REVISÃO
Percepções
dos profissionais de saúde sobre o uso do Sistema de Informação da Atenção
Básica (SIAB)
Maykon dos Santos
Marinho*, Everaldo Nery de Andrade, D.Sc.**
*Enfermeiro,
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Memória: Linguagem e Sociedade
(UESB), **Fisioterapeuta, Professor assistente do curso de fisioterapia da
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Recebido em 26 de
janeiro de 2017; aceito 17 de abril de 2017.
Endereço
para correspondência:
Maykon dos Santos Marinho, Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia. Estrada do Bem Querer, km 4 - Lot. Itamarati, 45083-900
Vitória da Conquista BA, E-mail: mayckon_ufba@hotmail.com; Everaldo Nery de
Andrade: everalfisio@yahoo.com.br
Resumo
Objetivo: Verificar as
percepções dos profissionais de saúde sobre o uso do Sistema de Informação da
Atenção Básica (SIAB). Métodos:
Realizou-se uma busca bibliográfica de artigos científicos publicados entre
2011 e 2016 na Biblioteca Virtual em Saúde, através do Bireme nas Bases
Eletrônicas Medline, Lilacs, Scielo com os descritores: sistemas de informação
em saúde, sistemas de dados, atenção primária à saúde. Resultados: Verificou-se que apesar das potencialidades do sistema
de informação para o monitoramento, avaliação da atenção primária e tomada de
decisão, o sistema permanece com diversas dificuldades e fragilidades na sua
utilização. Conclusão: É preciso
investir em capacitações e envolver as três esferas administrativas do SUS na
consolidação de parcerias para a promoção de educação permanente sobre o SIAB.
Palavras-chave: sistemas de
informação em saúde, sistemas de dados, atenção primária à saúde.
Abstract
Health professionals’ perceptions about the use of the
Primary Health Care Information System - SIAB (PHCIS)
Objective: To verify
health professionals’ perceptions about the use of the Primary Health Care
Information System (PHCIS). Methods:
A bibliographic search of scientific articles published between 2011 and 2016
in the Virtual Health Library was carried out through the Bireme in the
Electronic Bases Medline, Lilacs, Scielo
with the descriptors: health information systems, data systems, primary health
care. Results: It was verified that
despite the potential of the information system for monitoring, primary health
care evaluation, and decision making, the system remains with several
difficulties and weaknesses in its use.
Conclusion: It is necessary to invest in training and to involve the three
administrative spheres of the SUS in the consolidation of partnerships for the
promotion of permanent education on SIAB.
Key-words: health
information systems, data systems, primary health care.
Resumen
Percepciones
de los profesionales de la salud sobre el Sistema de
Información de la Atención Básica (SIAB)
Objetivo: Determinar la percepción de los profesionales de la salud sobre el
Sistema de Información de Atención Básica (SIAB). Métodos: Se realizó una búsqueda bibliográfica de artículos
científicos publicados entre 2011 y 2016 en la
Biblioteca Virtual en Salud BIREME a través de bases de datos electrónicas
Medline, Lilacs, Scielo con descriptores: sistemas de información de la salud,
sistemas de datos, atención primaria de salud. Resultados: Se encontró que a pesar del
potencial del sistema de información para el seguimiento, la evaluación de la
atención primaria, y toma de decisiones, el sistema se mantiene con varias
dificultades y debilidades en su uso. Conclusión:
Es necesario invertir en la formación y la participación
de las tres esferas administrativas del SUS en la consolidación de alianzas
para promover la educación continua en el SIAB.
Palabras-clave: sistemas de
información de la salud, sistemas de datos, atención
primaria de salud.
A expansão numérica
das equipes de saúde da família (ESF) e das respectivas informações coletadas
por essas equipes criou a necessidade da disposição de um sistema de Informação
em Saúde que permitisse organizar os dados da Atenção Básica [1]. Dessa
maneira, em 1998, o Departamento de Informação e Informática do Sistema Único
de Saúde (DATASUS) em parceria com a Coordenação de Saúde da
Comunidade/Secretaria da Assistência à Saúde (COSAC/SAS), integrantes do
Ministério da Saúde, criaram o Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB)
[1].
Atualmente, o SIAB é
o principal sistema de informação em saúde (SIS) da atenção básica, ao qual
apresenta formulários manuais e informatizados proposto pelo Ministério da
Saúde para descrever, por meio de dados e informações, a realidade dos usuários
da atenção básica [2].
O Sistema, composto
por um software, fichas de
cadastramento e acompanhamento (fichas A, B, C, D) e relatórios, gera dados a partir das informações coletadas pelos
profissionais da ESF [1]. A ficha A é destinada ao cadastramento das famílias,
sendo preenchida pelo Agente Comunitário de Saúde (ACS). Ela permite conhecer
as características da população quanto ao número de pessoas que residem na casa
e suas condições de vida. A ficha B serve para o acompanhamento de grupos
prioritários (gestantes, hipertensão, diabetes, hanseníase, tuberculose). A
ficha C serve para o acompanhamento de crianças, e a ficha D é responsável pelo
registro das atividades diárias dos profissionais da saúde, bem como
notificação de algumas doenças [3,4].
O SIAB é uma
ferramenta de planejamento e orientação para a gestão das equipes de saúde,
pois possui indicadores que permitem a caracterização das condições sociais, econômicas, sanitárias, patológicas da população de uma
determinada área [4]. O sistema permite conhecer a realidade da população em
acompanhamento, produzindo relatórios que auxiliam as equipes no monitoramento
e avaliação dos serviços prestados à comunidade, além de agilizar
o processo de tomada de decisões ao apoiar a eleição de ações prioritárias de
acordo com as necessidades de uma dada população [1].
Diante do exposto,
este estudo tem como objetivo verificar as percepções dos profissionais de
saúde sobre o uso do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB).
Trata-se de um estudo
de revisão bibliográfica de caráter descritivo a respeito das percepções dos
profissionais de saúde sobre o Sistema de Informação na Atenção Básica (SIAB).
A pesquisa bibliográfica busca explicar um problema a partir de materiais já
elaborados, constituído principalmente de livros e artigos científicos [5].
Para a realização
desta pesquisa bibliográfica, foram realizadas quatro leituras: a primeira
exploratória, realizada de forma rápida, com o objetivo de considerar ou não
interessante a publicação para o estudo; a segunda
determinou os materiais importantes para o estudo em questão; a terceira
leitura foi analítica, com o ordenamento das informações para responder os
objetivos da pesquisa e a quarta foi uma leitura interpretativa, sendo
identificados os significados obtidos por meio da leitura analítica com a
intenção de agrupar o conhecimento produzido sobre o tema desta revisão [5].
A fonte de busca das
informações científicas foi a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), por meio do
Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme)
nas Bases Eletrônicas Medical Literature Analysis and Retrietal System
On-Line (Medline), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da
Saúde (Lilacs), Scientific Eletronic
Library On Line (Scielo). Os descritores utilizados foram: sistema de
informação em saúde; sistema de dados; atenção primária à saúde.
Os critérios de
inclusão para a seleção das produções científicas foram: estudos descritivos
publicados em português, disponíveis na íntegra, gratuitamente, com livre
acesso on-line, publicados em periódicos na área da saúde, no período entre
janeiro de 2011 a junho de 2016. Artigos repetidos, de revisão bibliográfica,
monografias, dissertações de mestrado, teses de doutorado, textos e livros do
Ministério da Saúde foram excluídos da pesquisa.
A busca pelos artigos
resultou em 43 artigos científicos na Medline, 42 na Lilacs e 23 na Scielo,
totalizando 108 artigos. Por fim, a partir do estabelecimento dos critérios de
inclusão e exclusão, o corpus desta
revisão constituiu-se de 10 artigos, sendo 4 na
Medline, 4 na Lilacs e 2 na Scielo.
Em relação ao
delineamento da pesquisa, nove (9) artigos selecionados foram caracterizados
como do tipo exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa, e, um (1) como
sendo do tipo avaliativo, documental e retrospectivo. Quanto ao ano das
publicações, verificou-se que não havia artigos no ano de 2014 que se
adequassem aos critérios de inclusão. No entanto, houve um em 2011, três em
2012, dois em 2013, três em 2015, e um em 2016.
Em relação à
procedência dos estudos, identificaram-se dois estudos por estado na Paraíba,
Minas Gerais e Mato Grosso, e apenas um nos estados do Paraná, Rio Grande do
Sul, Santa Catarina e Pernambuco. Verificando-se uma maior prevalência de
estudos sobre esta temática nas regiões Sul (30%) e Nordeste (30%) do Brasil.
A tabela I apresenta
a distribuição das publicações segundo títulos, objetivos e recomendações ou
conclusões. Observou-se que as publicações analisadas abordaram temáticas como a utilização dos sistemas de informação na atenção
primária, percepção dos enfermeiros e agentes comunitários,
aplicabilidade dos sistemas de informação na atenção primária.
Tabela
I – Artigos localizados nas bases de dados
LILACS (2011-2016), SCIELO (2011-2016) e MEDLINE (2011-2016) sobre o uso do
Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB). Vitória da Conquista/BA 2016.
Na análise do
referencial teórico sobre as percepções dos profissionais de saúde sobre o uso
do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), verificou-se que apesar das
potencialidades do sistema de informação para o monitoramento, avaliação da
atenção primária e tomada de decisão, o sistema permanece com diversas
dificuldades e fragilidades na sua utilização.
Dentre as
dificuldades encontradas estão: a percepção deficiente em relação ao SIAB [6],
dificuldade em compreender o sistema [7], e as informações registradas [8]. Nos
artigos analisados, ficou evidente que o desconhecimento da importância e
finalidade do SIAB, e o preenchimento inadequado das fichas prejudicam a
produção de informações confiáveis no sistema informatizado [9,10], gerando
desconfianças por parte dos profissionais acerca da fidedignidade das
informações contidas neste sistema de informação [7,11].
As dificuldades
encontradas no uso do SIAB são justificadas pela falta de treinamento dos
profissionais da atenção básica. A falta de capacitação sistemática e de
educação permanente que aborde o SIAB, a indisponibilidade de tempo,
equipamentos e materiais, escassez de locais com computadores acessíveis,
excesso de formulários, grande quantidade de dados, demanda reprimida de fichas
para digitação, baixa retroalimentação dos dados são apontados como problemas
que contribuem para as dificuldades no uso do sistema [7-9, 12-14].
Embora o SIAB tenha
sido desenvolvido para auxiliar na gestão das informações produzidas pelas
equipes de atenção básica e para a tomada de decisão no processo decisório, o
estudo constatou que os dados do SIAB não são utilizados no processo de tomada
de decisão, mas apenas para coleta [8], atualização de dados [12], produção de
relatórios mensais [12], e envio de dados para as demais instâncias [12,15].
Sendo assim, é
possível afirmar que o SIAB tem sido utilizado apenas como um sistema de
armazenamento de informações, ancorado em um modelo assistencialista,
curativista, focado na doença e na medicalização. Por este motivo, surgiu, em
2013, a estratégia e-SUS AB do Ministério da Saúde, para o aprimoramento do
Sistema de Informação em Saúde da Atenção Básica [14]. Essa estratégia surgiu
com o intuito de desenvolver, reestruturar e garantir a integração dos sistemas
de informação, otimizando
o trabalho dos profissionais
na utilização da informação para a
gestão e qualificação do cuidado em saúde.
Nas referências
analisadas, percebeu-se que os profissionais de saúde enfrentam diversas
dificuldades para utilizar o SIAB por desconhecer a importância e finalidade
deste sistema de informação. É discreto o uso do SIAB pelos profissionais,
restringindo o uso deste sistema ao preenchimento das fichas, atualização dos
dados e entrega de relatórios mensais, ou seja, não utilizando o SIAB de
maneira coerente. Assim, é imprescindível a realização de avaliações para a
identificação das dificuldades e o consequente estabelecimento de soluções para
o uso do sistema. Entre as soluções podemos destacar a necessidade de investimento
em capacitações pelas três esferas administrativas do SUS para consolidar
parcerias e promover educação permanente em relação ao SIAB.
É preciso, também,
que o Ministério da Saúde atualize e amplie as informações sobre os sistemas de
informação em saúde, por meio da adição de explicações mais detalhadas sobre o
preenchimento das fichas e a operacionalização do software, permitindo, assim,
que os profissionais de saúde atuem com segurança e competência, transformando
o SIAB em um sistema vivo, que faça parte do cotidiano das equipes de saúde,
permitindo dessa maneira análises
permanentes para que se possa transformar a informação em decisões e ações na
atenção primária.