ARTIGO
ORIGINAL
Conhecendo
o grau de risco para o desenvolvimento do pé diabético em pessoas idosas com
diabetes mellitus tipo 2
Waldere Fabri Pereira
Ribeiro, D.Sc.*, Maiúme Roana Ferreira de Carvalho**,
Ana Paula de Moura***, Túlia de Cássia Campos***
*Enfermeira,
Professora da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), Itajubá/MG,
**Enfermeira, Mestranda em Enfermagem, Itajubá/MG, ***Discente do Curso de
Enfermagem na Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, Itajubá/MG
Recebido em 17 de
junho de 2016; aceito em 5 de maio de 2017.
Endereço
para correspondência:
Waldere Fabri Pereira Ribeiro, Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, Rua Cesário
Alvim, 566, 37501-059 Itajubá/MG, E-mail: walfabri@gmail.com,
enf_maiume@yahoo.com.br, anapaula-moura87@hotmail.com, tulia.campos@hotmail.com
Artigo
originado do Trabalho de Conclusão de Curso Conhecendo o grau de risco para o
desenvolvimento do pé diabético em pessoas idosas com diabetes mellitus tipo 2 apresentado ao curso de graduação em Enfermagem da Escola
de Enfermagem Wenceslau Braz.
Resumo
Objetivo: Conhecer o perfil
sociodemográfico e econômico, a situação de saúde dos idosos com diabetes
mellitus (DM) tipo 2 em risco para o desenvolvimento
da complicação do pé diabético e identificar o grau de risco para se desenvolver
esta complicação. Material e métodos:
Estudo descritivo, transversal e de natureza quantitativa, desenvolvido em um
centro de atendimento de enfermagem de uma cidade do sul de Minas Gerais. A
ferramenta de pesquisa utilizada foi Instrumento para anamnese, avaliação de
pés e classificação de risco de pacientes diabéticos, sendo o instrumento de
domínio público. Foram avaliados 60 idosos com diabetes mellitus tipo 2 com idade a partir de 60 anos. Resultados: Constatou-se que 63,33% eram do sexo feminino, 53,33%
apresentavam idades entre 60 e 70 anos, 66,67% eram casados. Quanto às
características pessoais, 39,58% tinham o Ensino Fundamental incompleto, 35%
tinham renda mensal de até 1 salário mínimo e 28,38%
entre 1 e 2 salários mínimos, 63,33% apresentavam o diagnóstico de hipertensão
arterial, 41,67% tinham diagnóstico de DM acima de 20 anos; 100% não
apresentavam resultados de hemoglobina glicada, 73,33% faziam uso de insulina.
Com relação ao grau de risco para o desenvolvimento da complicação pé diabético,
60% das pessoas apresentavam algum grau de risco. E, em relação ao exame
físico, neurológico e vascular, 53,33% das pessoas com diabetes apresentavam
distúrbios da sensibilidade, mas a maioria não apresentavam deformidades
(65,00%) nem úlceras (71,67%), nem doença arterial periférica (53,33%). Conclusão: Aponta-se a necessidade do
profissional de saúde, em especial, o enfermeiro, realizar orientações
educativas que contribuam para um cuidar mais efetivo do idoso, com ênfase na
prevenção das complicações do DM como o pé diabético.
Palavras-chave: complicações do
diabetes, pé diabético, educação em saúde.
Abstract
Knowing the level of risk for diabetic foot occurence
in elderly people with diabetes mellitus type 2
Objective: To
characterize the sociodemographic, economic profile and health situation of
older people with diabetes mellitus (DM) type 2 who are at risk of developing
diabetic foot complications and identify the degree of the development of this
complication. Methods: Descriptive,
transversal and quantitative study, developed in a nursing care center of a
town in southern Minas Gerais, Brazil. Research tool
used was Instrument for anamnesis, assessment of feet and classification of
risk in diabetic patients. Sixty elderly patients with type 2 diabetes, ≥
60 years old, were evaluated. Results:
63.33% of the patients were female, 53.33% were 60 to 70 years old, 66.67% were married. The personal characteristics showed
that 39.58% had incomplete primary education, 35% had a monthly income ≥
one minimum salary, 28,38% had a diagnosis of
hypertension, 41, 67% ere with DM for 20 years, nobody had hemoglobin A1c
results, 73,33% used insulin. Regarding the degree of risk for the development
of diabetic foot complications, 60% of people had some degree of risk. In
regards to the physical, neurological and vascular examinations: 53.33% of
people with diabetes had lack of sensitivity; 65% dis not
have deformities; 71.67% did not have ulcers; 53.33% did not have
peripheral artery disease. Conclusion:
It is worth pointing out the need of healthcare professionals, especially
nurses, conducting educational orientations that contribute to more effective
care of the elderly, with emphasis on the prevention of DM complications,
particularly diabetic foot.
Key-words: diabetes complications, diabetic foot, health education.
Resumen
Conociendo el grado
de riesgo para el desarrollo del pie diabético en personas mayores con diabetes
mellitus tipo 2
Objetivo: Conocer el perfil socio demográfico y económico, la situación de
salud de los mayores con diabetes mellitus (DM) tipo 2 con riesgo para el
desarrollo de complicaciones del pie diabético e identificar el grado de riesgo
para desarrollar esa complicación. Material
y métodos: Estudio descriptivo, transversal y de enfoque cuantitativo,
desarrollado en un centro de atención de enfermería de una ciudad del sur de Minas Gerais. La herramienta de investigación
utilizada fue Instrumento para anamnesis, evaluación de píes y clasificación de
riesgo de pacientes diabéticos, siendo el instrumento
de dominio público. Sesenta adultos mayores con diabetes mellitus tipo 2 con 60 años o más fueron evaluados. Resultados: Se constató que el 63,33% eran
del sexo femenino, 53,33% tenían entre 60 y 70 años, 66,67 eran casados. En
cuanto a las características personales, 39,58% tenían la
enseñanza básica incompleta, 35% tenían renta mensual de hasta un (1) sueldo
mínimo y 28,38% entre 1 y 2 sueldos mínimos, 63,33% fueron diagnosticados de
sufrir de hipertensión arterial, 41,67% tenían diagnóstico de DM más de 20
años; 100% no presentaban resultados de hemoglobina glicada, 73,33% usaban
insulina. Con relación al grado de riesgo para el
desarrollo de complicación de pie diabético, 60% de las personas presentaban
algún grado de riesgo para desarrollar el pie diabético. Y, en relación al examen físico, neurológico y vascular, 53,33% de las
personas con diabetes tenían ausencia de sensibilidad, 65% no tenían
deformidad, 71,67% no tenían úlceras, 53,33% no tenían enfermedad arterial
periférica (DAP). Conclusión: Se
plantea la necesidad del profesional de salud, en
particular el enfermero, de realizar orientaciones educativas que contribuyan
para un cuidado más efectivo del adulto mayor, con énfasis en la prevención de
complicaciones de DM, principalmente, el pie diabético.
Palabras-clave: complicaciones de la diabetes, pie diabético, educación en salud.
O diabetes mellitus
(DM) é uma doença crônico-degenerativa, caracterizada por níveis séricos
elevados de glicose, ocasionados pela deficiência total ou parcial de insulina
ou pela resistência celular à mesma [1]. Devido ao comprometimento do
metabolismo da glicose e de outras substâncias produtoras de energia, associado
a uma variedade de complicações em órgãos essenciais para a manutenção da vida
[2]. O DM é destacado mundialmente como problema de saúde pública devido ao
número de pessoas afetadas, às complicações e incapacitações trazidas
pela doença e ao elevado custo financeiro da sua abordagem terapêutica
[3]. Atualmente existem 382 milhões de pessoas no mundo com DM, e estima-se um
aumento de 55% de casos até o ano de 2035. O Brasil encontra-se em quarto lugar
no ranking dos 10 países com maior prevalência do diabetes, aproximadamente 12
milhões de brasileiros convivem com a doença [4]. Este aumento é devido ao
crescimento e envelhecimento populacional, à maior urbanização, à crescente
prevalência de obesidade e sedentarismo, bem como à maior sobrevida de
pacientes com DM [5].
O diabetes é uma
importante causa de óbito devido ao alto risco de desenvolvimento de
complicações agudas e crônicas. Entre as complicações agudas da diabetes estão
hipoglicemia, cetoacidose diabética, síndrome hiperglicêmica, hiperosmolar e
lactoacidose que são causas de recorrência à urgência e internação e estão
associadas, na maioria dos casos, a intercorrências
médicas e/ou falhas terapêuticas. Dentre as
consequências crônicas do DM
ocorrem alterações micro e macrovasculares, geradas pela
falta de um controle
glicêmico satisfatório, que leva a uma
disfunção, dano ou falência de vários
órgãos. As complicações crônicas
incluem a nefropatia, como possível evolução
para insuficiência renal, a retinopatia, com a possibilidade de
cegueira e a
neuropatia, com risco de úlceras nos pés e até
amputações [6,7].
Dentre essas
complicações, o pé diabético é a que mais se destaca. É considerada a
complicação mais devastadora, responsável por 40% a 60% das amputações não
traumáticas e pelo maior número de admissões hospitalares, com gastos anuais em
relação a seu cuidado chegando a cinco bilhões de dólares nos Estados Unidos.
Além disso, estima-se que um em cada quatro pacientes com diabetes irão
desenvolver feridas crônicas nos pés em algum momento da vida [7,8].
O pé diabético é o
termo usado para designar as diversas lesões que podem ocorrer no pé do
indivíduo diabético. Consistindo em lesões cutâneas e de planos profundos
relacionados com alterações neuropáticas, vasculares, ortopédicas, infecciosas
e funcionais do diabético [9]. A comorbidade pé diabético se desenvolve na
presença de vários fatores, como história pregressa de tabagismo, etilismo,
história familiar para diabetes, hipertensão arterial, descontrole glicêmico, e
fatores socioculturais. Os mais importantes são a neuropatia diabética, a desinformação
sobre os cuidados com os pés, presença de pontos de pressão anormal que
favorecem as calosidades, as deformidades, a doença vascular periférica e as
dermatoses comuns (sobretudo entre os dedos). Alguns estudos demonstram outras potenciais variáveis de risco para a ulceração que
incluem características demográficas como idade, sexo, raça; condições de
comorbidades, como tempo de diagnóstico de DM e outras doenças microvasculares.
A associação de algumas doenças microvasculares, mau controle glicêmico, tempo
de duração do diabetes e baixo nível social-escolar podem interferir na
prevenção primária e secundária das complicações nos pés [10,11].
Desse modo, algumas
variáveis socioeconômicas e demográficas assim como comorbidades têm influência
na inclusão de um portador de DM em alguma categoria de risco para
desenvolvimento do pé diabético, pois todos esses fatores interferem no
controle adequado do DM, levando a complicações [10].
Neste sentido,
desconhecemos a condição dos pés das pessoas com DM e quais os fatores de risco
mais presentes em nosso contexto. Reconhecemos que o trabalho do enfermeiro é
essencial, rastreando e monitorando os fatores de risco sugestivos
desencadeadores do pé diabético.
A relevância do tema
escolhido e a escassez de estudos que abordam a temática na realidade
brasileira justificam este estudo, que tem por objetivo identificar os fatores
de risco para o desencadeamento do pé diabético.
Estudo descritivo,
transversal e de natureza quantitativa, desenvolvido em um centro de
atendimento de enfermagem localizado na cidade de Itajubá do sul de Minas
Gerais.
A população do estudo
foi constituída por pessoas idosas, com 60 anos completos ou
mais, cadastrados no centro de atendimento de enfermagem. Os critérios
de inclusão dos sujeitos no estudo foram: ter idade igual ou superior a 60
anos; ser portador de DM tipo 2; estar cadastrado no
centro de atendimento de enfermagem; aceitar participar da pesquisa; assinar o
termo de consentimento livre e esclarecido. Os critérios de exclusão adotados
foram: portar alguma deficiência que impedissem de responder aos estímulos
sensoriais nos pés, como no caso da paraplegia, tetraplegia ou hanseníase e não
atender aos critérios de inclusão citados.
A coleta de dados foi
realizada por meio de uma entrevista, nas dependências do centro de atendimento
de enfermagem ou no domicílio do participante, previamente agendada no período
de outubro a novembro de 2014, ocasião em que foi aplicado pelas pesquisadoras
um instrumento, de domínio público, denominado Instrumento para anamnese, avaliação de pés e classificação de risco de
pacientes diabéticos. Incluiu para avaliação dados relativos a: identificação, anamnese e história da doença, avaliação
geral, avaliação vascular e neurológica e a classificação de risco do paciente.
Após a coleta dos dados, os mesmos foram armazenados e tabulados em uma
planilha eletrônica criada pelas pesquisadoras utilizando o programa Microsoft
Office Excel, versão 2010. Os dados foram analisados por meio de estatísticas
descritivas e expostos por meio da construção de gráficos de distribuição de
frequências percentuais e tabelas
A pesquisa obedeceu a
Resolução nº 446/12, do Ministério da Saúde e foi aprovada pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz que concedeu o parecer
consubstanciado nº 791.755 em 15/09/2014. Foi obtido o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido e respeitados os princípios éticos de justiça, respeito à
dignidade humana e beneficência; garantindo o sigilo e o anonimato; e
respeitado o direito de desistir da participação do estudo a qualquer momento.
Os resultados
demonstraram quanto aos dados de identificação dos idosos diabéticos que 63,33%
eram do sexo feminino; 53,33% apresentaram idades entre 60 e 70 anos; 66,67%
eram casados, conforme consta da Tabela I.
Tabela
I – Caracterização dos idosos diabéticos quanto
às variáveis: gênero, idade e estado civil.
Fonte: Dos autores.
Quanto às características
pessoais dos idosos diabéticos na avaliação do grau de instrução, verificou-se
um aumento do grau de instrução, porém com baixo nível de escolaridade 39,58%
tinham primeiro grau incompleto, (gráfico 1); na
distribuição de renda entre os idosos observou-se que 38,33% recebiam de 2 a 3
salários (gráfico 2).
Fonte: Dos autores;
Nota: Informações extraídas do Instrumento de Pesquisa.
Gráfico
1 - Percentil dos pacientes diabéticos
distribuídos por grau de instrução.
Fonte: Dos autores;
Nota: Informações extraídas do Instrumento de Pesquisa
Gráfico
2 - Percentil dos idosos diabéticos distribuídos
por renda.
Mais da metade dos
entrevistados (63,33%) referiu ter hipertensão arterial; 51,67% dos pacientes
diabéticos não portavam doença cardiovascular (DCV). Ao se avaliar o hábito de
fumar dos pacientes diabéticos foi evidenciado que 36,84% das mulheres fumavam
ou eram ex-tabagistas enquanto 63,16% nunca fumaram. Já entre os homens, 27,27%
eram tabagistas e ex-tabagistas e 72,73% não fumavam. Portanto houve uma
diferença entre os sexos visto que entre os homens a parcela de tabagistas e
ex-tabagistas é menor em relação às mulheres (gráfico 3).
Fonte: Dos autores;
Nota: Informações extraídas do Instrumento de Pesquisa
Gráfico
3 - Percentil dos idosos diabéticos distribuídos
por hábito do tabagismo e ex-tabagismo conforme o gênero.
Constatou-se que dos
pacientes diabéticos 21,67% tinham diagnóstico de DM entre 0
e 10 anos, 36,67% entre 10 e 20 anos e 41,67% acima de 20 anos. Quanto ao exame
de hemoglobina glicada, na leitura dos prontuários da população em questão, não
se observou registro desses exames. Em referência à história familiar para
diabetes, 83,33% dos pacientes apresentaram história familiar positiva para
diabetes mellitus. Quanto ao uso de insulina, verificou-se que 73,33% faziam
uso da mesma.
Tabela
II -
Distribuição dos idosos diabéticos
segundo resultados do exame físico, neurológico e vascular conforme tabela de
risco.
DAP = Doença Arterial
Periférica; Fonte: Dos autores; Nota: Informações extraídas do Instrumento de Pesquisa
Ao observar a tabela
acima dentre os aspectos relacionados ao exame físico, neurológico e vascular
que contribuíram para colocar o paciente em risco para desenvolvimento do pé
diabético, o teste neurológico apresentou resultados significativos, 53,33% das
pessoas com diabetes possuíam a sensibilidade ausente.
Constatou-se que 60%
das pessoas apresentaram algum grau de risco para desenvolver o pé diabético.
As características
sociodemográficas da população do estudo são semelhantes às
encontradas em outros estudos, especialmente em relação à idade, sexo,
escolaridade, estado civil e renda, predominância do sexo feminino e
apresentam o DM há mais de 20 anos, além de apresentarem um baixo nível de
escolaridade.
Com relação ao
predomínio do sexo feminino, este fato pode ser explicado pelo desconhecimento
da doença pelos homens e maior procura das mulheres pelos serviços de saúde
[12]. A explicação desse fenômeno passa também por uma questão de gênero, em
que homens e mulheres, sob efeito de elementos
culturais distintos, são vistos de forma diferente: a mulher ainda é vista como
a cuidadora do lar, enquanto os homens são responsáveis por prover
financeiramente o mesmo. Isso faz com que desenvolvam padrões de comportamentos
diferentes com relação ao autocuidado com a saúde [10,13].
Além das questões de
gênero, outros estudos apontam existir outros fatores, capazes de dificultar o
acesso dos homens a esses serviços. Alguns desses fatores estão relacionados ao
trabalho, à acessibilidade, às especificidades das equipes profissionais e à
estrutura de funcionamento desses serviços, como outros elementos
influenciadores de uma menor procura dos homens pelas assistências em saúde
[14].
A partir desse
resultado, pensa-se existir um longo caminho a ser percorrido na busca de
ultrapassar as barreiras estruturais e culturais responsáveis pelos
comportamentos e atitudes negligentes na saúde por parte de uma parcela
significativa da população masculina.
O quadro de transição
demográfica apresentado atualmente como o aumento da expectativa de vida da
população aliado a melhorias sanitárias, econômicas e políticas sociais
favorecem o aumento da população compreendida na faixa etária de 60 anos ou
mais, o que explica a grande procura de atendimento por parte dos idosos entre
60 e 70 anos de vida [15].
Sobre este aspecto,
grande é a responsabilidade dos profissionais de saúde que lidam com idosos.
Estes devem buscar, constantemente, abordar temáticas educativas que
representem os interesses dessa clientela, bem como procurar de forma dinâmica
e prática metodologias de ensino que facilitem o processo do saber-fazer desses
pacientes, para que assim eles possam, juntamente com o apoio da família,
realizar seus cuidados com os pés.
O estado civil
representa outra variável que compõe o conjunto de fatores sociais para o risco
de desenvolvimento do pé diabético. No presente estudo mais da metade dos
participantes eram casados, seguidos dos viúvos, o que vêm ao encontro de outro
estudo que o observa predomínio de casados seguidos de viúvos. O que reflete na
influência à adesão ao tratamento pelos idosos diabéticos, devido à influência
que há na dinâmica familiar e no cuidado, pois inclui a participação familiar e
maior envolvimento de todos no tratamento da patologia. Facilitando o cuidado
ao idoso, devido estarem sendo assistidos em suas necessidades, principalmente
quando já estão presentes as complicações do diabetes que os impossibilitam de
realizar atividades do dia a dia sozinho [16].
Na avaliação do grau
de instrução verificou-se um aumento do grau de instrução, porém com baixo
nível de escolaridade. Esses dados nos indicam que os pacientes possuem baixa
capacidade de discernimento para aquisição de conhecimentos e mostram que o trabalho
foi realizado com uma população diferenciada quanto à escolaridade, se
comparados a outro estudo em que predominou a alta escolaridade da população
estudada. O que é um fator complicador para o cuidado ao paciente diabético,
pois há necessidade de conhecimento sobre a patologia e as complicações
advindas do diabetes para melhor conscientização da importância de certas
atitudes com relação a sua saúde [10].
Na distribuição de
renda entre os idosos observou-se que o resultado encontrado se assemelha com o
relatório divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), que indica que 43,20% dos idosos do país viviam com uma renda
domiciliar per capita de até um salário mínimo. O que traz para o grupo
familiar dificuldades no tratamento ao idoso diabético, visto que alimentos
saudáveis possuem um preço mais elevado para esse grupo familiar, sendo mais
acessíveis produtos da cesta básica [17].
O percentual de
hipertensão arterial encontrado neste estudo pode estar relacionado com as
características da amostra, pois a hipertensão arterial é mais prevalente em
pessoas com 65 anos ou mais, portadores de DM, gênero feminino, em indivíduos
com desfavoráveis condições socioeconômicas, baixa escolaridade, tabagistas ou
ex-tabagistas, que se encontram presentes na maioria dos idosos do estudo,
sugerindo, assim, que os mesmos estão em grande risco para o desenvolvimento de
complicações, como é o caso da hipertensão [10,18].
Apesar de o resultado
encontrado ter sido maior para não portadores de doenças cardiovasculares
(DCV), o número de portadores da mesma se mostra bastante significativo, e isso
se deve ao perfil dos pacientes estudados, considerando que o aumento da idade
eleva a prevalência das DCV e, consequentemente, o risco atribuível a esse
fator. Vale lembrar que o número de eventos que se devem a ele aumenta mais que
nos jovens. É importante ressaltar que nenhum fator de risco supera o
envelhecimento como principal fator predisponente às DCV [1].
Contudo, apesar do resultado
encontrado de portadores de DVC ser menor a de não portadores, faz-se
necessária a intensificação do controle dos fatores de
risco e do maior acesso da população aos serviços de saúde, já que as DCV
associadas ao DM podem aumentar os problemas na circulação periférica, que
dificultam a cicatrização de feridas e fornecimento de nutrientes para as
extremidades do corpo, podendo causar amputação de membros por necrose.
Ao se avaliar o
hábito de fumar dos pacientes diabéticos, evidenciou-se uma diferença entre os
sexos, visto que entre os homens a parcela de tabagistas e ex-tabagistas é
menor em relação às mulheres. De acordo com outro estudo, o índice de homens
fumantes se encontra estabilizado e o número de mulheres tabagistas segue
aumentando, influenciado por inúmeros fatores econômicos e socioculturais [19].
Dados do IBGE confirmam esses dados dizendo que, no Brasil, enquanto os homens,
cada vez mais, têm conseguido largar o cigarro, o número de mulheres tabagistas
só aumenta: hoje, já são cerca de 10 milhões de mulheres fumantes no Brasil,
número considerado alto pelos padrões internacionais [17,20]. Neste sentido,
faz-se necessário que os profissionais de saúde contribuam com orientações que
venham, além de apoiar o abandono dessa prática, esclarecer aos fumantes quanto
aos malefícios do tabaco.
No que se refere ao
tempo de diagnóstico, a maioria da população deste estudo encontra-se acima de
20 anos desde o diagnóstico. Estudos relacionam que pacientes com diagnósticos
de DM acima de 10 anos têm grande risco de desenvolver complicações. Esta
realidade predispõe ao maior risco do desenvolvimento do pé diabético, já que
quanto maior o tempo de duração do DM, maior será a gravidade da doença. Da
mesma forma, quanto maior o tempo de diagnóstico menor será a adesão ao
tratamento [21].
Já em relação ao
teste da hemoglobina glicada, é de grande importância a
realização do teste trimestralmente para os indivíduos que não mantêm controle
adequado, ao passo que para aqueles que têm adesão ao tratamento e apresentam
estabilidade, recomenda-se a execução do referido exame no mínimo duas vezes ao
ano [4].
Referente à história
familiar para diabetes, mais de 80% dos pacientes dos pacientes avaliados nessa
pesquisa apresentaram história familiar positiva para
diabetes mellitus. Os valores de porcentagem encontrados neste estudo confirmam
a relação do DM tipo 2 com o componente genético,
demonstrando, de certa forma, que a história familiar é um indicador de risco
importante para o desenvolvimento do pé diabético.
Fazer uso de insulina
é outro elemento importante do tratamento do diabetes, por ser um fator
protetor para o desenvolvimento de complicações do diabetes mellitus, já que a
terapia precoce com insulina pode preservar a função das células β,
melhorar o metabolismo lipídico e reduzir a mortalidade [10]. Além do que o uso
precoce e intensivo de insulina como primeira opção terapêutica tem sido
associado a controle glicêmico mais precoce e duradouro, quando comparado aos
hipoglicemiantes orais, atingindo, assim, as metas de controle glicêmico e
diminuindo as complicações crônicas microvasculares e cardiovasculares [22].
Assim, o fato de os
idosos da presente pesquisa já utilizarem insulina no tratamento, conforme
evidenciado em 73,33% dos indivíduos, pode-se considerar que estão assegurados
com relação a esse aspecto da prevenção de complicações.
Ao analisar o grau de
risco para desenvolver o pé diabético, observou-se que a maior parte da
população estudada apresentou algum grau de risco para desenvolver o pé
diabético evidenciando-se a necessidade de melhorias relacionadas à prevenção
dos fatores de risco associados à complicação pé diabético, uma vez que
predominaram pessoas diabéticas com risco para o desenvolvimento da mesma [10].
Considerando os
aspectos relacionados ao exame físico, neurológico e vascular
ambos apresentaram resultados significativos demonstrando a importância
da neuropatia e vasculopatia como fator de risco direto para o desenvolvimento
do pé diabético no paciente idoso diabético. Evidenciando assim a necessidade
de uma avaliação minuciosa da vasculopatia e neuropatia periféricas para
detecção do pé em risco, sendo esta última a
complicação mais frequente do diabetes mellitus [10].
Com base nos
resultados obtidos neste estudo, concluímos que a maior parte da população
estudada apresentou um ou mais fatores de risco que favorecem o aparecimento de
complicações relativas ao pé. Evidenciando-se a necessidade de uma avaliação
dos pés de pessoas com DM periodicamente como parte da consulta de enfermagem e
pelos demais profissionais de saúde, o que consideramos uma medida fundamental
na identificação dos fatores de risco que podem ser modificados e que,
consequentemente, reduzirá o risco de ulceração e amputação de membros
inferiores nas pessoas com diabetes.
Identificamos como
fragilidade do estudo o fato de que exames laboratoriais específicos para o
acompanhamento dos pacientes diabéticos, como a hemoglobina glicada, não
estavam registrados nos prontuários, o que demonstra também uma fragilidade no
sistema de saúde que pode ser avaliado em dois aspectos: déficit de assistência
de saúde especializada ou simples falta de registro daqueles pacientes que
fazem parte do tratamento e realizam os exames por meio de convênios de saúde
ou particular.
Diante desta
realidade, propõe-se a adoção de medidas que contribuam para o diagnóstico
precoce, tratamento adequado e prevenção de complicações, por meio de educação
em saúde, rastreamento e acompanhamento dos grupos de risco.