REVISÃO
Fatores
de risco associados à glicemia instável em pacientes críticos: revisão
integrativa da literatura
Lídia Miranda
Brinati*, Luana Vieira Toledo**, Carla de Fátima Januário***, Camila Santana
Domingos****, Silvia Almeida Cardoso*****, Patrícia de Oliveira Salgado, D.Sc.*****
*Enfermeira,
Mestranda em Ciências da Saúde, Universidade Federal de Viçosa, **Doutoranda em
Enfermagem, Professora Assistente, Universidade Federal de Viçosa,***Discente
do curso de graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Viçosa,
****Enfermeira, Especialista, Técnico de Nível Superior, Universidade Federal
de Viçosa, *****Pos-doutorado em Biologia celular e estrutural, Professora
Adjunta, Universidade Federal de Viçosa, ******Professora Adjunta, Universidade
Federal de Viçosa
Recebido em 5 de junho de 2017; aceito em 17 de outubro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Lídia Miranda Brinati, Rua Pedro Gomide Filho, 95/102, Cléria Bernardes,
36570-000 Viçosa MG, E-mail: lmbrinati@hotmail.com; Luana Vieira Toledo:
luanatoledoufv@gmail.com; Carla de Fátima Januário: carla.januario@ufv.br;
Camila Santana Domingos: camilasantanadomingos@gmail.com; Silvia Almeida
Cardoso: silvia.cardoso@ufv.br; Patrícia de Oliveira Salgado: patriciaoliveirasalgado@gmail.com
Resumo
Os fatores de risco
relacionados ao diagnóstico de enfermagem “risco
de
glicemia instável” proposto pela NANDA-International dizem
respeito aos
pacientes diabéticos ou susceptíveis a desenvolver a
doença não mencionando
claramente os fatores associados em pacientes críticos
não diabéticos.
Objetivou-se identificar na literatura os fatores de risco associados
à
glicemia instável em pacientes críticos. Trata-se de uma
revisão integrativa
com busca nas bases de dados Cinahl, Pubmed e Lilacs com os descritores
“hiperglicemia”, “hipoglicemia”, “fatores
de risco” e “cuidados críticos” em
português e inglês. Amostra de oito artigos. Os estudos
foram publicados na
língua inglesa, entre os anos de 2004 a 2012. Foram divididos em
duas
categorias: fatores de risco associados à hiperglicemia e os
relacionados à
hipoglicemia. Fatores de risco associados à hiperglicemia:
diabetes, síndrome
coronariana aguda, idade, HbA1c, dose de
corticosteróide, dextrose endovenosa, carboidrato enteral, norepinefrina e
nutrição parenteral; para hipoglicemia: protocolos de controle estrito da
glicose, ventilação mecânica, tempo de internação, história de diabetes, sepse,
insuficiência renal, medicamentos vasoativos, idade, baixo peso, maior
pontuação do APACHE II e variabilidade glicêmica. Há carência na literatura de
informações sobre alguns fatores de risco, o que mostra a necessidade de
pesquisas relacionadas à assistência de enfermagem aos pacientes com glicemia
instável.
Palavras-chave: hiperglicemia,
hipoglicemia, fatores de risco, cuidados críticos.
Abstract
Risk factors associated with unstable blood glucose level in critical
patients: integrating literature review
Risk factors related to the nursing diagnosis “risk for unstable blood
glucose level” proposed by NANDA-International concern diabetic or susceptible
patients to develop the disease by not clearly mentioning the associated
factors in critical non-diabetic patients. The objective was to identify in the
literature the risk factors associated with unstable blood glucose level in
critically ill patients. Integrative review with search in Cinahl,
Pubmed and Lilacs databases, with the following
descriptors: "hyperglycemia", "hypoglycemia", "risk
factors" and "critical care" in Portuguese and English. Sample
composed of eight articles. The studies were published in English language
between 2004 and 2012. They were divided into two categories: risk factors
associated with hyperglycemia and those related to hypoglycemia. Risk factors
associated with hyperglycaemia: diabetes, acute
coronary syndrome, age, HbA1c, corticosteroid dose, intravenous dextrose,
enteral carbohydrate, norepinephrine and parenteral nutrition; and
hypoglycemia: strict glucose control protocols, mechanical ventilation, hospitalization time, history of diabetes, sepsis, renal
failure, vasoactive medications, age, low weight, higher APACHE II score and
glycemic variability. There is a lack of information in the literature on some
risk factors, which shows the need for research related to nursing care for
patients with unstable glycemia.
Key-words:
hyperglycemia, hypoglycemia, risk factors, critical care.
Resumen
Factores de riesgo asociados a la glucemia inestable en pacientes críticos: revisión
integradora de la literatura
Los factores de
riesgo relacionados con el diagnóstico de enfermería
"riesgo de glucemia inestable” propuesto por NANDA-International se
refieren a los pacientes diabéticos o susceptibles a desarrollar la enfermedad
no mencionando claramente los factores asociados en pacientes críticos no
diabéticos. El objetivo fue identificar en la
literatura los factores de riesgo asociados a la glucemia inestable en pacientes
críticos. Se trata de una Revisión Integrativa con búsqueda en las bases de
datos Cinahl, Pubmed y Lilacs con los descriptores " hiperglucemia",
"hipoglucemia", "factores de riesgo" y "cuidados
críticos" en portugués e inglés. Muestra de ocho artículos. Los estudios
se publicaron en la lengua inglesa entre los años 2004
a 2012. Se dividieron en dos categorías: factores de riesgo asociados a la hiperglucemia y los relacionados con la hipoglucemia.
Factores de riesgo asociados a la hiperglucemia:
diabetes, síndrome coronario agudo, edad, HbA1c, dosis de corticosteroides,
dextrosa endovenosa, carbohidrato enteral, norepinefrina y nutrición
parenteral; para la hipoglucemia: protocolos de control estricto de la glucosa,
ventilación mecánica, tiempo de internación, historia de diabetes, sepsis,
insuficiencia renal, medicamentos vasoactivos, edad, bajo peso, mayor
puntuación del APACHE II y variabilidad glucémica. Hay carencia en la literatura de información sobre algunos factores de
riesgo, lo que muestra la necesidad de investigaciones relacionadas con la
asistencia de enfermería a los pacientes con glucemia inestable.
Palabras-clave: hiperglucemia,
hipoglucemia, factores de riesgo, cuidados críticos.
O uso do controle
glicêmico rigoroso em pacientes críticos vem sendo alvo de numerosos trabalhos,
com diversos resultados [1-3], isso se deve ao fato das altas taxas de
incidência tanto de hiperglicemia quanto hipoglicemia nesses pacientes, além
das complicações que o problema pode apresentar.
A incidência de
hiperglicemia aguda pode variar de 40 a 90%. Destaca-se que em pacientes
críticos a hiperglicemia tem sido associada a desfechos adversos àqueles sem
diagnóstico prévio de diabetes, como o elevado custo no tratamento, aumento da
morbimortalidade e do tempo de internação, tornando-se, portanto, um marcador
de mau prognóstico para este perfil de pacientes [4-6].
Para que seja evitada
a hiperglicemia nesses pacientes é comum adotar um controle estrito da
glicemia, porém, como consequência tem-se o aumento do risco de desenvolvimento
de hipoglicemia, principal complicação associada à infusão contínua de
insulina, acometendo de 2 a 11% dos pacientes [7]. O controle glicêmico é
clinicamente desafiador, por também impactar de forma negativa no desfecho do
paciente, levando a um aumento da resposta inflamatória sistêmica,
neuroglicopenia ou inibição da resposta ao estresse [1,5,8].
No maior estudo de
controle glicêmico restrito realizado em UTI, foi verificado que a utilização
do controle estrito da glicemia aumentou em seis vezes o risco de desenvolver a
hipoglicemia grave entre os pacientes em comparação com o tratamento de
controle. Além disso, encontrou-se um aumento da mortalidade nos pacientes
cirúrgicos, sugerindo que o benefício da insulinoterapia intensiva requer
confirmação [3].
A American Association of Clinical
Endocrinologists (AACE) emitiu um consenso recomendando uma meta de glicose
sanguínea de 110 mg/dL, em pacientes críticos,
independentemente da presença ou ausência de um diagnóstico prévio de diabetes.
Atualmente, a AACE e a American Diabetes
Association (ADA), propõem para pacientes em UTI, início de insulinoterapia
endovenosa para valores acima de 180 mg/dl, com metas
entre 140 e 180 mg/dl, evitando-se glicemias inferiores a 100 mg/dl. Além
disso, hipoglicemia em valores <70mg/dl e hipoglicemia grave <40 mg/dl [9].
Expandir
o
conhecimento da disglicemia torna-se necessário para melhorar a
gestão e os
resultados na assistência aos pacientes [1]. Dada a sua
importância clínica,
durante a elaboração e execução do plano de
cuidados de enfermagem para um
paciente com variabilidade glicêmica torna-se
imprescindível à identificação,
por parte dos enfermeiros, do diagnóstico de risco de glicemia
instável. A NANDA-International
(NANDA-I) apresenta, desde 2006, o diagnóstico de enfermagem
(DE) intitulado
“risco de glicemia instável”, definido como a
“vulnerabilidade à variação dos
níveis de glicose/açúcar no sangue em
relação à variação normal, que pode
comprometer a saúde” [10].
Contudo, percebe-se
que os fatores de risco propostos pela taxonomia para este diagnóstico são
relacionados aos pacientes diabéticos ou susceptíveis a desenvolver a doença.
Porém, os fatores que predispõem o desenvolvimento da variação da glicemia em
pacientes críticos não diabéticos não são claros e ainda precisam ser estudados
e validados, com o objetivo de se oferecer informações precisas. Assim, por se
considerar que a prática do enfermeiro deve estar centrada em evidências científicas
atuais, verifica-se a necessidade de refinamento deste diagnóstico. O uso mais
intensamente das taxonomias, permite a discussão sobre como elas são
operacionalizadas e como podem ser melhoradas a fim de torná-las cada vez mais
próximas dos enfermeiros e dos seus pacientes. A descrição dos fenômenos na
taxonomia da NANDA-I proporciona aos enfermeiros visualizarem as diferentes
possibilidades existentes e também a liberdade de escolherem ou de proporem
novos termos [11].
Diante disso, o
objetivo desta pesquisa foi identificar na literatura os fatores de risco
associados à glicemia instável em pacientes críticos.
Trata-se de estudo do
tipo revisão integrativa de literatura, realizado seguindo as seguintes etapas
metodológicas: escolha da pergunta de pesquisa e objetivos da revisão, adoção
dos critérios de inclusão e exclusão dos artigos, seleção dos artigos, análise
e interpretação dos resultados [12].
O levantamento
bibliográfico foi realizado no período de 26 de setembro a 15 de outubro de
2016, nas seguintes bases de dados: Cumulative Index of Nursing and Allied
Health Literature (CINAHL), U.S. National
Library of Medicine National Institute of Health (PubMed)
e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Para
as buscas nas bases internacionais foram utilizados os Mesh Terms “hyperglycemia”, “hypoglycemia”, “risk factors”
e “critical care” e nas nacionais os
Descritores em Ciência da Saúde (DeCS) da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) “hiperglicemia”,
“hipoglicemia”, “fatores de risco” e “cuidados críticos”. Foram utilizados os
operadores booleanos “or” e “and” para a combinação dos descritores
conforme exposto no quadro 1.
Quadro
1 - Sistematização da busca eletrônica nas bases
de dados Pubmed, Lilacs e Cinahl.
Os critérios de
inclusão utilizados para a seleção da amostra foram: artigos publicados na
literatura nacional e internacional, cujo foco tenha sido os fatores de risco
associados à glicemia instável em pacientes adultos críticos, publicados nos
idiomas português, inglês ou espanhol. Foram excluídos da pesquisa os estudos
não disponíveis na íntegra ou aqueles escritos no formato de teses,
dissertações, editoriais, opiniões/comentários. A busca foi realizada de forma
atemporal, com o objetivo de explorar todas as publicações existentes
relacionadas à temática.
Realizou-se a leitura
dos títulos e resumos dos artigos encontrados. Após constatar a pertinência com
o tema, prosseguiu-se com a leitura dos artigos na íntegra, definindo então os
artigos incluídos na revisão. A Figura1 ilustra o processo de seleção dos
artigos componentes da amostra.
Figura
1 - Processo de seleção amostral nas bases de
dados científicas utilizadas.
Para a caracterização
dos estudos selecionados foi utilizado um instrumento de coleta de dados
adaptado contendo itens como título, periódico, autores, país em que o estudo
foi realizado, idioma, ano de publicação, descritores utilizados, objetivos, fonte,
tipo de estudo, delineamento, amostra, intervenções realizadas, duração do
estudo, análise dos dados, resultados, conclusões, recomendações e limitações
[13].
Os dados foram
analisados segundo os conteúdos apresentados pelos artigos, utilizando
estatística descritiva. Os artigos selecionados foram avaliados quanto ao nível
de evidência, mantendo-se a definição do tipo de estudo de acordo com os
autores das pesquisas inclusas na amostra [14]. Realizou-se a interpretação e
discussão dos resultados, sendo apresentadas as comparações entre as pesquisas
incluídas, destacando as diferenças e semelhanças encontradas.
A amostra desta
revisão foi composta por sete estudos, publicados entre os anos de 2004 a 2012,
dos quais quatro (57,1%) foram publicados a partir de 2010. Todos os artigos
que constituíram a amostra foram publicados na língua inglesa.
Quanto ao nível de
evidência, identificou-se que quatro (57,1%) das publicações pertenciam ao
nível de evidência IV - Estudos de coorte e de caso controle; um (14,3%) ao
nível III - Ensaio Clínico sem Randomização; e um (14,3%) ao nível VI -
Revisões sistemáticas de estudos descritivos. Vale ressaltar que uma (14,3%)
das publicações é estudo de revisão narrativa, não se enquadrando no
referencial metodológico adotado neste estudo para classificação quanto ao
nível de evidência.
Os artigos que
compuseram a amostra deste estudo foram divididos em duas categorias, de acordo
com o tema descontrole glicêmico, a saber: fatores de risco associados à
hiperglicemia e fatores de risco associados à hipoglicemia. Nos quadros 2 e 3 são apresentados os artigos selecionados, abordando os
autores/ano de publicação, objetivo, delineamento, nível de evidência e fatores
de risco, de acordo com as categorias estabelecidas, respectivamente.
Quadro
2 - Fatores de risco relacionados a hiperglicemia em pacientes adultos em cuidados críticos.
Quadro
3 - Fatores de risco relacionados a hipoglicemia em pacientes adultos em cuidados críticos.
Buscaram-se as
evidências científicas sobre os fatores de riscos associados à glicemia
instável em pacientes críticos. Verificou-se que a literatura apresenta os
fatores de risco relacionados à hiperglicemia e à hipoglicemia.
A hiperglicemia é uma
ocorrência comum em pacientes internados em UTI, e está associada a piores
prognósticos. A correção agressiva de hiperglicemia com insulina reduz a
morbidade e mortalidade em situações estressantes agudas múltiplas. Com isso o
controle glicêmico tem sido amplamente aceito na prática clínica e é
rotineiramente incluído em tratamento [15]. No entanto, a sua utilização deve
ser amplamente cautelosa, uma vez que a administração de insulina aumenta o
risco de episódios hipoglicêmicos, fazendo com que surjam questionamentos
quanto à eficácia do controle glicêmico estrito. Contudo, a literatura mantém
concordância de que a hiperglicemia deve ser evitada [8,15].
De acordo com os
estudos que compuseram a amostra desta revisão a hiperglicemia é comumente
observada em pacientes críticos e é atribuída à combinação de fatores, que
incluem a resposta fisiológica ao trauma ou cirurgia, hipermetabolismo,
relacionado à doença crítica, diabetes não diagnosticada, diabetes conhecido mas não controlado e cuidados de suporte com medicamentos e
nutrição [5,16].
Os níveis glicêmicos
são mantidos de forma fisiológica pela interação entre a secreção de insulina,
captação celular da glicose (glicólise e glucogeniogênese), produção hepática
de glicose (glicogenólise e gluconeogênese) e absorção intestinal. A elevação
da glicemia leva ao aumento das demandas metabólicas nos pacientes críticos, o
que geralmente acarreta um aumento da secreção de insulina. Portanto, a
glicemia elevada está ligada ao aumento das demandas metabólicas [5].
Dentre os fatores
descritos nos estudos selecionados, dois indicam a idade como fator de risco
para a hiperglicemia [17,18]. Também foi identificado que a utilização de
medicamentos como norepinefrina e corticóides está associada ao aumento da
glicemia [2,18]. Os medicamentos podem contribuir para a hiperglicemia não só
porque servem como uma fonte escondida de dextrose ou calorias, mas também
porque alteram o metabolismo da glicose. A epinefrina pode inibir diretamente a
liberação de insulina e estimular a gliconeogênese, já a noraepinefrina
estimula a produção hepática de glicose, o que pode exacerbar a hiperglicemia.
As altas doses de corticosteróides aumentam a resistência à insulina e
comumente levam ao desenvolvimento ou piora da hiperglicemia. Além disso, os
efeitos inibitórios normais da insulina e da glicose sobre a gliconeogênese são
perdidos durante a doença crítica [2].
Em um estudo
transversal [17], realizado com 469 pacientes criticamente doentes ou sem história
de diabetes, internados em uma Clínica na Colômbia, mostra a relação entre a
hiperglicemia e o diabetes. Já outro artigo mostra que os pacientes não
diabéticos, que durante a doença aguda apresentam aumento da glicemia, possuem
pior prognóstico quando comparado aos diabéticos [19]. A hiperglicemia em
pacientes criticamente enfermos é frequentemente referida como hiperglicemia
induzida pelo estresse. Interações complexas entre catecolaminas, hormônio de
crescimento, cortisol e citocinas levam a produção hepática de glicose e
resistência à insulina periférica [20].
A nutrição dos
pacientes críticos também influencia na variação glicêmica [18,21]. A nutrição
enteral é a preferida quando não há contraindicações (como obstrução
intestinal, íleo grave ou hipoperfusão do trato gastrointestinal), por ser mais
fisiológica, associada a menos complicações infecciosas e a
uma elevação dos níveis de glicose do sangue menos dramática do que a
nutrição parenteral [2]. A nutrição parenteral, por sua vez tem como complicação
metabólica mais comum a hiperglicemia, sendo este um problema frequentemente
observado após o seu início [21]. Tal complicação está relacionada com o tipo e
a quantidade de nutrientes que constituem a solução [22] composta basicamente
de carboidratos, aminoácidos, lipídios, vitaminas, eletrólitos e minerais [23].
Ao estabelecer o
controle glicêmico em pacientes criticamente doentes, a hipoglicemia torna-se
um dos principais riscos [16,24,25] e pode contribuir
para aumento das taxas de mortalidade [24]. Um ensaio clínico sem randomização
[24] realizado na Áustria, composto por 20 pacientes em terapia com insulina,
investigou o desempenho do Modelo Predictive Control (EMPC), um software
utilizado na beira leito pela equipe de enfermagem, com o objetivo de realizar
o controle glicêmico em pacientes críticos. Durante o estudo, três dos
indivíduos que estavam sendo acompanhados apresentaram um episódio grave de
hipoglicemia. Um paciente apresentava sintomas leves atribuíveis à hipoglicemia
(suor) e os outros dois pacientes não apresentaram sintomas aparentes, mas
ainda estavam sedados para ventilação mecânica.
Em um estudo
prospectivo observacional [25], realizado durante dois meses com 30 pacientes
internados nas UTI de um Hospital Universitário na Bélgica foi avaliada a
adesão, eficácia e segurança de um protocolo de insulina a hipoglicemia.
Durante o estudo, os pacientes incluídos tiveram um total de total de 6016
medições de glicemia. Destas, foi detectada hipoglicemia 111 vezes em 18 pacientes
(60%). Com isso, a terapia intensiva com insulina torna-se uma preocupação
universal, uma vez que é o principal fator para a hipoglicemia.
Outros fatores
elencados como risco para hipoglicemia em pacientes críticos identificados nos
estudos que compuseram a amostra deste trabalho foram a sepse
[16,24], maior tempo de internação na UTI [24,26], idade (pacientes mais
velhos), baixo peso, maior pontuação APACHE II, maior variabilidade glicêmica
[26] e qualquer diminuição da administração de dextrose ou nutrição sem uma
diminuição concomitante da infusão de insulina [16].
Segundo um estudo de
coorte retrospectivo [26], os pacientes críticos que experimentam um evento
hipoglicêmico têm maior variabilidade glicêmica durante a sua internação na UTI,
mostrando que o aumento da variabilidade está associado ao aumento do risco de
hipoglicemia.
A
literatura também
aponta o inadequado suporte nutricional como fator de risco para a
hipoglicemia, doença grave que limita a produção
de glicose ou acelera sua
utilização. O controle glicêmico é afetado
diretamente pelo descontrole ou mau
controle nutricional. Pacientes com alteração na
capacidade de relatar
sintomas, redução de ingestão oral, vômito,
diminuição ou interrupção da dieta
enteral ou parenteral apresentam maior risco para hipoglicemia. Dessa
forma, é
fundamental o controle do peso, do estado nutricional e a
verificação da oferta
de glicose (dieta enteral, parenteral ou glicose contínua),
evitando a variação
glicêmica [7].
No desenvolvimento
deste estudo identificou-se como limitação a falta de informações sobre alguns
fatores de risco apresentados nos estudos que compuseram a amostra deste estudo
como idade, doses dos medicamentos e tempo de internação. Os dados são apenas
citados e não detalhados, deixando de fornecer informações necessárias para
melhor compreensão dos fatores. Os estudos não abordam a partir de qual idade
se tem maior risco para o descontrole glicêmico, bem como qual dosagem dos
medicamentos apresentados são fatores de risco ou de proteção, assim como tempo
de internação médio. Dessa forma, percebe-se a necessidade de novos estudos
direcionados a multiplicidade de fatores envolvidos neste contexto.
No presente estudo
foram identificados os fatores de risco associados ao descontrole glicêmico em
pacientes críticos. Destacam-se como fatores de risco para glicemia instável
identificados nesta revisão integrativa: diabetes, síndrome coronariana aguda,
idade, HbA1c, dose de corticosteróide, dextrose
endovenosa, carboidrato enteral, medicamentos vasoativos, nutrição parenteral,
protocolos de controle estrito da glicose, ventilação mecânica, tempo de
internação, sepse, insuficiência renal, baixo peso, maior pontuação do APACHE
II e variabilidade glicêmica.
Os resultados
ressaltam questionamentos em relação ao controle glicêmico, como os benefícios
e consequências da utilização do protocolo estrito da glicemia. Sabe-se que o
controle glicêmico é necessário para melhores prognósticos dos pacientes
críticos. Porém, manter a normoglicemia é um processo complexo que envolve toda
a equipe multiprofissional.
Ressalta-se que são
poucas as publicações sobre a temática com autoria de enfermeiros, o que mostra
a necessidade de pesquisas relacionadas à assistência de enfermagem aos
pacientes com glicemia instável. Além disso, há necessidade de estudos clínicos
de maior nível de evidência científica. Estudos de validação do diagnóstico e
seus fatores de risco são recomendados, pois compreende parte inerente da assistência
de enfermagem.