Enferm Bras 2022;21(6):726-39
ARTIGO ORIGINAL
Implementação de procedimento
operacional padrão sobre o manejo do cateter venoso central totalmente implantado
em serviço de oncologia
Kalinka Moraes Vorpagel*,
Kelly Cristina Meller Sangoi, M.Sc.**,
Francisco Carlos Pinto Rodrigues, D.Sc.***, Maria Cristina
Meneghete, M.Sc.****
*Enfermeira, Pós-Graduada
em Urgências e Emergências pela Universidade UNYLEYA, **Enfermeira, Docente no Curso
de Graduação em Enfermagem e Pós-Graduação em UTI pela Universidade Regional Integrada
do Alto Uruguai e das Missões, ***Enfermeiro, Docente do Curso de Graduação em Enfermagem
pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, ****Enfermeira,
Docente no Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Regional Integrada do
Alto Uruguai e das Missões, Erechim, RS
Recebido em 4 de novembro de
2022; Aceito em 15 de dezembro de 2022
Correspondência: Kelly Cristina
Meller Sangoi, Rua Tiradentes, 754, Santo Ângelo RS
Kalinka Moraes Vorpagel: kalinka1999.kv@gmail.com
Kelly Cristina Meller Sangoi: kellysangoi@san.uri.br
Francisco Carlos
Pinto Rodrigues: francisco@san.uri.br
Maria Cristina
Meneghete: mariameneghete@san.uri.br
Resumo
Introdução: O tratamento oncológico evoluiu muito ao
decorrer dos tempos, o cateter venoso central totalmente implantado permite a infusão
de fármacos, soluções endovenosas e quimioterápicos em um acesso vascular, sem a
necessidade de punções frequentes. Objetivo: Implementar um protocolo operacional
padrão sobre o manejo do cateter venoso central totalmente implantado em um serviço
de oncologia. Métodos: Estudo descritivo, com abordagem qualitativa, que
utilizou como método a Pesquisa Convergente Assistencial, em um serviço privado
de oncohematologia, no interior do Estado do Rio Grande
do Sul, no período de agosto e setembro de 2021. Resultados: Após o compilado
de dados elencados em relação as informações relatadas pelas participantes, iniciou-se
a construção coletiva de um Procedimento Operacional Padrão, o que facilitará o
ensino-aprendizagem da equipe de enfermagem através de evidências cientificas atualizadas.
Conclusão: Conclui-se que o objetivo proposto foi alcançado, possibilitando
uma educação continuada juntamente à equipe de enfermagem. Por meio deste instrumento,
obtivemos uma padronização no manejo do cateter, direcionando a realização da técnica
de forma padronizada, contribuindo para a segurança e melhor assistência ao paciente
portador de cateter venoso central totalmente implantado.
Palavras-chave: Oncologia; enfermagem oncológica; dispositivos
de acesso vascular.
Abstract
Implementation of standard operating procedure on the management of central
venous catheter fully implemented in oncology service
Introduction: Cancer treatment has evolved a lot over time and the
fully implanted central venous catheter allows the infusion of drugs, intravenous
solutions and chemotherapy in a vascular access, without the need for frequent punctures.
Objective: To implement a standard operating protocol on the management of
the fully implanted central venous catheter in an oncology service. Methods:
Descriptive study, with a qualitative approach, that used the Convergent Care Research
as a method, in a private oncohematology service, in the
interior of the State of Rio Grande do Sul, between August and September 2021. Results:
After the compiled from the data listed in relation to the information reported
by the participants, the collective construction of a Standard Operating Procedure
began, which will facilitate the teaching-learning of the nursing team through updated
scientific evidence. Conclusion: We concluded that the proposed objective
was achieved, allowing a continuing education together with the nursing team. Through
this instrument, we obtained a standardization in the management of the catheter,
directing the performance of the technique in a standardized way, contributing to
safety and better care patient with a fully implanted central venous catheter.
Keywords: Oncology; oncology nursing; vascular access devices.
Resumen
Implementación de procedimiento
operativo estándar sobre el
manejo de catéter venoso central totalmente implementado
en el servicio
de oncología
Introducción: El tratamiento
del cáncer ha evolucionado mucho a lo largo del tiempo,
el catéter venoso central totalmente
implantado permite la infusión
de fármacos, soluciones intravenosas y quimioterapia en
un acceso vascular, sin necesidad de punciones frecuentes. Objetivo: Implementar un protocolo operativo estándar sobre
el manejo del catéter venoso central completamente implantado en un servicio
de oncología. Métodos: Estudio
descriptivo, con enfoque cualitativo, que utilizó como método
la Investigación de Atención Convergente, en un servicio privado de oncohematología, en el interior del Estado de Rio Grande
do Sul, entre agosto y septiembre de 2021. Resultados:
Después de la compilación a
partir de los datos enumerados
en relación a las informaciones relatadas por los participantes, se inició la construcción colectiva de un Procedimiento Operativo Estándar,
que facilitará la enseñanza-aprendizaje
del equipo de enfermería a través
de evidencias científicas actualizadas. Conclusión: Se concluye que
se logró el objetivo propuesto, permitiendo una educación continua junto al equipo de enfermería.
A través de este instrumento, se obtuvo una estandarización en el manejo del catéter,
encaminando la realización de la técnica de forma
estandarizada, contribuyendo
a la seguridad y una mejor atención al paciente con un catéter
venoso central totalmente implantado.
Palabras-clave: Oncología; enfermería
oncológica; dispositivos de acceso vascular.
A problemática
do câncer é um tema que cada vez mais tem sido discutido, por diferentes organismos
e organizações internacionais e nacionais, devido a sua complexidade e as consequências.
Ainda é uma das maiores causas de mortalidade e uma das doenças crônicas mais prevalentes
da atualidade, comprometendo e desestabilizando o bem-estar físico e psicológico
do indivíduo [1]. Englobando cerca de mais de 100 tipos de doenças malignas, caracterizada
por um crescimento desordenado do número de células cancerígenas, no qual tendem
a ser extremamente agressivas e incontroláveis, determinando a formação de cada
tumor [2].
Contemporaneamente,
o tratamento oncológico evoluiu muito, e torna-se desafio constante o alinhamento
entre um tratamento clínico eficaz com o bem-estar do paciente e a promoção da qualidade
de vida. Dentre as principais modalidades de tratamento destacam-se: quimioterapia,
radioterapia, imunoterapia, cirurgia e transplante de medula óssea. Alguns destes,
devido a sua toxicidade podem causar efeitos adversos aos pacientes, como náuseas,
vômitos, constipação, diarreia, alteração no paladar e absorção de nutrientes [3].
Para tanto,
o sucesso do tratamento por quimioterapia, por exemplo, necessita de um acesso venoso
pérvio e que promova a segurança na administração de medicamentos, tanto a inserção
quanto a manutenção do cateter correto tornam-se atribuição importante com vistas
a garantir um cuidado seguro. Os riscos envolvidos na prestação de cuidado em saúde,
nesse caso, o paciente oncológico, que possui particularidades, é grande ao longo
do percurso terapêutico. Esses riscos envolvem a própria doença de base, o tratamento
e a assistência [4].
A
procura
pelo cateter correto e ideal é contínua, garantindo
baixos índices de complicações,
longa permanência e um acesso a circulação com
diminuição de risco e boa aceitação
[5]. A inserção de cateteres de longa duração foi introduzida por Broviac em 1973, através de um cateter de silicone pela parede
anterior do tórax [6].
A implantação
do cateter venoso central totalmente implantado (CVC-TI) na prática clínica, se
deu no decorrer de 1980, determinado para pacientes oncológicos, permitindo uma
administração segura de quimioterápicos e terapias de suporte, possuindo diversas
vantagens para o paciente, reduzindo os efeitos adversos no local ou percurso venoso
[7,8].
O implante
dos CVC-TI deve ser realizado em ambiente cirúrgico, com monitoramento contínuo
dos sinais vitais e suportes de imagem, o tipo de anestesia varia de acordo com
cada paciente, na maioria dos casos, a anestesia local associada à sedação. A escolha
da aplicação se dá preferencialmente em veias que drenam para o sistema cava superior,
devendo levar em conta a veia que será introduzido e a localização da inserção do
reservatório, o caminho venoso até o átrio é mais retilíneo a direita, justificando
sua preferência [6].
Apesar
de
muito utilizado, este dispositivo não é isento de
intercorrências, ocorrendo hematomas
no local da punção, embolia gasosa,
complicações pertinentes ao ato cirúrgico,
tamponamento
cardíaco, infecção e a própria
intolerância. Destacam-se algumas complicações
tardias,
como a trombose, infecções e migração do
cateter, podendo resultar na suspenção
imediata do tratamento, comprometendo a saúde e bem-estar do
paciente, a prevenção
se dá de forma crucial neste momento [9].
Em
estudos
encontrados, ocorreu uma comparação da heparina e da
solução salina para manutenção
do CVC-TI, não sendo encontradas complicações
decorrentes da utilização da solução
salina para bloqueio do cateter, fundamentando a eficácia da
solução fisiológica,
por prevenir ocorrências decorrentes da utilização
continua da heparina, como a
trombocitopenia, hemorragias, trombose induzida pela heparina,
reações alérgicas
e incompatibilidade medicamentosa [10].
A heparina
é a forma mais utilizada nas práticas clínicas do bloqueio/lock
do CVC-TI, sua utilização se dá em três passos para a realização do procedimento,
o primeiro se injeta 10 ml de soro fisiológico 0,9% para a limpeza do lúmen, em
seguida é realizada uma dose de heparina para preencher o lúmen e por fim se clampeia o lúmen, verificando a válvula antiretorno
[11].
A trombose venosa profunda (TVP) é uma das
complicações não infecciosas relacionadas
à implantação do CVC-TI, os pacientes
oncológicos estão mais propensos a novos episódios
de TVP [6].
A atuação
do enfermeiro é de extrema importância para o cuidado de pacientes portadores do
“port-a-cath”, sendo habilitados
para o manuseio de todo o sistema, como punções, curativos e outros [12]. Sua competência
técnica e legal está amparada pelo Decreto nº 94.406 de 1987, regulamentador da
Lei nº7.498 de 1986 [13]. O profissional executante da punção do CVC-TI deve ter
competência técnica e seguir uma assepsia rigorosa, avaliação do sitio de punção
e conhecimentos sobre sinais de infecções e condições do paciente [9].
A punção do
CVC-TI é uma prática privativa do enfermeiro capacitado, deve ser realizada após
uma assepsia adequada com clorexidina alcoólica 0,2%, e com movimentos circulares,
utilizando uma agulha especial tipo Huber, até o fundo do reservatório, aumentando
assim a durabilidade do dispositivo, recomenda-se a utilização de curativo após
a punção, para que não ocorra a migração da agulha e demais complicações [14].
O estudo se
justifica na medida em que considera a importância de instituir práticas organizadas
e seguras ao paciente oncológico, baseada em protocolos operacionais padrão, nos
quais tenta-se minimizar ou evitar ocorrências, problemas éticos e legais aos profissionais
de saúde, sendo a base para uma organização segura [15].
Os protocolos
organizam todo um serviço de saúde, a partir da sistematização do cuidado, com detalhes
operacionais e específicos, necessitando ser edificados dentro das Práticas Baseadas
em Evidências, seu desenvolvimento ocorre em conjunto com os profissionais de enfermagem
e da estrutura organizacional, possibilitando uma construção coletiva [7].
Tendo em vista
a importância do conhecimento do enfermeiro referente a temática, o estudo partiu
do seguinte questionamento: Quais são as intervenções de enfermagem prestadas ao
paciente portador de cateter totalmente implantado em um serviço de oncologia?
O presente
estudo tem como objetivo investigar qual o conhecimento teórico-científico da equipe
de enfermagem sobre o CVC-TI e implementar um protocolo operacional padrão atualizado
em um serviço de oncologia.
Trata-se de
um estudo descritivo, com abordagem qualitativa, que utilizou como método a Pesquisa
Convergente-Assistencial.
Participaram
da pesquisa 8 enfermeiras. Utilizando como critérios de inclusão: atuar na instituição
há mais de três meses e os critérios de exclusão: aqueles que estavam de licença
maternidade, férias, ou tempo de atuação inferior a três meses. A pesquisa foi realizada
em um serviço privado de oncohematologia, na Região Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul, de agosto a novembro de 2021.
Para direcionar
a coleta de dados utilizou-se um instrumento facilitador por meio de um formulário
específico, ferramenta estruturada, com perguntas de alternativas fixas.
Para o desenvolvimento
do presente estudo, seguiram-se as seguintes fases: 1) Aprovação do projeto pelo
comitê de ética da universidade; 2) Reunião com o responsável pela instituição cooparticipante;
3) Reunião e apresentação do Projeto para a
equipe de enfermagem e aplicação do questionário;
4) 1º encontro (revisão e apresentação
dos estudos atualizados para a construção coletiva do POP
atualizado); 5) 2º Encontro
de discussão sobre os critérios do Manejo do CVCI –
TI; 6) Encontro para construção
coletiva do POP.
Após o término
do processo examinador, transcorreu a análise de conteúdo e a análise dos dados
deu-se através da desamarração dos questionários, construiu-se
coletivamente o POP atualizado e compartilhado com as enfermeiras para revisão e
aprovação.
A pesquisa
foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Regional Integrada
do Alto Uruguai e Missões – Campus Santo Ângelo, através do Parecer nº 4.958.625.
Participaram
do estudo 8 enfermeiras. A maioria na faixa etária de 41 a 50 anos. Quanto à realização
de algum curso de qualificação, 5 enfermeiras estão realizando qualificações nas
áreas de tanatologia, dor oncológica, cuidados paliativos e ensino cientifico e
tecnológico. Sobre cursos de curta duração com até 20 horas, 2 realizam (Terapia
holística e Navegação). Em sua maioria, 7 enfermeiras são especialistas em oncologia
e 1 em urgência e emergência. Sobre o tempo de atuação no serviço, a metade das
enfermeiras atua há mais de 5 anos, nenhuma atua menos de um ano e quatro delas
entre 2 e 5 anos.
Na segunda
parte do questionário perguntou-se sobre questões relacionadas ao conhecimento e
manejo de CVC-TI, 5 das participantes relatam ter um bom conhecimento sobre o CVC-TI;
2 apresentam conhecimento satisfatório e 2 muito bom.
No que tange
ao tipo de cateter mais utilizado, todas as entrevistadas entendem que o port-a-cath é o dispositivo de escolha.
Para realizar as punções, 7 enfermeiras citam a point huber
como a agulha mais adequada. Quanto à quantidade correta de punções nos CVC-TI,
6 relatam 2.000.
Segundo a
Lei nº 7.498 de 1986, regulamentada pelo Decreto nº 94.406 de 1987, a punção do
port-a-cath é uma atribuição
privativa do enfermeiro, e todas elas têm ciência desta lei.
Apesar do
CVC-TI ser um dispositivo seguro e muito utilizado, já existem desvantagens fundamentadas,
2 enfermeiras apontaram a necessidade de maior frequência de heparinização, 1 entende ser necessário treinamento contínuo
para os pacientes e/ou familiares, 3 sinalizam como desvantagem a vida média limitada
pela membrana de silicone e 2 afirmaram o alto custo de implementação e baixo acesso,
assim como a utilização de qualquer agulha para sua punção.
A fixação
adequada é um dos principais cuidados, todas as participantes evidenciam que o micropore e os curativos transparentes devem ser anexados na
junção da pele ao cateter, dificultando sua migração.
Relacionado
a troca de curativos na inserção do CVC-TI, é acentuada a utilização de curativo
estéril com gazes e oclusivo, 6 integrantes assinalaram que os curativos com gazes
impedem a visualização de inserção do cateter, que devem ser trocadas a cada 24
horas, ou imediatamente se a integridade estiver comprometida, 3 sinalizaram que
os curativos com películas transparentes de alta permeabilidade
devem ser trocados a cada 72 horas.
Além do tempo
entre as trocas dos curativos, os materiais utilizados na realização da assepsia
são primordiais para a manutenção do port-a-cath, 3 enfermeiras realizam assepsia com álcool 70% ou clorexidina
alcoólica a 2%, 4 utilizam álcool 72%, tintura de iodo a 2% ou clorexidina alcoólica
a 2%; e 1 sinaliza o álcool 70% e clorexidina aquosa como escolhas.
Os cateteres
devem ser rotineiramente heparinizados, 5 participantes
utilizam flushing de S.F 0,9% e intervalo de 30-45 dias com 3 ml de solução de heparina
com 10U/ml e 3 relatam que a recomendação é o flush de solução fisiológica 20ml
e após solução heparina1.000U/ml com intervalo de 28-30 dias.
A comparação
da eficácia da heparina com a salinização é muito questionada, confrontando que
a salinização se mostra eficaz, prevenindo ocorrências decorrentes da utilização
da heparina, 6 entrevistadas concordam com essa orientação e 2 discordam.
No que se
refere as técnicas de permeabilidade, manutenção e desobstrução do CVC-TI utilizadas,
as 8 enfermeiras entrevistadas acreditam que a técnica mais utilizada é referente
ao uso de dipirona, vitamina C, soluções tromboemboliticas
como alteplase, heparina e flush de 20 ml de S.F 0,9%
no início da infusão, entre os fármacos infundidos para lavagem e após a infusão
do último fármaco.
Sobre o uso
de equipamentos de proteção individual (EPI) como as luvas para o manuseio do port-a-cath, todas as entrevistadas
afirmaram que devesse utilizar a luva estéril. Em relação a implantação do CVC-TI,
4 participantes acreditam que o local de maior preferência é a veia subclávia, pois
estas drenam para o sistema cava superior.
Após o compilado
de dados elencados em relação as informações, iniciamos os encontros para construção
de um POP atualizado, o que facilitou o ensino-aprendizagem da equipe de enfermagem
através de evidências cientificas atualizadas, durante os três encontros para revisão
e apresentação dos estudos atualizados, construção coletiva do POP e discussão sobre
os critérios para o Manejo do CVCI – TI.
Utilizando-se
da análise de conteúdo foi possível a construção de três categorias.
Conhecimento acerca das vantagens
e desvantagens na utilização do cateter totalmente implantado na oncologia
Os pacientes
que se encontram em tratamento quimioterápico e de longa duração apresentam uma
rede venosa fragilizada, em função de consecutivas punções, e são comumente encaminhados
para o implante de CVC [16]. Na preparação da pele para a punção do CVC-TI se utiliza
clorexidina alcoólica a 2%, nos casos contraindicados se substitui por tintura de
iodo ou álcool 70%, sendo a técnica realizada antes da inserção e durante as trocas
de curativos [17].
O CVC-TI é
habitualmente puncionado com uma agulha própria, denominada agulha de Hubber, com um ângulo de 90º, com bisel trifacetado,
comportando até 2.000 punções [12,18]. A primeira opção de via para o implante do
cateter é subclávia, permitindo a infusão de maiores volumes de fluidos, o trajeto
venoso até o átrio é mais retilíneo a direita, em caso de tumores na região do tórax
é indicado que o procedimento seja realizado ao lado contrário [6].
O curativo
deve ser transparente, realizado pelo enfermeiro de forma correta e bem fixado na
junção da pele e do cateter, evitando o tracionamento dos equipos conectados ao
cateter [19].
Apesar de
ser extremamente benéfico no tratamento de pacientes oncológicos, este dispositivo
não é isento de complicações, podendo ocorrer casos de hematomas, embolia gasosa,
complicações decorrentes do ato anestésico, tamponamento cardíaco e intolerância
ao cateter, como consecutivamente complicações tardias [20].
Interfaces da construção coletiva
do POP
A participação
do enfermeiro na implantação de estratégias para a melhoria da qualidade e da segurança
na assistência é um ato indispensável na padronização do cuidado, fornecendo um
suporte para a busca imediata. O POP funciona como uma diretriz e fornece um respaldo
técnico para que o profissional realize o procedimento seguindo as normas e recomendações
sobre a temática [21].
Os profissionais
de enfermagem preferem passar por treinamentos de especializações, aprimorando o
conhecimento técnico e prático, sustentando a importância de procedimentos operacionais
padrão em conjunto com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, para que exerçam
suas intervenções de forma humanizada e satisfatória [22].
Para arquitetar
a elaboração do POP, além do levantamento bibliográfico sobre o CVC-TI, foram analisados
diversos manuais de outras instituições hospitalares. As principais fundamentações
para a estrutura do POP foram pautadas nas recomendações de artigos científicos
que tratavam do assunto.
O
POP foi
estruturado da seguinte forma: 1) Objetivo; 2) Indicação
e contraindicação; 3) Responsabilidade;
4) Material necessário; 5) Procedimento técnico detalhado
da punção; 6) Recomendações;
7) Soluções utilizadas no CVC-TI; 8) Rotina de
desobstrução; 9) Registros das informações
acerca do CVC-TI; 10) Referências.
Pensando na
adequação do POP a realidade do serviço, o documento recebeu validação de seu conteúdo
pelo enfermeiro responsável técnico e equipe de enfermagem. Participaram dessa validação,
dois enfermeiros que trabalham no serviço e um médico oncologista responsável pelo
serviço. Estes profissionais citados foram os avaliadores e responsáveis pelo crivo
do conteúdo, sendo reestruturado a partir das sugestões dos profissionais da equipe
de enfermagem.
A elaboração
de bundles e POPstem
um impacto incontestável na diminuição de
infecções de corrente sanguínea relacionadas
ao cateter venoso central. Os estudos realizados demonstraram a
redução em até 80%,
alcançando taxa zero em alguns casos, reduzindo os
índices de infecção [23].
Deste modo,
após finalizado e aprovado pelo médico oncologista responsável pelo setor, realizou-se
uma capacitação com a presença de toda a equipe de enfermagem do serviço, expondo
o instrumento que irá conduzir as condutas para o manejo do CVC-TI.
Manutenção, permeabilidade
e desobstrução do CVC-TI
A equipe de
enfermagem tem um papel importante no cuidado de pacientes portadores do CVC-TI,
sendo o enfermeiro o profissional habilitado para o manuseio. Quanto à permeabilização
do porth-a-cath, não se tem
um parecer normativo referente as técnicas de manutenção e desobstrução pelo COFEN,
sendo esta direcionada diretamente para o médico. Fortalecendo esse quesito tem-se
o Parecer COREN-SP CAT Nº 017/2010 que ressalta que o enfermeiro somente poderá
prescrever a heparinização ou salinização do cateter mediante
a existência de protocolo institucional [13].
Na
manipulação
do CVC-TI podem ocorrer algumas complicações. Entre elas
a obstrução da agulha,
diretamente relacionada a fibrina, formação de trombos ou
precipitação de drogas,
cuja principal atuação para a prevenção dos
casos de obstrução de cateter é a lavagem
com solução salina, frequentemente, entre a
administração de dois ou mais medicamentos
e após o uso do dispositivo [8].
A manutenção
do cateter deve ser realizada no ambulatório a cada três meses se não estiver mais
em uso de fármacos, realizada antissepsia do local, punção com agulha tipo Hubber, aspiração de 5 ml de sangue do dispositivo, salinizado
com 20 ml de soro fisiológico, avaliando a permeabilidade do cateter, em seguida
se utiliza uma solução de heparina, 1 ml de heparina a 9 ml de SF 0,9%, infundindo
5 ml desta solução e ao término retira-se a agulha, faz-se o curativo oclusivo e
orienta-se o paciente a não molhar a região e só retirar o curativo após 4 horas
[20].
A dose de
heparina necessária pode variar de 10 UI/ml a 1.000 UI/ml, e a concentração de 100
UI/ml mantém uma predominância no cotidiano de unidades de oncologia, em um volume
de 3 ml, sugerindo que a concentração ainda pode variar de 10 UI/ml até 5000 UI/ml
[22].
Estudos atuais
comprovam a eficácia da solução fisiológica para manter a patência
do CVC-TI em comparação à solução de heparina, prevenindo a ocorrência de eventos
adversos decorrentes da utilização da heparina, como a trombocitopenia induzida
por heparina, entre outras já supracitadas [20].
Após a punção
do reservatório, iniciam-se os cuidados, incluindo a lavagem/flush com solução fisiológica
e bloqueio/lock com solução de heparina. Manter a permeabilidade
do cateter é uma das medidas mais importantes, a lavagem (flush) de forma correta
evita a mistura de medicamentos, limpando o lúmen do sangue do cateter ou impedindo
a formação de fibrina [24].
Em uma metanálise com 15 estudos sobre a utilização das principais
drogas empregadas na desobstrução e restauração da permeabilidade de CVC de longa
permanência. Destacam-se as seguintes drogas: Uroquinase (53,3%), Alteplase (20%), Tenecteplase (13,3%),
Uroquinase recombinantes (6,7%), Reteplase (6,7%) e Estafiloquinase (6,7%). Contudo, os fibrinolíticos são drogas
de alto custo e de grandes riscos aos pacientes, tendo uma série de contraindicações
e amplo monitoramento médico [25].
Além
do auxílio
destes fármacos para a permeabilização,
manutenção e desobstrução existem algumas
técnicas relatadas na prática do manejo do CVC-TI como:
pedir para que o paciente
se levante e movimente o braço do cateter; pedir que o paciente
se deite, para que
o mesmo reproduza o reflexo da tosse; pedir para respirar fundo [22].
Destacamos
como limitações deste estudo a ausência de tópicos delimitados na construção do
estudo, como também a variedade dos cuidados realizados pela equipe de enfermagem
na revisão sistemática, assim como limitada quantidade de profissionais qualificados.
Apesar das limitações existentes, não impossibilitaram a construção do artigo, agregando
de forma satisfatório o conhecimento.
A construção
coletiva do POP foi muito exitosa, possibilitando uma educação continuada juntamente
à equipe de enfermagem. Agregado a isso, por meio deste instrumento obtivemos uma
padronização no manejo do cateter, direcionando a realização da técnica de forma
padronizada, contribuindo para a segurança e melhor assistência ao paciente portador
de CVC-TI.
O instrumento
elaborado teve como principal objetivo implementar o POP, com a finalidade de atender
a demanda local do serviço de oncologia, disponibilizando no ambulatório cópia impressa
e digitalizada para consulta rápida. Sua avaliação por um crivo capacitado contribuiu
para melhora da assistência e sua validação garantiu confiabilidade, clareza e objetividade
do conteúdo.
Conclui-se
que, apesar da validação pelo grupo de trabalho e da capacitação ofertada à equipe,
a prática no cotidiano é que irá mostrar se o instrumento foi adequado à realidade
deste serviço. Além disso, espera-se que pesquisas futuras sejam realizadas tanto
para atualização do protocolo como para medir o impacto sobre a segurança do paciente
e a melhoria da qualidade da assistência no respectivo serviço e, talvez, com abordagens
metodológicas diferentes.
Conflitos
de interesse
Não houve conflitos
de interesse.
Fontes de
financiamento
Não houve financiamento.
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Vorpagel K, Sangoi KCM; Coleta
de dados: Vorpagel K, Sangoi
KCM; Análise e interpretação dos dados: Vorpagel
K, Sangoi KCM; Análise estatística: Vorpagel K, Sangoi KCM; Redação
do manuscrito: Vorpagel K, Sangoi
KCM, Rodrigues FCP, Meneghete MC; Revisão crítica do
manuscrito quanto ao conteúdo: Vorpagel K, Sangoi KCM, Rodrigues FCP, Meneghete
MC.