ARTIGO
ORIGINAL
Características
sociodemográficas das vítimas de infarto agudo do
miocárdio no Brasil
Ananda Sodré Silva*,
Mariana Oliveira Antunes Ferraz, M.Sc.**,
Chrisne Santana Biondo, M.Sc.***, Bruno Gonçalves de Oliveira, M.Sc.****
*Enfermeira,
graduada pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), **Enfermeira,
professora Assistente da UESB, ***Enfermeira, professora assistente da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), ****Enfermeiro, Doutorando pelo Programa
de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde da UESB
Recebimento em 4 de setembro de 2017; aceito em 22 de setembro de 2018.
Endereço
para correspondência:
Chrisne Santana Biondo,
Universidade Federal da Bahia (UFBA), Prédio administrativo, gabinete 313, Rua Hormindo Barros, 58 Candeias 45029-094 Vitória da Conquista
BA, E-mail: tity_biondo_enf@hotmail.com; Ananda Sodré Silva:
anandinha_kitty@hotmail.com; Mariana Oliveira Antunes Ferraz:
marianaferraz.enf@gmail.com; Bruno Gonçalves de Oliveira: brunoxrmf5@gmail.com
Resumo
Objetivo: Descrever as
características sociodemográficas das vítimas de
Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) no Brasil no ano de 2014. Métodos: Trata-se de um estudo descritivo, de natureza
quantitativa, realizado a partir de dados sobre a mortalidade por IAM no ano de
2014, coletados do Sistema de Informação de Mortalidade do SUS (SIM/SUS). Resultados: Foi evidenciada a
predominância de óbitos por IAM em indivíduos do sexo masculino, evoluindo
conforme idade, expressando-se vigorosamente em indivíduos idosos, em especial
com 80 anos ou mais, de cor branca e baixa escolaridade. Conclusão:
É necessário investir em estudos e
intervenções aos
grupos vulneráveis, incluindo ações de
promoção e prevenção à saúde,
tornando
mais acessível os serviços de saúde para que se
estabeleçam medidas precoces.
Palavras-chave: infarto do
miocárdio, mortalidade, Brasil.
Abstract
Socio-demographic characteristics of the victims of acute myocardial
infarction in Brazil
Objective: To describe
the sociodemographic characteristics of the victims
of Acute Myocardial Infarction (AMI) in Brazil in the year 2014. Methods: This is a quantitative
descriptive study, based on data on mortality due to AMI in the year of 2014,
collected from the Mortality Information System (SIM/SUS). Results: It was evidenced the predominance of deaths due to AMI in
males, according to age, expressing itself vigorously in elderly individuals,
especially those aged 80 years or older, white color and with low level of
schooling. Conclusion: It is
necessary to invest in interventions to vulnerable groups, including health
promotion and prevention actions, making health services more accessible for
early action.
Key-words: myocardial
infarction, mortality, Brazil.
Resumen
Características sociodemográficas
de víctimas de infarto agudo de miocardio
en Brasil
Objetivo: Describir
las características sociodemográficas
de las víctimas de infarto
agudo de miocardio (IAM) en
Brasil en el
año de 2014. Métodos:
Se trata de un estudio descriptivo, de enfoque cuantitativo,
realizado a partir de datos sobre la mortalidad por IAM en el año
de 2014, colectados por el
Sistema de Información de Mortalidad
(SIM/SUS). Resultados: Fue evidenciada la
predominancia de muerte por
IAM en el sexo masculino,
evolucionando conforme la edad,
se expresando vigorosamente en
personas mayores, en
especial con 80 años o más,
de color blanco y baja escolaridad.
Conclusión:
Es necesario investir en estudios e intervenciones a
grupos vulnerables, incluyendo
acciones de promoción y prevención en salud,
tornando más accesible los servicios de salud para que se establezcan medidas precoces.
Palabras-clave: infarto de miocardio, mortalidad, Brasil.
Os eventos
cardiovasculares constituem-se como uma das principais causas de permanência
hospitalar prolongada [1] e são responsáveis por grande parte dos casos de
incapacidade e morbimortalidade no Brasil e no mundo, com destaque para o
infarto agudo do miocárdio (IAM) [2]. O IAM é descrito como uma necrose
miocárdica causada por isquemia, que se manifesta em quadro clínico compatível
em conjunto ou não com alterações eletrocardiográficas típicas ou imagem
compatível com isquemia miocárdica [3].
A maioria das
ocorrências clínicas envolvendo IAM têm seu desfecho em óbito em curto espaço
de tempo após a manifestação da doença, sendo 40 a 65% das mortes logo na
primeira hora, e 80% das mortes dentro das primeiras 24 horas [4]. Reforça-se
essa ideia diante da comprovação de que instituir tratamento em até uma hora do
seu início melhora em até 50% a taxa de sobrevida. No entanto, atrasar a
intervenção em até 30 minutos pode diminuir em até um ano a média da
expectativa de vida [2].
A mortalidade por
eventos miocárdicos isquêmicos no Brasil alcançou um percentual de 52,6% no ano
de 2011, ultrapassando diversos países da América Latina como Argentina, Chile,
Equador e Paraguai [2]. Justifica-se taxa tão elevada diante das dificuldades
em busca do acesso ao tratamento em terapia intensiva e às medidas terapêuticas
estabelecidas para o IAM [5], considerando que a gravidade da lesão miocárdica
também depende do tempo que leva do seu início até o momento do tratamento [2].
Ademais, diversos fatores de risco estão associados ao desenvolvimento de IAM e
podem ser classificados como modificáveis, entre eles tabagismo, dislipidemia,
hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, sedentarismo e obesidade e
não modificáveis, dentre eles, idade, hereditariedade e sexo [1].
O IAM foi a principal
causa de morte por eventos cardíacos no Brasil, demonstrando um aumento de 48%
entre 1996 a 2011. Dados dão conta de que a previsão é que o IAM será,
isoladamente, a principal causa de morte em 2020 [6]. Diante disso, mostra-se a
emergente necessidade de estudos e abordagens contínuas em relação ao IAM, considerando
que o mesmo representa um grande problema de saúde pública, para que futuras
intervenções sejam realizadas e estabelecidas de modo eficaz aos grupos
populacionais mais vulneráveis.
Assim, o objetivo
deste estudo é descrever as características sociodemográficas
das vítimas de IAM no Brasil.
Trata-se de um estudo
descritivo, de natureza quantitativa, realizado a partir de dados coletados do
Sistema de Informação de Mortalidade do Sistema Único de Saúde (SUS)- (SIM/SUS)
disponibilizados pelo Departamento de Informática do SUS (DATASUS) no mês de
agosto de 2016.
A partir dos SIM/SUS
foram coletados os dados referentes à mortalidade por infarto agudo do
miocárdio no ano de 2014, cuja Classificação Internacional de Doenças (CID 10)
compreende o código I21. O período de estudo foi definido por se tratar dos
dados mais atuais disponibilizados pelo Datasus.
Para realizar a
coleta de dados, foi definido o local de residência como critério de seleção.
Os dados utilizados se referem à mortalidade por causas gerais nos estados,
mortalidade por IAM, faixa etária, sexo, escolaridade e raça.
Foi realizada a
tabulação dos dados no programa Microsoft Excel, versão 2010 e procedida à
análise estatística das frequências relativas e absolutas, com representações
gráficas. Os dados foram aproximados para a casa decimal mais próxima e os
campos denominados “ignorados” pelo sistema de informação não foram utilizados
na análise das variáveis sexo, faixa etária,
escolaridade e raça.
Por se tratar de
estudo utilizando bases de dados públicas, não foi necessária a aprovação pelo
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).
O Brasil apresentou, em
2014, um total de 1.227.039 mortes notificadas no Sistema de Informação de
Mortalidade. Dessas, 87.234 foram vinculadas ao CID10 I.21,
infarto agudo do miocárdio, o que corresponde a 7,1% das causas de mortalidade
da população brasileira no ano de estudo.
O estado de São Paulo
apresenta maior número de óbitos por infarto agudo do miocárdio, com 21.829
casos, 25% dos óbitos nacionais, porém, esse número representa 7,8% do total de
óbitos relacionado à doença no estado. Assim, quando analisado por estado, o
Mato Grosso do Sul apresenta a maior porcentagem (10,1%) de óbitos por infarto
agudo do miocárdio dentre as causas de morte da sua população, enquanto
Amazonas é o estado que apresentou a menor (4,4%), conforme apresentado no
quadro I.
Quadro
1 –
Distribuição da mortalidade por infarto agudo do miocárdio segundo Unidade da
Federação (UF).
Fonte: Autor, dados do
DATASUS, 2016.
No gráfico 1, pode-se perceber que os homens apresentam maior número de
mortes por IAM quando comparado às mulheres, representando 59% da mortalidade.
Em todos os estados brasileiros foi identificada essa característica quanto ao
sexo, na qual o homem apresentou maior número de óbitos.
Fonte: Autor, dados do
Datasus, 2016.
Gráfico
1 – Distribuição dos óbitos por infarto agudo do
miocárdio segundo o sexo no Brasil, no ano de 2014.
Conforme apresentado
no gráfico 2, o número de óbitos por IAM evoluiu
conforme idade, expressando-se vigorosamente em indivíduos mais idosos,
alcançando o seu quantitativo máximo (25,9%) nos indivíduos com 80 anos ou
mais. Nota-se também que, mesmo que em menor incidência, esse problema é
responsável pela morte de muitos indivíduos em idade adulta, em plena fase
produtiva.
Fonte: Autor, dados do
Datasus, 2016.
Gráfico
2 – Distribuição dos óbitos por infarto agudo do
miocárdio segundo a faixa etária, no Brasil, em 2014.
Quando analisados os
dados, no que tange aos óbitos por IAM conforme a raça/cor,
observou-se que os indivíduos que apresentaram um maior índice de
mortalidade foram os de cor/raça branca, com 53,94%. Em seguida, os indivíduos
de cor/raça parda 33,95%, preta 7,52%, amarela 0,6% e indígena 0,15%.
Outrossim, na distribuição da
mortalidade, segundo os anos de escolaridade, obteve-se que a parcela mais
atingida foram aqueles que tiveram apenas de 1 a 3 anos de estudo (33%), em
segundo lugar aqueles que tiveram de 4 a 7 anos (24%), seguido por nenhum ano
de estudo (22%) e os de 8 a 11 anos (15%) e em último lugar aqueles com 12 anos
ou mais de estudo (6%).
As doenças do
aparelho circulatório (DAC), das quais se destacam as doenças cerebrovasculares
e as doenças isquêmicas do coração, constituem um terço de todos os óbitos no
Brasil, podendo chegar a um percentual de 30% de todas as mortes na fase adulta
[7]. No ano de 2010, as doenças isquêmicas do coração foram responsáveis por
99.408 óbitos ou 52 óbitos/100 mil habitantes [8].
O IAM apresenta
elevada prevalência no Brasil, cursando como a segunda causa de morte
cardiovascular (48/100.000) tendo previsão de contínuo crescimento,
principalmente em países em desenvolvimento [7]. No sistema público de saúde a
taxa de mortalidade dos pacientes internados com infarto agudo do miocárdio se
manteve elevada ao longo dos anos de 2000 (16,2%), 2005 (16,1%) e 2010 (15,3%)
[5].
Após diversos anos
apresentando taxas crescentes, a mortalidade por DAC começou a declinar em
vários países. No Brasil, foi possível observar isso em vários estados e
capitais, com destaque para cidade e estado de São Paulo, que mesmo tendo
apresentado elevação das taxas de mortalidade entre os anos 40 e 60, predominando
o óbito pelas doenças isquêmicas do coração, a partir dos anos 70 demonstrou
queda das mesmas. Porém, de modo contraditório, a taxa de ocorrência desses
problemas se mantiveram [9].
Estudo realizado em
2001, no qual se analisou tendências do risco de morte por doenças
cardiovasculares em 5 regiões brasileiras nos anos de
1979 a 1996, foi demonstrado que o risco de morte por doenças cardiovasculares,
cerebrovasculares e isquêmicas diminuiu nas regiões Sul e Sudeste, tidas como
mais desenvolvidas e aumentou em regiões menos desenvolvidas, como Nordeste e
Centro-Oeste [10]. Porém, mesmo com isso, os resultados do presente estudo
indicam taxas nacionais elevadas de mortalidade nas regiões Sul e Sudeste, bem
como nas outras regiões citadas.
O quadro I mostra a
distribuição da mortalidade por IAM por regiões e estados do Brasil. Alguns
estados se apresentam com índices altos de mortalidade, como é
o caso do estado de São Paulo (25%), seguindo-se o estado do Rio de Janeiro,
com 11,6% e em terceiro lugar o estado de Minas Gerais (7,7%), todos eles
pertencentes à região Sudeste. As menores taxas são apresentadas pelos estados
da região Norte e Sul, onde Acre, Amapá e Santa Catarina apresentam 0,2% dos
óbitos nacionais por IAM.
As diferenças culturais,
demográficas, socioeconômicas e políticas entre as regiões do Brasil conferem
as suas populações diferentes condições de vida e saúde, gerando fatores de
risco e problemas diferentes, o que pode justificar as taxas de mortalidades
supracitadas. A partir disso, reflete-se a situação socioeconômica e
educacional que vai diferenciar o acesso à saúde e a adesão às práticas
saudáveis [9,11].
As enfermidades
relacionadas ao aparelho circulatório se apresentam como principais causas de
morte em ambos os sexos [12]. Porém, estudos comprovam que os homens são mais
vulneráveis as doenças, principalmente as crônicas e graves, com expectativa de
vida menor que as mulheres.
Os homens tendem a
buscar atendimento em saúde geralmente pelos serviços de atenção especializada,
o que agrava a morbidade e é mais oneroso para o sistema de saúde. Além disso,
as mulheres buscam mais os serviços de saúde que os homens, atribuindo-se isso
ao fato dos homens não reconhecerem a possibilidade de adoecimento, negando as
suas necessidades. Associado a isso, observa-se que as ações de saúde para a
criança, o adolescente, a mulher e o idoso são mais divulgadas que as ações de
saúde do homem, sendo outra dificuldade relacionada com o fato da baixa
incidência da procura do homem aos serviços da saúde [13].
Em estudo realizado
com a população masculina de uma cidade do Sudeste do Brasil, obteve-se que
mais de 80% dos participantes apresentavam pelo menos um fator de risco para
doenças cardiovasculares, 45,2% dessa população apresentava dois ou mais
fatores de risco [14].
Observa-se ainda que
os homens fazem uso de tabaco com maior frequência que
as mulheres, levando a uma maior vulnerabilidade às doenças cardiovasculares. O
consumo de álcool também é considerado como um problema, tendo em vista que os
homens iniciam mais cedo o uso além de consumirem mais, quando comparados às
mulheres. Pode-se citar ainda, maior prevalência de HAS e DM que acometem a
população masculina e contribuem para as altas taxas de morbimortalidade [13].
Em contrapartida, com
a crescente participação das mulheres no mercado de trabalho e uma consequente
mudança de hábitos, com exposição ao estresse, fumo e dietas desequilibradas, a
taxa de mortalidade por enfermidades do aparelho cardiovascular rapidamente se
elevou. Com o avançar da idade, as mulheres estão mais suscetíveis a sofrerem
por doença isquêmica do coração (DIC), aproximando-se ao mesmo risco dos homens
por volta dos 65 anos [1]. Ainda assim, esse estudo demonstrou as taxas de
mortalidade maiores nas pessoas do sexo masculino.
Os problemas
relacionados ao aparelho circulatório respondem por 20% das mortes em pessoas
com mais de 30 anos [12]. Considerando o IAM, a mortalidade se apresenta nos
indivíduos idosos com uma taxa 21% maior em relação ao restante da população
[15].
Concordando com o
atual estudo, demonstrou-se que a taxa de mortes em pacientes que sofreram IAM
se elevou substancialmente conforme o aumento da idade. Como exemplo, de uma
taxa de 13,5% em indivíduos com até 60 anos, a mortalidade por IAM se elevou
para uma taxa de 30,8% em indivíduos com mais de 60 anos [16].
Através das políticas
de prevenção houve no Brasil uma melhora nos índices de saúde de determinadas
faixas etárias, porém, não se diminuiu a taxa de mortalidade por IAM como um
todo, reforçando a necessidade de políticas de saúde voltadas para os mais
idosos, visto que esse extrato etário é responsável pelos maiores índices de
mortalidade por IAM [15].
O estudo realizado em
São Paulo evidencia que variações de raça ou grupo étnico conferem diferentes
riscos de eventos cardiovasculares [17]. Temos no Brasil a questão da
miscigenação e os cuidados diferenciados pelo sistema social e de saúde a esses
diferentes grupos, como um fator que pode conferir diferentes riscos em cada
grupo [11].
Em estudo sobre
perfil de pacientes portadores de síndrome coronariana aguda, obteve-se a
prevalência de indivíduos brancos em detrimento de pardos e negros, o que
converge com o atual estudo, no qual se obteve maioria dos óbitos por IAM em
indivíduos brancos [18].
Em contrapartida,
Maia [19] relatou, em seu estudo, a maioria dos pesquisados vítimas de IAM de
cor preta (44%), seguida da parda (28%), podendo se atribuir tal diferença ao
fato do estudo ter sido apenas no município de São Paulo, região Sudeste, com
população atendida em unidade de terapia intensiva em um hospital específico.
Observa-se ainda que
indivíduos de raça negra tenham associação a um maior risco de desenvolvimento
de eventos cardiovasculares, apresentando uma alta prevalência de hipertensão,
obesidade e diabetes, o que por sua vez, favorece altas taxas de mortalidade
por eventos cardiovasculares [20]. Apesar disto os dados do estudo atual
divergem, demonstrando a incidência de óbitos em indivíduos de raça branca no
ano de 2014.
No ano de 2014, a
escolaridade média das pessoas com 25 anos ou mais era de 7,8 anos de estudos
completos, ou seja, nem o ensino fundamental completo. O déficit na educação
formal no Brasil é fruto de diversos anos de atraso, sendo necessários diversos
anos também para mudá-lo [21]. Dados de 2013 indicam que apenas 41,8% das
pessoas de 25 anos em diante conseguiram 11 anos de estudo ou mais e,
considerando as pessoas entre 18 e 24 anos, 16,3% frequentavam o ensino superior
[22].
Diante dos achados,
percebe-se que grande parte da população brasileira possui poucos anos de
estudo completos, com apenas pequena parcela chegando ao ensino superior.
Assim, ao analisarem os dados de mortalidade, é possível que, na maioria das
vezes, predominem os indivíduos de baixa escolaridade, já que o grau de
escolaridade pode associar-se ao menor entendimento do indivíduo na realização
das ações de prevenção e reconhecimento imediato dos sinais e sintomas.
A baixa escolaridade
pode indicar um déficit no conhecimento por parte dos pacientes quanto aos
fatores e comportamentos de risco dos problemas cardiovasculares, além de estar
relacionado a fatores psicológicos, sociais e culturais [11].
Grande parcela dos
óbitos por IAM ocorre no domicílio, consequência da ausência de conhecimento
acerca dos primeiros sintomas e demora na busca de ajuda médica, sendo
demonstrado que uma escolaridade maior representou uma busca precoce pelo
serviço [23].
Em contradição com o
estudo atual, pesquisa realizada sobre os Fatores de Risco para a Insuficiência
Coronariana na América do Sul (FRICAS) não demonstrou correlação entre grau de
instrução e ocorrência de IAM, porém constatou a relação entre a doença e a
condição econômica. Nesse caso, destaca-se a possibilidade de condições mais
adequadas de vida e moradia estarem relacionadas a uma maior expectativa de
vida com menor exposição aos fatores de riscos das doenças [24].
Corroborando o atual estudo,
a baixa escolaridade foi uma das características predominantes nos pacientes de
IAM nos estudos de Bastos et al. [25], Silva et al. [23] e Mendes et al. [26], demonstrando a associação entre a
ocorrência de IAM e anos de estudo do indivíduo.
O estudo apresentou
as características sociodemográficas das vítimas de
IAM no Brasil, no ano de 2014. Os resultados demonstraram um total de 87.234
mortes vinculadas ao IAM. As características das vítimas de IAM que se destacam
no Brasil, no ano de 2014, são de homens, em idades mais avançadas, com
significativo aumento de ocorrência do óbito após os 60 anos, de cor/raça
branca e com baixa escolaridade.
Diante
dos resultados
obtidos, demonstra-se a necessidade de investimento em
intervenções aos grupos
vulneráveis, incluindo ações de
promoção e prevenção à saúde,
bem como tornar
mais acessível os serviços de saúde, para
estabelecer medidas terapêuticas
precoces, levando em conta que o IAM representa problema de
saúde pública, com
grande ônus aos cofres públicos e intenso desgaste social.
As limitações do
estudo se referem à atualização de dados do Sistema de Informação Hospitalar,
no período da coleta, e a incompletude de algumas variáveis, o que pode
determinar viés de informação.