ARTIGO
ORIGINAL
Significados
e procedimentos adotados no transporte intra-hospitalar de pacientes críticos:
o discurso do sujeito coletivo
Michelle Maria
Malerba Fernandes*, Ana Heloisa Rodrigues**, Jerusa Gomes Vasconcellos Haddad, M.Sc.***, José Vitor da Silva****
*Enfermeira,
pós-graduanda em Enfermagem em Urgência e Emergência e UTI pela Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz, Itajubá/MG, atuando como Enfermeira Plena em unidade
de assistência médico ambulatorial (AMA), pela empresa Centro de Estudos e
Pesquisas Dr. João Amorim (Cejam), São Paulo/SP, **Enfermeira, pós-graduanda em
Enfermagem em Urgência e Emergência e UTI pela Escola de Enfermagem Wenceslau
Braz, Itajubá/MG, ***Orientadora, docente da Escola de Enfermagem Wenceslau
Braz, Itajubá/MG, ****Coorientador, Pós-doutor pelo Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Psicologia da Universidade de São Francisco, Campus Itatiba, Itatiba/SP,
professor titular da Universidade do Vale do Sapucaí, Pouso Alegre/ MG e da
Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, Itajubá/MG
Recebido em 12 de
dezembro de 2015; aceito em 27 de março de 2017.
Endereço
para correspondência:
Michelle Maria Malerba Fernandes, Rua Armadilho 208, Jd, Jau, 03713-060 São
Paulo SP, E-mail: michellemmf@hotmail.com, jerusa.haddad@bol.com.br
Resumo
Objetivo: Identificar o
significado do transporte intra-hospitalar de pacientes críticos e constatar
como ele é realizado, sob a ótica de enfermeiros. Método: Pesquisa qualitativa, descritiva, exploratória e
transversal. Amostragem do tipo intencional. A amostra constituiu-se de 20
enfermeiros, atuantes nas unidades de terapia intensiva, pronto socorro e
centro cirúrgico. A coleta de dados foi realizada por meio de dois
instrumentos: questionário de caracterização pessoal e profissional e roteiro
de entrevista semiestruturada. Para análise dos dados utilizou-se o discurso do
sujeito coletivo, do qual emergiram as ideias centrais. Resultados: Do tema significados do transporte intra-hospitalar de
pacientes críticos evidenciaram as seguintes ideias centrais: transporte do
paciente de uma unidade para outra; transporte de paciente grave com
equipamento para outro setor; procedimento importante. Do tema como é realizado
o transporte intra-hospitalar identificaram-se as seguintes expressões: com a
equipe multiprofissional mediante diversos procedimentos, com a equipe
multiprofissional e materiais, e quando o paciente está estabilizado. Conclusão: Concluiu-se que os
significados do transporte intra-hospitalar foram abarcados de diversas formas
e a maneira como era realizado o transporte intra-hospitalar foi distinguida
por ideias que abrangeram recursos humanos e recursos materiais.
Palavras-chave: transporte de
pacientes, transferência de pacientes, cuidados críticos, enfermeiros.
Abstract
Meaning and procedures adopted in intra-hospital transport of critical
patients: speech of the collective subject
Objective: To identify
the meaning of in-hospital transport of critical patients and to verify how it
is performed, from the point of view of nurses. Method: Qualitative, descriptive, exploratory and transversal
research with ntentional sampling. The sample
consisted of 20 nurses, working in intensive care units, emergency room and
surgical center. Collection of the data was performed through two instruments:
personal and professional characterization questionnaire and semi-structured
interview script. For the analysis of the data the discourse of the collective
subject was used, from which emerged the central ideas. Results: The meanings of in-hospital transport of critical patients
revealed the following central ideas: patient transport from one unit to
another; transportation of a serious patient with equipment to another sector;
important procedure. From the theme of intra-hospital transport, the following
expressions were identified: with the multiprofessional
team through various procedures, with the multiprofessional
team and materials, and when the patient is stabilized. Conclusion: It was concluded that the meanings of in-hospital
transport were covered in various ways and the way in-hospital transport as it
was performed was distinguished by ideas that included human resources and
material resources.
Key-words: patient
transport, patient transfer, critical care, nurses.
Resumen
Significado y procedimientos adoptados en
traslado intrahospitalario de pacientes críticos: discurso del
sujeto colectivo
Objetivo: Identificar el significado del traslado intrahospitalario de los
pacientes críticamente enfermos y constatar cómo se realiza, desde la
perspectiva de los enfermeros. Método:
Investigación cualitativa, descriptiva, exploratoria y transversal. Muestreo
intencional. La muestra estuvo formada por 20 enfermeros que trabajaban en la unidad de cuidados intensivos, primeros auxilios y centro
quirúrgico. La recolección de datos se realizó a través de dos instrumentos: un
cuestionario de caracterización personal y profesional y entrevista
semiestructurada. Para el análisis de datos se utilizó
el discurso del sujeto colectivo, del cual emergieron las ideas centrales. Resultados: Del tema de significados de
traslado intrahospitalario de los pacientes críticamente enfermos se evidenciaron
las siguientes ideas básicas: el traslado de pacientes
de una unidad a otra; traslado de pacientes graves con aparatos a otro sector;
procedimiento importante. Del tema como se realiza el
traslado en el hospital identificaron las siguientes expresiones: con el equipo
multidisciplinario a través de diversos procedimientos, con el equipo
multidisciplinar y materiales, y cuando el paciente se encuentra estabilizado. Conclusión: Se concluye que el significado del traslado intrahospitalario se abarcó por
varias formas y la forma como ha sido realizado el traslado se distingue por
las ideas que incluyen recursos humanos y recursos materiales.
Palabras-clave: transporte de
pacientes, traslado de pacientes, enfermeras de cuidados críticos.
O transporte
intra-hospitalar (TIH) do paciente crítico sempre é requisitado a partir da
necessidade de cuidados adicionais, que não estão disponíveis no local onde o
paciente se encontra [1-2], e por definição é uma transferência do paciente de
um setor do hospital para outro, a fim de realizar testes diagnósticos e
intervenções terapêuticas, como transferência para o Centro Cirúrgico (CC) ou
internação em Centro de Terapia Intensiva (CTI) [3].
Pacientes críticos
são aqueles que necessitam de cuidados com alta complexidade devido à
gravidade, instabilidade hemodinâmica e disfunção orgânica. A intervenção
dependerá da avaliação do sistema Therapeutic
Intervention Scoring System (TISS 28), que classifica a gravidade pontuando
os cuidados intensivos [4], além do escore Acute
Physiology and Chronic Health Evaluation (APACHE) I, II e
II que estratifica os pacientes na caracterização em relação à gravidade
dos mesmos [5].
Os riscos são
minimizados quando um planejamento cuidadoso é realizado [5-7], portanto é de
fundamental importância ressaltar que todas as fases do TIH devem ser
cumpridas: fase preparatória, na qual engloba intervenções que devem ser
realizadas antes do início do transporte e análise de risco benefício,
equipamentos e equipes do transporte; fase de transferência com o objetivo de
manter a estabilidade e fase de estabilização pós-transporte [1,8,9]. Requerimentos envolvendo coordenação e comunicação
são necessários para definir quem acompanha o paciente, qual a necessidade da equipe
e a monitorização do transporte, que são essenciais para conduzir o tratamento
de pacientes críticos [5]. O acompanhamento do doente crítico deve ser efetuado
com obrigatoriedade por um médico qualificado, treinado em suporte avançado de
vida e capacitado para obter prontamente uma via área artificial, além da
presença do enfermeiro ser obrigatória em pacientes com quadro instável e,
situações de via aérea artificial, uso de drogas vasoativas e presença de
monitorização invasiva [8,10].
A tomada de decisão
do TIH é de responsabilidade da equipe que assiste o paciente, portanto
enfermeiro e médico assumem o compromisso de manter a qualidade da assistência,
a segurança e integridade do paciente, realizando planejamento cuidadoso sobre
todos os aspectos relevantes do transporte como: tempo estimado do transporte,
previsão de possíveis complicações, avaliar a gravidade do quadro clínico do
paciente, avaliar alterações hemodinâmicas no pré e pós-transporte, amenizar
riscos com prévia checagem de materiais e equipamentos necessários para o TIH
do paciente crítico. Em relação às Unidades de Terapia Intensiva, quanto ao
transporte de pacientes, Resolução n° 7, Art. 29: “Todo paciente deve ser
transportado com acompanhamento contínuo, no mínimo de um médico e de um
enfermeiro, ambos com habilidade comprovada para atendimento de urgência e
emergência” [11].
Em caso de pacientes
graves, com presença de risco, ou seja, combinação de probabilidade de
ocorrência de um dano e a gravidade de tal dano, o enfermeiro presente à
decisão de transporte de pacientes graves deverá assumir plena responsabilidade
pela conduta e atitude tomada, e pela consequente delegação profissional da
assistência de enfermagem necessária [12].
Diante deste
panorama, observa-se a necessidade de identificar como é realizado este tipo de
transporte em hospitais, quais são os profissionais que assumem o paciente e a
responsabilidade de oferecer uma assistência de qualidade e livre de danos, que
condutas são adotadas frente ao transporte de pacientes com instabilidade
fisiológica e com riscos de deteriorização do quadro, de quem é a decisão do
transporte, como é feito o planejamento e efetivação do TIH.
Este estudo é
relevante para os profissionais que atuam ou desejam atuar nas áreas de
Urgência e Emergência, despertando-os para os aspectos que envolvem o TIH de
pacientes críticos, que necessitam do TIH com qualidade, eficácia e segurança.
A pesquisa beneficiará toda a sociedade, pois possibilitará aos profissionais
enfermeiros repensarem sobre como o TIH é realizado, e a partir disso
executarem este procedimento, de forma a minimizar e a eliminar os riscos e
suas complicações, objetivando sempre a melhoria da qualidade da assistência
prestada.
O presente estudo tem
como objetivos identificar o que significa e como é realizado o TIH de
pacientes críticos, por meio de entrevista com enfermeiros de um hospital de
grande porte, de nível secundário do município de São Paulo.
A abordagem
qualitativa do presente estudo teve como suporte teórico a Teoria das
Representações Sociais (TRS) e como apoio metodológico o Discurso do Sujeito
Coletivo (DSC), para permitir a aproximação do fenômeno em estudo.
A Teoria e o Método
das Representações Sociais têm adquirido força no campo das investigações na
área de saúde. Assim, o sujeito, sua experiência e o sentido que ele mesmo
concede a sua ação se tornam o objeto de pesquisa, haja vista que o discurso do
sujeito revela sua realidade de modo que através das representações emergem
conteúdos afetivos e cognitivos que levam à ação [13]. A enfermagem utiliza a
Teoria das Representações Sociais com a finalidade de compreender os aspectos
psicossociais que emergem nos objetos de sua investigação. A TRS tem grande
utilização na enfermagem por conseguir ressaltar os aspectos subjetivos que
permeiam os problemas inerentes a esse campo, enfatiza que o enfoque da RS
interessa tudo que a pessoa recolheu ao longo de sua história e sua experiência
de vida, e que ficou arquivado na memória como resultado de suas relações com
outros indivíduos ou grupos [14].
O DSC é uma
estratégia metodológica que tem por finalidade tornar mais clara uma específica
representação social [14]. É formado pela união, num
só discurso-síntese, dos diversos discursos individuais emitidos como resposta
a mesma questão da pesquisa, pelo sujeito social e institucionalmente
equivalente ou que fazem parte de uma mesma cultura organizacional e de um
mesmo grupo social à medida que os indivíduos desse grupo ocupam a mesma
posição, ou posições relativas num dado campo social. O DSC se caracteriza,
portanto, em uma forma de expressar diretamente a representação social de um
dado sujeito pessoal.
O estudo foi de
abordagem qualitativa, do tipo descritivo, exploratório e transversal,
realizado em um hospital público de nível secundário, na cidade de São Paulo.
Os critérios de elegibilidade foram os seguintes: atuar no Setor de
Pronto-Socorro, Unidade de Terapia Intensiva ou Centro Cirúrgico, ser
enfermeiro com experiência de seis meses ou mais, aceitar participar do estudo,
assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A amostragem foi
intencional e a amostra de 20 profissionais.
Foram
utilizados dois
instrumentos como estratégia para a coleta de dados: o primeiro
destinou-se à
caracterização pessoal e profissional dos participantes
do estudo. Este
instrumento foi constituído de perguntas abertas e fechadas
referentes ao sexo,
idade, tempo de formação,
pós-graduação, tempo de atuação na
instituição,
unidade em que trabalha e tempo de atuação na unidade. Os
dados coletados por meio
desse instrumento não foram analisados, mas serviram apenas para
o delineamento
do perfil dos entrevistados. O segundo constitui-se de um roteiro de
entrevista
semiestruturada contendo 02 perguntas norteadoras, que foram
respondidas pelos
profissionais.
A coleta de dados
teve início após a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), Instituição Proponente, e após aprovação pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde de SP (SMS), Instituição
Co-Participante, conforme parecer substanciado EEWB n° 915.846114 e SMS n°
932.700 e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Para registro dos
dados das entrevistas referentes à caracterização dos participantes, foi utilizado
o instrumento citado anteriormente. Para registro dos dados coletados,
referentes às perguntas abertas, foi utilizado um gravador digital, mediante
autorização dos participantes, respeitando-se o princípio de privacidade. As
respostas foram gravadas e transcritas conforme critérios metodológicos,
mantendo a fidedignidade das informações coletadas. Os participantes foram
identificados pela letra P, seguidas da numeração segundo a sequência das
entrevistas, ou seja, P1, P2, e assim sucessivamente de acordo com o número de
entrevistadas.
Os dados foram
analisados por meio do DSC, tendo com base a TRS. Assim, seguiram-se
rigorosamente as seguintes etapas do DSC: As respostas por escrito das questões
foram lidas várias vezes para que tivesse uma ideia panorâmica e melhor
compreensão dos textos; copiou-se integralmente o conteúdo de cada questão no
Instrumento de Análise do Discurso 1 (IAD1),
representando as Expressões-Chave (ECH) em itálico. Assim, foi necessária a
leitura repetida das ECH, para que fosse possível determinar as Ideias Centrais
(IC), e após, as IC de cada questão foram copiadas integralmente junto com os
participantes e a frequência das mesmas; elaboração do Agrupamento de Ideias
Centrais Iguais e Semelhantes para então partir para a construção do
Instrumento de Análise do Discurso 2 (IAD2);
elaboração do IAD2 com as IC separadas e com suas respectivas ECH. Extraiu-se
de cada uma das perguntas da entrevista semiestruturada o seu tema, agrupando o
mesmo as suas respectivas IC, assim como os participantes e as frequências das
IC. Finalizando, construiu-se o DSC para cada IC com suas respectivas ECH.
A maioria dos
participantes foi do sexo feminino, com frequência relativa de 95%, com idade
de maior prevalência de 25 a 30 anos, frequência relativa de 35%. Em relação ao
tempo de formação dos enfermeiros pesquisados, observou-se prevalência de 2 a 3
anos de formado, frequência relativa de 20%, e igualmente a frequência com 6 a
7 anos de formado. A grande maioria (85%) possui pós-graduação na área de
atuação, prevalecendo a Enfermagem em UTI, frequência relativa de 26,91%;
seguido de Enfermagem em Emergência e Urgência, frequência relativa de 23,07%.
O tempo de atuação no hospital pesquisado demonstrou que 70% atuam entre 3 e 9 anos na instituição, demonstrando satisfação no local
de trabalho e, em relação ao tempo de atuação na área, apenas 35% possuem menos
de 2 anos, ou seja, 65% possuem experiência maior de 2 anos na enfermagem.
Observamos que as amostras dos profissionais enfermeiros foram bem consistentes
em relação aos setores de trabalho: 45% dos enfermeiros trabalham no pronto
socorro, 35% trabalham em UTI e 20% trabalham em centro cirúrgico e CME.
Apresenta-se a seguir
o tema de estudo, seguido pelo quadro representativo das ideias centrais (IC),
seus respondentes, assim como sua frequência. O quadro 1
evidencia as ideias centrais sobre o tema: “Significados do transporte
intra-hospitalar de pacientes críticos”.
Quadro
1 – Ideias centrais, participantes e frequência
referentes ao tema “Comente para mim, o que significa para você o transporte
intra-hospitalar de pacientes críticos?”
No quadro 2 visualizam-se as ideias centrais emergentes do tema: “Como
se realiza o transporte intra-hospitalar de pacientes críticos”.
Quadro
2 - Ideias centrais, participantes e frequência
referentes ao tema “Explique para mim como é feito neste hospital o transporte
intra-hospitalar de pacientes críticos?”
Referente à pergunta:
"Comente para mim o que significa o transporte intra-hospitalar de
pacientes críticos", surgiu à primeira ideia central: “Transporte de
paciente de uma unidade para outra”; na qual obteve maior frequência entre os
enfermeiros entrevistados, através do DSC:
O
transporte intra-hospitalar é você estar encaminhando o paciente, para as
diversas unidades e procedimentos. É o ato de levá-lo de um setor para outro,
então o ato de transportar é o de levar, encaminhar. É quando eu tiro ele,
preciso remanejar de uma unidade para outra. É transferir de uma de unidade
para outra ou quando ele tem alta. É quando vamos fazer uma transferência para
outro setor, seja para internação, para exames, para procedimento cirúrgico,
então pode ser unidade de imagem, Tomografia, Raio-X;
pode ser para o CC ou pra UTI.
Existem quatro tipos
de transporte: 1) Transferência, sem retorno do paciente, para fora da área de
tratamento intensivo (UTI, CC e sala de recuperação anestésica); 2) Transferência
em um único sentido de um paciente para uma área de cuidados intensivos;
envolve o transporte de pacientes da sala de emergência (clínica ou trauma) ou
enfermaria para a UTI ou para o CC; 3) Transferência da UTI para o CC, com
retorno a UTI; 4) Transferência da UTI para áreas não UTI e retorno do paciente
a UTI, na qual envolve as transferências para áreas onde são realizados
procedimentos diagnósticos ou terapêuticos não cirúrgicos [1,12].
O significado do TIH de pacientes
críticos, para os entrevistados, configura-se na definição do que é o TIH, não
fazendo considerações frente à especificidade do transporte de pacientes
críticos. Em consonância com o DSC acima, diversos
autores definem o TIH. Dentre eles: tipo de transporte temporário ou definitivo
de pacientes por profissionais de saúde dentro do ambiente
hospitalar, seja para fins diagnósticos, seja para fins terapêuticos
[7,12]. A razão básica para o TIH do paciente crítico é a necessidade de
cuidados adicionais (tecnologia e/ou especialistas) que não estão disponíveis
no local onde o paciente se encontra [15].
A segunda ideia
central mais frequente: “Transporte de paciente grave com equipamento para
outro setor”, já fica evidenciada a condição especial de paciente em estado
crítico através do DSC:
O
transporte intra-hospitalar de pacientes críticos é o transporte no qual você
necessita de alguns equipamentos e dos profissionais qualificados para fazer,
como a fisioterapeuta, o enfermeiro, o médico e o auxiliar de enfermagem ou um
técnico. É um encaminhamento de um paciente que precisa de um suporte avançado
ou não, a outra área ou unidade de internação hospitalar. Seria a maneira como
eu vou transportar um paciente que requer um atendimento com mais cuidado, com
mais recursos. Normalmente, aqui no PS é quando ele vai para o CC, e até mesmo
quando ele vai para a clínica médica, dependendo do risco dele.
O transporte de
pessoa em situação crítica é entendido como uma medida de recurso e
estritamente necessária a condição clínica da pessoa doente que deverá obedecer
ao princípio de que os benefícios se sobrepõem aos riscos. A pessoa se ausenta
do serviço para realizar exames de diagnóstico e/ou para intervenções
terapêuticas [16]. A ocorrência de eventos adversos foi constatada em estudo no
qual se observou a realização desse procedimento [17].
A condição para a
realização do transporte do paciente crítico, para que não ocorra agravamento
do seu estado de saúde, é salientada no DSC a seguir:
É
quando transportamos um paciente de alto risco, de um setor para outro, com
equipamentos necessários para o transporte, para que não ocorra nenhum risco.
O doente crítico é
definido por apresentar disfunção ou falência de um ou mais órgãos ou sistemas
e depende para sobreviver de meios avançados de monitorização e terapêutica.
Deve haver equipamentos destinados especificamente ao transporte e permanência
do paciente no local de destino, se a permanência for temporária. Esses
equipamentos devem ser projetados especificamente para o transporte, possuindo
fonte energética (bateria) de longa duração e recarregável. Devem permitir que
a terapia empregada na unidade de origem não seja descontinuada e
principalmente que seus métodos não sejam modificados durante o transporte e
permanência na unidade de destino, particularmente importante com os
ventiladores mecânicos e bombas de infusão. A insuficiência de equipamentos e
monitorização mínima que assegure o transporte o inviabiliza, exceto em
situações de risco iminente de morte [12].
A decisão de
transportar um paciente crítico deve ser baseada na avaliação e ponderação dos
benefícios e riscos potenciais, e o problema mais frequente é a falha no
controle das funções cardiorrespiratórias, resultando em instabilidade fisiológica,
que pode trazer sérias consequências [1]. Diversos estudos identificaram a
ocorrência de eventos adversos, variando entre 30% e 70%, durante o transporte
da pessoa em estado crítico relacionados à clínica e a equipamentos [18].
A necessidade de
equipamentos e de recursos para o transporte do paciente crítico,
independentemente do setor de destino, é referida no DSC:
Logo,
é quando a gente tem que encaminhar um paciente grave, daqui do PS, para
qualquer setor, ele precisa de dispositivos, de bombas, geralmente para UTI ou
direto para o CC. Seria a maneira como eu vou transportar um paciente que
requer um atendimento com mais cuidado, com mais recursos.
A avaliação dos
equipamentos e materiais que compõem o transporte deve ser checada antes de
qualquer procedimento e precisam estar em perfeitas condições de uso, o que
exige manutenção periódica [7]. Mediante a falha nos equipamentos, 45% dos
eventos ocorridos no transporte seriam as falhas, como por exemplo: os
equipamentos de ventilação mecânica (desconexão, cilindros de oxigênio vazios,
bolsas furadas/selamento inadequado); equipamentos de infusão (término da
bateria ou da medicação sem a possibilidade imediata de reposição);
equipamentos de monitorização (mau funcionamento, interferência, tela imprópria
para visualização) [19].
O significado do TIH
também é evidenciado pela ideia central: “Procedimento Importante”, o qual pode
observar no seguinte DSC:
O
transporte do paciente crítico intra-hospitalar é um dos procedimentos mais
importantes que existe, porque além do paciente estar contando com a
organização do serviço, uma estrutura e de um recurso de equipe
multiprofissional, isso também faz parte do tratamento do paciente.
O transporte de
paciente crítico exige uma estratégia cuidadosa, especialmente em relação à
comunicação entre a equipe, identificando informações básicas relacionadas ao
paciente como idade, peso, diagnóstico, destino e procedimento a ser realizado, estabilidade hemodinâmica, padrão respiratório,
acesso venoso e transmissão de tais informações a equipe receptora. A
existência de um instrumento que norteie as ações dos profissionais quanto à
realização do TIH é de suma importância para a segurança do paciente [19].
O sucesso no TIH
depende diretamente do planejamento e da atuação organizada da equipe
multiprofissional, bem como da escolha de equipamentos adequados [15]. Alguns
autores são categóricos ao afirmarem que a ausência de coordenação, falta de
foco na real necessidade do paciente e do seguimento dos procedimentos fazem
com que o número de eventos adversos durante o transporte aumente.
Em relação ao tema
procedimentos adotados no TIH de pacientes críticos, mediante a pergunta:
Explique para mim como é feito neste hospital o transporte intra-hospitalar de
pacientes críticos, obteve-se a ideia central de maior frequência: com a equipe
multiprofissional mediante diversos procedimentos.
Podemos observar no
DSC:
O
transporte do paciente crítico requer planejamento. Ele tem que ser acompanhado
pela equipe multiprofissional. Tem que ter a presença do médico, um enfermeiro,
técnico e fisioterapeuta. Quando você pensa no transporte do paciente, você tem
que saber o que eu preciso para esse transporte, de materiais, dos recursos,
envolvendo a enfermagem e outros profissionais.
A organização do trabalho de transporte
de pacientes críticos deve ser otimizada desde o
planejamento até a execução [20]. É imprescindível a definição dos componentes
da equipe e do número de profissionais necessários, de acordo com a condição
clínica do paciente, que deve ser no mínimo dois membros, sendo um deles o
enfermeiro da unidade de terapia intensiva. A presença do médico é necessária
durante o transporte de pacientes hemodinamicamente instáveis, ventilados
mecanicamente, com monitorização invasiva e em uso de drogas vasoativas [21].
Há referência ao planejamento, à participação de profissionais qualificados e
uso de equipamentos adequados de monitorização como itens essenciais no
transporte seguro, diminuindo intercorrências durante o procedimento [19].
Ao planejar o
transporte de um paciente crítico, deve-se procurar prever e, se possível,
antecipar, todas as intercorrências que possam ocorrer durante o deslocamento
[12].
Essa conduta é
referida pelos enfermeiros no DSC:
Você
precisa fazer uma avaliação prévia antes de encaminhar o paciente. O paciente
só sobe quando ele está estável e estabilizado. O médico avalia se tem
condições para o transporte, risco e benefício. Faz-se o contato com a área que
vai recebê-lo e é passado o plantão. Sempre tem essa comunicação. Então essa
equipe que vai transferir esse paciente, ela precisa contar com os recursos
intra-hospitalares, com a organização do serviço para garantir a esse paciente
um transporte seguro de um setor ao outro.
É importante
ressaltar que a avaliação dos pacientes, antes da realização do transporte, é
imprescindível para o seu sucesso, seja qual for sua finalidade [7]. Em relação
às dificuldades, ficou evidenciado que a falta de comunicação prévia da equipe
de enfermagem com os setores de destino foi quesito desfavorável para a
realização adequada do procedimento. Problemas de comunicação podem desencadear
dificuldades e eventos adversos nos ambientes hospitalares, e na realização de
TIH. Podem acarretar também atrasos no encaminhamento dos pacientes, ou na
entrada destes na sala de exames, deixando-os mais expostos [22]. Em 75% dos
TIH de pacientes críticos, realizados em dois hospitais, foram constatados
eventos adversos relacionados às falhas de equipamentos e de equipe,
predominando problemas com baterias e comunicação profissional [5].
Os equipamentos
necessários e condutas a serem adotadas pelo enfermeiro são referidos no DSC:
Existe
todo um aparato de transporte para esse paciente ser transferido. Por exemplo:
tem que ter o monitor cardíaco, oximetria, um respirador de transporte
especial, o circuito, as bombas de infusão, o cilindro de O2 cheio, têm que ser
checado. Antes de transportar esse paciente, a enfermeira verifica as condições
de bomba, de droga, dreno, de quanto tem de oxigênio no cilindro, o ambu,
monitor, drogas vasoativas, cuidados com drenos e sondas.
Em um estudo realizado
sobre a caracterização do transporte de pacientes críticos na modalidade
intra-hospitalar, obteve-se 41% dos pacientes com suporte ventilatório, e 34%
em uso de drogas vasoativas, noradrenalina utilizado em 28% dos casos. Quanto
às equipes de transporte, 77% foram compostas por médico, enfermeiro e técnico
de enfermagem, e apenas 18% sem a presença do médico, somente enfermeiro e
técnico de enfermagem. Os equipamentos portáteis para atender as necessidades
de monitorização, infusão continua de medicamentos e suporte ventilatório
durante o transporte de pacientes críticos, devem estar em perfeito
funcionamento e com a bateria carregada [20].
Alguns riscos são
inerentes ao transporte independente do tempo ou distância. As alterações
fisiológicas não estão sempre relacionadas a erros técnicos e podem ser devidas
a alterações respiratórias e cardíacas resultantes da dor provocada pelo
movimento do paciente no seu deslocamento, ou alterações decorrentes da mudança
de decúbito do paciente. Outras, no entanto, são decorrentes de falhas técnicas
como a interrupção acidental da infusão endovenosa de aminas vasoativas, a
perda de pressão nos cilindros de oxigênio e outras explicações plausíveis,
porém geralmente não documentadas [1].
A utilização do Roteiro
de Observação do TIH em uma UTI revelou a ocorrência de incidentes devido aos
equipamentos e dispositivos, entre eles, desconexão e perda com cateter
arterial invasivo, trações com o cateter de oxigênio, perda com cateter venoso
central e periférico e desconexão e tração com sonda vesical de demora. Nos
equipamentos ocorreram: término da bateria da bomba de infusão contínua,
término do oxigênio do cilindro, mau funcionamento do oxímetro de pulso e o
término da bateria do oxímetro de pulso [17].
Os enfermeiros
destacam a existência de um protocolo para o transporte do paciente crítico,
como a seguir. DSC:
Temos
que fazer a checagem da maleta de transporte, onde temas
drogas, laringoscópio, sonda, o que for necessário para
uma urgência, o básico
que tem no carrinho de parada também. Existe um protocolo de
transporte de
pacientes críticos, onde o checklist é checado.
São vários itens, desde a
avaliação primária, a evolução
médica, prescrição de enfermagem se tem
evolução
do dia, exames impressos dentro do prontuário.
Estudo realizado
relatou que 31% dos incidentes que ocorreram durante o TIH do paciente crítico
resultam em distúrbios fisiológicos. Os autores recomendam vivamente a
existência de protocolos de atuação. Em outro estudo, obteve-se que 68% dos
transportes ocorriam problemas hemodinâmicos, relacionados a equipamentos,
sedação inadequada [23]. Ainda, em estudo realizado por meio de observação
concluiu-se que o checklist é um roteiro que possibilita observar e inspecionar
todas as etapas que podem comprometer a segurança do TIH [17]. Deve-se realizar
um checklist antes, durante e depois do transporte, e no geral impreterível
seguir as Guideliness de transporte de pessoas doentes [16].
O
trabalho em equipe
para avaliação das condições
clínicas do paciente e prevenção de
complicações é
evidenciado no DSC:
Tem o momento da
checagem de tudo, da equipe e a união da equipe para levar esse paciente. Esse
paciente é avaliado por toda equipe tanto da parte médica como do enfermeiro,
para ver se tem algum critério de instabilidade. A responsabilidade é maior do
enfermeiro e checando tudo você vai solicitar a equipe multiprofissional.
A Resolução da
Diretoria Colegiada (RCD) n° 07, preconiza-se que o acompanhamento deve ser
realizado por pelo menos um enfermeiro, um médico durante TIH de pacientes
críticos, bem como a disponibilidade do prontuário do paciente neste
procedimento [11]. Diversos estudos realizados apontam que dentre os eventos
adversos que ocorrem no transporte em razão dos problemas da equipe,
destacam-se, a falta de conhecimento do profissional e a falha de comunicação
[19]
A seguir discute-se
sobre a segunda ideia central de maior frequência em relação
ao tema procedimentos adotados no TIH: “Com a equipe multiprofissional e
materiais”. DSC:
Para
fazer esse procedimento, transportar de uma unidade para outra, sempre vai a equipe multiprofissional, médico, enfermeiro, técnico,
fisioterapeuta. Tem que ter todo um planejamento para o transporte. Com o
paciente crítico levamos todos os materiais necessários para uma eventual
intercorrência, a maleta, onde contém cânula de intubação, materiais para
reanimação, sedação se for um caso de intubação, ambu, máscara, ventilador de
transporte, bombas de infusão, com as medicações que estiverem correndo,
torpedo de O2, maleta de transporte com as medicações mais básicas para
emergência, o monitor e no mínimo um oxímetro. Todo o material necessário como
se você fosse dar uma assistência dentro da unidade. O fundamental é sempre
avisar o outro setor. A gente sempre avisa. Fala como o paciente está. O
prontuário vai junto.
Em relação à equipe
de transporte, são necessárias no mínimo duas pessoas, para ser capaz de
providenciar suporte de vias aéreas, interpretar possíveis alterações
cardiovasculares e respiratórias e que estejam aptos a lidar com possíveis
problemas técnicos nos vários equipamentos. Podem fazer parte da equipe de
transporte: enfermeiro, médico, auxiliar e técnico de enfermagem e fisioterapeuta.O médico deve acompanhar o TIH daqueles
pacientes com estado fisiológico instável e que podem precisar de intervenções
agudas que estão além da capacidade técnica do enfermeiro e/ou fisioterapeuta,
sendo obrigatória a sua presença nas seguintes situações: pacientes com via
área artificial (intubação endotraqueal, crico/traqueostomia), instabilidade
hemodinâmica, uso de drogas vasoativas e utilização de monitorização invasiva
[1].
É necessário checar
equipamentos portáteis: maleta de transporte com medicações e material para
intubação, níveis de gases nos cilindros, respirador portátil e bombas
infusoras; reunir equipe para transporte: médico, enfermeiro e fisioterapeuta;
e entrar em contato com local de destino, confirmando o transporte [15].
A Resolução 376/2011
dispõe sobre a participação dos profissionais de enfermagem no transporte de
pacientes em ambientes hospitalares, também estabelece a função da equipe de
enfermagem no que se refere ao preparo, apontando diversas observações e
procedimentos que devem ser seguidos para assegurar um transporte seguro [24].
A equipe de enfermagem é de fundamental importância durante o transporte, pois
diminui a incidência de eventos adversos. Ao analisar os profissionais de
eventos adversos durante o transporte, constatou-se que a incidência de eventos
desencadeados pela equipe de enfermagem era menor quando comparada com a equipe
médica (22% e 26% respectivamente) e equiparada a outros profissionais de saúde
(22%). Além do que, os incidentes foram primeiramente detectados pelos
profissionais de enfermagem [19].
A taxa de eventos
adversos durante o transporte de pacientes é menor quando médicos com maior
experiência transportam pacientes críticos se comparado a médicos menos
experientes [5].
A terceira ideia em
relação aos procedimentos adotados no TIH é: “Quando o paciente está
estabilizado”. Pode ser evidenciado através do seguinte DSC:
Transportamos
o paciente quando ele está mais estabilizado, porque eu não quero colocar em
risco o paciente, porque pode ter intercorrências. Às vezes, a gente passa o
plantão, mas demora um pouquinho para levar, até colocar os drenos no lugar, as
sondas, trocar de cama. E a gente espera, passa o paciente da mesa operatória
para cama na hora de transportar, e espera, porque, às vezes, só por mexer no
paciente, altera os parâmetros. Tem que avaliar o risco benefício. Mesmo o
transporte sendo necessário, vemos até que ponto vamos
transportar naquele momento.
As alterações
fisiológicas do paciente crítico transportado são apontadas em diversos
estudos: aumento da frequência cardíaca, alterações nos níveis pressóricos,
aumento da pressão intracraniana, arritmias, ataques cardíacos, alterações na
frequência respiratória, queda da saturação de oxigênio, aumento da pressão das
vias aéreas, obstrução das vias aéreas pelas secreções, tosse excessiva,
agitação, sangramento, hipo e /hipercapnia, hipoxemia, alterações na gasometria
arterial e parada cardiorrespiratória. Também problemas com equipamentos como:
extubação acidental, falhas nas bombas de infusão continua, interrupção de
infusão de drogas vasoativas, desconexão dos eletrodos, do cardioscópio, descarregamento
de monitores, perda de acesso venoso e/ ou desconexão do ventilador de
transporte [19]. Durante a observação em UTI do TIH de pacientes críticos foram
registrados eventos adversos sendo os mais frequentes: hipertensão (8,9%),
seguida do evento hipotensão (4,9%), e agitação, queda da saturação arterial
periférica, hipertensão e taquicardia, com 2,9% dos casos cada. [17]
Essas intercorrências
podem ser evidenciadas no DSC:
Se
a gente está indo e chega à metade do CC e da UTI, percebeu alguma coisa, a
gente para e volta, onde as enfermeiras referem sua conduta frente às
intercorrências ocorridas, durante o transporte.
Dos problemas e
incidentes ocorridos no TIH, 36% destes foram obstáculos relacionados com
dificuldades vividas durante o transporte, como por exemplo: elevador, 29% das
dificuldades relacionadas com o material e equipamento (suporte de soro na
cama, identificação, cilindro de O2), 21% relacionados à equipe médica, como a
alteração de tempos operatórios, e por último 14% relacionadas às complicações
e gravidade da sua situação clínica [16].
Os objetivos do
presente trabalho permitiram as seguintes conclusões: o transporte
intra-hospitalar foi caracterizado de diversas formas, sobressaindo mais as
ideias relacionadas com a diversificação dos tipos de transporte
intra-hospitalar. Os procedimentos adotados para a realização do transporte
foram identificados pela presença dos recursos humanos e equipamentos.