científica no Brasil
não acompanha a velocidade das mudanças nesta área, revelando lacunas e um silêncio
acadêmico que precisa ser rompido, para permitir a compreensão e o aprofundamento
das questões referentes ao planejamento, assim como o preparo para a aposentadoria,
para alcance de maior bem-estar e qualidade de vida [1].
Preparo para a aposentadoria
Os artigos que abordam o preparo para aposentadoria
mostram a importância da temática porque existe um relacionamento complexo e multifacetado
entre o trabalho e a saúde. Quando as atividades laborais são desenvolvidas sob
condições ambientais, organizacionais e fisiológicas inadequadas, podem ocorrer
danos á saúde e redução da capacidade para o trabalho.
Então, o desafio é aprender a administrar as questões do local de trabalho associadas
ao envelhecimento da forca de trabalho [46].
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS),
a expectativa de vida no Brasil chegou aos 75,2 anos em 2015, e está acima da média
mundial, de 71,4 anos. Assim, para que a aposentadoria não seja uma fase contraproducente
é preciso que os trabalhadores se preparem financeira e emocionalmente para ela
[11]. Para tanto, é altamente recomendável a oferta de programa de preparação para
a aposentadoria com a participação voluntária e efetiva dos trabalhadores próximos
de se aposentarem [47].
Um programa de preparação para aposentadoria
pressupõe que os trabalhadores precisam ser educados para este novo momento em suas
vidas e como conteúdo deste programa sugere-se que a organização de trabalho ofereça
reflexões e incentivos para que o trabalhador cuide de sua saúde, cultive um hobby,
faca planejamento financeiro, busque a realização de seus sonhos, pratique exercícios
físicos, exerça a cidadania, frequente um clube, estude e viaje [30].
A partir de um programa de preparação para
a aposentadoria, os trabalhadores podem modificar sua visão a respeito dos aspectos
centrais na decisão de se aposentar. No que se refere à parte financeira, a postura
de revolta, relacionada à perda de benefícios decorrente da aposentadoria, pode
modificar-se para uma postura de enfrentamento do problema, com a consciência da
necessidade de se planejar para a futura redução de orçamento [28].
Além disso, as ações de preparação para aposentadoria
devem estar respaldadas no autoconhecimento, no reconhecimento de potencialidades
e limitações, bem como auxiliar na prevenção de possíveis conflitos e no apoio para
o planejamento do seu futuro. Dentre os vários aspectos que podem ser considerados
num programa de preparo para a aposentadoria, o planejamento financeiro é essencial
para elaborar aplicações dentro dos padrões de vida do trabalhador, com o objetivo
de gerar uma renda complementar na aposentadoria [48].
O preparo para a aposentadoria pode influenciar
na decisão e na experiência da retirada do trabalho. Entre os que dão significado
positivo à aposentadoria estão os que apresentam bom relacionamento familiar, principalmente
com o cônjuge. Estas pessoas desejam ter tempo para executar outras atividades,
sem o compromisso do vínculo empregatício ou, ainda, têm a necessidade de prestar
cuidado aos pais adoecidos. Já o outro grupo que atribui um significado negativo
para a aposentadoria, inclui os que possuem relações familiares desarmoniosas, que
receiam a dependência dos filhos para os cuidados pessoais [12].
A ausência de reflexões prévias prejudica
a qualidade de vida do trabalhador, que sente um corte repentino na sua condição
de trabalhador e cidadão participativo, sendo comum o surgimento de separações conjugais,
uso e abuso de álcool, depressão, ansiedade, estresse, dificuldades de relacionamento
com amigos e familiares, levando ao isolamento e doenças mais severas [3]. É fundamental
para o planejamento do futuro período de aposentadoria, o enfrentamento das mudanças
físicas, psicológicas e sociais, resultantes do envelhecimento e do afastamento
do trabalho [49].
Ainda, o estabelecimento de metas contribui
para que o trabalhador note concretamente seus avanços até o desligamento do trabalho
[14].
É imprescindível, que se incentive a
criação de programas de educação e
preparação
para aposentadoria e que estes sejam oferecidos desde a admissão
dos indivíduos
nas organizações de trabalho [50]. A ausência de planejamento pode dificultar a
adaptação a novas circunstâncias do trabalho, sobretudo a aproximação da fase da
aposentadoria [51]. O planejamento da aposentadoria contribui para o envelhecimento
com qualidade de vida, independente da classe social do trabalhador [52].
Além
da utilidade apontada pelos pesquisadores,
o preparo para a aposentadoria está previsto em Lei como um
direito do idoso e uma
obrigação legal do poder público. O Estatuto do
Idoso (Lei Federal 10.741/2003)
estabelece os direitos fundamentais desta faixa etária e
contém o seguinte comando:
“Art. 28. O poder público criará e
estimulará programas de: Preparação dos
trabalhadores
para a aposentadoria, com antecedência mínima de
1 ano, por meio de estímulos
a novos projetos sociais, conforme seus interesses, e de esclarecimento
sobre os
direitos sociais e de cidadania” [53]. Antes do Estatuto do Idoso, os programas
de preparo para a aposentadoria já estavam previstos também na Política Nacional
do Idoso (Lei 8.842/94) e na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS, lei 8.742/1993)
com o objetivo de trabalhar questões relacionadas à saúde e qualidade de vida, estimulando
os trabalhadores a refletirem, de forma mais motivada e comprometida, sobre a decisão
de aposentar-se enquanto ainda estão ativos [3].
A partir dessa determinação legal, diversos
órgãos públicos e empresas privadas têm estabelecido programas de preparação para
a aposentadoria oferecendo informação e reflexões aos trabalhadores, com o objetivo
de amenizar os efeitos negativos desta transição de carreira, além de um leque de
novas possibilidades. Em minha experiência pessoal, como consultor nesta área, a
maioria das corporações de trabalho (públicas ou privadas) optam por atribuir esta
iniciativa ao setor de Recursos Humanos, encarregando um psicólogo da direção do
programa de preparo para a aposentadoria. Em alguns casos, também o setor de Serviço
Social.
Com o intuito de contribuir com este processo
de reflexão, em 2015, escrevi o livro “Aposentadoria sem medo, um guia prático para
implantar um programa de preparo para a aposentadoria” com a sugestão de ações em
cinco áreas de grande importância para os futuros aposentados: o aspecto previdenciário,
psicológico, de saúde, financeiro e organizacional, enfim, com qualidade de vida
[54].
Aposentadoria com qualidade de vida
O bem-estar é um importante indicador da
qualidade de vida de qualquer pessoa, especialmente para os aposentados. Relações
familiares com menos atritos facilitará o bem-estar de idosos aposentados, além
de melhores condições de atendimento em saúde [55]. É válido o investimento em qualidade
de vida, oferecendo melhores condições de trabalho em todas as fases da vida do
trabalhador, não apenas em sua saúde, mas também no trabalho, uma vez que haverá
um menor número de afastamentos temporários e permanentes [56].
A centralidade do trabalho na construção
da identidade resulta em sofrimento no período da aposentadoria, o que justifica
pesquisas de como reduzir os sentimentos negativos e o sofrimento do trabalhador
que se aposenta. A utilização de uma ferramenta de avaliação psicológica chamada
de Escala de Percepção de Futuro da Aposentadoria (EPFA) pode ser útil na avaliação
da percepção dos empregados quanto à aposentadoria. Destacam-se cinco áreas de interesse
num programa de preparação para a aposentadoria: saúde, desligamento do trabalho,
finanças, relacionamentos interpessoais e perdas pessoais e profissionais [56].
Na análise dos artigos científicos deste
estudo nota-se que a aposentadoria no enfoque da qualidade de vida ainda é um tema
recente no Brasil. Talvez isso explique a lacuna de pesquisas sobre a associação
entre aposentadoria e doença, exceto nas situações de aposentadoria por invalidez,
em que a doença é a sua causa.
Este estudo trouxe à tona algumas questões
interessantes, entre as quais podemos destacar: o baixo número de artigos científicos
nesta área, com temas ainda inexplorados; a alta complexidade do tema e suas relações
com múltiplas disciplinas, áreas profissionais, área de origem e interesse específico
do orientador; as pesquisas têm sido feitas por diferentes categorias de profissionais,
de forma compartilhada, como enfermeiros, psicólogos, assistente social, médicos,
cientistas sociais, economistas, advogados, terapeutas ocupacionais, administradores
de empresas e administradores públicos; os temas de maior recorrência nos artigos
encontrados foram: os desafios no período de transição que antecede a aposentadoria
e a busca por qualidade de vida no período posterior à decisão de aposentar-se.
Tais achados indicam a pertinência e oportunidade
de empenhar esforços na busca de realização de mais pesquisas com abordagem da qualidade
de vida na aposentadoria, no contexto brasileiro.
Conflitos de interesse
Não há conflito de interesse
Contribuição dos autores
Os dois autores contribuíram
de forma igual, por tratar-se de orientando e orientadora de mestrado acadêmico
e o trabalho ter sido apresentado no Exame Geral de Qualificação do mestrado. Este
artigo é parte da dissertação de mestrado intitulada Aposentadoria e qualidade de
vida: estudo entre trabalhadores de município paulista
Fonte de financiamento
Não houve fonte externa de
financiamento, sendo custeado pelos autores.