ARTIGO
ORIGINAL
Ensino
remoto emergencial e morbidade autorreferida no
contexto da pandemia por covid-19: percepção entre graduandos de enfermagem
Isabella
Sabadin*, Jéssica Reis do Rosário*, Maria Eduarda Dóro Mota*, Yuri Sacardo*, Zaida
Aurora Sperli Geraldes Soler, D.Sc.**,
Marli de Carvalho Jericó, D.Sc.**
*Enfermeiros,
Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), **Obstetriz,
enfermeira, docente e orientadora de graduação e pós-graduação de enfermagem da
FAMERP
Recebido
em 3 de maio de 2022; Aceito em 6 de junho de 2022.
Correspondência: Zaida Aurora Sperli
Geraldes Soler, Rua Alagoas, 29, 15140000 Balsamo SP
Isabella
Sabadin: isa.sabadin@hotmail.com
Jéssica
Reis do Rosário: jessica.reis.rosario@gmail.com
Maria
Eduarda Dóro Mota: mariaeduardadoro13@gmail.com
Yuri
Sacardo: yurisacardo17@gmail.com
Zaida
Aurora Sperli Geraldes Soler: zaidaaurora@gmail.com
Marli
de Carvalho Jericó: marlicj2010@gmail.com
Resumo
Objetivo: Verificar a percepção entre graduandos
de Enfermagem de uma instituição pública de ensino, sobre a implantação do
Ensino Remoto Emergencial (ERE), em 2020, devido à pandemia SARS-CoV e a morbidade autorreferida. Métodos:
Estudo quantitativo, transversal, descritivo e analítico, com correlação entre
variáveis. Os dados foram coletados, em 2021, de forma online, pela plataforma
Google Forms, com questões sociodemográficas,
experiência do ERE e de morbidade autorreferida. A
análise estatística foi realizada pelo software IBM-SPSS versão 20, uso do
teste de Kruskall-Wallis e teste de comparação
múltipla a partir da correção de Bonferroni par a
par. Resultados: Participaram 140 graduandos de Enfermagem de 1ª a 4ª.
série, a maioria com idade até 22 anos (74,3%), residiam na zona urbana (95%);
não receberam qualquer benefício ou ajuda financeira durante a pandemia (67,8%);
somente 7,9% dos alunos dispunham apenas de internet dos dados móveis do
celular; os docentes de Enfermagem foram os que mais participaram na orientação
sobre o ERE; consideraram regular a metodologia do ERE (55%); as aulas foram
mistas - sincrônicas e assincrônicas (82,2%). Sobre
morbidade autorreferida, entre os sinais e sintomas
com significância estatística estavam: medo, sensação que algo ruim iria
acontecer; mais sensível; inquietação, nervoso, irritação; bloqueio de
pensamento; esquecimento, tristeza constante, choro fácil, fadiga e desânimo ao
final do dia. Conclusão: Os dados obtidos desvelaram fragilidades do ERE
implantado; sentimentos e necessidades manifestados pelos alunos, que podem
subsidiar intervenções no curso de graduação em Enfermagem e outras pesquisas
neste contexto.
Palavras-chave: ensino online; morbidade; pandemias,
COVID-19.
Abstract
Emergency remote education and self-reported morbidity
in the context of COVID-19 pandemic: perception among undergraduate nursing
students
Objective: To assess the perception among
Nursing undergraduate students of a public educational institution, about the
implementation of Emergency Remote Education (ERE), in 2020, due to the SARS-CoV pandemic and self-reported morbidity. Methods:
Quantitative, cross-sectional, descriptive and analytical study, with
correlation between variables. Data were collected online, in 2021, by Google
Forms platform, with sociodemographic questions, experience of the ERE and
self-reported morbidity. Statistical analysis was performed using IBM-SPSS
software version 20, using the Kruskall-Wallis test
and multiple comparison test with Bonferroni pairwise correction. Results:
A total of 140 undergraduate Nursing students from the 1st to the 4th grade
participated, most of them aged up to 22 years (74.3%), living in urban areas
(95%), they did not receive any benefit or financial help during the pandemic
(67.8%); no more than 7.9% of the students had only mobile data internet
available; the Nursing teachers were the ones who most participated in the
orientation about the ERE; they considered the ERE methodology regular (55%);
the classes were mixed - synchronous and asynchronous (82.2%). Regarding
self-reported morbidity, among the signs and symptoms with statistical significance
were: fear, feeling that something bad was going to happen; more sensitivity;
restlessness, nervousness, irritation; thought blocking; forgetfulness,
frequent sadness, easy crying, fatigue and discouragement at the end of the
day. Conclusion: Data have showed weaknesses of the implemented ERE;
feelings and needs expressed by students, which may subsidize interventions in
the undergraduate course in Nursing and further research in this context.
Keywords: online education; morbidity;
pandemics; COVID-19.
Resumen
La enseñanza remota de emergencia y la morbilidad autodeclarada en el contexto de la pandemia de COVID-19: percepciones entre losestudiantes universitarios de enfermería
Objetivo:
Verificar la percepción
entre los graduandos de Enfermería
de una institución pública de enseñanza,
sobre la implantación de la “Enseñanza Remota de Emergencia” (ERE), en 2020, debido a la pandemia SARS-CoV y la morbilidad
autorreferida. Métodos: Estudio
cuantitativo, transversal, descriptivo
y analítico, con correlación
entre variables. Los datos
se recogieron en línea en 2021, a través de la
plataforma Google Forms, con
preguntas sociodemográficas, de experiencias en la ERE y de morbilidad
autodeclarada. El análisis estadístico se llevó a cabo mediante el software
IBM-SPSS versión 20, utilizando la
prueba de Kruskall-Wallis
y la prueba de comparación múltiple de la corrección de Bonferroni por pares. Resultados: Se totalizo 140 estudiantes de enfermería de
primer a cuarto año de carrera con edad
hasta 22 años (74,3%). Vivian en
zonas urbanas (95%); no recibieron ninguna prestación o ayuda económica durante la
pandemia (67,8%); sólo el
7,9% de los estudiantes disponía de Internet de datos móviles; los profesores
de enfermería fueron los que más participaron en la orientación
sobre la ERE; consideraron la metodología de la ERE como regular (55%); las clases fueron mixtas - sincrónicas y asincrónicas – (82,2%). En cuanto a la
morbilidad autodeclarada, entre los
signos y síntomas con significación estadística estaban:
el miedo, la sensación de que algo malo iba a ocurrir; más sensibilidad; inquietud, nerviosismo, irritación; bloqueo del pensamiento;
olvido, tristeza constante, llanto fácil, fatiga y desánimo al final del día. Conclusión: Los datos obtenidos revelan las fragilidades del ERE implantado; los sentimientos y necesidades
manifestados por los estudiantes,
que podrían subvencionar las
intervenciones en el curso
de graduación en Enfermaría y otras investigaciones en este contexto.
Palabras-clave: educación en
línea; morbilidad; pandemias; COVID-19.
Em
março de 2020, a Organização Mundial da Saúde caracterizou como pandemia a
situação sanitária imposta pelo SARS-CoV-2, um novo coronavírus
altamente transmissível, descrito na China em novembro de 2019, ficando a
doença conhecida como COVID-19. A pandemia implicou em diversas modificações
globais, em todos os setores, de vida comunitária humana, com implementação de
medidas extremas de isolamento e distanciamento social, sob a alegação de
restringir a disseminação e contágio pelo vírus. No âmbito educacional, as
aulas presenciais dos estudantes de praticamente todos os países foram
suspensas e o ensino remoto foi adotado, visando dar continuidade ao ano letivo
e minimizar os impactos da pandemia na formação discente [1,2,3].
Como
metodologia de educação online, o ERE muitas vezes é confundido como sinônimo
de Educação a Distância (EaD), mas se diferencia do EaD por utilizar tecnologias para atender o que até então
era implementado na educação presencial. Assim, as tecnologias digitais que
eram utilizadas como recursos de apoio ao processo de aprendizagem, tornaram-se
o artefato principal do ensino remoto [4,5].
No
Brasil, as aulas presenciais foram suspensas no início de março de 2020 e as
instituições de ensino, nos diferentes níveis educacionais, público e privado,
buscaram estratégias de ensino nos moldes do que foi denominado como Ensino
Remoto Emergencial (ERE). Por meio da Portaria MEC nº 343, que dispõe sobre a
substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais, as instituições
educacionais foram fechadas pelo período que durasse a pandemia, desde creches
até instituições de ensino superior. Não se sabia que apenas começavam os
desafios para a educação, exigindo que as instituições se reinventassem e se
adaptassem, empregando tecnologias remotas muitas vezes nunca antes aplicadas,
na adequação de seus métodos de ensino-aprendizagem, migrando do ensino
presencial para o ERE [6,7,8].
No
foco da graduação em Enfermagem, ao menos no Brasil, a preocupação inicial foi
como fazer para proporcionar um ensino remoto que contribuísse
significativamente com a formação dos estudantes. Também surgiram desafios em
conciliar o ensino híbrido, considerando-se também: as dificuldade de acesso à
internet pelos discentes; o uso do recurso virtual, na internet intermitente, a
demanda maior de tempo, a dependência da tecnologia para a realização das
atividades; o uso de novas tecnologias e como deixar as aulas mais
motivacionais e atrativas [9,10,11,12,13,14].
O
ERE era para ter um formato provisório, mas foi se estendendo no Brasil pelos
anos de 2020 e 2021, trazendo preocupações pela imprevisibilidade de como
estariam comprometidos o processo de ensino-aprendizagem, a qualidade de vida
de discentes e docentes e os agravos à saúde física e emocional dos envolvidos
[1]. As consequências da pandemia atingiram o estilo de vida de todas as
pessoas, independentemente de classe econômica e fase do ciclo de vida,
comprometendo sua saúde física e mental [10,14].
Ante
o exposto, esta pesquisa teve como objetivo verificar a percepção de graduandos
de enfermagem sobre a implementação do Ensino Remoto Emergencial (ERE),
considerando:
*
Características sociodemográficas do alunado;
*
Satisfação, dificuldades e desafios no desenvolvimento do ERE;
* Morbidade
autorreferida relacionada ao ERE
Trata-se
de um estudo transversal com delineamento descritivo, de abordagem quantitativa
e qualitativa, do tipo analítica com correlação entre variáveis. O local de
estudo foi uma Instituição de Ensino Superior (IES), autarquia estadual de
regime especial, localizada no noroeste paulista, de regime integral, que
oferece ensino, pesquisa e extensão a alunos de graduação em Enfermagem,
Medicina e Psicologia.
Antecedendo
a coleta de dados, o projeto desta pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética
em Pesquisa (CEP) em Seres Humanos da instituição estudada, atendendo a
Resolução 466/2012, com prévia autorização da direção desta IES. Foi autorizada
pelo CEP: Autorização CAAE: 30676120.9.0000.5415, Parecer 3.992.801.
A
população estudada foi constituída de alunos da 1ª a 4ª série, regularmente
matriculados no ano de 2020 na Graduação de Enfermagem da instituição e que
aceitaram participar da pesquisa. A amostra foi feita por amostragem não
probabilística em sequência, ou seja, envolve o recrutamento de todas as
pessoas de uma população acessível em um intervalo de tempo específico. A
coleta de dados foi feita no ano de 2021, de forma online, pela plataforma
Google Forms, com a aplicação de três questionários:
um sociodemográfico, um sobre a experiência do ERE e um de morbidade autorreferida, formatados no estilo de formulário da
plataforma Google Forms, com questões fechadas. Os
alunos tinham o prazo de até 15 dias para as respostas, mas podia ser conforme
necessidade.
Após
a coleta, os dados foram planilhados no Excel e as variáveis quantitativas
foram analisadas de forma descritiva a começar do cálculo de medidas de
tendência central e dispersão. Já as variáveis qualitativas foram avaliadas com
base na análise de conteúdo de Bardin [15] com pré-análise
das respostas, exploração do material e tratamento dos resultados, a partir de
inferência e interpretação. A análise estatística foi realizada pelo software
IBM-SPSS versão 20. Realizou-se uma análise descritiva com cálculo de números
absolutos e percentuais e uma comparativa entre as variáveis socioeconômicas,
demográficas, relacionadas ao curso e hábitos de vida por meio do teste de Kruskall-Wallis sendo considerado significante
estatisticamente aquelas variáveis que apresentaram p < 0,05 [1].
Posteriormente foi aplicado o teste de comparação múltipla a partir da correção
de Bonferroni par a par, sendo considerado
significante o p ≤ 0,008 [2]. Para a análise de comparação múltipla,
foram incluídas as variáveis que apresentaram significância estatística na
primeira etapa [16,17].
A
Tabela I mostra apenas os dados sociais e demográficos que apresentaram
significância estatística (p ≤ 0,05), observando-se que: participaram
desta pesquisa 140 graduandos de enfermagem, matriculados em uma das quatros
séries em 2020, correspondendo a 46 (32,9%) da 1ª. série, 40 (28,6%) da 2ª.
série; 35 (25%) da 3ª. série e 19 (13,6%) da 4ª. série; a maioria tinha até 22
anos de idade (104-74,3%); 133 (95%) residiam em zona urbana e não recebiam
benefícios ou ajuda financeira (95-67,8%).
Tabela
I - Características
sociais e demográficas dos graduandos de enfermagem, segundo série cursada, São
José do Rio Preto, 2020
São
mostrados na tabela II os dados referentes à satisfação, dificuldades e
desafios no desenvolvimento do ERE na instituição. Observa-se que todas as
variáveis foram significantes estatisticamente, verificando-se que só 11 (7,9%)
dos alunos dispunham apenas de internet dos dados móveis do celular,
correspondendo a 2 (4,3%) dos 46 alunos da 1ª série, 4(10%) dos 40 alunos da 2ª
série, 5(14,3%) dos 35 alunos da 3ª série e nenhum aluno da 4ª. série. Sobre a
preparação/orientação dos alunos sobre o ERE: não houve a participação do
Diretor Geral (107 – 76,4%) e do Diretor de Ensino (90- 64,3%); os docentes de
enfermagem (66- 47,1%) participaram muitas vezes. Quanto às aulas, a maioria
respondeu que o ERE foi mais mista, sincrônica e assincrônica
(115-82,2%) e a maioria considerou a metodologia dos professores regular
(77-55%).
Tabela
II - Dificuldades
dos graduandos quanto à metodologia de ensino ERE segundo série cursada, São
José do Rio Preto, 2020
Observa-se
na Tabela III dados de significância estatística entre os sinais e sintomas de
morbidade relacionados ao ERE, referidos pelos graduandos de Enfermagem
participantes desta pesquisa, considerando-se a resposta sempre para: 22,1% em
aumento da respiração ou respiração superficial; 28,6% em bloqueio de
pensamento; 35,7% em esquecimento, 33,6% em tristeza constante e choro fácil,
33,6% em espécie de medo- sensação de que algo ruim ia acontecer; 47,1%
lentidão para pensar no que tinha que fazer e realizar as tarefas; 21,4% de
sensação de entrar em pânico de repente; 22,8% tristeza a maior parte do tempo;
21,4% falta de prazer em fazer coisas que antes gostava; 17, 8% boca seca; 25%
sensação de ridículo por comportamento inquieto, nervoso; 39,3% sensação de
desvalor e 42,1% sentiam cansaço,
desânimo e preocupação no final do dia.
Tabela
III - Sinais e
sintomas encontrados durante a pandemia dos discentes de enfermagem segundo a
série cursada, São José do Rio Preto, 2020
*Teste
Kruskal-Wallis
A
Tabela IV mostra a comparação múltipla entre as séries a partir do teste de Bonferroni par a par entre as variáveis que apresentaram p
< 0,008 que tiveram significância estatística na análise anterior.
Tabela
IV - Teste de
comparação múltipla a partir de Bonferroni par a par
entre as variáveis socioeconômicas, demográficas, relacionadas ao curso e
hábitos de vida dos discentes de enfermagem, São José do Rio Preto, 2020
*Teste
de U-Mann-Whitney
A
temática esquisada sobre a percepção de graduandos de
enfermagem sobre o ensino remoto emergencial (ERE), no contexto da pandemia por
COVID-19, revelou problemas educacionais (acesso e uso de tecnologias digitais
por docentes e discentes), sociais/econômicos, de mudanças no estilo e
qualidade de vida, além de agravos à saúde, em especial de sofrimento psíquico.
O
regime remoto foi a medida emergencial temporária organizada nas instituições
escolares em várias partes do mundo, incluindo o Brasil. Muitos ambientes
virtuais de aprendizagem (AVAs) foram
disponibilizados, tais como Blackboard, Canvas, Moodle, Google Classroom,
com vistas a disponibilizar diversos meios de comunicação, tais como correio
eletrônico (e-mail), salas de bate-papo (chats) e grupos de discussão (bulletin boards). Também e, principalmente, recursos de
comunicação síncrona para videoconferências, como o Google Hangouts,
Google Meet, Zoom, entre outros, para possibilitar a
aula on-line com a presença de docente e discentes, nos mesmos dias e horários
que seriam as aulas presenciais [19].
A
prática de ensino online emergencial na instituição estudada foi focalizada no
Google Meet e Google Classroom,
sendo escolhidas por possibilitarem a promoção de atividades colaborativas e de
interação com quiz e gamificações, assim como facilitarem a associação com
estratégias para melhor organização e mais dinamismo das aulas síncronas e
atividades assíncronas propostas aos alunos [19,20,21,22].
As
mudanças no processo de ensino aprendizagem durante a pandemia, no ensino
superior brasileiro, deixaram em evidência as diferenças entre o alunado,
fortalecendo as desigualdades educativas pelo uso de tecnologias de comunicação
virtual [19,22]. Também foi verificado nesta pesquisa que os acadêmicos tinham
mais fluência digital que os professores, mas alguns foram prejudicados por não
possuírem aparelhos de conexão com a internet. Já entre os docentes, com
diferenças entre uns e outros, tinham várias limitações quanto ao uso ampliado
das tecnologias digitais da informação e comunicação, particularmente no início
da implementação do ERE, necessitando que técnicos do setor de Tecnologia da
Informação fizessem capacitação e acompanhamento.
Também
foi um sofrimento manifestado pelos alunos o fato de ter sido necessário,
abruptamente, prescindir da presença física, da interação com os colegas,
professores, funcionários e o próprio ambiente e estrutura universitária. Pior
para os ingressantes, que não participam inserção acadêmica, tão esperada e da
integração à faculdade. Nesta pesquisa verificou-se que os docentes de
enfermagem foram muito participantes, apesar da metodologia dos professores ser
considerada regular.
Com
dados coletados com questionário elaborado no Google Forms,
entre 245 estudantes e 40 professores, sobre lugar do corpo nas aulas da
graduação, foram obtidas compreensões diferentes, prevalecendo aqueles que
reclamaram a ausência corporal, principalmente, em aulas práticas, nos laboratórios
de ensino e na interação entre estudantes e professores, por meio dos sentidos
corporais [23].
As
dificuldades quanto à falta da presença física no processo de ensino
aprendizagem proporcionado pelo ERE exigiu que os docentes inovassem, no sentido
de minimizar os efeitos adversos tanto no ensino quanto na saúde física e
mental dos estudantes. Um grupo de professores de uma escola médica adaptou
atividades de mentoria remota, para alunos veteranos que já participavam da
mentoria e separadamente aos estudantes recém-ingressos no curso médico, como
um "lugar de conversa", mas em plataforma digital. Mesmo variando a
desenvoltura interativa, os alunos consideraram satisfatórios os encontros
remotos em termos de qualidade das discussões, atuação do mentor e ambiente
emocional. Foi recorrente entre os alunos ingressantes os sentimentos de medo
de ter mau desempenho nas provas, de perder o semestre e de não aprender,
enquanto nos veteranos destacaram-se as dificuldades de adaptação ao ensino a
distância, excesso de atividades, e a diminuição das atividades práticas. Todos
os alunos relataram medo da pandemia, da morte pela COVID entre parentes e de a
situação financeira dos pais piorar, além de tristeza por perda de parentes
pela COVID-19 [24].
O
estilo e a qualidade de vida (QV) de docentes, discentes e pessoal técnico
administrativo geralmente foram alterados para pior pelo distanciamento social
e comprometimento financeiro pela pandemia, na estrutura das famílias. Neste
estudo constataram-se dados de significância estatística quanto à morbidade autorreferida pelos graduandos de enfermagem participantes,
como: respiração superficial e rápida; bloqueio do pensamento; esquecimento;
medo; choro constante; tristeza; pânico recorrente; inquietude; nervosismo;
cansaço; desânimo; preocupação no final do dia e sentimento de desvalor. Em
pesquisa sobre a qualidade de vida de docentes, discentes e técnicos
administrativos de uma universidade federal em trabalho remoto durante a
pandemia, observou-se melhor QV entre os docentes e que serão necessárias
medidas de apoio psicológico e emocional a todos no retorno presencial à
comunidade acadêmica [25].
As
mudanças na vida acadêmica pelo distanciamento social e ensino online geraram
sofrimento psíquico entre os participantes desta pesquisa, particularmente
entre aqueles em que as famílias tiveram diminuição das fontes de renda. Em
estudo com 136 graduandos de enfermagem, com uso da Escala de Medida de
Manifestação de Bem- estar Psicológico e a Brief COPE,
constatou-se que os estudantes dos últimos anos de curso utilizaram mais
frequentemente a estratégia de coping suporte
instrumental e emocional, além de apresentar maiores níveis de bem-estar
psicológico, na socialização, na sensação de controle de si e na autoestima dos
estudantes [26]. Outra pesquisa com 75 graduandos de enfermagem em uma
instituição de ensino privada, usando-se três questionários para levantamento
de dados sociodemográfico e psicossociais, rendimento acadêmico e Perceived Stress Scale (PSS),
aplicados de forma online e analisado por estatística descritiva, verificou
predominância do sexo feminino; faixa etária de 16 a 25 anos; sem atividade
física; 6 a 8 horas diárias de sono; rendimento acadêmico elevado e nível médio
de estresse [27].
O
medo é frequentemente associado a transtornos psicopatológicos que ficaram
evidenciados pelo estresse causado no contexto da pandemia da COVID-19. Algumas
pessoas são mais capazes de enfrentar e se adaptar ao estresse, acionando estratégias efetivas
de autorregularão emocional. Já outras apresentam um enfrentamento mal
adaptativo, que incluem condutas e atitudes como trabalhar demais;
hiperatividade; uso abusivo de substâncias lícitas e ilícitas; comer
excessivamente; cultivar pensamentos disfuncionais e depressivos, que podem
levar ao adoecimento físico e mental [28].
O
ensino remoto emergencial trouxe opções pedagógicas de aulas online simultâneas
e o modelo “HyFlex”, potencializando-se a educação
híbrida, encarando-se as tecnologias e as redes digitais não apenas como
ferramentas, mas novas percepções, concepções e interações no processo de
ensinar e aprender [29]. No Brasil, o retorno da “normalidade” do Ensino
Presencial é bem possível que não seja mais integralmente em grande parte das
instituições. O apoio da modalidade remota sincrônica e assincrônica
incorporará o ensino híbrido, usando mais a tecnologia digital para finalidades
pedagógicas mais efetivas e eficientes [30].
Segundo
o objetivo definido e resultados obtidos nesta pesquisa ficaram evidenciados
problemas de ordem logística, de capacitação, financeiras e de morbidade autorreferida pelos acadêmicos participantes. Também, de
maior envolvimento de docentes enfermeiros para o alcance de ensino de
enfermagem mais efetivo e eficaz.
Esta
pesquisa teve limitações pela dificuldade de conseguir mais respondentes da
primeira à quarta série, além de algumas questões não serem respondidas ou
parcialmente respondidas. No entanto, os dados obtidos permitem abstrair que
serão importantes para a proposição e implementação de medidas de intervenção
para melhor qualidade de vida de alunos e professores no processo de
ensino/aprendizagem de enfermagem na instituição. Além disso, deve subsidiar
outras pesquisas em contextos semelhantes.
Resta
esperar como será o ensino na graduação em enfermagem no pós-pandemia, quando
terminar a emergência da COVID-19. Acreditamos no modelo de curso chamado de “HyFlex”, que combina elementos de um curso híbrido,
presencial e online, bem mais flexível e adotando metodologias inovadoras com
maior uso de tecnologias digitais.
Conflitos
de interesse
Declaramos
ausência de conflito de interesse.
Fontes
de financiamento
Não
houve
Contribuições
dos autores
Concepção,
delineamento, coleta de dados, desenvolvimento e análise estatística e
comentários das versões do manuscrito: Sabadin I, Rosário
JR, Mota MED, SacardoY, Jericó MC; Redação final
do manuscrito: Soler SASG; Revisão crítica do manuscrito quanto ao
conteúdo intelectual importante: Sabadin I,
Rosário JR, Mota MED, SacardoY, Jericó MC, Soler SASG