Enferm Bras.
2023;22(6):938-51
ARTIGO
ORIGINAL
Estresse
ocupacional em residentes multiprofissionais em saúde: um estudo transversal
Paula
Silva Peixoto1, Douglas de Souza e Silva2, Valdenir Almeida da Silva3, Maisa Matos Santana1,
Ana Claudia Fonseca de Souza1
1Hospital Geral Roberto Santos, Salvador,
BA, Brasil
2Universidade do Estado da Bahia, Salvador,
BA, Brasil
3Universidade Federal da Bahia, Salvador,
BA, Brasil
Recebido
em: 31 de julho de 2023; Aceito em: 26 de dezembro de 2023.
Correspondência: Douglas de Souza e Silva, douglasss-gbi@hotmail.com
Como citar
Peixoto PS, Souza e
Silva D, Silva VA, Santana MM, Souza ACF. Estresse ocupacional em residentes
multiprofissionais em saúde: um estudo transversal. Enferm
Bras. 2023;22(6):938-51. doi: 10.33233/eb.v22i6.5516
Resumo
Objetivos: Estimar a prevalência de estresse
ocupacional em residentes multiprofissionais; avaliar os fatores associados ao
estresse ocupacional e caracterizar o perfil sociodemográfico, ocupacional e de
saúde de residentes multiprofissionais de um hospital público baiano. Métodos:
Estudo transversal, descritivo, e analítico, conduzido com 75 residentes
multiprofissionais em um hospital público de grande porte entre junho e
dezembro de 2022. Os dados foram coletados por meio de um questionário
estruturado contendo questões voltadas a dados sociodemográficos, laborais,
estilo de vida e saúde. Para investigar o Estresse ocupacional, utilizou-se a
Escala de Estresse no Trabalho (EET). Procedeu-se a análise descritiva e
bivariada dos resultados. Resultados: A idade média dos participantes
foi de 26,9 anos; sendo 82,7% do sexo feminino; 73,3% relataram hábitos de vida
considerados saudáveis. Quando questionados sobre sintomas referentes à
atividade laboral, 48% relataram dor de cabeça, 57,3% dor nas costas e 68%,
ansiedade; 48% dos residentes apresentavam nível de estresse considerado alto.
Foi evidenciada associação do estresse com as seguintes variáveis: ano de
residência - R2, (RP = 2,45 – IC95% = 1,34-4,49 – p = 0,001); insatisfação com
o trabalho (RP = 2,23 – IC95%: 1,43 – 3,48 – p = 0,001); padrão de sono -
dormir no máximo 5 horas por noite (RP = 1,98 - IC95% = 1,23 – 3,20; p =
0,004). Conclusão: O maior percentual de residentes apresentava nível
baixo/moderado de estresse. Ainda assim, é importante mencionar que o
percentual de 48% de nível alto foi significativo e sinaliza a necessidade de
intervenção no campo da saúde mental.
Palavras-chave:
estresse relacionado ao trabalho; residência multidisciplinar; saúde do estudante;
saúde mental.
Abstract
Occupational stress in multidisciplinary health
residents: a cross-sectional study
Objectives: To estimate
the prevalence of occupational stress in multidisciplinary residents; to
evaluate the factors associated with occupational stress and to characterize
the sociodemographic, occupational and health profile of multidisciplinary
residents of a public hospital in Bahia. Methods: Cross-sectional,
descriptive, and analytical study, conducted with 75 multidisciplinary
residents in a large public hospital between June and December 2022. Data were
collected through a structured questionnaire containing questions related to
sociodemographic data, work, lifestyle life and health. To investigate
occupational stress, the Stress at Work Scale (WSS) was used. A descriptive and
bivariate analysis of the results was performed. Results: The average
age of participants was 26.9 years; being 82.7% female; 73.3% reported
lifestyle habits considered healthy. When asked about symptoms related to work
activity, 48% reported headache, 57.3% back pain and 68% anxiety; 48% of
residents had a level of stress considered high. There was evidence of an
association between stress and the following variables: year of residence - R2,
(PR = 2.45 – 95%CI: 1.34-4.49 – p = 0.001); job dissatisfaction (RP = 2.23 –
95%CI = 1.43 – 3.48 – p = 0.001); sleep pattern - sleeping a maximum of 5 hours
a night (RP = 1.98 - 95%CI = 1.23 – 3.20; p = 0.004). Conclusion: The
highest percentage of residents had a low/moderate level of stress. Even so, it
is important to mention that the percentage of 48% of high level was
significant and signals the need for intervention in the field of mental
health.
Keywords: work-related stress;
multidisciplinary residence; student health; mental health.
Resumen
Estrés laboral en residentes multidisciplinarios: un estudio transversal
Objetivos: Estimar la prevalencia de estrés laboral en residentes multidisciplinarios;
evaluar los factores asociados al estrés laboral y caracterizar el
perfil sociodemográfico, ocupacional y de salud de
residentes multidisciplinarios de un
hospital público de Bahia. Método: Estudio
transversal, descriptivo y analítico, realizado con 75 residentes de un gran hospital público entre junio
y diciembre de 2022. Los datos
fueron recolectados a
través de un cuestionario estructurado que contenía
preguntas relacionadas con datos
sociodemográficos, laborales, de estilo de vida y de salud. Para
investigar el estrés
ocupacional, se utilizó la
Escala de Estrés en el Trabajo (WSS). Se realizó un análisis
descriptivo y bivariado. Resultados: La edad promedio de los participantes fue de 26,9 años; siendo 82,7% mujeres; El 73,3% reportó hábitos
de vida considerados saludables. Al indagar sobre síntomas relacionados con la actividad laboral, el 48% refirió dolor de cabeza, 57,3% dolor de espalda y 68% ansiedad;
El 48% de los residentes tenían
un nivel de estrés considerado alto. Se evidenció
asociación entre el estrés y las siguientes
variables: año de residencia - R2, (RP = 2,45 – IC95% = 1,34-4,49 – p:0,001);
insatisfacción laboral (RP = 2,23 – IC95%: 1,43 –
3,48 – p = 0,001); patrón de sueño
- dormir un máximo de 5 horas por noche
(RP = 1,98 - IC95% = 1,23 - 3,20; p = 0,004). Conclusión:
El mayor porcentaje de
residentes presentó un
bajo/moderado nivel de estrés.
Aun así, es importante
mencionar que el porcentaje
del 48% de nivel alto fue significativo y señala la necesidad de intervención en el campo de la salud mental.
Palabras-clave: estrés laboral; residencia multidisciplinar; salud
estudiantil; salud mental.
A
Residência Multiprofissional foi criada pela Lei n° 11.129, de 2005, como uma
forma de pós-graduação lato sensu, voltada para a educação em serviço e
destinada aos profissionais da área de saúde, exceto médicos. É realizada em
regime de dedicação exclusiva sob supervisão docente-assistencial, de
responsabilidade conjunta dos setores da educação e da saúde. Tem o intuito de
proporcionar a inserção de jovens profissionais qualificados no mercado de
trabalho, principalmente em áreas do Sistema Único de Saúde (SUS) [1].
De
acordo com a Resolução nº 5, de 07 de novembro de 2014, os programas de
Residência em Área Profissional da Saúde devem ter uma carga horária total
mínima de 5760 horas, executadas num período mínimo de 02 anos, sendo cumpridas
em 60 horas semanais, com direito a 30 dias de férias por ano. Serão
desenvolvidas com atividades educacionais, 80% práticas ou teórico-práticas e
20% teóricas, sempre sob supervisão e orientação do corpo docente assistencial
[2]. Para tanto, é assegurada aos residentes uma bolsa no valor de R$ 4.106,09
[3].
Neste
contexto, os residentes acabam expostos a diversos fatores estressantes,
inerentes à atividade laboral. Dentre esses fatores estão o alto nível de
tensão, sobretudo pela inexperiência profissional; necessidade de adequação às
novas rotinas, carga horária elevada, sobrecarga e pressão do campo de prática;
problemas nas relações interpessoais; falta de supervisão adequada; escassez de
articulação entre teoria e prática, dificuldade de reconhecimento por parte da
equipe multiprofissional acerca do papel do residente; despreparo de alguns
preceptores para lidar com as demandas da residência. Além destes, somam-se
estressores das atividades acadêmicas: trabalhos, provas, monografia e aulas
teóricas; e sociais, como: afastar-se de seus familiares e amigos [4-8].
Define-se
estresse como um desgaste geral do organismo, que envolve uma série de sintomas
que o indivíduo apresenta quando submetido a situações que exijam adaptação do
organismo para enfrentá-las. Divide-se o estresse em três fases: alerta,
resistência e exaustão [9].
A
fase de alerta, inicia-se quando o índividuo é
exposto ao agente estressor, ocasionando mudanças nuroendócrinas,
com objetivo de defesa do organismo. Quando o estímulo estressor não cesa, incia-se a fase de
resistência, na qual o organismo adpta-se ao
estressor buscando a sobrevivência. Por fim, quando a capacidade adptativa esgota-se, ocorre a fase de exaustão, capaz de
provocar doenças físicas e psíquicas [10].
Contudo,
o estresse em si não é ruim, ele ajuda o organismo a se preparar para
desempenhar funções orgânicas e psíquicas, e o organismo tem a capacidade de se
adaptar depois de uma situação estressante. Entretanto, essa capacidade é
limitada, e quando o estresse se prolonga, pode provocar adoecimento, exemplo
disso está a Síndrome de Burnout (SB) que decorre da cronificação do estresse
laboral [11].
Estudo
realizado com residentes multiprofissionais de cinco programas de residência do
estado de São Paulo indicou uma prevalência de estresse de 78,9%. O estresse
vivenciado foi capaz de provocar sintomas físicos e psicológicos. De modo
geral, foi encontrada tensão muscular, mudança de apetite, insônia, bruxismo,
problema dermatológico prolongado, tiques, diarreias, pensamento em um único
assunto, dúvida de si próprio, irritabilidade, sensibilidade excessiva, cansaço
exacerbado e ansiedade [11].
Pesquisa
realizada no estado do Paraná evidenciou prevalência elevada de estresse em
estágio pré-patológico entre residentes multiptofissionias. Do total de participantes identificados
com estresse (36%), 94% demonstravam sintomas psicológicos. No mesmo estudo,
que também avaliou a qualidade de vida dos residentes, foi verificado que os
mesmos que apresentavam estresse, também tinham menor qualidade de vida em
todos os domínios estudados [12].
Diante
do exposto, conhecer o estresse entre residentes multiprofissionais poderá
contribuir com informações que possibilitem o embasamento para mudanças futuras
com vistas à prevenção de alterações na saúde mental e na manutenção da
qualidade de vida. A partir da
importância da temática abordada, o presente estudo tem como objetivos: estimar
a prevalência de estresse ocupacional em residentes multiprofissionais; avaliar
os fatores associados ao estresse ocupacional em residentes multiprofissionais;
e caracterizar o perfil sociodemográfico, ocupacional e de saúde de residentes
multiprofissionais de um hospital público baiano.
Trata-se
de um estudo transversal, descritivo e analítico, conduzido com profissionais
residentes multiprofissionais (não médicos) de diversos programas de um
hospital público de grande porte, localizado na cidade de Salvador, Bahia,
Brasil.
Foram
incluídos os residentes multiprofissionais do primeiro e segundo ano
matriculados nos programas do hospital em questão, cujo ingresso se deu nos
anos de 2021 e 2022 respectivamente (R2 e R1), com no mínimo 06 meses de
atuação. Excluíram-se os residentes que tinham realizado tratamento
psiquiátrico recente, os afastados por licenças médica e maternidade. Assim, de
um total de 92 residentes, 78 foi elegível para participar do estudo, destes,
houve 01 recusa e 02 não estavam de acordo com os critérios de elegibilidade,
obtendo assim, uma amostra de 75 residentes. A coleta dos dados foi realizada
nos meses de junho a dezembro do ano de 2022.
Utilizou-se
um questionário estruturado contendo questões voltadas a dados
sociodemográficos, laborais, estilo de vida e saúde. Para investigar o Estresse
ocupacional, utilizou-se a Escala de Estresse no Trabalho (EET), proposta por
Paschoal e Tamayo [13]. A EET é constituída de 23
afirmações e 05 alternativas que permitem a identificação do nível de estresse
ocupacional existente através de uma escala de concordância do tipo “Likert” de 05 pontos, cada item apresenta um tipo e uma
reação ao estressor. Essa versão utilizada foi validada considerando seu fator
geral, contando com todos os seus itens, que atribui escore que varia de 23
pontos a 115 pontos, e apresenta boas evidências de validade de construto e
confiabilidade. Utilizou-se como indicador a classificação de alto, médio e baixos
escores, tomando como ponto de corte a mediana dos escores dos profissionais
estudados. Assim, valores abaixo da mediana e até a mediana, foram considerados
baixo/moderado estresse e valores acima da mediana,
com alto estresse [13].
Procedeu-se
a análise descritiva e bivariada. A estatística descritiva foi utilizada para
caracterizar a amostra geral através das frequências absolutas e relativas nas
variáveis categóricas. A variável contínua idade, também foi avaliada pela
média e desvio padrão. Em seguida, conduziu-se análise bivariada no intuito de
identificar os fatores associados ao Estresse Ocupacional. Calcularam-se as
Razões de Prevalência (RP) e respectivos Intervalos de Confiança (IC) de 95%. O
Teste Qui-quadrado de Pearson foi empregado para análise
da significância estatística, considerando um valor de p < 0,05. O software Statistical Package for the Social Science – SPSS versão 22.0 foi utilizado nas
análises.
O
presente estudo foi aprovado por um Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo
seres humanos, sob o parecer de número 5.447.296/2022, e Certificado de
Apresentação de Apreciação Ética (CAAE) 58719922.0.0000.5028.
Dentre
os 75 profissionais entrevistados, 40% eram enfermeiros; 36% fisioterapeutas;
10,7%, nutricionistas; 9,3%, fonoaudiólogos; e 4%, psicólogos. Com relação aos
programas de residência, 21,3% dos residentes pertenciam ao programa
Multiprofissional em Saúde Hospitalar, 18,7% ao programa Multiprofissional em
Neurologia, 16% ao programa Fisioterapia em UTI e 13,3%, ao programa Enfermagem
em UTI. A maior parte dos residentes (54,1%) era do segundo ano (R2) e 66,7%
declaravam-se satisfeitos com o trabalho.
A
idade média dos participantes foi de 26,9 anos com desvio padrão (DP) de 4,7 ±,
sendo 22 anos a menor idade e 46 a maior. A respeito da caracterização dos
residentes, 82,7% declararam-se ser do sexo feminino; 93,3%, não ter filhos;
78,7% não possuir companheiro; 69,3% possuíam menos de 04 anos de formados; 51%
não possuíam experiência profissional; e 58,7% não possuíam outra
especialização anterior à residência.
Sobre
os achados referentes à saúde dos residentes, a maior proporção relatou hábitos
de vida considerados saudáveis, 73,3%; 63% dos participantes afirmaram praticar
atividade física; e 58,7%, dormir 06 horas ou mais por noite. Quando
questionados sobre sintomas referentes à atividade laboral, 48% relataram dor
de cabeça, 57,3% dor nas costas e 68%, ansiedade.
A
tabela I traz as características sociodemográficas, laborais e de saúde dos
residentes multiprofissionais.
Tabela
I - Características
sociodemográficas, laborais e de saúde dos Residentes Multiprofissioanis
de um hospital público. Salvador, Bahia, Brasil, 2022, (n = 75)
**Informações
autodeclaradas
De
acordo com a Escala de Estresse no Trabalho aplicada na entrevista, 52% (39)
dos residentes apresentavam nível de estresse considerado baixo/moderado e 48%
(36) nível considerado alto.
A
respeito dos fatores associados relatados no estudo, que impactam
significativamente no nível de estresse ocupacional, foi evidenciada associação
com as seguintes variáveis: Ano de residência (R2) - (RP = 2,45 – IC 95% = 1,34
- 4,49); Insatisfação com o trabalho (R =: 2,23 – IC 95% = 1,43 - 3,48); Padrão
de sono - dormir no máximo 5 horas por noite (RP = 1,98 – IC 95% = 1,23 -
3,20). (Tabela II).
Tabela
II - Fatores
associados ao Estresse Ocupacional em Residentes Multiprofissionais de um
hospital público. Salvador, Bahia, Brasil, 2022, (N = 75)
**Informações
autodeclaradas; a = Razão de Prevalência; b = Intervalo de confiança de 95% IC
= Valor de P – qui-quadrado
Quando
analisadas as características sociodemográficas dos residentes
multiprofissionais, foi evidenciado que a maioria (82,7%) eram do sexo
feminino. Este dado também foi percebido em outros estudos semelhantes, com
prevalência feminina de 98,1% [8] e 95,2% [14], refletindo assim a
predominância das mulheres nas profissões da área de saúde.
Essa
característica também está relacionada ao fato de que a maior parte das equipes
de saúde são formadas por enfermeiras, fato este que também está de acordo com
os dados encontrados, uma vez que 40% dos residentes que responderam ao
questionário eram desta categoria profissional, composta majoritariamente por
mulheres [8].
O
fato de 93,3% dos residentes não ter filhos e de 78,7% não possuir companheiro,
está em concordância com outras publicações que mostram resultados semelhantes
[14-16].
A
média de idade encontrada neste estudo foi de 26,9 anos (DP ± 4,7),
corroborando outros estudos realizados com residentes, nos quais as médias
foram de 27 (DP ± 3,7), 25,86 (DP ± 4,32) e 25,96 anos (DP ± 2,3) [11,14,17].
Da mesma forma, a predominância de residentes com menos de quatro anos de
formados, sem experiência profissional ou outro curso de pós-graduação,
possibilita estabelecer um perfil de estudantes que busca a residência como
forma de especialização logo após a graduação, sem experiência no mercado de trabalho
e em início de vida profissional.
Sobre
os hábitos que influenciam na saúde dos residentes, como a alimentação saudável
(73,3%) e a prática de atividade física (63%), os resultados encontrados neste
estudo vão de encontro a outra publicação [15] na qual foram relatados para as
mesmas variáveis, percentuais de 39,7%, 47,7% respectivamente. No mesmo estudo
[15], os autores ainda relatam altos níveis nas dimensões da síndrome de burnout. Já quando analisamos a variável padrão de sono
superior a 6 horas por noite, os resultados deste estudo (58,5%) se aproximam
de outra publicação que estudou a síndrome de burnout
entre residentes (60,3%) [15]. Já as variáveis dor de cabeça (48%) e dores nas
costas (57,3%), se distanciaram do estudo citado, 73% e 76,2%, respectivamente
[15].
A
alimentação saudável, prática de atividade física e a qualidade do sono fazem
parte dos pilares da terapia de controle de estresse, contribuindo para a
redução e a melhoria da saúde [18]. Além disso, sabe-se que conhecimentos científicos
sobre fatores protetores à saúde podem explicar a adesão de hábitos de vida
mais saudáveis [19].
Os
resultados para a variável ansiedade (68%) apresentam-se semelhantes a outros
estudos que encontraram 68,5% de possível e provável ansiedade e 68% angústia/
ansiedade diária [7,8]. O processo da residência por si só é considerado
gerador de ansiedade, devido às mudanças de rotina, grande quantidade de
atribuições e pressões do cotidiano. Estes fatores podem levar ao estresse e
esgotamento, sinalizando sofrimento psíquico e problemas com a saúde em geral
[7,8].
A
respeito da satisfação com o trabalho, 66,7% dos residentes referiram
satisfação. Este resultado corrobora os de outra pesquisa semelhante que
encontrou um percentual de satisfação de 53% entre os participantes [14]. A
satisfação com o trabalho é considerada um fator que favorece a realização
profissional de modo a ser um protetor contra o estresse [14,17].
Sobre
os níveis de estresse apontados pela EET, 52% dos residentes apresentavam nível
de estresse considerado baixo/moderado. Outro estudo que também utilizou a
mesma escala demonstrou resultados equivalentes, em que 51,35% dos residentes
apresentam baixo estresse [14], e em outro que separou os resultados revelou
que 69,5% dos R1 e 59,4% dos R2 apresentavam estresse baixo ou moderado [20].
Apesar
dos níveis de estresse na maior parte dos residentes ser considerado
baixo/moderado, foi observado uma associação significativa entre o estresse e
alguns fatores específicos. Com relação ao fator ano de residência,
verificou-se que os R2 possuem uma associação com altos níveis de estresse (RP:
2,45 – IC 95%: 1,34-4,49). Isso também foi encontrado em outro estudo no qual
os R2 (40,5%) apresentaram níveis maiores de alto estresse quando comparados R1
(30,4%) [5]. Pressupõe-se que este dado pode estar relacionado ao tempo de
exposição aos fatores estressores, acúmulo de responsabilidades e tarefas
devido a maior experiência profissional, finalização do trabalho de conclusão
da residência e expectativas com o futuro, já que os R2 estão próximos a buscar
inserção no mercado de trabalho [5,14].
Sobre
o fator satisfação com o trabalho, os 33,3% de residentes insatisfeitos
apresentaram associação com o estresse laboral (RP = 2,23 – IC 95% = 1,43 –
3,48). Outro estudo que também comparou a satisfação com a residência e o nível
de estresse mostrou que dos residentes insatisfeitos, 72,4% pontuaram alto
nível de estresse. Dessa maneira é possível fazer uma análise sobre a
satisfação com o trabalho e o estresse, de modo que quanto menor a satisfação,
maiores os níveis de estresse relatados e maiores as chances de esgotamento
profissional [14,21].
No
que diz respeito ao fator privação de sono, 41,3% afirmaram dormir no máximo 5
horas por noite, e essa variável foi associada ao estresse laboral (RP = 1,98 –
IC 95% = 1,23 – 3,20). Em um estudo que avaliou a qualidade de vida, sono e burnout em residentes, apontou que 55,55% dos R1 e 72,22%
dos R2 apresentavam qualidade de sono ruim [5]. Autores afirmam que a
necessidade de cumprir muitos compromissos ocasiona a privação e o
comprometimento da qualidade do sono, sendo essa uma das principais reações
psicológicas nos programas de residência. A alteração do padrão e qualidade do
sono é capaz de provocar males ao organismo como redução da capacidade de
concentração, dificuldade de planejamento e execução de tarefas, trazendo um
impacto negativo na qualidade de vida [5,21].
A
extensa carga horária da residência (60h semanais) é uma das principais queixas
ao longo da formação de dois anos, podendo gerar desgaste e sofrimento, de
forma que, por vezes, não é possível realizar todas as atribuições necessárias.
É preciso então que o planejamento das tarefas seja mais flexibilizado, aliado
à articulação do tempo, a fim de minimizar a sobrecarga [7].
Esta
pesquisa apresenta como limitações o fato de ser um estudo transversal, o que
impossibilita uma análise da relação de causa e efeito, além de ter sido
realizada em apenas um campo de prática de residência multiprofissional na área
hospitalar, caracterizando-se assim como um estudo local. No entanto, ao se
estabelecer uma discussão dos resultados, à luz de outros estudos, foi possível
estabelecer semelhanças e diferenças no que diz respeito ao estresse entre
residentes brasileiros. Assim, pode servir de base para o planejamento e
implementação de estratégias que favoreçam o aprendizado na modalidade de
treinamento em serviço com o mínimo de prejuízo aos profissionais em formação.
Os
resultados deste estudo apontaram que os residentes eram em sua maioria, do
sexo feminino, jovens, sem filhos ou companheiro e sem experiência profissional
anterior. A maior proporção relatou praticar atividade física, ter uma
alimentação saudável e dormir mais de 5 horas por noite.
De
acordo com a Escala de Estresse no Trabalho, o maior percentual de residentes
apresentava nível baixo/moderado de estresse, ainda assim, é importante
mencionar que o percentual de 48% de nível alto foi significativo. Foi verificada
associação significativa entre o fato de ser R2, dormir menos de 5 horas por
noite e estar insatisfeito com o trabalho com o aumento das chances de
apresentar estresse ocupacional.
Espera-se
que este estudo possa contribuir com o conhecimento acerca do estresse
ocupacional na residência, a fim de promover melhorias nos aspectos
considerados nocivos à saúde mental dos residentes, principalmente no tocante
ao processo organizacional, favorecendo a aprendizagem em serviço e satisfação
com o trabalho. Ainda, considera-se pertinente a realização de novos estudos
sobre a temática com metodologias mais robustas.
Conflito
de interesse
Declaramos
que não existem conflitos de interesse profissionais, financeiros ou de
benefícios diretos ou indiretos.
Fontes
de financiamento
Todos
os custos da pesquisa foram financiados pelos próprios autores.
Contribuições
dos autores
Concepção
e desenho da pesquisa:
Silva DS, Peixoto PS; Obtenção de dados: Silva DS, Peixoto PS; Análise
e interpretação dos dados: Silva DS, Peixoto PS, Silva VA; Revisão
crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Silva DS,
Peixoto PS, Silva VA, Santana MM, Souza ACF.