Enferm Bras. 2023;22(1):51-63
ARTIGO ORIGINAL
Validação de instrumento
para o risco clínico de criança hospitalizada
Thalys Maynnard da
Costa Ferreira1, Ronny Anderson de Oliveira Cruz1, Wellyson Souza do Nascimento1, Josefa Danielma Lopes Ferreira1, Marta Miriam Lopes
Costa5, Kenya de Lima Silva1
1Universidade Federal da Paraíba, João
Pessoa, PB, Brasil
Correspondência: Ronny Anderson de Oliveira Cruz,
Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências da Saúde - Campus I,
Rodovia BR-230, Brisamar, João 58033455 Pessoa, PB
Como citar
Ferreira TMC, Cruz
RAO, Nascimento WS, Ferreira JDL, Costa MML, Silva KL. Validação de instrumento
para o risco clínico de criança hospitalizada. Enferm Bras. 2023;22(1):51-63. doi: 10.33233/eb.v22i1.5329
Resumo
Objetivo: Averiguar a validade clínica de um
instrumento para coleta de dados quanto à capacidade de mensurar as
necessidades humanas básicas através do risco clínico de crianças entre 0 e 5
anos hospitalizadas. Métodos: Estudo metodológico, com abordagem
quantitativa, realizado com 150 crianças em uma clínica pediátrica de um
hospital escola. Resultados: Confirmou-se a existência dos grupos de
baixo, médio e alto risco clínico. Quanto à diferenciação das crianças
inseridas nos respectivos grupos, apresentou-se um Tukey
test com escore total médio de 114,13 para alto
risco. Como produto da aplicação do modelo descritivo de classificação binária Weight of Evidence, verificou-se alteração prioritária das
necessidades de eliminação e nutrição. Após análise de agrupamento hierárquico,
consolidou-se a informação de que houve grande similaridade entre as
necessidades nutrição e hidratação, segurança e crescimento. Conclusão:
Clinicamente, o instrumento mostrou-se válido quanto à capacidade de mensurar
as alterações a partir do risco clínico.
Palavras-chave: criança hospitalizada; estudos de
validação; processo de enfermagem; Enfermagem.
Abstract
Validation of instrument for clinical risk to hospitalized child
Objective: To investigate clinical validity of an instrument
for data collection regarding the measuring capacity of basic human needs
through the clinical risk of hospitalized children between 0 to 5 years. Methods:
Methodological study, with a quantitative approach, carried out with 150
children in a pediatric clinic of a teaching hospital. Results: The
existence of low, medium and high clinical risk groups was confirmed. Regarding
the differentiation of children inserted in respective groups, it was presented
a Turkey Test with a medium total score of 114,13 for high risk. As a product
of the application of the descriptive model of binary classification, Weight of
Evidence, a priority change in the needs for elimination and nutrition was
verified. After analyzing a hierarchical grouping, it was consolidated that
there was great similarity between nutrition, hydration, security and growth
needs. Conclusion: Clinically, the instrument proved to be valid in
terms of capacity to measure changes based on clinical risk.
Keywords: child, hospitalized; validation studies; nursing
process; Nursing.
Resumen
Validación de instrumento por riesgo
clínico al niño hospitalizado
Objetivo: Investigar la
validez clínica de un instrumento de recolección de datos sobre la capacidad de medir las necesidades humanas básicas a
través del riesgo clínico
de niños hospitalizados de 0 a 5 años.
Métodos: Estudio metodológico, con abordaje cuantitativo,
realizado con 150 niños en una clínica pediátrica de un
hospital universitario. Resultados: Se confirmó la existencia
de grupos de riesgo clínico bajo, medio
y alto. En cuanto a la diferenciación de los niños en
los respectivos grupos, se presentó
una prueba de Tukey con una puntuación total media de 114,13 para alto riesgo.
Producto de la aplicación del modelo descriptivo de clasificación
binaria Peso de Evidencia, se produjo un cambio prioritario en las necesidades
de eliminación y nutrición.
Después de analizar una agrupación
jerárquica, se consolidó la información de que existía gran similitud
entre las necesidades de nutrición e hidratación, seguridad y crecimiento. Conclusión: Clínicamente, el instrumento demostró ser
válido en cuanto a su capacidad para medir cambios en función
del riesgo clínico.
Palabras-clave: niño hospitalizado; estudios de validación; proceso de enfermería; Enfermería.
Sistematizar
a assistência é a chave para a redução do impacto que o cuidar minucioso e
complexo da criança hospitalizada traz ao processo de trabalho dos
profissionais que atuam em pediatria hospitalar. Além disso, através do
Processo de Enfermagem (PE), o enfermeiro se torna o agente central do cuidado
direcionado e resolutivo, fundamentando cada etapa de sua atuação sob o saber
clínico e técnico-científico, desde o levantamento de dados pertinente ao
histórico de enfermagem, até a alta da criança após concluídas as etapas do PE
[1].
Ser capaz
de conduzir o trabalho por meio de ferramentas que tragam subsídios ao
profissional e sua equipe é um dos objetivos que configuram o trabalho do
enfermeiro como essencial na pediatria, tornando assim o uso de instrumentos
para o cuidar notoriamente necessário [2,3].
Contemplar
a condução diagnóstica do enfermeiro por intermédio do levantamento de
informações voltadas às características clínicas da criança hospitalizada,
fazendo com que se evidencie o risco inerente ao estado atual de saúde da
criança atendida e cuidada, torna-se uma nuance a ser discutida e trabalhada,
visando o alcance da associação efetiva entre a identificação da condição
clínica infantil e o estabelecimento do seu potencial risco. É conseguir aprimorar
o cuidar através de uma estratégia concisa, resolutiva e eficaz [2,3].
Para
tanto, a construção de instrumentos e a utilização de ferramentas válidas que
priorizem o cuidar assistencial têm se tornado alvo de pesquisas, sobretudo
aquelas que vislumbram oportunizar a aplicação das etapas do PE às crianças
hospitalizadas pelo adoecimento [4].
No que
tange à validação clínica de um instrumento, esta compreende a confirmação, no
ambiente clínico, dos indicadores empíricos de um instrumento, avaliados pelos
especialistas. Para a sua realização, é necessária a anamnese, para a coleta de
dados de natureza emocional, social e espiritual; e o exame físico, para os
dados de natureza fisiológica [5].
Logo,
buscando contribuir para um cuidado efetivo junto ao aprimoramento da atuação
do enfermeiro voltado ao raciocínio clínico e diagnóstico, preditivos para a
identificação do risco de saúde da criança hospitalizada, desenvolveu-se o
estudo em tela, baseando-se nas alterações das necessidades humanas básicas (NHBs) da criança, tendo em vista a ampliada compreensão do
quadro de saúde a partir delas, configuradas como essenciais para a
identificação das demandas da criança e, por sua vez, do seu risco.
Portanto,
o estudo teve como objetivo averiguar a validade clínica de um instrumento para
coleta de dados quanto à capacidade de mensurar as necessidades humanas básicas
através do risco clínico de crianças entre 0 a 5 anos hospitalizadas.
Trata-se
de um estudo metodológico, com abordagem quantitativa, desenvolvido nas
seguintes etapas: validação do conteúdo do instrumento de coleta de dados e
operacionalização da validação clínica do instrumento.
O
presente estudo foi desenvolvido em uma unidade de clínica pediátrica do Hospital
Universitário Lauro Wanderley, situado no município de João Pessoa/PB, no
período de janeiro a março de 2019. Fizeram parte crianças que se encontravam
em processo de admissão hospitalar, inseridas na faixa etária de 0-5 anos,
selecionados de forma não probabilística, por conveniência.
Para
determinar o tamanho amostral, levou-se em consideração o quantitativo de
crianças atendidas no serviço de clínica pediátrica em um período de um ano. A
partir disso, identificou-se um quantitativo populacional de 1463 crianças
atendidas durante o transcorrer de um ano, destas, 766 (52,3%) se configuraram
menores de 5 anos. Devido à demanda de crianças inclusas na faixa etária de 0 a
5 anos atendidas no referido serviço em um ano (766), consolidou-se uma população
de tamanho 192 (766/4) para coleta em quatro meses. Assim, para uma amostra de
150 crianças, atingiu-se uma fração amostral de 78,5%. O valor obtido no
cálculo de delineamento amostral foi de 148,68, adotando-se 150 pacientes,
alcançando-se uma confiança de 96% com erro de 4%.
Como
critérios de inclusão, assumiu-se: crianças em processo de admissão hospitalar
pelo enfermeiro (implementação do histórico de enfermagem); hospitalizadas na
clínica pediátrica; e como critérios de exclusão: crianças que excedessem 48
horas de hospitalização; crianças internadas para execução de tratamentos
pontuais com critério de alta após término (pulsoterapia);
ausentes da clínica pediátrica no momento da execução do estudo.
O
instrumento, base empírica para realização do estudo em tela, é composto por
duas partes que caracterizam a necessidade da coleta de dados proposta pela
primeira etapa do processo de enfermagem. Primeiro, registra-se as
características sociodemográficas e informações inerentes ao percurso hospitalar
da criança: diagnóstico médico, queixa principal e histórico de internações. Em
seguida, encontram-se as 16 variáveis representadas pelas NHBs,
em que é feito o registro do estado inicial de saúde da criança admitida no
setor de clínica pediátrica, por meio de sinais, sintomas e pareceres clínicos,
os quais são identificados e julgados pelo enfermeiro. O conteúdo clínico
inerente às necessidades/variáveis é apresentado de acordo com a teoria das
Necessidades Humanas Básicas proposta teórica de enfermagem Wanda Aguiar Horta.
O
seguimento ao processo de validação do instrumento respeitou as seguintes
etapas:
1ª etapa: validação do
conteúdo do instrumento de coleta de dados
O
instrumento foi submetido à validação com expertises na área de pediatria e
neonatologia, sendo selecionados sob os critérios de Ferhing
estabelecidos e adaptados a este estudo, posteriormente submetidos ao
processamento a partir das rodadas de retroalimentação da técnica Delphi [6,7].
Por sua
vez, sob o parecer dos 11 especialistas, buscou-se através de 3 rodadas de
envio e feedback entre juízes e o pesquisador, consolidar a concordância
relacionada às correções e sugestões acerca do instrumento no tocante ao
atendimento dos critérios de estruturação do conteúdo quanto à pertinência,
sequência de itens e características clínicas analisadas nos domínios do
instrumento. Além disso, objetivando unificar o julgamento dos escores
inerentes à gravidade clínica da criança frente às variáveis representadas
pelas NHBs no instrumento, os juízes se valeram da
nomenclatura de 0- Sem risco clínico; 1-Baixo risco clínico; 2- Risco clínico
moderado; 3- Alto risco clínico para que, após examinada a criança sob
aplicação do instrumento, o escore de risco fosse estabelecido com a soma dos
valores de cada variável, totalizando o escore geral.
As NHBs foram configuradas e quantificadas de acordo com cada
domínio que compõe o instrumento, levando a uma sistemática de estratificação
do risco clínico que a criança apresenta ao se inserir no ambiente hospitalar.
Para melhor análise e compreensão dos pareceres clínicos e, consequentemente,
quantificação e apreensão do quesito pertinente ao aspecto de mensurar que o
instrumento propõe, elencou-se a estratificação do risco clínico como base para
o transcorrer da validação clínica da ferramenta. Os especialistas realizaram a
apreciação de cada item (Necessidade Humana Básica) do instrumento com o
intuito de se alcançar a validação.
2ª etapa:
operacionalização da validação clínica do instrumento
O
instrumento estruturado já se mostrando válido, quanto ao conteúdo e portando
os indicadores de risco clínico assistencial da criança, foi aplicado por dois
enfermeiros especialistas em pediatria e neonatologia. A avaliação clínica
criteriosa da criança foi realizada através do exame físico e anamnese
pediátrica durante a admissão.
Na etapa
de validação do conteúdo, o instrumento foi quantificado frente à análise
crítica e clínica dos experts selecionados para a atividade estratificatória,
como descrito na etapa 1. Sendo assim, apresentou-se uma medida denominada
escore total (soma dos pesos atribuídos aos itens do instrumento) que, por sua
vez, representa a gravidade clínica do quadro de saúde apresentado pela
criança, obtido com a soma dos escores de cada dimensão inerente ao
instrumento, que se buscou ser validado.
Logo, ao
aplicar o instrumento, somou-se a pontuação obtida em cada dimensão com os
respectivos pesos atribuídos a cada item e, esta soma, conflui no resultado
pertinente ao escore total obtido pela criança examinada durante o histórico de
enfermagem. Compreende-se então que quanto maior o escore total mais
representatividade de um índice com maior gravidade no estado clínico da
criança se evidencia.
Para
classificação do referido risco, o escore total foi dividido em três
categorias. A primeira foi representada pelos 25% menores escores totais
(escores abaixo do quartil 1), a qual corrobora o menor risco de saúde, seguida
do segundo grupo em que os escores totais situam-se entre o quartil 1 e o
quartil 3 (50%), configurando um médio risco de saúde e, o terceiro grupo,
caracterizado por possuírem os 25% maiores escores totais (maiores do que o
quartil 3), representados por um quadro de saúde mais grave.
Estes
grupos foram denominados de Risco Baixo, Médio e Elevado de acordo com o
fracionamento dos quartis e as características do perfil numérico inerente a
cada um deles em consonância com o risco da criança atendida.
Os dados
clínicos foram tabulados, exportados ao software Statistical
Package Science Social (SPSS), versão 20.0 e
processados pela análise estatística. Para isso, utilizou-se a análise de
variância seguida do teste de K-means (Cluster Analysis) como método de agrupamento e o Tukey Test, bem como o modelo descritivo de classificação
binária sob o Weight of Evidence (WoE) e análise de
agrupamento (AA) para confirmação validatória [8].
O estudo
considerou os preceitos éticos das normas nacionais e internacionais de ética
em pesquisa envolvendo seres humanos, sendo aprovado sob parecer
consubstanciado n° CAAE 76649517.3.0000.5183.
Para a
construção do percurso validatório, no tocante à
validação do conteúdo do instrumento realizada previamente à validação clínica,
alcançou-se um consenso quantificado entre 80% e 95% dos juízes, contemplando
pertinência do Conteúdo, Sequência Adequada e Estratificação do Risco Clínico
inerente às variáveis e os respectivos itens de cada uma delas, levando em
consideração o valor de 75% como critério mínimo para concordância entre juízes
[9]. Calculou-se o índice de validade do conteúdo (IVC) e Kappa (K) para cada
variável do instrumento e, o IVC/Kappa geral, sendo estes últimos evidenciados
pelos valores de 0,94 e 0,71, julgados satisfatórios substancialmente, levando
em consideração a referência de ≥ 0,75 e ≥ 0,61 para conteúdo e
concordância válidos [10].
A escolha
dos grupos de Risco Baixo, Médio e Elevado, mencionados no método do estudo em
tela, pode ser confirmada como uma classificação aceitável que discrimina o
estado de saúde em três categorias, discriminação que é confirmada com a
aplicação do método de agrupamento (Cluster Analysis)
K-means, cujo resultado mostra de forma significativa
a existência de três grupos (valor-p < 0,001), conforme descrito no quadro 1.
Quadro 1 – Distribuição e comprovação da
distinção dos grupos enquanto estratificação da classificação do risco clínico
pediátrico da criança examinada. João Pessoa, PB, Brasil, 2020
Fonte:
Elaborado pelo autor, 2020.
Após a
aplicabilidade da Análise de Variância (ANOVA) para determinar se os três
grupos de risco clínico (elevado, médio e baixo), determinados sob avaliação
dos critérios de avaliação da criança submetida ao exame, apresentam diferenças
significativas, obteve-se como resultado os dados descritos na Figura 1, onde
os grupos criados pela análise apresentam diferença significativa, pois o
p-valor é < 0,005, constatando-se inferencialmente
que estes três grupos são distintos como forma classificadora do grau de risco
da saúde da criança atendida pelo enfermeiro durante o levantamento de dados no
histórico, atividade inerente à aplicação do instrumento.
A Figura
1 é a demonstração do produto da aplicação do modelo descritivo de
classificação binária WoE que, por sua vez, calcula
para cada variável independente (necessidade humana básica) sua influência
sobre o desfecho Risco Elevado. Para a aplicação deste modelo, o risco foi
dicotomizado em Risco Elevado e Baixo, sendo este último o que contempla as
categorias Baixo e Médio.
Fonte:
Elaborado pelo autor, 2020.
Figura 1 – Estado clínico de saúde da criança
e as necessidades humanas básicas. João Pessoa, PB, Brasil, 2020
No que
diz respeito à alteração clínica da criança submetida à anamnese e exame físico
para levantamento de dados durante a aplicação do histórico enfermagem,
consequentemente aumento do risco em seu estado de saúde, em ordem de
importância de acordo com o maior valor informativo (0,0–1,5) foram Eliminação
e Nutrição, classificadas como influência extremamente forte; Crescimento,
Oxigenação, Segurança, Integridade da Pele, Regulação neurológica, foram
classificadas como influência muito forte; Hidratação, como influência forte e,
a necessidade de Percepção e Regulação térmica, como influência fraca (Figura
1).
A Figura
2 apresenta o dendrograma (diagrama de árvore) de uma Análise de Agrupamento
Hierárquico (Cluster Analysis) com o método da
Ligação Média (Avarage Linkage)
e medida de distância euclidiana. Tal análise foi realizada com o objetivo de
demonstrar a correlação da capacidade mensuratória do
instrumento e o que se propõe analisar a partir de sua implementação
(alterações nas NHBs da criança
Fonte:
Elaborado pelo autor, 2020
Figura 2 – Agrupamento das necessidades
humanas básicas conforme alteração hierárquica. João Pessoa, PB, Brasil, 2020
O
dendrograma evidencia o agrupamento de informações clínicas levantadas a partir
da interpretação das alterações evidenciadas nas crianças, que compuseram a
amostra, sob estratificação dos agravos clínicos destas, demonstrados pela
quantificação dos escores.
Evidenciou-se
que as necessidades se alteram sob importância clínica e demanda das crianças,
independente do grupo (risco baixo ou elevado) ao qual elas pertençam, porém o
que as tornam distintas são as respectivas gravidades delimitadas pelo risco
clínico de cada grupo, fator visto por exemplo na necessidade de eliminação,
encontrada alterada em ambos, porém com características de gravidade distintas.
Após a
análise subsidiada pelo risco clínico das crianças submetidas ao processo de
hospitalização, verificou-se que as demandas relacionadas à necessidade de
eliminação prejudicada foram consideráveis, tendo em vista os itens que o
instrumento possui e, consequentemente, analisa dentro da necessidade
eliminação.
Alterações
gastrointestinais são corriqueiras nas crianças, principalmente na primeira e
segunda infância, em decorrência de fatores como o processo incompleto de
formação da microbiota intestinal e exposição a agentes diarreicos e
inflamatórios da mucosa intestinal e gástrica, culminando em doenças
gastrointestinais que levam a criança à hospitalização. Para o público
pediátrico que enfrenta a hospitalização em busca de tratar afecções
gastrointestinais, principalmente no que concerne às infecções intestinais,
gastroenterocolites agudas e alterações propriamente ditas alternativas a
procedimentos enterorráficos (fechamento de
ostomias), característico de crianças que possuem comorbidades crônicas, é
comum alterar a necessidade de eliminação [11].
Além
disso, doenças do trato urinário, como
infecções urinárias de repetição e
glomerulonefrite
difusa aguda são apontadas como fatores que levam a
alteração da necessidade
eliminação tão evidentemente demonstrada. Os
distúrbios hidroeletrolíticos (DHEs) contribuem também para o aumento do quadro de
necessidade eliminatória em pediatria, valendo ressaltar a presença destes no
grupo de crianças avaliadas com o histórico de enfermagem em estudo [12].
Com a
perda volêmica, conteúdo intestinal e até mesmo gástrico, a criança fica
propensa à perda efetiva de nutrientes e, em casos graves, pode alcançar
quadros de desnutrição. As necessidades humanas de eliminação e nutrição se
inter-relacionam fortemente, principalmente no que diz respeito à mensuração de
fatores que levam a criança a apresentar tais alterações, objeto de busca do instrumento
em pesquisa. A aceitação alimentar, sua via de administração bem como seu
estado geral nutricional levantam informações reais necessárias ao enfermeiro
para o seu julgamento clínico sobre o quadro nutricional e de doença da criança
tornando o instrumento efetivo em seu atributo [13].
A
influência muito forte das necessidades de crescimento, oxigenação, segurança,
integridade física e cutaneomucosa e regulação neurológica, evidenciam-se na
representação devido à grande contribuição biológica e decisória ao quadro de
saúde da criança. Diante do que se avalia no instrumento, a aplicabilidade
deste em um público de crianças atendidas em clínica pediátrica condiz com as
alterações físicas inerentes aos domínios clínicos das necessidades.
A necessidade
de regulação do crescimento celular, em pediatria, contempla as alterações
relacionadas aos eventos dos marcos do desenvolvimento e crescimento, sendo
assim identificados de forma cautelosa durante a hospitalização quando
alterados, não alcançados, pela criança inserida no ambiente de clínica. Além
disso, explica-se a necessidade de segurança, amor e gregária, associada à
necessidade de regulação do crescimento e desenvolvimento, dentro do mesmo
espectro de importância clínica, pelo fato da impetração de reconhecimento
psicossocial e emotivo da criança no transcorrer da sua maturação neuronal e
cognitiva, adquirindo o discernimento sobre o que a cerca e, assim, permitindo
a expressão durante o exame clínico do enfermeiro dos fatores psicoemocionais
inseridos no instrumento (ansiedade, irritabilidade, apatia, agressão, medo,
expressão de sentimentos por outras pessoas, agarra-se ao acompanhante na
presença de outras pessoas), a fim de identificá-los e registrá-los mediante
análise do profissional [14].
No que
tange à oxigenação, o risco de vida é considerado iminente quando se instalam
afecções respiratórias em uma criança de 0 a 5 anos, tornando a oxigenação em
pediatria clínica algo vital, sendo o enfermeiro responsável pela condução e
estabelecimento de cuidados respiratórios em quadros de importante alteração
desta necessidade. Sob a perspectiva de implementação do instrumento, avaliar
sinais preditivos de sofrimento respiratório como conduta em anamnese clínica
de enfermagem para a tomada de decisão é primordial para o cuidado, pois
modifica a situação de agravo da criança e atua sob a perspectiva de reversão
oportuna do quadro crítico de oxigenação quando instalado [15].
Já no que
concerne à necessidade de integridade física e cutaneomucosa, o rastreio das
condições da pele e suas afecções em pediatria leva o instrumento a possuir
alto valor clínico, tendo em vista que os itens que o compõem levam à
identificação precisa das alterações tópicas da criança, facilitando o trabalho
clínico do enfermeiro enquanto agente identificador de indicadores clínicos que
levam ao diagnóstico de enfermagem e suas respectivas intervenções [16].
A
necessidade de regulação neurológica tem efetiva contribuição em crianças com
doenças crônicas, objeto de cuidado intrínseco à aplicabilidade do instrumento
em clínica pediátrica. Ter um instrumento que contempla uma avaliação do estado
geral de consciência, bem como alberga as minuciosidades pertinentes ao exame
neurológico infantil, fatores neuromotores afetados
pela cronicidade das doenças degenerativas, reflexos primitivos, histórico de
afecções convulsivas e compatibilidade do estado neurológico à idade de etapa
do desenvolvimento atual, torna essencial e comprovada a pertinência dessa
necessidade no estudo [17].
A
necessidade de hidratação, regulação
hídrica e eletrolítica se apresentou como
fator de influência forte, deixando clara a evidência de
que as ações de
caráter clínico de enfermagem, no histórico,
são pertinentes no que diz
respeito à detecção do estado inicial de
hidratação da criança, mensuração do
risco quanto à perda hídrica e à demanda de
reposição de substâncias
hidroeletrolíticas, tendo em vista a depreciação
do quantitativo de eletrólitos
e líquidos a cada afecção detectada durante a
hospitalização que leva ao
estabelecimento do quadro hídrico prejudicado [18].
Observa-se
que, tanto na Figura (2a) como em (2b), a necessidade de Eliminação se
distingue das demais, fato já verificado na Figura 1. Há grande similaridade
entre as necessidades Nutrição e Hidratação, como também entre as necessidades
Segurança e Crescimento. Além disso, a necessidade de oxigenação apresenta-se
dentro dos dois grupos dicotomizados, enfatizando sua grande demanda clínica e
importância analítica frente ao público pediátrico. Portanto, mesmo que os
pacientes sejam classificados em grupos de risco elevado e baixo, comprovou-se
que a hierarquia de suas necessidades é similar, sendo provável que a diferença
é a gravidade de seu quadro clínico, fator este que demarca enfaticamente a
importância da delimitação do risco clínico da criança durante o processo de
análise do enfermeiro de suas demandas de saúde, através da expressão das
necessidades.
No que
concerne à criança, autores demonstram a evidência de que as alterações
clínicas podem ser mensuradas conforme estratificação de valores e a predição
de tomadas de decisão sob julgamentos frente à aplicabilidade do uso de
ferramentas durante a assistência de enfermagem, levando a melhorias no cuidado
e precisão na medida do atributo o qual o instrumento propõe medir [18,19].
Apresenta-se
como limitação do estudo o desenvolvimento do processo de validação clínica em
apenas um cenário de pesquisa, havendo abertura para que os resultados se
concentrem e traduzam apenas uma realidade, distanciando de outras
instituições.
Diante
destas considerações, explicita-se que o instrumento se mostra válido para a
avaliação clínica não somente das crianças-alvo, mas também das que serão
avaliadas por este instrumento na aplicabilidade clínica do enfermeiro. Desta
forma, vale ressaltar que se cumpriu o objetivo de estabelecer uma forma de,
utilizando o instrumento para levantamento de dados clínicos da criança
hospitalizada, cumprir o requisito da primeira etapa do processo de enfermagem
(coleta de dados), além de detectar o risco da gravidade do quadro de saúde da
criança, comprovando a capacidade de mensurar o fator clínico que se propõe
avaliar com o instrumento em questão a partir da evidente estratificação
estabelecida.
Conflitos
de interesse
Não há
conflitos de interesse.
Fontes
de financiamento
Não houve
fonte de financiamento.
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa: Ferreira TMC, Costa MML, Silva KL; Coleta de dados:
Ferreira TMC; Análise e interpretação dos dados: Ferreira TMC, Costa MML, Silva
KL; Análise estatística: Ferreira TMC; Redação do manuscrito: Ferreira TMC,
Cruz RAO, Nascimento WS, Ferreira JDL; Revisão crítica do manuscrito quanto ao
conteúdo intelectual importante: Ferreira TMC, Costa MML, Cruz RAO, Nascimento
WS, Ferreira JDL