ARTIGO
ORIGINAL
Demanda
de atendimento em urgência e emergência hospitalar
Aline dos Santos
Inácio, Esp*, Cristiane Damiani Tomasi, D.Sc.**, Maria Tereza Soratto, M.Sc.***
*Enfermeira,
Pós-Graduada em Assistência de Enfermagem em Urgência e Emergência,
Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina (UNESC), Criciúma SC,
**Enfermeira, UNESC, ***Enfermeira, Mestrado em Educação, UNESC, Criciúma SC
Recebido 4 de dezembro de 2017; aceito em 28 de julho de 2018.
Endereço
para correspondência:
Maria Tereza Soratto, Universidade do Extremo Sul de
Santa Catarina (UNESC), Av. Universitária, 1105 Curso de Enfermagem, Bloco S,
Bairro Universitário 88806-000 Criciúma SC, E-mail: guiga@unesc.net; Aline dos Santos Inácio: enfaalinesombrio@hotmail.com; Cristiane
Damiani Tomasi: cristiane_damiani@hotmail.com
Artigo Baseado em
Monografia Pós-graduação Especialização em Assistência de Enfermagem em
Urgência e Emergência
Resumo
Pesquisa com objetivo
de identificar a demanda de atendimento de urgência e emergência hospitalar.
Pesquisa quantitativa, documental, retrospectiva, descritivo-exploratória e de
campo. Realizou-se o levantamento através da consulta aos relatórios mensais de
atendimentos na classificação de risco em emergência nos meses de janeiro a
julho de 2016 em um Hospital de pequeno porte do Extremo Sul Catarinense,
totalizando 1.067 atendimentos no período descrito. A análise de dados ocorreu
a partir de abordagem quantitativa. A classificação de risco do atendimento
caracterizou-se por 34,86% cor amarela; 28,68% verde; 6,09% laranja; 3,28%
azul; 1,31% vermelho. Destaca-se que 25,77% não foram notificados na
classificação de risco, demonstrando a implantação incompleta do protocolo de
acolhimento de avaliação e classificação de risco no referido serviço. Os
motivos de atendimento demonstraram a complexidade assistencial dos pacientes
atendidos no setor de emergência, 31,02% dos casos envolveram a dor. Desta
forma, os resultados apontam a necessidade de qualificar os registros
realizados no acolhimento, através da classificação de risco, evitando desta
forma, a subnotificação. Considera-se a partir dos resultados a necessidade de
capacitação do profissional para operacionalizar o acolhimento com avaliação e
classificação de risco, bem como a reestruturação dos serviços de referência e contra-referência.
Palavras-chave: emergência,
enfermagem, acolhimento, triagem.
Abstract
Demand for urgent and emergency hospital services
This study aims to identify the demand for urgent and emergency care. It
is a quantitative research, documentary, retrospective, descriptive and
exploratory. The survey was conducted through consultation with monthly reports
of attendances in emergency risk classification in the months of January to
July 2016 in a small Hospital in the far South of Santa Catarina,
with a total of 1,067 attendances in the period described. Data analysis
occurred from a quantitative perspective. The classification service was
characterized with 34.86% yellow; 28.68% green; 6.09% orange; 3.28% blue; 1.31%
red colors. It is highlighted that 25.77 were not notified as risk
classification, demonstrating the incomplete triage protocol assessment and
classification of risk. The reasons of service demonstrated the complexity of
healthcare patients in the Emergency Department, 31.02% of cases reported pain.
In this way the results highlight the need to qualify the records held with
hosting ratings thus avoiding the underreporting. It is considered from the
results of the research the need for training of professionals to
operationalize the hosting with assessment and classification of risk, as well
as the restructuring of reference services and reference counter.
Key-words: emergencies,
nursing, user embracement, triage.
Resumen
Demanda de servicios
hospitalarios de urgencia y
emergencia
Investigación para identificar la demanda de atención
urgente y de emergencia. Investigación
cuantitativa, documental, retrospectiva, descriptiva y exploratoria. La encuesta fue realizada a través
de consultas a los informes mensuales
de evaluación de riesgo de emergencia en los
meses de enero a julio de 2016 en un pequeño Hospital en el sur
de Santa Catarina, con un
total de 1.067 asistencias en
el período descrito. Análisis
de datos se produjeron
desde una perspectiva cuantitativa. El servicio de clasificación fue caracterizado con el 34,86% color amarillo; el 28,68% verde; el 6,09% naranja; el 3,28% azul y el 1,31% rojo. Se
resalta que el
25,77% no fueron notificados en
la clasificación de riesgo, demostrando la implementación incompleta del
protocolo de acogimiento de evaluación
y clasificación del riesgo. Los motivos de asistencia
demostraran la
complejidad de atención
médica en urgencias de los pacientes, el 31.02% de los casos manifestaban dolor. De esta manera los resultados destacan la necesidad
de calificar los
expedientes realizados en el
acogimiento a través de clasificación
de riesgo, evitando así la subnotificación. Se considera
a partir de los resultados de la investigación la necesidad de capacitación del profesional para poner en funcionamiento el acogimiento con evaluación y clasificación de riesgo, así como la reestructuración
de los servicios de
referencia y contra referencia.
Palabras-clave: urgencias
médicas, enfermería, acogimiento,
triaje.
O acolhimento com
classificação de risco (ACCR) é um processo dinâmico de identificação dos
pacientes que necessitam de tratamento imediato de acordo com o potencial de
risco, os agravos à saúde ou ao grau de sofrimento [1,2]. Além da função
principal de hierarquizar o atendimento, de acordo com a gravidade da vítima,
também determina prioridades, ordenando e orientando a assistência [2,3].
O acolhimento com
classificação de risco tem como objetivos, ampliar e qualificar o acesso
humanizado e integral aos usuários em situação de urgência e emergência, de
forma que o atendimento seja ágil e oportuno [2,4].
A classificação de
risco contribui para uma melhora do serviço de emergência, via ordenação do
atendimento de acordo com o grau de gravidade do paciente e não por ordem de
chegada, o que agiliza os processos, reduz o tempo de
espera nas filas, acarretando uma maior satisfação dos usuários dos serviços de
emergência [4,5].
A classificação de
risco na área de emergência deve ser realizada por profissional de nível
superior [3,6].
O enfermeiro é o
profissional mais indicado para realização da classificação de risco, não só no
Brasil, como em muitos outros países, pois apresenta
qualidades técnicas, generalistas, o que permite facilitar os processos,
promover o atendimento rápido por prioridades de risco, melhorando a qualidade
dos atendimentos, além de reduzir agravos para os pacientes [5,6].
O enfermeiro possui
papel determinante na inclusão da Classificação de Risco, nas redes de urgência
e emergência. Os profissionais de enfermagem devem considerar que o uso do
sistema de classificação de pacientes insere-se como método de gestão, para
melhor priorizar e reorganizar o fluxo dos pacientes. A implantação do ACCR
proporciona agilidade no atendimento a pacientes com quadro clínico grave e
risco iminente de morte, uma vez que por meio da habilidade profissional é
possível identificar sinais e sintomas que indicam situações de urgência e
emergência e que precisam ser priorizadas [7].
A classificação de
risco como um dispositivo de ordenamento, norteia o trabalho do enfermeiro
buscando oferecer uma assistência de excelência em um espaço complexo e
multifacetado como a emergência [2].
O acolhimento é uma
prática presente em todas as relações de cuidado, nos encontros reais entre
trabalhadores de saúde e usuários, nos atos de receber e escutar as pessoas,
podendo acontecer de formas variadas. A Política Nacional da Atenção Básica o
aponta como fundamento e diretriz, quando define que o serviço de saúde deve se
organizar para assumir sua função central de acolher, escutar e oferecer uma resposta
positiva, capaz de resolver a grande maioria dos problemas de saúde da
população e/ou de minimizar danos e sofrimentos, ou ainda se responsabilizar
pela resposta, ainda que esta seja ofertada em outros pontos de atenção da rede
[8].
O conhecimento da
demanda dos pacientes que frequentam o serviço de emergência constitui
ferramenta de planejamento de ações em saúde [9]. Percebe-se o quanto há de
desafio no que se refere à área de urgência e emergência, dado o seu perfil de
ambiente crítico, instável e estressor, vivenciado pela equipe
multiprofissional e usuários.
Neste contexto, o
enfermeiro possui papel de norteador do processo de trabalho em urgência e
emergência e no acolhimento de classificação de risco, possibilitando segurança
para o paciente e equipe. O enfermeiro precisa saber primeiro acolher esse
paciente, ou seja, escutar a queixa do paciente, para somente após,
classificá-lo. Considera-se então que uma escuta qualificada resultará em um
atendimento humanizado e necessário, perante a prioridade dos agravos
existentes com risco de vida iminente. Enquanto enfermeira atuante em
emergência e urgência constatou-se a necessidade de conhecer a demanda de
atendimento, identificando dessa forma os principais atendimentos, otimizando o processo do cuidar e criando a possibilidade de
se fazer um protocolo de atendimento em urgência e emergência.
O presente estudo
teve como objetivo identificar a demanda de atendimento de urgência e
emergência hospitalar, a partir da classificação de risco.
Abordagem
quantitativa, documental, retrospectiva, descritivo-exploratória e de campo.
Realizou-se o levantamento através da consulta aos relatórios mensais de
atendimentos na classificação de risco em emergência, de janeiro a julho de
2016, em um hospital de pequeno porte do Extremo Sul Catarinense, totalizando
1.067 atendimentos no período descrito.
Os critérios
referentes ao sigilo, à confidencialidade e à proteção dos dados dos
participantes da pesquisa foram adotados segundo os critérios das Resoluções nº
510, de 07 de abril de 2016 [10] e 466 de 2012 [11], que trata da pesquisa
envolvendo seres humanos, definidos pelo Conselho Nacional de Saúde. O projeto
foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Extremo Sul de
Santa Catarina (UNESC) sob parecer 1.743.078/2016.
O Acolhimento com
Classificação de Risco é uma importante ferramenta desenvolvida para promover
melhorias na organização dos serviços de emergência, onde os atendimentos são
realizados, conforme o grau de gravidade apresentado pelo paciente, por riscos
de agravamento ou ainda pelo grau de vulnerabilidade dos mesmos [2,3,5].
O principal propósito
é promover um atendimento mais qualificado, organizado e humanizado, definindo
prioridades de acordo com o grau de complexidade apresentado pelos usuários dos
serviços de emergência [2,4,5].
Segundo a Resolução
COFEN nº 423/2012, a classificação de risco e a priorização da assistência em
serviço de emergência são privativas do enfermeiro. O
enfermeiro deve estar dotado de conhecimentos, competências e habilidades que
garantam rigor técnico-científico a execução do procedimento [6].
A classificação de
risco classifica as condições de emergência como prioridade absoluta, seguidas
das condições de urgência que, por sua vez, serão seguidas pelas condições que
necessitam de atendimento, mas não necessariamente imediato, ainda que em um
período curto, frequentemente provocado por algum tipo de risco ou sofrimento
[4].
A classificação
vermelha corresponde aos indivíduos em situação crítica, com quadro clínico
instável e com risco de morte; prioridade zero – emergência, necessidade de
atendimento imediato; a amarela àqueles em situação clínica semicrítica,
estando estáveis ou sem risco de morte; prioridade 1 – urgência, atendimento em
no máximo 15 minutos. A classificação verde caracteriza os pacientes em
situação clínica não crítica, mas que podem evoluir para as condições do risco
amarelo; prioridade 2 - prioridade não urgente, atendimento em até 60 minutos;
azul é representativo para pacientes sensíveis a atendimento, estritamente,
ambulatorial, prioridade 3 - consultas de baixa complexidade - atendimento de acordo
com o horário de chegada – tempo de espera pode variar até 4 horas, de acordo
com a demanda desses atendimentos, ou referenciar para outra unidade [4,12].
Segundo o Conselho Regional do Estado de São Paulo, a cor laranja é
classificada pelo protocolo de risco como muito urgente, necessitando de
atendimento o mais rápido possível [13].
Com base nas 1.067
fichas dos relatórios mensais de atendimentos na classificação de risco em
emergência, constatamos que apenas 1,31% desses atendimentos foram
classificados como emergências, recebendo a cor vermelha; 6,09% laranja
considerado muito urgente, necessita atendimento o mais rápido possível e
34,86% foram classificados como urgências, os quais foram identificados com a
cor amarela.
Na classificação da
cor verde 28,68% indicou situação clínica não crítica, mas que podem evoluir
para as condições do risco amarelo e 3,28% azul representativo de pacientes
sensíveis a atendimento, estritamente, ambulatorial.
Destaca-se que 25,77%
não foram notificados na classificação de risco, o que denota subnotificação.
Tabela
I – Número de atendimentos na Emergência pela
Classificação de Risco.
Fonte: Relatório
mensal de atendimentos emergências, janeiro a julho 2016.
Pesquisa sobre
Acolhimento com avaliação e classificação de risco no pronto socorro com
avaliação de 5.629 fichas de atendimento indicou que 1% dos atendimentos receberam a cor vermelha (emergência), 15% amarela
(urgência), 40% verde (necessita atenção, mas sem risco de vida), 5% azul
(casos não graves) e 39% dos atendimentos não foram classificados quanto ao
risco, demonstrando a implantação incompleta do protocolo de acolhimento com
avaliação e classificação de risco no serviço[14], denotando resultados
similares neste estudo.
Em relação às
condições sensíveis que poderiam ser atendidas pela atenção primária no
presente estudo encontraram-se 3,28% dos casos classificados como Azul pelo
enfermeiro.
Os serviços de
emergência são a porta de entrada de um grande número de usuários que muitas
vezes a identificam como uma forma de resolução rápida de seus problemas. Essa
demanda torna-se cada vez mais complexa, além de superlotar as emergências
[15].
Em pesquisa sobre o
grau de complexidade assistencial dos pacientes em um pronto-socorro houve
predomínio de pacientes classificados à necessidade de cuidados mínimos, e
isso, pressupõe a inadequação do fluxo de atenção dos serviços de saúde e
consequente utilização equivocada da atenção hospitalar, gerando número
expressivo de atendimentos que, possivelmente, poderiam ser sanados em serviços
de menor densidade tecnológica [16].
Essa realidade é
determinante para a superlotação do serviço, onde se verifica que grande parte
dos atendimentos não são casos agudos, mas sim crônicos, ou seja, atendimentos
eletivos, o que descaracteriza os serviços de emergência, que visam ao
atendimento de casos graves, onde há risco de vida. A procura por esses
serviços, de forma errônea, compromete o andamento das unidades de emergências
e isso acontece principalmente por falta de uma maior orientação da população e
pela insuficiente estruturação das redes de atenção básica [5,7,14].
A demanda de baixa
complexidade poderia ser acolhida pela unidade básica de saúde (UBS) da área de
residência do usuário, o que aponta para a necessidade da orientação da
comunidade quanto à utilização correta dos serviços de emergência. A facilidade
ao acesso da medicalização e a resolução dos pequenos problemas de saúde, nas
unidades de emergências, faz com que os usuários, mesmo sem a necessidade de
atendimento de urgência e emergência, busquem o atendimento nestes setores [9].
A busca de
atendimento nos serviços de urgências e emergências está relacionada pelas
dificuldades dos usuários na marcação e realização de consultas, nos
encaminhamentos e realizações de exames, nos horários de funcionamento
reduzidos, coincidindo muitas vezes com o horário de trabalho, as diversas
especialidades com diferentes complexidades e atendimento nas vinte quatro
horas [15].
O desconhecimento do
funcionamento do acolhimento com classificação de risco pelo usuário foi
detectado como um entrave, pois o usuário está condicionado a acessar a
emergência por ordem de chegada [17].
As dificuldades
inerentes à classificação de risco estão relacionadas à sobrecarga de trabalho,
despreparo das equipes para realizar a classificação de risco, estrutura física
inadequada, falta de espaço para atender os usuários com privacidade e de forma
humanizada dificultando a implantação desse sistema na emergência [17].
O serviço hospitalar
de urgência e emergência é o local de primeira escolha para solucionar
situações de agravos à saúde. A superlotação na emergência constitui um
fenômeno contemporâneo que está presente nas diversas partes do mundo, e suas
causas e consequências ocasionam forte impacto sobre a gestão clínica e a
qualidade do atendimento [18].
A superlotação nos
serviços de emergência repercute diretamente na infraestrutura, nos recursos
materiais, na sobrecarga dos profissionais e consequentemente no desvio de
função. Por tratar-se de um setor de alta complexidade faz-se necessário
realizar capacitação dos enfermeiros para um acolhimento qualificado e
resolutivo, refletindo em uma classificação de risco nas redes de urgência e
emergência eficaz [7].
Motivo
do atendimento emergencial
O motivo do
atendimento emergencial, segundo a classificação dos enfermeiros, envolveu em
31,02% dos casos a dor; 5,58% trauma; 1,35% picadura de aranha, inseto e cobra;
1,8% queda no domicílio; 0,51% queixas relacionada ao diabetes; 0,64%
atendimento à gestante; 2,82% alterações do aparelho cardiocirculatório; 17,82%
alterações do aparelho gastrointestinal; 15,9% alterações do aparelho
respiratório; 4,36% alterações do aparelho neurológico; 2,37% alterações da
pele; 2,05% alterações do aparelho urinário; 7,82% febre e 2,69% outros
sintomas; 3,27% alterações mentais.
Tabela
II –
Motivo do atendimento emergencial
Fonte: Relatório
mensal de atendimentos emergências, janeiro a julho 2016.
Dor na
emergência
Em relação à dor,
destaca-se que a de caráter abdominal contribuiu com 6,73% pelo motivo de
procura pelo atendimento na emergência; 5,77% queixa
de cefaleia e 3,59%, de lombalgia.
A dor é uma
experiência sensorial e emocional desagradável, associada ao dano tecidual real
ou potencial, a dor inibe a função imunológica e tem efeitos deletérios sobre o
sistema cardiovascular, a dor pode ser somática ou visceral, aguda ou crônica
ou gerada por mecanismo central ou periférico [19].
Pesquisa relacionada
ao grau de complexidade assistencial dos pacientes atendidos na emergência
apresentou queixas de dor abdominal, lombar ou torácica não anginosa intensa,
com alterações de sinais vitais ou acompanhadas de náuseas, vômitos, sudorese,
palidez e cianose, somaram 8,3% dos atendimentos. A classificação da cor verde
foi a mais prevalente dentre os atendimentos analisados, 50,7% estiveram
relacionadas a queixas de dor em alguma parte do corpo, sendo mais prevalente a
dor torácica (14,3%), seguida da dor abdominal (12,3%) [14].
Segundo a Rede de
Urgência e Emergência, os sinais vitais alterados, com dor intensa; rigidez de nuca;
alteração do nível de consciência; sinais neurológicos focais: paresia, parestesias, disfasia, afasia, ataxia, distúrbio
equilíbrio; PAS ≥ 190 ou PAD ≥ 120mmhg, podem ser classificadas
como de nível vermelho (emergência), sendo necessário atendimento imediato
[20].
Os sinais vitais
normais; dor moderada com náuseas e/ou vômitos; quadro de crise hipertensiva
caracteriza-se como amarelo (urgência), devendo ocorrer atendimento em no
máximo 15 minutos. Os sinais vitais normais; dor leve; dor facial com rinorreia purulenta; relato de febre; sem fatores de risco
classifica-se como verde (prioridade não urgente), com atendimento em até 60
minutos [20].
Trauma
e acidente trânsito
O motivo de
atendimento na emergência por trauma relacionado ao acidente trânsito ocorreu
em 2,12% dos casos.
O trauma representa a
terceira causa de mortalidade no mundo, superada apenas pelas neoplasias e
doenças cardiovasculares [21].
Dentre as várias
causalidades, destacam-se os diversos traumas, por quedas e acidentes de
trânsito, sendo esse último alvo de grande preocupação no Brasil e no mundo,
pelo elevado número de vítimas jovens que atingem e pelos impactos sociais,
econômicos e pessoais que provocam [22].
Queda
no domicílio
A queda no domicílio
foi responsável por 1,8% de procura por atendimento na emergência, denotando a
necessidade de estratégias de prevenção de risco para queda no ambiente
domiciliar.
As quedas representam
um grave problema de saúde pública, merecem destaque por figurarem entre as
principais causas de morbimortalidade em todo o mundo. As quedas atingem
qualquer sexo, idade, condição socioeconômica ou quaisquer outros atributos
[23,24].
Em pesquisa sobre as
características e fatores associados às quedas atendidas em serviços de
emergência, 54,6% das quedas ocorreram na residência, sendo necessária a
implantação de estratégias para a prevenção das quedas particularmente em residências,
escolas e ambientes de trabalho [23].
Existe associação de
diversos fatores relacionados à queda no domicílio, e as intervenções e
cuidados preventivos devem abranger o controle medicamentoso, educação em
saúde, exercícios e atividades físicas, acessibilidade, manutenção da
capacidade funcional e o suporte de uma equipe multiprofissional [25].
Hipertensão
e diabetes
A hipertensão
arterial foi motivo de atendimento em 1,67% dos casos na emergência e
complicações relacionadas à diabetes em 0,51% dos atendimentos.
A hipertensão é uma
doença da regulação vascular, em que os mecanismos que controlam a pressão
arterial dentro da faixa normal estão alterados. A pressão arterial fica alta
quando o aumento do débito cardíaco está aumentado e a diabetes melito é um distúrbio metabólico caracterizado por
hiperglicemia e resulta na produção, secreção ou utilização deficiente de
insulina [19].
De acordo com a Rede
de Urgência e Emergência, a PAS ≥ 220 ou PAD ≥ 130 mmHg com qualquer sintoma é considerada uma emergência,
classificada como vermelho, emergência hipertensiva, com necessidade de
atendimento imediato. A PAS ≥ 220 ou PAD ≥ 130 mmHg
sem sintomas; PAS entre 190-220 ou PAD entre 120-130 mmHg com sintomas é classificado
como urgência hipertensiva, amarelo. A classificação verde prioridade não
urgente estabelece-se com a PAS entre 190-220 ou PAD entre 120-130 mmHg sem sintomas [20].
As patologias citadas
são perigosas e silenciosas podendo trazer sérios danos à saúde quando não
diagnosticadas precocemente e tratadas. São motivos comuns de procura no
atendimento hospitalar.
Picadura
O controle de
picaduras em zona rural é essencial para evitar complicações, em 0,19% dos
casos foi atendido na emergência picadura de cobra e inseto; 0,96% de aranha.
Os acidentes causados
pelos animais peçonhentos são considerados emergência clínica, pois podem
evoluir para o óbito do indivíduo. Ocorrem principalmente nos países tropicais,
o acidente ofídico é o acidente mais grave [19].
Atendimento
emergencial à gestante
A equipe de
enfermagem deve estar capacitada para o atendimento emergencial às gestantes,
pois no presente estudo estes casos contribuíram com 0,64% dos atendimentos.
O trabalho de parto é
definido como contrações regulares associadas a alterações do colo após 20
semanas de gestação e antes de 37 semanas completas de semanas. O TPP (trabalho
de parto) pré-termo é a causa mais comum de
mortalidade neonatal [19].
O enfermeiro,
quando realiza o acolhimento à gestante, precisa ter conhecimento
técnico científico, saber identificar sinais e sintomas das alterações
gravídicas, com agilidade, para conseguir evitar complicações maiores, podendo
intervir precocemente.
Alterações
mentais
A reforma
psiquiátrica com a inclusão do hospital geral no atendimento de urgências em
saúde mental pressupõe o preparo da equipe de saúde da rede para o atendimento
destes casos [26]. No presente estudo, 3,27% da demanda foi
relacionada às alterações mentais.
As urgências de saúde
mental têm sido caracterizadas como uma questão crítica, pois é crescente a
demanda, requisitando ao profissional, um atendimento ético e comprometido. Os
serviços de emergência são portas de entrada para o atendimento de risco e
tentativa de suicídio, por exemplo, exigindo preparo da equipe com observação
da situação e o atendimento dos agravos à saúde [3].
A depressão obteve um
percentual de 1,60% dentre as alterações mentais e a crise nervosa 1,35%.
Esta é considerada um
grave problema de Saúde Pública [26-28]. Estudo [26] demonstrou a falta de
capacitação da equipe multiprofissional para a assistência ao paciente com
depressão na emergência; sendo necessária a capacitação da equipe para o
acolhimento dos pacientes e a organização da rede do serviço de Saúde Mental,
de acordo com os princípios da Política Nacional de Humanização [26].
Sintomatologia
associada à procura de atendimento na emergência
Quanto à
sintomatologia associada à procura de atendimento na emergência, 17,82%
relacionaram-se às alterações do aparelho gastrointestinal; 15,9% aparelho
respiratório; 4,36% aparelho neurológico; 2,37% alterações na pele; 2,05%
alterações do aparelho urinário e 7,82% febre.
A avaliação sobre o
motivo da procura mais frequente da mínima parcela classificada com a cor
vermelha permitiu identificar a prevalência de casos de hemiparesia, hemiparestesia, hemiplegia, associado ou não à paralisia
facial, os quais somaram 19,6% das queixas, sinais típicos de diagnóstico de
acidente vascular cerebral [14]. Já neste estudo os motivos de procura pelo
atendimento na emergência com alterações do aparelho neurológico apontaram 4,36%.
Pesquisa ainda
indicou desconforto respiratório intenso e queixa de dor torácica/epigástrica
alcançando um percentual de 15,7% cada [14]. No presente estudo, os motivos de
atendimento emergencial relacionados às alterações do aparelho respiratório
tiveram um percentual de 15,9% e alterações do aparelho gastrointestinal
17,82%.
Politraumatizados graves representaram
11,8% dos atendimentos classificados com a cor vermelha [14]. O trauma neste
estudo representou um percentual de 5,58%.
A queixa relacionada
à febre também esteve entre as principais causas de atendimento (14,3%) [14].
A
exaustão térmica é
a inadequação ou colapso da circulação
periférica devido à depressão do volume
e eletrólitos, a exaustão é uma
alteração relacionada à erupção,
câimbras,
edema, todos causados pelo calor, sendo necessário identificar
os indivíduos
com maior risco de exaustão térmica de modo que possam
ser atendidos de forma
preventiva [19].
Os serviços de
emergência configuram-se como portas de acesso à assistência à saúde,
destinados àqueles que apresentam agravos clínicos ou cirúrgicos agudos. Desse
modo, há uma quantidade variável de usuários que recorrem ao serviço de
emergência com diferentes níveis de gravidade, algumas das quais podem ser
fatais e requerem intervenção imediata para aumentar as chances de
sobrevivência e sucesso terapêutico [29].
O acolhimento com
classificação de risco constitui-se numa ferramenta que permite maior
racionalidade nos serviços de saúde e auxiliam na excessiva demanda do serviço
de emergência atendendo o usuário de acordo com suas necessidades, a partir de
uma escuta humanizada pelo enfermeiro que é responsável por esse acolhimento
nas portas de entrada [18].
A implantação dessa
ferramenta de gestão contribui exponencialmente com a tentativa de diminuição
da superlotação. A partir da realização do acolhimento com classificação de
risco é possível determinar quais casos realmente necessitam de atendimento no
âmbito hospitalar, bem como quais casos deverão ser encaminhados à atenção
primária em saúde, ou ainda aqueles que deverão ser referenciados para outras
unidades de saúde [18].
O enfermeiro possui
papel determinante na inclusão da classificação de risco nas redes de urgência
e emergência [7] por deter conhecimentos clínicos e habilidades comunicacionais
que os tornam mais bem preparados para realizar a classificação de risco [30].
Desse modo, podem coordenar a equipe de enfermagem, supervisionar o fluxo de
usuários, encaminhando o paciente para a área clínica mais adequada para seu
quadro clínico [17].
O enfermeiro enquanto
responsável pela classificação de risco tem autonomia para decidir sobre a
continuação do cuidado de cada usuário, direcionando, orientando e
operacionalizando o ACCR, contribuindo para a maior agilidade do atendimento,
diminuição das grandes filas de espera e proporcionando atendimento ordenado e
resolutivo [30].
O acolhimento com
classificação de risco é considerado uma importante ferramenta na priorização
dos casos graves proporcionando segurança ao enfermeiro na identificação dos
riscos [31].
Através deste estudo,
foi possível caracterizar a classificação de risco na emergência realizada pelo
enfermeiro e o motivo da procura pelo atendimento na emergência. Segundo os
dados do relatório mensal de atendimentos, ocorreram 1.067 atendimentos nos
meses de janeiro a julho de 2016 no hospital pesquisado. A classificação de
risco caracterizou-se com 1,31% dos atendimentos classificados como
emergências, recebendo a cor vermelha; 6,09% laranja, considerado muito
urgente, necessitando atendimento o mais rápido possível e 34,86% foram
classificados como urgências, os quais foram identificados com a cor amarela. Na
classificação da cor verde, 28,68% indicaram situação clínica não crítica, mas
que podem evoluir para as condições do risco amarelo.
Na classificação de
risco, 3,28% foi identificado como azul representativo de pacientes sensíveis a
atendimento, estritamente, ambulatorial, o que denota a inadequação do fluxo de
atenção dos serviços de saúde e consequentemente superlotação das emergências.
Destaca-se ainda que
25,77% não foram notificados na classificação de risco, demonstrando a
implantação incompleta do protocolo de acolhimento com avaliação e
classificação de risco no serviço, o que poderia aumentar o número de registro
de casos de condições sensíveis que poderiam ser atendidas pela atenção
primária.
Os diversos motivos
de atendimento demonstraram a complexidade assistencial dos pacientes atendidos
no setor de emergência, 31,02% dos casos referidos envolveram a dor.
Desta forma os
resultados apontam a necessidade de qualificar os registros realizados do
acolhimento com classificação de risco, evitando, desta forma, a
subnotificação.
Considera-se a partir
dos resultados da pesquisa, a necessidade de capacitação dos enfermeiros, para
operacionalizar o Acolhimento com Avaliação e Classificação de Risco, bem como
a reestruturação dos serviços de referência e contra-referência.