ARTIGO
ORIGINAL
Avaliação
do consumo alimentar em residências de crianças
usuárias de um centro de educação infantil
Revillyn Souza da
Silva*, Adriana Cecel Guedes, M.Sc.**, Bruna Gabriela
Bibancos Damas, M.Sc.***
*Enfermeira,
Universidade Paulista,**Coordenadora do Curso de Enfermagem do Campus
Tatuapé/SP da Universidade Paulista, ***Docente na Universidade Paulista
Recebido em 30 de
agosto de 2016; aceito em 7 de outubro de 2016.
Endereço
para correspondência:
Revillyn Souza da Silva, Rua João Pinho 174, Jd. Vila Carrão São Mateus
08340-380 São paulo SP, E-mail: revillyn@hotmail.com;
Adriana Cecel Guedes: adricecel@gmail.com, Bruna Gabriela Bibancos Damas:
brudamas1@hotmail.com
Resumo
É fundamental para um
crescimento adequado e saudável da criança uma alimentação adequada em casa. O
objetivo deste estudo foi avaliar a alimentação consumida na residência de
crianças usuárias de um centro de educação infantil, em quantidade e qualidade.
Trata-se de uma pesquisa de campo descritiva exploratória com abordagem
quantitativa, realizada em um Centro de Educação Infantil (CEI) da cidade de
São Paulo. Participaram deste estudo 57 mães de crianças usuárias do CEI; 53%
das crianças eram do sexo feminino e 47% do sexo masculino; 75% das crianças
foram classificadas com o peso ideal; todas as crianças foram amamentadas. A
maior parte das crianças frequentava restaurantes do tipo fast food, consumia
produtos industrializados de diferentes tipos e ingeria bebidas industrializadas
e naturais, mas com alta frequência de consumo de suco industrializado. Nem
todas consumiam água em casa. Neste estudo concluiu-se que apesar de toda uma
dieta adequada no CEI, os hábitos alimentares da família faz com que a criança
consuma alimentos industrializados que podem afetar à saúde. Entretanto,
percebeu-se também a ingestão de verduras, legumes e frutas com frequência e a
maioria estava no peso ideal para a idade.
Palavras-chave: alimentação
infantil, estado nutricional, alimentos industrializados.
Abstract
Evaluation of nutritional intake at home of children attended at an educational
center
According to studies, in the first years of life children should eat
appropriate and healthy meal at home. The objective of this study was to
evaluate the nutritional intake, at home, of children attending a children
educational center, in quantity and quality. This was an exploratory
descriptive field research with quantitative approach, performed at a
Children's Educational Center (CEC) in São Paulo city. Fifty seven mothers of
children attending the CEC were enrolled in this study; 53% of children were
female, and was male; 75% of children were classified as normal weight; and all
children were breastfed. Most of these children go to fast food restaurants and
consume different kinds of processed food. These children intake industrialized
and natural beverages, with high prevalence intake of industrialized juices.
Not all children drink water at home. The study concluded that children had an
adequate diet at CEC, however the eating habits of
their family make the children consume processed foods, which may affect their
health. Meanwhile, children consumed vegetables and fruits, and most of them
were classified as normal weight.
Key-words: child
nutrition, nutritional status, processed foods.
Resumen
Evaluación del
consumo alimentario en el domicilio de niños que frecuentan un Centro de
Enseñanza Infantil
Es fundamental para el
desarrollo adecuado y saludable del niño una alimentación adecuada en casa. El
objetivo de este estudio ha sido evaluar la
alimentación de niños que frecuentan un centro de enseñanza infantil, consumida
en su domicilio, en cantidad y calidad. Se trata de una investigación
descriptiva exploratoria con enfoque cuantitativo con investigación de campo,
realizada en Centro de Enseñanza Infantil (CEI) en la
ciudad de São Paulo. Participaron de este estudio 57 madres de niños que
frecuentaban el CEI: el 53% eran niñas y el 47% niños.
El 75% de los niños fueron considerados con peso normal y todos fueron
amamantados. La mayor parte de los niños frecuentaba restaurant fast food
(comida rápida) y consumía productos industrializados de diferentes tipos;
ingerían bebidas industrializadas y naturales, con alta frecuencia de consumo
de jugo industrializado; y no todos bebían agua en sus
casas. Se concluye que aunque la dieta en el CEI sea
adecuada, los hábitos alimentarios de la familia hacen con que los niños
consuman productos industrializados que pueden afectar la salud. No obstante,
se percibió también la ingesta de verduras, frutas y
legumbres con frecuencia y la mayoría tenía un peso normal.
Palabras-clave: nutrición del niño, estado nutricional, alimentos industrializados.
Uma alimentação adequada é
fundamental para a promoção da saúde e deve atender às necessidades
nutricionais da criança em cada faixa etária proporcionando seu crescimento e
desenvolvimento saudável e harmoniosos [1]. Os hábitos alimentares são
adquiridos durante toda a vida, destacando-se os primeiros anos como um período
de grande importância para o estabelecimento de hábitos que promovam a saúde do
indivíduo [2].
As instituições de
educação infantil têm a responsabilidade em oferecer alimentos de qualidade
nutricional e incentivar às crianças a consumir diferentes tipos de alimentos,
este incentivo deve ser enfatizado tanto no ambiente escolar quanto no
domicílio [3]. Os centros de educação infantil é um lugar onde as crianças
permanecem a maior parte do tempo, a rotina alimentar é realizada por
nutricionistas, respeitando as fases de desenvolvimento da criança, assim como
o preparo dos alimentos recebe uma atenção especial. A alimentação deve ser
estimulante para a criança, pois está diretamente ligada à formação dos hábitos
alimentares, bem como a escolha correta dos alimentos [1]. No CEI a
participação da criança nas atividades relacionadas à alimentação deve ser
estimulada, seus interesses alimentares, habilidades e desenvolvimento devem
ser respeitados [1].
A família é
responsável pela formação do hábito alimentar da criança e do seu comportamento
alimentar, que se forma através da aprendizagem social, desempenhando os pais o
papel de primeiros educadores nutricionais. Os fatores psicossociais e
culturais influenciam as experiências alimentares da criança, desde o momento
de nascimento, dando início ao processo de aprendizagem [4].
Diante disso, para
que a alimentação tenha qualidade é necessário esforço conjunto da CEI e da
família. Assim, este estudo teve como questionamento: Como é a alimentação da
criança fora da CEI?
Este estudo tem
caráter descritivo exploratório com abordagem quantitativa, com pesquisa de
campo.
A pesquisa foi
realizada no Centro de Educação Infantil localizada na zona leste de São Paulo.
Dentro dessa CEI ocorre um trabalho de promoção da saúde da criança, realizado
pela clínica de saúde da UNIP desde 2012.
A população do estudo
foram os 74 alunos matriculados na CEI, destes 57 alunos com idade entre 1 ano a 4 anos aceitaram participar da pesquisa.
Foram considerados
critérios de inclusão: a) Ser pai ou familiar da criança usuário da CEI; b)
Concordância em participar voluntariamente da pesquisa; c) Assinar o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para menores;
Foram considerados
critérios de exclusão: a) Não ser pai ou familiar da criança usuária do CEI; b)
Relutância em participar voluntariamente da pesquisa. c) Não assinar o TCLE.
Os dados foram
coletados através de um questionário composto por questões objetivas, acerca
dos dados demográficos e alimentação da criança em casa. As questões
relacionadas ao peso e altura da criança foram coletadas de prontuários de
saúde dos alunos, vindo do trabalho de promoção da saúde realizado pela UNIP,
os questionários foram passados entre os meses de dezembro a março de 2015.
O questionário foi
entregue pela diretora da CEI as mães, quando foi explicada a pesquisa. Os
questionários foram entregues com o TCLE para menores de idade, deixou claro
que a participação era voluntária e todos poderiam recusar-se a participar da
pesquisa a qualquer momento.
As informações obtidas foram armazenadas no Microsoft Excel e analisadas de maneira descritiva, calculando as frequências absolutas e relativas para todas as variáveis. Os dados foram apresentados em forma de tabelas e discutidos com literatura especifica.
Foi feito o índice de
massa corpórea IMC com base na proposta dos escores-Z da caderneta da saúde da
criança do Ministério da Saúde 2011, utilizando os gráficos recomendados para
crianças de 0 -5 anos. Considerando os índices IMC/I foram adotados os pontos de corte > +3
escores z para identificar crianças com obesidade, ≤ +3 e ≥ +2 escores z para
identificar sobrepeso, ≤ +2 e ≥ +1 escores z para identificar risco de
sobrepeso, ≤ +1 e ≥ -2 escores z para identificar IMC adequado, ≤ 2 e ≥ -3
escores z para identificar magreza e < -3 escores z para identificar magreza
acentuada [5].
Dado que os sujeitos
do estudo são seres humanos, obedecemos ao previsto na Resolução 466/12 no
Ministério da Saúde, submetendo a análise e julgamento do Comitê de Ética em
pesquisa com seres humanos da UNIP que é reconhecido pelo Conselho Nacional de
Pesquisa com seres humanos (CONEP). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de
Ética no dia 14/08/2014 com o número do parecer 755.211.
Fizeram parte deste
estudo 57 mães de crianças usuárias do Centro de Educação Infantil (CEI) da
Cidade de São Paulo. O número total de crianças matriculadas no CEI era de 74
crianças, foram excluídas do estudo 14 crianças cujos pais não aceitaram
participar da pesquisa. Dessas crianças, 53% eram do sexo feminino e 47% do sexo
masculino. Quanto à idade, 23% tinham 1 ano, 30%, 2
anos, 37%, 3 anos, e 10%, 4 anos de idade.
Todas as crianças
foram amamentadas. Dezoito por cento (18%) foram amamentadas apenas durante 6 meses, 65% foram amamentadas durante o período de 7 a 12
meses, 9% interromperam a amamentação após a criança completar 1 ano, e 3%
amamentaram até 2 anos.
Em relação ao peso e
altura, foi feito o IMC de 82% das crianças, não participaram desta fase 18%,
por não terem os dados no prontuário de saúde da criança. Seguindo o IMC
proposto pela organização mundial da Saúde (OMS) para crianças, 72% foram
classificadas como peso normal, 5% em risco de sobrepeso, e 5% obesidade.
A média do peso dos
meninos de 1 e 2 anos foi de 13,04, DP ± 5,7, a média
do comprimento foi de 82,77, DP ± 32,24. A média de peso dos meninos de 3 e 4 anos foi de 13,96, DP ± 5,61, a média de comprimento
foi de 86,53, DP ± 30,90. Já nas meninas de 1 e 2 anos
foi de 12,63, DP ± 5,89, a média de comprimento foi de 80,70,DP ± 33,63. Nas
meninas de 3 e 4 anos a média foi de 13,99, DP ± 5,45,
a média do comprimento foi de 86,96, DP ± 30,13.
A tabela I descreve a
frequência que a criança vai a um restaurante do tipo fast food, alimentos
solicitados com maior frequência por ela, e frequência de consumo desses
alimentos. A maior parte das crianças frequentava restaurantes do tipo fast
food e consumía produtos industrializados de diferentes tipos. O número de
alimentos industrializados consumidos é maior que 57, porque alguns pais
responderam que a criança consome mais de um tipo de alimento. Ou seja, esses
tipos de alimentos fazem parte da dieta das crianças.
Tabela
I - Frequência que a criança do CEI vai a um
restaurante do tipo fast food, alimentos solicitados com maior frequência pela
criança e frequência de consumo desses alimentos, São Paulo, 2015.
As crianças consumiam
bebidas industrializadas e naturais de diferentes tipos com alta frequência de
consumo do suco industrializado 88%, água 74%, suco natural de frutas 58% e por
último o refrigerante 49%. A tabela II descreve o consumo de refrigerante, suco
industrial por dia.
Tabela
II -
Frequência de consumo ao dia de suco
industrializado e refrigerante pela criança do CEI quando está em casa, São
Paulo, 2015.
A tabela III descreve
a frequência de consumo ao dia na alimentação da criança, por classe dos
alimentos: cereais, verduras e legumes, frutas, leites e derivados, feijões,
gorduras, açúcar e doces e carnes e ovos.
Em relação à idade;
89,4% das crianças de 1 a 3 anos consumiam cereais com maior frequência de
consumo 2 vezes ao dia (76,4%), quando estava em casa;
verduras e legumes, 2 vezes ao dia (59%); frutas, 2 vezes ao dia (53%); na
classe do leite, queijo e iogurte, a frequência de consumo ao dia foi 3 vezes
ao dia (59%); carnes e ovos, 2 vezes ao dia (82,3%); feijão, 2 vezes ao dia
(70,5%); gorduras, 2 vezes ao dia (67%); e a classe do açúcar e doces, também 2
vezes ao dia (72,5%).
Já nas crianças de 4 anos (10,5%), a maior frequência de consumo do grupo dos
cereais foi de 2 vezes ao dia (100%); no grupo das verduras e legumes a
frequência de consumo ao dia foi dividida, 50% consumiam 1 vez ao dia e 50%
consumiam 2 vezes ao dia; na classe das frutas a maior frequência foi 3 vezes ao
dia (67%); Leite, queijo e iogurte, 2 vezes ao dia (67%); carnes e ovos, 2
vezes ao dia (100%); do grupo do feijão, 2 vezes ao dia (83,3%); da classe da
gordura, 1 vez (50%); e na classe do açúcar e doces, 2 vezes (100%).
Tabela
III
- Distribuição da frequência de consumo
diário por classe dos alimentos pela criança do CEI (n = 57), São Paulo, 2015.
As crianças no CEI
são divididas em grupos conforme a idade, os grupos são: berçário, minigrupo I
e minigrupo II, a maioria das crianças era do sexo feminino 53% e tinham 3 anos de idade (37%). Estudo realizado no município de São
Paulo com 106 crianças também teve a maior prevalência de crianças do sexo
feminino e a maioria das crianças tinha mais de 1 ano
de idade [6].
Observou-se que a
maioria das crianças (65%) foram amamentadas por mais de 6
meses, e apenas 3% foram amamentadas até 2 anos. A Organização Mundial da Saúde
preconiza que a criança seja amamentada exclusivamente até 6
meses e, a partir daí, entrar com alimentos complementares na dieta da criança,
mas mantendo a amamentação até 2 anos [7]. O leite materno é muito importante
para a mãe e o bebê por vários motivos, entre eles melhorar a recuperação
pós-parto e proteger o bebê contra infecções [8].
Estudo realizado no
Município de Patos/PB obteve que a maioria (40%) das mães amamentaram seus
filhos por um período de 6 a 12 meses [9]. Neste estudo, 65% das crianças foram
amamentadas por um período maior de 7 aos 12 meses.
Outro estudo realizado em Fortaleza com 20 mães de crianças menores de 6 meses notou que um dos motivos do desmame precoce foi o
trabalho fora de casa da mãe [10].
Sobre o valor da
relação entre índice de massa corpórea e idade (IMC/I), não foi identificada
nenhuma criança com risco de desnutrição ou com desnutrição. Setenta e dois por
cento (72%) das crianças foram classificadas como peso normal para a idade, 5%
das crianças encontravam-se em risco de sobrepeso e 5% obesas. Um estudo,
realizado no município de São Paulo (SP) com 66 pré-escolares de 2 a 6 anos de
idade, verificou que 3,9% dos pré-escolares de 2 a 3 anos e 5% dos
pré-escolares de 4 a 6 anos encontravam-se com baixo IMC/I; 6,4% excesso de
peso e 25,3% encontravam-se em risco de sobrepeso
[11].
Já outro estudo,
realizado no município de Viçosa/MG com 89 crianças de 24 a 72 meses de idade,
seguindo o escore-Z para o índice de peso/idade (PI), obteve um valor de 59,8%
das crianças com peso ideal, 27,6% em risco de desnutrição e 6,9% em risco de
obesidade [12]. Nesse estudo apareceram crianças em risco de desnutrição, o que
difere deste estudo. Essa diferença pode estar ligada a fatores como perfil
social dos pais, tipo de alimentação na creche ou orientações recebidas pelos
pais.
Quanto ao consumo de
alimentos industrializados, 88% das mães relataram que a criança consumia fast food pelo menos 1
vez ao mês e que os alimentos industrializados citados no questionário foram
consumidos 2 vezes ao dia em 65% das crianças. A criança passava a maior parte
do dia no CEI, mesmo assim é alta a frequência de consumo de 2
vezes ao dia de alimentos industrializados quando está em casa, dentre os
alimentos citados na tabela I o mais solicitado pela criança foi o salgadinho
com 35%.
O consumo de
alimentos industrializados no curto tempo que a criança está em casa, pode
acontecer pelo fato de os alimentos industrializados serem mais aceitos pelas
crianças e ser mais fáceis de serem preparados pelos familiares. Isso também
pode ser consequência do aumento do acesso desses alimentos a família, já que
houve aumento da renda per capta da população [13], e pela influência de
hábitos alimentares dos pais.
Estudo realizado
representando um recorde da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) em
2006, sobre o consumo alimentar entre crianças brasileiras de dois a cinco anos
de idade, o alimento não saudável consumido ao dia com maior frequência 47,4%
foi biscoito ou bolacha [13]. Outro estudo realizado em creches do município de
São Paulo observou que os alimentos industrializados são muito utilizados na
alimentação infantil, por serem práticos e saborosos [14].
Apesar do consumo de
alimentos industrializados em casa, a maioria das crianças ainda está no peso
ideal, mas vale ressaltar que esse tipo de consumo merece atenção por parte dos
pais, uma vez que outras alterações podem ocorrer como hipertensão arterial e
dislipidemias.
Os alimentos
industrializados não são alimentos adequados para a dieta da criança, devido à
alta taxa de gorduras e açúcares e outros aditivos alimentares. Esses alimentos
em excesso fazem mal a saúde, acarreta risco de doenças, principalmente a
obesidade infantil. O consumo dos mesmos deve ser desencorajado ou diminuído
nos primeiros anos de vida, como forma de prevenção e promoção do
desenvolvimento adequado [15].
Foi avaliado o
consumo de líquidos em casa pela criança do CEI, destacou-se o maior consumo de
suco do tipo néctar de fruta 88%, entretanto vários líquidos são consumidos
pela criança ao dia, quando está em casa. A frequência de consumo ao dia quando
a criança está em casa de suco industrial e refrigerante foi de 2 vezes. O consumo desse tipo de bebida merece cuidado, pode
levar a redução do consumo de suco natural de frutas, e está associado a
alergias alimentares [7]. É importante estimular a diminuição de consumo de
refrigerante e suco industrial por ter aditivos que podem fazer mal a saúde
[7].
Em relação ao consumo
de água, 74% das crianças consomem água quando está em casa e 26% não a consomem, o que pode ser consequência do maior consumo de
suco industrializado. Estudo realizado na Bahia com crianças menores de 1 ano mostrou que crianças não amamentadas consumiam mais
água, chás e sucos. Esses tipos de bebidas não precisam ser ofertados a
crianças amamentadas nos primeiros meses de vida, o leite tem tudo que ela
precisa por isso a importância da amamentação [7-16].
Os guias alimentares
trazem recomendações de uma dieta saudável, para cada faixa etária [17], assim
analisou-se o consumo diário ao dia quando as crianças estão em casa, por
classe dos alimentos.
A primeira classe
analisada foi a dos cereais ao dia quando a criança está em casa, a frequência
foi de 2 vezes ao dia (79%). Segundo a Sociedade
Brasileira de Pediatria (SBP), as porções indicadas para a faixa etária do
estudo é de 5 porções ao dia. Os alimentos desta
classe são fontes de carboidratos de energia muito importante para crianças que
nessa faixa precisam de energia para brincar, por exemplo [18].
Na classe das
verduras e legumes, a frequência de consumo no estudo foi de 2
vezes ao dia (59%), quando comparado entre as porções recomendadas pela
pirâmide alimentar infantil brasileira está abaixo do recomendado que é de 3
porções ao dia. Os alimentos desta classe são fontes de vitaminas e minerais
[18]. Entretanto mais porções desses alimentos são consumidas na creche. Estudo
realizado na Lituânia sobre o consumo alimentar em fase pré-escolar nos anos
2002, 2006 e 2010 resultou no alto consumo de doces, chocolates, biscoitos,
bolos e baixo consumo de frutas e legumes [19].
Na classe das frutas,
89% das crianças de 1 e 3 anos e 11% de 4 anos
consumiam 2 vezes ao dia. Segundo a pirâmide alimentar infantil, a porção
recomendada para crianças de 1 a 3 anos são 4 porções
e crianças de 4 anos 3 porções diárias. Para as porções diárias do leite,
queijo e iogurte o consumo ao dia foi de 3 vezes
(56%), nesta classe foram atendidas as recomendações da pirâmide alimentar de 3
porções, adequado ao consumo das crianças [20].
Na classe da gordura,
a recomendação da porção ao dia também é diferente conforme a faixa etária, o
estudo mostrou um consumo de 67% das crianças de 1 a 3 anos de 2 vezes ao dia e de 4 anos (11%) 1 vez ao dia (50%). Nessa
classe também foi atendida a recomendação pela pirâmide da porção recomendada
[18-20]. Visto que porções desse tipo de alimento também são oferecidas à
criança na creche, o total de consumo diário ultrapassa o recomendado.
Foi observada, na
classe do açúcar e doces, uma frequência de consumo de 2
vezes ao dia (75%), ultrapassando a porção recomendada que seja de 1 porção ao
dia. Segundo a pirâmide alimentar infantil, é importante a redução dessa classe
na alimentação das crianças em casa, evitando o risco de doenças [18-20].
E por fim, foi
observada, no grupo das carnes e ovos, uma frequência de consumo ao dia em casa
de 2 vezes ao dia (84%) porções adequadas segundo a
pirâmide de alimentação infantil que recomenda 2 porções de alimentos desta
classe, já que são fontes de ferro, vitaminas e proteínas [20].
No estudo realizado
em Viçosa/MG, quando avaliada a frequência de consumo dos grupos alimentares,
foi identificado baixo consumo de frutas, hortaliças, raízes e tubérculos e
carnes, e a maior frequência de consumo de cereais e massas, leguminosas, leite
e derivados, doces e gorduras [12]. Outro estudo, realizado na Ilha de
Paquetá/RJ em uma creche com 20 crianças de 2 a 3 anos, observou que os grupos
alimentares dos legumes, cereais e do leite não atenderam as recomendações
[21].
Neste estudo foram
identificadas diferentes formas de alimentação entre as crianças usuárias de um
CEI. Apesar da alta ingestão de alimentos industrializados, percebe-se também
ingestão de verduras, legumes e frutas com frequência.
Concluiu-se que a frequência
de consumo ao dia de açúcar e gorduras, assim como o consumo de suco industrial
foi alto, o que merece atenção, pois nem todas as crianças consomem água quando
estão em casa. Apesar disso, consumiam verduras, frutas, legumes,
e a maioria estava no peso ideal para a idade. Todas as crianças também
foram amamentadas, mas poucas até 2 anos,
representando um resultado parcialmente satisfatório.
A correta alimentação
na infância é muito importante para o adequado crescimento e desenvolvimento da
criança, a qual merece atenção por parte dos pais, que são os que ajudam na
formação dos hábitos alimentares, através da oferta dos alimentos consumidos
pela família. Apesar de toda uma dieta adequada proposta para as crianças no
CEI, onde elas passam a maior parte do tempo, em casa os hábitos alimentares da
família faz com que a criança consuma alimentos industrializados, que fazem mal
a saúde. É necessário o entendimento, por parte dos pais, sobre a importância
da alimentação adequada da criança, modificando o comportamento alimentar, não
é proibir esses alimentos, mas moderar o consumo.
Este estudo
contribuiu para conhecer acerca da alimentação das crianças em casa, o que pode
subsidiar intervenções de promoção da saúde junto aos pais. A creche é um
espaço de contato entre pais e equipe de saúde que deve ser aproveitado, sendo
desnecessária a locomoção dos pais até as Unidades de Saúde. A
intersetorialidade com a ligação entre os setores de educação e saúde respeita
o princípio de integralidade do Sistema Único de Saúde (SUS) e vai ao encontro
dos eixos de ação proposto pelo manual de atenção básica no Brasil, que
preconiza o uso das instituições escolares para prática da saúde coletiva.
Sugere-se que novos estudos nessa área sejam realizados para investigação das
causas dos comportamentos inadequados e avaliação de intervenções para
prevenção desses.