ARTIGO
ORIGINAL
A
percepção de puérperas primíparas sobre os cuidados com o recém-nascido
Clarismar Carvalho de Paula*,
Érika Daves do Nascimento Alves**, Renata Martins da
Silva Pereira***, Dianiele Carmo Pereira****, Ary
Carlos Spascoski da Silva, M.Sc.*****, Rebeca Pimenta Martins Malvão******, Odete Alves Palmeira*******
*Graduanda
de enfermagem do UniFOA,
**Graduanda de enfermagem do UniFOA, ***Doutoranda do
PPGENFBIO UNIRIO, Docente do curso de Enfermagem do UniFOA,
**** Graduanda de enfermagem do UniFOA, *****Docente
do Curso de Enfermagem do UniFOA, ******Graduanda de
enfermagem do UniFOA, *******Docente do Curso de
Enfermagem do UniFOA
Recebido em 20 de
julho de 2017; aceito em 18 de setembro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Clarismar Carvalho de Paula, Rua Japorangra,
10, Japuíba, 23934-055 Angra dos Reis RJ, E-mail:
cllarah.angra@gmail.com; Érika Daves do Nascimento
Alves: erika-daves@hotmail.com; Renata Martins da Silva Pereira:
renataenfprofessora@gmail.com; Dianiele Carmo
Pereira: dianieli-angra@hotmail.com; Ary Carlos Spascoski
da Silva: aryspak@hotmail.com, Rebeca Pimenta Martins Malvão:
rebeca-_martins@hotmail.com; Odete Alves Palmeira: odetepalmeira@hotmail.com
Resumo
Introdução: No cotidiano da
assistência de Enfermagem, encontramos muitas puérperas que são mães pela
primeira vez e necessitam de apoio para realizar os cuidados com o
recém-nascido. Objetivo: Levantar as
principais dúvidas de puérperas ao cuidar de seu primeiro filho e discutir como
a aplicação da Teoria das Relações Interpessoais em Enfermagem pode contribuir
para o aprendizado do cuidado materno durante a internação no alojamento
conjunto. Métodos: Pesquisa de campo,
descritiva e qualitativa, realizada com quatorze puérperas internadas em
alojamento conjunto de hospitais públicos no interior do Estado do Rio de
Janeiro, selecionadas aleatoriamente e que preencheram um questionário
elaborado pelas pesquisadoras. Resultados:
A maioria das puérperas apresentava dúvidas sobre amamentação, cuidados com o
coto umbilical, manejo do choro e cólicas do recém-nascido. Observou-se que as
puérperas tiveram experiências de comunicação e aprendizado que vão ao encontro
da Teoria discutida. Conclusão: O
estudo provoca a reflexão sobre a aplicação da Teoria das Relações
Interpessoais durante as práticas da equipe de enfermagem e pode reduzir
dificuldades na comunicação entre os atores do processo de cuidado.
Palavras-chave: educação em saúde,
período pós-parto, alojamento conjunto, recém-nascido.
Abstract
The perception of primiparous women on care of
the newborn
Introduction: In the daily routine of nursing care, we find many women who are
mothers for the first time and need support to perform care with the newborn. Objective: To raise the main doubts of
women when caring for their first child and to discuss how the application of
the Theory of Interpersonal Relationships in Nursing can contribute to the
learning of the maternal care during the hospitalization in the joint
accommodation. Methods: A descriptive
and qualitative field survey was carried out with fourteen puerperal patients
hospitalized in a public hospital in the State of Rio de Janeiro, randomly
selected and completing a questionnaire. Results:
Most puerperae presented doubts about breastfeeding,
umbilical care, management of crying and colic of the
newborn. It was observed that the women had experiences of communication and
learning that meet the Theory discussed. Conclusion:
The study provokes the reflection on the application of the Theory of
Interpersonal Relationships during the practices of the nursing team and can
reduce difficulties in communication between the actors of the care process.
Key-words: health
education, postpartum period, joint accommodation, newborn.
Resumen
La percepción de
puérperas primíparas sobre los cuidados con el recién nacido
Introducción: En el cotidiano de la asistencia de enfermería, encontramos muchas
puérperas que son madres por primera
vez y necesitan apoyo para
realizar los cuidados con el recién nacido.
Objetivo: Levantar las principales dudas de puérperas al cuidar de su primer hijo y discutir cómo la aplicación
de la Teoría de las Relaciones Interpersonales en enfermería puede
contribuir al aprendizaje del
cuidado materno durante la internación
en el alojamiento
conjunto. Método: Investigación
de campo, descriptiva y cualitativa,
realizada con catorce
puérperas internadas en alojamiento
conjunto de hospitales públicos en
el interior del Estado de Río de Janeiro, seleccionadas aleatoriamente y que llenaron
un cuestionario elaborado
por las investigadoras. La investigación
fue aprobada por el Comité de Ética bajo el dictamen nº 1.715.551. Resultados: La mayoría
de las puérperas presentaban
dudas sobre lactancia,
cuidados con el
coto umbilical, manejo del llanto
y cólicos del recién nacido. Se observó que las puérperas tuvieron experiencias de comunicación y aprendizaje que van al encuentro de la Teoría discutida. Conclusión: El estudio provoca la reflexión
sobre la aplicación de la Teoría de las
Relaciones Interpersonales durante las prácticas del
equipo de enfermería y puede
reducir dificultades en la comunicación
entre los actores del proceso de cuidado.
Palabras-clave: educación
en salud, período post-parto, alojamiento conjunto,
recién nacido.
No cotidiano da
assistência de Enfermagem encontramos muitas puérperas que são mães pela
primeira vez, e é no alojamento conjunto que a equipe de enfermagem terá o
maior contato com estas e o recém-nascido [1]. Compete ao enfermeiro a
orientação, desde a admissão até a alta da maternidade, na tentativa de reduzir
os impactos da insegurança trazida pela maternidade e de demais
responsabilidades com o bebê. O enfermeiro tem o papel de estimular e orientar
a atuação progressiva da mãe no cuidado ao recém-nascido; além disso, deve
realizar visita diária às puérperas, orientando e promovendo a autoconfiança da
mãe quanto ao cuidado com seu filho [2].
A prática de cuidados
e o processo de Enfermagem devem estar ancorados a uma teoria, e uma das
teorias consideradas como referência para a prática da Enfermagem, sobretudo,
para o processo de comunicação em enfermagem, é a Teoria das Relações
Interpessoais, desenvolvida por Hildegard E. Peplau, em 1952. A teórica visualizou o fenômeno de
Enfermagem como um processo interpessoal cujo foco principal está centralizado
na enfermeira e no paciente [3]. Esta teoria habitualmente aplicada a
indivíduos que atravessam um processo de doença pode ser adaptada a indivíduos
saudáveis que necessitem de ajuda na resolução de um problema/situação nova,
como a transição para a parentalidade e/ou adaptação
a um novo membro da família, dado que se caracteriza pela valorização das
relações interpessoais e pela ajuda na aquisição de competências e capacidades
através de um processo de autocompreensão das pessoas
envolvidas [4].
Peplau considera que, na
medida em que cada enfermeira compreenda sua própria função, tanto mais ela
compreenderá a situação do paciente e a forma como esse a concebe. A
Enfermagem, na percepção teórica, é uma relação humana entre uma pessoa que
está enferma ou necessitada de serviços de saúde e uma enfermeira com uma
formação especializada para reconhecer e responder a necessidade de ajuda [3].
Por vivenciar novas
atribuições e apoderar-se, desde a gestação, de novos conhecimentos somados às
suas vivências culturais e comunitárias, a puérpera deve ser instruída pela
enfermeira de modo que se sinta à vontade para exteriorizar seus sentimentos e
dúvidas, e ainda ter seus conhecimentos prévios valorizados a fim de
proporcionar um acolhimento mais humanizado e receptivo, pois como ressalta
Paulo Freire “ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as
possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” [5].
Com intuito de
propiciar uma assistência mais satisfatória e discutir o aprendizado do cuidado
materno para mulheres que deram à luz ao seu primeiro filho, utilizou-se a
Teoria das Relações Interpessoais em Enfermagem e as considerações de Paulo
Freire, com o propósito de embasar às diversas possibilidades do trabalho dos
enfermeiros em dadas situações de dificuldades encontradas pelas mulheres
durante a permanência dessas no alojamento conjunto e o processo de
aprendizagem sobre os cuidados com o recém-nascido.
Desta forma os
objetivos do estudo foram levantar as principais dúvidas de puérperas ao cuidar
de seu primeiro filho e discutir como a aplicação da Teoria das Relações
Interpessoais em Enfermagem pode contribuir para o aprendizado do cuidado
materno durante a internação no alojamento conjunto.
Trata-se de uma
pesquisa de campo, descritiva e qualitativa que segundo Yin “é aquela que
permite representar opiniões e perspectivas das pessoas, nas condições da vida
real” [6].
Os cenários de
pesquisa foram os Alojamentos Conjuntos de dois hospitais públicos do interior
do Estado do Rio de Janeiro nas cidades de Angra dos Reis e Volta Redonda.
Estes espaços são onde o binômio mãe-filho encontram-se
nos primeiros momentos após o nascimento, acompanhados pela equipe de saúde
multiprofissional e, especialmente, pela equipe de Enfermagem 24 horas por dia.
As duas maternidades
contam com equipe médica e de Enfermagem de plantão nas 24 horas e são cenários
de atendimento ao parto de baixo e alto risco. O alojamento conjunto funciona
com equipe técnica de enfermagem que presta atendimento a puérperas e
recém-nascidos.
A coleta de dados foi
realizada através de um questionário, elaborado pelas próprias autoras, aplicado
a quatorze puérperas recrutadas de forma aleatória. Os critérios de inclusão
foram: puérperas primíparas e maiores de 18 anos. Foram excluídas puérperas que
apresentavam, durante a internação, qualquer intercorrência clínica ou
dificuldade para preenchimento do questionário. Foi apresentado o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido e os objetivos da pesquisa antes da coleta de
dados.
Após a coleta de
dados, os mesmos foram lidos e separados por similaridades e apresentados em
forma de tabelas e categorias. Utilizou-se a análise de conteúdo para extrair
os assuntos correspondentes às categorias. As respostas às perguntas abertas
foram organizadas e foi utilizada a expressão Dep.1, Dep.2, e assim por diante
para facilitar a composição da discussão dos dados.
O presente estudo
obedeceu às normas e diretrizes da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de
Saúde (CNS), que regulamenta os aspectos legais para Pesquisas com Seres
Humanos e foi aprovado pelo Comitê de Ética sob número
do Parecer 1.715.551.
Durante a realização
da pesquisa, quatorze puérperas responderam sobre suas
principais dúvidas ao cuidar do RN, entre as alternativas estavam: amamentação,
troca de fraldas, refluxo do bebê, cuidados com o cordão umbilical, banho,
troca de roupas, choro e cólicas, sendo livre para estas a escolha de mais de
uma alternativa.
Os resultados apontam
para: dúvidas das puérperas relativas ao cuidado com o RN durante o processo de
amamentar, cuidados com o coto umbilical, manejo do choro e cólicas do
recém-nascido, entre outros. O objetivo a ser alcançado é de que a enfermeira
consiga identificar e compreender as dificuldades e necessidades da paciente
nesta fase. É essencial que a enfermeira trabalhe em cooperação com a paciente
para solução de dúvidas e melhoria da satisfação com a vivência da maternidade.
O gráfico 1 demonstra as principais dúvidas das
puérperas.
Fonte: Dados da
pesquisa, 2016.
Gráfico
1 - Dúvidas sobre os cuidados com o RN.
Observou-se que a maioria
das puérperas teve seu pré-natal acompanhado pelo enfermeiro (Gráfico 2). A consulta de enfermagem propicia um olhar amplo sobre
as necessidades humanas básicas dos clientes e fortalece a educação em saúde
para o bem-estar do paciente e para sua autonomia.
Fonte: Dados da
pesquisa, 2016.
Gráfico
2 - Acompanhamento pré-natal realizado pelo
enfermeiro.
A maioria do
acompanhamento pré-natal pelo enfermeiro não refletiu na minimização de dúvidas
por parte das puérperas sobre temas que são de relevância, para serem
discutidos nas salas de espera das consultas pré-natais, como os cuidados com
os recém-nascidos.
E ainda quanto à
questão se a gravidez foi desejada ou não, observou-se um número significativo
de puérperas que não estavam planejando a gestação para aquele momento de suas
vidas.
Quadro
1 - Condição da gravidez quanto ao planejamento.
A gravidez não
planejada pode influenciar nos cuidados pré-natais e também nos cuidados com o
RN. A aceitação da mulher frente à situação de mudanças e da responsabilidade
de ser mãe pode ser impactada pela condição de uma gestação planejada ou não.
O planejamento
familiar colabora para a minimização da morbimortalidade materna e infantil, na
medida em que reduz o quantitativo de gestações não desejadas e de abortamentos
provocados, além de contribuir para a saúde reprodutiva e psicológica, dando
oportunidade de escolha do momento ideal para a gestação [7].
O enfermeiro deve
orientar a puérpera quanto à forma correta da pega e posição do RN durante a
amamentação. O corpo do RN deve estar inteiramente de frente para a mãe e bem
próximo. O bebê deve estar alinhado, a cabeça e a coluna em linha reta, no
mesmo eixo. A boca do bebê deve estar de frente para o bico do peito. A mãe
deve apoiar com o braço e mão todo o corpo do RN. Aproximar a boca do RN bem de
frente ao peito, para que ele possa abocanhar, ou seja, colocar a maior parte
da aréola dentro da boca. O queixo do bebê tocando o peito da mãe [8].
As dúvidas em como
cuidar do coto umbilical foram a segunda mais evidente (42,85%). O coto
umbilical deve ser limpo na hora do banho com sabonete neutro e após estar seco
deve ser feito um curativo com álcool a 70%, após a lavagem das mãos. A
puérpera deve ser orientada quanto a sangramento e odor fétido, além da
presença de secreção purulenta no coto umbilical, pois podem indicar presença
de infecção local.
Quanto ao choro e
cólicas do RN, ambas citadas por (28,56%) das participantes, a orientação deve
ser para manter o ambiente calmo, estabelecer a amamentação exclusiva e sob livre demanda, não oferecer substitutos do leite materno
ou qualquer outro líquido, cuidar da higiene e troca de fraldas quando
necessário, e manter mãe e filho próximos.
Necessidades como, a
fome, a fralda suja, frio ou calor, necessidade de atenção, cólicas ou doença,
são as causas mais comuns que levam os bebês a chorar. O choro é uma forma de
comunicação do bebê, desta maneira deve-se aconselhar que a puérpera se mantenha calma; verifique se o bebê não está com fraldas
molhadas, fome, frio ou com calor, ao descartar estas possibilidades pode-se
pensar em cólicas [9].
A questão das cólicas
do recém-nascido também foi citada como preocupação das puérperas em não saber
como atuar. Geralmente as cólicas persistem até os três meses. O choro é
estridente, o bebê se contorce e encolhe as perninhas, fica inquieto, rosto
vermelho e após eliminação dos gases observa-se melhora das dores [9]. Há
desconhecimento da etiologia das cólicas, e o tratamento. Se a criança está
sendo amamentada, pode-se tentar retirar da dieta da mãe o leite de vaca e seus
derivados, tomando-se cuidado de suplementar a mãe com cálcio. Outra opção,
além do leite de vaca, é suprimir da dieta ovos, trigo e nozes da alimentação
materna, um de cada vez. Outras medidas podem ajudar a acalmar a dor, como
massagear a barriga no sentido horário, movimentar as pernas em direção ao
corpo, aplicar compressas secas e mornas, aconchegar o bebê no colo da mãe e
encostar a barriga do bebê na barriga da mãe [10].
A equipe de
enfermagem deve estar atenta ao momento certo para intervir e auxiliar a mãe a desenvolver mais autonomia nos cuidados de banho,
curativo do coto umbilical, troca de fraldas, posicionamento para o conforto do
RN, entre outros, considerando a vontade da mulher e demonstrando que a equipe
está ali para prepará-la, orientá-la e aconselhá-la, e que caso a mesma não se
sinta segura e preparada, os cuidados serão prestados da melhor maneira
possível pelo profissional.
O papel do enfermeiro
não deve se restringir a executar somente técnicas ou procedimentos, mas também
desenvolver uma linha de cuidados abrangente, que implica, entre outros
aspectos, desenvolver a habilidade de comunicação. Deste modo, o uso da
comunicação como instrumento básico do enfermeiro é um meio fundamental para
atender as necessidades da paciente.
Segundo um estudo
realizado a respeito da relevância do pré-natal, as gestantes que o fazem com
enfermeiros, consideram-se satisfeitas com as consultas, devido à forma como se
estabelecem as relações de comunicação, na qual o acolhimento e a escuta são
privilegiados. A consulta de enfermagem no pré-natal tem importante significado
para o cuidado clínico de enfermagem à mulher gestante, tendo em conta que esse
momento é único na vida da mulher [11]. A execução da consulta de Enfermagem é
embasada nos princípios de universalidade, equidade, resolutividade e
integralidade. Considerando que a Consulta de Enfermagem, sendo atividade
privativa do enfermeiro, emprega componentes do método científico para detectar
situações de saúde/doença, prescrever e implementar medidas
de Enfermagem que contribuam para a promoção, prevenção, proteção da saúde,
recuperação e reabilitação do indivíduo, família e comunidade [12].
O diálogo é uma
tecnologia de cuidado em que o enfermeiro atua como moderador no processo de
compreender, compartilhar mensagens enviadas e recebidas. A mensagem e o modo
como se dá seu intercâmbio, atuam como influência no comportamento das pessoas
envolvidas, podendo ser verbal, por meio da linguagem escrita e falada, e não
verbal por manifestações de comportamento não expressas por palavras [13].
A comunicação
enfermeiro-paciente é denominada comunicação terapêutica, pois durante a
comunicação o enfermeiro terá a possibilidade de identificar as necessidades do
paciente em dada situação. Um dos objetivos de se ter uma boa comunicação é
fazer com que os cuidados de saúde possam ser conduzidos das unidades de saúde
para a comunidade.
A educação em saúde
para gestantes, parturientes e puérperas faz parte do dia a dia dos
profissionais de Enfermagem e contribui para a qualidade da assistência
prestada e para qualidade de vida das pessoas assistidas neste processo. Para
que o ambiente de aprendizado no alojamento conjunto se estabeleça acredita-se
na importância do acolhimento da equipe de saúde durante a internação da
puérpera.
Ao refletirmos sobre
a educação de adultos que já detêm uma experiência de vida deve-se considerar
que “a palavra jamais pode ser vista como um dado, mas, é sempre um tema de
debate para todos os participantes” [14]. Acredita-se assim num repensar e na
introdução de novas práticas de saúde junto às puérperas que já tem em sua
bagagem cultural informações de como cuidar do bebê.
Percebeu-se que as
puérperas se sentiram acolhidas pela equipe e foram auxiliadas nos cuidados com
o RN. O ato de acolher vem ao encontro do cuidado humano dispensado pela equipe
de enfermagem aos pacientes e favorece o aprendizado e o bem-estar daqueles que
estão internados. De acordo com a teoria de Peplau, a
díade enfermeiro-paciente estabelece uma meta comum da qual resultam o
crescimento e desenvolvimento pessoal [15]. E o acolhimento pode ser tido como
uma ferramenta de trabalho e mudança em prol do crescimento das equipes de
Enfermagem e das puérperas atendidas.
As falas abaixo demonstram
que as puérperas encontraram um espaço acolhedor no tempo que estavam no
alojamento conjunto relatando atenção por parte da equipe:
“Eles
são bons e acolhedores, me tratam bem, são prestativos e atenciosos. Sempre que
preciso, eles vem”. Puérpera 01
“Todos
até agora são muito atenciosos. Eles tratam a gente bem e tiram todas as minhas
dúvidas”. Puérpera 02
“Me deram bastante atenção, todas elas são boas, sempre
perguntam se estou bem e dão conselhos”. Puérpera 03
O ato de acolher, de
acordo com o Ministério da Saúde, é uma ação existente em todas as relações de
cuidado, nos encontros reais entre trabalhadores de saúde e usuários, nos
feitos de receber e escutar as pessoas, com variações e que facilita o inter-relacionamento
entre as pessoas e torna a construção do saber coletivo possível [16].
O Alojamento Conjunto
proporciona o cuidado materno mais próximo do RN e da equipe de saúde,
facilitando a criação de vínculo entre o binômio mãe-filho
e o aprendizado dos primeiros cuidados. O cuidado profissional realizado num
ambiente de amor, de prazer e de compartilhamento de saberes, é primordial para
“cuidar de quem cuida” e dar a oportunidade da puérpera entregar-se ao cuidado
materno [16].
Já nas falas que se
seguem percebe-se que as mães foram ajudadas e orientadas a cuidar do RN de
forma eficaz e satisfatória, tendo suas necessidades atendidas e ainda
aprenderam com a equipe de saúde os cuidados. Na sua teoria, Peplau opta por descrever o processo de relação
interpessoal da Enfermagem em quatro fases: orientação, identificação,
exploração e resolução. Essas etapas estão sobrepostas e devem ser consideradas
de forma relacionada. Na fase de orientação, o paciente apresenta uma
necessidade e solicita ajuda profissional [15].
“Eles são muito atenciosos e me ajudam bastante”.
Puérpera 12
“Eles estão na hora que eu preciso, dão remédio, procuram
saber como eu e meu filho estamos”. Puérpera 08
“Me ensinam como fazer as coisas
com o bebê e explicam sobre a importância, como lidar com isso e aprender a
cuidar mais do bebê”. Puérpera 13
Já as outras fases
que se seguem são: a identificação – fase em que o indivíduo começa a
experimentar a sensação de ser capaz de lidar com o problema que o aflige. Essa
transformação diminui os sentimentos de desamparo e cria motivação para o
enfrentamento da sua necessidade; a exploração – neste momento o paciente
começa a perceber vantagens do encontro terapêutico, isto é, ele começa a
controlar o problema, e recebe ajuda. Como parte de suas atribuições, cabe ao
enfermeiro utilizar instrumentos de comunicação, como o esclarecimento, a
escuta, a orientação, a interpretação, entre outros, para oferecer recursos
favoráveis à adaptação do paciente; e, por fim, a resolução – momento em que as
necessidades do paciente já foram supridas pelos esforços conjuntos. Nessa
fase, enfermeira e paciente devem desfazer os laços e pôr fim ao relacionamento
terapêutico. Quando a relação é bem-sucedida, o paciente afasta-se da
enfermeira, e torna-se independente, forte e amadurecido [17].
A atitude da puérpera
para sua independência frente ao cuidado com o seu filho decorre da comunicação
aberta entre equipe de Enfermagem e paciente. Segundo Freire, a “dialogação” implica a responsabilidade social e política do
homem [18]. Em se tratando da educação em saúde no alojamento conjunto para o
processo de amamentação eficaz, volta-se o olhar para questões sociais,
ambientais, sanitárias, econômicas que permeiam a prática do aleitamento materno.
Transferindo assim um comprometimento mútuo entre equipe e puérpera para o
fortalecimento do aleitamento como benefício para a sociedade [19].
Nas falas a seguir
percebe-se que a Equipe de enfermagem, segundo as puérperas, esteve presente e
teve a preocupação de prepará-las para momentos posteriores e com autonomia de
suas ações, pois “a postura adotada pela enfermeira interfere diretamente no
que o paciente vai aprender durante o processo de cuidado ao longo de sua
experiência como doente” [15].
“Falaram para não conversar muito e para eu ficar de olho
no bebê porque ele é prematuro”. Puérpera 11
“Durante a gravidez manter uma alimentação saudável.
Depois do parto foi mais o repouso e como amamentar”. Puérpera 02
“Me orientaram como amamentar o bebê.
Como é importante a amamentação e também, como foi parto normal, temos que
saber a hora certa de levantar e cuidar dos pontos”. Puérpera 13
“A
equipe falou sobre amamentação, como segurar o bebê e como cuidar do peito”.
Puérpera 05
No atual cenário das
dificuldades para manutenção da amamentação pelo tempo preconizado pelo
Ministério da Saúde, o aconselhamento dos profissionais de saúde é de
fundamental importância. É indispensável a prestação de cuidados de Enfermagem
voltados a capacitação da puérpera para o
fortalecimento do elo e a importância do contato primário, fortalecendo de
maneira favorável a amamentação precoce e consequentemente, contribuindo na
expansão da amamentação exclusiva [19].
A equipe de
Enfermagem é capaz de proporcionar o aprendizado das puérperas estando ao lado,
assistindo com atenção as necessidades expostas, permitindo o diálogo franco e
aberto sem imposição de rotinas e sim com explicação das vantagens e da
segurança para o binômio mãe-filho quando das adequações
necessárias às práticas de cuidado. A escuta como ferramenta para o cuidado
também é enfatizada por Peplau, ressaltando que a
pessoa não possui apenas necessidades físicas, mas também necessidades
subjetivas para compor seu aprendizado [20].
O bom relacionamento
interpessoal, segundo Peplau, favorecerá a troca de
informações a partir das estratégias utilizadas e da criação de um universo
propicio à identificação dos problemas. Desta forma, observa-se que a Teoria
das Relações Interpessoais em Enfermagem é uma ferramenta potente e que poderá
nortear o trabalho da equipe de Enfermagem e de saúde para o enfrentamento de
problemas potenciais, a fim de trazer qualidade para assistência prestada em
todos os níveis de cuidado.
Este estudo apresenta
como limitação a questão dos cenários para coleta de dados que foram a priori
dois hospitais do interior do estado do Rio de Janeiro, podendo ser ampliado
para outros cenários, a fim de conhecer a partir de outras realidades demais
aplicações da Teoria das Relações Interpessoais de Peplau
para o cuidado de Enfermagem.
Conclui-se que o
manejo e início do processo da amamentação, o cuidado com o coto umbilical e
com o choro do RN foram as principais dúvidas das puérperas que participaram do
estudo. As orientações devem se iniciar no pré-natal, mas é preciso criar um
laço de confiança mútua entre puérpera e profissional. A equipe de Enfermagem
precisa reforçar seu papel de educadora criando espaços de discussão e
contribuindo assim para melhoria da assistência e das práticas de cuidado à
mulher e à criança.
A aplicação das
Teorias de Enfermagem favorece a autonomia do enfermeiro durante suas
intervenções e melhora a qualidade dos processos de trabalho das equipes de
enfermagem. Foi possível, através do estudo, identificar, que durante a
assistência de enfermagem no alojamento conjunto, as fases que compõe a Teoria
de Peplau foram trabalhadas, facilitando a interação
entre equipe e puérpera.
Desta forma este
estudo provoca a reflexão sobre a aplicação da Teoria durante as práticas da
equipe de enfermagem e pode reduzir dificuldades na comunicação entre os atores
do processo de cuidado.
Novos estudos que
deem voz as equipes de saúde sobre suas vivências no alojamento conjunto e
aplicação de Teorias de Enfermagem tornam-se necessários para possibilitar que
a Enfermagem exerça seu papel de educadora de forma efetiva e permanente.