Enferm Bras.
2023;22(2):162-65
EDITORIAL
A
pedagogia hospitalar no Brasil em tempos de pandemia da COVID-19: se já era
complexo...
Sônia
Maria Maciel Lopes1, Júlio César André1, Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler1, Leonila
Santos de Almeida Sasso1, Tiago Moreno Lopes Roberto2, Laura
Brenda Nunes Lopes2
1Faculdade de Medicina de São José do Rio
Preto (FAMERP), SP, Brasil
2Faculdade Futura, Votuporanga, SP,
Brasil
Como citar
Lopes SMM, André JC, Soler ZASG, Sasso LSA, Roberto TML, Lopes LBN. A pedagogia hospitalar no Brasil em tempos de pandemia da COVID-19: se já era complexo... Enferm Bras 2023;22(2):162-65. doi: 10.33233/eb.v22i1.5461
A
educação no meio hospitalar envolve a atuação compartilhada de profissionais
das áreas de pedagogia e da saúde, tais como, psicólogos, terapeutas
ocupacionais, médicos e enfermeiros, cada um a seu modo buscando integrar as
necessidades de atenção em saúde da criança ou do adolescente hospitalizado por
longos períodos e, assim, impedido de frequentar a escola regular, formalmente
instituída.
Ante
tal perspectiva, a classe hospitalar é de suma importância, ao contribuir para
o convívio social, integrando educadores, profissionais da saúde, família e
paciente. No entanto, são inquestionáveis as dificuldades encontradas nos
ambientes de internação hospitalar, tornando árduo, complexo e laborioso o
trabalho do pedagogo que tem a dura missão de levar a educação em ambiente
hospitalar, promovendo, neste ambiente, a difícil conciliação entre educação e saúde,
visando assegurar à criança enferma o direito de aprender [1].
No
Brasil, o projeto hospitalização escolarizada teve início em 1950, no estado do
Paraná, mas apenas em 24 de outubro de 1969 foi criado o Decreto n. 1044,
continuando o projeto de escolarização no ambiente hospitalar. Com a
promulgação da Constituição Federal de 1988, o direito à educação passa a ser
um direito a todos, em qualquer circunstância, exigindo assim a necessidade de
promoção de estratégias de atuação efetivas no âmbito da pedagogia hospitalar
[2].
A
pedagogia hospitalar constitui-se em prática educacional com outras
denominações e modalidades, como atendimento educacional especializado,
hospitalização escolarizada, classe hospitalar, além de incluir em tal significado
o atendimento à criança em albergue ou
casa de apoio. Nesse contexto, a Pedagogia
Hospitalar mostra-se como uma esfera pedagógica que afiança a continuidade dos
estudos de escolarização àqueles escolares que necessitam de tratamento de saúde
em ambiente hospitalar [3].
As
classes hospitalares devem dar continuidade ao processo de desenvolvimento da
aprendizagem de alunos matriculados em escolas da Educação Básica, contribuindo
para seu retorno e reintegração ao sistema escolar, por meio de um currículo
flexibilizado, facilitando seu posterior acesso à escola regular. Assim,
pretende integrar a criança doente no seu novo modo de vida dentro de um
ambiente acolhedor e humanizado, mantendo contato com seu mundo exterior,
privilegiando suas relações sociais e familiares [3,4].
Apesar
das limitações, garantir os direitos à continuidade da educação com cuidados no
manejo do aluno paciente pelos profissionais é fundamental para a sua formação
integral, de forma que ao retornar à sua escola de origem, tenha condições de
acompanhamento da turma, conforme o que se estabelece para os sistemas de
ensino mediante ação integrada com os sistemas de saúde, devendo organizar o
atendimento educacional especializado a alunos impossibilitados de frequentar
as aulas em razão de tratamento de saúde que implique internação hospitalar
[4].
O
Atendimento Educacional Especializado (AEE) é compreendido na modalidade de
Educação Especial por atender o aluno impossibilitado de frequentar a sala
regular. Esse atendimento contribui em muitos fatores para o desenvolvimento do
aluno, mesmo em situação da saúde fragilizada, pois permite sua inclusão
escolar, não se desligando dos estudos e do ambiente escolar. Para tanto, há
que se modificar a realidade da prática pedagógica em seus diversos aspectos,
mas, para isso, é preciso instrumentalizar a ação educativa hospitalar do
docente, de forma que os sistemas de ensino se organizem para a formação
continuada do professor especializado [5].
Com
o advento da COVID-19, divulgado um novo coronavírus
em 31 de dezembro de 2019, ocorreram mudanças na escolarização formal em todo o
mundo, comprometendo talvez de forma mais contundente a hospitalização
escolarizada. Então a nossa inquietação: como ficou a aprendizagem educacional
do aluno atendido na classe hospitalar no ambiente da saúde em tempos de
pandemia da COVID-19?
Se
antes a prática pedagógica da classe hospitalar já mostrava problemas na sua
relação com as diretrizes das Redes de Atenção à Saúde, ao enfatizar o conceito
da integralidade, por meio das dimensões ao reconhecimento dos cuidados que se
identifiquem a compreender à diversidade das demandas, exigiu-se muito mais a
promoção da pedagogia hospitalar durante a pandemia [1,4].
Em
tempos de pandemia da COVID-19 muitos desafios da própria saúde se sobrepuseram
e devem ter comprometido a relação professor com o aluno-paciente com doenças
mais graves e crônicas. [...] [4,5]. O fato é que, em tempos de pandemia, o
medo do desconhecido [5] foi assustadoramente presente para todas as pessoas,
inclusive para os profissionais de educação e de saúde envolvidos até então nas
classes hospitalares. É certo que um novo modelo foi construído na prática
pedagógica que antes era presencial, passa para a utilização de recursos e
tecnologias de educação a distância [6].
Essa
mudança paradigmática da educação
também trouxe o conforto às relações
humanas
envolvidas, tendo em vista o rigor, a preocupação com o
distanciamento social, a
higienização e o contágio que agora solidificaram
novos percursos formativos.
Dessa forma, a prática pedagógica para cada professor
pode encontrar a forma
mais adequada de integrar várias tecnologias e muitos
métodos e procedimentos
[7].
Seja
nas classes regulares ou na pedagogia hospitalar, a pandemia pela COVID-19
trouxe muitos problemas nos diferentes setores sociais, inclusive nas classes
hospitalares, exigindo a ressignificação na relação educador/aluno. O uso da
tecnologia promoveu melhor conhecimento de características entre alunos de
classes regulares com o aluno paciente, que passa a ter o contato inclusivo com
sua turma na sala regular em diferentes momentos das aulas, ampliando as suas
relações. Parte-se do pressuposto que mesmo com desafios, oportunidades de
interação do aluno - paciente atendido na classe hospitalar foram realizados
[8]. Entretanto, tornam-se necessários estudos e pesquisas que evidenciem a
real consequência para os escolares pacientes, no desenvolvimento das classes hospitalares
durante a terrível pandemia 2020/2022.