Enferm Bras. 2023;22(1):103-17
REVISÃO
Ocorrência de eventos
adversos associados às práticas de enfermagem: revisão integrativa
Nínive Pita Gomes de
Oliveira1, Cintia Silva Fassarella1,2, Cristiane Helena
Gallasch1,2, Flávia Giron Camerini1,2,
Danielle de Mendonça Henrique1,2, Sara Maria Oliveira Pinto3
1Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil,
2Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ), Rio de Janeiro, Brasil
3Escola Superior de Enfermagem do Porto,
Porto, Portugal
Recebido em 11 de abril de
2022; Aceito em 12 de janeiro de 2023.
Correspondência: Nínive Pita
Gomes de Oliveira, E-mail: ninivepitagomes@gmail.com
Como citar
Oliveira NPG, Fassarella CS, Gallasch CH, Camerini
FG, Henrique DM, Pinto SMO. Ocorrência de eventos adversos
associados às práticas de enfermagem: revisão integrativa. Enferm Bras. 2023;22(1):103-17. doi: 10.33233/eb.v22i1.5143
Resumo
Introdução: Os eventos adversos implicam dano ou
lesão, podendo acarretar até mesmo a morte do paciente, e embora os eventos com
dano não sejam reservados ao exercício da enfermagem, configuramos para essa
discussão foco nos eventos presentes nas ações da categoria. Objetivo:
Analisar as evidências científicas sobre a ocorrência de eventos adversos
associados às práticas assistenciais de enfermagem. Métodos: Revisão
integrativa com busca nas bases de dados Medline, Embase, Lilacs,
Cinahl e Web of Science, a
partir dos descritores em ciências da saúde drug-related
side effects and adverse reactions, adverse drug reaction, side effects, medication
errors, team nursing, nursing care. Resultados: Foram selecionados oito
estudos para compor a análise da ocorrência dos eventos adversos na enfermagem.
Evidenciaram-se cinco principais eventos adversos associados às práticas de
enfermagem, relacionados à medicação, quedas, lesões por pressão, infecções
associadas aos cuidados em saúde e perda acidental de dispositivos de saúde. Conclusão:
As evidências reconhecem que a maioria dos eventos adversos revelados na busca
foram classificados como evitáveis, ou seja, passíveis de prevenção por meio da
adoção de medidas mais seguras.
Palavras-chave: eventos
adversos; cuidados de enfermagem; equipe de enfermagem.
Abstract
Occurrence of adverse events associated with nursing practices:
integrative review
Introduction: Adverse events imply damage or injury, which can
even lead to the death of the patient, and although adverse events are not
reserved for the practice of nursing, we set a focus for this discussion on the
events present in the actions of the category. Objective: To analyze the
scientific evidence on the occurrence of adverse events associated with nursing
care practices. Methods: Integrative review with a search in Medline,
Embase, Lilacs, Cinahl and Web of Science databases,
using the health sciences descriptors drug-related side effects and adverse
reactions, adverse drug reaction, side effects, medication errors, team
nursing, nursing care. Results: Eight studies were selected to compose
the analysis of the occurrence of adverse events in nursing. Five main adverse
events associated with nursing practices were evidenced, related to medication,
falls, pressure injuries, infections associated with health care and accidental
loss of health devices. Conclusion: The evidence recognizes that most
adverse events revealed in the search were classified as preventable, that is,
preventable through the adoption of safer measures.
Keywords: adverse events; nursing care; nursing team.
Resumen
Ocurrencia de eventos adversos asociados
a las prácticas de enfermería: revisión integradora
Introducción: Los eventos adversos implican daño o lesión, que incluso puede conducir a la muerte
del paciente, y aunque los eventos adversos no están
reservados para la práctica
de enfermería, fijamos un foco para esta discusión en los eventos presentes en las acciones
de la categoría. Objetivo:
Analizar las evidencias
científicas sobre la ocurrencia
de eventos adversos asociados a las
prácticas de cuidado de enfermería.
Métodos: Revisión integradora con búsqueda en
las bases de datos Medline,
Embase, Lilacs, Cinahl y
Web of Science, utilizando los
descriptores de ciencias de
la salud drug-related side effects and adverse reactions, adverse drug reaction, side effects, medication errors, team nursing,
nursing care. Resultados:
Ocho estudios fueron seleccionados para componer el análisis
de la ocurrencia de eventos
adversos en enfermería. Se evidenciaron cinco principales
eventos adversos asociados a las
prácticas de enfermería,
relacionados con medicamentos, caídas, lesiones por presión, infecciones asociadas a la atención a la
salud y pérdida accidental de dispositivos de salud.
Conclusión: La evidencia reconoce
que la mayoría de los eventos adversos revelados en
la búsqueda fueron clasificados como evitables, o sea, evitables
mediante la adopción de
medidas más seguras.
Palabras-clave: eventos adversos; cuidado de enfermería;
equipo de enfermería.
Questões
que envolvam erros e falhas na assistência ao paciente vêm sendo discutidas nos
últimos anos, visto que a qualidade assistencial é uma das preocupações das
instituições de saúde. A literatura apresenta diversas modelagens do termo
evento adverso (EA), mas para o presente estudo adota-se a classificação da
Organização Mundial de Saúde, que considera como um incidente que atingiu o
paciente e resultou em dano ou lesão, podendo representar prejuízos temporários
ou permanentes e, até mesmo, resultar em morte [1,2].
Nesse
contexto, embora a ocorrência dos EAs não seja
inerente unicamente às práticas da enfermagem, mas, extensivo aos profissionais
de saúde, compreende-se que envolver a categoria de enfermagem nessa abordagem
é fundamental, uma vez que a profissão representa a maior força de trabalho nas
instituições de saúde e que presta assistência nas vinte e quatro horas
interruptas ao paciente, e discussões envolvendo suas práticas, podem ser
ferramentas geradoras de transformações nos ambientes de trabalho [3,4].
Ressalta-se
que as práticas de enfermagem mais seguras somente apresentarão
sustentabilidade quando arraigada em ambientes cujos recursos e gestão
reconheçam as potencialidades e fragilidades das práticas, além de nortear
ações de melhorias dentro dos serviços [5].
Justifica-se
este estudo pela relevância dada à atual discussão mundial sobre eventos
adversos, além de ser temática vigente no escopo do Plano de Ação Global para a
Segurança do Paciente 2021-2023 [6], assim como no Plano Nacional de Segurança
do Paciente, que aspira atingir a máxima redução possível na ocorrência de
danos evitáveis oriundos dos cuidados de saúde inseguros [7].
Com base
no apresentado, este estudo objetiva analisar as evidências científicas sobre
ocorrência de eventos adversos associados às práticas assistenciais de
enfermagem.
Trata-se
de uma revisão integrativa da literatura, na qual se propõe reunir as
investigações sobre determinado objeto de estudo, realizando uma explanação
baseada em evidências atuais e disponíveis sobre a ocorrência de eventos
adversos como resultado das práticas de enfermagem. Para construção e
elaboração da revisão integrativa, foram seguidas as etapas metodológicas
propostas para o estudo [8], e utilizou-se o checklist Preferred
Reporting Itens for Systematic
Reviews and Meta-Analyses
(PRISMA) [9] para orientar a organização das informações.
Inicialmente,
a construção da questão norteadora foi baseada na variação da estratégia PICO,
sendo considerada como população (P) a equipe de enfermagem, como intervenção
(I) as práticas de enfermagem e o contexto (Co) os eventos adversos. Com isso,
a seguinte questão foi formulada: “Quais são as evidências científicas sobre
ocorrência de eventos adversos associados às práticas assistenciais de
enfermagem?”
Posterior
a isso, os critérios de inclusão para a seleção foram artigos na íntegra
relacionados ao objeto do estudo, publicados e indexados nas referidas bases de
dados, e com recorte temporal nos últimos cinco anos. Não foram aplicados
filtros de idioma e desenho de estudo. Embora haja documentação de eventos
adversos anteriores, justifica-se o recorte temporal dessa revisão pelo
propósito de levantar evidências mais contemporâneas sobre o tema. Como os
estudos mais recentes são mais propensos a retratar a realidade do mundo atual,
considerou-se esses últimos cinco anos como abrangentes para levantamento e
diagnóstico.
Os
critérios de exclusão foram estudos que não comtemplassem o objeto de estudo em
questão, além de estudos com pacientes neonatos e pediátricos.
A busca
aconteceu no mês de setembro de 2021, nas bases de dados Medical LiteratureAnalysis and Retrieval System Online
(MEDLINE) via Pubmed, Excerpta
Medica Database (EMBASE), Literatura Latino-Americana
e do Caribe em Ciências de Saúde (LILACS), via Biblioteca Virtual em Saúde
(BVS), Current Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Web of
Science, via EBSCO correlacionando os termos
controlados e não controlados drug-related side effects and
adverse reactions, adverse drug
reaction, side effects, medication errors, team nursing,
nursing care e termos
livres sinônimos, com o objetivo de encontrar evidências científicas para
responder à pergunta de pesquisa proposta no presente estudo.
Para
identificação dos termos de busca foram consultados os vocabulários controlados
da área da saúde Descritores em Ciências da Saúde (DeCs);
Medical Subject Headings
(MeSH) e Embase Subject Headings (Emtree). Deve-se
ressaltar a ausência do descritor cadastrado "eventos adversos”, nesse caso
optou-se por incluir na busca o termo alternativo disponível “evento adverso”,
entendendo que o mesmo não poderia estar ausente na referida estratégia de
busca.
Em um
terceiro momento, utilizou-se o aplicativo Rayyan®,
desenvolvido pelo Qatar Computing Research Institute (QCRI)
[10], um software de acesso livre e gratuito com uma proposta de facilitar e
agilizar a seleção dos artigos, inclusão e exclusão, além de auxiliar no
arquivamento e organização dos artigos [10]. A fim de evitar viés, os artigos
foram avaliados às cegas e sem interferências por dois revisores de forma
independente. Após esse momento, os dois revisores analisaram a seleção e
decidiram os conflitos em reunião de consenso.
No
desenvolvimento da quarta e quinta etapa, os artigos passaram por uma análise
detalhada e criteriosa. A partir dela, elaborou-se uma matriz que sintetiza os
resultados com os principais dados dos artigos incluídos, seguindo as
recomendações dos autores [11].
De acordo
com o delineamento da pesquisa, os níveis de evidência podem ser classificados
de I a VI. Encontram-se no nível I os estudos de meta-análise clínicos
controlados e randomizados; no nível II, os estudos individuais com
delineamento experimental; no nível III, as evidências advindas de estudos
quase-experimentais; estudos descritivos (não experimentais) ou de natureza
qualitativa são classificados como nível IV; os estudos de relatos de caso ou
de experiência são nível V; e as evidências baseadas na opinião de
especialistas são nível VI [12].
Por fim,
na sexta etapa, procedeu-se a identificação e discussão dos resultados da
revisão, destacando e analisando os principais eventos adversos identificados,
associados às práticas de enfermagem, apresentando-os com impressões e
reflexões dos autores a partir da literatura científica.
Para
organização das informações utilizou-se o checklist PRISMA [9], para facilitar
a compreensão e apresentar as etapas adotadas para a revisão, além de melhorar
a consistência do relato das informações (Figura 1).
Figura 1 - Fluxograma do processo de seleção
dos artigos. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2021
Para
apresentar o resultado desta revisão, organizou-se um panorama das oito
produções selecionadas no Quadro 1, expostas por ordem cronológica de
publicação com as seguintes informações: título, ano de publicação, autores,
tipo do estudo, cenário estudo, evento adverso investigado e nível de
evidência.
Quadro 1 - Síntese das principais informações
dos estudos. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2021
E = estudo
Dentre os
estudos selecionados, dois foram publicados em 2021 [19,20], dois em 2020
[17,18] e quatro em 2019 [13,14,15,16]. O maior número de estudos foi encontrado na
base de dados Medline (n = 5) [13,14,16,18,19], seguido por Lilacs
(n = 2) [15,20] e Embase (n = 1) [17]. No que tange à
origem das publicações, dois estudos foram do Brasil [15,20] e Colômbia [13],
Coréia [16], Filipinas [14], Espanha [17], França [19], Austrália [17] tiveram
um estudo cada. Quanto à população envolvida nos estudos, todos tinham a
enfermagem como objeto.
Quanto ao
desenho dos estudos, a maioria foi observacional do tipo transversal (n = 7),
seguidos de um estudo com abordagem qualitativa. Quanto ao nível de evidências,
todos os estudos foram classificados com nível IV.
Os
principais objetivos dos estudos variaram entre avaliar o papel do enfermeiro na
previsão de cuidados de enfermagem omitidos e eventos adversos [14], medir a
incidência e a gravidade dos EAs relacionados aos
procedimentos de enfermagem [17] e compreender as concepções e condutas da
equipe de enfermagem frente aos erros [20].
Quanto
aos cenários envolvidos na ocorrência dos EAs,
identificou-se distribuição diversificada, destacando a ocorrência nos serviços
clínico e cirúrgico, nas unidades de terapias intensivas e serviço de
oncologia. Já os EAs identificados nos estudos foram relacionados
a ações e/ou procedimentos, a saber: em maior magnitude, erros de medicação
relacionados ao preparo, administração, dose ou via incorreta, seguido por
quedas, lesão por pressão (LPP), infecções relacionadas à assistência de saúde
(IRAS) e perda acidental de dispositivos vasculares e sondas.
Contudo,
diante da análise temática dos estudos incluídos nessa revisão e a fim de
facilitar a verificação da ocorrência dos EAs
relacionados às práticas de enfermagem, elaborou-se o quadro 2 que sintetiza os
tipos de EAs e em quais estudos foram descritos.
Quadro 2 - Síntese dos eventos adversos
associados às práticas de enfermagem relacionados aos estudos selecionados
nessa revisão. Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2021
No que
diz respeito aos estudos produzidos, observou-se um ligeiro aumento de
publicações sobre o tema no ano de 2019. Esse dado pode estar associado a atual
discussão e repercussão mundial do assunto, refletindo em um aumento do
interesse pelos pesquisadores, a fim de impulsionar melhorias na assistência
prestada [5,20,21].
Sobre os
países que desenvolveram os estudos, observou-se que, em diversos territórios,
a ocorrência de eventos adversos como resultado das práticas de enfermagem é
uma questão presente e problemática. Assim, pesquisadores do mundo inteiro têm
se debruçado sobre a questão e investido tempo e recursos para investigar
acerca de práticas mais seguras na enfermagem [7,16,22].
Quanto
aos desenhos de estudos que compuseram esta revisão, observa-se uma
predominância de estudos observacionais, do tipo transversais que, embora
tenham gerado avanços na investigação dos EAs, não
anulam a necessidade de realização de estudos com outros desenhos mais
robustos, pois considera-se que melhores evidências possam surgir e nortear a
decisão clínica com benefícios e reduzir os danos ao paciente [23].
No
tocante aos objetivos dos estudos, a proposta dos artigos selecionados era
identificar a relação entre a ocorrência de eventos adversos associados às
práticas da enfermagem. Apesar de muitos esforços desprendidos direcionados a
assegurar uma assistência de qualidade na enfermagem, os resultados dos estudos
ainda apresentam fragilidades nas práticas assistenciais [4].
No que se
refere aos cenários de ocorrência dos EAs, diferente
do que se esperava, as áreas clínica e cirúrgica foram as mais envolvidas,
seguida das unidades de terapias intensivas. Esse achado pode ser interpretado
por diferentes perspectivas, entretanto, compreende-se que ambientes propensos
a períodos de maior tempo de internação, podem ser fator potencializador para a
ocorrência de EA [17,20].
O evento
adverso mais encontrado nesta revisão foi vinculado à medicação, englobando
desde o momento da prescrição até a administração de medicamentos. A terapia
farmacológica, configura-se como um procedimento essencial para a reintegração
da saúde do paciente, escopo das atividades da enfermagem e uma prática
frequente na terapêutica, entretanto, diversos erros nas etapas medicamentosas
ocorrem na prática hospitalar, tornando-a um desafio para a construção de uma
prática segura [21,22].
Embora os
eventos relacionados à medicação estejam propensos a ocorrerem em qualquer
etapa de manipulação do medicamento, os estudos levantados apontaram maior
ocorrência do dano na etapa de administração da medicação [14,15,16]. Esses dados
vão de encontro a resultados de estudos nacionais e internacionais que apontam
a etapa de administração de medicamentos como a etapa de maior risco, com até
70% dos EAs medicamentosos atrelados a ela [21,24].
Estudos
consideram que a ausência de mecanismos atualizados adotados pela enfermagem
capazes de interceptar o erro nas medicações nas diferentes etapas, antes que
ele atinja o paciente, assim como a carência de monitoramento desses processos,
podem ser as explicações para o número crescente de EAs
com medicamentos, tornando a categoria da enfermagem responsável pelo dano
[25,26].
O EA de
quedas, evidenciado na busca, aponta dentre outras condições, que a ocorrência
do dano pode estar relacionada a lacunas nas práticas de enfermagem apropriadas
e direcionadas como barreira. Estudos conduzidos na Coreia do Sul e no Brasil
apontam debilidades nas estratégias da enfermagem dirigidas ao risco e
prevenção de quedas, repercutindo em ampla magnitude no evento em dias atuais
[27,29]. O estudo coreano sugere atenção sobre fatores relacionados à
mobilidade do paciente, associado ao uso de ferramentas de avaliação, como
instrumentos precisos para prática de enfermagem, capazes de subsidiar
intervenções preventivas, de modo a evitar ou interceptar a queda e suas
consequências no ambiente hospitalar [27].
Quanto ao
evento adverso LPP evidenciado nos resultados, sua ocorrência apresenta relação
intrínseca com a precariedade ou a não realização de procedimentos e práticas
específicas da enfermagem já conhecidas, destinadas a atuar como obstáculos e
evitar o dano ou a piora do desfecho [13,16,19].
Corrobora
essa perspectiva os resultados de um estudo brasileiro, em que 85% da população
de enfermagem respondente revelou omissões de informações no período de
transferência de cuidados, tornando-se um fator extremamente prejudicial para a
qualidade do cuidado, inclusive no que concerne ao desenvolvimento de lesões
por pressão [30].
Acerca do
evento, a literatura reforça que omissões dos cuidados de cunho assistencial
culminam numa série de resultados negativos, que além de envolver o
desenvolvimento da LPP, estão relacionados a maior taxa de infecção.
Entretanto, apesar de reconhecer que em situações específicas o desenvolvimento
de LPP é inevitável, cabe a enfermagem desenvolver medidas que minimizem o
progresso e gravidade do dano [19,31].
No que
tange as IRAS, nesta revisão, o dano caracterizava-se por processos infecciosos
em diferentes sistemas orgânicos dos pacientes e sem qualquer relação com a
doença ou motivo da internação, o que pode configurar um EA [14,19].
Estudos
com essa temática apontam que as práticas de enfermagem devem ser fundamentadas
no conhecimento e comportamento dos profissionais, face à evolução da
epidemiologia hospitalar e suas mudanças, além da compreensão de suas
responsabilidades individuais e coletivas no contexto. Ressalta-se que a
ausência da correta execução dos procedimentos, repercutirá em um cenário em
que as infecções continuarão sendo um entrave na prestação de práticas de
enfermagem [32,33].
Outros
estudos reforçam que uma enfermagem empoderada acerca das medidas atualizadas
sobre técnicas de prevenção de IRAS e aderente às estratégias dos programas de
controle, é capaz de reduzir em até 70% a ocorrência do dano, pois auxilia na
vigilância oportuna, atua nos fatores contribuintes, e possibilita assumir
medidas de prevenção apropriadas [34,35].
O dano
oriundo da perda de dispositivos de saúde foi contemplado na busca e apresenta
grande relevância nas unidades de internação, e os fatores relacionados a essa
perda compreendem as atribuições específicas da enfermagem. No que tange às
consequências de sua retirada não prevista, os danos encontrados na revisão vão
de encontro ao evidenciado nos estudos, que apontam implicações, como lesões e
aumento do tempo de permanência na unidade, necessidade de reinstalação do
dispositivo, desconforto ao paciente e custos adicionais relacionados a
materiais e procedimento [36,37,38].
Em vista
do exposto, compreende-se que a maioria dos eventos adversos protagonizados
pela enfermagem identificados nesta revisão podem ser classificados como
evitáveis, ou seja, o dano ao paciente está vinculado a uma falha ativa ou
quebra de normas que repercutem em tal malefício [4,6].
Nesse
sentido, estudos apontam que investimentos em práticas que visem aprimorar as
capacidades dos enfermeiros em ações mais intervencionistas e preventivas, é
capaz de produzir benefícios na prestação do cuidado, em associação com a
vigilância de enfermagem, que permite ao enfermeiro identificar pacientes em
risco de desfechos clínicos desfavoráveis e potenciais eventos adversos, bem
como interromper falhas no processo assistencial [37,39,40].
Contudo,
é possível reconhecer que a busca pela prevenção dos EAs
deve ser ancorada na identificação e reconhecimento das fragilidades que ainda
predispõem a ocorrência desses eventos por parte das práticas da enfermagem, e
somente com o reconhecimento desses fatores será possível elencar medidas
pertinentes que atuem nas debilidades apresentadas nos diversos cenários.
O
presente trabalho atingiu o objetivo proposto ao analisar os eventos adversos
associados às práticas de enfermagem. Tais danos descritos na literatura, foram
predominantemente decorrentes de erros de medicamentos, quedas, lesões por
pressão, infeções relacionadas à assistência de saúde e perda acidental de
dispositivos de saúde.
Ademais,
as evidências científicas encontradas reconhecem que a maioria dos eventos
adversos verificados na busca podem ser classificados como evitáveis, ou seja,
passíveis de prevenção por meio da adoção de medidas apropriadas para esse fim.
A exposição desses achados revela o desafio em lançar mão das estratégias, até
mesmo as já existentes e usuais capazes de atuar na prevenção dos danos da
prática de enfermagem.
Espera-se
que o estudo contribua para uma discussão mais ampliada, que conduza o problema
e atue na construção de estratégias focadas em evidências, para que seja
possível atuar na enfermagem com segurança, reduzindo os danos, sobretudo
naquilo que é evitável.
Como
limitação desta pesquisa, destaca-se a possibilidade de algum estudo não ter
sido contemplado na busca pelas variações dos descritores utilizados. Com isso,
alguns estudos relevantes podem não ter sido identificados na busca e dessa
forma não contemplados no estudo.
Conflitos
de interesse
Não há
conflito de interesses por parte dos autores.
Fontes
de financiamento
Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) – Processos E26/010.100932/2018
e E-26/010.002691/2019
Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – Processo:
88887.629814/2021-00
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Oliveira NPG, Fassarella CS, Gallasch
CH; Coleta de dados: Oliveira NPG, Fassarella
CS; Análise e interpretação dos dados: Oliveira NPG, Camerini FG; Análise
estatística: Oliveira NPG, Fassarella CS; Redação
do manuscrito: Oliveira NPG, Henrique DM; Revisão crítica do manuscrito
quanto ao conteúdo intelectual importante: Oliveira NPG; Pinto SMO