Enferm Bras.
2023;22(3):328-41
ARTIGO
ORIGINAL
Limitações
da disciplina de educação em saúde em um curso de Enfermagem
Maria
Clara Soares Dantas1, Ana Cláudia de Queiroz1, Andrielly Cavalcante Fonseca1, Monique Pereira
da Silva1, Marcela Samara Lira da Silva1, Nathanielly Cristina Carvalho de Brito Santos1,
Danielle Samara Tavares de Oliveira Figueiredo1, Luciana Dantas
Farias de Andrade1
1Universidade Federal de Campina Grande,
Cuité, PB, Brasil
Recebido
em: 12 de outubro de 2022; Aceito em: 2 de junho de 2023
Correspondência: Maria Clara Soares Dantas, dantasclarinha@gmail.com
Como
citar
Dantas
MCS, Queiroz AC, Fonseca AC1, Silva MP, Silva MSL, Santos NCCB, Figueiredo
DSTO, Andrade LDF. Limitações da disciplina de educação em saúde em um curso de
Enfermagem. Enferm Bras.
2023;22(3):328-41. doi: 10.33233/eb.v22i3.5319
Resumo
Introdução: A educação em saúde é compreendida em
sua complexidade, apresentando-se multifacetada trazendo consigo várias
concepções, tanto da saúde quanto da educação. Objetivo: Compreender a
importância das atividades de educação em saúde durante a formação acadêmica em
um curso de enfermagem. Métodos: Abordagem qualitativa,
exploratória-descritiva, desenvolvido com 15 participantes. A coleta de dados
ocorreu na modalidade virtual no período de maio e junho de 2022 e o
processamento dos dados foi mediante o software Iramuteq.
Resultados: A análise de discurso conduziu ao entendimento de que as
principais limitações da disciplina de educação em saúde envolvem escassez de
carga horária e excesso de conteúdo teórico, de maneira que não permite oportunidades
para materializá-la de forma prática no sentido de concretização dos
conhecimentos e fortalecimento da relação teórico-prática. Conclusão:
Portanto, recomendam-se futuros estudos de intervenção, bem como a efetivação
da curricularização de extensão.
Palavras-chave: ensino; estudantes de enfermagem;
modelos educacionais; educação em saúde.
Abstract
Limitations of the discipline of health education in a
Nursing course
Introduction: Health
education is understood in its complexity, presenting itself as multifaceted,
bringing with it several conceptions, both of health and education. Objective:
To understand the importance of health education activities during academic
training in a nursing course. Methods: Qualitative,
exploratory-descriptive approach, developed with 15 participants. Data
collection took place in the virtual mode between May and June 2022 and data
processing was done using the Iramuteq software.
Results: The discourse analysis led to the understanding that the main
limitations of the discipline of health education involve a shortage of hours
and an excess of theoretical content, in a way that does not allow
opportunities to materialize it in a practical way in the sense of concretizing
knowledge, and strengthening of the theoretical-practical relationship. Conclusion:
Therefore, future intervention studies are recommended, as well as the
implementation of extension curricularization.
Keywords: teaching; nursing students;
educational models; health education.
Resumen
Limitaciones de la disciplina
de educación en salud en un
curso de Enfermería
Introducción: La educación
para la salud es entendida en su complejidad,
presentándose como multifacética, trayendo
consigo diferentes concepciones tanto de la salud como de la educación. Objetivo: Comprender la importancia
de las actividades de educación en salud
durante la formación
académica en un curso de enfermería. Método: Enfoque cualitativo,
exploratorio-descriptivo, desarrollado
con 15 participantes. La recolección
de datos se realizó en modo virtual entre mayo y junio de 2022 y el procesamiento de datos se realizó mediante el software Iramuteq. Resultados: El análisis
del discurso permitió comprender que las principales limitaciones de la disciplina de educación en salud involucran
la falta de horas y/o el exceso de contenido teórico, de
tal forma que no permite oportunidades para materializarlo
de forma práctica, en el sentido de concretar el conocimiento. y fortalecimiento
de la relación teórico-práctica. Conclusión:
Por lo tanto, se recomiendan
futuros estudios de intervención,
así como la implementación de currículos de extensión.
Palabras-clave: enseñanza; estudiantes
de enfermería; modelos educativos; educación para la salud.
O
desenvolvimento e implementação das políticas sociais e sanitárias efetivou o
crescimento e propagação de cursos universitários na área da saúde, incluindo
enfermagem. Com isso, cresce o número de escolas de Enfermagem no Brasil e, por
consequência, aumento dos profissionais disponíveis para um mercado de trabalho
cada vez mais atualizado, tecnológico e exigente [1].
A
formação acadêmica em saúde e enfermagem ainda adota abordagens pedagógicas
biomédicas, persistindo práticas curativistas
em
detrimento às ações de promoção
à saúde e prevenção de agravos. Neste
sentido,
as práticas de educação em saúde devem
estar inerentes ao processo de trabalho
em saúde em todos os níveis de atenção, por
outro lado, observa-se que ainda
são práticas secundárias, no planejamento,
organização dos serviços, na
execução das ações de cuidado e na
própria gestão [2].
A
educação em saúde é compreendida em sua complexidade, apresentando-se
multifacetada trazendo consigo várias concepções, tanto da saúde quanto da
educação [3]. Inicialmente utilizada para assuntos sanitários e
comportamentais, tomando por base apenas saberes técnicos e científicos, foram
progressivamente englobando vigorosas informações [4].
O
Ministério da Saúde conceitua a educação em saúde como um processo educativo
dado na construção de saberes em saúde no intuito da população tomar posse sobre
algum tema. Dessa forma, seria um conjunto de práticas que estimulam o ganho de
autonomia no cuidado como também o diálogo com gestores e profissionais com a
finalidade de suprir as necessidades da atenção à saúde [5].
Justifica-se
este estudo face à constatação de que há
limitações envolvendo a formação
acadêmica em enfermagem no tocante às atividades de
educação em saúde nos
diversos contextos institucionais apontando a importância em
pesquisar,
compreender e reconhecer sua importância nos diversos
cenários pedagógicos
convergindo para a formulação da seguinte questão
norteadora: qual a opinião
dos acadêmicos acerca do componente curricular
educação em saúde em um curso de
enfermagem?
A
importância do respectivo trabalho visa mostrar o atual cenário no que diz
respeito ao contexto dentro da formação em Enfermagem, identificando possíveis
fragilidades, como também suas potencialidades em relação à formação para
educação em saúde nas diferentes abordagens das instituições, a fim de ressaltar
a importância em ampliar as perspectivas laborais dos futuros profissionais.
Dessa forma, este estudo tem como objetivo compreender a importância das
atividades de educação em saúde durante a formação acadêmica em um curso de
enfermagem.
Trata-se
de um estudo de abordagem qualitativa do tipo
exploratório-descritivo, cujo
cenário da pesquisa foi uma Instituição de Ensino
Superior, a população foi
constituída por estudantes do 2º ano (3º/4º
período) e 5º ano (9º/10º período)
do Curso de Bacharelado em Enfermagem no interior do curimataú
paraibano, a fim de abordar a visão dos estudantes antes e depois da conclusão
do componente curricular “Educação em saúde”.
A
amostra final foi composta por 15 participantes que atenderam à saturação teórica
por exaustão para encerramento da coleta, ou seja, até o momento em que o
investigador conclui que não estão surgindo novos fatos/opiniões e que todos os
conceitos da dada teoria estão sendo bem desenvolvidos [6].
Foram
adotados os seguintes critérios de inclusão para realização da pesquisa com os
estudantes do curso de bacharelado em enfermagem: ter idade superior a 18 anos;
estar regularmente matriculado no sistema de informação da Instituição de
Ensino Superior; e ter vivenciado atividades práticas em campo.
Foram
considerados os seguintes critérios de exclusão: motivos pessoais ou de
qualquer outra natureza e interferências políticas, religiosas, culturais ou
qualquer natureza que prejudicasse a continuidade da pesquisa.
A
coleta ocorreu no período de março a junho de 2022. O primeiro contato com o
participante aconteceu de forma virtual ou telefônica e individualizado, sem
utilização de listas, com apenas um remetente e um destinatário. Foi enviada
uma carta convite esclarecendo que antes das perguntas serem disponibilizadas,
seria apresentado o TCLE para a sua anuência. Ademais, foi enfatizado a
importância deste guardar a via do documento eletrônico.
Todas
as entrevistas virtuais foram subsidiadas pelo roteiro semiestruturado e foram
gravadas individualmente no celular pelo App Google Meet
e, posteriormente, transcritas de forma integral, sendo dada ao entrevistado a
garantia do anonimato, conforme preconiza a Resolução nº 466/12 que trata da
pesquisa envolvendo seres humanos. Ao entrevistado também foi assegurado o
direito de desistir em qualquer das etapas da pesquisa [7].
Após
a coleta foi feito download e armazenado no pendrive,
sendo todos os registros apagados das plataformas virtuais, dessa maneira,
assegurando o sigilo e a confidencialidade das informações da pesquisa.
Foi
utilizado o software denominado Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles
de Textes et de Questionnaires
(Iramuteq), para o processamento dos dados que,
permitindo analisar, comparar e correlacionar variáveis textuais, amplia a
visão para criação de categorias e tomada de decisões [8].
O
Iramuteq, de modo automático, permite a análise
lexical de conteúdo, organizando as palavras por classes, possibilitando a
análise do pesquisador diante do corpus de dados. A escolha deste se deu por
oferecer um grande número de ferramentas para a análise dos dados, além de suas
potencialidades, sendo gratuito e facilitando a propagação entre os
pesquisadores [9].
A
análise utilizada nesta pesquisa foi a Classificação Hierárquica Descendente
(CHD) ou método de Reinert que, a partir de cálculos
realizados pelo software, classificam-se segmentos de textos (ST) de acordo com
seus respectivos vocabulários, e o conjunto deles foi distribuído baseado na
frequência das palavras [8].
Assim,
as 15 entrevistas resultaram em 15 textos dispostos em um único arquivo,
originando 15 Unidades de Contexto Inicial (UCI). Sendo cada uma separada por
comandos, tendo apenas uma variável (n) que foi escolhida pelas numerações
dadas a cada participante (**** *n_1, **** n_2 até **** *n_15). As perguntas
foram retiradas, ficando apenas as respostas completas referenciadas às
perguntas. Após essa segunda etapa, iniciou-se a análise dos dados.
A
análise do material empírico gerado pelas entrevistas foi realizada através da
técnica de Análise de Discurso, que oferece maneiras para reflexão e críticas
diante da estrutura e formação do sentido do texto, levando a interpretação dos
sentidos [10].
A
pesquisa apenas foi iniciada após apreciação e aprovação do projeto pelo Comitê
de Ética e Pesquisa (CEP) do Centro de Educação e Saúde (CES), da UFCG, CAAE:
53262521.6.0000.0154, número do Parecer: 5.280.479 intitulado “Limites e
potencialidades da formação acadêmica em enfermagem para as atividades de
educação em saúde”. O desenvolvimento do projeto resultou em um trabalho de
conclusão de curso, sendo este estudo um recorte dele.
Foram
respeitados todos os preceitos da Resolução nº. 466/2012 reservados às
pesquisas que envolvem seres humanos e com a solicitação da assinatura do TCLE
pelos participantes da pesquisa e pelos pesquisadores, inclusive, a fim de
manter o sigilo, os participantes foram codificados com as iniciais E01, E02...
até E15.
Perfil
dos estudantes entrevistados
Foi
possível observar que a maioria dos participantes era do sexo feminino (86%),
com idade inferior a 25 anos (73%), sendo todos solteiros (100%) e, a grande
maioria, não tinha filhos (86%).
Classificação
Hierárquica Descendente – CHD
O
resultado exibiu um corpus composto por 15 entrevistas realizadas com
estudantes, considerando a CHD, foram separadas em 468 ST, com aproveitamento
de 401 ST correspondente a 85,68% do texto, contemplando um aproveitamento
superior ao mínimo recomendado. Para que esse modelo de análise seja válido
pela sua classificação, levando em conta seu material textual, é preciso que
sejam aproveitados, minimamente, 70 a 75% de seus ST [15].
Todo
o conteúdo foi analisado em 26 segundos, sendo divididos em três classes:
Classe 1 “Importância das atividades práticas de educação em saúde nos cursos
de Enfermagem” que apresentou 126 ST (31,42%), Classe 2 “Educação em saúde como
forma de conhecimento para a população” apresentou 168 ST (41,9%) e Classe 3
“Limitações e potencialidades do ensino da educação em saúde” apresentou 107 ST
(26,68%).
Fonte: Dados da Pesquisa, 2022
Figura
1 – Classificação
Hierárquica Descendente (CHD). Cuité, Paraíba, Brasil. 2022
Classe
1
A
Classe 1 denominada ‘‘Importância das atividades práticas de educação em saúde
no curso de Enfermagem’’ é composta, em especial, pelas palavras: curso,
importante, sim, menos, prático, importância, muito e enfermagem, o conteúdo
abrange argumentos sobre a importância das atividades práticas no curso,
principalmente na disciplina educação em saúde em decorrência da ementa priorizar
propostas pedagógicas com aspectos predominantemente teóricos. As falas em
destaque apontam essa reflexão:
‘‘ter
atuado menos em educação em saúde, eu acho que a gente deveria ter atuado mais.
Assim, principalmente dentro das práticas, é algo que a gente menos vê, a
educação em saúde dentro das práticas é o que a gente menos vê’’ (E01).
‘‘ser
poucos créditos e a gente não ir à campo, à prática. Pelo menos quando eu
paguei a ação que a gente fez que seria uma nota só, um seminário, fechou só
para a turma, poderia ter saído, ter sido extramuro” (E02).
‘‘a
disciplina de educação em saúde é uma disciplina pequena, então acho que, de 2
créditos, deveria ter uma disciplina um pouco maior na qual a gente tivesse uma
prática, na qual a gente fosse para a comunidade, que a gente fosse promover
mesmo educação em saúde, forma mais prática com a comunidade para a gente ter
uma propriedade maior acerca’’ (E09).
Classe
2
A
Classe 2 denominada ‘‘Educação em saúde como forma de conhecimento para a
população’’ é formada principalmente pelas palavras: educação, saúde,
conhecimento, forma, população, também, levar e passar, expressando a
sensibilidade em poder contribuir efetivamente para a transição de um estado de
não conhecimento para o estado de tomar posse do novo conhecimento que os
profissionais, estudantes e demais colaboradores pretendem trabalhar. Os
trechos apresentados adiante validam essa assertiva:
‘‘A
gente consegue facilitar a vida de muita gente porque a população não tem o
conhecimento que deveria ter, e é através dessas ações de educação em saúde que
a gente consegue passar esse conhecimento é através da educação em saúde que a
gente consegue passar um pouco mais de conhecimento para a população’’ (E03).
‘‘Hoje
ainda não é dado o valor que ela merece, eu acho que ela é estudada no âmbito
acadêmico e não no âmbito profissional, eu entendo que depois é como se fosse
algo que o estagiário faz e não que o profissional faz, não vejo profissionais
fazendo, coisas até sobre educação em saúde me lembram muito o direcionamento
das redes de Atenção à Saúde’’ (E06).
‘‘Educação
em saúde eu acredito que seja uma das principais formas de
orientar o paciente
e usuários enquanto cuidado, prevenção e,
também, na questão da
recuperação’’
(E15)
Classe
3
A
Classe 3 denominada ‘‘Limitações e potencialidades do ensino da educação em
saúde’’ foi constituída majoritariamente pelas palavras: ponto, sempre,
negativo, falar, positivo, chegar, lá e tudo. A temática apresenta as
principais questões que potencializam o repasse do conhecimento em relação à
disciplina de Educação em Saúde ofertada para o curso de enfermagem. As falas
comprovam essa assertiva:
‘‘De
positivo foi que a gente tem a disciplina, sempre solicitam a gente para fazer
essas ações e tudo mais, para mim, ponto positivo é isso’’ (E03).
‘‘Positivo
é exatamente que antes de terminar o curso a gente já sabe repassar para alguma
pessoa que não tenha tanto conhecimento o que a gente já sabe’’ (E04).
‘‘Ponto
positivo: a gente consegue praticar a educação em saúde em outras disciplinas’’
(E05).
‘‘O que
eu acho que é positivo é que várias outras disciplinas trabalham esse tema de
educação em saúde. Em todas as outras disciplinas a educação em saúde sempre
estão incluídas’’ (E12).
‘‘Pontos
negativos: ter atuado menos em educação em saúde, eu acho que a gente deveria
ter atuado mais’’ (E01).
‘‘Negativo,
ser poucos créditos e a gente não ir à campo. Pelo menos quando eu paguei, a
ação que a gente fez que seria uma nota só foi um seminário fechou só para a
turma, poderia ter saído, ser extramuro’’ (E02).
‘‘Ponto
negativo é que a disciplina de educação em saúde fica muito longe da
realidade’’ (E05).
‘‘Parte
negativa: eu acho que seria ter pouquíssimas oportunidades de exercitar isso’’
(E11).
Para
fins de análise, será contemplada, para esta discussão, o estudo da classe 1.
Nesta pesquisa, observou-se que os acadêmicos de enfermagem consideraram que as
atividades práticas e estágios são importantes para a implementação de ações de
educação em saúde, porém, foram poucas oportunidades para praticar essas ações
em momentos concretos de estágios ou práticas, junto ao indivíduo, família e
comunidade.
Ao
validar a importância das atividades práticas na formação de profissionais em
saúde e o quanto qualifica o cuidado em saúde, é possível identificar as
limitações de um ensino segmentado com rumo curricular voltado ao modelo
biomédico ainda vigente, e poucas oportunidades de ensino dentro dos serviços
de saúde, considerando-se as atividades práticas e estágios de grande
importância para a construção de saberes durante a academia, dessa forma,
tornando-se um instrumento basilar e indispensável [11].
A
conceituação de estágio encontra-se em desarmonia diante de seus autores visto
que há variações de uma única conceituação considerando os campos históricos e
profissionais. Entretanto, em comum a todas elas há a viabilização para
aperfeiçoar e intercalar os saberes acadêmicos com a efetivação em campo de
trabalho adentrando, dessa maneira, os estudantes em seu futuro ambiente
laboral com o intuito de estimular a correlação entre os verbos pensar e fazer
[12].
Ao
longo dos anos, os modelos de currículos foram se aperfeiçoando, diante de
várias reflexões promovidas pela legislação educacional, foram amenizando as
carências encontradas nos modelos anteriores e adaptando as peculiaridades
encontradas na atualidade. Porém, somente ao final da primeira década do século
XXI que as leis pautadas aos estágios começam a criar delineamentos, ainda
vulnerável às más interpretações e ações mesquinhas [13]. Para que haja o
entendimento do presente, faz-se necessário remeter-se ao passado, para a sua
possível compreensão e, dessa maneira, ter fomentos para a construção e
desenvolvimento de um futuro sublime [14].
Anteriormente,
o ensino e a assistência de enfermagem eram baseados em vivências, hoje
chamadas práticas e/ou estágios, sem a preocupação em enfatizar a articulação
com os saberes teóricos. O ensino das escolas de enfermagem no Brasil foi
disposto no Decreto nº 791, de 27 de setembro de 1890 que, por meio do Hospício
Nacional de Alienados, criou uma escola profissionalizante de enfermeiros e
enfermeiras [15].
A
Enfermagem no Brasil, bem como na Inglaterra e nos Estados Unidos,
institucionalizou-se em subordinação à prática médica, a Escola de Enfermagem
Anna Nery recebeu a denominação de escola padrão, pois foi modelo para as
seguintes e utilizava o ensino voltado à assistência hospitalar. Essa
subordinação reflete e influencia a enfermagem desde sua gênese, no foco curativista, hospitalocêntrico e biomédico [16].
O
modelo biomédico ainda atuante na educação em enfermagem induz os sujeitos a
priorizar procedimentos e técnicas, nesse sentido, o docente tem papel
primordial permitindo a produção de novas concepções de cuidar e cuidado, sendo
o estágio o ambiente ideal. Os avanços nos modelos educacionais na formação dos
profissionais em enfermagem e a compreensão do conhecimento teórico-práticos
são firmados legalmente pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), explicitada
pela Resolução nº 441, que clarifica a responsabilidade dos enfermeiros
docentes em orientar e supervisionar os estudantes de enfermagem durante seus
estágios ou em atividades práticas, como também, participar da legitimação e
planejamento dos estágios [17].
Uma
vez que a enfermagem dispõe em sua maior parte da assistência clínica, a
prática em campo e seu ensino se tornam elementos obrigatórios no curso de
formação. Além da troca de experiências, estimula os estudantes ao pensamento
crítico e tomada de decisão, influenciando diretamente no perfil do futuro
profissional [18].
Sendo
a ocasião em que há a possibilidade de colocar em prática todos os aprendizados
e conhecimentos adquiridos, além do enfrentamento de medos e esclarecimentos de
dúvidas que surgem apenas no ato, o estágio é a oportunidade de firmar e
clarificar o processo de ensino e aprendizagem [19].
Embora
existam diversos desafios e limitações no campo de estágio, esse momento é
próspero e vantajoso na aquisição de experiências jamais vistas em aula. É a
oportunidade de desenvolver habilidades e identificar quais áreas mais se
identificam, atingindo o objetivo do processo de formação. Assim, a prática age
como forma de suplementar o ensino teórico, dando a possibilidade ao estudante de
prestar uma assistência, corroborando os saberes teóricos com a prática
cotidiana, motivando e estimulando o desenvolvimento pessoal, intelectual e
profissional [20].
Apesar
da grande carência de ações de educação em saúde observadas, durante o decorrer
dos estágios, é preciso a execução de intervenções, já que é essa a
oportunidade de promover a saúde e praticar ações de educação em saúde
independentemente do nível de atenção, desenvolvendo a autonomia e confiança
dos estagiários. A educação em saúde deve ser atribuição de toda a equipe
multiprofissional, mas o profissional de Enfermagem sobressai devido a sua
característica educadora, resolutiva e de tomada de decisão [21].
Embora
os estudantes ingressem nos estágios tomados por insegurança e imaturidade, não
resta dúvidas das positivas consequências para a efetivação da formação
acadêmica e profissional. Apesar de ser a primeira vez no futuro ambiente de
sua atuação profissional, o estágio viabiliza o desenvolvimento de talentos com
maestria sendo considerado essencial para capacitar e complementar o ensino. A
presença e estímulo do professor e supervisionador é
muito importante durante o decorrer das práticas, transmitindo credibilidade,
cuidado e seriedade das atividades [22],
Como
apontam as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), do curso de graduação em
Enfermagem, o enfermeiro deverá sair formado com a compreensão e apto para
possíveis intervenções diante dos diversos contratempos em saúde. Para tanto, é
necessário que os assuntos abordados aos estudantes deem as capacidades que lhe
são cobradas após a sua formação, como domínio de competências e habilidades em
educação permanente, gerenciamento e gestão, administração, tomada de decisões,
liderança, comunicação e atenção à saúde. Como também deve atender as
necessidades sociais em saúde, especialmente no SUS (Sistema Único de Saúde) e
lhe assegurar as diretrizes e princípios que regem esse sistema [23].
Para
o fortalecimento da práxis da disciplina e das ações de educação em saúde, em
18 de dezembro de 2018 foi publicada a curricularização
da extensão obrigatória, estratégia prevista no Plano Nacional de Educação
(PNE) e foi regulamentada pela Resolução MEC/CNE/CES nº 7/2018. Esta
estabelece, entre outras coisas, que as atividades de extensão devem abarcar no
mínimo 10% do total da carga horária curricular estudantil dos cursos de
graduação, além de instruir o Instituto Anísio Teixeira (INEP) a autorização e
reconhecimento dos cursos com os critérios de cumprimento da curricularização, a articulação entre extensão, ensino e
pesquisa e a seleção dos docentes responsáveis pela orientação das atividades
de extensão [24].
A
partir deste estudo, conclui-se que a educação em saúde é vista por discentes
de graduação em enfermagem como uma ação e prática importante para o futuro
profissional, pois os participantes compreendem que essa prática viabiliza
autonomia e empoderamento das ações em saúde.
Observou-se
a pouca oportunidade em praticar ações de educação em saúde, em estágios, ou em
atividades práticas e de extensão. Além disso, o componente curricular
“educação em saúde” é ofertado com carga horária pequena e, portanto,
essencialmente teórica, dispõe de poucas oportunidades para materializar os
saberes em atividades práticas.
Observa-se
a necessidade de otimizar a práxis ao longo do curso, oportunizando maior
aproximação do aluno da comunidade nos diversos níveis de atenção e, assim,
contribuir com os serviços na promoção da saúde e na prevenção de agravos.
Quanto aos desafios desta pesquisa, apontam-se a metodologia utilizada por
saturação, a pandemia do coronavírus e dificuldades
para a adesão dos estudantes. Por ser de natureza local, os achados deste
estudo podem não representar outros contextos.
A
prática da educação em saúde deve avançar para a concretização dos
conhecimentos e fortalecimento da relação entre teoria e prática. Recomenda-se
futuros estudos de intervenção apontando características do tipo antes e
depois, além da efetiva operacionalização da curricularização
de extensão como forma de complementação às teorias trabalhadas em sala de
aula.
Conflitos
de interesse
Não
há conflitos de interesse.
Fontes
de financiamento
Não
houve fonte de financiamento.
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Dantas MCS, Andrade LDF; Coleta de dados: Dantas MCS; Análise e
interpretação dos dados: Dantas MCS, Andrade LDF, Silva MSL; Redação do
manuscrito: Dantas MCS, Andrade LDF, Silva MSL, Queiroz AC, Fonseca AC,
Silva MP, Santos NCCB, Figueiredo DSTO; Revisão crítica do manuscrito quanto
ao conteúdo intelectual importante: Dantas MCS, Andrade LDF, Silva
MSL, Queiroz AC, Fonseca AC, Silva MP, Santos NCCB, Figueiredo DSTO