Enferm Bras 2022;21(2):107-09

doi: 10.33233/eb.v21i2.5151

EDITORIAL

Impacto da pandemia de COVID-19 em idosos

 

Felipe Augusto da Silva*, Camila Garcel Pancote, D.Sc.**, Maria de Lourdes Sperli Geraldes Santos, D.Sc.***, Natália Sperli Geraldes Marin dos Santos Sasaki****

 

*Fisioterapeuta, discente do programa de mestrado em enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), SP, Brasil, **Graduada em Farmácia, Docente do curso de Medicina da União das Faculdades dos Grandes Lagos – Unilago,

***Enfermeira, docente da graduação em enfermagem e do Programa de Pós-graduação stricto sensu da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), SP, ****Enfermeira, docente da União das Faculdades dos Grandes Lagos (Unilago) e do Programa de Pós-graduação stricto sensu da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), SP

 

Felipe Augusto da Silva: feasilva1@hotmail.com  

Camila Garcel Pancote: camilapancote@hotmail.com

 Maria de Lourdes Sperli Geraldes Santos: mlsperli@gmail.com

Natália Sperli Geraldes Marin dos Santos Sasaki: nsperli@gmail.com

 

O envelhecimento populacional é uma realidade cada vez mais presente na sociedade. Em 2050, o mundo apresentará 2,1 bilhões de pessoas com 60 anos ou mais representando 20,1% da população mundial, o dobro do que temos hoje. No Brasil, este número será um pouco mais que 67 milhões de idosos, 31,1% da população. Estes dados mostram que a velocidade de envelhecimento dos brasileiros é maior do que o observado mundialmente [1].

Diante deste panorama, as políticas públicas devem buscar o desenvolvimento sustentável, considerando o envelhecimento, migração e urbanização [1]. A pandemia da COVID-19 alavancou questões cruciais sobre a forma como a sociedade se organiza atualmente. O estado de emergência sanitária não somente trouxe problemas inéditos, mas jogou luz nas lacunas que há muito tempo demandam soluções, sobretudo no âmbito do acelerado processo de envelhecimento vivenciado no Brasil. Foi justamente esta população em franco crescimento apontada, inicialmente, como o grupo mais ameaçado pela doença [2].

Considerando a fragilidade como uma síndrome marcada pelo declínio das funções fisiológicas, altamente prevalente em idosos [3], era de se esperar que a infecção por variantes do coronavírus pudesse oferecer mais riscos a essa população. Ainda, a fragilidade das pessoas mais velhas envolve outros fatores, que ficaram mais evidentes durante esse período de isolamento social. Um dos motivos de maior preocupação dos últimos tempos é a questão da saúde mental, representada pelo alto índice de depressão em pessoas maiores de 60 anos. A distância de entes queridos e a restrição de atividades de socialização contribuíram para aflorar o sentimento de solidão, acompanhado da ansiedade, provocada pelo medo de contrair a doença [4].

O impacto do isolamento social foi contundente e silencioso para este grupo. As medidas de proteção os impediram de frequentar locais públicos ou de realizar atividades rotineiras, seja por necessidade ou lazer, e os efeitos do confinamento, abalaram também sua saúde física, tornando-os mais frágeis e vulneráveis. A redução da autonomia ou aumento do grau de dependência destes indivíduos têm sérios impactos sobre o sistema público, já que parte destes não possui apoio familiar, financeiro ou emocional, exacerbando a responsabilidade do estado sobre estes indivíduos [5,6].

O antigo debate sobre a previdência é uma evidência da crise das políticas de proteção social. No contexto da pandemia, a saúde financeira sofreu uma injeção de insegurança, principalmente nas classes menos favorecidas. A marginalização dos idosos aumentou consideravelmente, principalmente aqueles que dependem de políticas sociais acabaram ainda mais segregados e na faixa da pobreza extrema.

A pandemia da COVID-19 desmascarou a desigualdade entre essa população, em que 80% é SUS dependente. Além disto mostrou quão insuficiente são as políticas públicas voltadas para os idosos. Áreas como educação, emprego, finanças, seguridade social, moradia, transporte, justiça e desenvolvimento urbano e rural são consideradas determinantes pelo órgão [6]. Em vista disso, as políticas voltadas para essa classe têm um amplo caminho a ser percorrido. O direcionamento dos recursos públicos deve considerar os princípios do Envelhecimento Ativo, propostos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), com vistas a permitir uma longevidade saudável para as próximas décadas [7].

 

Referências

 

  1. United Nations, Department of Economic and Social Affairs, Population Division. World Population Prospects 2019 Highlights 2019 [Internet]. New York: United Nations; 2019. [cited 2022 Apr 4]. Available from: https://population.un.org/wpp/publications/files/wpp2019_highlights.pdf
  2. Kalache A, Silva AD, Giacomin KC, Lima KCD, Ramos LR, Louvison M, et al. Aging and inequalities: social protection policies for older adults resulting from the Covid-19 pandemic in Brazil. Rev Bras Geriatr Gerontol [Internet] 2020 [cited 2022 Apr 4];23(6). Available from: https://pesquisa.bvsalud.org/controlecancer/resource/pt/biblio-1137805?src=similardocs
  3. Duarte YAO, Nunes DP, Andrade FB, Corona LP, Brito TRP, Santos JLF, Lebrão ML. Fragilidade em idosos no município de São Paulo: prevalência e fatores associados. Rev Bras Epidemiol 2019;21(Suppl.2). doi: 10.1590/1980-549720180021.supl.2 [Crossref]
  4. Abrantes GG, Souza GG, Cunha NM, Rocha HNB, Silva AO, Vasconcelos SC. Sintomas depressivos em idosos na atenção básica à saúde. Rev Bras Geriatr Gerontol 2019;22(4):e190023.
  5. Sasaki NSGMS, Louvison M, Pancote CG, Santos MLSG, Cury AAF, Silva AC, et al. The impact of social isolation on a selected group of older Brazilians within the context of the covid-19 pandemic. MOJ Gero & Geri Med 2021;6(3):89-94. doi: 10.15406/mojgg.2021.06.00274 [Crossref]
  6. Briguglio M, Giorgino R, Dell’Osso B, Cesari M, Porta M, Lattanzio F, et al. Consequences for the elderly after COVID-19 Isolation: FEaR (Frail Elderly amid Restrictions). Front Psycol [Internet]. 2020;11:1-5. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7549544/
  7. Kalache A. Envelhecimento ativo: um marco político em resposta à revolução da longevidade. Rio de Janeiro: Centro Internacional de Longevidade Brasil; 2015.