ARTIGO
ORIGINAL
Banho
com e sem antimicrobiano: estudo realizado em neonato de risco
Sara Rodrigues
Ramalho*, Franciele do Prado Reis*, Leila Katiane da Cruz Dibbern**, Carla
Regina Bianchi Codo***
*Graduanda
em enfermagem e aluna de iniciação científica pela Faculdades
Integradas Einstein de Limeira (FIEL), **Docente do curso de biomedicina da
FIEL, ***Orientadora e docente do curso de Enfermagem da FIEL, Doutoranda em
Ciências médicas pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de
Campinas - Unicamp
Recebido em 18 de
outubro de 2016; aceito em 26 de dezembro de 2016.
Endereço
para correspondência:
Sara Rodrigues Ramalho, Rua Jatobá, 200, Vila Queiroz, 13485-023 Limeira SP,
E-mail: sararramalho@hotmail.com,
carlacodo@yahoo.com.br
Resumo
Introdução: Na atualidade
existe uma grande preocupação da equipe das unidades neonatais com os cuidados
com a pele do neonato prematuro. Muitas vezes as unidades de saúde usam
cuidados empíricos no cuidado com a pele dos mesmos, principalmente com relação
ao banho. Objetivo: Avaliar e
comparar a influência do banho com água e do banho com clorohexidina sobre a
flora bacteriana nosocomial da pele do RNPT antes e após a execução do mesmo. Métodos: Quantitativo, prospectivo,
randômico, experimental, de caso coorte cego para atingir o objetivo proposto.
Ao nascimento o neonato foi sorteado recebendo um número que o identificava de
acordo com o tipo de banho a ser executado, sendo (A) banho com água e (C)
banho com clorohexidina a 2%. Resultados:
Para o banho com clorohexidina a 2% dos onze sujeitos, quatro apresentaram
presença de microrganismos. Quanto ao banho com água, no qual se obteve doze
sujeitos, sete apresentaram resultados positivos para microrganismos. Conclusão: Após a execução dos banhos de
acordo com a metodologia estabelecida neste estudo, observou-se que tanto o
banho com clorohexidina a 2%, como o banho somente com água, são efetivos na
remoção de microrganismos da pele dos recém-nascidos pré-termo.
Palavras-chave: pré-termo, banho,
emolientes.
Abstract
Bath with and without antimicrobial: study of neonates at risk
Introduction: Nowadays there is a great concern of the neonatal intensive care unit
staff with skin care of the premature neonate baby (PTNB). Health care units
often use empirical care in babies skin care, especially with respect to bath. Objective: To evaluate and compare the
influence of the bath with water and bath with chlorhexidine on nosocomial
bacterial flora of PTNB skin before and after implementation. Methods: Quantitative, prospective,
randomized, experimental, blind cohorte case to
achieve the objective. At birth the infant was randomized receiving a number
that identified according to the type of bath to be executed: (A) with water
and (C) with 2% chlorhexidine. Results:
We found that four out of eleven infants who used chlorhexidine 2% showed the
existence of microorganisms. As per the bath water, seven out of twelve
subjects were positive for microorganisms. Conclusion:
After the execution of the baths according to the methodology set out in this
study, it was observed that both the bath with chlorhexidine 2% as well as the
bath only with water is effective in removing microorganisms of preterm newborn
skin.
Key-words: preterm,
bath, emollients.
Resumen
Baño con y sin antimicrobiano: estudio
realizado en neonato de riesgo
Introducción: En la actualidad existe una gran preocupación del personal de
las unidades neonatología con el cuidado de la piel del recién nacido prematuro
(RNPT). A menudo, las unidades de cuidados de la salud
se valen de cuidados empíricos, especialmente en el momento del baño. Objetivo: Evaluar y comparar la influencia del baño con agua y baño con clorhexidina
sobre la flora bacteriana nosocomial de la piel del RNPT antes y después de la
ejecución del mismo. Métodos:
Cuantitativo, prospectivo, aleatorio, experimental, de caso coorte ciego para
lograr el objetivo propuesto. Al nacer los bebés
fueron sorteados y recibieron un número que los identificaba de acuerdo con el tipo de baño: (A) baño con agua y (C) baño con
clorohexidina a 2%. Resultados: Para el baño con clorohex a 2%, de los once niños, cuatro
presentaron resultados positivos para microorganismos. En cuanto al baño con agua, en el cual fueron sorteados doce recién
nacidos, siete presentaron resultados positivos para microorganismos. Conclusión: Después de la ejecución de los baños de acuerdo con la metodología
establecida en este estudio, se observa que tanto el baño con clorohexidina a
2% como el baño solamente con agua son efectivos en la remoción de
microorganismos de la piel de los recién nacidos pretérminos.
Palabras-clave: prematuro, baño,
emolientes.
A sobrevida dos
neonatos de risco tem aumentado na atualidade em decorrência da evolução do
cuidado e das técnicas empregadas ao cuidado do mesmo [1-3]. Entre estas está a
preocupação com relação a pele do neonato e a
manutenção da integridade da mesma; pois, segundo Darmstadt et al. [4], lesões ou alterações do seu
pH contribuem para o aparecimento de infecções, aumentando o risco de morbidade
e mortalidade desta classe de pacientes. Segundo muitas unidades, baseadas em
conhecimento empírico, a prática do banho aumenta o dano tecidual, propiciando
ao RNPT uma maior propensão a desenvolver processos infecciosos.
Ao nascimento, a pele
do RN sofre a sua primeira colonização e com uma semana de vida encontra-se
semelhante à observada no adulto. Entretanto, o sistema imunológico deste órgão
só irá funcionar plenamente aos nove meses de vida. Isto explica a maior
suscetibilidade dos prematuros em desenvolver processos infecciosos [5,6].
O mecanismo que
auxilia a eliminação das bactérias é a formação do manto ácido da pele. Nos
prematuros esta acidez é fraca, podendo-se encontrar pH
básico na axila, pescoço e coxa [5-7]; o que demonstra a maior sensibilidade
destas áreas a desenvolver agravos como as dermatites de contato. Hahn [7]
relata que a pele do RNPT sofre maturação entre a segunda e a quarta semana de
vida pós-uterina, e que prematuros extremos podem levar até oito semanas para
completar a formação do extrato córneo. Pode-se verificar, portanto, que a pele
do RNPT tem características e funções próprias inerentes de um indivíduo em
formação, e que cuidados dispensados a estes neonatos podem alterar a função da
pele com relação à barreira e perda transepidérmica de água. Cabe ao
profissional que trabalha em unidades neonatais, estar atento aos detalhes
inerentes à pele do prematuro, para que se possa escolher o melhor tipo de
cuidado a ser realizado.
O banho merece ser
avaliado, pois pode causar alterações na pele como irritação e traumas,
hipotermia, aumento do pH
- em decorrência do tipo de
sabão utilizado na higienização - reduzindo o
fator de proteção da mesma, como
também acarretar aumento do consumo de oxigênio e
alterações dos sinais vitais
[7]. A pele do recém-nascido difere de um para outro conforme a
idade
gestacional. É o maior órgão do corpo humano e
suas funções vão desde a
proteção, regulação térmica e
hidroeletrolítica até a recepção de
impulsos
táteis como o toque, a temperatura, a dor e a pressão
[8].
Acreditava-se, até
algum tempo atrás, que a função de barreira cutânea atingia sua maturidade por
volta da 34ª semana de gestação. Contudo, dados recentes mostram que ela
continua a se desenvolver até 12 meses após o nascimento. A pele do neonato é submetida
a um progressivo processo de adaptação ao ambiente extrauterino,
para o qual cuidados especiais se tornam necessários [8].
Objetivo
Avaliar e comparar a
influência do banho com água e do banho com clorohexidina sobre a flora
bacteriana nosocomial da pele do RNPT antes e após a execução do mesmo.
A metodologia
utilizada foi quantitativa prospectiva, randômica, experimental, de caso coorte
cego, buscando descrever a interferência do banho com clorohex e somente com
água sobre o desenvolvimento de bactérias na pele do neonato prematuro. Teve
ainda a finalidade comparativa, determinando o tipo de flora nosocomial na pele
do neonato pré-termo de acordo com o tipo de banho ao qual foi submetido por
múltiplos períodos de coleta de dados [9,10].
Fizeram parte deste
estudo os prematuros que nasceram com peso entre 500 a 2500 g, de qualquer
idade gestacional, cujos pais/responsável assinaram o termo de consentimento
livre e esclarecido. Foram excluídos todos os neonatos que apresentaram
infecção ovular, pela necessidade de antibióticoterapia; ou que tenham nascido
com SAM (síndrome da aspiração de mecônio), pois estas patologias indicam
necessidade de banho logo após o nascimento, fato este que prejudicaria a
coleta de dados de modo fidedigno. Tamanho da amostra foi determinado com base
em trabalho já realizado [11], sendo de 20 neonatos para cada tipo de banho, já
com a margem de segurança e um poder de teste de 80%.
Os neonatos foram
sorteados da seguinte forma: o primeiro neonato que nasceu foi sorteado dentro
dos dois grupos de pesquisa estabelecidos, ou seja, A ou C; o segundo recebeu o
grupo que ficou faltando e o terceiro foi sorteado novamente entre os dois
grupos e assim sucessivamente. Recebendo denominação de grupo C: banho com
clorohex; grupo A: banho somente com água. Os neonatos foram denominados em
ordem numérica em tabela paralela permitindo identificar o tipo de
microrganismo de acordo com o tipo de banho a que foram submetidos. Para
verificar o tipo de microrganismos foi colhido um swab na axila D, perfazendo cinco (5) movimentos na horizontal e
cinco (5) movimentos na vertical, em um espaço correspondente a 1 cm², com base em trabalho desenvolvido por Cunha e
Procianoy [11]. Os swabs colhidos
foram encaminhados ao laboratório das Faculdades Einstein de Limeira, semeados
em placa ágar chocolate e colocados em estufa, com leitura posterior a 48 horas. Foi identificado o tipo de microrganismo
presente de acordo com cada tipo de banho. Portanto cada neonato foi submetido
a duas coletas; uma antes da execução do banho para identificar os
microrganismos primários e outra depois de cinco dias de execução da técnica de
banho. Este tempo de espera se justifica devido ao desenvolvimento bacteriano
ocorrer na pele, ou seja, a sua colonização ocorrer na primeira semana de vida
no prematuro [5,6].
O banho foi realizado
utilizando-se uma pequena banheira de plástico, previamente limpa com álcool a
70%. Ou foi utilizado banho com gaze; algodão e cuba rim. O banho somente foi
realizado após condições clínicas estáveis do neonato na unidade intensiva
neonatal da ISCM de Limeira, hospital privado, filantrópico de nível terciário.
A população também foi caracterizada quanto ao sexo; idade gestacional; peso de
nascimento e hipótese diagnóstica. Não houve necessidade de realizar o
acompanhamento dos sujeitos, o procedimento do banho já é uma técnica de
enfermagem realizada dentro do ambiente das UTINs.
O trabalho foi
aprovado pelo comitê de ética da plataforma Brasil com CAAE sob o número
36690814.5.0000.5608. Todos os sujeitos participantes assinaram o termo de
consentimento livre e esclarecido.
Para a análise
estatística, utilizou-se o programa Biostat 5.3. Como os resultados obtidos
deram negativo ou positivo para bactéria e os programas aceitam dados
numéricos, estabeleceu-se o valor numérico 1 para os
banhos nos quais não houve crescimento de microrganismo e 2 para os banhos nos
quais foi identificado presença dos mesmos.
Na comparação antes e
depois do banho com clorohexidina a 2%, verificou-se que antes do banho, oito
neonatos apresentaram resultados negativos para microrganismos e três
positivos; após, sete continuaram negativos para microrganismos e quatro
positivos. Como a amostra é pareada, foi utilizado o teste de McNemar com um
(p) valor de 1,000, que significa que não houve diferença estatisticamente
significativa da presença de microrganismos antes e após o banho com emolientes
(Tabela I).
Tabela
I - Presença de microrganismos antes e após o
banho com emoliente clorohexidina.
Para o banho com
água, obteve-se os seguintes resultados: sete neonatos não apresentaram
microrganismo identificado antes do banho, enquanto cinco apresentaram
microrganismo antes do banho. Após cinco dias do banho somente com água, cinco
neonatos estavam negativos para a presença de microrganismos e sete deram
positivos para bactérias. O teste utilizado foi o McNemar com um (p) valor de
0,625, o que indica que não houve diferença estatisticamente significativa no
desenvolvimento de microrganismos com a utilização de água somente - antes e
após o banho. Para esta análise, as amostras também são pareadas (Tabela II).
Tabela
II -
Presença de microrganismos antes e após o
banho com água.
Para o banho com
clorohex a 2%, dos onze sujeitos, quatro apresentaram presença de
microrganismos. Para o banho com água, no qual se obteve doze sujeitos, sete
deram positivos para microrganismos. Para a comparação destas amostras, utilizou-se
o teste de Fisher para amostras não pareadas com um (p) valor de 0,414, que
indica que não houve diferença estatisticamente significativa entre os dois
tipos de banho, ou seja, tanto o banho com clorohex como o banho com água são efetivos na remoção de microrganismos (Tabela III).
Tabela
III
- Comparação do desenvolvimento de flora
nosocomial na pele do prematuro após a execução de dois tipos de banho.
Esta pouca diferença
pode ter ocorrido pela perda de uma grande quantidade de amostra entre os dois
tipos de banho e pela resistência da equipe da instituição em estar auxiliando
a execução do estudo.
A coleta foi
realizada até o número total de sujeitos alcançar os
vinte banhos para cada tipo. Entretanto, dos neonatos participantes do estudo
para o banho com clorohexidina a 2%, três foram a óbito antes da segunda
coleta; seis foram transferidos para a maternidade e receberam outro tipo de
banho, inviabilizando a segunda coleta, perfazendo o total de 11 sujeitos. Para
o banho com água, dois neonatos foram a óbito e seis foram perdidos por
transferência, resultando em um total de 12 sujeitos. A coleta foi realizada de
setembro de 2015 a março de 2016.
Pode-se constatar que
tanto o banho com emoliente clorohexidina como o banho com água foram efetivos na remoção de microrganismos da pele do
neonato. Isto também foi encontrado no trabalho de Cunha e Procianoy [11],
entretanto, no estudo destes autores, os neonatos já haviam sido submetidos à
execução do banho de rotina da unidade, o que poderia acarretar um viés no
estudo. O atual não houve banho antes da primeira coleta, entretanto os
resultados foram semelhantes. Cabe aqui ressaltar que a utilização da
clorohexidina é usada no local em que ocorreu o estudo desde 1996, sem que com
isto ocasionasse qualquer tipo de lesão de pele ou intoxicação considerando-se
que no trabalho citado anteriormente não se estudou o efeito no desenvolvimento
da pele do pré-termo.
Houve muita
dificuldade em se obter artigos científicos para embasamento, pois apesar dos
avanços técnicos na área da neonatologia, certos procedimentos ainda se baseiam
no campo empírico, determinando uma rotina de cuidados, sem estudos
aprofundados nessa temática, com prática baseada em evidência, que muitas vezes
é uma exceção ao que se observa na rotina. Não há na literatura, estudos que
comprovem a interferência do banho, no recém-nascido pré-termo. Estudos
reconhecem o efeito do clorohex no bebê a termo, seu efeito residual e também a
influência do banho, somente com água e com emoliente comum na flora do
prematuro.
Encontra-se na
literatura diversas indicações de produtos que devem ser utilizados no banho e
no cuidado com a pele do prematuro como água estéril morna [6], sabonete neutro
[12], clorohexidina a 2% e óleos a base de petrolato e lanolina [7]. O uso de
sabão no banho pode provocar uma incidência elevada de lesões de pele [6].
Entretanto, o uso de sabonetes a base de clorohexidina a 2% ainda não foram
estudados, tanto quanto a sua eficácia na proteção do neonato, quanto na
probabilidade de provocar lesões de pele e sobre a sua toxicidade.
Tapla e Martins [13]
referem que a pele do prematuro funciona como tegumento de barreira contra
infecções, sendo a primeira linha de defesa.
A utilização de
clorohexidina tem provocado uma boa redução no número de bactérias como o Staphylococcus áureus por um período de
até 4 horas [7]. Ercan, Dalli e Düigergil [14] também concluíram que este tipo
de substância tem sido mais eficiente em eliminar Enterococcus e Cândida
albicans e afirmam em seu trabalho que mais estudos devem ser formulados a
respeito do uso desta substância.
Ainda em seu estudo,
Hahn [7] relata que a utilização de água estéril morna é recomendada para
evitar a alteração da flora bacteriana da pele, mas os dados apresentados neste
estudo demonstram que mesmo a água altera a mesma.
Pode-se verificar que
na literatura existem muitas informações conflitantes em relação aos cuidados
durante o banho e com a pele do neonato prematuro, fazendo com que os
profissionais tenham uma dificuldade em relação ao uso ou não de emolientes.
Infelizmente vários
percalços na coleta de dados inviabilizaram que a totalidade de sujeitos
escolhidos tivessem seus resultados apresentados neste estudo. O total de
sujeitos obtidos no final para os dois tipos de banho pode ter sido
insuficiente para determinar com exatidão uma comparação entre os dois tipos de
banho. Talvez se a totalidade de sujeitos tivesse sido alcançada os resultados
pudessem ser diferentes. Ocorreu muita dificuldade por parte da equipe de
assistência dentro da unidade que prejudicou a execução do estudo.
O que se pôde
observar é que tanto para o banho com emoliente clorohexidina como para o banho
com água ocorreu redução do número de microrganismos. Entretanto, pelas
dificuldades encontradas, recomenda-se um olhar mais crítico e uma avaliação
mais cautelosa sobre a execução do banho nos recém-nascidos pré-termo
comparando o uso de emolientes na execução do mesmo.
Projeto financiado
pelo PAPIC da Faculdades Integradas Einstein de
Limeira – FIEL