Enferm Bras.
2023;22(5):547-63
ARTIGO
ORIGINAL
Religiosidade
e espiritualidade na percepção de estudantes de graduação em Enfermagem
Karina
Brandão Menezes Lima1, Keila Cristina Pereira do Nascimento Oliveira2,
Josemir de Almeida Lima3, Jackeline Oliveira Costa Tenório1,
Wilma de Araújo Nascimento Barros2, Eliza Vitória Nascimento
Figueredo2, Islla Pimentel de Souza2
1Centro Universitário Tiradentes em
Alagoas, Maceió, AL, Brasil
2Universidade Federal de Alagoas, Maceió,
AL, Brasil
3Centro
Universitário
CESMAC e UNCISAL, Maceió, AL, Brasil
Recebido
em: 30 de novembro de 2022; Aceito em: 12 de agosto de 2023.
Correspondência: Eliza Vitória Nascimento Figueredo,
eliza.figueredo@eenf.ufal.br
Como citar
Lima KBM, Oliveira
KCPN, Lima JA, Tenório JOC, Barros WAN, Figueredo EVN, Souza IP. Religiosidade
e espiritualidade na percepção de estudantes de graduação em Enfermagem. Enferm Bras. 2023;22(5):547-63. doi: 10.33233/eb.v22i5.5348
Resumo
Introdução: A espiritualidade e a religiosidade
são distintas dimensões do ser humano que podem impactar na assistência de
enfermagem, proporcionando bem-estar físico, melhora no relacionamento
interpessoal e qualidade de vida. Objetivo: Analisar a percepção dos
estudantes de Enfermagem de um Centro Universitário privado de Alagoas- Brasil
acerca da Religiosidade/Espiritualidade no contexto do curso de graduação e da
prática clínica. Métodos: estudo de campo, descritivo, exploratório,
transversal de abordagem quantitativa. O instrumento foi um questionário
validado, com questões semiestruturadas, auto aplicadas em 220 estudantes do
curso de enfermagem. A coleta foi realizada em dezembro de 2018. Os dados
coletados foram armazenados, tabulados e analisados através do programa Bioestat versão 5.4. Resultados: o sexo feminino foi
predominante (80%); residentes em Maceió (57,7%) e predominantemente católicos
(63,00%). Sobre a percepção acerca da religiosidade/espiritualidade: maioria
afirma que o tema é abordado deficientemente e pouco preparo para incluí-lo na
prática clínica. Conclusão: O curso investigado não estimula o acesso à
temática, a mudança de abordagem possibilita a inclusão na prática clínica.
Palavras-chave: espiritualidade; religião; curriculum;
estudantes de enfermagem.
Abstract
Religiosity and spirituality in the perception of
undergraduate nursing students
Introduction: Spirituality
and religiosity are distinct dimensions of the human being and can impact on
nursing care, providing physical well-being, improvement in interpersonal
relationships and quality of life of the people served. Objective: To
analyze the knowledge and attitudes of Nursing students from a private
University Center in Alagoas-Brazil about the approach to
Religiosity/Spirituality in the context of the course and clinical practice. Methods:
field study, descriptive, exploratory, transversal with a quantitative
approach. The instrument was a validated questionnaire, with semi-structured
questions, self-administered to 220 nursing students. The collection was
carried out in December 2018. The collected data were stored, tabulated and analyzed
using the Bioestat program version 5.4. Results:
The female sex was predominant (80%); residents in Maceió
(57.7%) and predominantly Catholics (63.00%). Regarding the perception of
religiosity/spirituality: most say that the topic is poorly addressed. However,
they report little preparation to include it in clinical practice. Conclusion:
The investigated course does not encourage access to the theme; the change in
approach enables inclusion in clinical practice.
Keywords: spirituality; religion; curriculum;
nursing students.
Resumen
Religiosidad y espiritualidad
en la percepción
de estudiantes de pregrado en enfermería
Introducción: La espiritualidad
y la religiosidad son diferentes dimensiones del
ser humano que pueden impactar los
cuidados de enfermería, brindando bienestar
físico, mejorando las
relaciones interpersonales y la
calidad de vida. Objetivo: Analizar
la percepción de estudiantes de Enfermería de un Centro Universitario privado
de Alagoas-Brasil sobre Religiosidad/Espiritualidad en el contexto de la carrera de pregrado y de la práctica clínica. Métodos:
Estudio de campo, descriptivo,
exploratorio, transversal con
enfoque cuantitativo. El instrumento fue un cuestionario
validado, con preguntas semiestructuradas,
autoadministrado a 220 estudiantes
de enfermería. La recolección
se realizó en diciembre de 2018. Los datos recolectados fueron almacenados, tabulados y analizados
mediante el programa Bioestat
versión 5.4. Resultados: Predominaron
las mujeres (80%);
residentes en Maceió (57,7%) y predominantemente
católicos (63,00%). En cuanto
a la percepción de religiosidad/espiritualidad: la mayoría afirma que el tema está mal abordado y hay poca preparación para incluirlo en la
práctica clínica. Conclusión:
El curso investigado no favorece el acceso al tema, el cambio de
enfoque posibilita su inclusión en la
práctica clínica.
Palabras-clave: espiritualidad; religión; plan de estudios; estudiantes de enfermería.
Nas
últimas décadas, observa-se um movimento importante de pesquisadores nas áreas
da psicologia, educação, sociologia, gestão e saúde realizando estudos acerca
da influência da religiosidade e espiritualidade na vida das pessoas. A maioria
desses estudos demonstra que o envolvimento religioso e espiritual proporciona
melhores índices de saúde, qualidade de vida, longevidade, assim como menor
depressão e comportamento suicida [1].
O
significado da religiosidade/espiritualidade(R/E) na saúde das pessoas pode ser
evidenciado através de expressões ou algumas respostas dadas pelas pessoas,
quando indagadas acerca do seu estado de saúde, pois geralmente colocam Deus no
centro das respostas, tais como: “Acredito que Deus vai me curar!” Ou “Vou
melhorar com ajuda de Deus!”. Instituições religiosas têm crescido nos últimos
anos e, com isso, oferecem tratamentos espirituais para as necessidades físicas
das pessoas, o que corrobora para as afirmações anteriores [2].
E,
partindo do princípio de que a R/E é uma importante dimensão do ser humano, ela
deve ser incluída nos planos de cuidados elaborados para os pacientes pela
equipe de saúde, pois, de acordo com estudo realizado por Zandavalli
et al. [3], a maioria dos entrevistados concordaram e acham importante a
realização de questionamentos sobre sua religiosidade e espiritualidade por
parte de profissionais de saúde em um atendimento, entretanto, na prática
clínica poucos fazem isso.
É
importante ressaltar que a espiritualidade e a religião são conceitos/dimensões
distintas e, apesar de interrelacionadas, não são dependentes uma da outra. A
espiritualidade pode ser compreendida como a procura para entender dúvidas
relacionadas à terminalidade humana conferindo ao indivíduo valores, condutas e
costumes e, na maioria das vezes, está ligado à religiosidade. Já a
religiosidade, é como o indivíduo crê, acompanha e coloca em prática
determinada religião [4].
Diversos
estudos têm apontado um impacto positivo da crença religiosa e ou da
espiritualidade individual diante de várias situações enfrentadas ao longo da
vida, tais como o adoecimento e da possibilidade da morte [5,6].
Depreende-se,
portanto, que quanto maior o envolvimento com práticas religiosas e
espiritualidade, maior a preocupação com comportamentos saudáveis e qualidade
de vida e maior o autocuidado com a saúde [5,6]. Portanto, a espiritualidade é
concebida como uma necessidade pessoal de pacientes e familiares e auxilia no
enfrentamento das dificuldades, relacionadas principalmente a situações-limite,
como o fim da vida, podendo nesse sentido, ser entendida como uma fonte de
suporte, esperança, cura ou de superação do sofrimento [7].
Na
área de enfermagem, as instituições de ensino superior têm abordado cada vez
maior a pluralidade de abordagens e o resgate do cuidado humano, ao inserir nos
seus currículos, as práticas complementares e as terapias holísticas.
Entretanto, os cuidados espirituais ainda não foram contemplados de forma
adequada. Isso pode estar associado ao fato que a abordagem dessa temática
ainda é incipiente e envolta por polêmicas, porém, aos poucos ela ganha espaço
e um número cada vez maior de pesquisadores começam a perceber como é importante
incluir em seus planos de cuidados a abordagem da espiritualidade e desta forma
valorizar as necessidades espirituais como parte importante da assistência [8].
A
espiritualidade e a religiosidade como uma importante dimensão do ser humano
podem impactar na assistência prestada aos clientes à medida que pode
proporcionar bem-estar físico, melhorar relacionamento interpessoal e qualidade
de vida dos indivíduos e, portanto, merece ser melhor investigada [9]. Contudo,
são escassos os estudos acerca de como essa temática é abordada durante a
formação dos alunos do curso de Enfermagem no Brasil [4,9].
Assim,
partindo do pressuposto de que a R/E é uma importante dimensão do ser humano e
que interfere em vários aspectos de sua vida e, em especial, a sua saúde e que
por esse motivo não deve ser ignorada durante a formação dos estudantes do
curso de Enfermagem, torna-se relevante responder a seguinte questão norteadora
do presente estudo: qual a percepção dos estudantes de Enfermagem frente a
abordagem da Religiosidade/ Espiritualidade no contexto do curso de graduação e
da prática clínica?
A
formação do estudante é, provavelmente, um dos momentos mais importantes na sua
carreira futura e o modo como a religiosidade/ espiritualidade é abordada pelos
docentes e percebida pelos alunos pode levar a maior compreensão dessa dimensão
e, consequentemente, facilitar a sua aplicação na prática clínica.
É
nesse sentido que o presente estudo pretende contribuir para a reflexão de como
os alunos percebem este tema, identificando dificuldades e, consequentemente, a
proposição de ações ou estratégias que possibilitem tanto aos docentes quanto
aos estudantes entender a dimensão R/E, e o impacto na saúde das pessoas em
sofrimento físico e mental.
Face
ao exposto, o objetivo do presente estudo foi analisar os conhecimentos e
atitudes dos estudantes de enfermagem de um Centro Universitário privado de
Alagoas/Brasil acerca da abordagem da Religiosidade/ Espiritualidade no
contexto do curso e da prática clínica.
Trata-se
de um estudo de campo, descritivo, exploratório, transversal e com abordagem
quantitativa, recorte da dissertação “A interface entre
religiosidade/espiritualidade e a saúde: conhecimentos e atitudes dos alunos do
curso de enfermagem”. O local da pesquisa foi o Centro Universitário CESMAC,
localizado em Maceió, Alagoas.
Baseada
na população específica, que totalizava 480 graduandos, matriculados no curso
de bacharelado em enfermagem do CESMAC, foi estabelecido a amostra viável,
considerando o nível de confiança de 95 %, erro amostral (5 %), percentual
mínimo de 50 % [10], e estabelecido a amostra necessária de 220 estudantes de
enfermagem, dos quais foram divididos em 10 turmas, o que correspondeu a 22
estudantes, selecionados aleatoriamente por turma, durante o período letivo de
2018.
Foram
incluídos estudantes de enfermagem de todos os períodos (1º ao 10º), de acordo
com o quantitativo amostral pré-estabelecido na amostra e, que de forma
espontânea, desejaram fazer parte do estudo, assinando o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE). Os critérios de exclusão definidos foram:
estudantes de enfermagem ausentes por licenças diversas, trancamento de
matrícula ou ausentes no momento da aplicação do questionário.
Os
princípios éticos que norteiam a pesquisa científica foram considerados e
respeitados no presente estudo, de tal forma, que ela só foi iniciada após o
parecer de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do CESMAC (Processo nº
2122.182.2010) e, em conformidade, com o que orienta as diretrizes contidas na
Resolução do Conselho Nacional de Saúde brasileiro (CNS) 466/12 e 510/16.
A
coleta dos dados foi realizada durante o segundo semestre de 2018, no mês de
dezembro. Para coleta de dados foi utilizado um questionário validado, adaptado
pelos autores, de um estudo multicêntrico realizado por Borges et al.
[11] envolvendo acadêmicos de medicina de diversas instituições de ensino
superior do Brasil e coordenado pela Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF). Este questionário é constituído por 43 questões que contemplam aspectos
sociodemográficos, religiosidade/espiritualidade, crenças sobre a religiosidade
e espiritualidade dos estudantes de enfermagem analisado nesta investigação
científica e que concedia ao participante do estudo a opção de não responder
qualquer pergunta que não quisesse.
Quanto
aos dados sociodemográficos foram incluídas as seguintes variáveis analisadas:
procedência (local de origem), idade, sexo, autorrelato
de referência à cor da pele, estado civil, condição financeira própria e da
família e filiação religiosa.
Os
dados coletados foram armazenados, tabulados e analisados através do programa Bioestat versão 5.4 através do qual foram calculadas
medidas de prevalência e frequências que apontaram para o perfil, as concepções
de espiritualidade e religiosidade e a formação acadêmica dos sujeitos
participantes.
Os
dados dessa análise foram apresentados de modo descritivo e textualmente por
meio da interpretação dos resultados apresentados. As respostas das questões
abertas foram categorizadas por afinidade e similaridade em categorias,
apresentadas em quadros e tabelas.
Foram
investigados 220 estudantes do curso de Enfermagem, dos quais a maioria são do
sexo feminino, o que mostra ainda a forte presença feminina no curso. O
percentual encontrado em relação a essa variável foi de (80,00%) para as
mulheres contra (20,00%) de homens fazendo o curso (figura 1). Esses dados
também evidenciam uma maior presença masculina no curso quando comparado às
outras décadas, pois, de acordo com dados de um estudo realizado por Valencia-Contrera et al. [12], a média do percentual de
homens no curso entre as décadas de 40 e 90 era de apenas (2,37%). A média de
idade foi de 23 anos. As características sociodemográficas dos alunos
investigados são apresentadas na figura 1.
Fonte:
Elaborado pelos autores (2022)
Figura
1 – Gráfico
correspondente às características sociodemográficas dos alunos de um curso de
enfermagem
Quanto
à sua procedência, cerca de (57,70%) reside na cidade de Maceió e os demais
moram no interior de Alagoas (figura 1). Entretanto, acreditamos que com a
interiorização dos cursos esse fenômeno de deslocamento de estudantes de
enfermagem do interior para a capital tende a diminuir, pois o curso de
graduação em enfermagem tem sido ofertado em várias cidades de Alagoas e não
apenas na capital deste estado.
A
interiorização dos cursos faz parte de uma política adotada tanto pelas
instituições públicas quanto privadas em ampliar vagas no ensino superior em
regiões distantes das capitais e dos grandes centros urbanos com a criação de
novas instituições de ensino superior (IES). Essa política é importante porque
além de ampliar o número de vagas também diminui gastos públicos, pois o
transporte de grande parte desses estudantes é realizado pelo município de
origem.
A
maioria (76,82%) dos estudantes participantes do estudo são solteiros e (48,56
%) deles afirmaram que trabalham. Quanto à renda familiar, os dados
evidenciaram que um percentual relativamente alto em torno de (43, 97%) dos
estudantes está dentro de faixa considerada baixa renda, pois ganham entre 1 e
3 salários-mínimos.
Na
época da coleta (2018) o salário-mínimo era de 954,00 (novecentos e cinquenta e
quatro reais (figura 1). Portanto, observa-se um aumento do acesso de classes
sociais mais baixas no ensino superior, já que esses estudantes estão fazendo o
curso em uma instituição privada em que só a mensalidade do curso é de quase 1
salário-mínimo. Esse fato indica que esses estudantes provavelmente fazem parte
de algum programa de bolsas do governo, como o Fundo de Financiamento ao
Estudante de Ensino Superior (FIES).
Quanto
à raça/cor, um maior percentual (51,36%) afirmou ser parda, (27,27%) branca e
(21,36%) preta. Quanto à afiliação religiosa, 63 % declaram-se católicos,
evangélicos (22,00 %), espírita (2,5%), candomblé/umbanda (1%) e outras, 0,5 %.
E, cerca de 11,00 % afirmaram não pertencer a nenhuma religião. Portanto, mais
de 89,00% possuíam algum tipo de afiliação religiosa, o que denota um
percentual alto das pessoas entrevistadas com religião declarada, dados que
corroboram recente pesquisa publicada pela Global Religion
(2023), na qual 89 % dos brasileiros declararam algum tipo de religião [13].
Religiosidade/espiritualidade
com as pessoas em processo de adoecimento, no contexto da prática clínica
Os
resultados relacionados à prática clínica são apresentados na tabela I e eles
demonstraram que mais de (70,00 %) dos estudantes investigados consideram
pertinente abordar aspectos religiosos/espirituais com os pacientes. Esses
achados indicam que a maioria acredita que a temática é importante e deve ser
abordada com os pacientes.
Quando
perguntados se sentem-se à vontade para abordar o tema
R/E com os pacientes, quase a metade (48,05%) afirma que sim, entretanto,
(41,42 %) deles não se sente à vontade para abordá-lo com os pacientes.
Quando
perguntados se estão preparados para abordar, (57,41%) responderam estar pouco
preparados, o que provavelmente deve-se ao fato de o tema ser pouco abordado
durante a sua formação. Quanto ao que desencoraja abordar o tema, as respostas
mais frequentes foram: medo de impor suas crenças (47,91%), falta de
treinamento (16,68%), falta de conhecimento (7,29%) e desconforto com o tema
(6,25%). Os resultados obtidos foram muito semelhantes ao encontrado por Jacob
[14] e Borges et al. [15], que também apontaram o medo de impor crenças
religiosas e espirituais como o motivo mais importante.
As
informações escassas e imprecisas sobre R/E durante a formação acadêmica
resultam como um fator negativo, pois, quando os estudantes de enfermagem,
durante a prática assistencial é abordado pelo paciente e pela família para
tratar sobre esta temática a maioria deles não sabem como atender adequadamente
seus pacientes, sendo importante criar espaços para o debate e abordagem dessa
temática, em qualquer área da saúde, e incentivar pesquisas ainda durante a
vivência acadêmica [16]. Portanto, o ensino na área de enfermagem deve preparar
os estudantes para que, ao prestar o cuidado, considerem o ser humano na sua
totalidade, respeitando e investindo em todas as suas dimensões: física,
intelectual, emocional e espiritual.
Esses
resultados corroboram o que foi colocado como pressuposto no presente estudo
que a maioria dos estudantes conhecem pouco a temática R/E e
se consideram despreparados para abordá-la com os pacientes sob seus cuidados,
mas que gostariam de se aprofundar mais sobre o tema e de serem melhor
preparados.
Tabela
I - Conhecimentos e
atitudes dos estudantes de Enfermagem frente à abordagem da
religiosidade/espiritualidade com os pacientes, Brasil, 2022
Fonte:
Elaborado pelos autores (2022)
Na
Tabela II são apresentadas as Categorias Temáticas (CT) que foram extraídas das
respostas provenientes da questão “quais as barreiras ou dificuldades que você
tem para aplicar a espiritualidade durante aulas práticas de enfermagem?”.
Tabela
II - Principais
barreiras dos estudantes de enfermagem para aplicar a espiritualidade no
contexto prático de enfermagem, Brasil, 2022
Fonte:
Elaborado pelos autores (2022)
Face
ao exposto, as duas maiores barreiras para aplicar a R/E aos pacientes foram:
Diferenças de pensamentos e crenças (23,40%) e conhecimento deficiente (11,70%)
(Tabela II).
Para
a atenção em saúde oferecida às pessoas em processo de adoecimento deve-se
considerar além do contexto socioeconômico, o religioso e espiritual. E nesse
sentido, os profissionais de saúde devem respeitar a diversidade cultural para
fornecer cuidados centrados na pessoa de forma holística, compreendendo a
história de vida de cada indivíduo, integrando as suas necessidades religiosas
e espirituais nos cuidados prestados [17,18].
O
conceito ampliado de saúde, em seu sentido mais abrangente,
é resultante das
condições de alimentação,
habitação, educação, renda, meio ambiente,
trabalho,
transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso
a
serviços de saúde. E é nesse contexto que a R/E
está inserida. Desse modo,
pode-se inferir que a saúde não é um conceito
abstrato, e, sim um direito, pois
define-se em um contexto histórico de uma determinada sociedade
e num dado
momento de seu desenvolvimento, devendo ser conquistada pela
população em suas
lutas cotidianas [19].
Religiosidade/espiritualidade
e a formação dos estudantes de graduação em Enfermagem
A
tabela III apresenta os resultados das respostas dos estudantes de enfermagem
em relação à questão: como você avalia a forma como o tema
religiosidade/espiritualidade e saúde tem sido abordada durante a sua formação
universitária? (33,33 %) afirmaram que o tema nunca foi abordado, (34,56 %) que
foi muito pouco abordado e (32,09 %) que raramente o tema foi abordado. Esses
resultados mostram que existe uma deficiência muito significativa na abordagem
do tema.
Podemos
dizer que o resultado é semelhante ao de outras pesquisas realizadas no Brasil
envolvendo estudantes da área de saúde, tais como os realizados por Jacob et
al. [14] com estudantes de Medicina em que mais de (90%) deles disseram que
a universidade não fornecia informações suficientes para o aluno sobre
espiritualidade e religiosidade.
Tabela
III - Respostas dos
estudantes de enfermagem quanto a abordagem da religiosidade/espiritualidade
durante a sua formação, Brasil, 2022
Fonte:
Elaborado pelos autores (2022)
Quando
questionados se os estudantes já participaram de algum curso ou atualização
oferecido por sua universidade abordando temas que envolvem saúde e
espiritualidade: (98,50 %) afirmaram que não. (Tabela IV). Esses resultados
mostram que o tema não é valorizado ou seus integrantes e gestores não foram
ainda despertados para a importância do tema na formação e na prática clínica
da enfermagem.
Tabela
IV - Respostas dos
estudantes de enfermagem quanto a sua busca de atualização no tema
religiosidade e espiritualidade, Brasil, 2022
Fonte:
Elaborado pelos autores (2022)
Quando
questionados se os docentes já abordaram temas sobre crenças religiosas ou
espirituais nas atividades curriculares: (39,57%) referiram que nunca; (40,64,
%) raramente, (17,64%) algumas vezes, comumente (1,06%), sempre (1,06%) (Tabela
V), o que demonstra que o tema é pouco abordado durante a graduação.
Tabela
V - Respostas dos
estudantes de enfermagem quanto a abordagem do tema
religiosidade/espiritualidade pelos docentes do curso, Brasil, 2022
Fonte:
Elaborado pelos autores (2022)
Na
tabela VI são apresentadas as frequências de respostas à questão “A formação
universitária atual fornece informações suficientes para que os estudantes
consigam abordar crenças religiosas ou espirituais com os pacientes?” A
resposta que obteve maior percentual foi “nem um pouco”, representando (56,02%)
e a segunda maior foi “um pouco” representando (19,57%). Esses resultados
mostram que o tema é negligenciado pela instituição, indicando que a temática
religiosidade e espiritualidade não é discutida de forma sistematizada e o
reflexo disso no futuro é despreparo dos profissionais em abordar na prática
essa temática.
E
isso é percebido em um estudo realizado por Figueredo et al. [20], o
qual afirma que os enfermeiros relatam se sentirem despreparados em prestar
cuidados espirituais mesmo que se deparem com situações que necessitem de uma
abordagem espiritual/religiosa demandada pelo paciente. E para melhorar essa
situação recomenda a inclusão da espiritualidade nos currículos dos cursos de
enfermagem.
Tabela
VI - Respostas dos
estudantes de enfermagem quanto ao fornecimento de informações acerca da R/E
durante a sua formação universitária, Brasil, 2022
Fonte:
Elaborado pelos autores (2022)
Na
tabela VII são apresentadas as frequências de respostas à questão 33: Você
participou de alguma atividade de formação sobre relação saúde e
espiritualidade? De acordo com esses resultados, um percentual (89,26 %)
afirmaram que não, mas que gostariam de participar. Esse resultado é muito
expressivo e corrobora respostas anteriores que o tema é pouco abordado e
valorizado pela instituição e, pelo que vemos, não é por falta de interesse por
parte dos graduandos, mas falta de interesse de sua instituição em oferecer
oportunidades de formação para esses graduandos.
Tabela
VII - Respostas dos
estudantes de enfermagem quanto a sua participação nas atividades de formação
sobre saúde e espiritualidade, Brasil, 2022
Fonte:
Elaborado pelos autores (2022)
A
tabela VIII apresenta os resultados dos estudantes de enfermagem em relação a
sua participação em atividades de atualização sobre o tema espiritualidade e
saúde. As mais frequentes foram: dentro de minha na própria religião (50,00%),
leitura de livros (10,25%), palestras que abordam o assunto (5,45%), através
dos docentes da sua faculdade (1,28%), e (19,3%) não procuravam informações.
Tabela
VIII - Respostas dos
estudantes de enfermagem quanto à participação em atividades de atualização
sobre o tema religiosidade e espiritualidade
Fonte:
Elaborado pelos autores (2022)
Observa-se
que no presente estudo a busca de informações sobre o tema espiritualidade é
maior dentro da própria religião (50%) e através da leitura de livros (10,25%).
Esses dados evidenciam um papel muito importante da religião como fonte de
informações religiosas para os graduandos, entretanto, revelam que eles obtêm
poucas informações na sua instituição de ensino, evidenciando a carência de
atualização acerca do tema religiosidade e a saúde.
Corroborando,
um estudo evidenciou que mais de 95 % dos professores e estudantes de
enfermagem possuíam algum tipo de filiação religiosa, 96% acreditavam que a
espiritualidade influenciava muito na saúde do paciente, e 77% sentiam vontade
de abordar o assunto. Contudo, apenas 36% consideravam-se preparados, e a
maioria respondeu que o assunto R/E não foi abordado de forma satisfatória
durante a graduação. Nesse estudo, também houve expressiva diferença entre suas
práticas clínicas e opiniões a respeito da espiritualidade e de sua
implementação no currículo. As principais barreiras ao abordar o assunto foram:
medo de impor as próprias crenças, falta de tempo e medo de ofender os
pacientes [21].
Outro
estudo publicado em 2019 denotou que os estudantes de medicina conhecem os
significados e a importância de espiritualidade e religiosidade cuidado no
prestado, mas ainda não se sentem preparados para a abordagem completa, em
virtude das limitações de aprendizagem na formação acadêmica [22].
Pesquisa
publicada em 2021 investigou as competências dos estudantes de enfermagem em
cuidados espirituais e o status do cuidado espiritual, evidenciando que o
cuidado de enfermagem é uma prática holística contendo elementos biológicos,
psicológicos, sociológicos e, também espirituais. E nesse contexto, o cuidado
espiritual é um dos aspectos centrais de uma abordagem de cuidado holístico, e
que requer uma boa compreensão da espiritualidade pelos enfermeiros [23].
Diante
do exposto, torna-se premente a necessidade de uma maior sensibilização dos
docentes para conhecer, investigar e incluir em suas aulas a abordagem do tema.
Afinal, os docentes são articuladores importantes na relação dos estudantes de
enfermagem com sua formação universitária. Nesses termos, estratégias baseadas
em problemas, metodologias ativas, podem auxiliar os docentes na abordagem
sobre R/E na formação, fortalecendo as questões éticas em várias dimensões do
cuidado humano. Atualizações, Grupos de estudos e pesquisas sobre R/E entre
docentes e discentes de uma IES apresentam-se como promissora alternativas para
o aprofundamento dessa temática durante a formação acadêmica do profissional de
enfermagem.
Os
achados obtidos no presente estudo evidenciam que a maioria dos estudantes do
curso de Enfermagem, participantes deste estudo, são do sexo feminino,
solteiros, sem renda, residentes em Maceió, com predominância da filiação
religiosa católica; que o tema religiosidade/espiritualidade ainda é pouco
abordado durante a formação profissional e, que por esta razão, o conhecimento
sobre o tema ainda está muito atrelado à sua própria religião.
A
abordagem da religiosidade/espiritualidade foi muito negligenciada durante a
formação dos estudantes investigados, passando quase desapercebida, como se não
fosse importante e significativo no cuidado aos pacientes, embora as pesquisas
evidenciem o contrário, gerando dificuldades para o estudante incorporar sua
prática profissional.
Desse
modo, para que se desenvolva a compreensão do estudante de graduação em
Enfermagem sobre a R/E e a sua relação com o cuidado
ao ser humano, torna-se necessário que este tema seja incluído como conteúdo
curricular. Além disso, o uso de metodologias ativas pelos docentes para a
abordagem da temática facilitará o processo ensino aprendizado durante a
formação profissional.
Enfim,
a abordagem da R/E durante a graduação em Enfermagem, favorece o processo
ensino aprendizado dos estudantes para melhor atender a essa necessidade
humana, fortalece as questões éticas em várias dimensões do cuidado humano e
contempla o conceito atual e ampliado da OMS sobre saúde, do qual a religiosidade
e espiritualidade estão incluídos.
Diante
da escassez de estudos sobre R/E no âmbito dos cursos de graduação em
Enfermagem, sugerimos a realização de novos estudos visando o desenvolvimento
de instrumentos efetivos para avaliação dessa dimensão humana no cuidado
prestado às pessoas atendidas pela equipe de enfermagem.
Conflitos
de interesse
Não
há
Fontes
de financiamento
Não
houve
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Lima KBM, Oliveira KCPN, Lima JA; Coleta de dados: Lima KBM, Oliveira
KCPN, Lima JA, Tenório JOC; Análise e interpretação dos dados: Lima KBM,
Oliveira KCPN, Lima JA; Análise estatística: Lima JA; Redação do
manuscrito: Lima KBM, Oliveira KCPN, Lima JA, Barros WAN, Figueredo EVN,
Souza IP; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual
importante: Lima KBM, Oliveira KCPN, Lima JA, Barros WAN, Figueredo EVN,
Souza IP
Referências