Enferm Bras. 2023;22(5):771-84

doi: 10.33233/eb.v22i5.5439

REVISÃO

Uso terapêutico do canabidiol: uma potencialidade de frágil abordagem

 

Fernanda Lavínia Ribeiro Silva, Túlio César Vieira de Araújo

 

Centro Universitário FACEX, Natal, RN, Brasil

 

Recebido em: 1 de abril de 2023; Aceito em: 12 de agosto de 2023.

Correspondência: Túlio César Vieira de Araújo, tuca_cva@hotmail.com

 

Como citar

Silva FLR, Araújo TCV. Uso terapêutico do canabidiol: uma potencialidade de frágil abordagem. Enferm Bras. 2023;22(5):771-84. doi:  10.33233/eb.v22i5.5439

 

Resumo

Objetivo: Descrever o uso terapêutico do canabidiol sob a luz da literatura. Métodos: Trata-se de um estudo descritivo do tipo revisão integrativa. Foi realizada a busca nas bases Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE) e Base de Dados de Enfermagem (BDENF). Os descritores utilizados foram canabidiol, cannabis, epilepsia e tratamento farmacológico. A busca contemplou textos publicados entre 2011 a 2021 na língua portuguesa. Resultados: Foram identificados 10 estudos que assomaram dois tópicos: As potencialidades e fragilidades do uso terapêutico do canabidiol e o uso do canabidiol no Brasil segundo a legislação. Dentro dos tópicos ressalta-se o mecanismo de ação dos compostos extraídos da planta cannabis sativa e as resoluções e portarias sobre o uso terapêutico do canabidiol. Conclusão: A utilização do canabidiol como anticonvulsivante não acarreta implicações à segurança do paciente e não promove a ocorrência de efeitos adversos como outras substâncias extraídas da Cannabis.

Palavras-chave: canabidiol; cannabis; epilepsia; tratamento farmacológico.

 

Abstract

Therapeutic use of cannabidiol: a potentiality with a fragile approach

Objective: To describe the therapeutic use of cannabidiol in light of the literature. Methods: This is a descriptive study of the integrative review type. The search was carried out in the Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Online Medical Literature Search and Analysis System (MEDLINE) and Nursing Database (BDENF) databases. The descriptors used were cannabidiol, cannabis, epilepsy and pharmacological treatment. The search included texts published between 2011 and 2021 in Portuguese. Results: 10 studies were identified that raised two topics: The strengths and weaknesses of the therapeutic use of cannabidiol and the use of cannabidiol in Brazil according to legislation. Within the topics, the mechanism of action of compounds extracted from the cannabis sativa plant and the resolutions and ordinances on the therapeutic use of cannabidiol are highlighted. Conclusion: The use of cannabidiol as an anticonvulsant does not entail implications for patient safety and does not promote the occurrence of adverse effects like other substances extracted from cannabis.

Keywords: cannabidiol; cannabis; epilepsy; drug therapy.

 

Resumen

Uso terapéutico del cannabidiol: una potencialidad con un enfoque frágil

Objetivo: Describir el uso terapéutico del cannabidiol a la luz de la literatura. Métodos: Se trata de un estudio descriptivo del tipo revisión integradora. Se realizó una búsqueda en Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Online System for Search and Analysis of Medical Literature (MEDLINE) y Nursing Database (BDENF). Los descriptores utilizados fueron cannabidiol, cannabis, epilepsia y tratamiento farmacológico. La búsqueda incluyó textos publicados entre 2011 y 2021 en portugués. Resultados: Se identificaron 10 estudios que se centraron en dos temas: las potencialidades y debilidades del uso terapéutico del cannabidiol y el uso del cannabidiol en Brasil de acuerdo con la legislación. Dentro de los temas se destaca el mecanismo de acción de los compuestos extraídos de la planta cannabis sativa y las resoluciones y ordenanzas sobre el uso terapéutico del cannabidiol. Conclusión: El uso de cannabidiol como anticonvulsivo no tiene implicaciones para la seguridad del paciente y no promueve la aparición de efectos adversos como otras sustancias extraídas del Cannabis.

Palabras-clave: cannabidiol; cannabis; epilepsia; quimioterapia

 

Introdução

 

As doenças cerebrais crônicas são aquelas que prejudicam o sistema nervoso, responsável pela realização de múltiplas funções, podendo ocorrer a destruição dos neurônios de maneira gradual e irreversível, assim as patologias se manifestam de forma direta ou indireta e com sinais e sintomas variados. Entre as doenças cerebrais crônicas existentes inclui-se a epilepsia, doença de etiologia variada sendo caracterizada pela recorrência de crises epilépticas, tendo como definição eventos de curta duração, paroxísticos e involuntários apresentando manifestações clínicas motoras, autonômicas, sensitivas, sensoriais, psíquicas, com ou sem alteração da consciência, decorrente de atividade elétrica anormal, excessiva e síncrona no tecido cerebral [1].

Dentre as diversas variações epiléticas, existe uma que provém da persistência das crises convulsivas mesmo após o uso de dois ou mais medicamentos, associados ou não, que são indicados para o tipo de epilepsia do paciente. Estas características recebem a denominação de epilepsia refratária ou fármaco-resistente. A prevalência mundial da epilepsia está por volta de 1% da população e sua incidência varia de acordo com a idade, sexo, raça, tipo de síndrome epiléptica e condição socioeconômica. Contudo, cerca de 30% dos portadores são refratários aos fármacos disponíveis no Brasil e liberados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) [2].

Por conseguinte, alguns tratamentos para a epilepsia resistente a medicamentos são abordados na literatura, entre eles está a utilização de um canabinoide natural extraído da planta Cannabis sativa, o Canabidiol (CBD). A Cannabis sativa é um arbusto conhecido pelo nome de “cânhamo da índia”, que cresce livremente em várias partes do mundo, especialmente nas regiões tropicais e desérticas. Ela é uma planta que possui um valor terapêutico significativo e vem sendo usada há séculos para diversos fins, tais como, alimentação, rituais religiosos e práticas medicinais [3].

      O canabidiol é uma das principais substâncias encontradas na Cannabis sativa com um grande potencial terapêutico, e, por ser um canabinoide não psicoativo a função cerebral permanece inalterada [3]. O CBD age no sistema endocanabinoide e exerce uma grande diversidade na ação farmacológica sem interação com o sistema dopaminérgico, portanto, não causa euforia, agitação ou qualquer evento motor [4].

Outrossim, apesar de pesquisas apresentarem validação nos benefícios do CBD à saúde, atualmente no Brasil, ainda há uma resistência preconceituosa em torno do uso medicinal deste fármaco [5]. A Cannabis continua sendo um tabu para grande parte da população mundial, mesmo com seus mitos históricos sendo quebrados dia após dia, a maioria dos países do mundo ainda a criminaliza. Apesar disso, alguns países como a Holanda e Uruguai já descriminalizaram o uso da droga, assim como Washington e Colorado nos Estados Unidos, que legalizaram a Cannabis tanto para fins medicinais quanto para fins recreativos. No Brasil, o assunto em questão ainda está em pauta no Supremo Tribunal Federal (STF), que julga se o uso medicinal deve ser ou não descriminalizado [6].

Partindo desta explanação o presente estudo se justifica pela contribuição acadêmica do tema exposto, visto a importância do debate da temática, e o potencial terapêutico do canabidiol, apresentado em estudos, não só na epilepsia, mas também em outras condições de saúde. Logo, dentro desta conjectura criou-se a seguinte indagação: o uso do canabidiol é eficaz no tratamento da epilepsia refratária? Frente a isso, o presente trabalho tem como objetivo descrever o uso terapêutico do canabidiol sob a luz da literatura.

 

Métodos

 

Trata-se de um estudo descritivo do tipo revisão integrativa, método que proporciona a síntese de conhecimento e a incorporação da aplicabilidade de resultados de estudos significativos na prática. Tem a mais ampla abordagem metodológica referente às revisões, permitindo a inclusão de estudos experimentais e não-experimentais para uma compreensão completa do assunto analisado. Além do mais, traz dados da literatura teórica e empírica, incorporando um vasto leque de finalidades, como definição de conceitos, análise de problemas metodológicos, revisão de teorias e evidências. Para a construção desta revisão literária, foram utilizadas as seguintes etapas: Elaboração da pergunta norteadora, busca na literatura, coleta de dados, análise crítica dos estudos incluídos, discussão dos resultados e apresentação da revisão integrativa [7].

Quanto ao levantamento dos artigos na literatura, realizou-se uma busca nas seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica (MEDLINE) e Base de Dados de Enfermagem (BDENF). Os descritores e seus cruzamentos com o operador booleano “AND” estão apresentados na Figura 1.

Para seleção dos artigos, utilizou-se como critérios de inclusão estudos publicados na língua portuguesa, disponíveis na forma gratuita e online, que compartilhassem da temática e objetivo proposto nos últimos dez anos (2011-2021). Quanto aos critérios de exclusão, destaca-se carta ao editor, artigos que não respondiam a proposta do trabalho, estudos incompletos e artigos em forma de resumos, os artigos duplicados foram utilizados uma vez.

Os dados utilizados neste estudo foram devidamente referenciados, respeitando e identificando seus autores e demais fontes de pesquisa, observando rigor ético quanto à propriedade intelectual dos textos científicos que foram pesquisados, no que diz respeito ao uso do conteúdo e de citação das partes das obras consultadas.

 

Fonte: Autoria Própria, 2023

Figura 1 - Identificação dos descritores e seus respectivos cruzamentos a partir das pesquisas nas bases de dados selecionadas. Natal/RN, 2023

 

Resultados

 

Foram identificados 53.230 artigos após os cruzamentos com os descritores e o operador booleano. Após a aplicação dos critérios de refinamento, foram contabilizados o total de 53 estudos, com base na leitura dos títulos e resumos dos artigos foram selecionados 10 para compor o referencial teórico do trabalho, por se enquadrarem na temática central e no objetivo do estudo. Salienta-se que dos 10 artigos selecionados a maior parte teve sua publicação em 2019 e em relação ao tipo de pesquisa prevaleceu a revisão integrativa da literatura.

      As principais temáticas abordadas nos 10 estudos selecionados tratavam sobre como o mecanismo de ação do fármaco à base de canabidiol auxilia no tratamento, elencando suas potencialidades e fragilidades assim como os aspectos legais do uso da substância. Em virtude disso, a discussão deste estudo foi elaborada com base em dois tópicos principais: As potencialidades e fragilidades do uso terapêutico do canabidiol e o uso do canabidiol no Brasil segundo a legislação. O detalhamento dos artigos selecionados encontra-se apresentados na Tabela I.

 

Tabela I - Descrição dos artigos selecionados e discriminados quanto a título, autor, ano, tipo de estudo e objetivo, Natal/RN, 2023

 

Fonte: Autoria Própria, 2023

 

Discussão

 

As potencialidades e fragilidades do uso terapêutico do canabidiol

 

O tratamento medicamentoso usual para a epilepsia tem o propósito de interromper as crises através da administração dos fármacos. Porém, este tratamento torna-se ineficaz para os pacientes portadores da epilepsia refratária, sendo necessário buscar outra alternativa medicamentosa [8,9]. O uso do CBD para epilepsia é promissor, pois apresenta um mecanismo de ação distinto dos fármacos anticonvulsivantes convencionais e seus efeitos adversos são tolerados pelos pacientes. Isso advém pela presença do sistema endocanabinoide no corpo, composto pelos receptores canabinoides CB1, localizados no sistema nervoso central, e os CB2, que se localizam em células do sistema imune e em alguns tecidos periféricos [10].

O CBD atua sobre os receptores CB1 e CB2, todavia, possui pouca afinidade deste modo, ele inibe a enzima amida hidrolase de ácido graxo (FAAH), que é responsável por degradar o endocanabinoide anandamida (ANA), neurotransmissor endógeno produzido nas áreas do cérebro que são importantes para a memória, processamento do pensamento e controle do movimento. Dessa forma, a biodisponibilidade desse endocanabinoide é aumentada no sistema nervoso central contribuindo para a redução da excitação neuronal [11].

Assim, o sistema endocanabinoide é ativado durante condições que desencadeiam a epilepsia. Compostos que inibem a enzima que metaboliza o endocanabinoide anandamida faz com que seus níveis no organismo aumentem significativamente, controlando de maneira eficaz a excitabilidade neuronal sem o desenvolvimento de efeitos adversos. Embasado nesses argumentos, estudos mostram que pesquisadores têm encontrado uma melhor estratégia farmacológica em inibidores da enzima FAAH, que é o caso do CBD [12]. Em vista disso, pela forma que o CBD age no corpo, justifica-se sua potencialidade e demonstra que seu fármaco reduz significativamente os episódios epilépticos, e na sequência, oferece uma condição de vida melhor e segura para o paciente.

Além do canabidiol, vários compostos ativos foram descobertos na cannabis, entre eles o tetrahidrocanabinol (THC), que tem maior abundância na planta e também é principal constituinte psicoativo. Sua influência provoca dependência e sintomas psicóticos em sujeitos vulneráveis, que estão relacionados com o aumento do fluxo pré-sináptico de dopamina no córtex pré-frontal medial [11].

Nesse sentido estudo mostra que altas doses do THC podem causar perda da memória, esquizofrenia, aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial por seu envolvimento com os neurotransmissores. Em contrapartida, estudos clínicos apresentam maiores efeitos terapêuticos e menores efeitos adversos quando se utilizam outros extratos da planta ao invés do uso unicamente do THC [3].

Pesquisadores sugerem o uso do THC para aumentar o apetite, diminuir náuseas e vômitos e atuar como analgésico de uso oral. Porém, o uso terapêutico do THC tornou-se restringido pela existência de efeitos adversos severos. Pesquisas em animais demonstraram que o THC possui capacidade de destruir células imunes e tecidos do corpo que auxiliam na proteção contra doenças. Outros efeitos relevantes são manifestados a nível do sistema nervoso central, por esse motivo que existe a instabilidade do uso do THC na epilepsia e em outras condições [10]. Por conseguinte, a presença de uma alta dosagem do THC é a grande fragilidade do uso terapêutico da planta, pois pode levar o paciente a uma psicose e desencadear efeitos adversos severos.

As substâncias mais estudadas pela ciência são o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC). Ambos possuem a mesma estrutura molecular, com uma sutil alteração na organização dos átomos que torna as suas propriedades sensivelmente diferentes, ou seja, o THC é psicoativo e CBD é não psicoativo [4].

Esses canabinoides são antagônicos altamente competitivos, dessa forma, enquanto o THC age proporcionando um estado de euforia, o CBD atua antagonicamente como bloqueador e inibidor do senso de humor [13]. Corroborando os achados, estudo afirma que o CBD não tem ação intoxicante, por isso não causa nenhuma alteração da percepção com a realidade. Além da sua alta performance como anticonvulsivante, ele também se destaca por suas propriedades analgésica, anti-inflamatória, antioxidante, ansiolítica, antidepressiva e neuroprotetora. Ele também age como modulador da atuação do THC relacionado a efeitos indesejados como ansiedade, depressão ou alucinações [14].

 

O uso do canabidiol no Brasil segundo a legislação

 

Para assegurar o acesso ao tratamento que tantos necessitam, o Conselho Federal de Medicina (CFM) em 16 de dezembro de 2014 publicou a Resolução nº 2.113, considerando o uso do Canabidiol para o tratamento de epilepsias refratária em crianças e adolescentes, enfatizando em seu documento que os efeitos adversos foram todos de intensidade leve ou moderada e os mais comuns foram: sonolência, fadiga, diarreia e aumento do apetite [15].

Em 14 de janeiro de 2015 a Anvisa retirou o canabidiol da lista de substâncias proibidas do país [16], em 26 de janeiro de 2015 a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 3/2015, atualizou a lista de substâncias sujeitas a controle especial e incluiu o CBD na lista C1 [17] e em 06 de maio de 2015 a RDC nº 17 definiu os critérios e os procedimentos para a importação do produto à base de canabidiol mediante prescrição de profissional legalmente habilitado, para tratamento da saúde [18].

Posteriormente, em 24 de janeiro de 2020 por meio da RDC nº 335/2020, a Anvisa autorizou a importação de produtos derivados de cannabis, permitindo que pessoas físicas ou seus representantes legais importem o produto por um período de dois anos [19].

Em 04 de novembro de 2021, a Anvisa aprovou dois novos produtos à base de Cannabis para uso medicinal no Brasil: o extrato de cannabis sativa promediol e o extrato de cannabis sativa zion Medpharma 200 mg/ml. Os novos produtos estarão disponíveis sob solução em gotas, contendo 50 mg/ml de CBD e não mais de 0,2% de THC. Deverão ser comercializados em farmácias e drogarias a partir da prescrição médica por meio de receita controlada da cor azul (tipo B) [20].

 

 

Fonte: Brasil, 2014; Brasil, 2015; Brasil, 2020; Brasil, 2021

Figura 2 - Linha do tempo sobre o processo de aprovação do canabidiol no Brasil, Natal/RN, 2023

 

A existência dessas portarias e resoluções é primordial para o acesso ao medicamento fruto da extração da substancia benéfica da cannabis no Brasil, na medida em que existem pessoas que são refratárias aos fármacos usuais disponíveis e por esse motivo buscam outra alternativa para o tratamento. Regulamentando a comercialização de medicamentos à base de canabidiol, os benefícios para os usuários seriam imensuráveis, visto a possibilidade de tratamento ampliada e o processo de obtenção acessível [6].

 

Conclusão

 

Mediante a pesquisa bibliográfica realizada para a composição deste estudo, conclui-se que a utilização do canabidiol como anticonvulsivante preserva à segurança do paciente e não promove a ocorrência de efeitos adversos como outras substâncias extraídas da Cannabis sativa. O CBD possui grande potencial terapêutico em nível de sistema nervoso central e demonstra ser relevante no tratamento da epilepsia fármaco-resistente, reduzindo significativamente as crises convulsivas dos pacientes e evitando danos cerebrais irreversíveis. Enfatiza-se que o efeito prejudicial da planta é por ter grande quantidade de THC em sua composição, principal causador das implicações psicóticas.

Vale pôr em evidência a importância das leis, portarias e resoluções para que aqueles que necessitam do composto a base de CBD garantam o acesso ao tratamento. É imprescindível entender as dificuldades e os anseios dos usuários refratários aos fármacos, tendo em vista as dificuldades judiciais existentes para obtenção do composto necessário para auxiliar no tratamento das crises convulsivas persistentes, uma vez que há pessoas que continuam sendo afetadas diariamente pelos graves efeitos procedentes das convulsões e tentam buscar tratamento nos anticonvulsivantes disponíveis que, geralmente, mostram-se inoperantes em casos como estes.

Constata-se que apesar da temática ser relevante para o conhecimento de novas substâncias que prometem um tratamento eficaz, foi possível observar que ainda é de abordagem frágil, tendo em vista que após as buscas bibliográficas elencou-se apenas 10 artigos que contemplaram o tema (dentre 53.230) para serem discutidos nesse trabalho, mesmo considerando a temporalidade de 10 anos.

Ratifica-se a necessidade de estudos aprofundados em relação aos mecanismos de ação dos compostos da cannabis, visto que se trata de um assunto de grande transcendência e potencialidade pela bagagem teórica que o acarreta, proporcionando assim um maior aprofundamento teórico cientifico e acessibilidade no Brasil. Apesar de ser um assunto ainda pouco conhecido pelos pesquisadores, já demostra um potencial de ação válido.

 

Vinculação acadêmica

Este artigo representa o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de bacharel em enfermagem de Fernanda Lavínia Ribeiro Silva.

 

Conflito de interesses

Os autores reconhecem e declaram não haver conflitos de interesse financeiros, comercial, pessoal ou político relacionados ao tema e ao desenvolvimento do artigo apresentado.

 

Fontes de financiamento

Ausência de financiamento.

 

Contribuição dos autores

Concepção e desenho da pesquisa, obtenção de dados, análise e interpretação dos dados, análise estatística, redação do manuscrito e revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Silva FRL e Araújo TCV.

 

Referências

 

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  19. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada nº 335, de 24 de janeiro de 2020. Define os critérios e os procedimentos para a importação de Produto derivado de Cannabis, por pessoa física, para uso próprio, mediante prescrição de profissional legalmente habilitado, para tratamento de saúde. Diário Oficial da União [Internet]. 2020 Jan 27. [citado 2023 mar 20]. Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/resolucao-rdc-n-335-de-24-de-janeiro-de-2020-239866072
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