Enferm
Bras. 2023;22(3):275-76
EDITORIAL
O
funeral do eu e o renascer do coletivo
Marco
Orsini1, Carlos Henrique Melo Reis2, Acary
Souza Bulle Oliveira3, Marco Antônio
Araújo Leite4
1Universidade Iguaçu, Rio de janeiro, RJ,
Brasil
2Centro Universitário de Valença, RJ,
Brasil
3Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP), SP, Brasil
4Universidade Federal Fluminense,
Niterói, RJ, Brasil
Como citar
Orsini M, Reis CHM, Oliveira ASB, Leite MAA. O funeral do eu e o
renascer do coletivo. Enferm Bras. 2023;22(3):275-76 doi: 10.33233/eb.v22i3.5500
Em
1976, a escritora Adélia Prado lança o livro chamado Bagagem. Após 24 meses,
ano de meu nascimento, O coração disparado é agraciado com o prêmio Jabuti. Em
conversa telefônica com uma amiga estudante, concordamos que o “real professor”
é aquele que mantém o prazer permanente em ensinar e aprender, ou seja, um
irrequieto investigador, carregado de tolerância e simplicidade de um novel
estudante.
Algumas
pessoas acreditam que tudo (primeiro autor) que escrevi até esse editorial,
para a renomada Enfermagem Brasil, não possui nenhum valor literário, tampouco
científico. Sinceramente, eu também assim penso. Tenho capacidade de me
criticar todos os dias, por várias vezes. Creio que o impacto de uma leitura
densa, diária, associada à prática clínica podem nos tornar menos néscios em
algumas áreas dos diversos saberes. E a cada dia que vamos consumindo
conhecimento mais apequenados ficamos - nos escondendo entre as folhas de
papel. Os livros, artigos científicos, monografias de mestrado e doutorado que
nos fornecem “bagagens”, também podem abrir feridas expostas sobre a
vulnerabilidade, o desapego, a limitação e os questionamentos sobre a vida.
Na
atualidade, principalmente, pós-pandemia pelo Sars-Cov2, o conhecimento
científico mostrou-se inicialmente insuficiente para responder as dúvidas de
todos os profissionais de saúde sobre os mecanismos de ação de um vírus. É
verdade que não é um malandro sagaz, pois se assim se comportasse, não mataria
o ser-humano - o faria refém, de trouxa - ficaria escondido nas entranhas de
nosso material genético. Os retrovírus são mais astutos. Fato!
Todos
os profissionais de saúde, pela primeira vez que me entendo por gente, se
uniram e buscaram em conjunto uma solução: enfermeiros, biólogos, médicos,
psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, assistentes sociais, odontólogos e
tantos outros. Alguns, com o EGO mais insuflado como divindades, sem pecados
com suas abordagens de tratamento (modus operandi”), com ar de soberba e
superioridade, fracassaram. A arrogância que reprimia a própria ignorância
verteu-se em lágrimas. A moléstia desafiando novamente o ser-humano e a
ciência.
O termo coletivo tornou-se mais visível; todos fomos colocados em nossos lugares - um xeque-mate provocado pelos (vírus) parasitas intracelulares obrigatórios despidos de metabolismo próprio. Uns miseráveis astutos e conhecedores/posseiros de toda a nossa maquinaria celular. E nós? Demoramos, mas em “coletivo” obtivemos respostas e os esprememos contra a parede com a ciência. Uma força tarefa sem o EU, mas com a pluralidade de todos os personagens envolvidos. E quem acha que é demais...coitado...tolo é...