Enferm Bras.
2023;22(4):423-37
ARTIGO
ORIGINAL
Cognição
e grau de dependência dos idosos em um centro de atenção ao idoso
Elainny Gladys Costa Viana da Penha, Ana Hélia de Lima Sardinha, Rafael de Abreu Lima, Maria Lúcia
Holanda Lopes, Maria de Fátima Santos Sales, Amanda Silva de Oliveira
Universidade
Federal do Maranhão
Recebido
em: 5 de maio de 2023; Aceito em: 1 de agosto de 2023.
Correspondência: Ana Hélia de
Lima Sardinha, anahsardinha@ibest.com.br
Como citar
Penha EGCV, Sardinha
AHA, Lima RA, Lopes MLH, Sales MFS, Oliveira AS. Cognição e grau de dependência
dos idosos em um centro de atenção ao idoso. Enferm
Bras. 2023;22(4):423-37. doi:10.33233/eb.v22i4.5451
Resumo
Objetivo: Investigar a cognição e grau de
dependência dos idosos em um centro de atenção ao idoso. Métodos:
Trata-se de um estudo retrospectivo, transversal, descritivo, com abordagem
quantitativa. Os dados foram coletados em abril de 2018, no Centro de Atenção
Integral à Saúde do Idoso, através do questionário de Avaliação Geriátrica
Ampla, aplicados em 174 idosos. Utilizaram-se os dados sociodemográficos (sexo,
cor, idade, estado civil, escolaridade) e o grau de dependência e resultado do mini-exame do estado mental. Resultados: 63,21% dos
idosos eram do sexo feminino com idade entre 60-69 anos (49,42%), pardos
(45,97%), tinham até 4 anos de estudo (29,88%), casados (49,42%), aposentados
(73,85%) e independentes nas atividades de vida diária (73,56%). 26,43% dos
idosos foram considerados dependentes e destes, 53,26% apresentam
comprometimento cognitivo. Conclusão: A maior parte dos idosos não
possuíam comprometimento cognitivo e eram independentes nas atividades de vida
diária.
Palavras-chave: idoso; cognição; capacidade funcional.
Abstract
Cognition and degree of dependency of the elderly in a
care center for the elderly
Objective: To investigate the cognition and
degree of dependency of the elderly in a care center for the elderly. Methods:
This is a retrospective, cross-sectional, descriptive study with a quantitative
approach. Data were collected in April 2018, at Centro de Atenção
Integral à Saúde do Idoso
(Integrated Care for Older People), through General Geriatric Assessment
questionnaire, in 174 elderly people. The identification, sociodemographic
data, Mini Mental State Examination and Katz index were used. Results:
The majority of the elderly were female (63.21%), aged 60-69 years (49.42%),
brown (45.97%), up to 4 years of schooling (29.88%), married (49.42%), retired
(73.85%) and independent in the activities of daily living (73.56%). Only
26.43% of the elderly were considered dependent and 53.26% had cognitive
impairment. Conclusion: Most of the elderly did not have cognitive
impairment and were independent in the activities of daily living.
Keywords: aged; cognition; functional
capacity.
Resumen
Cognición y grado de dependencia
de los ancianos en un centro de atención al anciano
Objetivo: Investigar la
cognición y el grado de dependencia de los ancianos en un
centro de atención al anciano.
Métodos: Se trata de un estudio
retrospectivo, transversal, descriptivo, con abordaje cuantitativo.
Los datos recolectados en abril de 2018, en el Centro de Atención Integral a la Salud
del Anciano, a través del cuestionario Evaluación Geriátrica Amplia, en
174 ancianos. Se utilizaron
los datos de identificación, datos
sociodemográficos, el test Mini-Mental (MEEM) e Índice de Katz. Resultados: La mayoría de los ancianos eran del
sexo femenino (63,21%), entre 60-69 años (49,42%), pardos (45,97%), tenían
hasta 4 años de estudio
(29,88%), casados (49,42%), jubilados (73,85%) e independientes
en las actividades
de vida diaria (73,56%) Sólo
el 26,43% de los ancianos fueron considerados dependientes y de éstos, 53,26% presentaban un compromiso cognitivo. Conclusión:
La mayoría de los ancianos no tenían compromiso cognitivo y eran independientes en las actividades de vida diaria.
Palabras-clave: anciano; cognición;
capacidad funcional.
Estima-se
que em 2050 a população mundial com mais de 60 anos passe de 841 milhões para
dois bilhões. No Brasil, acredita-se que, em 2025, o país será o sexto do mundo
em número absoluto de idosos [1].
No
que se refere ao estado do Maranhão, o estado possui 567.667 (8,3%) idosos, dos
quais 78.059 (7,4%) correspondem a população idosa na capital, em São Luís [2].
O
envelhecimento está intimamente associado ao processo de fragilização.
Entretanto, a idade, por si só, é um preditor de fragilidade inadequado, uma
vez que o processo de envelhecimento segue padrão heterogêneo [3].
Considerando
o aumento da expectativa de vida, percebe-se a importância de se conhecer
melhor o ser idoso e o processo de envelhecimento. Existem duas distinções
importantes, a saber: senescência e senilidade. A senescência pode ser
compreendida como um processo natural de diminuição progressiva da reserva
funcional dos indivíduos, ou seja, em condições normais não costuma provocar
qualquer problema. A senilidade, no entanto, é considerada como uma condição
patológica, que requer uma abordagem e tratamento mais específico, haja vista que
seu perfil se atribui a presença de doenças e/ou limitações, que possam surgir
ao longo da vida [4].
Embora
as alterações orgânicas, funcionais e psicológicas apresentem intensidade
variada com cada indivíduo, o envelhecimento pode ser marcado pelo aumento das
demandas sociais e econômicas. Isto porque com ele cresce o índice de
incapacidades e doenças crônicas não transmissíveis, responsáveis pela
dependência funcional desta população [5].
Este
fato modifica a demanda por políticas públicas, tornando necessária a
elaboração de indicadores de saúde capazes de reconhecer os agravos que
impactam a saúde dos idosos. Os aspectos sociais, econômicos e demográficos já
foram identificados como associados também à funcionalidade dessa população,
como renda, nível educacional e situação conjugal [1].
A
Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) é uma abordagem multidimensional que usa
instrumentos específicos para examinar diferentes funções (visão, audição,
mobilidade, humor, cognição, apoio social, entre outras). Através de
questionários, escalas ou testes de desempenho, aplicados pelo profissional de
saúde [6].
Dentre
esses testes, destaca-se o Mini Exame do Estado Mental
(MEEM), que é um teste prático que não requer muitas exigências de aplicação [7],
sendo essencial para diagnosticar a diminuição da capacidade cognitiva e
amplamente estudado e utilizado em diversos países para rastreio de
comprometimento cognitivo [8].
O
declínio cognitivo é frequentemente relacionado a complicações oriundas de
doenças crônico-degenerativas, como as demências. Desse modo, torna-se
relevante aprofundar o conhecimento sobre a cognição entre idosos a fim de
favorecer o diagnóstico precoce e prevenir o desenvolvimento de demência.
Torna-se relevante aprofundar o conhecimento sobre a cognição entre idosos a
fim de favorecer o diagnóstico precoce e prevenir o desenvolvimento de demência
[9].
Nazario et al. [7] afirmam em sua
revisão que a realização da avaliação de declínio cognitivo é importante para
tracejar os fatores de risco, bem como apontar os grupos mais acometidos, para
traçar melhores estratégias de saúde. Este impacto não se restringe ao aumento
da morbidade entre os idosos, também se estende à incapacidade funcional e
prejuízos no desenvolvimento de suas atividades de vida diária [10].
A
incapacidade funcional pode ser definida como a inabilidade ou a dificuldade de
realizar tarefas que fazem parte do cotidiano do ser humano e que normalmente
são indispensáveis para uma vida independente. Por sua vez, a capacidade
funcional se refere à potencialidade para desempenhar as atividades de vida
diária ou para realizar determinado ato sem necessidade de ajuda,
imprescindíveis para proporcionar uma melhor qualidade de vida. Esta última é
avaliada principalmente pelo índice de Katz. Essa medida reflete, em geral,
quanto maior o número de dificuldades com as AVDs,
mais severa é a sua incapacidade [11].
Trindade
et al. [12] estudaram a cognição e a repercussão funcional de idosos não
institucionalizados e institucionalizados e concluiu que os dados sugerem uma
influência do estado cognitivo na depressão e nas atividades funcionais de vida
diária.
Justifica-se
este trabalho pela aptidão pessoal pela temática. Durante a vivência acadêmica
e no grupo de pesquisa Núcleo de Pesquisa, Educação e Cuidados de Enfermagem
(NUPECE), pode-se perceber a heterogeneidade do envelhecimento deste público no
serviço referenciado, servindo de incentivo a pesquisar sobre.
Este
conhecimento torna-se relevante no atual crescimento demográfico. Sendo assim,
é necessário conhecer esses idosos, suas fragilidades e potencialidades, para
traçar melhores estratégias de assistência à saúde e prevenir agravos.
Sob
a luz do exposto, a presente pesquisa propõe investigar a cognição e grau de
dependência dos idosos em um centro de atenção ao idoso.
Trata-se
de um estudo retrospectivo, transversal, descritivo, com abordagem
quantitativa.
A
pesquisa foi realizada no mês de abril/2018, no Centro de Atenção Integral à
Saúde do Idoso (CAISI), localizado na Rua Salvador de Oliveira, número 12 -
Sítio Leal, São Luís, Maranhão.
O
CAISI é uma unidade de saúde complementar da Rede de Especialidades, exclusiva
para usuários a partir de 60 anos. Um Centro de Referência de nível
intermediário, inaugurado em 16 de agosto de 2006, para atendimento aos idosos
do município de São Luís/MA, mantido com recursos do Sistema Único de Saúde,
através da Secretaria Municipal de Saúde. No centro são oferecidos atendimentos
ambulatoriais nas áreas de angiologia, cardiologia, endocrinologia, geriatria,
ginecologia, gastroenterologia, neurologia e reumatologia, entre outras,
central de marcação para consultas e exames, academia, reabilitação física,
serviço social, além dos grupos de convivências.
A
amostra constituiu-se de 174 idosos que buscaram atendimento ambulatorial e
foram submetidos a AGA no período de janeiro a março de 2018. A escolha do
período deve-se ao fato de ser o período de maior demanda de triagens na
unidade, em que os idosos buscam se engajar nas atividades para o ano todo.
O
critério de inclusão foi todos os idosos que foram avaliados pela Avaliação
Geriátrica Ampla (AGA) nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2018. E
exclusão foi AGA com informações incompletas e com rasuras.
Os
dados foram obtidos por meio da Avaliação Geriátrica Ampla (AGA) no Centro de
Atenção Integral à Saúde do Idoso (CAISI), na cidade de São Luís, Maranhão,
Brasil. Foram usados os dados de identificação, sociodemográficos (sexo, cor, idade,
estado civil, escolaridade), grau de dependência e resultado do mini exame do
estado mental (MEEM).
Para a avaliação do estado cognitivo utilizou-se a versão do MEEM em português modificada por Brucki et al. [13]. O MEEM é composto por:
Orientação
temporal - pergunte ao indivíduo: (1 ponto para cada resposta correta) Que dia
é hoje? Em que mês estamos? Em que ano estamos? Em que dia da semana estamos?
Qual a hora aproximada? (considere a variação de mais ou menos uma hora)
(Escore máximo = 5);
Orientação
espacial - pergunte ao indivíduo: (1 ponto para cada resposta correta) Em que
local nós estamos? (consultório, dormitório, sala apontando para o chão). Que
local é este aqui? (apontando ao redor num sentido mais amplo: hospital, casa
de repouso, própria casa). Em que bairro nós estamos ou qual o nome de uma rua
próxima? Em que cidade nós estamos? Em que estado nós estamos? (Escore máximo =
5);
Memória
imediata: Eu vou dizer três palavras e você irá repeti-las a seguir: carro,
vaso, tijolo (1 ponto para cada palavra repetida acertadamente na 1ª. vez,
embora possa repeti-las até três vezes para o aprendizado, se houver erros).
Use palavras não relacionadas (Escore máximo = 3);
Cálculo:
subtração de setes seriadamente (100-7, 93-7, 86-7,
79-7, 72-7, 65). Considere 1 ponto para cada resultado correto. Se houver erro,
corrija-o e prossiga. Considere correto se o examinado espontaneamente se
autocorrigir (Escore máximo = 5).
Evocação
das palavras: pergunte quais as palavras que o sujeito acabara de repetir (1
ponto para cada) (Escore máximo = 3);
Nomeação:
peça para o sujeito nomear os objetos mostrados (relógio, caneta) (1 ponto para
cada) (Escore máximo = 2);
Repetição:
Preste atenção: vou lhe dizer uma frase e quero que você repita depois de mim:
Nem aqui, nem ali, nem lá. Considere somente se a repetição for perfeita
(Escore máximo = 1);
Comando:
Pegue este papel com a mão direita (1 ponto), dobre-o ao meio (1 ponto) e
coloque-o no chão (1 ponto). Se o sujeito pedir ajuda no meio da tarefa não dê
dicas (Escore máximo = 3);
Leitura:
mostre a frase escrita FECHE OS OLHOS e peça para o indivíduo fazer o que está
sendo mandado. Não auxilie se pedir ajuda ou se ler a frase sem realizar o comando
(Escore máximo = 1);
Frase:
Peça ao indivíduo para escrever uma frase. Se não compreender o significado,
ajude com: “alguma frase que tenha começo, meio e fim”; “alguma coisa que
aconteceu hoje”; “alguma coisa que queira dizer”. Para a correção não são
considerados erros gramaticais ou ortográficos (Escore máximo = 1).
Cópia
do desenho: mostre o modelo e peça para fazer o melhor possível. Considere
apenas se houver 2 pentágonos interseccionados (10 ângulos) formando uma figura
de quatro lados ou com dois ângulos (Escore máximo = 1).
Para
estabelecer o ponto de corte do MEEM, consideramos a escolaridade do
entrevistado: 20 pontos para analfabetos; 25 pontos para sujeitos com 1 a 4
anos de estudo; 26 pontos para sujeitos com 5 a 8 anos de estudo; 28 pontos, 9
a 11 anos e acima de 11 anos, 29 pontos [13].
O
grau de dependência foi avaliado por meio do Índice de Katz (1963) [14],
instrumento validado no Brasil, que engloba seis Atividades Básicas da Vida
Diária (ABVD): alimentação, controle de esfíncteres, transferência, higiene
pessoal, capacidade para se vestir e tomar banho.
Uma
pontuação 6 indica que o idoso é independente para realizar suas atividades
cotidianas. Uma pontuação 4 indica uma dependência parcial, podendo o idoso
requerer ou não auxilio. Uma pontuação igual ou inferior a 2 indica dependência
total para as atividades de vida diária [15].
Os
dados coletados foram dispostos em uma planilha do Excel, analisados por meio
do programa Biostat 5.3 e apresentados por meio de
tabela.
A
presente faz parte de um projeto maior intitulado: “Avaliação da saúde da
Pessoa Idosa”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital
Universitário Presidente Dutra (São Luis/MA), com
parecer consubstanciado número 1.757.188. A mesma atende às normas presentes na
resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
A
amostra foi composta de 174 idosos. Pelo critério de exclusão pré-estabelecido,
foram excluídos 8 prontuários que estavam com informações incompletas.
Tabela
I - Distribuição das
variáveis socioeconômicas e clínicas dos idosos usuários do CAISI, São Luis/MA,2018
A
faixa etária predominante se encontra entre 60 e 69 anos (49,42%), o que também
corresponde à mediana, com o primeiro e o terceiro quartis iguais a 63 e 80
anos, respectivamente e desvio padrão 9,3. Destes, a proporção superior
pertenceu ao sexo feminino, correspondendo a 63,21%.
Quanto
à etnia, no período estipulado não foi encontrado autodeclarados como indígenas
e amarelos, restando somente os critérios brancos, negros e pardos, sendo este
último o mais expressivo com 45,97%.
Quanto
à escolaridade, o maior número de idosos estudou até 4 anos, representando
29,88%. A maioria, cerca de 49,42%, afirmou ser casado ou estar vivendo em
união estável, não houve relato no período de indivíduos divorciados. Mais da
metade (73,85%) são aposentados.
No
que diz respeito ao grau de dependência, não houve classificação para
dependência parcial, já que os participantes não atingirem o critério. Foram
classificados idosos como independentes e dependentes. E prevaleceu os
independentes nas atividades de vida diária, com 73,56%.
Ao
analisar os resultados da aplicação do protocolo do MEEM nos 174 idosos, foi
constatado que 82 (47,12%) apresentavam prejuízo cognitivo com uma média de
15,7 pontos ± 2,9 (mínimo: 0 e máximo: 22 pontos). Para os 92 (52,87%) idosos
que não possuíam prejuízo cognitivo, o resultado do MEEM apresentou uma média
de 22,1 pontos ±4,1 (mínimo: 13 e máximo: 29 pontos).
A
prevalência de indicativo de déficit cognitivo foi de 47,12%. Observa-se maior
percentual de declínio esteve presente entre os homens (53,12%), com idade
igual ou superior a 80 anos (65,21%). Prevalece os que estudaram de 5 a 8 anos
(69,56%). Os casados ou em união estável aparecem em maior número, com 62,79%.
Os idosos que possuem pelo menos a renda de aposentadoria corresponde a 63,03%,
sendo maioria. Além disso, dentro deste critério, nota-se que os indivíduos
dependentes de outra pessoa, também está em uma proporção maior, cerca de
53,26%.
Idosos
com limitações no cognitivo e enfrentando dificuldades na realização de
atividades de cotidiano correm o risco de perder a independência, o que leva a
sentimentos de inutilidade, diminui sua qualidade da vida e piora seu estado
emocional [16].
A
média da idade dos idosos que buscaram os serviços do centro de atenção ao
idoso, foi de 69 anos. Destes, há um número considerável de pessoas do sexo
feminino (63,21%). Botton et al. [17] corroboram afirmando que os
estudos que demonstram que a expectativa de vida dos homens é mais baixa que
das mulheres, parecem se relacionar a essa dificuldade masculina em procurar
serviços que contemplem a sua saúde. Além disso, os dados do IBGE
(2010) revelaram que, em 2009, havia para cada 100 mulheres acima de 55
anos somente 82,6 homens; essa proporção vem declinando ao longo do tempo em
virtude da maior mortalidade masculina. Este fato pode ser justificado em parte
pela frequente adesão feminina aos serviços de saúde e prevenção de agravos.
Achados
semelhantes foram encontrados no estudo de Leite et al. [18], nos quais
a participação masculina não ultrapassou 10%, o que se justificou pelo processo
de feminização da velhice. A motivação feminina em participar das atividades de
lazer é diferente da masculina, pois as mulheres, mais do que os homens, buscam
entrar em contato com novas pessoas e ampliar o círculo de amizades.
As
frequências por critérios de cor ou raça foram compatíveis aos dados
censitários e aos de estudos epidemiológicos brasileiros. Visto que é a etnia
mais significativa no país, resultado da sua miscigenação. Ainda assim, esta também aparece nos piores indicadores de poderio
econômico e escolaridade [19].
É
notável a baixa escolaridade entre os pesquisados, destacando-se os que
frequentaram a escola ao menos 4 anos. Esse fato é especialmente relevante no
Brasil, onde a taxa de analfabetismo entre idosos ainda é elevada: 30,7% dos
idosos brasileiros têm menos de um ano de instrução. O baixo grau de
escolaridade pode limitar o acesso a informações e dificultar a compreensão das
orientações sobre prevenção e promoção de saúde, implicando em menor controle
adequado e risco de complicações [19].
A
maior parte dos idosos encontram-se casados ou em união estável (49,42%).
Porém, observa-se que a porcentagem dos que se encontram solteiros ou viúvos,
juntos, são equivalentes ao estado civil predominante. No estudo de Wichmann et al. [20] que comparou o perfil dos
idosos frequentadores de grupos de convivência do Brasil e Espanha, mostrou que
há semelhanças nesses resultados. Do ponto de vista psicológico, a companhia do
cônjuge ameniza o estado do doente e fornece apoio no processo de cuidado,
sobretudo diante das complicações do estado de saúde. Entretanto, observa-se
que a participação no serviço referenciado raramente é do casal.
Os
indivíduos pesquisados 73,85% afirmam ser beneficiados por algum tipo de
aposentadoria. Esse resultado corrobora, por exemplo, Andrade et al.
[15] em sua pesquisa sobre percepção dos idosos quanto a participação em grupos
de convivência. Ele traz como resultados que a maioria dos idosos entrevistados
eram aposentados e relatou que o salário se destinava a contribuir com a
família e comprar medicamentos. Os idosos têm, geralmente, aposentadorias e
pensões como única fonte de renda, na qual se encontram bastante defasada, o
que lhes confere baixo poder aquisitivo.
Quanto
ao grau de dependência, 73,56% são independentes para desempenhar suas
atividades básicas de vida diária. Resultado similar foi encontrado no estudo
de Leal et al. [21]. Houve mais dependência nas AIVD que nas ABVD pelas
instrumentais exigirem maior integridade física e cognitiva que as básicas.
Esta frequência pode ser justificada muitas vezes por uma resistência das
famílias em levar os idosos com dependências até a unidade de saúde e/ou em
grupos de convivência, preferindo o atendimento domiciliar ou institucional.
O
processo de envelhecimento faz com que os idosos apresentem declínio cognitivo,
comumente observado nesta fase da vida. Esse fato leva o idoso a apresentar
dificuldades em lembrar fatos recentes, de desenvolver cálculos e problemas com
a atenção, em geral [22].
Nosso
estudo mostra que a maioria dos idosos atendidos no centro de reabilitação e
convivência, que foram avaliados pela MEEM neste período, não apresentavam
indicativo de déficit cognitivo. Porém, estudos longitudinais sustentam que a
maior parte da população idosa não apresenta declínio cognitivo, ou seja,
apresenta trajetória evolutiva estável e benigna. No entanto, o problema é
observado nos indivíduos que apresentam diagnóstico de doença de Alzheimer e
naqueles que evoluirão para a doença. Daí a importância de um diagnóstico
precoce [18].
Foram
utilizaram pontos de corte sugeridos por Brucki et
al. [13], que são maiores em relação aos utilizados por outros autores, o
que aumenta a sensibilidade dos números de casos identificados.
Dos
idosos avaliados,47,12% apresentaram indicio de declínio cognitivo. A
prevalência foi entre os homens (53,12%). Esse achado diverge das principais
pesquisas com a mesma temática [8,7,15]. Esse resultado é muito relevante,
visto que a maior parte da amostra foi constituída pelo sexo feminino.
A
faixa etária com maior indício de déficit cognitivo são os idosos com 80 ou
mais anos. Esse achado também foi identificado no estudo de Andrade et al.
[15], no qual as variáveis que possuíam idade de 83 anos ou mais foi
considerado fator de risco para a incapacidade cognitiva moderada ou severa. O
comprometimento cognitivo está associado ao aumento da faixa etária, assim como
a diversas doenças. Ele representa condições que afetam diretamente a qualidade
de vida dos idosos e implicam maior utilização dos serviços de saúde.
Apesar
de baixa (5-8 anos), a escolaridade do estudo aqui analisado é superior à nacional. A educação formal média dos idosos brasileiros é
de 4,1 anos de escolaridade, sendo 5,5 milhões de analfabetos. O baixo nível
educacional está relacionado à pobreza ou à diminuição do status
socioeconômico, à pior saúde, ao menor acesso aos serviços de saúde e a um
robusto fator de risco para demência [19].
Melo
e Barbosa [23], no estudo de revisão sobre o uso do Mini- Exame do Estado
Mental com idosos no Brasil, demonstrou que a escolaridade das amostras dos
estudos analisados é, de modo geral, baixa, e é possível perceber, também, uma
discrepância entre estudos, pois encontraram um caso em que a média de anos de
estudo foi 10,70. Isso denota como é heterogênea a população de idosos
brasileira.
A
situação conjugal mostrou-se interessante devido ao fato de que idosos sem
companheiros tiveram um nível de perda cognitiva inferior aos que eram casados
(62,79%). O mesmo resultado foi encontrado na revisão de Nazario
et al. [7], desmentindo o senso comum de que a falta de um companheiro
faz com que o idoso evolua para a instalação de um quadro patológico,
desencadeando secundariamente o declínio cognitivo.
A
maioria dos idosos que foram identificados com déficit cognitivo, declararam
ter algum tipo de aposentadoria (63,03%). Esse dado corrobora a maioria das
pesquisas com idosos. Isto se dá pelo número de aposentados ser muito alto.
Concomitante a isso, geralmente a frequência de declínio cognitivo é
linearmente a idade. E quanto maior a idade, também maior a predominância de
aposentados [8,9,10,23].
Com
relação às escalas funcionais, mensuradas pelos protocolos de Katz, os idosos
com prejuízo cognitivo obtiveram uma pontuação inferior (53,26%), mas não
significativa, em relação aos idosos sem alterações cognitivas. Autores afirmam
que a associação dos resultados do teste cognitivo com as escalas funcionais
pode aumentar a confiabilidade do diagnóstico do estado mental [22].
A
incapacidade é definida como dificuldade ou mesmo impossibilidade de desempenho
de gestos ou atividades de vida diária, que pode estar ou não relacionada a
doença ou deficiência. Observa-se que a capacidade funcional pode ser
influenciada por fatores sociais, culturais, econômicos, demográficos ou
psicossociais. Podemos afirmar que manter a capacidade funcional tornou-se o
novo paradigma do idoso. A perda da capacidade funcional aumenta a taxa de
mortalidade dessa população, uma vez que indica a autonomia desse idoso. Dessa
forma, o diagnóstico precoce e a prevenção são os maiores aliados para a
manutenção da longevidade e independência [12].
Quanto
maior o comprometimento cognitivo, maior dependência para atividades básicas de
vida diária (ABVDs). Assim, o idoso tem como
necessidade amparo ao realizar ações funcionais, perdendo sua autonomia e
consequentemente sua independência [7].
As
consequências apontadas permitem analisar que as limitações não só se
evidenciam dentro de casa, nas atividades básicas, mas na relação do ser com a
sociedade. Rosa et al. [22] em seu estudo que buscou descrever a
distribuição das redes sociais e de apoio em idosos do município de São Paulo,
discutem o fato de que a incapacidade funcional impede o fornecimento de
ajudas, visto que com o avançar da idade é de se esperar menor desempenho
quanto à autonomia.
Os
resultados encontrados para o Katz são também corroborados pelo estudo de Scherrer et al. [24]. De acordo com ele, uma melhor cognição pode estar
relacionada a uma melhor capacidade para realizar as ABVD. Apesar da concepção
de que os indivíduos nos estágios iniciais de déficit cognitivo não apresentem
declínio na realização de atividades diárias, as evidências sugerem que o
desempenho das atividades cotidianas complexas com maior exigência cognitiva
pode ser afetado.
A
satisfação com a vida é uma das medidas do bem-estar psicológico, que reflete a
avaliação pessoal do indivíduo sobre determinados domínios. As redes de
relações são importantes fontes de suporte social e estão relacionadas ao senso
de bem-estar. Do mesmo modo, o nível de satisfação dos idosos na convivência
com outros pode aumentar de intensidade no decorrer da vida, melhorando a
qualidade de vida independente da presença de doença e limitações físicas [18,25].
A
multiplicidade de pontos de corte no uso do MEEM pode dificultar as comparações
entre estudos. A limitação desse, refere-se a seu desenho transversal, que
impede o estabelecimento de relações de causalidade. Além disso, a população
idosa é muito heterogênea, principalmente no que diz respeito a escolaridade,
percebemos que há a necessidade da utilização de mais de um instrumento.
A
maior parte dos idosos que participaram da pesquisa não possuíam
comprometimento cognitivo e eram independentes nas atividades de vida diária.
Porém, a maioria dos idosos que possuem indicativo de comprometimento
cognitivo, também possuem grau de dependência classificado como dependente. É
possível questionar se isso se deve à grande quantidade de pessoas com
comprometimento cognitivo leve sem demência e também pelo fato de idosos
dependentes possuírem menos tendência a participar de atividades de interação
com pessoas além de seus cuidadores. Nota-se que há uma restrição de pesquisas
recentes sobre o estudo da cognição em idosos saudáveis ou não hospitalizados,
dificultando um pouco a comparação dos conceitos e conteúdos produzidos pela
pesquisa atual e ressaltando a importância da mesma. Sob a luz do exposto, é
importante ressaltar a relevância de estudos desta natureza, tendo em vista seu
alto potencial de contribuição para a evolução dos cuidados na prática da
Assistência Geriátrica.
Conflitos
de interesse
Não
há conflito de interesse.
Fontes
de financiamento
Nenhuma.
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Penha EGCV, Sardinha AHL; Coleta de dados: Penha EGCV; Análise e
interpretação dos dados: Penha EGCV, Sales MFS; Análise estatística:
Penha EGCV; Redação do manuscrito: Penha EGCV; Revisão crítica
do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Sardinha AHL, Lima
RA, Lopes MLH, Oliveira AS