ARTIGO
ORIGINAL
Fatores
que contribuem para a segurança e insegurança do graduando de enfermagem
durante o estágio
Kaline Dellys dos
Santos*, Marcio Antonio de Assis**
*Aluna
do Curso de Graduação em Enfermagem, Universidade de Mogi das Cruzes (UMC),
**Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade de Mogi das
Cruzes (UMC)
Recebido em 2 de junho de 2015; aceito em 08 de fevereiro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Kaline Dellys dos Santos, Rua Padre Lucio Xavier de Castro, 319, 08720-030 Mogi
das Cruzes SP, E-mail: dellys.kaline@gmail.com, Marcio Antonio de Assis: marcioassis80@gmail.com
Resumo
O objetivo do estudo
foi identificar os fatores responsáveis por gerar insegurança nos discentes do
curso de enfermagem durante o primeiro estágio. Trata-se de uma investigação
descritivo-exploratório com abordagem quantitativa realizada no curso de uma
universidade particular. Trinta e nove discentes participaram do estudo
respondendo a um questionário com perguntas abertas e fechadas. Foram
identificados sentimentos relacionados ao próprio estudante, ao paciente e ao
curso, e dentre os fatores mais evidenciados 69% apresentavam-se muito ansiosos
frente à espera para início das práticas, 67% apresentavam sentimento de
ansiedade caracterizado por entrada em ambiente desconhecido e 42% sentimento
de despreparo. Este estudo contribui para refletir sobre as práticas
curriculares dos acadêmicos, proporcionando a visão dos fatores que geram
estresse bem como de meios para amenizá-los.
Palavras-chave: estágio clínico,
ansiedade, fatores desencadeantes.
Abstract
Factors contributing to the security and insecurity of the nursing
student in training
The aim of the study was to identify factors responsible for generating
insecurity in students of nursing program during the first training period. It
is a descriptive and exploratory research with a quantitative approach
performed in a private university. Thirty-nine students participated in the
study by answering a questionnaire with open and closed questions. Feelings
were related to the student himself, the patient and the course, and among the
most evident factors 69% of participants had feelings of anxiety while waiting for
the beginning of the practices, 67% characterized by entry into unfamiliar
environment, and feeling of unpreparedness (42%). This study contributes to
think about the academic practices, providing a vision of the factors that
generate stress and means to attenuate them.
Key-words: nursing training, anxiety, precipitating factors.
Resumen
Los factores que contribuyen a la seguridad y la inseguridad del estudiante de enfermería
durante la pasantía
El objetivo del estudio fue identificar los factores responsables de
generar inseguridad en los estudiantes del programa de enfermería durante la
primera etapa de las prácticas. Se trata de una
investigación descriptiva y exploratoria, con abordaje cuantitativo llevado a
cabo en ese curso en una universidad privada. Treinta y nueve estudiantes participaron en el estudio respondiendo un
cuestionario con preguntas abiertas y cerradas. Se han identificado
sentimientos relacionados con el propio estudiante, el
paciente y el curso, y entre los factores más evidentes el 69% de los
participantes presentaban ansiedad ante la espera del inicio de las pláticas,
el 67% presentaba sentimientos de ansiedad caracterizado por la entrada en
ambiente desconocido, y sensación de falta de preparación (42%). Este estudio
contribuye a reflexionar sobre las prácticas curriculares de académicos,
proporcionando una visión de los factores que generan estrés y los medios para
amenizarlos.
Palabras-clave:
prácticas clínicas, ansiedad, factores desencadenantes.
O estresse é um fator
importante de alteração no desempenho e falha na comunicação entre
estudante/paciente, estudante/professor e estudante/equipe de enfermagem [1].
O estresse geralmente
é desencadeado devido ao relacionamento indivíduo-ambiente e avaliado pelo
indivíduo como desgaste ou excessivo aos seus recursos. O estresse é mais
complicado que o simples mecanismo de estímulo e resposta, concentrando-se não
no enfrentamento da ansiedade, mas, sim, à maneira como o indivíduo, em
questão, percebe a ameaça. Sendo necessária na avaliação considerar o
significado do estressor e os recursos de apoio que o indivíduo tem para
enfrentá-lo [2].
A condição de
estresse comumente gerada em situações que exigem responsabilidade, ação e
estada em ambiente desconhecido, pode se apresentar de forma diferente em cada
indivíduo, servindo como fator de motivação e superação quando em tempo
limitado, já em longos períodos como causa de esgotamento fazendo com que o
indivíduo sinta-se sobre forte pressão com exigências acima da capacidade por
ele apresentada, representando uma ameaça a seu bem-estar, gerando assim um
fator, ao contrário do mencionado anteriormente, desmotivador [1].
No início do estágio
da graduação em enfermagem os alunos tendem a apresentar grande ansiedade
gerada pela entrada em ambiente hospitalar, realização de técnicas e
procedimentos aprendidos na teoria e pela interação com o paciente/família.
Nessa fase o aluno sente o receio de como será recebido pela equipe,
paciente/família e professor [3].
Trata-se de um
período de transição do aluno para o profissional e também uma fonte de
sofrimento e conflitos gerados pela ansiedade, medo de errar, sentimentos
negativos como a impotência, a angústia, comuns à profissão, e despreparo dos
alunos que iniciam o estágio, provavelmente por falha no ensino/aprendizagem.
Esse processo carrega consigo a estressante natureza da transição para o
profissional somada as características de cada acadêmico [4].
Percebe-se que no
processo de formação acadêmica de enfermagem encontra-se de um lado o estresse
gerado pelas exigências curriculares com estágios complexos e entrada brusca em
ambiente desconhecido com situações complexas; e, por outro lado, quando os
acadêmicos seguem para o estágio prático, encontram a insegurança do paciente
frente a um estudante, o despreparo da equipe para realização de trabalho em
grupo e a dificuldade do professor em acompanhar os graduandos durante os
processos.
Sabe-se, ainda, que durante as
disciplinas teóricas do Curso de Graduação em Enfermagem são apresentados
inúmeros procedimentos e técnicas relacionadas aos cuidados do paciente
justamente para prepará-lo para esses desafios, porém, mesmo com essa
abordagem, ao se deparar com a prática, o graduando apresenta uma série de
dificuldades e inseguranças.
O ensino
técnico-científico dos cursos de Graduação em Enfermagem está voltado para a
visão e assistência do ser biológico, focando as suas necessidades e
desconsiderando o ser humano tanto do paciente como do profissional que o
assiste [5].
Dessa forma, durante
os estágios, os alunos acabam por ter contato maior com os técnicos e
auxiliares de enfermagem, que muitas vezes não estão preparados para o trabalho
em equipe e o estudante não é bem aceito no local, o que ocasiona um choque
entre a necessidade de desenvolver a assistência e a de aprendizado [6].
Na prática, o aluno
se depara com a exigência de uma ação interativa de altruísmo, que exige
reflexão, fazendo com que a assistência de enfermagem das disciplinas teóricas
calcada em fundamentos e teorias terapêuticas passe a ser uma realidade
sociocultural que envolve o cuidado de corpos e mentes [5].
Sendo assim, é
importante ter o conhecimento das situações que contribuem para as dificuldades
encontradas pelos graduandos de enfermagem em sua primeira experiência prática
de assistência, para que isso sirva como subsídio para a elaboração de um
método voltado a resolução das lacunas deixadas durante a sua formação ou que
não foram supridas no decorrer das disciplinas teóricas.
Dessa forma,
compreender o processo das experiências, onde estão as
falhas durante o aprendizado teórico e a importância do primeiro contato com o
paciente e ambiente é fundamental para amenizar possíveis efeitos negativos que
possam ser gerados durante o primeiro estágio do graduando de enfermagem.
Com
isso, a
identificação das situações e falhas, que
colaboram para a geração de situações
desconfortáveis e dificuldades dos alunos, contribuirá
não só na melhora do
desempenho do discente, mas também auxiliará o docente na
amenização dos
sentimentos de frustração, por meio da melhora na
interação entre ambos,
permitindo, assim, um melhor preparo para a entrada no
ambiente com suas complexas exigências, que são fortes fatores de estresse
geradores de conflitos pessoais e interpessoais.
Tratou-se de um
estudo descritivo-exploratório com abordagem quantitativa. Realizado em uma
instituição privada de ensino superior do município de Mogi das Cruzes/SP.
Participaram deste estudo 39 alunos regularmente matriculados entre o 5° e 8°
semestre do curso de graduação em Enfermagem, sem experiência prévia na área,
que realizaram ou estavam realizando estágio no curso de graduação. A coleta de
dados foi realizada por meio da aplicação de um questionário aos graduandos
voltado a levantar informações pertinentes às pessoas (graduandos de
enfermagem), no sentido de conhecer as dificuldades encontradas por eles no
momento da experiência dos primeiros procedimentos durante a prática de
estágio. Os resultados obtidos foram descritos em números absolutos e em forma
de percentual.
Dos 39 discentes que aceitaram responder
ao questionário nota-se uma faixa etária média de 25 anos, com predominância do
gênero feminino (92%), já compreendido pela história natural das Escolas de
Enfermagem, e minoria masculina 8%.
O estudo possibilitou
notar a ansiedade apresentada por esses alunos frente ao primeiro contato com o
ambiente hospitalar, evidenciado pelas respostas obtidas dos participantes
deste estudo, dos quais 69% apresentavam-se muito ansiosos frente à espera para
início das práticas.
A ansiedade pode ser
considerada como uma reação natural que é produzida diante de certos tipos de
situações nas quais a pessoa necessitaria de recursos necessários às mudanças
no cotidiano. Em estudos realizados com estudantes de enfermagem a ansiedade é,
ainda, referida como uma forma de estresse que aparece ao desenvolverem
atividades práticas para as quais não se sentem preparados [1].
O que permite
entender, assim, que a entrada dos alunos numa situação desconhecida é o que
desencadeia tensões e ansiedade, que podem interferir ou não de modo negativo
no aprendizado.
Ao serem questionados
sobre as possíveis causas dessa ansiedade, 67% a relacionaram com a expectativa
para conhecer a dinâmica hospitalar, conforme demonstrado na tabela I.
Tabela
I - Apresentação das causas de sentimento de
ansiedade pelos alunos frente à espera pela realização das práticas de cuidados
com pacientes, Mogi das Cruzes/SP, 2015.
Colocada em questão a
pergunta referente às emoções negativas no primeiro estágio clínico,
observaram-se, nos discursos, sentimentos negativos como medo, ansiedade,
piedade, necessidade de paciência e empatia. Pois, por mais que saibam a teoria
e tenham treinado as técnicas em laboratórios, não tiveram contato anterior com
paciente para que essa ansiedade, ocasionada pela falta de experiência e pelo
medo do desconhecido diminuísse [1,4].
Além da ansiedade, o
início das práticas assistenciais em ambiente hospitalar acarreta mudanças na
vida diária dos estudantes de enfermagem. Fato notado nos dados obtidos, dos
quais 92% dos discentes relataram que sentiram mudanças no cotidiano acadêmico,
sendo caracterizada pela visão da realidade prática (29%), a necessidade de
conhecimento adicional (29%) e ao acréscimo de conhecimento prático/teórico
(41%).
A ansiedade e o
estresse são associados pelos estudantes a sua inexperiência, ao despreparo em
lidar com situações críticas e a interferência das horas exigidas para estudos
teóricos, não só referente às exigências de sala de aula, como também, aos
conhecimentos específicos exigidos e adquiridos em campo prático [1].
A mudança, assim, é
sentida no momento em que o estudante entra em contato direto com a realidade
do campo prático que permite o desenvolvimento pessoal/profissional e a
consolidação de conhecimentos adquiridos no transcorrer do curso, por meio da
relação teoria-prática exigida do aluno, denotando assim maior dedicação. A
dinâmica exigida, o tempo destinado à permanência no campo de estágio e a
necessidade de determinadas habilidades podem ser encarados como somatórios as
mudanças relatadas.
Assim, ao serem
questionados quanto ao sentimento de preparo para o início do estágio, 56% dos
participantes referiram-se não preparados, associando essa característica à
falta de aulas práticas (91%), ao sentimento de despreparo (45%) e à
necessidade de buscar novos conhecimentos (27%).
Os acadêmicos deixam,
assim, explícitos sentimentos, como insegurança e medo, ao notarem que terão
que agir com postura profissional junto ao paciente. Sentimentos que se
justificam pela dificuldade de comunicação e interação entre paciente/aluno, cuja
maior preocupação é a sensação de prejuízo que pode ser causado ao paciente,
por suas inabilidades e conhecimentos ainda limitados.
Os sentimentos de
preparo são associados ao processo ensino-aprendizagem, relacionado ao regime
tutorial e institucional, com boa oferta de base para ensino prático/teórico e
supervisão por um profissional capaz de atitudes que permitam o diálogo com o
discente, sem preconceitos entre senso comum/ciência que contribuem para o
entendimento da realidade. Sendo assim, capaz de proporcionar maior segurança
ao aluno [7-9].
Percebe-se que o
processo de aprendizagem prática pode passar por diversos tipos de influências
e, para minimizar impactos gerados pelo novo ambiente e pelas incertezas
vivenciadas pelo estagiário é necessário que se tenha o enfoque em estratégias
que minimizem essas características, como a possibilidade de encontrar um bom
acolhimento dentro do serviço no qual será inserido. Este foi um dos pontos
levantados junto aos discentes que revelaram que foram bem acolhidos apenas por
alguns membros da equipe (33%), 36% foram acolhidos e 31% não se sentiram
acolhidos.
A entrada do
estudante no serviço de saúde pode acarretar mudanças na rotina do setor. Isso
afeta diretamente o funcionário que vê sua necessidade de desenvolver tarefas
cotidianas chocar-se com as necessidades dos alunos para o aprendizado, e disso
pode advir o conflito. Cabendo ao professor se fazer presente neste momento
dando suporte, quanto ao empenho do próprio aluno e ao auxílio do enfermeiro
atuante [1].
Dessa forma, nota-se,
tanto pelo apresentado na literatura quanto pelo obtido no estudo, a
necessidade das atividades práticas serem realizadas de maneira adequada,
educativas e proveitosas para quem as está aprendendo,
é imprescindível um ambiente que favoreça a sua permanência e proporcione
tranquilidade. Com isso, os alunos foram questionados sobre alguns aspectos
como o desconforto frente à equipe e 54% apresentaram em algum momento essa
sensação dentro do serviço de saúde. Esse desconforto sentido pelos graduandos
foi associado à baixa receptividade (57%), ao sentimento de despreparo (36%),
ao sentimento de estar atrapalhando (21%) e ao fato de não conhecer a equipe
(14%).
Verifica-se, então,
que os alunos precisam receber apoio da equipe como um todo para sentirem-se
mais seguros em realizar as tarefas propostas. Apoio este que pode ser
fornecido pela compreensão e paciência da equipe com o compromisso
docente/discente, para remanejar funções em direção aos alunos, oportunizando a
prática tão esperada por estes [10].
Todavia o ambiente de
estágio, no qual o acadêmico está inserido, afeta diretamente os resultados do
seu aprendizado. Assim, em relação à estrutura da(s) instituição(s), 31% dos
discentes relataram sentir-se desconfortáveis,
associando a divergência entre o ensinado na teoria e o vivenciado na prática
(43%), fator intimamente ligado a falta de insumos, citado por 86% dos
participantes.
É possível notar a
preocupação dos alunos com a equipe e a forma de trabalho dela, já que, muitas
vezes, é diferente da que é exigida pelos professores, que ensinam a
necessidade de atitudes éticas, da prática de técnicas corretas que não afetem
a integridade do cliente, o que, a maioria das vezes, diverge da experiência em
campo, que nem sempre está em concordância com essas recomendações.
No cotidiano dos
serviços de saúde muitas vezes os profissionais justificam a forma como
desenvolvem suas práticas laborais com base na infraestrutura do local de
trabalho. Para a realização da prática assistencial, faz-se necessário, entre
outras condições, a garantia de infraestrutura apropriada, com disponibilidade
de equipamentos adequados, de recursos humanos capacitados e de materiais e
insumos suficientes à assistência prestada [11].
Nesse contexto a
relação aluno/professor torna-se um meio que minimiza ou potencializa as
situações e implicações responsáveis por gerar desconforto, bem como as que
geram ansiedade e medo. Com base nessa relação, 92% dos discentes relataram ter
uma boa relação com o docente, relacionando tal afirmação à acessibilidade do
professor para o esclarecimento de dúvidas (85%), ao bom suporte oferecido pelo
professor (54%), a paciência e disposição para ensinar (46%), a prestação de
auxílio sempre que solicitado e ao feedback
apresentado no desempenho dos alunos (31% respectivamente). Outros 5%
classificaram a relação como regular, associando ao pouco contato com o
professor.
Nota-se a necessidade
de o docente estar voltado ao processo do ensino-aprendizagem que é o seu
próprio papel no contexto da educação dos discentes, na prática profissional e
no relacionamento interpessoal, uma vez que este possui papel fundamental não
apenas no processo de ensino-aprendizagem de temas técnicos, como também na
formação ética do caráter que será projetado nas atitudes do futuro
profissional. Deve-se focalizar um ensino reflexivo, a fim de desafiar,
estimular e ajudar os alunos na construção de habilidades e competências que
fortaleçam o compromisso profissional [3,5,10].
Em relação ao
desconforto sentido, na relação professor/aluno, 41% dos participantes
sentiram-no relacionando-o ao sentimento de despreparo, insegurança frente à
avaliação e medo de errar (21%), a ansiedade frente ao procedimento e a pouca
liberdade com o professor (14%).
Levando-se em conta
que o docente funciona como um modelo para o graduando, conduzindo e
orientando, este, a uma instrumentalização para formação de futuros
profissionais da saúde, o docente deve estar voltado ao processo de
ensino-aprendizagem, com o intuito de transmitir todo o arcabouço teórico e
prático, capacitando o aluno a assistência de qualidade e estabelecimento de
vínculo terapêutico com o paciente.
Neste contexto, os
discentes foram questionados em relação ao contato com o paciente, 74%
referiram ter tido bom contato, atribuindo-o ao acolhimento e colaboração do
paciente (100%), boa comunicação (58%), a troca de experiência (17%) e ao
estabelecimento de vínculo (17%). Já 23% relataram experiência regular, dos
quais 43% associaram à insegurança na abordagem, ao empecilho da ansiedade
(29%) e ao pouco contato com o paciente (29%). Enquanto 3% a classificaram como
ruim, atribuindo o constrangimento como fator de classificação.
Os acadêmicos deixam
explícitos sentimentos, como insegurança e medo, quando percebem que terão que
agir junto ao paciente com a postura de um enfermeiro. Esses sentimentos
justificam-se pelo medo do novo, do desconhecido, justificadas pela descoberta
do processo de cuidar no início da prática profissional. Por isso, para
amenizar a situação, o desenvolvimento da competência de comunicação faz-se
cada vez mais necessária, pois somente assim é possível continuar oferecendo
cuidado interdisciplinar, personalizado, competente e humanitário [1,5,7].
Estando a relação
intimamente ligada aos fatores geradores de desconforto, questionou-se sobre
este sentimento frente ao paciente e obteve-se de 46% dos participantes uma
relação com esse aspecto, atribuindo-o, em sua maioria (33%), a ansiedade
gerada pelo primeiro contato.
A relação do discente
com o grupo em que está inserido pode influenciar, significativamente na
ampliação ou diminuição da ansiedade, uma vez que a união do grupo promove o
auxílio mútuo e amplia as possibilidades de aprendizado por debate e troca de
experiências. Questionados, então, quanto à sensação de desconforto frente ao
grupo, 15% associaram-na à falta de união e interesse, pressão entre os membros
para realização de procedimentos e ao sentimento de isolamento (17%).
Considerando-se as situações que geraram desconforto, 69% relataram não tê-las,
enquanto 31% relataram senti-las com impactos associados, relacionando-as a
falta de técnica durante a realização de procedimentos (31%) e a falta de insumos
(15%).
A insegurança pode
ser uma grande geradora de ansiedade, principalmente quando está ligada ao
preparo técnico para realização das atividades e procedimentos associados ao
medo de errar e causar algum prejuízo ao paciente sob seus cuidados. No
entanto, quando auxiliados, os estudantes têm competência técnica e capacidade
para resolver os problemas junto com os colegas de grupo e professor. Quando
recebem o apoio deles a ansiedade diminui e os estágios passam a ser mais
simples e mais proveitosos [1].
Nota-se até aqui a
complexidade do estudar enfermagem e do passar pelos campos de estágios para se
obter o grau de enfermeiro. Este momento torna-se um
divisor de águas, devido à confrontação com a realidade da profissão, fazendo
com que os alunos sem experiência sintam maior impacto nesse processo. Isso
levou-nos a questionar sobre a cogitação da desistência do curso,
constatando-se que apenas 8% dos discentes já pensaram em desistir devido a
dificuldades de adaptação (20%), a falta de campo para início do estágio (20%),
a baixa quantidade de aulas práticas ministradas (20%), a dificuldade na
realização de procedimentos (20%) e a visão da responsabilidade que cabe ao
enfermeiro (20%).
Quanto aos
procedimentos de maior e menor complexidade, identificados durante o processo
de estágio, os discentes revelaram ter dificuldades maiores durante a
realização de exame físico (46%), anotações de enfermagem (41%), punção venosa
(38%), banho no leito (38%), curativos (38%), passagem de sonda (38%),
administração de medicamentos (38%) e troca de bolsa de colostomia (33%).
Destacando que os procedimentos ainda não realizados pelos participantes não
foram assinalados pelos mesmos.
Quanto à realização
de procedimentos, os discentes associaram o conhecimento teórico do
procedimento (56%), boa habilidade de comunicação (41%), habilidades
desenvolvidas em laboratório (38%), boa receptividade da equipe (33%), presença
do professor e conhecimentos adquiridos em sala de aula (31%) como fatores geradores
de maior ansiedade. Além disso, associaram a diminuição da ansiedade à boa
relação com o grupo de estágio (90%), abertura para o processo de
ensino/aprendizagem proporcionado pelo professor (85%), boa receptividade do
paciente/família (69%), a presença do professor (69%) e ao conhecimento
adquirido em aulas teóricas (69%).
Todos esses fatores
geradores de ansiedade contribuem para o aparecimento de sentimentos negativos.
Por mais que tenham conhecimento teórico, relatam deficiência no conhecimento
prático, por pouco treinamento em laboratório e pouco ou nenhum contato com o
paciente, fator que não colabora para a diminuição da ansiedade frente à falta
de experiência. Essa ansiedade é causada pela entrada em ambiente hospitalar
como futuro profissional, ampliada ou ocasionada pela percepção de aspectos
externos, que podem ser tanto negativos quanto positivos.
Os aspectos positivos
são descritos pelos discentes como sendo aplicação do conhecimento teórico
(42%), possibilidade de contato como paciente (38%), possibilidade de ampliação
do conhecimento (35%), maior segurança (19%), entre outros. Já os aspectos
negativos, em sua maioria (40%) são associados à baixa oportunidade para
realização de procedimentos.
Com isso, os
discentes foram questionados sobre as possíveis modificações para melhoria das
práticas, os quais sugeriram, em sua maioria, maior número de aulas práticas
(65%) e ampliação do tempo de estágio (60%).
Pode-se perceber,
assim, a necessidade que esses alunos possuem frente a habilidades técnicas,
uma vez que o processo de formação, muitas vezes, deixa lacunas nesse sentido,
seja pela grande quantidade de alunos em sala, o que dificulta aulas em
laboratório, seja por falta de estrutura ou baixa oportunidade em campo. Fato
evidenciado pela colocação, como ponto de melhoria, o aumento de aulas
práticas, bem como o aumento do tempo de estágio, possível tentativa de maior
realização de procedimentos, tempo de contato com paciente e visualização da
prática profissional.
Assim é possível
perceber uma tríade importante transmissão-participação-atenção no âmbito da
sala de aula, ou seja, fatores que interligados concebem uma compreensão do
conhecimento transmitido que extrapola a formação profissional para a formação
do ser humano como um todo, capaz de contribuir para promoção, recuperação e
reabilitação da saúde do indivíduo, família e comunidade [12].
O objetivo deste
trabalho foi conhecer os fatores que geram maior e menor insegurança nos
discentes durante o seu primeiro estágio em campo hospitalar. Os resultados
obtidos possibilitaram reflexões referentes ao ensino e desenvolvimento de
procedimentos técnicos. Nota-se, segundo relatos, a importância de um bom
desenvolvimento de aulas práticas que permitam um processo educacional que
incite a transmissão, participação e atenção do discente. De forma que
possibilite um sistema de ensino/aprendizagem voltado a atender as dificuldades
e anseios do aluno, bem como a auxiliar em seu processo de formação um
profissional capaz de se adaptar ao constante contato com situações
estressantes presentes nos serviços de enfermagem, sem, contudo, perder a
qualidade da assistência prestada.