Enferm Bras.
2023;22(5):785-801
REVISÃO
A
espiritualidade e morte para a enfermagem: uma revisão de literatura
Luiz
Carlos Moraes França1, Rachel Verdan Dib2,
Vanessa do Carmo Correia1, Rafaela da Conceição Gomes1, Marcelly Silva dos Anjos1, Rayza
Martins de Azevedo1, Juliana Rodrigues da Silva Gomes1, Marcelle Bezerra da Costa1, Elizandra Pires
Azevedo de Souza1, Maria Alice Pereira Gaspar1
1França Centro Universitário Anhanguera
Pitágoras UNOPAR de Niterói, RJ, Brasil
2Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
RJ, Brasil
Recebido
em: 19 de julho de 2023; Aceito em: 28 de agosto de 2023.
Correspondência: Luiz Carlos Moraes França,
lcmoraesfranca@hotmail.com
Como citar
França LCM, Dib RV, Correia
VC, Gomes RC, Anjos MS, Azevedo RM, Gomes JRS, Costa MB, Souza
EPA, Gaspar MAP. A espiritualidade e morte para a enfermagem: uma revisão de
literatura. Enferm Bras. 2023;22(5):785-801. doi: 10.33233/eb.v22i5.5510
Resumo
A
espiritualidade é compreendida pela busca de sentido da existência, podendo ser
utilizada como ferramenta no enfrentamento da morte. Objetivo: Refletir
sobre os significados e sentidos da morte e espiritualidade no contexto da
equipe de enfermagem. Métodos: Revisão bibliográfica de literatura
através do Portal Regional da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), com coleta de
dados realizada entre maio e junho de 2023, com o uso dos descritores
“Espiritualidade”, “Morte” e “Enfermagem”, conectados pelo operador booleano
"AND". Bases de dados: Literatura Latino-americana e do Caribe em
Ciências e Saúde (Lilacs), National
Library of Medicine (Medline) e Bases de Dados de
Enfermagem (BDENF). Critérios de inclusão: artigos publicados em português, com
textos completos disponíveis online, entre os anos 2018-2023. Resultados:
Após a coleta de dados, a pesquisa identificou uma amostra de 13 artigos. A
morte ainda se apresenta como um acontecimento acompanhado de tristeza e
sofrimento, sendo a espiritualidade uma alternativa eficaz a fim de amenizar
sentimentos negativos. A espiritualidade, quando exercida por um profissional
de enfermagem, contribui para uma assistência de melhor qualidade, além da
melhor compreensão sobre a morte. Conclusão: A espiritualidade colabora
para um melhor enfrentamento do processo de finitude, auxiliando os
profissionais de enfermagem que vivenciam a morte.
Palavras-chave: espiritualidade; morte; Enfermagem.
Abstract
Spirituality and death for nursing: a literature
review
Spirituality is understood by the search for the
meaning of existence, and can be used as a tool in coping with death. Objective:
To reflect on the meanings and senses of death and spirituality in the context
of the nursing team. Methods: Bibliographic review of the literature
through the Regional Portal of the Virtual Health Library (VHL), with data
collection carried out between May and June 2023, using the descriptors
"Spirituality", "Death" and "Nursing", connected
by the boolean operator "AND". Databases:
Latin American and Caribbean Literature in Science and Health (Lilacs),
National Library of Medicine (Medline) and Nursing Databases (BDENF). Inclusion
criteria: articles published in Portuguese, with full texts available online,
between the years 2018-2023. Results: After data collection, the survey
identified a sample of 13 articles. Death still presents itself as an event
accompanied by sadness and suffering, and spirituality is an effective
alternative in order to alleviate negative feelings. Spirituality, when
exercised by a nursing professional, contributes to better quality care, in
addition to a better understanding of death. Conclusion: Spirituality
contributes to better coping with the process of finitude, helping nursing
professionals who experience death.
Keywords: spirituality; death; Nursing.
Resumen
Espiritualidad y muerte para la enfermería: una revisión de la literatura
La espiritualidad es entendida por la
búsqueda del sentido de la existencia, y puede ser utilizada como herramienta
en el enfrentamiento
de la muerte. Objetivo:
Reflexionar sobre los significados y sentidos de la muerte y la
espiritualidad en el contexto del equipo de enfermería. Métodos: Revisión
bibliográfica de la literatura a través del Portal Regional de la
Biblioteca Virtual en Salud
(BVS), con recolección de datos realizada entre mayo y junio de 2023, utilizando los descriptores "Espiritualidad",
"Muerte" y "Enfermería",
conectados por el booleano operador "Y".
Bases de datos: Literatura Latinoamericana
y del Caribe en Ciencia y Salud (Lilacs), Biblioteca Nacional de Medicina (Medline) y Bases
de Datos de Enfermería
(BDENF). Criterios de inclusión:
artículos publicados en portugués,
con texto completo disponible
en línea, entre los años 2018-2023. Resultados: Después
de la recolección de datos, la encuesta
identificó una muestra de
13 artículos. La muerte aún
se presenta como un evento acompañado
de tristeza y sufrimiento, y la
espiritualidad es una alternativa eficaz para paliar los sentimientos negativos. La espiritualidad, cuando es ejercida por un profesional de enfermería, contribuye para una mejor calidad del cuidado, además de una mejor comprensión de la muerte. Conclusión: La espiritualidad contribuye para un mejor enfrentamiento
del proceso de finitud, auxiliando a los profesionales de enfermería que viven la muerte.
Palabras-clave: espiritualidad; muerte; Enfermería.
A
espiritualidade está sendo cada vez mais abordada no âmbito da saúde, sendo
observado um aumento significativo na produção de estudos sobre a temática [1].
Desse modo, os estudos de Oliveira et al. [2] e Tavares et al.
[3] descrevem que há uma tendência de associação, e por vezes são utilizados
como sinônimos os termos espiritualidade e religiosidade, cabendo uma
distinção.
Segundo
Tavares et al. [3], a espiritualidade pode ser definida como a procura
pela essência da vida, além de tudo o que é concreto, que faz com que as
pessoas tenham a percepção de algo superior a si, estando ou não associada a
uma religião. Ela pode ser compreendida como a dimensão específica do
indivíduo, incentivando-o na busca do divino a fim de entender os aspectos
essenciais da existência humana [4]. Desse modo, segundo a Organização Mundial
de Saúde (OMS), a espiritualidade não está limitada a uma crença específica
tanto quanto a religiosidade, abordando questões como significado e propósito
da existência [5].
Destarte,
a religiosidade é compreendida a partir das práticas executadas atreladas às
convicções da pessoa, sendo vinculadas ou não a uma entidade religiosa [3]. A
religiosidade traz consigo uma proposta de conjunto de dogmas e adoração que é
partilhada com uma comunidade, podendo ser os valores que uma pessoa dispõe e
que são o pilar do modo de viver e atitudes do indivíduo [5].
Neste
contexto, a espiritualidade e a religiosidade estão presentes na dimensão
humana, sendo essencial em todos os momentos do cotidiano, sendo uma importante
forma de apoio.
De
acordo com Boff [6], a vida humana é finita, e aos poucos ela vai perdendo o
seu vigor, fazendo com que a pessoa vivencie eventos patológicos e faleça. A
morte caracteriza-se como um evento cheio de sentido e princípios inerentes ao
cenário em que se apresenta.
A
definição de morte se altera conforme o avanço histórico e através das diversas
culturas existentes. Na atual modernidade, a morte para o homem do Ocidente se
tornou uma ocorrência traduzida por sentimento de frustração, fragilidade e
demérito. Arduamente, se busca superá-la, e quando isso não é possível, é
encoberta e contestada [7].
Ademais,
em concordância com Stochero et al. [8], as
pessoas sentem dificuldade no enfrentamento da morte por raramente reconhecerem
que é uma ocorrência comum e/ou natural. Há indivíduos que acreditam que a
morte pode ser representada através de vivências como pesar e vazio, em
contrapartida para outros esta é caracterizada como o descanso da estrutura
física [9]. Para Gutierrez e Ciampone [10], as
crenças de cada pessoa geralmente influenciam a perspectiva no contexto de
morte e terminalidade.
Consoante
a Kind e Cordeiro [11], no decorrer da história da
humanidade, a morte acontecia dentro do lar, e a família participava ativamente
desse momento. No entanto, pouco a pouco essa realidade foi se transformando e
a morte passou a acontecer em hospitais. A mudança de lugar onde esta acontece trouxe uma nova representação do morrer, mas
também alterou a forma como as pessoas envolvidas se comportam diante da morte.
Neste cenário, faz-se necessário abordar as formas de confrontar esse momento,
adotadas não apenas por familiares, bem como pela equipe de enfermagem, fazendo
o uso de vivência, convicções e princípios individuais.
Sendo assim, os profissionais da
enfermagem lidam com a morte de forma cotidiana. Entretanto, muitos deles não
se sentem aptos para lidarem com a mesma, descrevendo ser muito penoso
enfrentar a partida de um paciente, sendo a angústia decorrente dela algo
impossível de não vivenciar [12]. Nesse sentido, o presente artigo tem como
objetivo principal refletir os significados e sentidos da espiritualidade e
morte no contexto da equipe de enfermagem.
O
presente estudo consiste em uma revisão bibliográfica de literatura que visa
realizar uma análise acerca dos significados e sentidos de espiritualidade e
morte e sua influência para os profissionais de enfermagem na atualidade.
Diante
do exposto, foram realizadas 6 etapas para confecção do estudo: 1)
identificação do tema e seleção da hipótese ou questão norteadora; 2)
estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão no que se refere à seleção
dos estudos; 3) categorização dos estudos; 4) avaliação dos estudos incluídos
na revisão; 5) interpretação dos resultados; e 6) síntese/apresentação do
conhecimento [13].
O
cenário definido para o estudo foi o Portal Regional da Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS), nas seguintes bases de dados: Literatura Latino-americana e do
Caribe em Ciências e Saúde (Lilacs), National Library of Medicine
(Medline) e Bases de Dados de Enfermagem (BDENF)s. O cenário se deu a partir da
escolha de se utilizar bases e estudos brasileiros, devido ao peso e relevância
no país.
A
coleta dos manuscritos foi realizada entre os meses de maio e junho de 2023,
sendo utilizados os descritores “Espiritualidade”, “Morte” e “Enfermagem”
conectados entre si pelo conector booleano “AND”.
Dessa
forma, considerados elegíveis e selecionados os artigos publicados no idioma
português, publicados nos últimos 5 anos, com texto completo e disponível
online. Assim, excluídas da análise as publicações cujos textos completos não
versaram sobre o tema proposto. Para os artigos que apareceram em mais de uma
base de dados, ou seja, duplicados, apenas um foi submetido à análise, a fim de
evitar a duplicidade de artigos.
O
estudo preservou os aspectos éticos da pesquisa, todos os autores dos artigos
analisados foram adequadamente referenciados, além do conteúdo apresentado de
forma fidedigna, conforme as exigências da Lei de Direitos Autorais nº
9.610/1998 [14].
A
partir da coleta de dados em que foram aplicados todos os critérios de inclusão
e exclusão delineados na metodologia do estudo, a pesquisa obteve uma amostra
final de 13 artigos, conforme ilustrado no fluxograma a seguir.
Fonte:
Os autores, 2023.
Figura
1 - Fluxograma de
estratégia de busca e seleção de artigos nas bases de dados. Rio de Janeiro,
RJ, Brasil, 2023
A
análise das informações obtidas deu-se através da avaliação crítica do
material, tendo em vista a questão norteadora definida para a pesquisa e seu
objetivo principal. Para viabilizar a síntese dos artigos que atenderam aos
critérios de inclusão, elaborou-se um quadro sinóptico contendo as variáveis:
título, ano de publicação, metodologia e principais conclusões, conforme o Quadro
1.
Quadro
1 – Produção científica
e delineamento metodológico dos artigos selecionados. Rio de Janeiro, RJ,
Brasil, 2023
Embora a morte seja acompanhada de
sofrimento, a espiritualidade se mostra uma excelente estratégia para
humanização terapêutica, por isso requer uma maior atenção dos profissionais de
saúde nos planos assistenciais [16]. Diante disso, a forma como as pessoas
definem e compreendem a morte está muitas vezes atrelada à religião que possuem
[19].
Segundo
Volpato et al. [18], a espiritualidade está
inserida na realidade cotidiana das pessoas e, independe da religião, a
espiritualidade transpassa todos os aspectos do cuidado. Quando o profissional
de saúde promove o autocuidado, levando em consideração todas as suas dimensões
humanas, ele está apto a prestar uma assistência mais ampla a seu paciente
independente da religião [18]. No estudo de Andrade et al. [17], a
espiritualidade foi citada por enfermeiras como uma estratégia para o
desenvolvimento de resistência ao encarar a morte de crianças em estágio de
terminalidade.
Desse
modo, ao correlacionar a morte à espiritualidade, a espiritualidade é compreendida
por algo que ajuda a proporcionar sentido à vida daquele que a exerce, sendo o
elo entre o existencialismo e o transcendental, o que torna difícil sua
mensuração por apenas palavras [16]. Muitos profissionais da saúde qualificam
como exaustiva a tentativa, em muitos momentos, frustrada de tentar salvar
vidas, trazendo a eles a decepção, sentimento de impotência e tristeza [12].
De
acordo com Souza et al. [15], a espiritualidade atua como fonte de
amparo e mostra-se como uma forma favorável de enfrentamento no processo de
morte, tornando o indivíduo mais forte, e por essa razão precisa ser
reconhecida e aperfeiçoada na sua implementação no cuidado realizado por
profissionais da enfermagem.
A
morte e o morrer são questões que causam desconforto em grande parte dos seres
humanos. Entretanto, precisamos entender que o nascer e o morrer são processos
naturais, as pessoas nascem, vivem a sua vida e morrem; entretanto, óbito e o
processo de terminalidade faz nascer nos indivíduos o medo [12].
Para
Zaccara et al. [20], no decorrer da história
da humanidade, a morte acontecia dentro do lar das pessoas, e a família
participava desse momento. No entanto, pouco a pouco essa realidade foi se
transformando e ela passou a ocorrer nos hospitais. A mudança de lugar onde
acontece trouxe uma nova significação para a morte e também alterou a forma
como as pessoas envolvidas se comportam diante dela.
Segundo
Gomes et al. [21], pessoas que convivem com o diagnóstico de doenças
crônicas são propícias a ter suas crenças voltadas para obterem respostas que
abrandem o receio acerca da morte. Nesse âmbito, os indivíduos que creem em um
ser transcendente que tem o controle sobre a vida e a morte, em situações
adversas barganham com ele para seguirem vivos e às vezes por meio das suas
crenças, começam a enxergar a morte de modo mais sereno, não mais
configurando-a como algo angustiante.
Sendo
assim, para Ferraboli e Quadros [19], sobre a morte e
a terminalidade, ambas estão geralmente conectadas com as crenças individuais
de cada pessoa. Comumente, as religiões possuem a crença de que existe vida
após a morte, auxiliando aqueles que as possuem a enfrentar a morte e o
sofrimento e dispor de comodidade perante situações adversas.
Mesmo
com todo o avanço na formação dos profissionais de saúde, ainda existe pouco
investimento acerca dos temas: morte e terminalidade. Esses assuntos são pouco
ou nem mesmo são abordados, pois o modelo de educação em saúde ainda prioriza
as dimensões biológica e fisiológica. Essa condição torna os profissionais
tecnicistas ou mesmo frios diante do cuidado com o paciente. Assim, perante o
exposto existe a grande necessidade em investimento, estratégias e,
principalmente, uma educação continuada para que essa falha na formação seja
corrigida [19].
No
estudo de Ferraboli e Quadros [19], os profissionais
da equipe de enfermagem, entrevistados na pesquisa, mencionaram que a
espiritualidade age como uma proteção, proporcionando a compreensão dos
aspectos associados ao processo de morte, inclusive no trabalho.
Os
profissionais da enfermagem lidam com a morte de forma cotidiana. Entretanto,
na pesquisa de Chuista et al. [12], muitos
deles não se sentem aptos para lidarem com ela, e dizem que é muito penoso
enfrentar a partida de um paciente, sendo a angústia decorrente dela algo
impossível de não vivenciar. No entanto, outros participantes desse estudo
sentiam-se preparados para lidar com a mesma, pois possuíam a consciência de
que realizaram todo o possível baseado em seus conhecimentos teóricos e
práticos, conseguiam administrar bem suas emoções, e tinham a convicção
religiosa de que Deus sabe o que realiza.
Na
pesquisa elaborada por Monteiro et al. [16], os profissionais da
enfermagem participantes definiram a morte como o repouso da estrutura física,
referenciando que ela se caracteriza como um tema sensível de tratar e encarar
durante a prestação da assistência. Entretanto, quando eles conseguem
compreender o significado da espiritualidade, tornam-se mais capacitados para
encarar a morte de forma equilibrada, percebendo-a como parte normal da vida,
deixando de despertar angústias.
No
estudo de Crize et al. [25] os pacientes
relataram que os profissionais de enfermagem não prestam cuidados espirituais,
pois seus cuidados estão voltados ao modelo biologicista.
Percebe-se que para um profissional de saúde a Religiosidade e Espiritualidade
(R\E) são difíceis de serem abordadas por parecer intromissão e desrespeito, e
ainda devido à falta de preparo para essas situações em sua formação. Assim,
por essa razão não sabem abordá-la por julgarem não ter aprendizado e saberes
suficientes para esse fim.
Para
Chuista et al. [12], a morte e a terminalidade
estão inseridas no cotidiano da equipe de enfermagem; porém, as táticas para
encará-la são próprias de cada profissional e estão atreladas às experiências,
convicções e concepções que eles possuem.
A
enfermagem, por ser a parte da equipe que presta uma assistência mais direta ao
paciente, deve ofertar um cuidado humanizado, contemplando todas as dimensões
do ser [25]. No enfrentamento de doenças pelo ser humano, as pesquisas
frequentemente demonstram que as crenças espirituais influenciam esse processo,
portanto, considera-se que seja cada vez mais necessário conhecer as demandas
de cuidados espirituais dessas pessoas [26].
Ademais,
no artigo de Monteiro et al. [16], os profissionais da enfermagem ao
discorrer a respeito do sentido da espiritualidade diante do paciente
oncológico em processo de morte, falaram que tal situação coloca em relevo a
existência como princípio de afeto e misericórdia.
De
acordo com Monteiro et al. [16], existem profissionais que não encaram o
processo de luto, porque não estão prontos para vivenciarem suas reações e
sentimentos advindos dessa experiência.
A
R/E precisam ser implementadas nos cuidados em saúde e para tal objetivo é
fundamental que ocorra um investimento em pesquisas que colaborem para o
melhoramento dos profissionais que lidam com as particularidades do adoecimento
e da morte [24].
Para
Bezerra et al. [24], os aspectos religiosos e espirituais exercem grande
importância sobre a vida das pessoas em situação de adoecimento e morte, pois o
cuidar, considerando a dimensão subjetiva, é de extrema relevância em um
momento no qual a cura não é mais possível.
Com
a finalidade de atenuar os efeitos da terminalidade, os profissionais da
enfermagem buscam a R/E para assegurar a esperança com a intenção de prestar
cuidado, atenção e conforto aos pacientes. Para que isso ocorra, os centros
acadêmicos e os locais que prestam serviços de saúde devem destinar recursos
para a realização de debates acerca da finitude, a fim de que a enfermagem
possa descobrir formas de enfrentar esse momento [17].
Neste
pensamento, deve-se compreender a naturalidade atrelada ao processo de
finitude. As instituições de ensino devem reconhecer a importância da temática
de morte e finitude, investindo em discussões acerca do tema, a fim de que
enfermeiros busquem formas de enfrentamento e de construção da resiliência para
o cuidado à criança que se encontra no fim da vida [17].
As
crenças religiosas são instrumentos utilizados por profissionais para agirem
diante da morte percebendo-a, dessa forma, como algo normal, levando aqueles
que a possuem a orar a Deus por seus pacientes. A espiritualidade/religiosidade
age auxiliando-os a encararem a morte e o morrer [12].
Para
Zaccara et al. [20], a espiritualidade é
entendida por um elemento crucial à sensação de esperança, significando a vida
e a doença, oferecendo tranquilidade, além de contribuir para a redução de
sentimentos e emoções negativos relacionados à finitude.
Existem
algumas táticas que são utilizadas pelos profissionais no que diz respeito à
dimensão espiritual dos pacientes, dentre elas podemos citar a prática da
oração, a visita à capela, a propiciação de ver programas religiosos pela
televisão e outros [20].
Apesar
dos pontos positivos, a R/E também podem se apresentar de forma prejudicial
devido ao sofrimento espiritual: o indivíduo contesta, por meio de suas crenças
religiosas, o motivo das complicações e sofrimentos ocasionados pela doença, à
vista disso o indivíduo refere-se não crer mais em um Deus e afirma sentir-se
abandonado por Ele [21].
A
espiritualidade pode ainda promover a mudança no estilo de vida das pessoas,
pois, os indivíduos ao manifestarem sua espiritualidade através da religião,
adquirem um conjunto de normas morais que afetam suas atitudes individuais e
sociais. O hábito de estar presente em templos religiosos para cultos e
reuniões se mostrou como uma estratégia positiva, que proporciona paz e
tranquilidade [21].
Os
participantes da pesquisa de Gomes et al. [21] afirmaram que a fé que
colocam em Deus como um ser que possui o domínio sobre todos os acontecimentos,
inclusive tendo o controle sobre suas próprias vidas, proporciona a eles
refrigério, de forma a tirar deles o foco em suas dificuldades relacionadas ao
processo de adoecimento, colocando-as sobre Deus.
O
estudo de Gomes et al. [21] evidencia que é necessário que os
profissionais de saúde estejam preparados para tratarem acerca da dimensão
espiritual dos seus pacientes, possuindo o objetivo de detectar sofrimento,
prestando a ajuda necessária.
De
acordo com Crize et al. [25], a
espiritualidade colabora para fazer com que as pessoas que vivenciam algum
processo de saúde e doença se sintam acolhidos e possam enfrentar a enfermidade
e suas adversidades, proporcionando força para continuar e preparo para a
iminência da morte de forma serena. A espiritualidade foi retratada como forma
de superação para o paciente oncológico e gera nos profissionais de saúde
diversos sentimentos [23].
Enquanto
alguns profissionais utilizam a espiritualidade como a principal forma de
enfrentamento das emoções negativas advindas do processo de finitude, outros
por sua vez fazem uso da criação de obstáculos, não permitindo a criação de
vínculos com seus pacientes e familiares, evitando, assim, sentimento de
tristeza e sofrimento posteriormente [22].
Os
profissionais de Enfermagem tendem a separar a vida pessoal dos sentimentos
vividos no contexto profissional compartilhando suas vivências no ambiente de
trabalho com sua rede de apoio, sejam amigos ou família, além de buscarem
acesso ao lazer como ferramenta positiva para o enfrentamento da morte [22].
O
sentido da própria espiritualidade dos profissionais, a compreensão da
espiritualidade como facilitadora diante de situações estressantes, é
fundamental, sendo importante estar integrado na prática dos cuidados [26].
Diante
do exposto, ressalta-se a essencialidade da prática da espiritualidade não
somente por pacientes e familiares, mas também pelos profissionais da
enfermagem, sendo uma ferramenta de grande relevância no que tange ao melhor
entendimento e aceitação do processo de finitude. Aos profissionais de
enfermagem, a espiritualidade atua na redução do desgaste emocional, pois a
categoria vivencia o evento da morte e morrer no âmbito do trabalho. Além disso,
a espiritualidade atrelada ou não à religiosidade, ao ser inserida na
assistência de enfermagem, melhora a sua qualidade através do acolhimento que
esta proporciona.
Mesmo
que presente na dimensão humana, ainda existem grandes tabus no que se refere
ao advento da morte, o que nos sugere uma melhor inclusão temática no processo
de formação acadêmica. Uma grande parcela de profissionais de enfermagem
apresenta dificuldade no enfrentamento da morte, vivenciando sentimentos como
sofrimento e tristeza, além da não aceitação da situação.
A
fim de mudar esse cenário, a aplicação da espiritualidade, bem como a sua
definição é de extrema relevância no que se refere à compreensão do processo de
finitude. A espiritualidade se apresenta como uma ferramenta no processo de
aceitação, enfrentamento e adesão ao tratamento de pessoas com determinada
enfermidade.
Diante
da relevância da temática e seus impactos positivos sobre pacientes, familiares
e profissionais da saúde, destaca-se a necessidade de mais produções
científicas sobre a espiritualidade no contexto dos profissionais de saúde, não
somente de enfermeiros.
Conflitos
de interesse
Não
há conflitos de interesse
Fontes
de financiamento
Não
recebeu financiamento
Contribuição
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
França LCM, Dib RV, Gomes, Correia VC; Coleta de dados: França LCM,
Gomes RC, Anjos MD, Azevedo RM, Gomes JRS, Costa MB, Souza EPA, Gaspar MAP; Análise
e interpretação dos dados: Gomes RC, Anjos MD, Azevedo RM, Gomes JRS, Costa
MB, Souza EPA, Gaspar MAP; Redação do manuscrito: França LCM, Dib RV,
Correia VC, Gomes RC, Anjos MD, Azevedo RM, Gomes JRS, Costa MB, Souza EPA,
Gaspar MAP; Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual
importante: França LCM, Dib RV, Correia VC