Enferm Bras 2022;21(4):495-509

doi: 10.33233/eb.v21i4.5142

REVISÃO

Envelhecer em instituição de longa permanência para idosos: estudo sobre a perspectiva Aging in place

 

Claudia Daniele Barros Leite Salgueiro, D.Sc.*, Cristina Maria de Souza Brito Dias**

 

*Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), Campus Pesqueira, **Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP)

 

Recebido em 31 de maio de 2022; Aceito em 11 de julho de 2022.

Correspondência: Claudia Daniele Barros Leite Salgueiro, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), Campus Pesqueira, Departamento do Bacharelado em Enfermagem, BR 232, Km 214, Loteamento Redenção, Prado 55200-000 Pesqueira PE

 

Claudia Daniele Barros Leite Salgueiro, E-mail: claudia.leite@pesqueira.ifpe.edu.br

Cristina Maria de Souza Brito Dias, E-mail: cristinamsbd@gmail.com

 

Resumo

O presente estudo buscou evidenciar o perfil dos trabalhos publicados, em âmbito nacional e internacional, no período de 2003 a 2017, com o levantamento feito a partir do Portal Regional da Biblioteca Virtual de Saúde, direcionando para periódicos indexados nas bases Medline, Lilacs e Index Psicologia – Periódicos técnico-científicos. Trata-se de uma revisão sobre o Envelhecimento em Instituições de Longa Permanência para Idosos a partir da perspectiva do Envelhecimento no Local, ou Aging in Place. Entre as questões biopsicossociais discutidas nos artigos estão: 1) Fatores e motivos que influenciam na decisão de residir em instituição; 2) Os sentimentos e os significados de envelhecer em casa ou em ILPI; e 3) Envelhecimento na própria residência ou em ILPI: família, envolvimento social e identificação com o lar. Os autores encontraram ampla discussão na literatura internacional sobre a perspectiva do Aging in Place em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos e em sua própria casa. Observou-se um enfoque na reflexão sobre aspectos biopsicossociais, familiares, sociais (protagonismo) e ambientais (identificação e pertencimento), bem como na avaliação da qualidade de vida de idosos residentes em casa própria ou em ILPI. No entanto, não há estudos nacionais que vinculem a perspectiva do envelhecimento no local, vivenciada em instituição de longa permanência.

Palavras-chave: envelhecimento; psicologia; instituição de longa permanência para idosos.

     

Abstract

Aging in Long Term Care Institution in the elderly: A study about the Aging in Place Perspective

The present study aimed to show the profile of the published works, both nationally and internationally, from 2003 to 2017, with a survey made from the Regional Portal of the Virtual Health Library, targeting indexed journals in Medline, Lilacs and Index Psychology - Technical-scientific journals. This is a review on Aging in Long-Term Institutions for the Elderly from the perspective of Aging in Place. Among the biopsychosocial issues discussed in the articles are: 1) Factors and motives that influence the decision to reside in an institution; 2) The feelings and meanings of aging at home or in institution, and 3) Aging at home or at LTR: family, social involvement and identification with the home. The authors found extensive discussion in the international literature considering the Aging in Place perspective in a Long Stay Institution for the Elderly and in their own house. It was observed a focus on the reflection on biopsychosocial, family, social (protagonism) and environmental (identification and belonging) aspects, as well as on the quality of life evaluation of the elderly living in their own home or in ILPI. However, there are no national studies linking the perspective of aging in the locality from residency in a long term care institution.

Keywords: aging; psychology; homes for the aged.

 

Resumen

Envejecimiento en una Institución de Larga Estancia para Ancianos: estudio sobre la perspectiva del Aging in place

El presente estudio buscó evidenciar el perfil de los trabajos publicados, a nivel nacional e internacional, en el período de 2003 a 2017, con el levantamiento hecho a partir del Portal Regional de la Biblioteca Virtual de Salud, dirigiéndose a periódicos indexados en las bases Medline, Lilacs e Index Psicología - Periodicos técnico-científicos. Se trata de una revisión sobre el envejecimiento en Instituciones de Larga Permanencia para Ancianos desde la perspectiva del envejecimiento en el lugar, o Aging in Place. Entre las cuestiones biopsicosociales discutidas en los artículos están: 1) Factores y motivos que influyen en la decisión de residir en institución, 2) Los sentimientos y los significados de envejecer en casa o en institución y 3) Envejecimiento en la propia residencia o en ILPI: familia, la participación social y la identificación con el hogar. Los autores encontraron una amplia discusión en la literatura internacional considerando la perspectiva Aging in Place en una Institución de Larga Permanencia para Ancianos y en sus residencias. Se observó un enfoque en la reflexión sobre aspectos biopsicosociales, familiares, sociales (protagonismo) y ambientales (identificación y pertenencia), así como en la evaluación de la calidad de vida de ancianos residentes en su propia casa o en ILPA. Sin embargo, no existen estudios nacionales que relacionan la perspectiva de envejecimiento in situ a partir de la residencia en una ILPA.

Palabras-clave: envejecimiento; psicología; hogares para ancianos.

 

Introdução

 

À medida que a nação evidencia um crescimento sem precedentes da população adulta mais velha, a provisão de cuidados institucionais de longa duração e de serviços prestados com relação à habitação dos adultos mais velhos, surgem como uma importante questão de política pública, cada vez mais urgente, e com extrema necessidade de debate por todos [1].

A constatação do envelhecimento como um processo, evidencia uma multiplicidade teórica e conceitual, na tentativa de compreender os diferentes aspectos e dispositivos de cuidado, que mantenham a saúde física e mental do indivíduo, assim como sua qualidade de vida. Temas atinentes ao envelhecimento vêm sendo amplamente debatidos, demonstrando que o interesse sobre o envelhecimento e suas implicações têm crescido nas últimas décadas, sendo acompanhado por diversas nomenclaturas, e desenhos de novas tecnologias assistivas (principalmente nas áreas de saúde e ciências humanas) [1].

Geralmente, quando se fala em envelhecimento, vê-se um atrelamento a questões relativas à saúde, qualidade de vida, bem-estar, envelhecimento ativo, envelhecimento otimizado. Entretanto, ainda persiste uma tendência na percepção de envelhecimento relacionado a mazelas e conotações negativas, esta situação é tida como idadismo, algo a ser combatido por todos os cidadãos e profissionais. Todas essas expressões, convergem na preocupação com a adaptação à velhice, e envolvem diversos fatores individuais, biopsicossociais e ambientais, que são determinantes, e podem causar modificações na saúde do indivíduo idoso [1,2].

Com efeito, ao longo das últimas décadas, temos acompanhado paradigmas e perspectivas cada vez mais positivos dirigidos às políticas públicas e à sociedade em geral. Estes, capazes de alterar a forma como se encaram as pessoas mais velhas e o processo de envelhecimento, o combate ao idadismo, dentre outras questões. O conceito de Aging in Place (AIP) é exemplo desses acenos mais positivos, que significa viver em casa e na comunidade, com segurança e de forma independente, à medida que se envelhece [3].

O conceito de AIP, ou envelhecimento no local já vem sendo discutido internacionalmente há certo tempo. No Brasil as pesquisas e a terminologia são relativamente recentes e tem muitos significados [4,5,6].

Ademais, a conceituação adotada com mais frequência na literatura gerontológica denota um ideal de política, em vez de um complexo processo de interação entre adultos mais velhos no lugar de moradia. Nesse cerne, aqui no Brasil é muito comum a associação da perspectiva AIP a ações da arquitetura, visando ambientes bem projetados e harmonizados para as pessoas idosas. Também numa margem crescente, acompanha-se um movimento ascendente na adstrição do tema à psicologia e à gerontologia em geral [1].

Na consideração de política ideal, envelhecer no local simplesmente significa a capacidade de envelhecer permanecendo no mesmo local, tendo autonomia e participação social no entorno. Nesse sentido, a vizinhança é bastante valorada [5,7].

Assim, a perspectiva AIP surge como suporte à criação de condições, para que as pessoas possam permanecer em seu próprio habitat o maior tempo possível conforme envelhecem, mesmo que sofram de alguma doença ou declínio, seja ele funcional ou cognitivo. Deveras, este paradigma idealiza a casa e a comunidade envolvente como locais privilegiados para envelhecer [3].

Estudos revelam que a qualidade de vida dos residentes em Long Terms Cares (LTCs), isto é, nas equiparadas ILPIs (Instituição de Longa Permanência para Idosos) brasileiras é uma questão urgente dada a natureza institucional dessas configurações. As relações sociais são um aspecto chave da qualidade de vida para pessoas de todas as idades, incluindo residentes em ILPIs, que passaram a sentir menos depressão e solidão, considerando maior o suporte de seus pares [8,9,10].

Assim, pesquisa sobre o impacto do lugar, identidade e pertencimento no residente em ILPI indica que as relações com outros residentes, familiares e funcionários são importantes para propulsão de experiência positiva no lugar. Os estudos indicam ainda que a busca de interesses semelhantes promove uma sensação de camaradagem e de ser apoiado por colegas, assim como lidar com diagnósticos semelhantes ou limitação/deficiência, por exemplo [9,11].

Nesse sentido, o objetivo do presente artigo foi fazer um levantamento do “estado da arte”, ou seja, demonstrar o perfil dos estudos nacionais e internacionais, no período de 2003 a 2017, sobre a perspectiva Aging in place, ou “envelhecimento no local”, considerando-se a possibilidade deste ocorrer em instituição de longa permanência.

 

Métodos

 

Trata-se de um estudo descritivo exploratório, no qual optou-se pelo método revisão integrativa de literatura. O presente artigo é um recorte de tese de doutoramento, defendida em dezembro de 2018. A pesquisa foi produzida por meio de três etapas iniciais, a saber: definição do objetivo da revisão, identificação da literatura disponível e seleção dos estudos conforme critérios estabelecidos. A revisão integrativa também é considerada um instrumento fundamental da prática baseada em evidências (PBE). Seu foco é baseado na síntese de conhecimento, e sua melhor aplicabilidade visa o entendimento da temática escolhida [12,13,14].

Com o intuito de operacionalizar a revisão integrativa, inicialmente, identificou- se o tema de interesse, e a pesquisa foi conduzida partindo-se da seguinte questão norteadora: “Qual o perfil dos trabalhos sobre envelhecimento em instituição de longa permanência, considerando a perspectiva Aging in place, difundida em periódicos online, no período de 2003 a 2017”?

Para especificar as publicações que compuseram a revisão integrativa deste estudo, realizou-se uma busca online, nos meses de outubro e novembro de 2017, com o levantamento a partir do Portal Regional da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), e direcionamento à Base de Dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), a Scientific Electronic Library Online (SciELO), ao Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica – Medline e à Index Psi Periódicos Técnico-Científicos.

Elegeu-se as bases de dados acima mencionadas, devido ao quantitativo de indexação de artigos da área da saúde e da gerontologia, e por serem bases que contemplam estudos primários.

As buscas foram feitas com os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) “envelhecimento”, psicologia” e “Instituição de Longa Permanência para Idosos”, e equivalentes MeSH na língua inglesa.

Estabeleceram-se os seguintes critérios de inclusão: a) estar disponível em texto completo; b) terem sido publicados em português ou inglês; c) serem estudos que abordassem a temática específica; d) publicados no recorte temporal de 2003 a 2017. Excluíram-se os estudos cujos textos não estavam disponíveis de forma integral, os textos em outros idiomas, os estudos enquadrados como dissertações e teses, e que estivessem fora do período limitado.

Os artigos também foram classificados de acordo com o nível de evidência científica (NEC), sendo observada a sua abordagem metodológica. Considerou-se a classificação hierarquizada em sete níveis definidos, a saber: nível 1 – meta-análise ou revisões sistemáticas; nível 2 – ensaio clínico randomizado controlado; nível 3 – ensaio clínico sem randomização; nível 4 – estudos de coorte e de caso controle; nível 5 – revisões sistemáticas de estudos descritivos e qualitativos; nível 6 – estudos descritivos ou qualitativos; e nível 7 – opinião de especialistas [12].

Todos os artigos escolhidos foram lidos, revisados e avaliados quanto aos critérios de exclusão e inclusão. Foram escolhidos e arquivados em uma base de dados a fim de serem utilizados durante o decorrer da pesquisa, para a fundamentação acerca do tema. Ao fim da análise e interpretação dos dados, foi realizada uma sumarização de todo o conhecimento obtido através das publicações. Foi confeccionado um quadro sinótico com informações sumarizadas, e que permitiram a análise do material, expondo-se: número do artigo, periódico / área, ano de publicação, área do periódico, autores, título do artigo, nível de evidência científica e objetivos.

 

Resultados e discussão

 

Através da busca com os descritores “envelhecimento”, psicologia” e “Instituição de Longa Permanência para Idosos”, utilizando “AND” como conector boleano, foram encontrados 31 artigos, dos quais, quando aplicados os critérios de inclusão e exclusão, obteve-se o total de 07 artigos para análise. Utilizou-se um fluxograma para simplificar os dados coletados, onde estão descritos a quantidade de trabalhos encontrados, selecionados e excluídos, dispostos na figura 1.

 

 

Figura 1 - Fluxograma dos critérios de seleção dos artigos

 

A partir dos critérios de inclusão e exclusão estabelecidos, foram selecionados 07 artigos que atenderam aos objetivos propostos e à pergunta condutora. A amostra final foi organizada em quadro sinótico, com as categorias: número do artigo, título, autores; ano de publicação; objetivo; nome do periódico; área do periódico; estado do periódico em território nacional; e nível de evidência científica. Os dados foram disponibilizados com o fito de sintetizar as informações, formando um banco de dados de fácil acesso e compressão.

 

Quadro 1 - Apresentação das características centrais dos artigos selecionados

 

 

O presente estudo de revisão constituiu-se de 07 publicações sobre a perspectiva AIP, considerada em instituição de longa permanência para idosos (ILPIs), ou seja, a moradia e envelhecimento nesta, tanto na caracterização quanto na categorização. Quanto aos anos de publicação, foi identificado que nos anos de 2012, 2014 e 2015, houve maior número de estudos publicados, contemplando dois artigos (31,5%) cada ano; seguido de 2011, com apenas uma publicação (5,3%).

A modalidade estudo descritivo não experimental foi observada no quantitativo de seis publicações (94,7%), sendo que a modalidade estudos de revisão obteve representatividade de apenas um artigo do total de publicações (5,3%). Em relação às áreas de conhecimento dos periódicos nos quais os artigos foram publicados, verificou- se registros nas áreas de Geriatria (duas publicações), Ciências Sociais (duas publicações), Saúde da Mulher (uma publicação), Medicina Social (uma publicação) e Psicologia (uma publicação).

Após a análise criteriosa dos artigos selecionados, evidenciou-se uma convergência temática neles. Desse modo, foram elencados três pilares temáticos (Quadro 2), para melhor atingir o objetivo do estudo e melhor exposição dos dados encontrados. É importante destacar também, que ocorreu de um mesmo artigo evidenciar mais de um pilar temático e, portanto, o somatório total de evidências supera o número total de artigos analizados.

 

Quadro 2Distribuição e quantitativo das publicações analisadas segundo os pilares temáticos

 

 

Fatores que influenciam na decisão de residir em instituição

 

O artigo (A2) destacou que a dinâmica da família pode motivar o idoso a se mudar para um lar assistencial. Em algumas situações, o próprio idoso apresenta o comportamento de manter-se no domínio das situações. Entretanto, há pouca interação ou evitação com/dos os membros da família, o que torna a mudança iminente [15].

O estudo do artigo (A4) focalizou vários fatores que ocasionam a mudança para uma ILPI, entre os quais destacam-se: saúde física, características da personalidade, suporte e contato familiar, atuação social, contato e coesão na/com a vizinhança, rede de amizades, percepção acerca da moradia, neuroticismo, abertura /flexibilidade [17].

O referido estudo do artigo (A4) apontou, ainda, que o fator mais comum para a relocação ou mudança para uma ILPI é o declínio da saúde e da mobilidade, principalmente entre os idosos mais pobres, e de famílias com baixa instrução. Assim como a coesão social na vizinhança, foi associada com uma reduzida probabilidade de considerar uma futura mudança para uma ILPI. Nenhum efeito significativo foi encontrado para redes sociais, ou personalidade do idoso. Também não foi encontrada nenhuma interação significativa entre a idade do idoso e o seu estado de saúde física com outras covariáveis. As restrições financeiras foram consideradas fatores de impulso, levando à decisão de redução do tamanho de uma residência, para uma mais acessível, menor [17].

Com efeito, o estudo do artigo (A3) destacou que o fator religiosidade e sua prática podem ser um preditor para a influência na escolha por uma ILPI para residir. A autora também ressaltou alguns fatores indicativos de institucionalização, dentre estes: distúrbios de comportamento, condições precárias de saúde, reabilitação, falta de recursos financeiros e de espaço físico, abandono de cuidados pela família, necessidade de segurança e maneira de evitar a solidão. Para este último fator, deve-se considerar as mudanças no contexto familiar que o idoso pode estar vivenciando, tais como: separação, morte do cônjuge, diminuição do número de membros nas famílias, extensão da vida de solteiro. O estudo evidenciou, ainda, que a decisão por morar numa ILPI pode ser tomada de forma independente, ou ser influenciada por pessoas próximas (familiares e amigos) [16].

Já o estudo do artigo (A7) foi realizado com idosos filandeses, e retratou que a mudança para uma instituição foi mais frequentemente apresentada pelo acúmulo de eventos causais, ou por alterações financeiras no ciclo de vida, por exemplo. O estudo evidenciou fatores culturalmente reconhecidos como razões legítimas para a mudança para uma ILPI, dentre estes: idade avançada, problemas de saúde, viuvez, tamanho inapropriado da habitação anterior, problemas com tarefas domésticas pesadas, e de manutenção da residência, por exemplo [19].

Ainda de acordo com o artigo (A7), as pessoas mais velhas também se mudam devido às preferências pessoais, e vários outros motivos além de cuidados e questões relacionadas com a idade, que muitas vezes podem sinalizar uma questão evidente, mas muitas vezes negligenciada. Ademais, mudar-se para um local que proporcione uma vida mais independente, e sem tantas interferências e controle de familiares, pode ser mais facilmente interpretado como uma transição voluntária, podendo a decisão basear-se em experiências subjetivas. A escolha do tipo de habitação normalmente relaciona-se à idade cronológica, e aos recursos/arranjos financeiros necessários/disponíveis [19].

 

Os sentimentos e os significados de envelhecer em casa ou em ILPI

 

A pesquisa do artigo (A2) evidenciou os sentimentos por parte dos familiares com relação a aspectos de decisão e independência de idosos que moram sozinhos em casa ou em ILPI. Os familiares reconheceram processos internos expressos na tentativa de domínio das atividades cotidianas, visando uma relativa segurança do ente idoso. O estudo demonstrou ainda sentimentos de orgulho acerca da autodeterminação de seus parentes, relacionados à reivindicação de uma vida pessoal autônoma [15].

O sentimento de pertença, de interação com as outras pessoas, de fazer parte do grupo, e em contribuir com este, foram destaque no artigo (A3). Nos discursos dos idosos, eles enfatizaram o distanciamento das pessoas com as quais não tinham afinidade, de forma a evitar o conflito no lugar [16].

O estudo do artigo (A5) enfocou exclusivamente idosos residentes em ILPIs, quanto aos sentimentos diversos experimentados. Alguns idosos mencionaram sentimentos de estigma relacionados ao fato de morarem em ILPI. Outros moradores sentiram que viver em uma ILPI contribuiu para que os amigos realizassem visitas obrigatórias [9].

A pesquisa do artigo A6 estudou idosas que residiam em suas próprias casas, ou em ILPIs. Os autores indicaram que houve congruência nas respostas a muitas das questões levantadas nas entrevistas, em ambos os grupos. As semelhanças se referiram à valorização da independência, apesar das diferenças evidentes nas capacidades físicas e, às vezes, mentais dos dois grupos. A maioria das participantes, em ambos os grupos, fizeram referência à importância da "independência de pensamento "e ao desejo de "agradar-se". Ambos os grupos reforçaram que o sentido de casa está intimamente ligado à família e às amizades [18].

As participantes que moravam em suas próprias casas indicaram que ficavam preocupadas em residir numa instituição, pois acreditavam que teriam um impacto negativo sobre a independência, sendo que algumas delas mencionaram que as idosas que vivem em ILPIs parecem "viver um cronograma", tendo que se encaixar nas rotinas propostas. Entretanto, as participantes residentes em ILPIs referiram ter boa qualidade de vida. Ademais, muitas dessas moradoras referiram que também fizeram escolhas sobre algumas adaptações pessoais, visando otimizar sua situação. Esta estratégia criou alguns resultados positivos para os moradores. Ambas referiram-se a perdas comuns ao ciclo de vida em que se encontram.

O referido estudo evidenciou também que quando as idosas residentes em ILPIs e as residentes em suas próprias casas falaram sobre o sentimento de estar "em casa", o fator predominante era o sentimento de controle. O medo da perda de controle foi generalizado para ambos os grupos estudados.

 

Envelhecimento na própria residência ou em ILPI: família, envolvimento social e identificação com o lar

 

A pesquisa do artigo (A5) tinha o objetivo de conhecer o bem-estar e a qualidade de vida de idosos residentes em lares institucionais, e entender a relação entre envelhecimento, saúde e meio ambiente. Foram estudados 366 idosos chineses residentes em ILPIs. Os resultados indicaram um sentimento de bem-estar geral entre os residentes idosos em ILPIs de Pequim [9].

O artigo também apontou que a maioria dos residentes idosos e os familiares entrevistados, estavam satisfeitos com a vida dos moradores nas ILPIs. Alguns deles relataram significativas melhorias no estado de saúde física e mental, e nas habilidades sociais dos moradores após a mudança. Além disso, que a vida numa ILPI pôde fornecer aos idosos mais oportunidades, e interações sociais do que se vivessem sozinhos em casa. Também, que idosos residentes em ILPIs apresentam mais habilidades para lidar com mudanças e desafios. Deveras, é bastante significativo o fato de que idosos que residem em ILPIs tenham mais facilidades para se envolver em várias atividades sociais e manter suas conexões sociais dentro, e fora da residência.

Já o estudo (A3) destacou o discurso da insegurança do idoso em ter que se separar dos familiares e amigos enquanto um limitador para adaptação à ILPI e de pertencimento ao lugar. O mesmo estudo também evidenciou que os idosos residentes em ILPIs referiram a necessidade de adaptação e de integração [16].

A pesquisa do artigo (A6) estudou idosas residentes em suas próprias casas, e em ILPIs. Os resultados evidenciaram sete categorias temáticas: perda, aceitação, adaptação, escolha, controle, domínio sobre o espaço, e senso de si mesmo. A mesma pesquisa denotou que os moradores das ILPIs descreveram perda de privacidade e de amizades especiais, enquanto as mulheres residentes em suas próprias casas falaram de quão importantes eram a privacidade e os vínculos de amizades [18].

Os achados indicaram que as mulheres residentes em ILPIs tinham habilidades atuais restritas. Os dados indicaram que essas mulheres ainda tinham prazer na realização de algumas atividades e experiências que sempre gostaram, mesmo que fossem capazes de participar, ou interagir em menor grau. As idosas moradoras em suas próprias residência expressaram medo em terem que se mudar para uma ILPI, devido às perdas relatadas por outras idosas residentes nesse tipo de instituição.

 

Conclusão

 

Observou-se que os estudos estão alinhados aos desafios colocados pela comunidade científica internacional no que diz respeito à tentativa de discutir a importância das questões biopsicossociais dos novos arranjos vivenciados por muitos idosos protagonistas do avançado processo de longevidade e envelhecimento populacional mundial.

Nesse sentido, foram observadas reflexões sobre os aspectos de escolhas no ciclo do envelhecimento, engajamento social, identidade e pertença à moradia, sobre os sentimentos e os significados de envelhecer em casa ou em ILPI, aspectos biopsicossociais mais amplos e associados à família ou familiares em especial, envolvendo os idosos residentes em seus próprios lares ou em instituições, como também na avaliação da qualidade de vida autorreferida, também, nos significados de residir e envelhecer em casa ou em instituição.

A investigação como fundamento para propostas de inovação no campo da gerontologia não pode deixar de ser conduzida. Os resultados dos estudos, baseados na experiência de outros países já desenvolvidos e com grande população de idosos há mais tempo, podem não somente servir de alicerce para a realização de alterações nos serviços, e na qualificação de pessoal, como também acenar para gerontotecnologias assistivas, e também novos aspectos a serem introduzidos nos currículos das graduações dos cursos de saúde, nos programas de residência e de formação permanente, ou iniciativas exitosas, por exemplo.

Deveras, realizar mais pesquisas nessa temática, tendo como base as publicações internacionais se faz premente, uma vez que poderão promover um amplo fortalecimento nas opiniões, nas problematizações e nas críticas sobre o tema em questão. Desse modo, espera-se que este artigo sirva para sinalizar acerca das tecnologias assistivas vigentes no atual cenário brasileiro, e sua capilaridade com a psicologia e a gerontologia. Expressivamente, sobre a perspectiva Aging in Place (AIP) – Envelhecimento no local, principal conduta e política de idosos norte americanos e europeus. Ademais, almeja-se destacar a possibilidade do envelhecimento no local acontecer em instituição de longa permanência, já que esse pode ser o lar de escolha do idoso, e assim, desvinculando essas experiências de associações pejorativas, com realces de casa de repouso, asilo, “residência forçada”.

 

Conflitos de interesse

Não há conflitos de interesse

 

Fontes de financiamento 

CAPES/PROSUP

 

Contribuição dos autores

Concepção e desenho da pesquisa: Salgueiro CDBL, Dias CMSB; Coleta de dados: Salgueiro CDBL; Análise e interpretação dos dados: Salgueiro CDBL, Dias CMSB; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Salgueiro CDBL, Dias CMSB

 

Referências

 

  1. Porto CF, Rezende EJC. Terceira idade, design universal e aging-in-place. Estudos em Design [Internet]. 2016 [cited 2022 July 8];24(1);152-68. Available from: https://www.eed.emnuvens.com.br/design/article/view/301/216
  2. Lima CRV. Políticas públicas para idosos: a realidade das Instituições de Longa Permanência para Idosos no Distrito Federal. 2011. 120 p. [cited 2022 July 8]; Monografia (Curso em Legislativo e Políticas Públicas) – Câmara dos Deputados, Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento, Brasília, 2011. Available from: http://www.bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/6005/politica_idosos_lima.pdf
  3. Bárrios MJ, Marques R, Fernandes AL. Aging with health: aging in place strategies of a Portuguese population aged 65 years or older. Rev Saúde Pública [Internet] 2020 [cited 2022 July 8];54(1);129. doi: 10.11606/s1518-8787.2020054001942 [Crossref]
  4. Pastalan LA. Aging in place: The role of housing and social supports. Nova York- EUA: Haworth Press; 1990 [cited 2022 July 8]; Available from: https://books.google.com.br/ books/about/Aging_in_Place.html?id=sX3IMb2z-aEC&redir_esc=y
  5. Cutchin MP. The process of mediated aging-in-place: a theorethically and empirically based model. Social Science & Medicine [Internet]. 2003 [cited 2022 July 11];57;1077-109 Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0277953602004860?via%3Dihub
  6. Cheng MWY, Rosenberg WM, Wang W, Yang HLL, Li H Aging, health and place in residential care facilities in Beijing, China. Social Science & Medicine [Internet]. 2011 [cited 2022 July 8] 72; 365-72. Available from: http://www.edu/agingchina/files/2012/04/Cheng-et-al-residential-care-in-Beijing.pdf
  7. Lager D. Perspectives on ageing in place: Older adults' experiences of everyday life in urban neighbourhoods [Dissertação]. Groningen-Amsterdã/Holanda: University of Groningen; 2015. [cited 2022 July 8]. Available from: https://www.rug.nl/research/portal/files/23595378/Chapter_2.pdf
  8. Kane RL, Kane RA. What older people want from long-term care, and how they can get it. Health Affairs 2001 [cited 2022 July 8];20(6);114-127. Available from: https://www.healthaffairs.org/doi/pdf/10.1377/hlthaff.20.6.114
  9. Bonifas RP, Simons K, Biel B, Kramer C. Aging and place in long-term care settings: influences on social relationships. J Aging Health [Internet] 2014 [cited 2022 July 8];26(8):1320-39. Available from: https:// www.ncbinlm.nih.gov/pubmed/25502244
  10. Onder G, Carpente I, Finne-Soveri H, Gindin J, Frijters D, Henrard JC et al. Project assessment of nursing home residents in Europe: the Services and Health for Elderly in Long Term care (SHELTER) study. BMC Health Services Research 2012 [Internet] [cited 2022 July 8];12(5). Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22230771
  11. Muenchberger H, Erhilich C, Kendall E, Vit M. Experience of place for young adults under 65 years with complex disabilities moving into purpose-built residential care. Soc Sci Med 2012;75(12):2151-9. doi: 10.1016/j.socscimed.2012.08.002 [Crossref]
  12. Alves PHM, Salgueiro CDBL, Alexandre ACS, Oliveira GF, et al. Reflexões sobre o cuidado integral no contexto étnico-racial: uma revisão integrativa. Ciênc Saúde Coletiva 2020;25(6):2227-36. doi: 10.1590/1413-81232020256.23842018 [Crossref]
  13. Ramos MLP, Mendes GP, Silva DAP, Santos MI, Barbosa LS, Salgueiro CDBL. Acolhimento e protagonismo do enfermeiro no acompanhamento à puérpera em alojamento conjunto. Enferm Bras 2021;20(6);807-22. doi: 10.33233/eb.v20i6.4626 [Crossref]
  14. Silva MIS, Cavalcanti ALO, Barbosa VFB, Menezes RD, Salgueiro CDBL, Silva SS. Dificuldades no acesso da comunidade surda à rede básica de saúde: revisão integrativa. Enferm Bras 2021;20(2);206-21. doi: 10.33233/eb.v20i2.4542 [Crossref]
  15. Söderberg M, Stahl A, Emilsson UM. Family member´s strategies when their elderly relatives consider relocation to a residential home – Adapting, representing and avoiding. Journal of Aging Studies 2012 [cited 2022 July 8];26(4):495-503. doi: 10.1016/j.jaging.2012.07.002 [Crossref]
  16. Duarte LMN. O processo de institucionalização do idoso e as territorialidades: espaço como lugar? Estud Interdiscipl Envelhec [Internet] 2014 [cited 2022 July 11];19(1):201-17. Available from: http://seer.ufrgs.br/index.php/RevEnvelhecer/article/view/33754
  17. Crisp DA, Windsor TD, Anstey KJ, Butterworth P. Considering relocation to a retirement village: Predictors from a community sample. Australasian Journal on Ageing 2012;32(2):97-102. doi: 10.1111/j.1741-6612.2012.00618.x [Crossref]
  18. Chin L, Quine S. Factors that enhance the quality of life for women living in their own homes or in aged care facilities. Journal of Women & Aging 2012;24(4):269-79. doi: 10.1080/089 528 41.20 12.650605 [Crossref]
  19. Vasara P. Not aging in place: Negotiation meanings of residency in age-related housing. Journal of Aging Studies 2015;35;55-64. doi: 10.1016/j.jaging.2015.07.004 [Crossref]