Enferm Bras.
2023;22(6):903-16
ARTIGO
ORIGINAL
Aspectos
sociodemográficos, ambientais, biologia humana e qualidade do sono de trabalhadores
de saúde: estudo de corte transversal
Kairo Silvestre Meneses Damasceno, Arthur
Pinto Silva, Claudeone Vieira Santos, Janaína de
Oliveira Castro, André da Silva dos Santos, André Luiz Bispo Pereira, Magno
Conceição das Merces
Universidade
do Estado da Bahia (UNEB), Salvador, BA, Brasil
Recebido
em: 23 de junho de 2023; Aceito em: 19 de dezembro de 2023.
Correspondência: Kairo
Silvestre Meneses Damasceno, kairodamasceno@hotmail.com
Como citar
Damasceno KSM, Silva
AP, Santos CV, Castro JO, Santos AS, Pereira ALB, Merces
MC. Aspectos sociodemográficos, ambientais, biologia humana e qualidade do sono
de trabalhadores de saúde: estudo de corte transversal. Enferm
Bras. 2023;22(6):903-16. doi:10.33233/eb.v22i6.5494
Resumo
Objetivo: Mensurar os aspectos
sociodemográficos, ambientais, de biologia humana e qualidade do sono dos
profissionais de saúde da Atenção Básica durante a pandemia da COVID-19. Métodos:
Estudo transversal, descritivo, com aplicação de questionários
sociodemográfico, laboral, de biologia humana e Índice de Qualidade do Sono de
Pittsburgh em profissionais de saúde de Unidades de Saúde da Família de um
Distrito Sanitário do município de Salvador no período de março a maio de 2021.
Resultados: 74,29% dos participantes apresentaram qualidade do sono
ruim; 65,71% apresentaram sobrepeso e 30,48% relataram hipertensão. O ruído do
ambiente laboral foi considerado elevado por 58,10% dos profissionais. Conclusão:
Os trabalhadores de saúde apresentaram níveis de qualidade do sono considerados
ruins. A atenção à saúde destes trabalhadores deve ser priorizada por gestores
em saúde a fim de proporcionar não apenas bem-estar, mas também qualidade dos
serviços ofertados.
Palavras-chave: saúde ocupacional; qualidade do sono;
COVID-19; Enfermagem.
Abstract
Sociodemographic, environmental, human biology and
sleep quality aspects of health workers: cross-sectional study
Objective: To measure sociodemographic,
environmental, human biology and sleep quality aspects of Primary Care health
professionals during the COVID-19 pandemic. Methods: Cross-sectional,
descriptive study, with the application of sociodemographic, work, human
biology and Pittsburgh Sleep Quality Index questionnaires to health
professionals from Family Health Units in a Sanitary District in the city of
Salvador from March to May de 2021. Results: 74.29% of participants had
poor sleep quality; 65.71% were overweight and 30.48% reported hypertension.
The noise in the work environment was considered high by 58.10% of
professionals. Conclusion: Health workers had poor sleep quality levels.
Health care for these workers must be prioritized by health managers in order
to provide not only well-being, but also the quality of the services offered.
Keywords: occupational health; sleep
quality; COVID-19; Nursing.
Resumen
Aspectos
sociodemográficos, ambientales, biología
humana y calidad del sueño en trabajadores
de la salud: estudio transversal
Objetivo: Medir aspectos sociodemográficos, ambientales, de biología humana y
de calidad del sueño de los profesionales
sanitarios de Atención
Primaria durante la pandemia de COVID-19. Métodos:
Estudio transversal, descriptivo,
con aplicación de cuestionarios sociodemográficos, laborales,
de biología humana e Índice de Calidad
del Sueño de Pittsburgh a profesionales de la salud de Unidades de Salud de la Familia de un
Distrito Sanitario de la ciudad de Salvador de marzo a mayo de 2021. Resultados: El 74,29% de los participantes presentó mala calidad del sueño;
el 65,71% tenía sobrepeso y
el 30,48% reportó hipertensión. El ruido en el ambiente de trabajo fue considerado alto por el 58,10% de los profesionales. Conclusión:
Los trabajadores de la salud tuvieron malos niveles de calidad del sueño.
La atención de salud de estos trabajadores debe ser priorizada por los
gestores de salud para brindar no sólo
bienestar, sino también la calidad de los
servicios ofrecidos.
Palabras-clave: salud ocupacional; calidad de sueño; COVID-19; Enfermería.
A
pandemia do coronavírus disease
2019 (COVID-19) desafiou os sistemas de saúde do mundo quanto às capacidades de
resposta à ação do vírus SARS-CoV-2. Na linha de frente desta crise sanitária,
os profissionais de saúde atuaram nos cuidados curativos e preventivos. Fatores
como o aumento da demanda e da jornada de trabalho, quantidade insuficiente de
equipamentos de proteção individual, medo de contágio, luto pelo óbito de
pacientes e de parentes, dentre outros, contribuíram para o adoecimento mental
destes trabalhadores [1].
Estudos
apontam o aumento de adoecimento mental entre os trabalhadores de saúde durante
o período pandêmico, a exemplo do estresse ocupacional, depressão, síndrome de
Burnout, ansiedade, alterações comportamentais como consumo de bebidas
alcóolicas, tabagismo e distúrbios do sono [2-4].
Os
prejuízos advindos deste contexto não se limitam à saúde do trabalhador, mas,
também, repercute diretamente nos afastamentos do trabalho, presenteísmos,
absenteísmos, diminuição da qualidade dos serviços prestados e aumento das
probabilidades de iatrogenias [5,6].
Dentre
os objetivos da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora,
constam fortalecer a vigilância em saúde do trabalhador e promover saúde,
ambientes e processos de trabalho saudáveis, considerando o trabalho como um
determinante do processo saúde-doença dos indivíduos e da coletividade [7].
Dessa forma, o planejamento de ações faz-se essencial para garantir saúde e
melhor qualidade de vida aos trabalhadores de saúde.
Nesse
sentido, este estudo objetiva mensurar as características sociodemográficas,
ambientais, de biologia humana e qualidade do sono dos trabalhadores de saúde
da Atenção Básica de um Distrito Sanitário do município de Salvador, Bahia,
Brasil, durante a pandemia da COVID-19.
Trata-se
de um estudo quantitativo, descritivo, de desenho transversal realizado em três
Unidades Saúde da Família de um Distrito Sanitário do município de Salvador,
Brasil, no período de março a maio de 2021. Abrangeu-se um total de 13 equipes
de Saúde da Família compostas por profissionais de Enfermagem, Odontologia,
Médicos e Agentes Comunitários de Saúde. Foram incluídos os profissionais
cadastrados na Estratégia Saúde da Família (ESF). Excluíram-se aqueles em
licença médica, férias e em trabalho remoto, a exemplo das gestantes.
A
amostra da população deu-se por levantamento censitário, totalizando 145
profissionais da ESF. No entanto, 105 profissionais seguiram os critérios de
elegibilidade e desejaram participar da pesquisa.
Os
estudos epidemiológicos do tipo transversal observam a causa e o efeito em um
mesmo momento histórico, podendo estimar a magnitude de uma enfermidade em uma
determinada população. Permitem identificar agravos mais comuns ou mais graves
em um grupo, reconhecendo vulnerabilidades populacionais e contribuindo para
planejamento de ações que visem minimizá-los [8].
Foi
aplicado um questionário com características sociodemográficas sobre as
condições do ambiente de trabalho e de biologia humana. Calculou-se o Índice de
Massa Corpórea (IMC) após pesagem e medição da altura dos participantes. Também
foram aplicadas as escalas CAGE e Índice da Qualidade do Sono de Pittsburgh. A
aplicação do questionário e escalas ocorreu de forma presencial, em salas de
reunião ou consultórios disponíveis nas próprias unidades de saúde, com o fito
de garantir a confidencialidade. Os instrumentos de coleta de dados foram
transcritos para a ferramenta Google Forms.
A
escala CAGE avalia a dependência ao álcool por meio de quatro perguntas. É
validada para o português, com sensibilidade do teste de 88% e especificidade
de 83%. As perguntas são relacionadas ao anagrama cut
down, annoyed, guilty e eye-opener (CAGE). Duas
perguntas respondidas positivamente já sugerem uma indicação de dependência ao
álcool. Esta escala foi aplicada àqueles participantes que relataram consumir
bebidas alcoólicas [9,10].
O
Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI) é validado no Brasil e possui
alto grau de consistência interna, com valor alfa de Cronbach
de 0,82. Corresponde a um questionário de 19 questões autoavaliadas
e categorizadas em sete componentes que avaliam a qualidade do sono no último
mês. Cada componente possui um escore que varia de 0 a 3. A soma das pontuações
para esses 7 componentes gera uma pontuação global, variando de 0 a 21, onde a
pontuação mais alta indica pior qualidade do sono. Valores igual ou maior que 5
caracterizam o indivíduo com qualidade do sono ruim. O PSQI corresponde à
escala de medição de qualidade do sono mais usada no mundo, tendo utilidade na
prática clínica, em pesquisas e estudos epidemiológicos [11,12].
A
tabulação dos dados foi realizada no programa Microsoft Excel; as frequências
relativas, absolutas e as medidas de tendência central foram calculadas no
programa estatístico Stata, versão 11.0.
Todos
os profissionais concordaram em participar do estudo por meio do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética
e Pesquisa da Universidade do Estado da Bahia e aprovada sob o parecer nº
4.478.349. Foram respeitadas as diretrizes referentes a pesquisas em humanos da
Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e os princípios da Declaração
de Helsinque.
Um
total de 145 trabalhadores da Estratégia Saúde da Família foram considerados
elegíveis. Todavia, houve 29 recusas, 6 estavam de licença médica, 2 afastadas
por motivo de gestação e 3 em trabalho remoto, totalizando, ao final, 105
trabalhadores de saúde.
Destes
participantes, 60,95% tinham idade menor ou igual a 45 anos, 91,43% eram do
sexo feminino, 92,38% pardos ou pretos, 55,23% agentes comunitários de saúde,
56,19% sem companheiro(a) e 93,40% com religião, conforme tabela I.
Tabela
I - Características
sociodemográficas dos trabalhadores de saúde da Estratégia Saúde da Família de
um Distrito Sanitário do município de Salvador, Bahia, Brasil, 2021
Fonte:
Dados dos autores
Com
relação às características estruturais do ambiente de trabalho, a maioria dos
profissionais de saúde consideraram como satisfatórias a ventilação, a
temperatura, a iluminação e as condições das mesas e cadeiras. Já os
equipamentos e recursos técnicos, os equipamentos de proteção individual e os
equipamentos de proteção coletiva foram considerados razoáveis pela maioria.
Para 58,10% dos profissionais, o ruído do ambiente de trabalho é considerado
elevado, de acordo com a tabela II.
Tabela
II - Características
do ambiente laboral de trabalhadores de saúde das Unidades de Saúde da Família
de um Distrito Sanitário do município de Salvador, Bahia, Brasil, 2021
Fonte:
Dados dos autores
No
tocante às características de biologia humana e qualidade de vida dos
participantes, observou-se que a maioria era de não fumantes (99,05%), consumia
bebida alcóolica às vezes (64,76%), possuía Índice de Massa Corpórea maior ou
igual a 25 kg/m² (65,71%), não tinha diagnóstico de hipertensão (69,52%) e
tinha uma qualidade do sono ruim, de acordo com Índice de Qualidade de Sono de
Pittsburgh (74,29%), representado pela tabela III.
Tabela
III - Características
da biologia humana e qualidade do sono dos trabalhadores de saúde da Estratégia
de Saúde da Família das Unidades de Saúde da Família de um Distrito Sanitário
do município de Salvador, Bahia, Brasil, 2021
*De
acordo com Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI-BR). Fonte: Dados
dos autores
O
menor valor encontrado em relação ao PSQI foi zero e o maior, 19. A média foi
de 7,62. Encontrou-se uma frequência de 22,85% que tomaram remédios para dormir
ao menos uma vez no último mês. Um percentual de 30,40% relatou dificuldades
para se manter acordado durante as atividades habituais e 84% dos profissionais
relataram tempo de dormida diária menor que 8 horas, com média de 6 horas e 20
minutos de sono por dia.
A
pandemia da COVID-19 desafiou os sistemas de saúde e, consequentemente,
aumentou a demanda e a jornada de trabalho dos profissionais de saúde,
contribuindo para o sofrimento psíquico, a exemplo da ansiedade e da depressão.
As condições de trabalho e recursos materiais em quantidade e qualidade
insuficientes são agravantes tanto para a saúde destes trabalhadores quanto
para a oferta dos serviços [1,13].
Elementos
estruturais como a ventilação, temperatura e iluminação foram considerados
satisfatórios para a maioria dos participantes, sendo essenciais para o
conforto ambiental e bem-estar dos trabalhadores e dos usuários. Porém, os
equipamentos de proteção individual e coletivos foram relatados como razoáveis
pela maioria. A qualidade e quantidade suficiente destes equipamentos devem ser
supridos pelos gestores bem como a capacitação para seu uso adequado. Desse
modo, minimiza-se a disseminação de patógenos e contribui para a manutenção da
saúde do trabalhador [1,13,14].
Chama
a atenção o fato de o ruído do ambiente de trabalho ser considerado elevado
pelo maior estrato dos participantes (58,10%), seguido por insuportável
(21,90%). O aumento da demanda reprimida por conta da pandemia, dos casos
sintomáticos respiratórios e da busca pela vacina acarretou a formação de
longas filas nas unidades de saúde pesquisadas, contribuindo para o aumento
sonoro do ambiente. Além disso, os equipamentos odontológicos, como as canetas
de rotação e os compressores de ar promovem ruídos elevados dentro da unidade
de saúde. Os ruídos internos podem ser causas da Perda Auditiva Induzida por
Ruído (PAIR), estresse ocupacional e afastamentos do trabalho, relacionando-se
ao baixo desempenho laboral e aos riscos de acidentes [15,16].
Um
estudo realizado numa unidade básica de saúde acerca do conforto acústico
ambiental registrou níveis de decibéis acima de 70, ultrapassando o limite de
50 decibéis constantes nas normas regulamentadoras. O fato torna-se preocupante
em razão da qualidade sonora estar relacionada ao estresse, irritabilidade,
ansiedade e retardo da recuperação do paciente que busca os cuidados de saúde.
Portanto, medidas gerenciais como isolamento acústico dos ambientes internos e
sinalização para educação sonora podem trazer conforto ambiental à Unidade
Básica de Saúde [17].
O
estresse ocupacional decorrente do surgimento da pandemia também desencadeou
alterações na pressão arterial, aumento de peso e distúrbios do sono entre os
profissionais de saúde [18]. A frequência de hipertensos diagnosticados em
nosso estudo foi maior do que a encontrada em profissionais de saúde que atuam
em alta complexidade (21,8%) [19], sendo a hipertensão uma comorbidade de risco
para o agravamento da doença COVID-19 [20] e com associação à obesidade ou ao
sobrepeso [19].
Uma
frequência de 65,71% da população estudada encontrava-se com Índice de Massa
Corpórea acima de 25 kg/m². Ou seja, com sobrepeso, de acordo com o
estabelecido pela Wourld Health Organization
[21]. Este percentual apresentou-se acima do relatado por outro estudo, onde
46,7% dos trabalhadores de saúde da Atenção Básica encontravam-se com IMC
alterado durante a pandemia em um centro de saúde do estado de Minas Gerais. No
referido estudo foi observado o consumo elevado de alimentos ultra processados
(41%) entre os trabalhadores de saúde [22].
O
sobrepeso está associado ao aumento de ansiedade e consumo de alimentos ultra
processados por parte destes profissionais, em razão da facilidade e
praticidade de consumo diante do pouco tempo disponível para o preparo regular
e saudável dos alimentos [22]. Ademais, o sobrepeso também está relacionado com
a má qualidade do sono [23]. Ressalta-se o fato de, assim como a hipertensão,
casos de obesidade corresponde a uma comorbidade de risco para o agravamento da
COVID-19.
Outras
alterações comportamentais como consumo de tabaco e bebidas alcóolicas também
afetaram os trabalhadores de saúde. O consumo de cigarros foi relatado por
apenas 1 participante, enquanto a dependência de bebidas alcóolicas foi
observada em 2,86% da amostra, com 64,76% relatando consumo moderado. Estes
resultados foram muito aquém quando comparados a outro estudo cuja frequência
de distúrbios no consumo de álcool foi de 42,8% entre os profissionais de saúde
durante a pandemia [24]. Os valores de consumo de tabaco e álcool entre
profissionais de enfermagem pré-pandemia foram de
48,6% e 68,6%, respectivamente, sendo o consumo maior destas drogas entre
aqueles que laboravam na Atenção Básica em relação ao nível hospitalar [25].
Uma
observação preocupante foi a elevada frequência de qualidade do sono
considerada ruim (74,29%), pois os distúrbios do sono podem agravar condições
sistêmicas e de saúde mental dos trabalhadores, como o estresse, sendo um óbice
para o bom desempenho no ambiente de trabalho [26]. Outrossim, trabalhadores de
saúde na linha de frente do COVID-19 têm maior prevalência de distúrbios do
sono e pior qualidade do sono quando comparados àqueles que não estão na linha
de frente [27].
Estudos
revelam uma diminuição na qualidade do sono em profissionais de saúde durante a
pandemia da COVID-19. A prevalência de distúrbios do sono em médicos sauditas
foi de 43,9% [28], de 80,3% em trabalhadores de saúde em hospitais de Milão
[13] e de 57% com má qualidade do sono em trabalhadores de saúde num estudo
multicêntrico na Índia, Nepal e Paquistão [29]. Já uma meta análise com
trabalhadores de saúde chineses concluiu que a prevalência de distúrbios do
sono foi de 45,1% e a pontuação média do Índice de Qualidade do Sono de
Pittsburgh foi de 9,83 [3]. Entre profissionais de enfermagem de um hospital do
estado do Paraná, a prevalência de distúrbios do sono foi de 75% da amostra e
68% com relato de insônia, com média do PSQI de 6,88 [30] (abaixo da média de
7,62 em nosso estudo), enquanto profissionais de saúde de um hospital do
município de Teresina, Piauí, Brasil, apresentaram uma frequência de 62% de
qualidade de sono ruim [31].
Observa-se
que a maioria dos resultados acerca da qualidade do sono estão
relacionados a
profissionais em nível hospitalar. No entanto, os trabalhadores
da Atenção
Básica à Saúde estão diretamente envolvidos
no enfrentamento à COVID-19, seja
na prevenção e promoção à
saúde da população, como a vacinação
contra o vírus
SARS-CoV-2, ou na linha de cuidados a sintomáticos, por meio de
exames
diagnósticos e atendimentos em nível primário.
Nossos achados, portanto,
descrevem as características destes profissionais que
representam a porta de
entrada do Sistema Único de Saúde.
O
sono é um processo fisiológico e reparador que contribui para o sistema
imunológico e qualidade de vida. Recupera a função do corpo, alivia a fadiga do
trabalho, mantém a energia para o suporte físico e mental do corpo e previne
doenças psíquicas a longo prazo. No entanto, a COVID-19 pode ser considerada
fator de risco para o desenvolvimento de desordens na saúde mental, como
distúrbios do sono e qualidade ruim do sono [13,32].
A
má qualidade do sono está relacionada a repercussões emocionais negativas, como
irritabilidade, ansiedade, estresse, sonolência, cefaleia, sobrepeso,
diminuição da produtividade laboral e aumento do presenteísmo [23,32,33]. Uma
frequência de 30,4% dos trabalhadores pesquisados referiu dificuldades de
manter-se acordados durante suas atividades do dia a dia, o que prejudica não
só a saúde física e mental, mas a atividade laboral, devendo receber atenção
dos gestores em saúde.
Nesse
sentido, é essencial mudanças de paradigmas que contemplem a saúde do
trabalhador de saúde, de maneira a proporcioná-lo com cuidado integral e
qualidade de vida. A prática da religiosidade/espiritualidade pelos
profissionais de saúde, por exemplo, contribui para a administração de
comportamentos e sentimentos diante das atividades laborais, tendo impacto
sobre a saúde mental [34]. Destacamos o fato de que 93,40% dos entrevistados do
nosso estudo relataram possuir religião, podendo ser um fator a ser trabalhado
neste contexto.
As
Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) também podem contribuir
na melhoria do sono e outros transtornos mentais dos profissionais de saúde
durante a pandemia. Nesta perspectiva, a auriculoterapia
mostrou-se efetiva ao reduzir em 52,35% a pontuação do índice de qualidade do
sono de profissionais de enfermagem de um hospital do Ceará [35].
Os
profissionais de saúde da Estratégia Saúde da Família deste estudo apresentaram
qualidade do sono ruim e sobrepeso. Quanto ao ambiente de trabalho, destaca-se
que o ruído foi classificado como elevado.
A
atenção à qualidade de vida dos profissionais de saúde é essencial não apenas
para o conforto laboral e bem-estar, mas para o bom desempenho de seus cuidados
em saúde com a população, merecendo destaque como prioridade de gestão.
Desta
forma, os profissionais de saúde devem ser contemplados com suporte psicológico
e com medidas de promoção de saúde direcionadas para mudanças comportamentais,
a exemplo da adequação do sono.
Conflito
de interesse
Não
há
Fontes
de financiamento
Ausência
de financiamento
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Damasceno KSM, Merces MC; Coleta de dados: Damasceno
KSM, Silva AP, Santos CV, Castro JO, Santos AS, Pereira ALB; Análise e
interpretação dos dados: Damasceno KSM, Merces
MC; Análise estatística: Damasceno KSM; Redação do manuscrito: Damasceno
KSM, Merces MC; Revisão crítica do manuscrito
quanto ao conteúdo intelectual importante: Damasceno KSM, Silva AP,
Santos CV, Castro JO, Santos AS, Pereira ALB, Merces
MC.