ARTIGO
ORIGINAL
Dificuldades
encontradas pelos Agentes Comunitários de Saúde do Município de Brumadinho/MG
nos acompanhamentos aos pacientes portadores de diabetes
Roberta Bárbara Gomes
Fonseca, M.Sc.*
*Enfermeira
Referência Técnica em Estomaterapia, Especialista em Gerência dos Cuidados de
Enfermagem no Programa de Saúde da Família pela PUC de Betim/MG
Recebido em 29 de
julho de 2016; aceito em 29 de setembro de 2016.
Endereço
para correspondência:
Roberta Bárbara Gomes Fonseca, Rua Galena, 140 Centro Brumadinho MG, E-mail: ro.barbaraenf@gmail.com
Resumo
Objetivo: Conhecer as
principais dificuldades encontradas pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS)
do Município de Brumadinho/MG, nos acompanhamentos e visitas mensais aos
portadores de Diabetes Mellitus (DM). Material
e métodos: Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa cuja
amostra foi composta de 41 ACS de 6 Unidades de Saúde
da Família do Município de Brumadinho/MG. Para a coleta de dados foi utilizado
um questionário com questão aberta cujas escritas dos ACS foram respeitadas na
íntegra. Resultados:
Analisando os
resultados obtidos referentes à questão “quais as
principais dificuldades
encontradas por você ACS no acompanhamento e visitas aos
pacientes portadores
de Diabetes?”, percebeu-se que as principais dificuldades
encontradas foram em
relação ao não uso regular das
medicações, a não realização de
dietas e
alimentação saudável e a não
aceitação da doença, por parte dos pacientes;
não
encontrar o paciente em casa na hora da visita; entre outros. Conclusão: Conforme relatado pelos
Agentes, ficou evidente a dificuldade no acompanhamento e visitas aos pacientes
portadores de DM, principalmente pela falta de conhecimento e aderência ao
tratamento pelos pacientes, bem como a falta de conhecimento dos ACS sobre DM.
Palavras-chave: diabetes mellitus,
agentes comunitários de saúde, saúde da família, conhecimento.
Abstract
Difficulties found by Community Health Workers in Brumadinho/MG
during monthly follow-up visits to patient with diabetes
Objective: Knowing the
main difficulties found by Community Health Workers in the city of Brumadinho/MG during monthly visits to patients with
diabetes. Methods: This is a
descriptive qualitative study whose sample was composed of 41 Community Health
Workers of 6 Health Family Units of Brumadinho/MG. A
questionnaire with open question was used as instrument to collect data and all
the writings of Community Health Workers were fully respected. Results: Analyzing the results obtained
regarding the question " what are the main difficulties encountered by you
during follow-up visits to patients with diabetes? ", we realized that the
major problems were related to non-regular use of medications, lack of proper
diet and healthy food and non-acceptance of the disease by patients; not find
the patient at home during visit; among others. Conclusion: As reported in the writings of the agents, it became
evident the difficulty in monitoring and visits to patients with diabetes,
mainly due to lack of knowledge and adherence to treatment by patients, and the
lack of knowledge of Community Health Workers about diabetes.
Key-words: diabetes
mellitus, community health workers, family health, knowledge.
Resumen
Dificultades encontradas por los Agentes
Comunitarios de Salud del municipio de Brumadinho/MG
en los acompañamientos a los pacientes con diabetes
Objetivo: Conocer las
dificultades de los Agentes Comunitarios de Salud del
municipio de Brumadinho/MGs, en acompañamientos y visitas mensuales a los
pacientes con diabetes. Material y
métodos: Es un estudio cualitativo descriptivo,
compuesta de 41 agentes. Para la recolección de datos
se utilizó como instrumento un cuestionario con la pregunta abierta en la que
se respetaron plenamente todos los escritos de los agentes. Resultados: El análisis de los
resultados obtenidos con respecto a la pregunta
"¿Cuáles son las dificultades de los agentes comunitarios de salud en
visitas y seguimiento a los pacientes con diabetes? " Nos damos cuenta de
que las dificultades se relacionaron con el uso irregular de los medicamentos,
la falta de una dieta adecuada y alimentación sana y la no aceptación de la
enfermedad por los pacientes; no encontrar el paciente en su domicilio en el
momento de la visita; entre otros. Conclusión:
Como se informó en los discursos y escritos de los agentes, se hizo evidente la dificultad en el seguimiento y visitas a los pacientes
con diabetes, principalmente debido a la falta de conocimiento y cumplimiento
del tratamiento por los pacientes, y la falta de conocimiento sobre diabetes
por parte de los agentes.
Palabras-clave:
diabetes mellitus, agentes comunitarios de salud, salud de la
familia, conocimiento.
Por se tratar de uma
doença de grande prevalência e incidência, considera-se o Diabetes Mellitus
(DM) como sendo um importante problema de saúde pública, uma vez que é
frequente a sua ocorrência, e que está associado a complicações que comprometem
a produtividade, a qualidade de vida e sobrevida dos indivíduos, além de
envolver altos custos no seu tratamento e de suas complicações. Medidas de
prevenção do DM assim como das suas complicações são eficazes em reduzir o
impacto desfavorável sobre morbimortalidade destes pacientes. Segundo as
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes [1], intervenções no estilo de
vida com ênfase em alimentação saudável e prática regular de atividade física
reduzem a incidência do DM tipo 2 (DM2) (recomendação
grau A), assim como o bom controle metabólico do DM previne o surgimento ou
retarda suas complicações crônicas (recomendação grau A).
A incidência e a
prevalência estão aumentando, em particular do DM2, alcançando proporções
epidêmicas e atingindo a população na idade entre 30 e 69 anos [2,3].
O DM é um problema de
saúde considerado sensível a Atenção Primária, ou seja, evidências demonstram
que um bom manejo deste problema ainda na Atenção Básica evita hospitalizações
e mortes por complicações cardiovasculares e cerebrovasculares [1,4-7].
No Sistema Único de
Saúde (SUS), pessoas com DM são acompanhadas em sua maioria por Equipes de
Saúde da Família, através dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Neste
contexto a Estratégia de Saúde da Família (ESF) é de importância fundamental no
desenvolvimento de ações de controle de DM2, atuando na promoção, recuperação e
reabilitação das pessoas com DM2.
O ACS é elemento
essencial na Equipe de Saúde da Família, pois, além de pertencer à comunidade
onde exerce as suas atividades, é o principal elo integrador entre comunidade e
Unidade de Saúde da Família [8].
O
profissional ACS
realiza atividades de prevenção de doenças e
promoção da saúde, por meio de
ações educativas em saúde, realizadas em
domicílios ou junto às coletividades,
em conformidade com os princípios e diretrizes do SUS; estende,
também, o
acesso da população às ações e
serviços de informação, de saúde,
promoção
social e de proteção da cidadania.
Além da ampliação da
cobertura, o ACS é também importante agente social, introduzido nos municípios
brasileiros a partir dos anos 1990. Apesar disso, não há muitos estudos que,
dentro de uma perspectiva antropológica, busquem apreender de que modo o ACS
contribui, na prática, para importantes mudanças sociais e de comportamento na
população [9]
Diante do exposto
propõe-se aprofundar a investigação de algumas variáveis relacionadas ao dia a
dia dos ACS sobre DM. Espera-se que este estudo possa fornecer subsídios para
melhor compreensão dos aspectos relacionados ao processo de trabalho, perfil e
conhecimento dos ACS em relação à educação em DM.
Este estudo
constitui-se de uma abordagem descritiva e qualitativa, realizada junto aos 41
ACS de 6 Unidades de Saúde da Família da Zona urbana
do Município de Brumadinho. As unidades selecionadas de acordo com os critérios
e inclusão e exclusão foram: Unidades de Saúde da Família (USF) Jota,
Residencial Bela Vista, Progresso, Grajaú, Centro e Santa Efigênia, do Município
de Brumadinho, Minas Gerais.
Como critérios de
inclusão: ACS das USF da Zona Urbana, USF completas em relação ao número de
ACS; e como critérios de exclusão: ACS das USF da zona rural, unidades
incompletas em relação ao número de ACS como, por exemplo, ACS de licença à
maternidade ou por motivo de doença, ausência de ACS por falta de contrato em
uma das microáreas de abrangência, ou férias.
Após a inserção nos
campos de estudo deu-se início a coleta de dados através do questionário,
posteriormente à assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE).
O presente estudo foi
submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da Santa Casa de Belo-Horizonte (CEP)
para apreciação. O estudo foi aprovado sem restrições, enquadrando-se
perfeitamente dentro dos preceitos da ética para o manuseio de dados referentes
a seres humanos.
Todos os
entrevistados foram orientados acerca dos objetivos do estudo e assinaram um
termo de consentimento livre e esclarecido antes do início da entrevista.
As identidades dos
entrevistados foram protegidas e as falas e escritas foram identificadas pelas
iniciais dos nomes dos ACS.
Com o objetivo de
conhecer as principais dificuldades encontradas no dia a dia pelos ACS durante
os acompanhamentos e visitas mensais aos pacientes portadores de Diabetes foi
elaborada uma questão aberta: “quais as principais dificuldades encontradas por
você agente comunitário de saúde no acompanhamento e visitas aos pacientes
portadores de diabetes?”. As informações coletadas adquirem relevância prática
para possibilitar uma padronização de condutas e elaboração de estratégias para
maior efetividade das ações no controle do DM.
As análises foram
feitas apenas de forma descritiva e através de citações, inviabilizando o
cálculo estatístico.
A coleta de dados
iniciou-se em 27/02/2013 e terminou em 27/06/2013. As USF pesquisadas possuem
de 5 a 8 ACS.
No presente estudo,
entende-se o quanto é importante a educação em saúde
para os profissionais ACS, uma vez que podem transmitir esses conhecimentos às
pessoas com DM e, assim, promover mudanças de atitude como a predisposição para
a adoção de ações de autocuidado nestes pacientes [10]. Portanto, espera-se que
os ACS sejam capazes de: esclarecer a comunidade sobre os fatores de risco para
o DM; identificar, na população em geral, pessoas com o risco para DM2;
verificar o comparecimento dos pacientes com DM e HA (Hipertensão Arterial) às
consultas agendadas na unidade de saúde; verificar a presença de sintomas e/ou
queda do açúcar no sangue e encaminhar para a consulta externa; perguntar se a
pessoa com DM está tomando com regularidade os medicamentos e se estão
cumprindo as orientações de dieta, atividades físicas, controle de peso,
cessação do hábito de fumar e ingestão de água e bebidas alcoólicas; registrar
na ficha de acompanhamento o diagnóstico de DM de cada membro da família;
encaminhar as solicitações de exames complementares para serviços de
referência, dentre outros, contribuindo, assim, para o melhor acompanhamento
mensal às pessoas com DM [11].
Dessa forma, foi
escolhida a proposta de trabalhar com os ACS das USF na modalidade de
intervenção educativa sobre DM. O envolvimento e a participação mostraram-se
apropriados para gerar uma reflexão sobre a realidade vivenciada pelos
profissionais das USF em suas áreas de abrangência, assim como a construção de
conhecimento e formação do pensamento crítico e emancipatório dos profissionais
de saúde envolvidos no atendimento em DM nas UBS [12,13].
Neste sentido,
destaca-se o papel dos ACS como agente de mudança sociocultural e na educação
em DM, visto que é esse profissional que está em contato direto com os
pacientes com DM.
Analisando
os
resultados obtidos em relação à questão
“quais as principais dificuldades
encontradas por você ACS no acompanhamento e visitas às
pessoas com diabetes?”
Podemos perceber que, as principais dificuldades encontradas foram em
relação
ao uso das medicações, a realização de
dietas e alimentação saudável, não
encontrar as pessoas com DM em casa na hora da visita, não
aceitação da doença
por parte da pessoa com DM, entre outros.
Algumas das respostas
dos ACS relacionadas a esta questão estão reproduzidas a seguir.
“Os
pacientes não seguem a alimentação adequada e os remédios, às vezes, deixam de
tomar. ” M.R.S.
“Às
vezes o próprio paciente deixa a desejar o tratamento, principalmente no
início, quando percebem que a glicose só está aumentando. ”
S.M.P.
“Convencer o paciente de que ele necessita da medicação e
da dieta. ” J.A.A.
“Resistência
com dietas e medicamentos e desinteresse por grupos operativos. ” M.L.S.
“Pacientes
que usam insulina nem sempre o tomam regularmente. Temos sempre que ficar
reforçando a importância de usá-la corretamente. ”
M.R.P.M.S.
“Muitas vezes as pacientes não seguem as orientações. ” J.F.R.
“O não cumprimento das orientações passadas. ” M.C.S.M.
“Compreensão dos pacientes quanto às orientações. ” S.M.S.
Nesta direção, um
estudo realizado com 238 pessoas com DM, em um serviço de atenção primária no
México sobre adesão ao tratamento e qualidade de vida, mostrou que somente
17,2% dos pacientes demonstraram comportamento de adesão, e apenas 20,6%
indicaram conhecimento e atitude positiva frente à doença [14].
A adesão do indivíduo
com DM às formas não farmacológicas de tratamento é baixa. A maioria dos
indivíduos, se inicialmente aceitam a prescrição dietética, por exemplo, com o
passar dos anos, terminam por abandoná-la [15].
Mesmo com as
orientações de dieta repassadas pelos ACS, a dificuldade em relação à dieta
fica bem evidente nas falas acima. O planejamento alimentar desses pacientes
deve levar em consideração a situação socioeconômica, rotina de trabalho,
estilo de vida e hábitos alimentares pré-existentes. A não interferência nos
hábitos alimentares, sempre que possível, proporciona flexibilidade ao
tratamento e permite a integração da família além do indivíduo. [16]
Referente à adesão
farmacológica, diferente do que foi encontrado no presente estudo, constatou-se
que das 152 pessoas com DM cadastrados no Programa HiperDia,
124 (81,57%) aderiram ao tratamento [17].
Observa-se também a
não aceitação do DM ou omissão do mesmo por parte dos pacientes, o que
dificulta no acompanhamento e visitas pelos ACS, interferindo direta e
indiretamente no tratamento do paciente com DM.
“A
maior dificuldade que encontro é que tem pessoas que não aceitam a doença e
acabam não tomando os medicamentos. ” T.F.S.
“Alguns
deles são bem resistentes e não aceitam a doença ou o tratamento. ” T.F.S
“São
várias: não sou diabético, sou só
pré-diabético, o médico está louco me deu
este medicamento à toa. ” F.P.P.O.
“Minha
dificuldade é por ter pacientes com DM que escondem a doença ou descontam nas
pessoas, como se as pessoas tivessem culpa por eles terem a doença. ” J.J.B.A.
“Muitos
dos pacientes não gostam de falar sobre a doença, por isso às vezes é difícil
abordar o paciente para passar informações. ” M.L.M.R.
“Convencê-los
de que o problema é sério, porque às vezes o próprio paciente não se importa. ” S.M.P.
“Geralmente
os pacientes não tem a real preocupação e conscientização da doença, eles têm
uma resistência maior em tomar os medicamentos no horário certo. A receita às
vezes vence e, se não for eu para ficar insistindo para eles irem ao médico ele
não vão. ” A.S.M.S.
“Uma
das maiores dificuldades é conscientizar os mesmos sobre os cuidados e as
possíveis consequências em caso de abandono do tratamento. ”
R.D.S.
“Falta de Informação sobre o paciente.
” S.C.R.
Percebe-se que o
baixo conhecimento e atitudes negativas dos pacientes portadores de DM frente à
doença são fatores que ainda interferem na adesão ao tratamento. Reconhece-se
que na literatura nacional os estudos sobre atitude e o conhecimento da pessoa
com DM ainda é escasso [18-21].
Estudo realizado em
um centro de pesquisa e extensão universitária brasileiro, em 2007, com o
objetivo de verificar conhecimentos e atitudes de 82 pessoas adultas com DM que
participavam de um programa de educação para o autocuidado em DM mostrou que
78,05% tiveram escore superior a 8 pontos em relação
ao conhecimento em DM [21].
Porém, em outro
estudo realizado, ao analisar os escores obtidos em relação ao conhecimento,
obteve-se que a maioria (66,67%) dos usuários com DM tipo 2
apresentou escores inferiores a 8 pontos, indicando conhecimento insatisfatório
sobre a doença [22].
Em concordância,
estudo realizado em outra UBS de Ribeirão Preto/SP, com 79 sujeitos com DM tipo
2 e HA, utilizando metodologia semelhante para
avaliação do conhecimento, mostrou que a maioria (64,6%) dos sujeitos, também
apresentava escores inferiores a 8 pontos, indicando conhecimento
insatisfatório sobre a doença [23].
Foi relatada também a
falta de conhecimento em relação ao DM por parte dos ACS.
“Acho
que os ACS não são bem preparados para acompanhar as pessoas com DM. Precisamos
aprender mais sobre a doença para poder acompanhar melhor os diabéticos. ” A.A.C.
“A minha dificuldade é que eu não sei nada. ” S.A.D.
“Às vezes perguntam algumas coisas que eu não sei
responder. ” L.M.F.B.
“Saber pouco a respeito do DM para fazer o
acompanhamento. ” R.J.A.
Conforme observamos,
os ACS são inseridos no local de serviço sem passar por capacitação ou
treinamento introdutório, sendo treinados por outros ACS. Observamos também que
o ACS é um profissional com vínculo político/empregatício através de contrato
administrativo pela prefeitura e que é uma profissão que não possui um conselho
de classe e nem normas e legislações específica. Não é necessário curso técnico
ou superior para exercer a profissão e que estes não passam por prova de
seleção ou concurso público.
Referente a assistência aos pacientes com DM2 sob a ótica dos ACS,
apenas 33,33% dos ACS pesquisados relataram ter participado de cursos e
palestras para aprimoramento profissional [24].
Destaca que os ACS
não recebem formação específica, a oferta de cursos é irregular, uma parte dos
ACS participa e outra não, e que para os ACS a experiência adquirida com o
tempo é importante para a realização do trabalho [25].
Evidencia-se que os
ACS reconhecem a responsabilidade que enfrentam na execução de suas atividades
e, para conseguir dar conta de tamanha carga, devem ter uma formação que os
ajude a desenvolver a capacidade de agir corretamente em diferentes situações
[26].
Concorda-se
quando se
expressa inquietação em relação às
consequências que uma educação frágil e
pouco estruturada pode causar para os cuidados de saúde, pois a
comunidade
entende o ACS como um detentor de saberes técnico-científicos,
todavia pode não aceitar suas recomendações se considerar que o ACS não tem uma
formação específica e reconhecida formalmente [27].
O perfil do ACS é
muito parecido com os das pessoas que são atendidas por eles, por isso,
acredita-se que por fazer parte da comunidade e conhecer seus hábitos, a
prática do cuidado prestada por este trabalhador pode sofrer influências
culturais, sociais e do senso comum, o que presume ainda mais a necessidade de
uma educação bem fundamentada [28].
Estudos mostraram a
fragilidade do conhecimento sobre DM, causas e complicações para o manejo da
doença entre os participantes, que podem estar relacionados com fatores
intrínsecos às pessoas e ao sistema de saúde, dificultando o acesso às
informações fundamentais, sinalizando aos profissionais a necessidade de
redirecionar as estratégias para o atendimento da pessoa com DM, considerando
os fatores biopsicossociais e recursos existentes na unidade de saúde [29].
Alguns ACS referiram
não ter dificuldades nas visitas e acompanhamento mensal aos pacientes com DM.
“Não
tenho dificuldades, pois todos os meus pacientes com DM me recebem muito bem, e
temos um diálogo muito bom. ” G.G.A.
“Não encontro nenhuma dificuldade com os meus pacientes
com DM.” S.C.M.
Verificou-se que
66,66% dos ACS consideraram a recepção dos pacientes quando estes vão
visitá-los como bom, contudo para 16,66% a recepção é ótima e regular [24].
Outros ACS referiram
como dificuldade, não encontrar os pacientes com DM em casa.
“Não encontrar eles
em casa. Eu acho que na unidade tem que ter grupos operativos para as pessoas
com DM para eles também aprenderem mais sobre a doença. ”
R.G.C.S.
“Encontrá-los em
casa. Às vezes eles arrumam desculpa, não posso atender. ”
I.M.B.
Outro fator destacado
como complicador foi à ausência de familiares ou cuidador de idosos para passar
e repassar informações importantes e falta de cuidados aos idosos por seus
responsáveis. Vale destacar o aspecto cognitivo do idoso e outras doenças psicológicas
e psiquiátricas associadas tais como Alzheimer e mal de Parkinson; o que
dificulta na compreensão e cognição dos idosos.
“Pessoas
idosas que em alguns casos têm parentes que não cuidam bem e simplesmente são
deixados para lá. ” J.M.B.
“Quando
o paciente com DM é idoso e está sozinho, sem nenhum acompanhante. ” L.M.F.B.
Por fim, vale
salientar que este estudo pode apresentar limitações metodológicas. Utilizou-se
um desenho de pesquisa qualitativo, o que impossibilita fazer inferências a
respeito dessas dificuldades encontradas pelos agentes no acompanhamento e
visitas mensais aos pacientes com DM, da aquisição de conhecimentos e mudança
de atitudes dos participantes, bem como fazer generalizações para outros
profissionais e outras populações de pessoas com DM. Os dados foram coletados
em 6 USF do Município de Brumadinho, e que
provavelmente, tem certas particularidades que não são comuns às outras USF que
prestam assistência às pessoas com DM. Apesar dessas limitações, os resultados
deste estudo fornecem subsídios importantes para a avaliação da importância de
intervenções educativas e de programas de educação continuada e permanente em
DM, em especial para os ACS, para a prestação de cuidados a pessoas com DM como
também para o desenho de estudos futuros com outras metodologias e maior número
de participantes.
As doenças crônicas,
em especial o DM, exigem envolvimento contínuo dos profissionais, pacientes e
familiares, além de acompanhamento sistematizado com enfoque de vários aspectos
da assistência à saúde. Nesse contexto, o DM, com suas especificidades e
peculiaridades faz do paciente o principal responsável pelo manejo da doença,
por meio das atividades de autocuidado, desde que bem orientados pelos
profissionais de saúde, principalmente os ACS.
Destaca-se
o quanto
importante é a educação em saúde e em DM.
Para isso, é necessária a formação,
educação e atuação contínua da
equipe interdisciplinar em conjunto com as
pessoas com DM e a sociedade civil organizada. A atenção
primária à saúde deve
estar capacitada para realização de práticas
educativas dialógicas e
reflexivas, que valorizem o nível cultural das pessoas.
Adicionalmente, os
profissionais envolvidos precisam aprimorar suas habilidades de
aconselhamento
e comunicação.
Ficou evidente a
dificuldade no acompanhamento e visitas aos diabéticos por parte dos ACS,
principalmente pela falta de conhecimento e aderência ao tratamento por parte
das pessoas com DM, bem como a falta de conhecimento de algumas particularidades
do DM por parte dos ACS.
Espera-se que este
estudo alerte aos gestores o quanto é importante um trabalho de educação
continuada e permanente em saúde para os profissionais de saúde e para os
portadores de doenças crônicas, não só em DM.