Enferm Bras.
2023;22(5):735-53
REVISÃO
Atuação
da enfermagem em telessaúde na pandemia por COVID-19:
uma revisão integrativa
Débora
Aline de Souza Ribeiro1, Bruna Camila de Souza Santos1, Pollyana Cirimele Lira1,
Alison Nery dos Santos2, Juliana Mendes Correia1
1Centro Universitário São Miguel
(UNISÃOMIGUEL), Recife, PE, Brasil
2Universidade de Pernambuco, Recife, PE,
Brasil
Recebido
em: 14 de dezembro de 2022; Aceito em: 11 de junho de 2023.
Correspondência: Alison Nery dos Santos,
alison_ns@yahoo.com.br
Como citar
Ribeiro DAS, Santos BCS, Lira PC, Santos AN, Correia JM. Atuação da enfermagem em telessaúde na pandemia por COVID-19: uma revisão integrativa. Enferm Bras. 2023;22(5): 735-53. doi: 10.33233/eb.v22i5.5364
Resumo
Objetivo: Identificar como se deu o atendimento
de enfermagem no uso de telessaúde diante do contexto
da pandemia por COVID-19. Métodos: Revisão integrativa da literatura,
por meio da seleção de artigos primários na Biblioteca Virtual em Saúde, com
seleção das bases Medline, BDENF e Lilacs, por meio
da estratégia de busca: enfermagem AND (telemedicina OR telemonitoramento)
AND (sars-cov-2 OR COVID-19), ao final, 15 artigos foram selecionados para
compor a revisão. Resultados: Três categorias são apresentadas: Telenfermagem como estratégia de trabalho e instrumentos
utilizados; A teleconsulta aplicada na Atenção
Primária; Vantagens e dificuldades encontradas. A teleconsulta
de enfermagem é reconhecida pelo COFEN, como método de combate à COVID-19 e vem
sendo implementada. Diversas ferramentas podem ser utilizadas para essa
modalidade de consulta, como telefones fixos, celulares, aplicativos de
mensagens de texto, entre outros. A Atenção Primária à Saúde também enfrentou
desafios estruturais para adequação frente a pandemia. Cita-se como
dificuldades a falta de habilidade no uso de tecnologias, problemas com conexão
de internet, disponibilidade de aparelhos. Conclusão: O uso da telessaúde pelos profissionais de enfermagem vem se
destacando nesse período pandêmico, com aplicações no âmbito da Atenção
Primária, bem como na Terciária, sendo aplicada em diversos países. Ferramentas
como telefone, e-mail e aplicativos para videochamadas
são utilizadas no atendimento e acompanhamento de pacientes. É necessário que
os profissionais de enfermagem se empoderem desse novo espaço para que o
indivíduo, família e comunidade sejam atendidos integralmente.
Palavras-chave: SARS-CoV-2; Enfermagem; Telenfermagem.
Abstract
Performance of telehealth nursing in the COVID-19
pandemic: an integrative review
Objective: To identify how nursing care was
provided in the use of telehealth in the context of the COVID-19 pandemic. Methods:
Integrative literature review, through the selection of primary articles in the
Virtual Health Library, with a selection of the Medline, BDENF, and Lilacs
databases, through the search strategy: nursing AND (telemedicine OR
telemonitoring) AND (sars-cov- 2 OR COVID-19), in the
end, 15 articles were selected to compose the review. Results: Three
categories are presented: Telenursing as a work strategy and instruments used;
Teleconsultation applied in Primary Care; Advantages and difficulties
encountered. Nursing teleconsultation is recognized by COFEN as a method to
combat COVID-19 and has been implemented. Several tools can be used for this
type of query, such as landlines, cell phones, and text messaging applications,
among others. Primary Health Care also faced structural challenges in adapting
to the pandemic. Difficulties include lack of ability to use technology,
problems with internet connection, and availability of devices. Conclusion:
The use of telehealth by nursing professionals has been highlighted in this
pandemic period, with applications in the scope of Primary Care, as well as in Tertiary
Care, being applied in several countries. Tools such as telephone, e-mail, and
video call applications are used in patient care and follow-up. Nursing
professionals must take ownership of this new space so that the individual,
family, and community are fully attended to.
Keywords: SARS-CoV-2; Nursing; Telenursing.
Resumen
Desempeño de la enfermería de telesalud en la pandemia de COVID-19: una revisión integrativa
Objetivo: Identificar cómo
se brindó el cuidado de enfermería en el
uso de la telesalud en el contexto de la pandemia de COVID-19. Métodos: Revisión integrativa de la
literatura, mediante la selección
de artículos primarios en la Biblioteca Virtual en Salud, con selección
de las bases de datos
Medline, BDENF y Lilacs, mediante la
estrategia de búsqueda: enfermería AND (telemedicina OR telemonitoreo)
AND (SARS-CoV- 2 OR COVID-19), al final, 15 artículos
fueron seleccionados para componer la revisión.
Resultados: Se presentan tres
categorías: Teleenfermería
como estrategia de trabajo
e instrumentos utilizados; Teleconsulta aplicada en Atención Primaria; Ventajas y dificultades
encontradas. La teleconsulta de enfermería
es reconocida por el COFEN
como método para combatir el
COVID-19 y ha sido implementada. Para este tipo de consulta se pueden utilizar varias herramientas,
como teléfonos fijos,
celulares, aplicaciones de mensajería
de texto, entre otras. La Atención
Primaria de Salud también enfrentó desafíos estructurales para adaptarse a la pandemia. Las dificultades incluyen la falta de capacidad para usar la tecnología, problemas con la conexión
a Internet, disponibilidad de dispositivos. Conclusión: El uso de la telesalud por parte de los profesionales de enfermería se ha destacado en este período de
pandemia, con aplicaciones en el ámbito
de la Atención Primaria, así como en la
Atención Terciaria, siendo
aplicada en varios países. En la atención
y seguimiento de los
pacientes se utilizan herramientas
como el teléfono, el correo electrónico y las aplicaciones de videollamadas. Es necesario que los profesionales de enfermería se apropien de este nuevo espacio para que la persona, la familia y la comunidad
sean plenamente atendidas.
Palabras-clave: SARS-CoV-2; Enfermería; Teleenfermería.
De
maneira acelerada e capaz de provocar um impacto histórico e social intenso, a
pandemia da COVID-19, causada pelo novo coronavírus
(SARS-CoV-2), manifestou, desde seu início em 2019, na cidade de Wuhan, na
China, uma grande preocupação por parte da população e órgãos governamentais,
por apresentar terapêuticas até então desconhecidas e sintomatologia de difícil
manejo, causar a morte de inúmeros indivíduos vulneráveis e conduzir a uma
desestabilização dos sistemas sanitários e de saúde por todo o mundo [1].
Por
se tratar de uma doença respiratória aguda, a contar dos primeiros casos
notificados e publicados em diversas regiões do mundo, houve necessidade de
investigação acerca das causalidades e aspectos de agravamento, assim como
estudos científicos para conduzir um tratamento adequado e uma prevenção feita
basicamente através de educação em saúde, distanciamento social e vacinação que
fosse capaz de imunizar e mitigar o desenvolvimento e propagação do vírus em
toda esfera social [2].
Com
o decorrer da pandemia, principalmente no primeiro ano, estratégias foram
implementadas, principalmente no que diz respeito às consultas a nível
ambulatorial, com a finalidade de reduzir a propagação do novo vírus, tendo
como exemplo as consultas remotas [3,4].
Com
maior difusão a partir da pandemia da COVID-19, a utilização de estratégias
para acompanhamento de pacientes de forma remota, por partes dos enfermeiros,
já vinham sendo empregadas em diversos contextos, desde o acompanhamento
telefônico de pacientes oncológicos [5,6], orientações por telenfermagem
como parte de um programa educativo em enfermagem no autocuidado de pacientes
com insuficiência cardíaca [7] e promoção do aleitamento materno por meio de
ligações telefônicas para verificação da efetividade de intervenções educativas
realizadas anteriormente [8].
A
experiência clínica requer uma certa aptidão dos enfermeiros quanto a agilidade
de raciocínio clínico, em que se utilize de métodos cognitivos e técnicas
fundamentadas nas informações colhidas e observadas para detectar os distúrbios
ou as diversidades relacionadas ao paciente, para assim poder adotar medidas
técnicas apropriadas para cada contexto clínico apresentado. Ao longo da
assistência de telessaúde, o profissional de
enfermagem deve dispor de uma comunicação qualificada, visto que a construção
de um diálogo capacitado é essencial para promover de forma satisfatória os
cuidados necessários ao paciente [9].
Os
enfermeiros sanam as dúvidas identificadas e tratam os sintomas apresentados,
estando atentos para detectar as manifestações clínicas demonstradas pelo
paciente, dessa forma, desenvolvendo a promoção de cuidados qualificados e
condutas de forma individualizada respeitando a particularidade de cada caso
[10].
A
utilização da telessaúde tem como competência
promover a diminuição da morbidade e mortalidade. Além de oferecer assistência
contínua dos cuidados básicos, vem sendo primordial para o aprimoramento da
atuação do enfermeiro e assim amenizar a angústia referente às restrições
estabelecidas ao longo da pandemia [11].
O
uso da telessaúde/telemedicina não é nova, porém eram
mais difundidas e aplicadas no meio médico ou como ferramentas de apoio
diagnóstico e/ou discussão de casos a distância entre profissionais médicos. A
difusão e aplicação dessa estratégia para demais profissionais da saúde, assim
como a enfermagem estão presentes no meio assistencial [12,13].
Identificar
como se dá o atendimento de enfermagem no contexto da pandemia por meio de
tecnologias como a telenfermagem se faz necessário a
fim de perceber que benefícios podem trazer para os usuários, como estratégia
que permita a ampliação da autonomia dos profissionais de enfermagem.
Diante
do contexto apresentado, tem-se como objetivo identificar como se deu o
atendimento de enfermagem no uso de telessaúde a
pacientes diante do contexto da pandemia por COVID-19.
O
presente artigo se trata de uma revisão integrativa da literatura de natureza
descritiva, com abordagem qualitativa. Para construção do estudo, seguiram-se
as seguintes etapas: 1) elaboração da pergunta da revisão; 2) busca e seleção
dos estudos primários; 3) extração de dados dos estudos; 4) avaliação crítica
dos estudos primários incluídos na revisão; 5) síntese dos resultados da
revisão e 6) apresentação do método [14].
Inicialmente,
definiu-se o tema, identificação do problema, seguido da elaboração da pergunta
norteadora da revisão: “Como se dá o atendimento de enfermagem no uso da telessaúde/teleconsulta diante do
contexto da pandemia por COVID-19?”
A
segunda etapa se deu por meio da busca dos artigos na Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS), onde foram selecionadas as bases de dados Medical Literature Analysis and Retrieval System Online
(MEDLINE), Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e Literatura Latino-Americana e
do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS).
Para
realização da pesquisa, a estratégia de busca foi organizada conforme a
estrutura PICo, representando População, Intervenção
e Contexto, respectivamente: P (enfermagem), I (telemedicina OR telemonitoramento), Co (sars-cov-2 OR COVID-19).
A
pesquisa inicial ocorreu no mês de junho de 2021 e em segundo momento em março
de 2022 no qual os resultados iniciais após o uso da estratégia definida, foram
encontrados 226 documentos. Como a aplicação dos filtros: textos completos,
idiomas inglês, português e francês (não havia idioma espanhol disponível),
período de 2019 a 2022, e base de dados anteriormente descritas; no qual
resultou em 152 artigos dos quais foram realizadas leitura dos títulos e
resumos, restando 50 artigos para leitura na íntegra. Como critério de exclusão
foram adotados os seguintes parâmetros: artigos que não respondiam aos
objetivos e à questão norteadora proposta para a pesquisa, artigos restritos e
artigos duplicados.
As
etapas de seleção dos artigos estão representadas na Figura 1.
Figura
1 - Fluxograma de
seleção dos artigos para a Revisão Integrativa. Recife, Pernambuco, PE, Brasil,
2023
Após
leitura na íntegra dos 50 artigos, foram selecionados 15 (Quadro 1). Os artigos
foram publicados entre os anos de 2020 (20%) a 2021 (80%). As pesquisas
ocorreram em diversos países: cinco nos Estados Unidos (33,3%), dois no Brasil
(13,3%) e em Singapura (13,3%), e um na Itália, Austrália, Índia, França,
Espanha e Inglaterra, 6,6% para cada.
Diante
da releitura e análise dos artigos selecionados, constatou-se como ocorreu a
assistência de enfermagem durante o período da pandemia por COVID-19,
identificando-se as seguintes áreas temáticas: (1) Telenfermagem
como estratégia de trabalho e instrumentos utilizados, (2) A teleconsulta aplicada na Atenção Primária à Saúde, (3)
Vantagens e dificuldades encontradas; sendo discutidas adiante.
Quadro
1 - Artigos
selecionados para Revisão Integrativa. Recife, PE, 2023
Telenfermagem como estratégia de trabalho e
instrumentos utilizados
Com
o advento da COVID-19, foi autorizado pelo Conselho Federal de Enfermagem
(COFEN) a teleconsulta de enfermagem como forma de
combate à pandemia provocada pelo novo vírus (Sars-Cov-2), reafirmando a
importância dos enfermeiros no combate à pandemia mediante consultas,
esclarecimentos, encaminhamentos e orientações principalmente nos momentos
iniciais em que ocorreram o isolamento social, considerando que as pessoas
precisavam de acesso a informações corretas e seguras, além da possibilidade de
atendimento às suas necessidades de saúde sem que necessariamente se
deslocassem aos serviços de saúde como a única ou primeira opção [15].
A
telenfermagem foi desenvolvida pela primeira vez no
Brasil no ano de 2000 pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Comunicação no
Processo de Enfermagem (GEPECO-PEN). O uso de ferramentas remotas para auxiliar
no cuidado existe há algumas décadas e tem facilitado o desenvolvimento de
novas formas de interação colaborativa entre pacientes e profissionais de saúde
com base em mundos virtuais relacionados aos atendimentos iniciais da pandemia
da COVID-19. Essa modalidade de serviço trouxe grandes benefícios para o
período pandêmico, pois facilita o acesso, economiza tempo, promove autocuidado,
permite avaliação, monitoramento e direcionamento de qualidade, evita a
disseminação do vírus e sobrecarga dos sistemas de saúde [15].
Na
Índia, criou-se um programa específico para desafogar os atendimentos nos
hospitais durante a pandemia, devido à sobrecarga dos hospitais, a exaustão dos
profissionais de saúde e a escassez de suprimentos cruciais, como ventiladores
mecânicos e oxigênio medicinal, apresentando desafios na prestação de cuidados
de saúde. O atendimento virtual para pacientes internados com covid (VCIP) é composto por equipe multidisciplinar
(médicos, enfermeiros, nutricionistas, educadores em diabetes e psicólogos),
todos com objetivo de prestar um atendimento domiciliar integral e específico
para cada necessidade, com foco em pacientes diabéticos [16].
Nesse
contexto, a telenfermagem faz parte das estratégias
de promoção da saúde, permitindo a melhoria do conhecimento e do autocuidado e,
no caso de pandemias, complementando o serviço de vigilância em saúde e
atendimento hospitalar, melhorando o acesso à informação, potencializando a
eficácia do atendimento aos pacientes e auxiliando na diminuição da
disseminação do vírus da COVID-19 [15].
O
telemonitoramento em saúde durante a pandemia
adquiriu o potencial de amenizar a preocupação do profissional e paciente
quanto ao medo de exposições e risco de contaminação. Inicialmente os
enfermeiros utilizaram plataformas virtuais para atender aos indivíduos mais
fragilizados e com comorbidades, como idosos portadores de doenças crônicas. No
entanto, com o intuito de expandir o acesso e oferecer assistência de maneira
ampliada, o telemonitoramento tornou-se a base para
coleta de informações que auxiliaram no acompanhamento do estado de saúde e
principalmente para diagnosticar, investigar histórico do internamento
hospitalar e educar sobre o autocuidado e prevenção de agravos [17,18].
Para
que os pacientes sejam efetivamente examinados, precisam ser submetidos a uma
triagem feita pela equipe de enfermagem, através de teleconsultas
e coleta de dados no prontuário eletrônico, para avaliar a necessidade de serem
feitas visitas domiciliares que, neste caso, são realizadas conforme gravidade
do estado de saúde e caso não seja possível contactar o paciente ou até mesmo
para atender demandas que não podem ser resolvidas de maneira remota, como o
atendimento a pacientes portadores de deficiência auditiva [14].
Kesavadev et al. [16], em seu estudo,
propôs uma ferramenta interventiva para atendimentos domiciliares com o
objetivo de gerenciar a COVID-19. Além disso, há aplicativos de mensagens
instantâneas que podem facilitar a comunicação entre profissional e paciente ou
cuidadores. Ainda é possível a utilização de plataformas de videoconferência
para prestar orientações em saúde aos pacientes, e para oferecer treinamento e
instruções aos profissionais quanto às atividades da rotina da equipe de
enfermagem e ao uso dos recursos tecnológicos, resultando desta forma, na
redução dos números de hospitalizações e aumento da satisfação do paciente.
Para
Tan et al. [19], um programa telefônico dirigido por enfermeiros foi
capaz de levar diretamente a pacientes com patologias graves em paliação,
cuidados em saúde de maneira a envolvê-los e mantê-los dispostos a participarem
do programa conforme suas limitações. Tal iniciativa desenvolve no paciente a
capacidade de superar os obstáculos dos cuidados paliativos, através da
destreza com que a comunicação é conduzida pelo enfermeiro durante o período de
mediação. Para utilizar os recursos e oferecer assistência adequada, os
enfermeiros são submetidos a um treinamento com eixo nos conteúdos inerentes ao
paliativismo, baseando-se nas principais dificuldades
tecnológicas e necessidades de cada paciente.
Além
da oferta de atendimento por linhas telefônicas, aplicativos de mensagem
instantânea e videoconferências, há outros meios de gerenciamento de paciente
através de monitoramento remoto e contínuo para pacientes com câncer, como foi
demonstrado no estudo de Ferrua et al. [20],
ao utilizar uma plataforma virtual, tendo sobretudo, os enfermeiros como
componentes fundamentais na oferta de cuidados aos pacientes. As orientações
são repassadas atendendo a vulnerabilidade do paciente, realizando
encaminhamentos para avaliação de outros profissionais caso seja necessário e
garantindo suporte de maneira integral. Esse método resultou na melhora da
qualidade de vida e diminuição do risco de agravos à saúde.
As
ferramentas utilizadas para assistir ao paciente diante da pandemia tornaram-se
fundamentais na otimização dos serviços de saúde. Como resultado do seu uso,
percebe-se que ocorre melhora significativa no bem-estar geral do indivíduo,
diminuição dos custos relacionados a consultas presenciais e deslocamentos,
redução do período de internação e tempo de espera para atendimento, devido à
facilidade em contatar os profissionais disponíveis remotamente. Hughes et
al. [21] complementam que o serviço administrado pelos enfermeiros se torna
eficaz e econômico, considerando a rápida ação nos casos de sintomas agravantes
com base no estado geral do paciente, especialmente para aqueles com alto risco
de complicação.
Russo
et al. [22] trazem em seu estudo a teleconsulta
de enfermagem como uma estratégia simples e bem tolerada, garantindo a continuidade
do cuidado e o manejo ambulatorial de pacientes com doenças cardiovasculares
durante a pandemia de COVID-19. A adesão dos pacientes à teleconsulta
de enfermagem e a utilidade da teleconsulta de
enfermagem têm o objetivo de detectar condições clínicas que requerem
intervenção médica. Cada paciente foi acompanhado por uma entrevista telefônica
semiestruturada realizada por uma enfermeira. Após a coleta de dados
demográficos dos pacientes, bem como fatores de risco cardiovascular,
comorbidades e sinais vitais, é realizada uma análise clínica e laboratorial
para determinar se há necessidade de intervenção médica.
No
estudo de Ross e Meier [23], a enfermagem atua na escuta e educação do
paciente, utilizando a plataforma Google Forms, por
meio de perguntas. A pesquisa foi seguida de uma reunião por telefone ou
videoconferência para discutir a implementação de intervenções. Primeiro, a
educação foi fornecida e, em seguida, foi complementada com uma ferramenta de
aprendizado em telessaúde. A escuta de telessaúde foi a segunda intervenção durante a ligação. O
implementador do projeto utiliza técnicas de escuta ativa enquanto o
participante falava. A ligação entre a pesquisa e a intervenção de escuta de telessaúde obrigou o projeto a permanecer centrado no
paciente.
Em
estudo realizado com dados de atendimentos de enfermeiro avançado, na Espanha,
para pacientes com doença inflamatória intestinal, 95,2% das atividades foram
telemedicina e em comparação ao ano de 2019, os atendimentos nessa modalidade representou
um aumento de 70%. Os motivos para a realização das consultas referiram-se a
COVID-19 (dúvidas relacionadas a doença de base e como a COVID-19 impactaria,
prevenção da infecção etc.), visitas administrativas COVID-19, recaída da
doença (apresentação de sintomas gastrintestinais) e outros (resultados de
exames, consultas, prescrição, entre outros) [24].
Locais
que já possuam infraestrutura de telessaúde,
subsídios disponíveis, e que ampliem ou modifiquem o serviço para o módulo de telessaúde, reflete na interrupção mínima das rotinas e
fluxo de trabalho pré-existentes, além de garantir a continuidade do
atendimento individualizado, diminuir o uso de equipamentos de proteção
individual e o contato com o hospital, reduzindo a exposição dos profissionais
de saúde e dos pacientes ao risco de infecção [25].
De
modo geral, as ferramentas utilizadas vão desde linhas telefônicas, celulares,
aplicativos de mensagens de texto, vídeo chamadas ou conferências, e-mail e
plataformas on-line.
A teleconsulta aplicada na Atenção Primária à Saúde
Com
a drástica reorganização mundial dos serviços de saúde, principalmente o
aumento dos esforços para implementar os serviços hospitalares, muito precisou
ser feito para que a atenção primária se adequasse a nova realidade, como
oferecer uma adequada proteção aos profissionais de saúde para realização
segura do seu trabalho, reorganização de acordo com a realidade local, apoio
logístico e operacional, formação e educação permanente dos profissionais de
saúde, mapeamento dos territórios com suas potencialidades e dificuldades,
parcerias com a comunidade, e ação coordenada com outras instituições e
serviços de saúde no território de abrangência das equipes [26].
Considerando
a continuidade da formação de enfermeiros diante da pandemia e a necessidade de
diminuir a superlotação nas unidades de saúde, o telemonitoramento
se tornou uma importante ferramenta para prática clínica profissional e para o
desenvolvimento das habilidades de futuros profissionais de enfermagem. Na
atenção primária à saúde, os atendimentos em telessaúde
passaram a priorizar especialmente os usuários que possuíam risco de
agravamento da saúde, levando em consideração sua doença e o contexto no qual
esse indivíduo estaria inserido. Apesar da baixa disponibilidade de
equipamentos e outros desafios, essa ferramenta reforça, a partir da falta da
presença física do usuário, a necessidade do aprimoramento da escuta clínica
por parte do profissional e aperfeiçoamento das técnicas para orientação e
cuidado integrado conforme demanda e realidade de cada paciente [27].
Diante
da redução dos serviços comunitários de saúde e sociais durante o surto da
COVID-19, a equipe de enfermagem do Hospital Cingapura implementou medidas de
preparação para a pandemia. Uma equipe de enfermeiros desenvolveu projetos de
melhoria de qualidade para incentivar os idosos a cuidarem de si mesmos, o que
se mostrou benéfico durante a pandemia. Um dos projetos buscou idosos que
haviam sido diagnosticados com doenças crônicas, mas não tinham se vacinado
contra a gripe no ano anterior. Outros projetos se concentraram na melhoria das
condições de saúde relacionadas ao envelhecimento, como o desenvolvimento de um
adesivo de parede com contatos importantes de parentes próximos, prestadores de
serviços de saúde e sociais e consultas; e educar os residentes de centros de
atividades relacionadas ao envelhecimento no monitoramento da pressão arterial
[17].
A
teleconsulta de enfermagem é uma estratégia simples e
bem tolerada para garantir a continuidade do cuidado e manejo ambulatorial dos
pacientes. A utilização da telenfermagem para o
acompanhamento da saúde é essencial, e é uma forma de melhorar a resposta às
necessidades do outro. A influência da tecnologia tem facilitado a prática de
diversos profissionais da saúde, ainda mais neste momento de pandemia [15].
Vantagens
e dificuldades encontradas
Embora
a telessaúde tenha passado a ser um instrumento
aliado ao atendimento de enfermagem, houve vários desafios a serem superados
tanto pelos profissionais quanto pelos pacientes. O processo de adaptabilidade
também conta com benefícios, nos quais se enquadram a semelhança com o
atendimento presencial, não prejudicando, dessa forma, os cuidados direcionados
ao paciente. Além de haver redução nos valores gastos pelo profissional e paciente
em cada consulta. Por outro lado, também há dificuldades, que estão
relacionadas principalmente à habilidade no uso da tecnologia, problemas com
conexão da rede de internet e disponibilidade de aparelhos para uso [28].
Em
tempos em que o distanciamento social foi fundamental, a videoconferência foi o
modo mais seguro para acompanhamento de pacientes, e submeteu os que não
possuem experiência ou conhecimento sobre o uso das tecnologias a terem contato
com alguém que possa auxiliar durante a consulta. Para aqueles que possuem
conhecimento dos recursos tecnológicos, a vivência pode ser experimentada em um
diferente nível de satisfação. De maneira geral, é preciso que haja treinamento
tanto para os pacientes quanto para os profissionais, considerando que essa
modalidade vem sendo mais usada e encontra-se em processo de aprimoramento
[28].
Com
o intuito de aproximar a conexão e oferecer cuidados ao paciente, os
profissionais de saúde utilizaram o telemonitoramento
e diversos recursos tecnológicos como elementos relevantes na assistência no
decorrer da pandemia por COVID-19. Segundo os pacientes que experimentaram as
consultas virtuais, a modalidade facilita a assistência recebida e confere à
experiência uma avaliação igual ou melhor, quando comparada à consulta
presencial. Apesar disso, como qualquer evento está sujeito a falhas, as
consultas virtuais também sofreram alguns desafios, tais como problemas de
conectividade, pacientes e/ou profissionais indisponíveis nas consultas,
deficiência nas habilidades tecnológicas, dificuldade na prática do exame
físico por falta de equipamentos suficientes para tal finalidade e o
conhecimento reduzido sobre detalhes da condução clínica do paciente [29].
O
atendimento de adolescentes por telessaúde com diabetes
mellitus em um hospital de Cingapura, após pesquisa de satisfação, 63% deles
sentiram-se satisfeitos com o serviço e optaram pelo serviço com a enfermeira
de prática avançada, 70% ficaram satisfeitos com a duração da avaliação e
consulta com a enfermeira, e 75% dos adolescentes continuariam a usar o
atendimento de telessaúde com enfermeira. Tais
resultados sugerem que o menor tempo no hospital reduziu significativamente a
ansiedade em relação à aquisição da COVID-19 [25].
Relato
de experiência que tem como pano de fundo o atendimento de uma paciente idosa,
mostra as dificuldades em relação a manipulação da tecnologia para realização
das teleconsultas com sua enfermeira, apesar do
auxílio de familiares. A paciente apresentou comportamentos de desconforto,
ansiedade em relação a este novo método. Apesar da existência de técnicas e
metodologias para aplicar durantes as consultas, é importante que o enfermeiro
foque nas necessidades do paciente, utilize dicas não verbais e não perca o
toque pessoal – algo bastante visível nos atendimentos presenciais [30].
O
atendimento realizado por profissionais de enfermagem utilizando as ferramentas
disponíveis para o uso da telessaúde vem sendo
reportado em diversos países.
Os
instrumentos utilizados para os atendimentos são diversos, sendo realizados por
meio de aplicativos de mensagens instantâneas, plataformas de videoconferência,
rede telefônica, formulários eletrônicos, e-mail, e ferramenta interativa para
gerenciar os atendimentos domiciliares de pacientes com COVID-19.
O
público atendido por meio das estratégias vai desde idosos portadores de
doenças crônicas, indivíduos com COVID-19, pacientes em cuidados paliativos e
pacientes com câncer.
Apesar
de enfatizar a prática das consultas por telemonitoramento,
o estado do paciente também é verificado com a finalidade da identificação de
sinais de gravidade sendo possível a realização de visitas domiciliares ou
intervenção médica, e encaminhamento para equipe multiprofissional.
A
enfermagem vem se destacando com o uso da telenfermagem,
apoiada pelo COFEN – reconhecendo a estratégia como método para a consulta de
pacientes. A telenfermagem
tem sua aplicabilidade
evidenciada desde a Atenção Primária à
Saúde, até a Atenção Terciária, por
meio
do desenvolvimento de atividades de promoção,
prevenção e recuperação da saúde.
Além
do que foi abordado, é importante que os profissionais de enfermagem se
mantenham atualizados e disponíveis para as mudanças no modo de como, a partir
dessa pandemia, o cuidado será prestado aos pacientes (indivíduo, família e
comunidade) e encarem a telenfermagem com nova
estratégia para realização de consultas de enfermagem, garantindo assim um
atendimento integral ao paciente.
Conflitos
de interesses
Não
há conflitos de interesses.
Fontes
de financiamento:
Não
houve financiamento para desenvolvimento da pesquisa
Contribuições
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Ribeiro DAS, Santos BCS, Lira PC, Santos NA, Correia JM; Coleta de dados:
Ribeiro DAS, Santos BCS, Lira PC; Análise e interpretação dos dados:
Ribeiro DAS, Santos BCS, Lira PC, Santos NA; Redação do manuscrito:
Ribeiro DAS, Santos BCS, Lira PC, Santos NA, Correia JM; Revisão crítica do
manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Santos NA, Correia JM