Enferm Bras.
2023;22(5):754-70
REVISÃO
Ações
de enfermagem para prevenção do câncer de colo de
útero na atenção primária à
saúde: revisão integrativa
Bárbara
Mayara Costa Barbosa Reis1, Ramon Pinheiro e Pinheiro1,
Larissa Kellen Silva Pacheco2, Kezia Cristina Batista dos Santos1
1Faculdade Edufor
(EDUFOR), São Luís, MA, Brasil
2Universidade Ceuma
(UNICEUMA), São Luís, MA, Brasil
Recebido
em: 18 de dezembro de 2023; Aceito em: 15 de agosto de 2023.
Correspondência: Kezia
Cristina Batista dos Santos, kezia_cristinabs@hotmail.com
Como citar
Reis BMCB, Pinheiro
RP, Pacheco LKS, Santos KCB. Ações de enfermagem para prevenção do câncer de
colo de útero na atenção primária à saúde: revisão integrativa. Enferm Bras. 2023;22(5):754-70. doi: 10.33233/eb.v22i5.5366
Resumo
Objetivo: Buscar na literatura as evidências
científicas disponíveis sobre as ações realizadas por enfermeiros na Atenção
Primária à Saúde (APS) para prevenção do câncer de colo uterino. Métodos:
Trata-se de uma revisão integrativa, norteada pela pergunta: quais as ações
realizadas por enfermeiros na APS para prevenção do câncer de colo de útero?
Incluíram-se estudos primários, publicados em português e inglês nas bases de
dados BDENF, Lilacs e Scielo,
entre 2017 e 2021, disponíveis na íntegra. Resultados: A amostra foi
composta por 8 estudos. Evidenciaram-se três categorias temáticas: novas ações
de enfermagem com foco na educação em saúde, incentivo à vacinação contra HPV e
rastreamento por exame citopatológico de colo
uterino. Conclusão: Os resultados apontam que há uma concentração de
estudos voltados às ações sabidamente conhecidas na prevenção e controle da
doença, principalmente, com foco na educação em saúde tradicional, imunização e
coleta do exame citopatológico. Entretanto, as
evidências indicam novas estratégias que podem ser incorporadas à prática
clínica nos serviços de saúde ou associadas às já existentes, visando a melhora
no acesso à informação, aumento da procura aos serviços de saúde, detecção
passiva, busca ativa e diagnóstico precoce da doença.
Palavras-chave: câncer de colo de útero; assistência
de enfermagem; atenção primária à saúde.
Abstract
Nursing actions for the prevention of cervical cancer
in primary health care: an integrative review
Objective: To search the literature for
available scientific evidence on the actions performed by nurses in Primary
Health Care (PHC) to prevent cervical cancer. Methods: This is an
integrative review, guided by the question: what actions are performed by
nurses in PHC to prevent cervical cancer? Primary studies were included,
published in Portuguese and English in the BDENF, Lilacs and Scielo databases, between 2017 and 2021, available in full.
Results: The sample consisted of 8 studies. Three thematic categories
were evidenced: new nursing actions focused on health education, incentive to
vaccination against HPV and screening by cytopathological examination of the
uterine cervix. Conclusion: The results indicate that there is a
concentration of studies focused on well-known actions in the prevention and
control of the disease, mainly focusing on traditional health education,
immunization and collection of cytopathological examination. However, evidence
indicates new strategies that can be incorporated into clinical practice in
health services or associated with existing ones, aiming at improving access to
information, increasing demand for health services, passive detection, active
search and early diagnosis of the disease.
Keywords: cervical cancer; nursing care;
primary health care.
Resumen
Acciones de enfermería para la prevención del
cáncer de cuello uterino en la atención
primaria de salud: una revisión
integradora
Objetivo: Buscar en la literatura las evidencias
científicas disponibles sobre las
acciones realizadas por los
enfermeros en la Atención Primaria de Salud (APS) para la prevención del cáncer de cuello uterino. Métodos:
Se trata de una revisión integradora, orientada por la pregunta: ¿qué acciones son realizadas por los enfermeros en la APS para la prevención del
cáncer de cuello uterino?
Se incluyeron estudios primarios, publicados en portugués e inglés en las bases de datos BDENF, Lilacs y Scielo, entre 2017 y 2021, disponibles
en su totalidad.
Resultados: La muestra estuvo
compuesta por 8 estudios.
Se evidenciaron tres categorías temáticas: nuevas acciones de enfermería enfocadas en la educación
en salud, incentivo a la vacunación
contra el VPH y tamizaje
por examen citopatológico del cérvix uterino. Conclusión:
Los resultados indican que hay
una concentración de estudios
centrados en acciones notorias en la
prevención y control de la enfermedad, con foco principalmente en la educación en
salud tradicional, inmunización
y recolección de examen citopatológico. Sin embargo, la evidencia indica nuevas estrategias que pueden ser
incorporadas a la práctica clínica en los servicios de salud o asociadas a las existentes, con el objetivo de mejorar el acceso a la
información, aumentar la
demanda de los servicios de
salud, la detección pasiva, la búsqueda activa
y el diagnóstico precoz de la enfermedad.
Palabras-clave: neoplasias del cuello uterino; atención de enfermería; atención primaria de salud.
O
câncer de colo útero (CCU) é uma das neoplasias que afeta a população feminina
com maior ocorrência em países latino-americanos de baixa e média renda, sendo
uma das principais causas de mortalidade. Responsável por número de 311 mil
óbitos anuais no mundo, 570 mil novos casos diagnosticados [1]. No Brasil o
terceiro tipo de câncer com maior incidência entre mulheres, atrás apenas do câncer
de mama e câncer de cólon e reto, respectivamente [2].
No
Brasil no ano de 2019, ocorreram 6.596 óbitos por esta neoplasia, representando
uma taxa ajustada de mortalidade por este câncer de 5.33/100 mil mulheres [3].
As regiões com maiores números de casos estão em primeiro a região Norte com
cerca de 26,24/100 mil óbitos por habitantes, em segundo a região Nordeste com
16,10/100 mil e em terceiro Centro-Oeste com 12,35/100 mil, seguidas da região
Sul com 12,60/100 mil e região Sudeste com 8,61/100 mil [4].
No estado do Maranhão no ano de 2020 era
previsto um total de 890 casos de CCU e na capital São Luís 160, estando no
ranque em primeiro lugar no número de casos novos diagnosticados no território
maranhense. O câncer uterino estende a porcentagem de 21,87% estando na posição
de primeiro lugar entre as neoplasias que atingiriam as mulheres maranhenses no
ano de 2020 [4].
O
câncer de colo de útero, também pode ser denominado de câncer cervical sendo
originado pela infecção persistente por tipos do Papilomavírus Humano (HPV),
especialmente HPV-16 e HPV-18, responsáveis por 70% dos cânceres cervicais ou
podendo ser apresentado também de forma oncogênica
[5].
O
rastreio desse câncer baseia-se dentro do histórico natural da doença e do
reconhecimento prévio. Essa patologia pode evoluir para lesões precursoras como
lesões intraepiteliais escamosas de alto grau, em que
seu diagnóstico precoce e adesão ao tratamento adequado impede a progressão
para o câncer [6]. A infecção genital por esse vírus é muito frequente e na
maioria das vezes não causa doença. Essas alterações são descobertas facilmente
no exame de Preventivo de Câncer de Colo Uterino (PCCU), também conhecido como Colpocitologia Oncótica Cervical ou Papanicolau, e em sua
realização periódica tornasse maiores as chances de cura [3].
Segundo
a Organização Mundial da Saúde (OMS), com a cobertura de no mínimo 80% da
população-alvo, garantia do diagnóstico precoce e o tratamento adequado dos
casos com diagnóstico alterados é possível reduzir entre 60 e 90% da incidência
do câncer cervical invasivo [7].
Dentro
dos níveis de atenção à saúde, a
Atenção Primária à Saúde (APS)
é responsável
pela assistência de prevenção,
redução de riscos, educação e
promoção à saúde.
A Enfermagem realiza ações para rastreio de mulheres
susceptíveis a desenvolver
a doença por meio da realização de
educação em saúde dentro das Unidades
Básicas de Saúde (UBS), cuidados ginecológicos,
realização do próprio PCCU
através de consultas programadas e agendadas por meio dos
Agentes Comunitário
de Saúde (ACS), prevenção e detecção
precoce de agravos, além de proporcionar
condições que contribuem para a cura ou a
redução de perdas funcionais e
estéticas provocadas pela doença ou por seu tratamento [8].
Dessa
forma, diversos fatores devem ser levados em consideração quando se trata de
processo de métodos de caráter preventivo da manutenção da saúde da mulher,
como ações de sensibilização da importância da realização do PCCU e o incentivo
a vacinação contra o vírus do HPV que representa o potencial de redução da
doença cervical ou de lesões precursoras [9].
Diante
disto, levando-se em consideração a importância das intervenções de enfermagem
para prevenção do câncer de colo de útero na APS e por ser inerente à prática
assistencial do enfermeiro a realização de ações de promoção à saúde e
prevenção de agravos, elaborou-se a seguinte questão norteadora: “Quais as
ações realizadas por enfermeiros na APS para prevenção do CCU?”. Assim,
objetivou-se com este estudo buscar na literatura as evidências científicas
disponíveis sobre as ações realizadas por enfermeiros na APS para prevenção do
câncer de colo uterino.
Trata-se
de uma revisão integrativa da literatura que seguiu as seguintes etapas:
elaboração da questão norteadora da pesquisa, definição dos critérios de
inclusão e exclusão, leitura e avaliação dos estudos, interpretação e
apresentação dos resultados dentro do contexto da temática que respondessem à
questão de pesquisa [10].
A
coleta de dados foi realizada no mês de maio de 2022. Para alcance do objetivo
deste estudo foi elaborada a seguinte questão norteadora: Quais as ações
realizadas por enfermeiros na APS para prevenção do CCU? Utilizou-se a
estratégia PICo para auxiliar na definição da questão
da pesquisa, busca bibliográfica e resolução de questionamentos que surgiram
durante a pesquisa. A procura dos artigos realizou-se nas bases de dados BDENF
(Base de Dados de Enfermagem), Lilacs (Literatura
Latino-Americana em Ciências da Saúde) e Scielo (Scientific Electronic Library
Online).
Foram
definidos os seguintes termos para estratégia de busca: Problema (P): Cervical Cancer; Intervenção (I): Nursing Assistance; Contexto (Co): Primary
Health Care. O quadro 1, descreve a estratégia de
busca utilizada para a busca de artigos nas bases de dados pesquisadas.
Quadro
1 - Estratégia de
busca. São Luís (MA) Brasil, 2022
Fonte:
Elaboração própria
O
estabelecimento e identificação dos descritores e palavras-chave foram
utilizados de acordo com a particularidade de cada base de dados e obtido
através da pesquisa nos Descritores de Ciências da Saúde (DeCS).
Durante a busca foi realizado o cruzamento dos DeCS
com o operador booleano AND para associação dos descritores como estratégia de
busca: Cervical Cancer AND Nursing
Care AND Primary Health Care. Os descritores foram inseridos na língua inglesa,
pois todas as revistas indexadas nessas bases apresentam descritores em inglês.
Para
coleta de dados utilizou-se o filtro das datas de publicação dos artigos do
período do ano de 2017 a 2021 e o filtro idioma em português e inglês em todas
as buscas. Após a busca dos artigos foram selecionados artigos que atendessem
aos seguintes critérios de inclusão: 1) que abordassem de forma clara e
específica as ações do enfermeiro na prevenção contra o câncer de colo uterino
dentro da atenção primária; 2) publicados nos idiomas português ou inglês; 3)
em acesso on-line aberto; 4) artigos primários disponíveis na íntegra; 5)
publicados entre os anos de 2017 a 2021.
Em
seguida, foi realizada leitura dos textos completos de forma crítica e
reflexiva buscando os estudos que respondessem à questão de pesquisa. Como
critério de exclusão foram excluídos os artigos que: 1) abordassem sobre
atenção secundária ou terciária; 2) trabalhos em duplicata; 3) dissertações,
relatos de experiência, estudos de casos, capítulos de livros e teses; 4)
trabalhos científicos que relatassem assistência de outros profissionais da
área da saúde.
Os
resultados dos dados obtidos foram organizados a partir de um instrumento
adaptado contendo os seguintes itens: título dos artigos, autores, ano de
publicação, idioma, país de origem, objetivo da pesquisa e resultados. Os
resultados dos estudos foram analisados e apresentados de forma descritiva
[11].
A
análise crítica dos artigos selecionados se deu por meio de leitura
exploratória e analítica para avaliação do conteúdo dos artigos de forma
independente pelos pesquisadores do estudo. Os resultados foram organizados por
categoria temática, agrupados por similaridade e importância conceitual.
A
condensação dos resultados que foram obtidos durante a etapa de busca dos
artigos é apresentada pela figura 1. Os artigos que atenderam aos requisitos da
seleção foram numerados de 1 a 8 para melhor instrução (Figura 2).
Fonte:
Elaboração própria
Figura
1 - Estudos
incluídos na revisão integrativa de acordo com as bases de dados. São Luís/MA,
Brasil, 2022
Dentre
as particularidades dos artigos analisados, todos foram desenvolvidos no Brasil
sendo: 1 no estado do Rio Grande do Sul e 1 no Paraná, na região Sul; 1 Rio de
Janeiro, 2 em Minas Gerais e 1 no Espírito Santo na região Sudeste e 2 no
estado do Ceará, região Nordeste, dos quais 6 foram publicados em português e 2
em Inglês.
Os
artigos primários analisados abrangeram estudos observacionais com base em
entrevistas com grupos focais (2); pesquisas de campo quantitativo e descritivo
(4); pesquisa aplicada de desenvolvimento tecnológico informativo (2).
Quadro
2 - Descrição dos
artigos selecionados para compor a amostra do estudo. São Luís/MA, Brasil, 2022
Dos
estudos analisados, dois se enquadram nesta categoria, evidenciando a eficácia
do desenvolvimento do processo educacional e de incentivo dos profissionais de
enfermagem como foco de prevenção do câncer de colo de útero. O artigo 1, sendo
uma pesquisa quase experimental, destaca um método moderno por ligações
telefónicas às mulheres como meio de educação em saúde continuada, mantendo o
vínculo entre educador e educando e viabilizando adesão as consultas
periódicas, conhecimento sobre a doença e métodos preventivos ao CCU [12].
O
artigo trata de uma pesquisa aplicada no desenvolvimento de uma ferramenta
tecnológica que auxilia profissionais da enfermagem a desenvolver novas
técnicas de prevenir, aprimorar a rastreabilidade do câncer uterino e técnicas
de abordagem educacional com clientes/pacientes baseados em novas tecnologias e
mídias digitais [13].
Incentivo
à vacinação contra HPV
Os
estudos selecionados para esta categoria compreenderam os artigos 3, 4 e 5. Os
três artigos são observacionais descritivos, sendo o artigo 3 com abordagem
quantitativa e os artigos 4 e 5 com abordagem qualitativa. A existência da
inter-relação entre ambos se dá a partir da descrição ao incentivo a vacina HPV
quadrivalente para meninas (9-14 anos) e meninas (11-14
anos) dentro da faixa etária indicada pelo Ministério da Saúde ou em mulheres
adultas com vida sexualmente ativa como método eficaz contra o HPV, principal
causa do câncer de colo de útero [13,14,15].
Rastreamento
por exame citopatológico de colo uterino
Dentre
os 3 artigos inseridos nesta categoria, dois são estudos quantitativos e
descritivos (artigos 6 e 7) e um tratou-se de uma pesquisa-ação com abordagem
descritiva e exploratória (artigo 8) em que todos evidenciaram o exame citopatológico de colo uterino como a principal forma e
mais eficiente para detecção precoce do câncer de colo de útero ou de lesões
percursoras, sendo indicado ao público feminino a partir dos 25 aos 64 anos
[16,17].
A
realização da consulta de enfermagem ginecológica de rotina com coleta do exame
citopatológico de colo uterino demonstra uma
excelente estratégia para rastreamento e detecção passiva de casos em mulheres
que já possuíam lesões percursoras do HPV que, quando diagnosticadas
precocemente, resultaram em apresentações clínicas menos graves [18].
As
tecnologias educacionais englobam a cientificidade através do planejamento,
controle, produção e execução em uma rede sistemática envolvendo o processo
educativo entre o educador e o educando. As estratégias a serem traçadas como
prevenção do câncer uterino pelos profissionais da enfermagem na APS devem ser
planejadas a partir do conhecimento do perfil epidemiológico e de saúde, e
realidade da área aos quais estão inseridos dentro do território [13].
O
Ministério da Saúde estabelece quatro níveis de prevenção (primária,
secundária, terciária e quaternária) com o objetivo de reduzir a probabilidade
de uma doença ou uma desordem que venha afetar um indivíduo ou coletividade
[19]. As ações de prevenção identificadas no presente estudo concentram-se nos
níveis primários e secundários.
A
prevenção primária é a ação
capaz de remover fatores de riscos à saúde de um
indivíduo ou população antes mesmo de desenvolver
um condicionamento clínico
indesejado. Inclui ações de promoção da
saúde e proteção específica (ex.:
imunização, orientações acerca da
prevenção de Infecções Sexualmente
Transmissíveis (IST), etc). Já prevenção secundária é
responsável pela detecção de um problema ou condicionante de saúde que esteja
em estado inicial, facilitando em um diagnóstico, tratamento e reduzindo
dimensionamento de efeitos crônicos (ex.: rastreamento, diagnóstico precoce)
[19].
A
educação em saúde, classificada como método de prevenção primária, destaca-se
por ser um instrumento de promoção a saúde do indivíduo ou coletividade por
meio do conhecimento técnico e científico oferecido pelos enfermeiros para
formar consciência crítica de prevenção nas mulheres [17].
As
salas de espera tornam-se locais oportunos que enfermeiros(as) dispõem para
informar aos usuários as rotinas do serviço com orientações acerca do
agendamento, marcação e horários das práticas assistenciais e preventivas,
assim como realizar atividades de educação em saúde, por exemplo, informes
acerca de temas tais como educação sexual, conscientização sobre métodos
contraceptivos, uso de preservativos feminino ou masculino como método de
prevenção contra IST, incluindo o HPV durante o ato sexual juntamente com seus
parceiros, etc. [20].
Em
uma pesquisa realizada no Centro de Desenvolvimento Familiar, no município de
Fortaleza no estado do Ceará em 2017, constatou-se que existiam fatores
pessoais e educacionais associados a não realização do exame citopatológico pelas mulheres de 25 a 64 anos em vida
sexual ativa participantes do estudo, como: próprio descuido (23,7%),
esquecimento do período de realização do exame (12,0%) falta de tempo (10,5%) e
até mesmo a falta de interesse (5,3%) [12].
Dessa
forma, o papel principal do profissional de enfermagem na
prevenção do CCU
dentro das ações de educação em
saúde é de esclarecer dúvidas da
população
feminina que já iniciou sua vida sexual sobre os métodos
de prevenção e de
desfazer tabus relacionados ao próprio exame preventivo. Diante
do cenário,
recomenda-se realização de educação
continuada dentro da consulta de enfermagem
na APS, promoção de reuniões ou palestras em
grupos de mulheres, oficinas e
visitas domiciliares, dentre outras ações [20].
Diante
do cenário atual de inovações tecnológicas
e a modernização dos meios de
comunicação digitais, outros métodos de
prevenção e ações de educação
podem ser
utilizados dentro da APS pelos profissionais da enfermagem. A
intervenção
educativa por telefone foi utilizada por profissionais da área
da enfermagem
que realizaram ligações telefônicas às
mulheres que já eram assistidas pelas
equipes e que pertenciam à área adscrita pela UBS
[17].
As
ligações eram realizadas às mulheres e iniciadas com uma breve explicação sobre
o CCU e seus riscos, a finalidade do PCCU, a importância da periodicidade do
exame, os cuidados pré-exame e o retorno para
acompanhamento e avaliação do resultado. A intervenção realizada refletiu em
aumento do conhecimento no grupo educativo quando comparado antes (29,8%) e
após a intervenção (39,1%) [17].
Assim,
torna-se necessário a implementação de novas tecnologias pelos enfermeiros que
aliadas as já existentes garantam melhores resultados assistenciais. O Objeto
Virtual de Aprendizagem (OVA) é um recurso tecnológico quem tem como objetivo
complementar o treinamento e capacitação de enfermeiros/profissionais de saúde
acerca da prevenção e rastreamento do câncer do colo do útero [12].
O
OVA permite dar continuidade dos serviços de saúde dos profissionais por meio
de capacitações tecnocientíficas, resultando na
realização da assistência inovadora e qualificada. Este instrumento tecnológico
permite conhecer métodos que facilitam o discernimento de alterações
fisiológicas, anatômicas e patológicas, além de atualizar e auxiliar sobre
novas técnicas que surgem no mercado gerando precisão e autonomia na
assistência. A realização de atividades de fixação, estudos de casos, questões
de múltiplas escolhas, telas de ilustrações, fotos, infografias e vídeos são utilizados
na ferramenta OVA para aprimorar e atualizar conhecimentos, percepções e
métodos de educação utilizados no rastreamento e prevenção do câncer de colo de
útero [12].
No
Brasil, o principal método de prevenção secundária utilizado como rastreamento
do CCU é o exame citopatológico de colo uterino, um
exame indolor, gratuito e eficaz, realizado a partir da coleta de material colpocitológico por profissional enfermeiro ou médico [16].
Por consequência, é necessário a garantia da organização e qualidade na
realização das etapas da assistência, como processo de acolhimento, registro
dos dados das pacientes, realização da coleta de acordo com métodos
preconizados pelo Ministério da Saúde, armazenamento das amostras, além da
busca ativa pelas pacientes [17].
A
realização do exame citopatológico de colo uterino
com o intuito de rastreamento na faixa etária recomendada (25-64 anos) resulta
no aumento da possibilidade do diagnóstico de lesões benignas de baixo grau,
que possuem elevada taxa de regressão espontânea. No entanto, alguns entraves
foram relatados por mulheres em relação a coleta do exame, tais como: receio,
timidez, aflição, técnica invasiva e incômoda que resulta no prolongamento e
repulsa na busca do serviço de saúde [21].
Neste
sentido, a assistência da enfermagem deve estar ligada ao comportamento técnico
e ético a fim de proteger a integralidade e intimidade da mulher, explicar e
orientar sobre o exame, prestar consultoria e avaliação durante a realização
[17].
Em
mulheres que não realizam o exame por um longo tempo, torna-se possível as
chances do recebimento de resultados alterados, diante disto, compete ao
enfermeiro dentro da prevenção terciária, durante o atendimento esclarecer
minuciosamente o significado das alterações, orientação sobre condutas,
tratamentos, encaminhamentos e de possíveis procedimentos e/ou exames
complementares a serem realizados [16].
A
orientação para realização do exame preventivo por meio dos profissionais de
enfermagem torna-se essencial para adesão da prevenção contra esse tipo câncer.
Resultado de um estudo apontou que 90% das mulheres que receberam orientações
de enfermagem aderiram um programa de prevenção do CCU e somente 10% não
responderam ou não procuraram pelo serviço de saúde [21].
Dados
de uma pesquisa realizada em um município de Três Passos no estado do Rio
Grande do Sul com 1.583 mulheres entre idades de 14 a 84 anos mostrou que a
faixa etária que mais procurou os serviços de saúde para realização do exame
foi
45 a 54
anos, totalizando 376 mulheres [21]. São necessárias intervenções que facilitem
e sinalizem a procura antecipada para realização do exame ou consulta
ginecológica da enfermagem abordando métodos educativos, instrutivos e
tecnológico que promova a adesão desse método preventivo a mulheres mais jovens
[13].
Além
do exame de Papanicolau, a vacina HPV quadrivalente
inclusa no calendário nacional de imunização do SUS indicada para meninas entre
9 a 14 anos e meninos entre 11 a 14 anos, torna-se um meio de prevenir a
contaminação pelos subtipos de HPV 6 e 11 causadores de verrugas genitais e 16
e 18, responsáveis pelos casos de desenvolvimento mais comum do câncer de colo
de útero [14].
A
profilaxia contra o vírus do HPV pela vacinação também denominada como foco da
prevenção primária tem a principal função de impedir a contaminação pelos
subtipos, mostrando-se serem seguras, bem toleradas e eficazes reduzindo uma
taxa de 70% dos casos de câncer de colo de útero [15].
Estima-se
que 75% das brasileiras entraram em contato com o vírus ao longo da vida, sendo
a faixa etária com maior transmissibilidade aos 25 anos. A vacinação dentro da
APS é apresentada como um método que auxilia a prevenir o CCU e aumenta as
estratégias de implementação vacinal e programas de rastreamento populacional
adequado [20].
Notou-se
que os profissionais enfermeiros da APS são imprescindíveis para realização da
assistência à saúde, prevenção e principalmente redução de agravos contra o
câncer de colo de útero a mulheres sexualmente ativas. Desta forma o método de
prevenção quaternário, institui a importância da periodicidade da realização do
exame e das consultas de enfermagem rotineiramente evitando intervenções e
exposição a tratamentos rigorosos [15].
O
planejamento sistematizado das atividades preventivas pelo profissional
enfermeiro da APS, está ligado ao processo de interdisciplinaridade entres os
profissionais de dentro da unidade atuante como médicos, técnicos de enfermagem
e agentes comunitários de saúde. A capacitação por meio do enfermeiro sobre a
importância da periodicidade para realização do exame e educação comunitária
aos ACS resulta na busca ativa pela população feminina abrangente dentro da
comunidade e tornando-os como pontes da adesão aos serviços de saúde [20].
Dentro
dos estudos, nota-se que o enfermeiro deve compreender as particularidades de
sua comunidade, conhecer, analisar e avaliar os grupos focais, faixa etárias,
histórico de vida e familiares de mulheres, além de traçar metas desejadas a
serem alcançadas. Após esta etapa, é necessário a aplicabilidade da assistência
planejada aos grupos e avaliação dos resultados obtidos do tratamento ofertado
pelo enfermeiro como a educação em saúde, realização do exame citopatológico e administração de vacinas [13].
Esta
revisão atualizou o conhecimento sobre as ações realizadas por enfermeiros na
APS para prevenção de câncer de colo de útero. A análise da literatura indica
que há uma concentração de estudos voltados às ações sabidamente conhecidas e
historicamente realizadas na prevenção e controle da doença, principalmente,
com foco na educação em saúde tradicional, imunização e coleta do exame citopatológico. Entretanto, as evidências indicam novas
estratégias que podem ser incorporadas à prática clínica nos serviços de saúde
ou associadas às já existentes, visando a melhora no acesso à informação,
aumento da procura aos serviços de saúde, detecção passiva e ativa e
diagnóstico precoce da doença.
Ratificou-se
a importância do papel dos enfermeiros na APS, por serem os
principais
cooperadores e gestores do cuidado e por estarem inseridos diretamente
na
assistência, promoção, prevenção e
manutenção da saúde da população. O
planejamento, sistematização e
implementação das ações preventivas pelo
enfermeiro contribuem para a correta avaliação da
situação de saúde das
pacientes, de forma integral e humanizada, identificação
e prescrição dos tipos
de cuidados necessários para prevenção do
câncer de colo de útero, qualificação
do atendimento nas consultas, com obtenção de resultados
favoráveis para
redução e controle do surgimento de novos casos.
Conflito
de interesses
Não
há conflito de interesses.
Fontes
de financiamento
Os
autores declaram que não receberam subsídios financeiros para elaboração deste
estudo.
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Reis BMCB, Pinheiro RP, Santos KCB; Coleta de dados: Reis BMCB, Pinheiro
RP; Análise e interpretação dos dados: Reis BMCB, Pinheiro RP, Santos
KCB; Redação do manuscrito: Reis BMCB, Pinheiro RP, Santos KCB; Revisão
crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Reis BMCB,
Pinheiro RP, Santos KCB, Pacheco LKS.