Enferm Bras.
2023;22(5):802-27
REVISÃO
Manifestações
neurológicas provocadas pelas principais arboviroses no Brasil
Bruna
Fernanda Alves Davi¹, Carla Tomelin de Barros1,
Fernanda Werneck de Mattos Moura1, Bianca Pereira Rodrigues1,
Laís dos Santos Negreiros1, Vitória Régia Queiroz de Carvalho1,
Ernandes Damasco Costa Júnior2, Bruno
Borges Cardoso3, Wanderson Alves Ribeiro1, Marco Antônio
Araújo Leite4, Marco Orsini1
1Universidade Iguaçu, Nova Iguaçu, RJ,
Brasil
2Universidade
Estácio de Sá, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
3Universidade Federal do Rio de Janeiro,
RJ, Brasil
4Universidade Federal Fluminense, Niterói,
RJ, Brasil
Recebido
1 de setembro de 2023; aceito 10 de outubro de 2023
Correspondência:
Marco Orsini, orsinimarco@hotmail.com
Como citar
Davi BFA, Barros CT, Moura FWM, Rodrigues BP, Negreiros LS, VCarvalho VRQ, Costa Júnior ED, Cardoso BB, Ribeiro WA, Leite MAA, Orsini M. Manifestações neurológicas provocadas pelas principais arboviroses no Brasil. Enferm Bras. 2023.22(5):802-27. doi: 10.33233/eb.v22i5.5550
Resumo
Introdução: Os arbovírus pertencem a um grupo
heterogêneo de agentes virais, que compartilham a característica ecológica de
serem transmitidos por artrópodes para os hospedeiros vertebrados, apresentam
sinais e sintomas semelhantes, podendo variar de quadros assintomáticos a
formas graves. A Dengue, a Febre Amarela, a Chikungunya e Zika Vírus são as
principais arboviroses e são doenças de notificação compulsória, com
manifestações neurológicas. Objetivo: analisar através de uma revisão
sistemática da literatura as principais alterações neurológicas associadas à
infecção por arbovírus no Brasil. Metodos:
Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica, de caráter descritivo e de
abordagem qualitativa. Foram realizadas buscas na base de dados da BVS, em
abril de 2023, nas bases de dados: LILACS, Google Acadêmico e SciELO. Resultados:
A amostragem do estudo foi composta por 16 artigos. Os anos de 2016 e 2017
concentraram o maior quantitativo de publicações. Foi detectado que maior parte
dos estudos possuíam mais de três autores. As principais manifestações foram
cefaleia, delírio, parestesia, síndrome de Guillain-Barré, meningoencefalite,
hemorragia subaracnoide, acidente vascular cerebral
hemorrágico, polineuropatia, neurite óptica, paralisia facial periférica e polirradiculoneurite aguda. Conclusão: O estudo
permitiu identificar as principais alterações neurológicas associadas às
infecções por ZIKV, DENV, CHIKV e WNV, tendo o Brasil como referência. Além do
quadro clínico variável, apresentam quadros clínicos, neurológicos e
epidemiológicos similares e amiúde superponíveis,
compartilhando modo de transmissão e vetor, o que torna suas profilaxias
semelhantes, sendo responsáveis por um considerável impacto econômico e social
ao país.
Palavras-chave: arboviroses; síndromes
neurológicas; neurologia.
Abstract
Neurological manifestations caused by the main arboviroses in Brazil
Introduction: Arboviruses
belong to a heterogeneous group of viral agents, which share the ecological
characteristic of being transmitted by arthropods to vertebrate hosts, present
similar signs and symptoms, and may vary from asymptomatic to severe forms.
Dengue, Yellow Fever, Chikungunya and Zika Virus are the main arboviruses and
are notifiable diseases, with neurological manifestations. Objective: To
analyze, through a systematic review of the literature, the main neurological
changes associated with arbovirus infection in Brazil. Methods: This is
a bibliographic review study, descriptive in nature and with a qualitative
approach. Searches were carried out in the VHL database, in April 2023, in the
databases: LILACS, Google Scholar and SciELO. Results:
The sample consisted of 16 articles. The years 2016 and 2017 concentrated the
largest number of publications. The main manifestations were headache,
delirium, paresthesia, Guillain-Barré syndrome, meningoencephalitis,
subarachnoid hemorrhage, hemorrhagic stroke, polyneuropathy, optic neuritis,
peripheral facial paralysis and acute polyradiculoneuritis.
Conclusion: The study made it possible to identify the main neurological
changes associated with ZIKV, DENV, CHIKV and WNV infections, using Brazil as a
reference. In addition to the variable clinical picture, they present similar
and often overlapping clinical, neurological and epidemiological conditions,
sharing a mode of transmission and vector, which makes their prophylaxis
similar, being responsible for a considerable economic and social impact on the
country.
Keywords: arboviruses;
neurological syndromes; neurology
As
alterações advindas do meio ambiente, por ações antrópicas relacionadas às
atividades econômicas, proporcionaram que muitos vetores, como os mosquitos, se
tornassem sinantrópicos, favorecendo a transmissão ao
homem. Na última década, tem-se observado a emergência de algumas doenças
transmitidas por mosquitos vetores, especialmente as arboviroses [1].
Arbovirose
representa uma denominação comum para uma infecção viral, sintomática ou não,
transmitida de um hospedeiro vertebrado para outro pela picada de um vetor
artrópode hematófago, no interior do qual o vírus se multiplica sem causar
doença. Existem mais de 500 arbovírus e cerca de 100 arbovírus podem infectar o
ser humano, porém poucos causam doenças epidemiológicas [1].
No
Brasil, em 2015, circularam pelo menos nove arbovírus patogênicos,
destacando-se três com circulação urbana sustentada: dengue, chikungunya e vírus Zika. A reemergência
da dengue tem sido observada no país desde meados da década de 1980, enquanto a
emergência do chikungunya e do vírus Zika foi mais
recente, tendo sido confirmada autoctonia, respectivamente nos anos de 2014 e
2015 [2,3].
O
mosquito apresenta acentuada antropofilia
(preferência por sangue humano), sendo bastante reconhecida sua atividade no
ambiente intradomiciliar que favorece o ciclo de
transmissão. No Brasil, o clima predominantemente tropical e as extensas áreas
de florestas contribuem para a existência do vetor, além da ocorrência de
desmatamentos, o deslocamento populacional e a falta de planejamento na
ocupação de regiões urbanas, tonando-se um local endêmico para a ocorrência
dessas doenças. Segundo o Ministério da Saúde, até junho de 2020 foram
notificados 823.738 casos prováveis de dengue no país, 40.352 casos de febre
Chikungunya e 3.692 casos de febre do Zika. Para o mesmo período, o país
registrou 374 óbitos por dengue e 9 por febre Chikungunya [4-8].
Os
arbovírus representam um importante problema de saúde pública em todo o mundo,
necessitando de medidas de prevenção e controle mais eficazes. São vírus
transmitidos por artrópodes e que possuem parte do seu ciclo replicativo ocorrendo nos próprios insetos, apresentam
hospedeiros variados, sendo capazes de manifestar doenças em humanos e em
outros animais [1,5].
A
epidemiologia é uma ciência fundamental para o entendimento das doenças, mas seus
fundamentos não são amplamente conhecidos. Estuda o comportamento das doenças
na população e, muitas vezes, transporta esse comportamento populacional para o
indivíduo, pois os riscos para ele, ao desenvolver a doença, são os mesmos da
população [1].
Corroborando
ao contexto, a maioria das arboviroses são zoonoses, tendo o homem como
hospedeiro acidental, como acontece com a febre amarela adquirida em ambientes
silvestres Entretanto, algumas delas podem tornar-se antroponoses,
de ciclo urbano, tendo os seres humanos como seu principal reservatório
natural, como é o caso atualmente da endêmica dengue e das atuais emergentes em
nosso Estado, a febre por zika e chikungunya,
e como também foi a febre amarela em nossa capital, entre os anos de 1686 e
1671, principalmente devido às más condições sanitárias e desorganização urbana
que propiciam a proliferação incontrolada do seu principal vetor, o mosquito
Aedes aegypti, e a alta densidade populacional, que facilita a transmissão
entre os hospedeiros humanos. Considerados em conjunto, os arbovírus são a
principal causa de encefalite viral no mundo [1,2].
Os
arbovírus pertencem a um grupo heterogêneo de agentes virais, que compartilham
a característica ecológica de serem transmitidos por artrópodes para os
hospedeiros vertebrados, subdivididos em cinco principais gêneros, baseados em
suas características morfológicas, bioquímicas, antigênicas e genéticas: alphavirus, flavivírus, orbivírus,
rhadovírus, bunyavirus. Os
primeiros gêneros pertencem à família Togaviridae e Flaviviridae, respectivamente, e incluem os vírus que serão
abordados neste trabalho: o alphavirus Chikungunya e
os flavivírus da dengue, febre amarela e zika [4].
As
arboviroses apresentam sinais e sintomas semelhantes, podendo variar de quadros
assintomáticos a formas graves, sendo que os mais frequentes são: febre,
mialgia/artralgia e exantema. As manifestações clínicas das arboviroses podem
ser didaticamente agrupadas em três síndromes clínicas habituais, com possíveis
superposições dos quadros na mesma doença: - febre de curso benigno, geralmente
acompanhada de erupção cutânea máculo-papular e
artralgia; febre hemorrágica, habitualmente associada a quadros de hepatites
com hemorragias graves, ameaçadoras da vida, tais como as hemorragias
intracranianas, digestivas, respiratórias ou genitourinárias;
manifestações neurológicas, que variam de formas brandas de meningite asséptica
a quadros encefalíticos graves [1,9].
Além
disso, as infecções por arbovírus estão potencialmente relacionadas a
importantes manifestações neurológicas, como a síndrome de Guillain-Barré,
encefalite, mielite, mononeuropatias, polineuropatias
e meningite asséptica. Dessa forma, saber reconhecer as manifestações clínicas
características dos pacientes com arbovirose é fundamental para o diagnóstico
precoce das formas graves, bem como para a instituição da terapêutica adequada,
diminuindo assim a morbimortalidade [10,11].
Diante
do exposto, cabe mencionar que os arbovírus podem penetrar no sistema nervoso
central por quatro mecanismos distintos: atravessando a barreira
hematoencefálica através da infecção e invasão, através das células endoteliais
microvasculares; infecção de células de
defesa na periferia, que ao atravessarem a barreira hematoencefálica, também
carregam os vírus albergados em seu interior, levando à infecção do parênquima
cerebral, mecanismo conhecido como “Cavalo de Tróia”; infecção através dos
nervos olfatórios, infectados através da mucosa nasal; através da infecção das
células epiteliais do plexo coroide [4,10].
Corroborando
ao contexto, as manifestações neurológicas são decorrentes do efeito citopático direto da infecção do sistema nervoso central
pelos vírus ou consequência da atividade imune, desencadeada pela presença das
partículas virais. Sintomas de envolvimento difuso do sistema nervoso central,
como sonolência ou coma, às vezes estão associados a sintomas focais, tais como
as convulsões ou os déficits focais, como as hemiplegias ou afasias, em
decorrência de processos cerebríticos focais, ou mais
comumente de complicações sistêmicas no sistema nervoso central, tais como as
hemorragias cerebrais. Outro mecanismo que explica as manifestações
neurológicas é ativação aberrante do sistema imune, induzindo autoimunidade
pós-infecciosa, levando a quadros como a síndrome de Guillain-Barré ou a
encefalomielite disseminada aguda [1,4,10,12]
O
diagnóstico das arboviroses representa um desafio para a saúde pública, na
medida em que essas doenças apresentam quadro clínico semelhante, sendo ainda
mais dificultado pela possibilidade de ocorrência de infecção cruzada em testes
sorológicos, haja vista a ampla variedade de arbovírus circulantes no país.
Assim, o diagnóstico laboratorial pode ser realizado por métodos diretos para
detecção viral, como o isolamento do vírus por inoculação em células ou
identificação do vírus por transcrição reversa seguida de reação em cadeia de
polimerase (RT-PCR). A confirmação do agente viral pode ser feita, também, por
meio da pesquisa de anticorpos por testes sorológicos, ensaios de
neutralização, fixação de complemento, inibição da hemaglutinação
e imuno-histoquímica [11].
A
apresentação endêmica das arboviroses no Brasil, os desafios para um
diagnóstico acertado dessas infecções virais e a similaridade do quadro
clínico, além de outros fatores associados, torna esse grupo de doenças um
problema importante de saúde pública. Ademais, a ocorrência de complicações
neurológicas representa mais um desafio na abordagem ao paciente com
arbovirose, exigindo amplo conhecimento acerca dessas doenças pelos
profissionais de saúde para orientar o manejo e terapêutica adequada [11].
A
Dengue, a Febre Amarela, a febre de Chikungunya e a febre pelo vírus Zika são
doenças de notificação compulsória e estão presentes na Lista Nacional de
Notificação Compulsória de Doenças, Agravos e Eventos de Saúde Pública, sendo
que a febre pelo vírus Zika foi acrescentada a essa lista apenas pela Portaria
nº 204, de 17 de fevereiro de 2016, do Ministério da Saúde [7,8,12-16].
Dessa
forma, o presente estudo tem como objetivo analisar através de uma revisão
sistemática da literatura as principais alterações neurológicas associadas à
infecção por arbovírus no Brasil.
Segundo
Lakatos e Marconi o conhecimento científico determina a utilização de métodos
científicos; por outro lado, não são todos os estudos que utilizam esse modelo
é reconhecido como ciência [17].
Perante
a certificação, pode-se deduzir que a
aplicação de métodos científicos não
é
competência especifica da ciência, com tudo não
existe ciência sem o uso de
métodos científicos. Como tal característica, o
método é a agregação de
atividades sistemáticas e lógicas que, permite com total
segurança e economia,
atingir o objetivo, com estudos validos e verdadeiros, elaborando
roteiros a
seres seguidos, encontrando erros e contribuindo com
soluções dos cientistas [18].
Na
atualidade têm-se uma farta e complexa quantidade de dados na área da saúde,
fazendo assim, com que haja necessidade de desenvolvimento de artigos e
pesquisas, com embasamento cientifico, para possibilitar melhor delimitação
metodológica esclarecendo diversos estudos. Mediante a necessidade, utilizamos
a revisão bibliográfica como uma forma de metodologia que possibilita um
apanhado de conhecimentos e aplica-se em resultados de estudos concisos não
pratico do profissional [19].
Trata-se
de um estudo de revisão bibliográfica, de caráter descritivo e de
abordagem qualitativa. A pesquisa científica é a atuação básica das ciências na
sua indagação e construção da realidade, tornando-a uma atividade expressiva [19].
Abordagem
qualitativa é aquela que não trabalha com informações numéricas, mas sim, que
trabalha com conceitos, ideologias, processos de comunicação humana, entre
outros. E apresenta facilidade de definir hipótese ou problema, de explorar a
interação de certas variáveis, de compreender e classificar processos dinâmicos
experimentados por grupos sociais, de apresentar mudanças, elaboração ou
formação de posição de determinados grupos, e de permitir, em grau de
profundidade, a interpretação dos comportamentos ou atitudes dos indivíduos [20].
Foram
realizadas buscas na base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) –
Bireme, em abril de 2023, nas bases de dados: Literatura Lática Americana e do
Caribe em Ciência da Saúde (LILACS), Google Acadêmico (Google Scholar),
Biblioteca Eletrônica Cientifica Online (SciELO).
Para
a busca das referências foram utilizados os descritores “arboviroses”,
“síndromes neurológicas”, “neurologia” advindos do sistema de Descritores em
ciências da saúde (DeCS), utilizando o marcador
“AND”. Para regaste dos artigos, consideramos como critérios inclusão, artigos
publicados no período compreendido entre os anos 2015 a abril de 2023 com
textos completos em língua portuguesa. E os critérios de exclusão foram os
artigos repetidos, publicações com textos não disponíveis, fora da língua
vernácula e estudos com mais de dez anos de publicação.
Inicialmente
foram pesquisados os descritores individualmente, sendo encontrados artigos
científicos conforme Quadro 1.
Quadro
1 - Descritores isolados
Fonte:
Construção dos autores (2023)
Diante
do extenso número de publicações encontradas, realizou-se um refinamento na
busca. Os descritores foram pesquisados de forma associada em dupla, utilizando
o termo “and”, conforme Quadro 2.
Quadro
2 – Distribuição
quantitativa das produções científicas encontradas nas bases de dados com
descritores associados em dupla
Fonte:
Construção dos autores (2023)
Considerando
ainda ser extensa a quantidade de produções científicas, optou-se pela busca
com os descritores associados em trio. Os resultados dessa busca se encontram
descritos no Quadro 3.
Quadro
3 – Distribuição
quantitativa das produções científicas encontradas nas bases de dados com os
descritores associados em trio
Fonte:
Construção dos autores (2023)
Finalizado
esse percurso de busca, realizou-se a leitura dos resumos e os que apresentavam
relevância para subsidiar a discussão do tema foram selecionados e lidos na
íntegra.
A
partir dessa leitura preliminar, foram selecionados 16 artigos que mantinham coerências
com os descritores acima apresentados e com os objetivos do estudo.
Uma
vez criadas às categorias de análise, partira-se para a fase final de
inferências dos dados obtidos, mediante o respaldo obtido através da
articulação entre o conteúdo verificado nas produções científicas e a atitude
crítico-reflexiva das pesquisadoras, através da qual irão emergir as categorias
de análise e discussão dos resultados.
A
amostragem do estudo foi composta por dezesseis artigos e a apresentação dos
resultados encontrados está estruturada desta forma: o Quadro 1 apresenta a
caracterização dos artigos elegíveis à revisão de literatura segundo o título,
objetivos, métodos e principais considerações. O Quadro 04 apresenta estudos
publicados durante o período de 2015 a 2023, recorte temporal definido para a
pesquisa realizada. Os anos de 2016 e 2017 concentraram o maior quantitativo de
publicações. Foi detectado que maior parte dos estudos possuíam mais de três
autores. Em relação ao país de origem, todos os artigos foram publicados no
Brasil. O idioma predominante foi o português. Quanto aos objetivos, os estudos
revisados retratam, em sua maioria sobre o enfrentamento da Dengue. No que diz
respeito aos resultados, a maioria dos estudos discorre sobre o tema
dividindo-o em vertentes importantes, como as principais alterações
neurológicas. Entre as recomendações encontradas, é esclarecida a necessidade
de realização de mais estudos acerca do tema e maior capacitação da medicina
para atuar no âmbito das arboviroses.
Quadro
4 - Levantamento
estrutural dos artigos selecionados nas bases de dados da temática
Categoria
1 – Aspectos patológicos relacionados a Dengue
A
dengue é atualmente a principal arbovirose do planeta, com cerca de 50 a 100
milhões de infecções, com 250 a 500 mil casos de dengue hemorrágica por ano,
com letalidade de 0 a 5% destes casos graves, sendo que dois terços da
letalidade ocorrem em crianças, principalmente em países pobres das regiões
tropicais e subtropicais do mundo [10,20-22].
Acredita-se
que a infecção foi trazida para as Américas do Velho Mundo junto com o tráfico
de escravos, com primeiros relatos de epidemias nos séculos XVII e XVIII. As
manifestações sistêmicas da infecção pelo vírus da dengue variam de formas
completamente assintomáticas, passando por formas brandas de febre com ou sem
erupções cutâneas nas crianças mais jovens, podendo incluir sintomas
inespecíficos, como dor abdominal, náusea, vômito, anorexia, diarreia e
irritabilidade [10].
O
aumento de casos de encefalite e meningoencefalites em pacientes com dengue foi
relatado no Brasil, durante as epidemias de 2007 e 2002. Além disso, diversos
estudos em países com epidemia de dengue observaram associação dessa condição
com outras manifestações neurológicas, tais como síndrome de Guillain-Barré
(SGB), paralisia periférica múltipla, paralisia facial periférica, encefalite e
mielite [3,20,21].
Nos
adultos, pode manifestar-se com febre leve até o quadro típico de febre alta,
cefaleia, mialgia, artralgia, dor retroocular e
erupções cutâneas máculo papulares.
As manifestações com hemorragias cutâneas como a prova do laço, petéquias,
equimoses, além das hemorragias sistêmicas, como epistaxe, hemorragia gengival,
gastrointestinal, hematúria e hipermenorreia podem
ser observadas em alguns pacientes durante as epidemias, caracterizando a febre
hemorágica da dengue. Nas formas graves da doença, há
aumento da permeabilidade capilar, permitindo extravazamento
plasmático, permitindo hemoconcentração, com
consequente aumento do hematócrito basal, plaquetopenia por consumo e choque
hemodinâmico. Hepatomegalia, hepatoesplenomegalia e hipoalbuminemia
com derrame pleural, ascite, hiponatremia pela síndrome da secreção
inapropriada do hormônio antidiurético e a insuficiência renal por vezes são
observadas [10-12]
Existem
4 sorotipos de vírus da dengue, numerados de 1 a 4, circulando nas populações
urbanas. Recentemente foi identificado um novo sorotipo de circulação
silvestre, isolado em um pequeno surto na Malásia, o DENV-5 21,22. A infecção
por um destes tipos de vírus leva à produção de anticorpos neutralizantes para o
sorotipo infectado, porém estes anticorpos não são neutralizantes para os
demais sorotipos a longo prazo, prevenindo apenas as reinfecções pelo sorotipo
inicial. Quando o indivíduo que já foi exposto a um sorotipo de dengue é
infectado por vírus de outro sorotipo, ele não só adquire novamente a doença,
como também está sujeito às formas mais graves da doença com maior frequência,
em 2 a 4% dos casos de reinfecção. Isto acontece porque os anticorpos não
neutralizantes se ligam aos vírus da dengue, mantendo-os viáveis, formando
complexos antígeno-anticorpo (vírus-porção Fc de
IgG), que facilitam a fagocitose pelas células mononucleares, que se tornam
infectadas em maior quantidade, amplificando a resposta patogênica e morte
celular induzida por fixação de complemento [3,5,10].
A
doença febril geralmente se apresenta com sintomas de gripe, como febre,
cefaleia, dor retro-orbital e mialgia. A síndrome
neurológica (Síndrome de Choque da Dengue - SCD) pode manifestar-se como
mielite, meningite e/ou encefalite, com mudanças de comportamento, paralisia,
paresia, convulsões e problemas de coordenação. A artralgia manifesta-se como
exantema ou rash maculopapular, poliartralgia
e poliartrite, enquanto que a síndrome hemorrágica (Febre Hemorrágica da Dengue
- FHD) é evidenciada pelas petéquias, hemorragia e choque combinado com uma
redução intensa de plaquetas [18-20].
As
manifestações neurológicas da dengue geralmente ocorrem nos quadros de febre
hemorrágica da dengue e nos casos de choque hemodinâmico por dengue. Como em
outras arboviroses, o quadro encefalopático é o mais
comum, geralmente manifestado como sonolência. Crises convulsivas também podem
ocorrer, geralmente convulsões febris em crianças. Sinais piramidais, tremores
e hipotonia por envolvimento do corno anterior da medula espinhal, que são
característicos de outras infecções por flavivírus, como o vírus da encefalite
japonesa e o vírus do Nilo ocidental, não são comuns na dengue, mas também já
foram descritos. Sinais menígeos estão presentes em
mais de 30% dos casos com encefalopatia. Meningite viral, caracterizada por pleocitose linfomonocitária, é
rara. Mais de 50% dos casos de encefalite por dengue apresentam estudo do líquor normal [10,11,17,20,21,23]
Existem
outras manifestações neurológicas da dengue, geralmente de caráter inflamatório
autoimune, que ocorrem alguns dias ou semanas após recuperação infecciosa.
Dentre essas apresentações destacam-se a encefalomielite disseminada aguda, neuromielite óptica, neurite óptica, polirradiculopatias,
plexopatia braquial, síndrome de Guillain-
-Barré, síndrome de Miller Fisher, síndrome de Reye, síndrome do opsoclonus-mioclonus,
fraqueza muscular aguda por miosite e hipocalemia. As
mononeuropatias são raras, mas já foram descritas mononeuropatias dos nervos fibular, ulnar, torácico longo e
frênico. Paralisias de nervos cranianos também podem ocorrer, acometendo
principalmente os nervos facial e oculomotor. Também foram descritas
hemorragias intracranianas, tanto as hemorragias cerebrais intraparenquimatosas
quanto as hemorragias subaracnoides [10].
Em
um estudo realizado na cidade do Rio de Janeiro, durante um surto de dengue,
identificou-se que o vírus da dengue foi responsável por 47% dos casos de
encefalites virais, sendo que 75% destes casos apresentavam estudo do líquor normal e foram responsáveis por 10% dos casos de
meningite viral. Em outro estudo do mesmo grupo, os casos de encefalite
apresentavam estudo do líquor normal em 57% das vezes
[5,20,23].
Categoria
2 - Aspectos patológicos relacionados ao Zica Vírus
O
mais recente arbovírus do gênero flavivírus, circulante no nosso Estado, o ZIKV
vírus foi descoberto na floresta de ZIKV, em Uganda, em 1947, com o primeiro
caso de doença humana descrito em 1968, na Nigéria, com pequenos surtos na África
e logo em seguida no sudeste asiático, até que em 2007, na Micronésia e em
2016, na Polinésia, surgiram surtos que envolveram grande parte das populações
locais, até 75% dos moradores, segundo levantamento sorológico, apesar das
críticas a este método diagnóstico, pois sabe-se que as arboviroses por
flavivírus têm alta chance de reação cruzada em testes sorológicos [10,21]
Destas
grandes epidemias, adquiriu-se o conceito de que trata-se
de uma infecção de curso mais benigno em relação às outras arboviroses já
tratadas neste artigo. Acredita-se que o curso menos grave desta infecção, tal
como em outras arboviroses não sintomáticas, deva-se a uma viremia de menor
intensidade e duração. Segundo estimativa das grandes epidemias da Oceania,
acredita-se que apenas 21% dos casos sejam sintomáticos [10].
Quando
sintomática, a infecção por ZIKV costuma apresentar quadros clínicos superponíveis ao da dengue ou da chikungunya,
com febre baixa, artralgia, em especial das pequenas articulações das mãos e
pés, com possível edema articular, mialgia, cefaleia, com dor retrocular, conjuntivite, eritema máculo
papular, dor abdominal, diarreia, constipação,
úlceras orais, astenia e prurido. Durante essas epidemias de ZIKV na Oceania,
foram descritos alguns diagnósticos de síndrome de Guillain-Barré [27]. Porém,
o diagnóstico da infecção por ZIKV foi baseado em estudo sorológico, que tem
suas limitações de diagnóstico de certeza, devido possibilidade de reação
cruzada, em especial com o vírus da dengue, que é muito mais prevalente. Apesar
desta limitação, alguns pesquisadores atribuíram ao surto de ZIKV um aumento de
vinte vezes a incidência da síndrome de Guillain-Barré [10,23,24].
Outros
estudos corroboram que, após a transmissão do vírus passa a existir chances
potenciais de haver complicações neurológicas e autoimunes, como microcefalia,
distúrbio da paralisia do adulto e síndrome de Guillain-Barré e os exames de
neuroimagens, como a ressonância magnética, tornam-se uma recomendação
indispensável para analisar as estruturas neurológicas e detectar possíveis
anormalidades estruturais do Sistema Nervoso Central como as malformações
ocorridas durante a gestação [20,23,24].
A
imagem demonstrando uma possível infecção intrauterina por transmissão
transplacentária do vírus ZIKV tem como objetivo principal a detecção de
complicações neurológicas relacionadas à infecção, tais como a microcefalia,
calcificações heterotópicas cerebrais, distúrbios da
migração neuronal, perda de tecido encefálico e dilatação do sistema ventricular
cerebral [20,21,23,25].
A
microcefalia é uma manifestação clínica que representa interrupção na neurogênese e morte dos progenitores neuronais. A criança
com microcefalia geralmente tem diferentes graus de deficiência intelectual,
assim, um pequeno porcentual de crianças não terá nenhum tipo de atraso no
desenvolvimento. As crianças com essa condição também podem ter um atraso na
fala e nas funções motoras, nanismo, deficiência visual ou auditiva, e/ou
outros problemas associados com anormalidades neurológicas [20,21,22,26].
Além
da avaliação neurológica, recém-nascidos com microcefalia devem ser
investigados quanto à presença de características dismórficas
e de anomalias congênitas que comprometam outros órgãos como desordens
oftalmológicas, cardíacas, renais, do trato urinário, entre outras. Vale
ressaltar que, crianças expostas intra-úteroao ZIKV
podem apresentar síndromes complexas com deficiências múltiplas, mas também
manifestações de comprometimento de desenvolvimento detectadas mais tardiamente,
como déficit de aprendizagem e má adaptação social, sem evidência de alterações
anatômicas neurológicas [23,27].
Alterações
do desenvolvimento neuropsicomotor e do comportamento podem ser acompanhadas
por problemas auditivos e visuais. Crianças de zero a 3 anos de idade com
microcefalia e com prejuízos do desenvolvimento neuropsicomotor e efeitos
associados beneficiam-se com o Programa de Estimulação Precoce, o qual consiste
num projeto de acompanhamento e intervenção clínico-terapêutica
multiprofissional que objetiva estimular a criança e ampliar suas competências,
abordando os estímulos que interferem na sua maturação, para favorecer o
desenvolvimento motor e cognitivo. Transtornos de desenvolvimento, em especial
aqueles associados com déficit intelectual, repercutem diretamente na qualidade
de vida das famílias das crianças e ensejam o acompanhamento quanto às
condições de saúde mental e o suporte socioemocional para os países [22,23,24,27].
Categoria
3 – Aspectos patológicos relacionados ao Chikungunya
A
primeira chikungunya teve sua primeira epidemia
documentada ocorreu em 2252, na Tanzânia, quando foi isolado pela primeira vez
[7,23]. Apresenta três genótipos distintos (africano ocidental, africano
oriental/central e asiático), porém todos compartilham o único sorotipo, o que
confere imunidade duradoura à infecção por qualquer dos genótipos. Compartilha
o mesmo vetor que os outros arbovírus citados neste trabalho, podendo infectar
várias espécies do gênero Aedes [10,21,23]
A
apresentação clínica da infecção por chikungunya é
muito semelhante à dengue, o que confere alcunhas como
“doença que dobra os ossos” à primeira e “febre quebra ossos” à segunda.
Infecção por chikungunya assintomática é rara.
Caracteriza-se por febre alta, artralgia severa e eritema acometendo face,
tronco e membros. A maioria dos pacientes apresenta poliartralgia
simétrica, envolvendo principalmente articulações interfalangianas,
carpais, tarsais,
tornozelos, joelhos e cotovelos. Também são comuns calafrios, mialgia,
cefaleia, fotofobia, dor lombar, náusea e vômitos. A fase aguda geralmente
resolve-se em uma a duas semanas, mas pode haver artralgia que pode persistir
por meses a anos, principalmente em pacientes idosos e que já apresentam alguma
artropatia. Complicações como hemorragia, miocardite
e hepatite são raras [25] A taxa de mortalidade é em torno de 0,1%, ocorrendo
principalmente em idosos, recém-nascidos e portadores de doenças crônicas tendo
insuficiência cardíaca, encefalite, hepatite e disfunção de múltiplos órgãos
como principais causas de morte [10,20,26].
O
uso de anti-inflamatórios não hormonais é o tratamento recomendado para a
artralgia causada pelo chikungunya; outros
tratamentos como ribavirina, cloroquina e imunoglobulina estão sob
investigação. De um modo geral, o chikungunya não é
considerado um vírus neurotrópico, mas surtos
recentes têm demonstrado alguns casos de encefalopatia, paralisia flácida, miopatia, neuropatia, síndrome de Guillain-Barré,
encefalite, rombencefalite, mielopatia,
encefalomielite disseminada aguda, meningoencefalite e convulsões febris,
principalmente em crianças, inclusive com casos de transmissão vertical
bem-documentados [10,20,23,24,27].
O
estudo do líquor geralmente mostra pleocitose linfocítica, com
aumento de proteína e glicose normal. Quando há envolvimento neurológico, a
mortalidade pode alcançar 10% [23]. Baseado em dados epidemiológicos da Ilha de
Réunion, localizada no Oceano Índico, que apresentou
uma epidemia de chikungunya,pareceu
haver aumento do número de casos de síndrome de Guillain-Barré em 22% [10,17,18,19,24].
Em
regiões com epidemia de chikungunya, foram
encontradas apresentações atípicas com envolvimento do sistema nervoso,
incluindo mieloneuropatias, encefalites, síndrome de
Guillain-Barré, paralisias flácidas e neuropatias [3,24].
Os
sintomas neurológicos são encontrados em menos de 1% dos pacientes. No entanto,
achados neurológicos, quando identificados, podem ser letais, pois são frutos
diretos da infecção viral, e não correlações sistêmicas. As manifestações
neurológicas mais comuns incluem a síndrome de Guillain-Barré,
meningoencefalite e encefalite desmielinizante aguda;
em crianças, as manifestações mais comuns são crises convulsivas. Manifestações
menos frequentes, como a neurite óptica e a mielite transversa podem ser
encontradas [20,22,24]
Categoria
4 - Aspectos patológicos relacionados a Febre amarela
A
febre amarela foi a primeira arbovirose a ser identificada em terras baianas e
também foi a primeira doença viral que teve o mecanismo de transmissão por
artrópode descoberto pelo cubano Carlos Finlay e o
estadunidense Walter Reed [2]
O
quadro clínico abrange de formas brandas até hemorragias fatais. O período de
incubação varia de 3 a 6 dias. Ela habitualmente manifesta-se com quadro
abrupto de febre alta, calafrios, cefaleia, dores no corpo, tontura e náusea.
Ao exame físico, observa-se paciente febril, com edema de face e conjuntivas,
com bradicardia inesperada diante da febre alta, o que é conhecido como sinal
de Faget. Do ponto de vista laboratorial, observa-se
leucopenia, com neutropenia, elevação de transaminases, em especial da AST,
sugerindo dano miocárdico e da musculatura esquelética, seguida por elevação de
bilirrubinas, com surgimento de insuficiência renal, proteinúria e distúrbios
da crase sanguínea caracterizados por trombocitopenia, alargamento do tempo de
protrombina e de coagulação, redução do fibrinogênica,
dos fatores II, V, VII, VIII, IX e X, além da presença dos produtos de
degradação da fibrina, sugerindo redução de síntese e consumo [10,20]
A
patologia em questão, ainda pode trazer envolvimento cardíaco demonstrado por
alterações no seguimento ST e da onda T, além de ocasionalmente surgirem
miocardiopatia dilatada aguda 24 a 50% dos pacientes com envolvimento hepático
e renal morrem cerca de 7 a 10 dias do início do quadro, geralmente devido a
choque hemodinâmico refratário [10,23].
As
manifestações neurológicas relacionadas à febre amarela em adultos geralmente
ocorrem quando os pacientes estão manifestando a doença sistêmica grave e
caracterizam-se por delirium hiperativo, respiração de Cheyne-Stokes,
hipotermia e coma. O estudo do líquor demonstra
aumento da pressão de abertura, com elevação da proteína total às custas de
elevação de albumina, sem elevação celular, achados consistentes com edema cerebral
e dano mínimo à barreira hematoliquórica. Microscopia
do tecido cerebral mostra hemorragias perivasculares e edema. Tal como ocorre
com outros flavivírus, como a dengue, a hepatite C, dentre outros, a
encefalopatia é uma apresentação comum e a encefalite é muito rara. Crianças
podem ter convulsões febris [10,17,20,26].
Categoria
5 - Principais manifestações neurológicas relacionados a Arboviroses no Brasil
Acerca
das alterações neurológicas, os estudos relataram casos de convulsão generalizada,
confusão mental e mielite transversa aguda associadas à infecção por DENV. Em
uma co-infecção DENV-CHIKV, um estudo descreveu um
caso de encefalite e Síndrome de opsoclonia-mioclonia-ataxia. Esses resultados convergem com outros
casos na literatura, que descrevem, ainda, a ocorrência de cefaleia, delírio,
parestesia, síndrome de Guillain-Barré, meningoencefalite, hemorragia subaracnoide, acidente vascular cerebral hemorrágico,
polineuropatia, neurite óptica, paralisia facial periférica e polirradiculoneurite aguda. O comprometimento neurológico
na infecção por DENV ocorre por formação de edema cerebral, hemorragia
cerebral, hiponatremia, insuficiência hepática com encefalopatia
porto-sistêmica, anóxia cerebral, hemorragia microcapilar e liberação de produtos tóxicos [5,11,12,26].
No
que se refere a etiologia e a fisiopatologia, a Síndrome de Guillain-Barré
consiste em uma polineuropatia progressiva autoimune, rara e sem cura, mas, que
possui tratamento que ameniza os sintomas e os afetados podem ter uma boa
qualidade de vida. Inicialmente, os acometidos apresentam paresia em membros,
fraqueza muscular generalizada, dor na região da lombar e membros inferiores
(MMII), com dormência ou formigamento nas extremidades dos membros superiores
(MMSS) e MMII. Esta patologia se trata de monofásica dos quais o tempo de
estabilidade é o platô que chega a durar meses e a última fase, que é a de
recuperação. Esse quadro inflamatório ocasiona a desmielinização
aguda após um mecanismo infeccioso ou viral além de que a mesma pode ser
mediada infecciosamente pelo próprio sistema imune do indivíduo [28,29,30].
No
que se refere ao contexto histórico, o primeiro caso de SGB foi visto em 1850
descrita em relatório por Jean Baptiste Octave Landry de Théizillat, a partir disso,
vários estudiosos passaram a ir reconhecendo as manifestações desta doença e,
em 1916, George Charles Guillain, Jean Alexandre Barré e André Strohl,
neurologistas franceses que se aprofundaram em estudos desta síndrome
analisando as progressões dos sinais clínicos apresentados pelos pacientes, mas
só apenas em 1927 o termo “Síndrome de Guillain-Barré” foi utilizado pela
primeira vez e carrega este nome em homenagem aos principais estudiosos que
analisaram e concluíram o diagnóstico [28,29,30].
Cada
indivíduo apresenta distintas manifestações clínicas que consideram outros
fatores fisiológicos e variantes clínicas, porém, basicamente todos vão
apresentar tretaparésia ascendente com início súbito
de rápida ação progressiva, seguida por arreflexia
com anomalias sensoriais e do SNA. Os acontecimentos são encadeados devido à
produção de anticorpos contra as células eferente do SN, que são responsáveis
pelas respostas vinda do SNC para o SNP, com o comprometimento do sistema imune
devido às excessivas quantidades de anticorpos acarretando na autodestruição da
camada de mielina dos axônios tornando os reflexos motores lentos [28,29,30].
Considerando
a fibra afetada que pode ser de caráter sensorial, motoras, mistas, cranianas
ou autonómicas com o tipo de lesão nervosa se compreende as suas muitas
variantes. Das variantes da SGB, a mais frequente é a polirradiculoneuropatia
(PDIA) incide na resposta pela ativação dos macrófagos que penetram a membrana
basal no envoltório das fibras nervosas resultando na desmielinização
da mielina, em sua forma sensoriomotora e,
consequentemente, há aparecimento de déficits nos pares cranianos, disfunção
autonômica e dor [28,29,30].
Relacionando
com a patogenia está a neuropatia axonal motora aguda (NAMA), que se trata do
envolvimento único das fibras motoras sem comprometer as vias sensoriais e
pares cranianos na qual o alongamento do nódulo de Ranvier,
fazendo com que a mielina seja distorcida e os macrófagos dentaram no espaço, o
axônio, a bainha de mielina e citoplasma das células de Schwann,
perante isso aparecem a fraqueza muscular distal e proximal de forma simétrica
de ligeira recuperação. Em junção, adentro das mesmas condições da SGB está a
neuropatia motora e sensorial aguda (NAMSA), que é a forma mais severa que
atinge as fibras nervosas motoras e sensoriais, ou seja, além dos
comprometimentos motores há déficit sensorial, mas o autônomo é raro [28,29,30].
O
desenvolvimento da SGB no SNP se elenca múltiplos agentes etiológicos
infecciosos e não infecciosos, nas pesquisas patológicas há evidências da
infecção por Campylobacter desde 1982, de maior
frequência nos países asiáticos, mas, é de 40 difícil comprovação pelo curto
tempo de eliminação da bactéria do orgasmo sendo antes dos sintomas iniciais da
SGB, os outros meios infeciosos são citomegalovírus, vírus Epstein-Barr, sarampo, vírus de influenza A, Mycoplasma
pneumoniae, enterovírus D68, hepatite A, B, C e o
vírus da Zika. Além disso, em alguns casos a doença pode se manifestar após a
vacinação [28,29,30,31].
Diferentes
eventos ocorrem durante a SGB de potenciais desencadeadores fisiopatológicos
costuma-se ser uma lesão pós-infecciosa do nervo imunomediada
de três fenótipos desmielinizantes diretamente axonal
e o que envolvia o axônio, essas respostam costumam ser mediadas por células T
e B imunes, mas os atuais estudos afirmam que acontece por meio de anticorpos
que se ligam aos gangliósidos GM1 ou GD1 nos nódulos
de Ranvier que destroem completamente a mielina [28,29,30,31].
Na
lesão axonal os próprios axônios são alvo de lesão primária para a dano
autoimune especificadamente localizado na bainha de mielina, na qual a
polineuropatia desmielinizante inflamatória aguda das
células de Schwann são agredidas, enquanto na
neuropatia axonal motora aguda as membranas no axônio do nervo são os
principais alvos do detrimento imunológico através das moléculas superficiais
microbiana e axolemal. As moléculas miméticas
caracterizam-se como glicanos, ou seja, açucares
manifestos em lipooligossacarídeos (LOS) dos
anteriores organismos infecciosos notado pelos C jejuni
e ao mesmo tempo induzem os feedbacks para os anticorpos dos antígenos de
carboidratos [28,29,30,31].
Os
anticorpos anticarboidratos apresentam respostas
independentes das células T, os anti-LOS se ligam aos
glicanos idênticos presentes nos glangliósidos
nervosos, os antigangliósidos na NAMA se encaixam nas
subclasses IgG1 e IgG3 e se ligam aos gangliósudos
GM1 e GD1a. No momento da lesão aos axônios os macrófagos são recrutados
atacando a membrana axolemal, iniciando uma cascata
imunológica que altera a estrutura e fisiologia destas membranas nervosas dos
terminais nervosos e nódulos de Ranvier, com isso, há
o bloqueio das conduções nervosas que podem ser reversível ou haver a
degeneração axonal generalizada severamente de modo irreversível [28,29,30,31].
Um
novo estudo realizado pelos japoneses explica de forma hipotética alguns
compostos de difícil visualização de domínios glicolipídios de vários
componentes glicolipídicos e lipídicos que formam neoantígenos descritos como anticomplexos
que se ligam unicamente a moléculas lipídicas heteroméricas
ou multiméricas que podem estar presentes nas
variantes da SGB, mas que não foram descobertas por se tratar de moléculas de
difícil identificação. Mesmo com diferença de austeridade nos tipos de acordo
com os registros de eletrofisiológicos as lesões inflamatórias nas membranas
gliais ou axonais na região do complexo nodal apresentam fisiologias
semelhantes de falha de condução reversível [28,29,30,31].
Essa
área nodal é um meio de rico antígenos potenciais inclusos as proteínas e
glicolipídios possuindo muita sensibilidade em seu funcionamento de fácil
acesso para perturbações patológicas por anticorpos e recrutamento de
macrófagos os bloqueios aos impulsos nervosos acontecem facilmente, mas, a
funcionalidade pode ser restaurada em um curto prazo por meio do reparo
tecidual destas membranas lesionadas. Porém, em outras condições de danos
completos aos axônios havendo degeneração Walleriana do coto distal nas raízes
nervosas distante no alvo de inervação não podendo ocorrer a regeneração a
lesão se torna irreparável e permanente [28,29,30,31].
Outra
descoberta clínica consiste em uma neuropatia sensório-motora leve,
autolimitada, distal. Outros estudos também descreveram formas da infecção,
sendo as células de Schwann o alvo do agente
infeccioso, que podem comprometer a função nervosa de forma aguda, resultando
de inflamação do nervo segmentar com edema e ainda, mencionaram que, dependendo
da resposta imune, a desmielinização pode evoluir
para uma resolução rápida ou progressiva. Os sintomas incluem fraqueza leve e
limitada às extremidades, predominância de sintomas sensoriais e melhora rápida
nos primeiros 7–10 dias com associação eletrofisiológica não reveladora. Uma
vez que a descrição anterior envolve principalmente os nervos distais, estudos
eletrofisiológicos normais não são inconsistentes com neuropatia aguda. A
polineuropatia transitória aguda constitui uma síndrome benigna das complicações
relacionadas as arboviroses [11,23,26].
A
síndrome congênita associada à infecção por arboviroses apresentam uma
diversidade de alterações clínicas ou de neuroimagem sugestivas em crianças de
mães infectadas durante a gestação, sobretudo no primeiro trimestre.
Acredita-se que o vírus possa afetar as células progenitoras neuronais,
resultando em retardo ou interrupção do desenvolvimento cerebral. O quadro
dessa síndrome envolve um espectro amplo de manifestações. Entre as alterações
neurológicas, pode-se encontrar o atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, hipoatividade motora, hipertonia, hiperreflexia,
irritabilidade, hiperexcitabilidade, microcefalia,
além de outras manifestações congênitas e ainda, o comprometimento neurológico
da síndrome, resultando em prejuízos para o desenvolvimento das crianças
afetadas [11,13,20,21,23,26,32].
Em
relação aos achados de neuroimagem, a síndrome congênita por dengue, febre
amarela, chikungunya e vírus ZIKV pode se apresentar
com redução do diâmetro craniano, hidrocefalia, lissencefalia,
hipoplasia cerebelar, ventriculomegalia ou
calcificações cerebrais. Outras infecções congênitas (toxoplasmose, rubéola,
citomegalovírus, herpes simples, HIV e sífilis) também cursam com alterações do
parênquima cerebral e podem apresentar calcificações, entretanto, as
calcificações encefálicas na infecção por ZIKV ocorrem preferencialmente na
transição córtico-subcortical, diferenciando-se das
demais infecções congênitas. Além desses achados, o excesso de líquido
ventricular e líquido extra-axial, alteração do corpo
caloso e da substância branca podem estar presentes [11,12,23,23,26]
A
neuropatia sensorial, assim como a síndrome de MillerFisher,
compartilha da ataxia como característica clínica central. Acredita-se que, ao
invés de uma complicação direta da infecção por ZIKV, tenha ocorrido um quadro
pós-infeccioso que desencadeou a neuropatia sensorial aguda /subaguda [13,21,22,23,24].
O
estudo permitiu identificar as principais alterações neurológicas associadas às
infecções por ZIKV, DENV, CHIKV e WNV, tendo o Brasil como referência. Além do
quadro clínico variável, apresentam quadros clínicos, neurológicos e
epidemiológicos similares e amiúde superponíveis,
compartilhando modo de transmissão e vetor, o que torna suas profilaxias
semelhantes, sendo responsáveis por um considerável impacto econômico e social
ao pais. Essas arboviroses podem evoluir com
complicações importantes no sistema nervoso, tais como meningite, encefalite,
polineuropatia, neuropatia sensorial, mielite transversa aguda e a síndrome
congênita associada à infecção por ZIKV. Notou-se que a dificuldade no
diagnóstico das arboviroses consiste na semelhança da clínica apresentada pelos
pacientes infectados. Além disso, a possibilidade de coinfecção também se
mostrou um obstáculo para o diagnóstico acertado. Assim, considerando os
aspectos locais que tornam o país endêmico para alguns arbovírus, destaca-se a
necessidade de formulação de novas estratégias para o controle do vetor e
educação da população.
Por
sua vez, tendo em vista que os flavivírus – arbovírus causadores da DEN, ZIK e
FEBR – e os alphavírus
- causadores da CHIK - são
altamente incidentes no país, evidencia- -se a importância
de ações de
prevenção e combate aos patógenos. Considerando-se
que, de todas as doenças
citadas, apenas a FEBR possui uma vacina como forma de profilaxia,
podemos
concluir que a forma mais eficaz de prevenção das
arboviroses é a educação da
população acerca do tema. Neste interim, observa-se que a
Medicina tem papel
crucial na promoção de saúde relacionada às
arboviroses. É de competência e
incumbência da Medicina a realização de
ações que visam a educação em saúde
para a população. Em vista deste fato, torna-se evidente
a importância de
analisar a produção científica acerca do papel do
médico como educador no
combate e prevenção das doenças causadas por
arbovírus.
Por
fim, combater este vetor é a estratégia mais utilizada
pela saúde pública
brasileira. Estudo afirma que todos os profissionais que atuam na ESF
têm papel
crucial na prevenção das arboviroses, atuando
através da educação em saúde,
educação permanente e orientações à
população. Eles reiteram, ainda, que o mosquito
se utiliza de utensílios que a população usa em
seu dia a dia e que também
podem fazer seus criadouros em locais com lixo ao céu aberto, o
que é uma
realidade em muitos locais do país, principalmente tratando-se
de comunidades
carentes.