Enferm Bras 2022;21(5):569-82
ARTIGO ORIGINAL
Avaliação das ações de
controle da hanseníase em município brasileiro hiperendêmico
Mara Ellen Silva Lima, M.Sc.*, Kezia Cristina Batista
dos Santos, M.Sc.**, Rita da Graça Carvalhal Frazão
Corrêa, D.Sc.***, Maria de Fátima Lires
Paiva, D.Sc.***, Ana Hélia
de Lima Sardinha, D.Sc.*** Dorlene
Maria Cardoso de Aquino, D.Sc.***
*Docente do Departamento
de Enfermagem, Instituto de Ensino Superior Franciscano (IESF), **Docente do
Departamento de Enfermagem, Universidade Estadual do Maranhão (UEMA),
***Docente do Departamento de Enfermagem, Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem, Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
Recebido em 11 de fevereiro
de 2022; Aceito em 27 de maio de 2022.
Correspondência: Kezia
Cristina Batista dos Santos, Avenida Luizão, 49, 65068-619 São Luís MA
Kezia Cristina Batista dos
Santos: kezia_cristinabs@hotmail.com
Mara Ellen
Silva Lima: maraellens@hotmail.com
Rita da
Graça Carvalhal Frazão Corrêa: ritacarvalhal@hotmail.com
Maria de
Fátima Lires Paiva: fatimalires@gmail.com
Ana Hélia de Lima Sardinha: anahsardinha@ibest.com.br
Dorlene Maria Cardoso de
Aquino: dorlene@elointernet.com.br
Resumo
Objetivo: Avaliar as ações desenvolvidas para o
controle da hanseníase pelos profissionais que atuam na Estratégia de Saúde da
Família numa capital hiperendêmica do nordeste
brasileiro. Métodos: Estudo avaliativo, de corte transversal,
quantitativo, realizado com 81 profissionais da Estratégia de Saúde da Família
em São Luís/MA. Os dados foram coletados por meio de questionários
semiestruturados contendo variáveis sociodemográficas e ações de controle da
hanseníase desenvolvidas. Resultados: Houve predomínio de profissionais
do sexo feminino (80,20%), faixa etária de 40 a 59 anos (51,90%), com vínculo
empregatício estatutário (43,20%) e já haviam realizado capacitação específica
em hanseníase (79,95%). Destaca-se que todos os enfermeiros entrevistados
(100,00%) referiram preencher ficha de notificação, realizar abordagem de contatos,
examinar contatos na Unidade Básica de Saúde, indicar/encaminhar contatos para
vacinação com BCG e realizar educação em saúde. Conclusão: As ações
propostas pelo programa de controle da hanseníase não são executadas em sua
totalidade. Evidenciou-se a importância do profissional enfermeiro na execução
efetiva das ações de prevenção e controle da doença.
Palavras-chave:
hanseníase; estrutura dos serviços;
avaliação em saúde; prevenção de
doenças; avaliação de resultado de
ações
preventivas.
Abstract
Evaluation of leprosy control actions in a hyperendemic Brazilian
municipality
Objective: To evaluate the actions developed to control leprosy
by professionals working in the Family Health Strategy in a hyperendemic
capital of northeastern Brazil. Methods: An evaluative, cross-sectional,
quantitative study carried out with 81 professionals from the Family Health
Strategy in São Luís/MA/Brazil. Data were collected through semi-structured
questionnaires containing sociodemographic variables and leprosy control
actions developed. Results: There was a predominance of female
professionals (80.20%), aged between 40 and 59 years (51.90%), with statutory
employment (43.20%) and who had already undergone specific training in leprosy
(79.95 %). It is noteworthy that all nurses interviewed (100.00%) reported
filling out a notification form, approaching contacts, examining contacts at
the Basic Health Unit, indicating/forwarding contacts for BCG vaccination and
carrying out health education. Conclusion: The actions proposed by the
leprosy control program are not implemented in their entirety. The importance
of the professional nurse in the effective execution of the actions of
prevention and control of the disease was evidenced.
Keywords: leprosy; structure of services; health evaluation;
disease prevention; evaluation of results of preventive action.
Resumen
Evaluación de acciones
de control de la lepra en un municipio
brasilero hiperendémico
Objetivo: Evaluar las acciones desarrolladas
para el control de la lepra por profesionales que actúan en la
Estrategia de Salud de la Familia en
una capital hiperendémica del
nordeste de Brasil. Métodos: Estudio cuantitativo, transversal, evaluativo,
realizado con 81 profesionales
de la Estrategia de Salud de la Familia
de São Luís/MA/Brasil. Los datos fueron
recolectados a través de cuestionarios
semiestructurados que contenían
variables sociodemográficas y acciones
de control de la lepra desarrolladas. Resultados: Hubo
un predominio de mujeres profesionales (80,20%), con edad entre 40 y 59 años (51,90%), con empleo estatutario (43,20%) y que
ya habían recibido formación específica en lepra (79,95 %). Se destaca que todos los enfermeros entrevistados
(100,00%) relataron diligenciamiento
de ficha de notificación, acercamiento
a contactos, examen de contactos en la
Unidad Básica de Salud, indicación/envío de contactos para vacunación con BCG y realización de educación en salud.
Conclusión: Las acciones propuestas por el programa de control de lepra
no son implementadas en su totalidad. Se evidenció la importancia
del profesional de enfermería en la
ejecución eficaz de las acciones de prevención y control de la enfermedad.
Palabras-clave: lepra; estructura de los servicios; evaluación en salud;
prevención de enfermedades;
evaluación de resultados de acciones
preventivas.
A
hanseníase é uma doença infectocontagiosa, crônica, de evolução lenta, causada
pelo Mycobacterium leprae (M. leprae)
e seus sintomas se manifestam principalmente nos aspectos dermatoneurológicos,
podendo haver acometimento de nervos que levam a deformidades e incapacidades
[1,2].
Caracteriza-se
como caso novo de hanseníase os indivíduos que apresentam um ou mais dos
seguintes sinais e sintomas: lesão de pele com alteração de sensibilidade
térmica, dolorosa ou tátil; ou espessamento dos nervos associado a alterações
sensitivas; ou confirmação por meio de baciloscopia do M. Leprae
[3].
Estima-se
que anualmente são diagnosticados mais de 200.000 casos novos de hanseníase no
mundo [4]. O Brasil é o segundo país com maior número de notificações de casos
da doença, ficando atrás apenas da Índia [1].
No ano de
2017, o Brasil notificou 22.940 casos novos de hanseníase, com taxa de detecção
de 11,13/100.000 habitantes [5]. No mesmo ano no Estado do Maranhão houve taxa
de detecção de 35,17/100.000 habitantes e a capital São Luís apresentou 32,69
casos por 100.000 habitantes [6,7].
Com o
intuito de melhorar os indicadores de saúde no país, no ano 2000 foram
estabelecidas estratégias de incorporação do Programa de Controle da Hanseníase
(PCH) às ações desenvolvidas na Atenção Primária à Saúde. O PCH objetiva
desenvolver ações que englobem todos os níveis de atenção e complexidade,
fortalecendo as ações de vigilância epidemiológica e educação continuada a fim
de garantir a integralidade da assistência aos indivíduos portadores da hanseníase
e dos agravos desta doença [3,8].
A APS é a principal porta de entrada para os
indivíduos aos serviços de saúde e nela são
desenvolvidas ações de promoção de
saúde, prevenção de doenças e
redução dos agravos. Para execução dessas
atividades no Brasil a APS conta com uma equipe multiprofissional que
desenvolvem suas atividades na Estratégia de Saúde da
Família (ESF) [9].
Essa
equipe interdisciplinar atua com o objetivo de garantir a integralidade da
assistência na APS, com estratégias que promovam saúde, atuando precocemente na
detecção e ratreio de doenças, a fim de acompanhar,
tratar, reabilitar e reduzir os riscos [10].
Em
virtude de não existir proteção específica para a hanseníase, foram propostas
ações para redução da doença no Brasil pelo Ministério da Saúde, dentre elas:
educação em saúde, investigação epidemiológica para o diagnóstico de casos
novos, realização do tratamento até a cura, prevenção e tratamento das
incapacidades, vigilância epidemiológica, busca ativa e exame de contatos,
orientações a população e aplicação de vacina BCG [3].
Nesse
cenário de prevenção e redução da hanseníase, os profissionais da APS são
essenciais na execução das ações de controle da doença, pois estes mantêm
contato direto com os indivíduos, facilitando o acesso aos serviços de saúde,
prevenindo incapacidades e auxiliando na redução do estigma da doença e da
exclusão social [8,11].
A
literatura descreve que a qualificação profissional permite o aprimoramento das
práticas executadas e maior conhecimento para o manejo adequado da doença [11].
Destaca-se, portanto, a necessidade de uma equipe multiprofissional treinada
nas unidades básicas de saúde a fim desenvolverem ações de prevenção e controle
da doença e o acompanhamento correto dos casos de hanseníase durante todo o
processo de tratamento [8,12].
Assim,
objetivou-se avaliar as ações desenvolvidas para o controle da hanseníase pelos
profissionais que atuam na Estratégia de Saúde da Família numa capital hiperendêmica do nordeste brasileiro.
Trata-se
de um estudo avaliativo, de corte transversal e quantitativo, realizado com os
81 profissionais das Equipes de Saúde da Família do município de São Luís,
Maranhão, Brasil, no período de janeiro a julho de 2019.
A população
do estudo foi de 1.187 profissionais da ESF com atuação nas 48 unidades de
saúde que possuem o PCH implantados. Para o cálculo da amostra utilizou-se a
técnica de amostragem aleatória estratificada com alocação proporcional. O
tamanho da amostra foi calculado sendo atribuído um α = 5% e margem de
erro de 0,05. Como a proporção era desconhecida foi atribuído um p = 0,5
(variância máxima). A amostra foi constituída por 81 profissionais distribuídos
em 3 estratos, a saber: 27 médicos, 27 enfermeiros, 27 técnicos de
enfermagem. A seleção dos participantes foi realizada de forma não
probabilística, e as entrevistas de acordo com o aceite e disponibilidade dos
profissionais em dia e horário previamente agendados.
Para
coleta de dados foram utilizados questionários semiestruturados, que abordavam
aspectos relacionados ao perfil socioeconômico, profissional e ocupacional do
profissional de saúde, seu conhecimento acerca das portarias e diretrizes
estabelecidas pelo Ministério da Saúde, bem como as ações de controle da
hanseníase desenvolvidas. As entrevistas individuais ocorreram na Unidade de
Saúde em que o profissional estava lotado, após a aplicação e assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em duas vias.
Os dados
foram digitados em planilha do programa Microsoft Excel 2016 e analisados no Statistical Package for the Social Sciences (SPSS),
versão 19.0. Foram calculadas frequências absolutas e relativas e apresentadas
em forma de gráficos e de tabelas.
Obedecendo
à Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que regulamenta a
pesquisa envolvendo seres humanos, o estudo foi apreciado e aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Hospital Universitário da
Universidade Federal do Maranhão com parecer nº 2.508.780.
Participaram
deste estudo 81 profissionais da Estratégia de Saúde da Família que atuam em
unidades de saúde com o Programa de Controle da Hanseníase implantado no
município de São Luís, distribuídos entre médicos, enfermeiros e técnicos em
enfermagem. A maioria dos participantes era do sexo feminino (80,20%), faixa
etária entre 40 e 59 anos (51,90%) e afirmaram terem recebido capacitação
específica em hanseníase (79,95%).
Quanto ao
tempo de atuação na equipe de Saúde da Família atual, a categoria profissional
médica foi a que apresentou o maior e menor tempo de atuação entre os
entrevistados, com 2 meses e 34 anos, respectivamente, com média de 6 anos. O
tipo de vínculo mais frequente foi estatutário (43,20%).
Sobre a
caracterização da estrutura dos serviços de saúde voltados para hanseníase
observou-se que 70,4% dos entrevistados referiram que a estrutura de
acessibilidade aos portadores de necessidades especiais era boa. O Núcleo de
Apoio a Saúde da Família foi apontado como principal serviço de apoio para as
Unidades Básicas de Saúde (98,8%), seguido dos serviços de referência em
hanseníase (71,6%). Destaca-se nos tipos de atendimento 100,00% de
acompanhamento das reações. A modalidade de atendimento ao paciente com
hanseníase predominante foi a assistência de enfermagem, relatado por 93,8% dos
participantes.
Quanto
aos recursos materiais presentes na UBS que auxiliam no diagnóstico, avaliação
e acompanhamento da doença observou-se que a maioria tem acesso aos materiais
preconizados pelo Ministério da Saúde (MS), conforme apresentado na figura1.
Figura 1 - Materiais de auxílio diagnóstico
disponível nas unidades de saúde do município de São Luís/MA, segundo médicos,
enfermeiros e técnicos em enfermagem (n = 81). São Luís, MA, Brasil, 2019
A tabela
I apresenta as ações desenvolvidas pelos profissionais para o controle da
hanseníase. Destaca-se que 100,00% dos enfermeiros entrevistados referiram
preencher ficha de notificação, realizar abordagem de contatos, examinar
contatos na UBS, indicar/encaminhar contatos para vacinação com BCG e realizar
educação em saúde. Ação com menor realização de todos os profissionais foi a
aplicação do Protocolo Complementar de Investigação Diagnóstica de Casos de Hanseníase
em Menores de 15 anos.
Tabela I – Ações desenvolvidas para o
controle da hanseníase por médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem na
rede pública de saúde de São Luís/MA (n = 81). São Luís, MA, Brasil, 2019
Sobre os
protocolos, fichas, formulários e fluxo de atendimento observou-se na maioria
das unidades de saúde a existência de protocolos para abordagem inicial e
seguimento de contatos, ficha de referência e contra referência e fluxo
padronizado para atendimento de pessoas que apresentam estados reacionais
durante o tratamento (Figura 2).
Figura 2 - Protocolos, fichas, formulários e
fluxo de atendimento existentes nas unidades de saúde do município de São Luís/
MA, segundo médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem (n = 81). São Luís,
MA, Brasil, 2019
No
presente estudo houve predomínio do sexo feminino em todas as categorias
profissionais. Estes achados apresentam similaridade com estudo realizado em
Cocal/PI onde foi verificado que 73,91% dos participantes eram do sexo feminino
[13]. A feminilização é tendência nacional entre os profissionais que atuam na
atenção básica, este fato corrobora a maioria dos achados na literatura
[10,14-15].
Em
relação a capacitação, 79,95% dos profissionais afirmaram ter recebido curso de
capacitação específica em hanseníase. Em um estudo semelhante realizado em
Recife/PE foi observado que cerca de 86,00 a 100% dos profissionais do PCH
haviam realizado cursos de atualização da doença nos últimos 5 anos [16].
A
qualificação profissional torna-se necessário no momento da identificação da
doença, na escolha da terapêutica e no acompanhamento dos casos. Maior
capacitação reflete diretamente na melhoria e na qualidade das ações
dispensadas para o controle da hanseníase [8,11,17].
Um estudo
realizado em Minas Gerais evidenciou a importância de constantes investimentos
nas atualizações dos profissionais de saúde, pois os achados deste estudo
demonstraram que as dificuldades operacionais do PCH estavam ligadas
diretamente a ausência de uma equipe treinada e comprometida com o controle da
doença [11].
Os
achados desta pesquisa no que diz respeito ao tempo de atuação na equipe atual
estão acima da média do descrito na literatura [9,18]. O tempo de serviço em um
território adstrito reflete no vínculo entre profissional e comunidade
viabilizando o reconhecimento das necessidades dos indivíduos, fortalecimento
das ações e melhoria da qualidade da assistência prestada [17]. A rotatividade
é um fator de manutenção da endemia, pois dificulta a execução das ações de
controle [11,14,19].
Outro
fator que ocasiona a rotatividade dos profissionais da ESF é o tipo de vínculo
na prestação dos serviços da equipe multiprofissional. A instabilidade
profissional, definida pelo vínculo empregatício, contribui na maior
rotatividade dos profissionais da ESF [11,20].
No
estudo, pode-se observar que 70,4% dos componentes das equipes de Saúde da
Família consideravam a estrutura de acessibilidade ao paciente portador de
alguma necessidade especial boa. A garantia de uma boa estrutura para o acesso
da população das UBS deve ser prioridade dos serviços de saúde, pois a
estrutura adequada pode estar ligada diretamente ao sucesso das ações
desenvolvidas no âmbito da atenção primária [21].
A
políticas de saúde pública no Brasil preconizam que os indivíduos sejam
referenciados adequadamente dentro da rede de atenção aos serviços de saúde
para que haja integração das ações e garantia da integralidade da assistência
[3]. Os resultados deste estudo demonstram que o Núcleo de Apoio a Saúde da
Família (NASF) é o serviço de apoio mais utilizado pelos profissionais do
município de São Luís na atenção a pessoa com hanseníase. A rede de referência
é essencial para a condução dos casos de hanseníase, uma vez que as ações de
controle da doença necessitam da articulação com todos os níveis de
complexidade [14].
Relacionado
aos materiais necessários para diagnóstico, avaliação e assistência à pessoa
com hanseníase verificou-se que a maioria dos profissionais das Unidades
Básicas de Saúde (UBS) relataram ter acesso aos materiais que auxiliam no
diagnóstico e acompanhamento da doença, como kit de monofilamentos, kit dermatoneurológico, lanterna clínica, tabela de Snellen e fio dental. Estudo semelhante realizado na cidade
de Canaã dos Carajás/PA evidenciou a presença da maioria desses materiais nas
UBS referida pelos profissionais [1].
As ações
de controle da hanseníase na ESF são de responsabilidade de todos os membros da
equipe multiprofissional, que atuam na identificação de casos novos,
encaminhamento quando necessário e acompanhamento durante todo o tratamento e
após a alta [22].
No que
concerne ao desenvolvimento das ações para o controle da hanseníase, a maioria
dos médicos e enfermeiros realizavam diagnóstico/suspeita e acompanhamento de
casos. No entanto esta prática não foi relatada pelos técnicos em enfermagem,
pois apenas cerca de 23% relataram a execução dessas ações. Existe uma carência
muito grande de conhecimento dos técnicos em enfermagem nos aspectos de
identificação dos sinais e sintomas da doença que podem levar ao diagnóstico
precoce [13].
As ações
de suspeita e diagnóstico precoce dos casos na comunidade estão intimamente
relacionados ao sucesso da terapêutica e prevenção de incapacidades [19].
A
hanseníase é uma doença de notificação compulsória obrigatória em todo o
território nacional e por se tratar de uma doença infectocontagiosa o seu
acompanhamento mensal se torna necessário, desta forma os profissionais da ESF
devem mensalmente encaminhar informações sobre a condução dos casos no Boletim
de acompanhamento dos casos nas UBS [3,23].
Os achados
desta pesquisa demonstraram que a maioria dos profissionais entrevistados não
realizavam preenchimento de ficha de notificação e boletim de acompanhamento.
No entanto, analisando a ação por categoria profissional, observou-se que 95 a
100% dos enfermeiros relataram realizar ambos preenchimentos na UBS.
Dados
semelhantes foram encontrados em União/PI onde pesquisadores descreveram que os
profissionais de enfermagem entrevistados se envolviam mais com as ações
preconizadas pelo PCH, enquanto os profissionais médicos estavam quase sempre
preocupados com o diagnóstico e tratamento da doença [20].
Em
relação às atividades executadas para avaliação dos contatos de casos de
hanseníase, este estudo revelou que a maioria dos profissionais realizavam
abordagem de contatos, visita domiciliar para busca de contatos e
indicam/encaminham contatos para realização da vacina BCG, corroborando os
achados de outro estudo em que a maioria dos profissionais executavam ações de
vigilância de contatos [16].
Contatos
domiciliares tem risco elevado de desenvolver a doença, desta forma a busca e
exame de contatos se torna primordial nas ações de controle e necessária no
atual cenário de hiperendemicidade no país [3,24].
Ações na detecção precoce dos casos, tratamento adequado, exame de contatos e
encaminhamento a vacina BCG aumentam em 4 vezes mais as chances de sucesso no
desfecho dos casos [25].
Outra
ação analisada neste estudo foi a
realização de educação em saúde e
utilização
de materiais informativos nas ações realizadas nas UBS. A
educação em saúde é
uma das atividades propostas pelo Ministério da Saúde
(MS) para redução da
carga da doença no país. O principal objetivo dessas
ações é a articulação com
a comunidade a fim de divulgar a sintomatologia da doença,
incentivar a demanda
espontânea, examinar os contatos, promover saúde e
prevenir as incapacidades
[3].
As ações
educativas buscam empoderar o indivíduo a suspeitar precocemente de evidências
em seu cotidiano e procurar os serviços de saúde [26].
No
presente estudo verificou-se que a maioria dos profissionais realizavam ações
de educação em saúde e utilizavam materiais informativos na execução dessas
ações. Em estudo semelhante realizado com profissionais médicos e enfermeiros
foi verificado que 86,7% destes realizavam ações de educação em saúde [11].
No
tocante a existência de protocolos, fichas, formulários e fluxo padronizado nas
unidades observou-se que a maioria dos profissionais referiram ter acesso a
esses materiais em suas unidades de atuação. Os protocolos seguem orientações
do MS e constitui-se uma ferramenta excepcional nas etapas de planejamento,
execução e avaliação das ações, visto que estes instrumentos dão direcionamento
às práticas voltadas para o indivíduo, visando a integralidade da assistência e
respaldo das ações com objetivo de melhoria da qualidade da assistência
ofertada aos indivíduos [3,12].
Dessa
forma, destaca-se a importância de constantes investimentos do poder público
nas UBS, principalmente nos materiais e insumos imprescindíveis no diagnóstico
e acompanhamento da doença, disponibilização de protocolos necessários para
condução dos casos e em treinamentos adequados dos profissionais no manejo da
doença [8,16,26].
Os
resultados deste estudo mostraram que os participantes, em sua maioria, sexo
feminino, faixa etária de 40 a 59 anos, com vínculo empregatício estatutário já
haviam realizado cursos específicos em hanseníase.
Em
relação ao desenvolvimento das ações de controle da hanseníase, observou-se que
atividades essenciais no controle da doença não estão sendo desenvolvidas por
todos os integrantes da equipe de saúde da família. Os técnicos em enfermagem,
componente fundamental nas atividades de controle executadas nas UBS, são os
que menos desenvolvem as ações de controle da doença.
Por meio
deste estudo evidencia-se a presença importante do profissional enfermeiro na
execução das práticas de controle, contribuindo efetivamente para a melhoria da
qualidade das ações desenvolvidas na Atenção Básica tanto nas unidades de saúde
como na comunidade. Ressalta-se também, que os enfermeiros demonstraram maior
conhecimento acerca das portarias e diretrizes relacionadas ao tema, quando
comparados as outras categorias profissionais.
Este
estudo buscou avaliar as ações de controle da hanseníase realizadas pelos
integrantes da equipe de saúde da família e identificou que tais ações não são
desenvolvidas em sua totalidade. Pesquisas futuras devem ser realizadas para
avaliar as implicações e impactos resultantes da não realização ou adesão às
ações de controle da hanseníase na assistência aos pacientes/comunidade, assim
como investigar a relevância do papel do enfermeiro na execução das ações de
controle.
O
presente estudo contribuiu com evidências importantes sobre o desenvolvimento
das ações de controle da hanseníase em São Luís/MA, reforçando a necessidade de
investimentos na estrutura e na qualificação dos profissionais, fatores
essenciais para a melhoria da execução das ações de controle da hanseníase.
Conflito
de interesses
Não há
conflito de interesses
Fonte
de financiamento
Estudo
financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e
Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), processo nº 01347/17
Contribuição
dos autores
Concepção,
estruturação, análise e interpretação dos dados, revisão crítica do artigo:
Lima MES,
Santos KCB, Corrêa RGCF, Paiva MFL, Sardinha AHL, Aquino DMC