Enferm Bras. 2023;22(1):144-61
REVISÃO
Impacto da pandemia de
COVID-19 na saúde integral das pessoas LGBT+: uma reflexão a partir da Teoria
da Motivação Humana de Abraham Maslow
Alexandre Gustavo Melo
Franco de Moraes Bahia1, Ludmilla Santos de Barros Camilloto1,
Lucas Teixeira Dezem2, Arthur Correia Bessa3, Mauri
Antunes Caldeira Neto4, Gunnar Glauco De Cunto Carelli Taets5
1Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro
Preto, MG, Brasil
2Universidade de Ribeirão Preto, Ribeirão
Preto, SP, Brasil
3Universidade Federal de Viçosa, MG,
Brasil
4Centro Universitário FG – UNIFG, Jaboatão dos Guararapes,
PE, Brasil
5Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, RJ, Brasil
Recebido em 24 de janeiro de
2022; Aceito em 25 de fevereiro de 2023.
Correspondência: Gunnar Glauco De Cunto Carelli Taets
E-mail: masterufrj@gmail.com
Bahia AGMFM, Camilloto LSB, Dezem LT, Bessa
AC, Caldeira Neto MA, Taets GGCC. Impacto da pandemia de COVID-19 na saúde integral
das pessoas LGBT+: uma reflexão a partir da Teoria da Motivação Humana de Abraham
Maslow. Enferm Bras. 2023;22(1):144-61 doi: 10.33233/eb.v22i1.5064
Resumo
Introdução: Por todas as particularidades afetas à
população LGBTQIA+, especialmente no contexto brasileiro que apresenta índices
alarmantes de violência e exclusão, a sua vulnerabilidade é uma realidade
inegável. A pandemia de coronavírus, todavia, descortinou tais
vulnerabilidades, potencializando-a e gerando impactos consistentes no
atendimento das necessidades humanas desta população, nas mais variadas esferas
da vida, sobretudo no tocante à saúde mental. Objetivo: Refletir sobre
os impactos da pandemia da COVID-19 na saúde integral da população LGBTQIA+, a
partir da Teoria da Motivação Humana de Abraham Maslow. Métodos:
Trata-se de um estudo de revisão com abordagem qualitativa realizado de abril a
julho de 2021. Resultados: Refletindo sobre os cinco níveis hierárquicos
da pirâmide de Maslow, que elencam as necessidades humanas universais – básicas
ou fisiológicas, de segurança, sociais, de ego ou de estima e de
autorrealização –, nota-se uma correlação direta entre o momento pandêmico e o
aumento da vulnerabilidade deste grupo minorizado no
contexto brasileiro, potencializando-a e gerando impactos significativos no
atendimento das necessidade humanas desta população, nas mais variadas esferas
da vida, sobretudo no tocante à saúde integral. Conclusão: Este estudo
aponta para um descortinamento e potencialização de vulnerabilidades
já experienciadas pela população LGBTQIA+ no cenário brasileiro, no contexto da
pandemia de COVID-19. Consequentemente, observa-se a ocorrência de consistentes
abalos ou impossibilidade de realização de suas necessidades humanas, desde as
mais básicas até as mais elevadas.
Palavras-chave: Assistência integral à saúde;
vulnerabilidade em saúde; minorias sexuais e de gênero.
Abstract
Impact of the COVID-19 pandemic on the integral health of LGBT+ people:
a reflection from Abraham Maslow's Human Motivation Theory
Introduction: Due to all the particularities affecting the
LGBTQIA+ population, especially in the Brazilian context, which has alarming
rates of violence and exclusion, its vulnerability is an undeniable reality.
The coronavirus pandemic, however, uncovered such vulnerabilities, enhancing
them and generating consistent impacts in meeting the human needs of this
population, in the most varied spheres of life, especially with regard to
mental health. Objective: To study the impact of the COVID-19 pandemic
on the overall health of the LGBTQIA+ population, based on Abraham Maslow's
Theory of Human Motivation. Methods: This is a review with a qualitative
approach carried out from April to July 2021. Results: Reflecting on the
five hierarchical levels of Maslow's pyramid, which list universal human needs
- basic or physiological, safety, social, ego or esteem and self-realization -
there is a direct correlation between the pandemic moment and the increased
vulnerability of this minorized group in the Brazilian context, enhancing it
and generating significant impacts in meeting the human needs of this
population, in the various spheres of life, especially with regard to
comprehensive health. Conclusion: This study points to an unveiling and
enhancement of vulnerabilities already experienced by the LGBTQIA+ population
in the Brazilian scenario, in the context of the COVID-19 pandemic.
Consequently, the occurrence of consistent shocks or the impossibility of
realizing their human needs, from the most basic to the highest, is observed.
Keywords: comprehensive health care, health vulnerability;
sexual and gender minorities.
Resumen
Impacto de la pandemia del COVID-19 en la salud
integral de las personas LGBT+: una reflexión desde la Teoría de la Motivación
Humana de Abraham Maslow
Introducción: Debido a
todas las particularidades que afectan
a la población LGBTQIA+,
especialmente en el
contexto brasileño, que presenta índices alarmantes
de violencia y exclusión, su vulnerabilidad es una realidad innegable. La pandemia del coronavirus, sin embargo, reveló tales
vulnerabilidades, potenciándolas y generando impactos consistentes en
la atención de las necesidades humanas de esta población, en los
más variados ámbitos de la
vida, especialmente en lo
que se refiere a la salud mental. Objetivo: Reflexionar sobre los impactos de la pandemia de
COVID-19 en la salud general de la población LGBTQIA+, con base en la Teoría
de la Motivación Humana de
Abraham Maslow. Métodos: Se trata de un estudio de revisión con enfoque cualitativo realizado
de abril a julio de 2021. Resultados:
Reflexionando sobre los cinco niveles jerárquicos de la pirámide de Maslow, que enumeran las necesidades humanas universales -básicas o fisiológicas, de seguridad,
sociales, de ego o de estima y autorrealización-,
existe una correlación directa
entre el momento de la
pandemia y el aumento de la
vulnerabilidad de este grupo minoritario
en el contexto brasileño, potenciándola y generando impactos significativos en
la atención de las necesidades humanas de esta población, en las
diversas esferas de la vida, especialmente en lo que respecta
a la salud integral. Conclusión: Este estudio apunta a una revelación y potencialización de las
vulnerabilidades ya experimentadas por la población LGBTQIA+ en el escenario
brasileño, en el contexto de la pandemia de
COVID-19. En consecuencia,
se observa la ocurrencia de
choques constantes o la imposibilidad
de realizar sus necesidades humanas, desde las más básicas hasta las más elevadas.
Palabras-clave: atención integral de salud; vulnerabilidad en salud; minorías
sexuales y de género.
A
pandemia de Coronavírus (COVID-19), com seus efeitos percebidos mundialmente a
partir do primeiro trimestre de 2020, alterou enormemente as relações interpessoais,
as formas de trabalho, a dinâmica econômica dos países e as condições de saúde
da população em geral. No entanto, mais do que produzir algo novo – além do
próprio vírus e da vacina criada para neutralizá-lo – a pandemia expôs, com
lente de aumento, as fraturas sociais já existentes [1]. Os efeitos sentidos
pela pandemia não se limitaram, dessa maneira, à transmissão do vírus e sua
letalidade [1].
Sem
desconsiderar as alterações sofridas em todos os campos da vida humana, este
estudo multidisciplinar tem como objetivo refletir sobre os impactos da
pandemia da COVID-19 na saúde integral da população LGBTQIA+, a partir da
Teoria da Motivação Humana de Abraham Maslow. LGBTQIA+ é um acrônimo utilizado
para designar um grupo heterogêneo de pessoas que engloba múltiplas identidades
de gênero e orientações sexuais não reconhecidas pela lógica heterocisnormativa. Opta-se pela forma mais reduzida para
fins comunicacionais neste ensaio, sem desconsiderar a existência e relevância
das identidades e orientações representadas pelo sinal +, além das Lésbicas
(L), Gays (G), Bissexuais (B) e Pessoas Trans (T) [2].
A
Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde mental como “um estado de
bem-estar no qual um indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar
com os estresses cotidianos, pode trabalhar produtivamente e é capaz de
contribuir para sua comunidade” [3].
É
possível observar que ao fazer parte de um grupo minorizado,
a pessoa fica exposta a uma série de opressões e violências que deixam marcas
indeléveis em sua subjetividade, afetando sua saúde psíquica [4,5] importante
lembrar que o acrônimo LGBTQIA+ agrupa uma pluralidade de orientações sexuais e
identidades de gênero, sendo um grupo internamente bastante heterogêneo e
abrangente, com muitas características e demandas em comum e algumas
especificidades que os diferem uns dos outros, podendo estar expostos a níveis
diferenciados de opressão [6].
Embora
todos e todas estejam sujeitos/as em alguma medida a opressões e exclusões, em
uma análise interseccional, considerando-se além da sexualidade e do gênero, a
raça e a classe social, a tendência a ser observada é a de que uma mulher trans
ou travesti, negra, da periferia estará sujeita a níveis mais elevados de
opressão que um homem, gay e branco de classe média ou alta [6].
O ciclo
da violência e exclusão, grande parte das vezes, se inicia no seio familiar,
passando pelas instituições escolares, igrejas e outros agrupamentos sociais e
culmina no trabalho [7]. Esses institutos são fundamentais para a socialização
do sujeito, para a constituição de sua subjetividade e para seu senso de
pertencimento, a rejeição e a deslegitimação de sua identidade sofrida nesses
locais são de central relevância para a saúde mental e a qualidade de vida
experienciada pela pessoa LGBTQIA+. “A rejeição ao indivíduo acarreta maior
probabilidade de problemas de saúde mental como ansiedade, depressão ou ideação
suicida” [8].
O momento
pandêmico combinado com a perda do emprego e do vínculo frequente com as redes
de apoio (constituídas, sobretudo, por colegas de escola ou universidade,
colegas de trabalho ou amigos em geral), em razão da necessidade de
distanciamento social, fez com que muitas pessoas LGBTQIA+ estreitassem a
convivência familiar, deixando-os mais diretamente expostos à desaprovação e a
violências intrafamiliares. Como mostram dados da Associação Nacional de
Travestis e Transexuais [9], a violência contra pessoas trans e travestis
aumentou durante a pandemia, já que a casa de familiares muitas vezes não é um
lugar seguro para essa minoria.
O
diagnóstico realizado pelo coletivo #VOTELGBT em 2021 revelou que os resultados
encontrados no índice de vulnerabilidade LGBTQIA+ ao COVID (VLC) apontam “que a
população LGBT+ se encontra em um nível de vulnerabilidade grave e, em média,
16% mais elevado do que o ano passado, segundo as dimensões de renda e
trabalho, exposição ao risco de COVID e saúde” [5]. Acredita-se que essa
exposição acentuada à vulnerabilidade da população LGBTQIA+ gera efeitos em
todas as esferas de sua vida, impactando o atendimento das necessidades humanas
apontadas por Maslow, desde as mais básicas até a necessidade de
autorrealização.
O texto
se funda numa metodologia baseada na revisão bibliográfica de caráter
jurídico-social e de aplicação sobre dados primários de pesquisa empírica [9].
Foram consideradas as abordagens de natureza qualitativa de natureza
interdisciplinar, já que a (re)construção da pesquisa
se deu por um debate transverso, perpassando algumas disciplinas entre as
ciências da saúde, a sociologia e o direito, de forma que os dados de pesquisas
empíricas pudessem ser aplicados à teoria de Maslow [2].
Para melhor compreensão, foi dividido em
categorias temáticas, intituladas a partir dos componentes ou níveis da Teoria
de Maslow, sendo eles: Necessidade básicas ou fisiológicas, Necessidade de
segurança, Necessidade social, Necessidade de ego ou de estima e Necessidade de
autorrealização [2].
Maslow
concebeu a teoria da motivação humana baseada na hierarquia das necessidades
humanas básicas [2]. Esta teoria parte do princípio de que todo ser humano tem
necessidades comuns que motivam seu comportamento no sentido de satisfazê-las,
associando-as a uma hierarquia. O ser humano, como está sempre buscando
satisfação, quando experimenta alguma satisfação em um dado nível, logo se
desloca para o próximo e assim sucessivamente.
Existem
certas precondições para que as necessidades básicas possam ser satisfeitas:
liberdade de falar, liberdade de expressão, liberdade para investigar e buscar
informação, liberdade para se defender e buscar justiça, equidade, honestidade
e permanência garantida dentro do grupo, de maneira que quando tais liberdades
são frustradas, a pessoa pode reagir com uma resposta de emergência [2].
O estudo
foi realizado no período de abril a julho de 2021, não sendo necessário parecer
do Comitê de Ética em Pesquisa.
Refletindo
sobre os cinco níveis hierárquicos da pirâmide de Maslow, é possível
estabelecer uma correlação direta entre a pandemia da COVID-19 no contexto
brasileiro e o aumento da vulnerabilidade da população LGBTQIA+, gerando
impactos no atendimento de todas as necessidades humanas, em especial na saúde
integral.
Necessidades básicas ou
fisiológicas
São
aquelas diretamente relacionadas à existência e à sobrevivência do ser humano,
estando neste grupo as necessidades de alimento, água, vestuário, sexo e
saneamento [2]. Para o autor, as necessidades fisiológicas são o ponto de
partida para a teoria, pois elas são primordiais para qualquer ser humano, se
referindo às necessidades biológicas do indivíduo. São as mais prementes, dominando
a direção do comportamento do ser humano quando este se encontra insatisfeito.
Assim, uma pessoa dominada por tal necessidade tende a perceber apenas os
estímulos que visam satisfazê-las, sua visão de futuro fica limitada e
determinada por tal necessidade.
Desta
forma, o nível fisiológico está relacionado
às necessidades sobre o perigo de
vida, fome, más condições de moradia, fadiga,
falta de conforto pessoal, boas
condições de saúde, melhores formas de
remuneração. Este nível aponta para as
necessidades
que são multideterminadas, ou seja, que servem como mecanismo de
satisfação de
outras necessidades.
Em
relação à orientação sexual e
à identidade de gênero, ambas são observadas pelo
Ministério da Saúde como fatores determinantes e
condicionantes de situações de
vulnerabilidade [9], uma vez que a intolerância, o preconceito, a
violência e a
exclusão social relacionada à diversidade sexual e de
gênero são causadoras de
adoecimento social e mental [10] e causas de limitação do acesso de pessoas
LGBTQIA+ à atenção e aos cuidados de saúde. Nota-se que as diferenças sexuais e
de gênero dessas pessoas tendem a ser silenciadas pela sociedade, pois essa
toma por base a existência de um modelo hegemônico e universal heteronormativo
ou de uma heterossexualidade compulsória [11]. Desta forma, consideram os
sujeitos que se “destoam” do modelo dominante, como “desviantes”, dissidentes,
diferentes, abjetos, doentes ou em pecado.
Concatenando
estas informações com as necessidades básicas, fica evidente o processo de vulnerabilização e invisibilidade das pessoas LGBTQIA+ no
campo da saúde, havendo um agravamento destas situações com a crise da pandemia
de COVID-19. Mesmo que qualquer pessoa possa ser contaminada pelo vírus
SARS-CoV-2, a intersecção de outros marcadores sociais como o gênero e
orientação sexual justifica o motivo de alguns grupos estarem mais expostos à
doença; e/ou possuírem acesso limitado aos serviços essenciais de saúde [4,12].
Simultaneamente,
esses grupos estão mais expostos a violências físicas, quando observada a
rejeição familiar. A pessoa que anteriormente sofreu experiências de rejeição
familiar ou de expulsão, vive consequências maiores durante a pandemia, como,
por exemplo, a ausência de uma pessoa para cuidar dela em caso de doença ou
sequelas [13]. De outro modo, aqueles que continuam ou passaram a conviver com
familiares que não aceitam sua orientação sexual ou identidade de gênero ficam
mais expostos a situações de violência doméstica [1,6].
Tal fato
mostrou-se tão notório que a Organização das Nações Unidas divulgou um
comunicado afirmando que a crise global de COVID-19 está agravando as
dificuldades da população LGBTQIA+ e sugeriu o cuidado dos países à saúde e às
violações de seus Direitos Humanos no contexto da pandemia. O documento aponta
que ao ficar em casa crianças, adolescentes e adultos LGBTQIA+ estão obrigados
a uma exposição prolongada a membros da família que não os aceitam, o que
aumenta as taxas de violência doméstica, agressões físicas e emocionais, assim
como danos à saúde mental [6].
Em
relatório, a ANTRA [7] identifica que no primeiro trimestre de 2020 houve um
alargamento significativo da violência contra à população trans, mesmo sob as
circunstâncias de isolamento social. Comparado ao ano anterior, segundo o mesmo
relatório, evidenciou-se um aumento de 39% no número de mortes. A pesquisa
reitera que as mulheres trans trabalhadoras sexuais seguem exercendo seu
trabalho nas ruas, sendo mais afetadas, sobretudo porque a maioria não conseguiu
acesso às políticas emergenciais do Estado, devido à precarização histórica de
suas vidas. Aproximadamente 60% da população trans não teve garantido o acesso
à renda básica emergencial do Governo Federal, ou qualquer outro benefício na
esfera governamental [13].
Quando se
considera a discriminação a que pessoas LGBTQIA+ estão submetidas, pode-se
perceber que em uma situação de pandemia na qual a economia se desacelera e as
necessidades básicas dos mais pobres têm de ser supridas por políticas públicas,
havendo escassez de recursos, os mais vulneráveis tenderão a ter um acesso
menor [6]. Considerando-se a situação de mulheres trans e travestis que são
obrigadas a viver da prostituição para sobreviver – é o caso de 90% delas,
segundo dados da ANTRA (2020) [7] – e que uma boa parte delas não têm
documentos (nem mesmo os documentos “originais” que trazem nome e sexo
masculinos), percebe-se como a extrema vulnerabilidade contribui para a
exclusão de tais pessoas ao acesso a programas sociais como o auxílio
emergencial [1].
Outro
dado importante de se mencionar é que 4 em cada 10 pessoas LGBTQIA+ vivem em
residências com insegurança alimentar, conforme aponta o relatório do #VOTELGBT
[8]. Quando se fala em segurança alimentar, deve-se dizer sobre a proteção dos
direitos a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente, sem
comprometimento das necessidades essenciais que um ser humano necessita. Ao
analisar estes dados para as pessoas trans, esse número sobe para mais da
metade: 56,82% [8].
Por
conseguinte, nota-se que os sujeitos LGBTQIA+ são colocados em uma estrutura de
poder voltada à aniquilação do outro e os corpos desses grupos (notadamente das
pessoas trans) apresentam em suas identidades marcas das normas de regulação de
sexualidade e de gênero [14]. Essas marcas de dominação possuem repercussão
tanto no ambiente familiar como nas escolas, política, na saúde, nas
necessidades básicas e outras esferas da vida. Marcas e balizas que advêm de um
ideal regulatório de matrizes de ciscolonialidade e
de heteronormatividade. A ciscolonialidade pode ser
entendida como “um domínio no campo do corpo, do gênero, da sexualidade,
construindo efetivamente o paradigma de ‘verdade’ das inteligibilidades
sociais” que tem como referência um corpo “natural”, “branco” e heterossexual
[15]. Em um viés interseccional, a existência de uma matriz colonial moderna
afirma que a colisão de eixos de subordinação estrutural, tais como o racismo,
o capitalismo e o cisheteropatriarcado, permite a
visualização do gênero, da raça e da classe como aparatos coloniais em mútuo e
simultâneo entrecruzamento [16]. A partir da descriminalização e da
desconstrução da homossexualidade como doença, a heteronormatividade pode ser
definida como um “marco de controle e normalização da vida de gays e lésbicas,
não mais para que se ‘tornem heterossexuais’, mas com a finalidade de que vivam
como eles” [17].
Necessidade de segurança
Estão
nesse grupo as necessidades relacionadas à proteção individual contra perigos e
ameaças como, por exemplo, a necessidade de saúde, trabalho, seguro,
previdência social e ordem social. Maslow [2]
ressalta que a necessidade de
segurança permite ao indivíduo dar preferência
pelas coisas familiares, tender
por uma religião ou filosofia de vida e pelas rotinas do dia a
dia. Porém, a
necessidade de segurança só pode ser considerada um
motivador ativo e dominante
caso se encontre em momentos de urgência: “as necessidades
de segurança têm
grande importância, de vez que na vida organizacional as pessoas
têm uma
relação de dependência com a
organização e onde as ações gerenciais
arbitrárias
ou as decisões inconsistentes e incoerentes podem provocar
incerteza ou
insegurança nas pessoas quanto a sua permanência no
trabalho” [18].
De acordo
com a teoria de Maslow [2], as questões voltadas para segurança estão
diretamente ligadas ao papel do Estado na sociedade. Pode-se, assim, discutir o
papel do acesso à justiça para população LGBTQIA+ frente à atuação estatal.
Destaca-se que no Brasil vive-se sob a égide de políticas típicas de um (neo) liberalismo econômico, onde o interesse do capital
nacional e internacional prevalece sobre os direitos fundamentais, tratando
aqui especificamente da comunidade supracitada.
É
necessário, portanto, uma consciência crítica para superar tais desafios, sendo
a educação fundamental neste processo. Da mesma forma, a população LGBTQIA+ se
vê em situação de insegurança e vulnerabilidade às violências doméstica e das
ruas. Vale anotar que a decisão do STF na Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADO.) n. 26 sobre a criminalização da LGBTIfobia em
2019 ainda teve poucos resultados na diminuição dos casos de violência [24]. Ao
contrário – portanto, durante a pandemia e medidas de isolamento social –aumentaram
os assassinatos motivados por transfobia [7].
Não houve, por parte das várias
esferas federais e/ou de órgãos do Judiciário ou
das “funções essenciais à
justiça” ações efetivas para mudança
de procedimentos e criação de políticas
face àquela referida decisão [19].
Em 2020 o
Brasil bateu recorde de desemprego, tendo taxa de 13,5% de desempregados, a
maior série histórica do PNAD iniciada em 2012 [20]. Para população LGBTQIA+,
especialmente para pessoas trans e travestis, a situação de desemprego é ainda
mais alarmante, estando 90% dessa população na prostituição [7].
Como consequência da falta de emprego, os
direitos à vida, à alimentação digna, à moradia restam todos violados, trazendo
grande preocupação sobre quais políticas públicas o governo federal está
aplicando ou deixando de aplicar para que essa vulnerabilidade seja reduzida.
Necessidades sociais
Tais
necessidades estão relacionadas à vida em sociedade, englobando necessidades de
convívio, amizade, respeito, amor, lazer, participação e pertencimento [2].
Estas são as necessidades de convívio social: necessidade de afeto das pessoas
que convivemos como amigos e familiares. O ser humano tenderá a construir
relacionamentos afetivos com o intuito de se sentir integrado, parte de um
grupo em sociedade [18].
Nesse
sentido, sendo o distanciamento sanitário um dos fatores mais relevantes para o
controle da COVID-19 [19], podemos pensar que as relações interpessoais
sofreram uma grande mudança. O ato de se reclusar em suas próprias casas e
limitar o contato afetivo com os demais atinge diretamente as necessidades
sociais das pessoas, que, por sua vez, acabam passando por transformações em
relação ao período pré-pandêmico.
A vida em
sociedade para qual o ser humano desenvolve conexões interpessoais e relações
afetivas se inicia desde muito cedo, sendo o contato familiar sua primeira
modalidade. O berço parental, que gera uma rede de apoio – com pais, mães,
avós, irmãos, etc. – é, muitas vezes, a primeira base social que o ser humano
possui contato. Tais afetividades estruturam a subjetividade da pessoa e dão
base para que ela mesma se desenvolva de maneira plena [2].
Entretanto,
o que percebemos é que, já nesse primeiro convívio, a população LGBTQIA+ possui
certas especificidades em comparação à sociedade heterocisnormativa.
O respeito à sexualidade diversa nem sempre ocorre de maneira fluída e leve no
seio familiar. O que se observa é que algumas famílias constroem obstáculos
para o desenvolvimento pleno da pessoa LGBTQIA+, em uma falha tentativa de sua
adequação dentro de um padrão social heterocisnormativo,
resultando, assim, em conflitos familiares internos que podem causar limitações
e insatisfações na vida do sujeito [11,20].
A falta
de apoio e segurança dentro de suas próprias casas pode acarretar em um
isolamento do sujeito em relação aos seus familiares, o que, muitas vezes,
resulta em extinção dessa relação entre a pessoa e sua família, bem como em uma
saída precoce do sujeito de sua própria casa.
A
simbologia de segurança e afetividade para esse sujeito passam então a se
construir com as outras relações afetivas que ele desenvolve ao longo de sua
vida, constituindo-se uma rede de apoio. O conceito de “família” deixa de ser
vinculado somente aos laços sanguíneos e se atrela a novos integrantes, como,
por exemplo, amigos e relacionamentos amorosos. Essas novas afetividades se
fortalecem dentro da ideia de segurança e apoio, ocupando a lacuna deixada pelo
grupo familiar que não conseguiu acolher esse sujeito em suas diferenças.
Esse
movimento de construção afetiva baseada na amizade é perceptível na história do
movimento LGBTQIA+. Nos anos 80 e 90 do século passado, os grupos queers muitas
vezes segregavam-se em guetos que eram utilizados como refúgio para os seus
membros. Fora do país, percebemos o surgimento dos ballrooms,
cuja origem data de meados do fim da década de 1970 na cidade de Nova York.
Nesses locais, a comunidade se unia a fim de celebrar afetividades e
desenvolver suas próprias movimentações culturais como shows, desfiles e arte
[21,22].
No
Brasil, atualmente, existem as casas de apoio à população LGBTQIA+ que
simbolizam bem esse papel de suporte social – dentre elas podemos citar Casa 1,
Casa Aurora, Casa Chama, etc. Essas casas de acolhimento trazem os sujeitos
desamparados socialmente para um local de segurança e proteção, onde podem
receber o suporte mínimo para a sua sobrevivência e desenvolvimento [23].
Essa
situação explicita que, em tempos pré-pandêmicos, a
população LGBTQIA+ já tinha suas necessidades sociais afetadas. Com a
necessidade dos isolamentos em suas casas e do distanciamento sanitário tal
situação se intensificou. Em muitos casos, o sujeito que antes não possuía
apoio dentro de casa e construía suas relações de afetividade basicamente com
relacionamentos externos, foi obrigado a se manter recluso, afastado dos demais
e de volta ao seio familiar. Aqueles que possuem maior autonomia
profissional-financeira e/ou que se casam ou mantêm uniões estáveis têm uma
possibilidade de maior realização, inclusive no aspecto social, o que, no
entanto, não atinge a todos, particularmente as pessoas trans e travestis. Para
aqueles que tiveram que voltar para a casa de familiares, o retorno também
significou, por vezes, uma volta ao “armário”, com restrições sobre ser e
exercer afetos e sexualidade [1].
De acordo
com diagnóstico do coletivo #VOTELGBT realizado em 2020 [9], houve uma piora na
saúde mental em 42,72% dos mais de 10 mil entrevistados de todo o país, sendo este
o principal impacto da pandemia para a população LGBTQIA+. Além disso, uma
parcela correspondente a 54%, afirmou precisar de apoio psicológico. As novas
regras do convívio social, a solidão e o convívio familiar foram mencionados
por 39,23% dos participantes e 17,62% citaram as dificuldades econômicas como
os maiores impactos, por falta de trabalho ou de dinheiro.
Desta
maneira, nota-se que o ambiente que, idealmente, seria o local mais seguro para
sua proteção, torna-se tóxico e, muitas vezes, violento. Consequentemente, a
saúde desse sujeito fica afetada, impedindo a realização da necessidade social
descrita por Maslow.
Necessidade de ego ou de
estima
Este
nível de necessidade guarda relação com a autossatisfação do sujeito,
caracterizando-se como necessidade de independência, apreciação, dignidade,
reconhecimento, igualdade subjetiva, respeito e oportunidades. Ela expressa as
necessidades ou desejos das pessoas de alcançarem uma autoavaliação estável,
autoestima e reconhecimento. A satisfação desta necessidade humana conduz a
sentimentos de autoconfiança, valor, dignidade, força, capacidade, suficiência
e utilidade ao mundo, mas sua frustração pode levar à sensação de inferioridade
ou desamparo. Nesse sentido, a necessidade de reconhecimento possui duas
dimensões igualmente importantes para a constituição da subjetividade, bem como
para a percepção positiva de si mesmo: o reconhecimento das próprias
capacidades, valor e virtudes pessoais e o reconhecimento e estima por parte
das outras pessoas à sua volta, com atribuição de valor e respeito [2].
No
sentido filosófico “reconhecimento” ultrapassa o sentido estritamente cognitivo
e abarca três dimensões ou esferas igualmente relevantes para o sujeito, a
saber: a esfera do amor, constituída pelas relações pessoais com vínculo
afetivo; a esfera jurídico-moral, pelas relações de direito e autorrespeito; e
a esfera da estima social, pelas relações de solidariedade [23].
Para a
população LGBTQIA+, a satisfação da necessidade de estima encontra,
frequentemente, muitas barreiras para serem alcançadas, a começar pela ausência
recorrente de acolhimento familiar e de atribuição de valor pelos familiares e
pares, atravessando outras experiências e ambientes sociais ao longo de sua
vida, que podem lhes ser de hostilidade. A experimentação do ciclo da exclusão
família-escola-trabalho pode transmitir às pessoas LGBTQIA+ a mensagem de que
são sujeitos inferiores e de que sua existência vale menos que as demais,
gerando efeitos diretos em sua autoconfiança e autoestima e, consequentemente,
levando a sentimentos de solidão, inadaptação e inadequação em ambientes
escolares e de trabalho e, em última instância, a sentir-se uma pessoa
realizada em sentido amplo [22,24].
Além de
muitas vezes não alcançarem o reconhecimento e valorização por ser quem são e
como são, pessoas LGBTQIA+ encontram-se mais vulneráveis às situações de
discriminação, preconceito e violência em razão da elevada homotransfobia
existente no Brasil [19]. Um aspecto perverso da lógica de discriminação é
sobre a perda do autorrespeito conjunta com a experiência de privação de
direitos, quando há “uma perda da capacidade de referir a si mesmo como
parceiro em pé de igualdade na interação com todos os próximos” e ainda quando
se observa “uma espécie de rebaixamento do sentimento do próprio valor”, com
sentimento de vergonha de si mesmo [25].
A
dificuldade de inclusão no mercado de trabalho, que já se mostra consistente em
razão da normatividade estrutural que os exclui, pode ainda ser marcada pela
perda de oportunidades de trabalho em razão da sensação de insuficiência e
baixa confiança em si mesmo experimentada por algumas pessoas LGBTQIA+ [26].
No
contexto da pandemia, manter a saúde psíquica, a autoestima e consideração positiva
por parte das outras pessoas tornou-se ainda mais desafiador, considerando-se a
necessidade de proximidade familiar em razão do isolamento social. O relato de
uma mulher trans entrevistada para o diagnóstico realizado pelo #VOTELGBT em
2020 exemplifica o aumento da sua vulnerabilidade neste período:
Antes da pandemia eu já
sofria transfobia por parte da família, mas todos trabalhávamos. Com essa
pandemia passamos a ficar juntos com mais frequência e pela não aceitação
familiar e por violência psicológica por parte de minha mãe saí de casa (ela já
havia me expulsado). Estou desolada e nada bem psicologicamente [9].
Em uma
pesquisa brasileira, para a qual foram entrevistadas pessoas trans, restou
evidente que alta incidência de sofrimento psíquico por elas revelada (com
relatos de diagnósticos de depressão, ansiedade generalizada, síndrome do
pânico e tentativas de autoextermínio) se dava em decorrência direta dos
enfrentamentos sociais/familiares e situações de transfobia pelas quais passam
cotidianamente; um adoecimento provocado por serem excluídos em razão da
normatividade vigente que impacta sobremaneira a necessidade de ego ou de
estima [27].
No
contexto da pandemia essa situação se tornou ainda mais acentuada porque, além
das causas anteriormente mencionadas, “[t]here is a historical pattern that during
times of crisis, LGBITQ populations are blamed for their cause, leading to heightened stigma,
discrimination, and sometimes violence” [8]. De fato,
houve manifestações em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil, de que a
pandemia de COVID-19 seria uma espécie de represália divina pela pecaminosidade
das pessoas LGBTQIA+, além de afirmarem serem elas os principais vetores da
doença [8].
Necessidade de
autorrealização
Expressam
o mais alto nível das necessidades, estando diretamente relacionadas à
realização integral do indivíduo. Neste grupo estão as necessidades de
utilização plena das potencialidades, de capacidade e da existência de
ideologias. São necessidades de crescimento revelando uma tendência de todo ser
humano para realizar plenamente o seu potencial. Essa tendência pode ser expressa
como o desejo de a pessoa tornar-se sempre mais do que é e de vir a ser tudo o
que pode ser. A necessidade de autorrealização não se extingue pelo pleno ato
de saciar. Quanto maior for a satisfação experimentada, tanto maior e mais
importante parecerá à necessidade. O surgimento claro desta necessidade
descansa na satisfação anterior das necessidades fisiológicas, de segurança, de
amor e estima [2].
Considerar
essa última dimensão é retomar o art. 1º, III da CR/88, pois que um dos
fundamentos do Estado é a dignidade da pessoa humana, o que implica, entre
outras coisas, em se criar condições para que cada uma/um possa desenvolver ao
máximo suas potencialidades. Para pessoas LGBTQIA+ isso continua sendo um
desafio, dada a omissão do Legislativo Federal e os retrocessos de políticas
pelo Executivo Federal [24].
O
preconceito e a discriminação pelo qual a minoria passa em tempos “normais” se
mostra mais intenso em uma época de exceção. Para quem foi excluído da família,
da escola e do mercado de trabalho formal (como é o caso da maioria das pessoas
trans/travestis) [11], falar em autorrealização é algo muito distante, pois
tais pessoas ainda estão preocupadas apenas em sobreviver.
Para
quem
está no mercado formal de trabalho a situação
também não é de plena realização,
pois várias pesquisas mostram que a maioria de pessoas LGBTQIA+
esconde sua
orientação sexual/identidade de gênero no trabalho
por medo de sofrer
represálias (seja discriminação, não
promoção ou mesmo demissão). Isso influi
diretamente na faceta da criatividade e espontaneidade, já que
há um gasto
emocional em dividir a vida privada e a profissional e esta, por sua
vez, resta
prejudicada – diminuindo a criatividade e gerando até
prejuízos ou menores
ganhos nas empresas [23,26].
Quando se
considera a situação de pandemia, o quadro é ainda mais grave, uma vez que se
trata de um grupo com particular vulnerabilidade social (principalmente pessoas
trans/travestis), o que demandaria políticas públicas especiais – para atender,
por exemplo, àquelas/es que vivem da prostituição, estando, assim, mais
vulneráveis à contaminação pelo COVID-19. Não foi o que se viu, ao contrário,
pessoas trans/travestis que vivem de prostituição, por vezes não têm documentos
ou menos ainda uma conta bancária (por sua condição de extrema
vulnerabilidade), o que lhes impediu de acessar o Auxílio Emergencial [1]. Uma
boa exceção que se pode citar foi a política de vacinação preferencial para
quem tem comorbidades, incluindo aí portadores de HIV. Assim, salvo esse último
dado, se torna muito difícil falar na realização desse nível de necessidades
pessoais de LGBTQIA+, que já era algo precário e se tornou mais problemático na
pandemia.
Conclui-se
que ao se refletir sobre os impactos da pandemia da COVID-19 na saúde integral
da população LGBTQIA+, a partir da Teoria da Motivação Humana de Abraham
Maslow, desde a pandemia da COVID-19, a população LGBTQIA+ vem sofrendo impacto
em todos os cinco níveis hierárquicos por ocasião do distanciamento sanitário.
Considerando-se os impactos nas necessidades humanas mais básicas, seria,
então, utópico pensar em autorrealização para a população LGBTQIA+ no Brasil a
partir da Teoria da Motivação Humana de Maslow.
Este
estudo aponta para um descortinamento e
potencialização de vulnerabilidades já experienciadas pela população LGBTQIA+
no cenário brasileiro, no contexto da pandemia de COVID-19 e, consequentemente,
observa-se a ocorrência de consistentes abalos ou impossibilidade de realização
de suas necessidades humanas, desde as mais básicas até as mais elevadas.
Conflitos
de interesse
Não há
conflitos de interesse
Fontes
de financiamento
Não houve
financiamento
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Taets GGCC, Bahia AGMFM; Coleta de dados: Taets GGCC, Bahia AGMFM, Camilhoto
LSB, Dezem LT, Bessa AC, Caldeira Neto MA; Análise
e interpretação dos dados: Taets GGCC, Bahia
AGMFM, Camilhoto LSB, Dezem
LT, Bessa AC, Caldeira Neto MA; Redação do manuscrito: Taets GGCC, Bahia AGMFM, Camilhoto
LSB, Dezem LT, Bessa AC, Caldeira Neto MA; Revisão
crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Taets GGCC, Bahia AGMFM, Camilhoto
LSB.