Gestação
em mulheres com anemia falciforme: uma revisão sobre as complicações maternas e
fetais
Izabella de Oliveira
Santana*, Natália Paiva Guimarães*, Rodrigo Almeida Bastos, M.Sc.**
*Discente
do curso de Enfermagem da Faculdade Pitágoras de Feira de Santana/BA,
**Enfermeiro, Especialista em Acupuntura, Doutorando em tocoginecologia pela
Universidade Estadual de Campinas/SP
Recebido em 30 de
julho de 2016; aceito em 21 de fevereiro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Izabella de Oliveira Santana, Av. José Falcão da Silva, 1283 Queimadinha,
44050-512 Feira de Santana BA, E-mail: izabella.oliveirafsa@hotmail.com, Rodrigo
Almeida Bastos:almeidabastos.rodrigo@gmail.com
Resumo
Introdução: As gestantes portadoras
de falcemia estão sujeitas a terem complicações desde a gestação até o
puerpério, visto que a fisiopatologia da doença interfere negativamente na
gestação. O objetivo deste trabalho, portanto, foi investigar na literatura as
principais dificuldades vividas pelas portadoras de falcemia durante o período
gestacional, identificando as principais complicações maternas e fetais. Material e métodos: Trata-se de uma
revisão da literatura cujos artigos foram encontrados nas bases de dados
indexados na Biblioteca Virtual da Saúde, acessada em setembro de 2015. Resultados: A leitura dos artigos
selecionados evidenciou que, durante a gestação, tanto as mulheres quanto o
embrião - ou feto - estão sujeitos a complicações. Diante disso, foram criadas
três categorias temáticas: Agravos clínicos da falcemia durante a gestação; Aspectos emocionais das
falcêmicas diante da gestação; Complicações obstétricas e fetais. Conclusão: As gestantes com todos estes
fatores complicadores devem ser observadas em sua rotina diária para que haja
um acesso rápido ao sistema de atenção à saúde.
Palavras-chave: anemia falciforme,
saúde da mulher, gestação.
Abstract
Pregnancy in women with sickle cell disease: a review of maternal and
fetal complications
Introduction: The pregnant women with falcemia
are subject to have complications from pregnancy to the postpartum period as
the pathophysiology of the disease interfere negatively in pregnancy.
Therefore, the objective of this work was to investigate in the literature the
main difficulties experienced by women with sickle cell anemia during
pregnancy, identifying the main maternal and fetal complications. Methods: This
study deals with a literature review, being conducted through and materials
found in indexed databases Virtual Health Library, accessed in September 2015.
The reading of selected articles showed that, during pregnancy, both women and
the embryo - or fetus - are subject to complications. Results: The reading of
selected articles showed that, during pregnancy, both women and the embryo - or
fetus - are subject to complications. Thus, the authors created three thematic
categories: Clinical Diseases of falcemia during
pregnancy; Emotional aspects of sickle before pregnancy; Obstetrical
complications. Conclusion: Pregnant women with all these complicating factors
should be observed in daily routine so that there is quick access to the health
care system.
Key-words: sickle cell
anemia, women's health, pregnancy.
Resumen
El embarazo en mujeres con anemia de células
falciformes: una revisión de las complicaciones maternas y fetales
Introducción: Las
mujeres embarazadas con falcemia están sujetas a tener complicaciones durante el embarazo en el período post-parto, ya que la
fisiopatología de la enfermedad interfiere negativamente en el embarazo. El
objetivo de este estudio fue, por tanto, investigar en la
literatura las principales dificultades de las mujeres con falcemia durante el
embarazo, la identificación de las principales complicaciones maternas y
fetales. Métodos: El presente estudio es una revisión
de la literatura cuyos estudios fueron encontrados en las bases de datos
indexados en la Biblioteca Virtual de Salud, en septiembre de 2015. Resultados:
La lectura de los artículos seleccionados mostró que durante el
embarazo, las mujeres y el embrión - o el feto - están sujetos a
complicaciones. Por lo tanto, se ha creado tres categorías temáticas:
Enfermedades clínicas de falcemia durante el embarazo;
Aspectos emocionales de la anemia falciforme antes del embarazo; Complicaciones
obstétricas y fetales. Conclusión: Las mujeres embarazadas con todos estos
factores de complicación se deben observar en su rutina diaria para que haya un
acceso rápido al sistema de salud.
Palabras-clave: anemia de células
falciformes, salud de la mujer, embarazo.
A gestação é um é um
processo historicamente observado com caráter de idealização pela maioria das
mulheres, período no qual ocorre a preparação para a maternidade. Porém, em
alguns casos, a gravidez é sinônimo de sofrimento,
como nas portadoras de anemia falciforme, as quais enfrentam complicações
obstétricas, neonatais e hematológicas, visto que esta patologia se agrava
durante a gestação [1,2].
A doença falciforme é
uma patologia genética, que tem que como característica, em nível
citopatológico, a hemácia em forma de foice. Esse formato é resultante da
presença da hemoglobina S, a qual sofre polimerização sob
baixas tensões de oxigênio, deformando as hemácias. A existência desses
glóbulos vermelhos deformados - ou falcizados - ocasiona problemas como crises
álgicas, crises vaso-oclusivas ou hemolíticas. Na
gestação, o quadro torna-se mais preocupante, pois existe a relação orgânica
com o feto, o qual é diretamente afetado. O processo de afecção do feto pela
anemia falciforme materna ocorre devido ao quadro clínico da falcemia, que é
descompensado pelas alterações fisiológicas da gestação [3].
A gestante portadora
de falcemia pode ter complicações desde a gestação até o puerpério, o que
significa que acompanhamento intenso e uma visão integral a essa paciente são
requeridos, direcionados a métodos preventivos de agravos. Estudos mostram uma
dificuldade na aplicação de tratamento à falcemia pelos profissionais de saúde,
haja vista as manifestações da patologia. Em se tratando de gestantes, as
possibilidades de intervenção ficam ainda mais delicadas, pois durante a
gestação há restrições e particularidades a serem consideradas [4].
Além da
potencialização das manifestações clínicas da falcemia durante a gestação, o
feto é prejudicado pela diminuição da oferta de substratos. A placenta é
diferenciada em tamanho, localização e aderência à parede uterina. A gestante
falcêmica está sujeita a maior índice de aborto, retardo de crescimento
intrauterino, parto prematuro e mortalidade perinatal [5].
A relevância da
gestação e de seus impactos na vida da mulher é considerada desde a criação das
primeiras políticas públicas específica para estas. Atualmente temos a Política
Nacional de Atenção Integral a Saúde da Mulher (PNAISM) que busca um cuidado
integral a essa mulher com uma maior abrangência, porém prioriza ainda os
cuidados adequados das gestantes a fim de evitar complicações durante o ciclo
gravídico-puerperal. Além disso, temos as políticas públicas voltadas para a
população negra, com anemia falciforme, que buscam garantir os direitos dos
negros, considerando os aspectos negativos que podem influenciar na sua saúde e
respeitando suas particularidades biológicas. Tratando-se do período
reprodutivo, em que aponta a necessidade do acesso ao serviço de saúde de boa
qualidade durante toda a gravidez, parto e puerpério [5].
Diante das possíveis
dificuldades que a gestante portadora de falcemia pode encontrar durante sua
gravidez, podemos destacar o aspecto psicológico que pode ser afetado, a
depender de como ela enfrenta tais problemas. As mulheres no período
gestacional encontram-se mais frágeis e, no caso das portadoras de anemia
falciforme, esse quadro pode ser potencializado, pois além do sofrimento
físico, vivem apreensivas em relação à evolução da gravidez [1].
Sendo assim, visto
que a falcemia é uma doença hereditária comum no Brasil e de grande impactos
biopsicossocial no processo gravídico da mulher, justifica-se a relevância de
estudos que investiguem e evidenciem as dificuldades vivenciadas por essas
mulheres no período tão relevante de suas vidas. Estima-se que no país há um crescente
número de casos de gestantes falcêmicas, evidenciando a necessidade de por em
pauta as discussões sobre suas complicações e, consequentemente, possíveis
formas de pensar a prevenção dos riscos e agravos [6,7].
A pergunta
disparadora desta investigação foi: Quais as principais complicações
vivenciadas pelas portadoras de falcemia durante o período gestacional,
evidenciadas na literatura? O objetivo deste trabalho, portanto, foi
investigar, através de uma revisão da literatura, as principais dificuldades
vividas pelas portadoras de falcemia durante o período gestacional,
identificando as principais complicações maternas e fetais. Foram consideradas
as complicações físicas e psicológicas dessas mulheres.
O presente estudo
trata-se de uma revisão de literatura, sendo uma pesquisa desenvolvida a partir
de materiais já elaborados, constituído principalmente de livros e artigos
científicos [8]. A pesquisa foi realizada através de materiais encontrados nas
bases de dados indexadas na Biblioteca Virtual da Saúde, acessada em setembro
de 2015. Foram utilizados como descritores: “Anemia Falciforme” and “Gestação”,
“Mulher” and “Anemia Falciforme” (Figura I).
Os critérios de
inclusão foram: 1) artigos completos em português; 2) publicados nos últimos
dez anos; 3) que trouxessem informações sobre gestação em portadoras de
Falcemia. Os critérios de exclusão foram os seguintes: 1) Descritores
incompletos ou em idiomas que não os selecionados; 2) Inexistência de resumo
nas bases de dados selecionadas; 3) Estudos com desenho de pesquisa pouco
definido e explicitado.
A partir desse
filtro, a busca inicial contou com 14 (catorze) artigos, dos quais foram
excluídos aqueles repetidos e cuja leitura do título denotasse fuga do tema de
discussão proposto por esse estudo. Foram selecionados 10 (dez), nos quais
foram feitas leituras do resumo de cada um deles pelos autores deste estudo,
excluindo-se 04 (quatro) artigos por não se encaixarem na proposta de
discussão. Após esta nova etapa de seleção, foram
selecionados 06 (seis) artigos para leitura completa do texto. Após as leituras
completas, todos os 06 (seis) foram selecionados e incluídos como resultados
deste estudo. A coleta de dados foi realizada através da leitura exploratória,
seletiva, e registros para posterior análise e interpretação dos dados. Os
dados foram dispostos nos resultados em formato de categorias temáticas, as
quais foram discutidas com a literatura.
Os artigos
selecionados foram lidos na íntegra, sendo sistematizadas suas principais
características. A princípio, foram construídas duas tabelas: na primeira, a
identificação dos artigos selecionados (nomes dos autores, títulos dos artigos,
referência, ano e país onde a pesquisa foi desenvolvida); na segunda, análise
dos dados obtidos. Optou-se por uma visão integrativa dos resultados,
realizando-se a discussão das informações procurando destacar as principais
implicações das análises realizadas para o contexto científico e assistencial.
Figura
I - Fluxograma do processo de seleção dos
artigos pesquisados.
Diante dos resultados
obtidos através da seleção de artigos (Tabela I), percebeu-se que as
metodologias utilizadas para estudar as questões relacionadas à anemia
falciforme e gestação foram variadas. Em maioria, os estudos de campo tanto
qualitativos quanto quantitativos trouxeram resultados publicados em revistas
de impacto nacional e internacional. Denota-se, portanto, que a discussão em
torno da temática está se disseminando nas diversas formas de questões de
pesquisa. Percebeu-se, de forma igualmente importante, a presença de estudos
teóricos e de revisão bibliográfica, fortalecendo as questões conceituais do
tema.
Tabela
I - Descrição dos resultados da busca de artigos
segundo filtragem descrita na seção de método.
*Segundo normas
Vancouver.
Os resultados obtidos
através da revisão dos materiais analisados (Tabela II) permitiram a observação
de formas diferentes de complicações, sendo elas: Clínicas, emocionais e
obstétrico-fetais.
Tabela
II -
Pré-análise de artigos selecionados
segundo método descrito.
*Segundo normas
Vancouver.
A leitura dos artigos
selecionados evidenciou que, durante a gestação, tanto as mulheres quanto o
embrião - ou feto - estão sujeitos a complicações. Estas complicações podem
ocorrer durante todas as fases da gravidez, durante o processo de parto ou no
puerpério. Diante disso, foram criadas três categorias temáticas: Agravos
clínicos da falcemia durante a gestação; Aspectos emocionais das falcêmicas
diante da gestação; Complicações obstétricas e fetais. Cada uma delas trata
especificamente um tipo de dificuldade e/ou complicações de acordo com os
resultados e encontrado na pré-análise.
Agravos
clínicos da falcemia durante a gestação
Esta primeira
categoria refere-se às manifestações mais frequentes da doença falciforme no
período gestacional. Durante a gestação ocorrem mudanças anatômicas e
fisiológicas na mulher, influenciando negativamente na falcemia, visto que os
sintomas clínicos da patologia são agravados, trazendo a essas mulheres muito
sofrimento [15].
Durante a gestação a infecção do trato
urinário pode ocorre em aproximadamente 50% das gestantes. É um índice
preocupante, visto que esta complicação pode causar sérias consequências para a
gestante e para o feto. Dentre estas consequências, destacam-se nos estudos
investigados: o trabalho de parto pré-termo, rotura prematura de membranas,
recém-nascidos de baixo peso, restrição de crescimento intrauterino, retardo
mental na infância, além do óbito perinatal. Nesses casos ainda ocorre um maior
incidência de bacteriúria assintomática, o que aumenta o risco para
agravamentos das infecções [15,16].
As
crises dolorosas,
motivo relevante da baixa qualidade de vida dos portadores de falcemia,
tornam-se frequentes e potencializadas durante a
gestação. Estão associadas à
isquemia de órgãos que resulta da
falcização dos eritrócitos. Essas crises
álgicas são fatores importantes para internamentos
durante a gestação, visto
que essa paciente necessita de hidratação venosa e
controle da dor. Os
episódios de dor devem ser avaliados com cuidado, já que
a vaso-oclusão,
causadora comum das dores, pode trazer complicações
secundárias. Logo, essas
mulheres estão sujeitas a falência de múltiplos
órgãos, diminuição da função
pulmonar, hepática e renal [10,15].
Outro sintoma que é
agravado durante a gestação é a anemia, que aumenta devido à hemodiluição
fisiológica da gestação. No entanto, este risco de anemia fisiológica quando
somado à hemólise devido à falcemia, ocasiona tanto problemas para mãe quanto
para o feto. Há uma diminuição no volume placentário, diminuindo nutrientes
para o feto e causando anormalidade na membrana placentária. A anemia também é
um dos fatores que levam essas mulheres a estarem em um longo período
hospitalizadas e em uso de hemotransfusão [11,14].
Aspectos
emocionais das falcêmicas diante da gestação
Esta segunda
categoria foi criada a partir da observação dos estudos que trazem questões
psicológicas das gestantes portadoras de anemia falciforme. Trata- se do
emocional desta gestante, visto que passam por muitos momentos difíceis,
durante um período de maior sensibilidade. Vários autores compreendem o período
gestacional como um momento de preparação psicológica para a maternidade, logo
sentimentos negativos nessa fase podem trazer consequência para esta como
mulher e como mãe [1].
Os artigos
apresentados neste estudo observam que o sentimento dessas mulheres durante
esse período é de insegurança, medo e preocupação. Temem pela sua vida, pela
vida de seu filho, e pela possibilidade deste nascer falcêmico [9,13]. Os medos
dessas mulheres surgem das intercorrências que ocorrem durante a gravidez, na
qual precisam de atendimentos médicos frequentemente para manejo e sintomas e
complicações da doença. Os principais medos apontados são de morrer durante o
parto, do recém- nascido não sobreviver e de que seus filhos tenham a
patologia, visando o sofrimento já passado. Apesar do desejo de ser mãe de
muitas dessas mulheres, é um processo marcado por preocupações, tristezas e
expectativas negativas [13,15]. Outro sentimento negativo apontado é o de
frustração, visto que o desejo de ser mãe é frustrado pelo aborto espontâneo.
Muitas mulheres decidem, ou pelo menos cogita abortar, porém aquelas que optam
em manter a gestação são devido ao desejo de ser mãe e, quando ocorre essa
interrupção espontânea devido a complicações da falcemia, surge a decepção e
tristeza que muitas vezes se agrava para um estado depressivo [13].
A condição emocional
dessas mulheres durante a gravidez pode influenciar negativamente na sua vida
posterior, diante de tantas dificuldades, sofrimentos, dúvidas, e medos, a
gestação deixa de ser marcado pelas transformações de constituição da
maternidade para receber o filho e passa a ser encarado como um momento de
agravamento patológico [1].
Complicações
obstétricas e fetais
Esta terceira
categoria diz respeito a implicações fetais e obstétricas relacionada à
gestação das mulheres falcêmicas. A falcemia torna a gestação de alto risco
devido a sua fisiopatologia que interfere não apenas nas condições maternas,
mas também no desenvolvimento fetal. Uma característica importante da gestação
em falcêmicas é a alta incidência de partos prematuros, tendo como idade
gestacional média 34 semanas. Esse recém-nascido está sujeito a ter além de
baixo peso, problemas respiratórios graves, e infecções neonatal, podendo levar
a óbitos [11,12].
O parto dessas
gestantes também é marcado por muitas complicações, podendo ser citadas a bolsa
rota na maioria dos casos e a pré-eclâmpsia, que têm se destacado nessas
pacientes. O parto na maioria das vezes é cesariano, podendo ser o dobro nas
gestantes falcêmicas sem comparado às normais. Essa necessidade de parto
cirúrgico traz vários desafios, já que a instabilidade hemodinâmica
contraindica o bloqueio anestésico [12,15].
Embora tenha
diminuído nas últimas décadas, existem várias complicações que podem evoluir
para a mortalidade materno-fetal. O óbito fetal ocorre em uma probabilidade de
25% no final do primeiro trimestre. A natimortalidade nas gestantes com
falcemia ocorre nove vezes mais em pacientes falcêmicas, isso ocorre devido à
restrição do crescimento intrauterino [10,14]. Outras complicações podem
ocorrer como risco elevado de infecções pós-parto e sepse deslocamento prévio
da placenta e síndrome torácica aguda. Diante deste contexto é perceptível que
estas mulheres e fetos tenham risco desde a gestação, parto e puerpério, o que
torna uma gestação delicada que requer cuidados específicos [15].
Este estudo permitiu
a descrição e discussão das complicações vivenciadas por gestantes com anemia
falciforme, baseadas em uma revisão da literatura sobre o tema. Observou-se uma
tríade problemática, composta de complicações clínicas, emocionais e
obstétrico-fetais, em que a gestante encontra riscos tanto em nas fases
gestacionais, trabalho de parto e puerpério. Os artigos encontrados saltam a
atenção para as diferentes metodologias que trouxeram cada um destes eixos
temáticos, demonstrando uma gama importante de perguntas de pesquisa sobre o
tema.
Pôde-se observar que
as questões clínicas trazem consigo uma carga de riscos importantes. Sinais ou
sintomas de grandes infecções a crises álgicas tornam a vivência da gestante
com anemia falciforme ainda mais arriscada, visto que esta semiologia tende a
piorar com esta condição crônica hematológica. A depender do processo
gestacional, cada fator clínico complicador poderá gerar instabilidade
orgânica, tornando a condição clínica desta gestante uma constante tensão. Em
casos extremos, a anemia falciforme em gestantes poderá agravar-se a ponto de
necessitar internamento com risco de morte.
De fato, as tensões
das questões clínicas seguem a um nível psicológico, registrado também nos
artigos pesquisados. Desde insegurança a frustrações, o risco de morte
evidenciado tanto para a mãe quanto para o feto é fator estressor presente na
rotina da gestante. Existe uma quebra do equilíbrio emocional, basicamente
causado pela relação conturbada entre o desejo de ser mãe e o medo de morte.
Foram observados, nesse sentido, trabalhos que expunham o frágil estado
psíquico destas mulheres, que escolhem ou cogitam por vezes o aborto para
escapar dos riscos, porém nem sempre conseguindo escapar das amarras
psicológicas que insistem em segui-las.
Estas questões
clínicas e emocionais culminam em complicações obstétricas e fetais, também
percebido pelos trabalhos selecionados neste estudo. O trabalho de parto e o
puerpério se tornam novas fontes de tensão, visto que, além dos riscos prévios
ao parto, há riscos após o período gestacional. O medo do óbito fetal ou da
própria dor tornam as questões obstétricas e puerperais deveras complicadas. Os
trabalhos sugerem uma tensão potencializada, causada pelas questões clínicas e
psicológicas unidas em um processo de parto arriscado, envolvendo risco de
infecções, processo obstétrico complicado e risco de morte.
As gestantes com
todos estes fatores complicadores devem ser observadas em sua rotina diária
para que haja um acesso rápido ao sistema de atenção à saúde. Os trabalhos
sugerem que as complicações estão presentes tanto em forma de riscos quanto de
condições clínicas e psicológicas, devendo haver atenção dos profissionais de
saúde envolvidos na rede de atenção à saúde da mulher quanto às especificidades
da atenção à gestante com anemia falciforme. O presente estudo respondeu aos
seus questionamentos de pesquisa e sugere que estudos que aprimorem a rede de
atenção a essas gestantes sejam realizados, a fim de miniminar as ocorrências
de complicações, sejam elas de âmbito clínico ou psicológico.