Enferm Bras 2022;21(5):583-95
ARTIGO ORIGINAL
Avaliação de enfermeiros
da Estratégia Saúde da Família acerca do atributo orientação familiar
Milena de Oliveira*, Lorena
Alves Fiorenza**, Carolina Isabel Bergenthal***, Ânderson Rosauro Eich****, Keity Laís Siepmann Soccol, D.Sc.****, Mara Regina Caino Teixeira Marchiori, D.Sc.****, Naiana Oliveira dos Santos, D.Sc.****
*Enfermeira mestranda em
Saúde Materno Infantil, Universidade Franciscana, Santa Maria/RS, **Acadêmica
de Enfermagem, Universidade Franciscana, Santa Maria/RS, ***Enfermeira
residente em Saúde da Família e Comunidade, Grupo Hospitalar Conceição, Porto
Alegre/RS, ****Enfermeiro, Universidade Franciscana, Santa Maria/RS
Recebido em 18 de fevereiro
de 2022; Aceito em 30 de maio de 2022.
Correspondência: Lorena Alves Fiorenza, Rua Dona Luiza
211/102, Nossa Senhora do Rosário, Santa Maria RS
Milena de
Oliveira: enfmilenatuzin@gmail.com
Lorena
Alves Fiorenza: lorenafiorenzza@gmail.com
Carolina
Isabel Bergenthal: carolinabergenthal@gmail.com
Ânderson Rosauro Eich:
anderson_eich1@hotmail.com
Keity Laís Siepmann Soccol: keitylais@hotmail.com
Mara
Regina Caino Teixeira Marchiori:
mara.marc@hotmail.com
Naiana
Oliveira dos Santos: naiana.santos@ufn.edu.br
Resumo
Introdução: A Atenção Primária em Saúde é a porta
de entrada do Sistema Único de Saúde e possui atributos essenciais e derivados
para sua consolidação no Brasil. Objetivo: Avaliar o atributo derivado
orientação familiar, na perspectiva dos enfermeiros da Estratégia Saúde da
Família. Métodos: Trata-se de um estudo descritivo, transversal quantitativo
realizado no período de março a maio de 2021, com 14 enfermeiros das
Estratégias Saúde da Família do município de Santa Maria, que responderam o
instrumento PCATool-Brasil (versão profissionais) e
um questionário sociodemográfico de forma online. Resultados: O atributo
derivado apresentou um escore de 7,9 considerado um elevado grau de orientação
familiar. Conclusão: A avaliação, presença e extensão desse atributo,
promove a garantia de um cuidado integral, universal e de qualidade para as
famílias adscritas nas Estratégias Saúde da Família.
Palavras-chave: atenção primaria à saúde; avaliação de
serviços de saúde; Enfermagem.
Abstract
Evaluation of nurses from the Family Health Strategy about the family
orientation attribute
Introduction: Primary Health Care is the gateway to the Unified
Health System and has essential and derived attributes for its consolidation in
Brazil. Objective: Evaluate the attribute derived from family guidance,
from the perspective of professional nurses in the Family Health Strategy. Methods:
This is a descriptive, quantitative cross-sectional study carried out from
March to May 2021, with 14 nurses from the Family Health Strategies in the city
of Santa Maria, who answered the PCATool-Brazil
instrument (professional version) and a questionnaire sociodemographic online. Results:
The derived attribute had a score of 7.9, considered a high degree of family
orientation. Conclusion: The assessment, presence and extension of this
attribute promotes the guarantee of comprehensive, universal and quality care
for the families enrolled in the Family Health Strategy.
Keywords: primary health care; health services research;
Nursing.
Resumen
Evaluación de enfermeros
de la Estrategia Salud de la Familia
sobre el atributo orientación
familiar
Introducción: La Atención
Primaria de Salud es la puerta de entrada al Sistema Único de Salud
y tiene atributos esenciales
y derivados para su consolidación
en Brasil. Objetivo: Evaluar
el atributo derivado de la orientación familiar, en la perspectiva de los enfermeros en la
Estrategia Salud de la Familia. Métodos: Este
es un estudio cuantitativo descriptivo,
transversal, realizado de marzo a mayo
de 2021, con 14 enfermeros
de las Estrategias de Salud de la Familia
en la ciudad
de Santa Maria, que respondieron el
instrumento PCATool-Brasil (versión
profesional) y un cuestionario sociodemográfico en
línea. Resultados: El atributo derivado presentó
una puntuación de 7,9, considerado un alto grado de orientación
familiar. Conclusión: La evaluación,
presencia y extensión de este atributo promueve la garantía
de atención integral, universal y de calidad para las familias inscritas en la Estrategia Salud
de la Familia.
Palabras-clave: atención primaria de salud; mecanismos de evaluación
de la atención de salud; Enfermería.
A Atenção
Primaria em Saúde (APS) é a principal porta de entrada dos usuários ao sistema
de saúde brasileiro e responsável por um conjunto de ações individuais,
familiares e coletivas que circunda a promoção, prevenção, proteção,
diagnóstico, tratamento e reabilitação, entre mais ações de saúde [1]. A APS
deve ser desenvolvida também por uma equipe interprofissional, que se configura
como uma forma articulada de trabalho, permitindo a colaboração e participação
de diferentes profissionais, para atender às necessidades de saúde dos usuários
e suas subjetividades. A equipe interprofissional atua como um quadro de
profissionais, evitando a duplicação de cuidados, esperas e adiantamentos
desnecessários, possibilitando maior resolutividade das unidades de saúde no
país [2].
No
Brasil, a APS tem na Estratégia de Saúde da Família (ESF), sua tática
prioritária para expansão e consolidação como modelo de assistência. Conforme a
Política Nacional da Atenção Básica, o enfermeiro e demais membros da equipe
devem participar do processo de territorialização, reconhecendo os grupos que
vivem neste território, além de realizar o cuidado integral da população
adscrita dentro e fora das unidades de saúde, como em escolas, domicílios e
espaços comunitários [1].
Os
serviços de APS são definidos com clareza em seus atributos essenciais onde
podemos citar: acesso de primeiro contato, longitudinalidade,
integralidade e coordenação do cuidado. Definimos também os atributos
derivados: orientação familiar, orientação comunitária e competência cultural
em que oferecem melhores indicadores de saúde, tratamento eficiente de doenças
crônicas, maior resultado relacionado ao cuidado, e no fluxo dos usuários que
usam o sistema, utilização de práticas de prevenção e maior satisfação dos
usuários; além de reduzir as desigualdades de aproximação aos serviços de saúde
[3].
Ainda em
relação aos atributos derivados da APS, o atributo orientação familiar avalia a
necessidade única do paciente relacionando-o com o contexto familiar e seu
potencial de cuidado, incluindo ferramentas para tal abordagem. A atenção
voltada à família ocorre quando há integralidade e essa está focada na atenção
à saúde do usuário e a sua família no seu próprio ambiente [4].
Para que
haja a integralidade e a longitudinalidade do cuidado
focado no indivíduo e sua família, a equipe de saúde torna-se fator essencial
nos serviços de APS. Deve, portanto, estimular a atuação de profissionais de
diversos conhecimentos, competências e habilidades para atravessarem as
barreiras do cuidado individual, trabalhando o usuário de forma holística,
englobando a sua família, considerando seus determinantes sociais e estimulando
sua autonomia no processo de cuidado. Além disso, o compartilhamento dos
saberes e a discussão dos casos é uma forma de repensar as ações de saúde e
reavaliá-las com frequência [5].
Pesquisas
voltadas para a avaliação da APS na visão de profissionais e usuários são
importantes para determinar a qualidade dos cuidados que são oferecidos.
Portanto, avaliar o desfecho das ações ou até mesmo suas fragilidades é
fundamental para o delineamento, gestão e cuidados oferecidos de forma
apropriada aos usuários, tornando-se ferramenta essencial para aumentar melhorias
na APS [6]. Nesse sentido, este estudo teve como questão de pesquisa: Como o
atributo derivado “orientação familiar” é avaliado pelos enfermeiros que atuam
na ESF? O objetivo desta pesquisa foi avaliar o atributo derivado orientação
familiar, na perspectiva dos enfermeiros da Estratégia Saúde da Família.
O estudo
foi realizado no período de março a maio de 2021, em uma cidade no interior do
Rio Grande do Sul, Brasil. No momento da pesquisa, a cidade contava com
aproximadamente 290 mil pessoas e contava com a cobertura de 24 Equipes de
Saúde da Família [7]. Ao todo, 14 participaram da pesquisa. Utilizou-se como
critério de inclusão estar na equipe há, no mínimo, seis meses de trabalho,
considerando que o tempo é fator determinante para o estabelecimento de
vínculos entre os profissionais e os usuários e foi critério de exclusão estar
afastado das atividades por motivo de férias ou licença médica.
Para a
coleta de dados, utilizou-se a plataforma Formulários Google, onde estavam
presentes o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e uma avaliação
sociodemográfica dos participantes, que contava com questões referentes ao
sexo, idade, tempo de formação, escolaridade e outros vínculos empregatícios.
Ainda, o formulário contava com o Instrumento de Avaliação da Atenção Primária PCATool-Brasil, para profissionais médicos e enfermeiros
versão extensa. O link de acesso a essa plataforma foi encaminhado para o
correio eletrônico (e-mail) dos participantes, que foram previamente
solicitados em contato por telefone com o serviço de saúde. O tempo para o
retorno foi considerado 15 dias, mas pela baixa adesão dos participantes,
estendeu-se por mais 30 dias. O tempo estimado para responder ao formulário foi
de aproximadamente 30 minutos.
O PCATool-Brasil, instrumento de avaliação para os atributos
da Atenção Primária em Saúde, é uma ferramenta validada que foi publicada no
ano de 2010 pelo Ministério da Saúde. No ano de 2020, a última edição desse
instrumento foi publicada na íntegra, de forma gratuita, em suas versões para
pacientes crianças, pacientes adultos, médicos e enfermeiros e, por último, em
saúde bucal para profissionais dentistas. A versão utilizada para a realização
dessa pesquisa visa avaliar os atributos essenciais e derivados na perspectiva
de profissionais médicos e/ou enfermeiros. Para este estudo, o atributo
analisado será o de Orientação Familiar, correspondente a letra G, que conta
com 14 questões no instrumento, conforme mostra o Quadro 1 [8].
Quadro 1 - Perguntas para avaliação do
atributo “orientação familiar”
Fonte:
Brasil, 2020
As
alternativas de respostas, para cada item do PCATool-Brasil,
são fundamentadas na escala Likert: “com certeza sim”
(valor = 4); “provavelmente sim” (valor = 3); “provavelmente não” (valor = 2);
“com certeza não” (valor = 1) e “não sei/ não lembro” (valor = 9). O PCATool-Brasil permite o alcance de escores para os
atributos. O escore do atributo orientação familiar, conforme orientação do
Manual do PCATool-Brasil, é calculado pela média
aritmética simples dos valores das respostas para cada pergunta ({escore =
G1+G2+G3+G4+G5+G6+G7+G8+G9+G10+G11+G12+G13+G14/9}) e, posteriormente,
transformado em uma escala contínua de 0 a 10, utilizando a fórmula ordenada:
[(escore obtido – 1) X 10] / 3 [8].
As
respostas dos participantes ao Formulário foram armazenadas em uma planilha no
Drive do Google. Após o download, os dados foram organizados no Microsoft Excel
para realização da análise estatística descritiva por meio de frequência
absoluta e relativa e cálculo do escore (média aritmética) e posterior
transformação em escala de 0 a 10. Foi utilizado o valor de referência de ponto
de corte de 6,6, sendo que os valores > 6,6 são considerados de alto escore
e de forma automática refletem a efetividade da atenção primária em relação aos
atributos e, também, que os serviços apresentam orientação para a APS. Já os
valores < 6,6 foram considerados de baixo escores [8].
Este
estudo faz parte de um projeto matricial denominado “Atributos da atenção
primária à saúde na percepção de enfermeiros das Estratégias de Saúde da
Família no município de Santa Maria - RS”. Todos os aspectos éticos foram
atendidos de acordo com a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde [9],
sob parecer do Comitê de Ética em Pesquisa nº 4.364.738, sob CAAE nº
38772220.8.0000.5306.
Dentre os
24 profissionais de enfermagem das ESF, 14 aceitaram participar deste estudo.
Os outros 10 profissionais se recusaram a participar do estudo ou não foram
encontrados após três tentativas de contato via telefone e e-mail também.
A
predominância entre os participantes da pesquisa foi do sexo feminino (100%). A
idade variou entre 26 e 52 anos, a maioria entre 31 e 40 anos (42,85%). Uma
parcela significativa das participantes (57,14%) possuía mestrado. O tempo
médio em que as profissionais estavam trabalhando na ESF foi de 2 a 10 anos
(71,42%). Das participantes (21,4%) possuíam outro vínculo empregatício além do
exercido da ESF.
O atributo derivado “orientação familiar”
alcançou um escore de 7,90 (Tabela I). Na análise dos itens que compõem esse
atributo, os maiores percentuais de respostas “com certeza sim” estavam
concentrados em quatro questionamentos: G2. 71,4% Você pergunta sobre
doenças ou problemas de saúde que podem ocorrer na família dos pacientes. G5. 71,4%
Discussão sobre fatores de risco familiares (ex.: genéticos) G7. 78,5%
Discussão sobre fatores de risco sociais (ex.: perda de emprego) G9. 71,4%
Discussão sobre estado de saúde de outros membros da família.
Tabela I - Distribuição de frequência dos
itens do atributo “Orientação Familiar”, na perspectiva de enfermeiras das ESF
do município de Santa Maria, RS, Brasil, 2021
G1 = você
pergunta aos pacientes quais são as suas ideias e opiniões ao planejar o
tratamento e o cuidado do paciente ou alguém da família? G2 = você pergunta
sobre doenças ou problemas de saúde que podem ocorrer na família dos pacientes?
G3 = você está disposto (a) e capacitado (a) para se reunir com membros da
família dos pacientes para discutir um problema de saúde ou familiar? G4 = uso
de genogramas e/ou outros instrumentos de avaliação
do funcionamento familiar; G5 = discussão sobre fatores de risco familiares
(ex.: genéticos); G6 = discussão sobre recursos econômicos da família dos
pacientes; G7 = discussão sobre fatores de risco sociais (ex.: perda de
emprego); G8 = discussão sobre condições de vida (ex.: refrigerador em
condições de funcionamento); G9 = discussão sobre estado de saúde de outros
membros da família; G10 = discussão sobre as funções parentais; G11 = avaliação
de sinais de abuso infantil; G12 = avaliação de sinais de crise familiar; G13 =
avaliação do impacto da saúde do paciente sobre o funcionamento da família; G14
= avaliação do nível de desenvolvimento familiar. Fonte: elaborada pelos
autores
Em
relação aos itens, um resultado positivo foi a questão sobre os riscos sociais,
na qual o enfermeiro questiona sobre os determinantes sociais de saúde doença,
renda familiar, estado de moradia, escolaridade dos familiares e no que isso
influencia na sua condição de vida diária. Observa-se que as questões
relacionadas a doenças ou problemas de saúde juntamente dos fatores de risco
familiares entre eles genéticos, tiveram um bom alcance relacionado a estes
itens.
Além
disso, foi bem avaliado o item relacionado ao estado de saúde de outros membros
da família, o qual frisa as comorbidades e situação atual de algum familiar com
doença crônica, também se existe um cuidador e se esta pessoa necessita de um
cuidado amplo da família, se estão sendo discutidas algumas questões como a
divisão dos cuidados entre os familiares, também a questão financeira, se conta
com o apoio do governo ou uma parte dele, e até mesmo uma rede de apoio da
própria família. Já, as respostas dos enfermeiros referentes ao uso de genogramas e/ou outros instrumentos de avaliação do
funcionamento familiar (G4) foram negativas.
Em
relação a outros estudos já realizados na APS, observa-se que o perfil feminino
de profissionais é predominante nesta área. As práticas em enfermagem possuem
um importante delineamento no que tange a variável gênero, pois há uma
prevalência na participação de mulheres nessas práticas, sendo pioneiras e
responsáveis pela sua criação e sistematização [10]. Nesta pesquisa, percebe-se
que o sexo feminino foi predominante, pois todos os profissionais que
responderam o instrumento eram mulheres.
É necessário
que os profissionais se conscientizem a respeito das necessidades da orientação
familiar promovendo a saúde e prevenindo doenças [11]. Percebemos que neste
estudo o atributo derivado “orientação familiar’’ alcançou um score considerado
alto, 7,90 mesmo que apenas 10 profissionais enfermeiros das 24 ESFs respondessem o instrumento, pode-se analisar que a
questão familiar teve uma avaliação positiva, pois ressalta que este atributo
está sendo bem pontuado na APS com um grande foco na família atendida e
refletindo na forma de saúde recebida pelos usuários.
O item
que se refere a pergunta sobre doenças ou problemas de saúde, que podem ocorrer
na família dos pacientes, e a discussão sobre o estado de saúde de outros
membros da família, teve um resultado de grande importância para estas
questões. Avaliando esses resultados, podemos citar as doenças crônicas não
transmissíveis (DCNT), na qual representam uma das principais causas de
adoecimento e morte em todo o mundo [12]. A literatura apresenta que esse
cenário atinge principalmente as pessoas que moram em regiões de risco e
vulnerabilidade, elencado por problemas de financiamento, gestão, provisão de
profissionais e estruturação dos serviços. Com isso, a APS em conjunto com a
ESF elabora um cuidado em relação às necessidades de cada indivíduo e de seus
familiares [13].
É
importante que o enfermeiro entre em discussão sobre os fatores de risco que a
família possa enfrentar, como, por exemplo, as doenças genéticas, crônicas e
até mesmo hereditárias. Em relação a esta discussão, um dos elementos que
podemos citar é a constituição da Rede de Atenção à Saúde das pessoas com
doenças crônicas não transmissíveis na qual serve para garantir equidade no
acesso e integralidade do cuidado com esses usuários [14].
Uma importante
estratégia na estruturação dessa rede é a
definição de linhas de cuidado
direcionadas às doenças crônicas, facultando
ações de promoção, vigilância,
prevenção e assistência, a partir de necessidades
de condições de vida e a
saúde individual e coletiva destes usuários [15].
Ainda, o
Ministério da Saúde lançou, no ano de 2021, o plano de ações estratégicas para
o enfrentamento das doenças crônicas e agravos não transmissíveis no Brasil,
que possui duração de 2021 a 2030. Nesse documento destaca-se que em 2019,
54,7% dos óbitos registrados no Brasil tiveram como causa as DCNT. Nesse
sentido, os organizadores elaboraram metas para o enfrentamento das DNCT no
Brasil, como: reduzir em um terço a taxa e a probabilidade incondicional de
mortalidade prematura (30 a 69 anos); reduzir a mortalidade prematura por
câncer de mama em 10%; reduzir a mortalidade prematura por câncer de colo do
útero em 20%; reduzir a mortalidade prematura por câncer do aparelho digestivo
em 10% [16].
Além disso,
esse mesmo documento [16] traz metas relacionadas aos fatores de risco das
DCNT, tais como: reduzir a prevalência de obesidade em crianças e adolescentes
em 2%; aumentar a prática de atividade física; aumentar o consumo recomendado
de frutas e de hortaliças; reduzir o consumo de alimentos industrializados e
ultra processados e reduzir o consumo de bebidas alcoólicas em 10%. Com isso,
evidencia-se a necessidade de o serviço de saúde atuar promovendo saúde e
prevenindo agravos para que, dessa maneira, o Brasil consiga alcançar as metas
apontadas por esse plano e, ainda, que a população possua maior expectativa de
vida e que consiga viver de forma saudável, não necessitando de hospitalização
por agravos de DCNT que costumam resultar em mortalidade prematura.
Em
relação aos fatores de riscos sociais, os enfermeiros sinalizaram considerar
esses aspectos. Com isso, podemos frisar que a visita domiciliar (VD) do
enfermeiro é uma forma relevante para discutir este assunto, podendo criar
intervenções que facilitem a aproximação com os determinantes do processo saúde
doença no grupo familiar. Além disso, VD é um instrumento muito rico que
permite coletar dados significativos para a realização das ações em saúde com
base no contexto social e familiar da população adscrita [17]. Porém, para que
as visitas sejam efetivas, é necessário que os profissionais compreendam a
verdadeira importância desse momento, considerando os determinantes sociais em
saúde, as condições familiares, os fatores genéticos e todas as múltiplas
dimensões que envolvem o ser humano na sociedade.
Ainda,
evidenciou-se a baixa utilização de instrumento como o genograma
e ecomapa. O genograma tem
referência a uma representação gráfica através de símbolos, que apresenta o
grupo familiar em três gerações e os relacionamentos básicos estabelecidos no
núcleo familiar. Este instrumento permite a visualização dos membros que
constituem a família e informações como idade, ocupação, profissão,
escolaridade e retratar o lugar de cada um dentro da estrutura familiar. Já o ecomapa é um diagrama das relações, dinâmicas, entre a
família e a comunidade podendo caracterizar a existência ou a carência de
recursos sociais, culturais e econômicos, sendo o retrato de determinado
momento na vida dos membros de uma família [18].
Os dois
instrumentos costumam ser utilizados em conjunto, pois demonstram o
desenvolvimento e formato da estrutura da família, além de fornecer informações
acerca do contexto atual da família. Entretanto, apesar de serem considerados
ferramentas complementares na coleta de dados, são utilizados mais em pesquisas
e estudos teóricos do que como instrumentos para a avaliação da família pela
enfermagem brasileira, refletindo nos achados encontrados pelo presente estudo
[19].
Nesse
sentido evidencia-se a necessidade de ações de educação permanente voltadas à
utilização dos genogramas e ecomapas.
Ainda, políticas públicas, que evidenciem a necessidade desses instrumentos na
avaliação das famílias brasileiras, são de extrema importância para que a
qualidade da atenção seja eficaz e atenda todas as singularidades e demandas da
população.
Esta
pesquisa teve como objetivo avaliar o atributo derivado orientação familiar na
perspectiva dos profissionais enfermeiros das Estratégias Saúde da Família da
cidade de Santa Maria. Através do instrumento citado pode-se identificar suas
fragilidades e potencialidades para auxiliar nas ações e estratégias podendo
contribuir para cada vez mais o aperfeiçoamento da orientação familiar no
processo de trabalho do profissional.
A
pesquisa avaliando este enfoque teve um escore positivo, considerado
alto na
perspectiva dos profissionais enfermeiros das ESF para a APS. Os
profissionais
que responderam este instrumento, de maneira geral, tiveram uma boa
avaliação
sobre a orientação familiar. Com isso, sugere-se que,
apesar de uma boa
avaliação desse atributo, as equipes de saúde se
tornem cada vez mais
esclarecedoras e incentivadoras aos usuários, em
relação às ações à
família e
que continuem ampliando o vínculo tornando-se parceiras no
cuidado da família,
valorizando e respeitando suas necessidades, seu contexto social,
econômico e
cultural de forma singular.
Este
atributo deve ser trabalhado no processo formativo, através dos
processos de
educação permanente, buscando incentivar os gestores a
promover às equipes
interdisciplinares, bem como incentivá-los a conhecer a
família, considerando a
singularidade de cada uma como também garantir a continuidade do
cuidado, para
uma melhor atenção à saúde. É
através dessa educação permanente que há o
fortalecimento das ações na APS e, ainda, pode ser
utilizada para qualificar os
profissionais quanto ao uso dos dispositivos e instrumentos auxiliares
da
prática de saúde, como é o caso dos genogramas e ecomapas.
Os
enfermeiros são responsáveis por trabalhar com o vínculo e a proximidade com os
usuários e sua família, além da escuta ativa e qualificada juntamente do
diagnóstico situacional, ele é um dos elos da comunidade com o serviço de
saúde. Dessa forma, sugere-se que este estudo amplie outras discussões que
incentivem o fortalecimento da prática profissional não só dos enfermeiros, mas
também da equipe interprofissional que atua no cenário das ESF. Dessa forma, a interprofissionalidade torna-se uma forte aliada na
integralidade do cuidado, fortalecendo, ainda, as relações interprofissionais
que trazem múltiplos benefícios para a comunidade e equipe de saúde.
Como
limitações para nossa pesquisa, identificamos a baixa adesão dos enfermeiros na
pesquisa, tendo em vista que apenas 14 dos 24 responderam os questionários.
Dessa maneira evidenciamos a necessidade de mais estudos primários que avaliem
o atributo orientação familiar e suas singularidades, não só na perspectiva de
enfermeiros, mas de outros profissionais e até mesmo os usuários do sistema de
saúde.
Conflitos
de interesse
Declaramos
não termos conflitos de interesse.
Fontes
de financiamento
Declaramos
não termos recebido fontes de financiamento.
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Oliveira M, Eich AR, Bergenthal CI, Santos NO; Coleta
de dados: Oliveira M, Eich AR, Bergenthal CI,
Fiorenza LA, Santos NO; Análise e interpretação dos dados: Oliveira M,
Eich AR, Bergenthal CI, Fiorenza LA, Santos NO; Redação
do manuscrito: Oliveira M, Eich AR, Bergenthal CI,
Fiorenza LA, Santos NO, Soccol KS, Marchiori MRCT; Revisão crítica do manuscrito quanto ao
conteúdo intelectual importante: Oliveira M, Eich AR, Bergenthal
CI, Fiorenza LA, Santos NO, Soccol KS, Marchiori MRCT