A estatística e o desprendimento de convenções acadêmicas: o caso da saúde
DOI:
https://doi.org/10.33233/eb.v14i2.3711Resumo
O processo de desenvolvimento do trabalho científico é baseado em problemáticas existentes na área do conhecimento que merecem esclarecimentos. Assim, objetivos e justificativas são traçados a fim de explicar o comportamento de determinado problema. Considerando o contexto do desenvolvimento do pensamento científico, o pesquisador precisa de métodos eficazes que possibilitem a execução de um planejamento experimental que satisfaça tais objetivos, além de permitir que os dados coletados sejam representativos de uma população alvo.
Diante disso, a estatística é a ciência que promove ferramentas adequadas para que o planejamento obedeça certos parâmetros delimitados e/ou limitados pela pesquisa e possibilite que os dados sejam avaliados com a finalidade de obter resultados que respondam aos objetivos propostos. Nesse contexto, o pesquisador da saúde, na maioria dos casos, depara-se com conceitos que lhe são apresentados como meras convenções entre pesquisadores da área, dentre elas conceitos de estudos retrospectivos, longitudinais, transversais, descritivos e analíticos. Â Â
Até que ponto tais convenções são importantes e relevantes para o desenvolvimento e execução de um projeto acadêmico? No âmbito dos conceitos estatísticos, o planejamento experimental direciona a análise de dados qualitativos e/ou quantitativos. Independentemente de o estudo ser retrospectivo, descritivo, analítico, transversal ou longitudinal, são essas duas opções que determinam a análise estatística.
É importante salientar que o pesquisador deve apresentar conhecimento sobre as vantagens e desvantagens de se optar por um delineamento experimental que esteja centrado na coleta de dados qualitativos. Muitos trabalhos vinculados í qualidade de vida de pacientes são determinados por variáveis de caráter mais qualitativo do que quantitativo e esse é um exemplo corriqueiro que ocorre nos projetos acadêmicos da área da saúde. Nesse contexto, autores consagrados elaboram metodologias para transformar dados que inicialmente seriam qualitativos em quantitativos, visto que a visão estatística quantitativa é significativamente ampla e rica no que se refere ao leque de possibilidades para revelar evidências sobre comportamento de um determinado grupo de pacientes alvo.
Portanto, desconsidera-se o propósito de tornar a discussão tendenciosa, visto que seria inoportuno. A opção por dados quantitativos sugere, de certo modo, maior gama de evidências que servirão de base para o enriquecimento da discussão dos resultados obtidos, respeitando os objetivos propostos. Apesar de a aplicação de técnicas multivariadas ser uma alternativa í aplicação de técnicas univariadas, as quais apresentam certa limitação quando se trata de dados qualitativos. A crescente quantificação das variáveis envolvidas em projetos acadêmicos comprova que os pesquisadores analisam a estatística não mais como um "bicho de sete cabeças", mas como uma ferramenta que viabiliza a busca e a sugestão de resultados por meio de pressuposições ou inferências, amostrais ou populacionais, a fim de engrandecer o mundo acadêmico por intermédio da literal contribuição científica pura e aplicada.
Assim sendo, antes de julgar se o projeto acadêmico é descritivo, analítico, transversal ou longitudinal - o que não passa de mera convenção - o pesquisador deve avaliar o tipo de dado que será coletado, ou seja, se tal dado apresentará embasamento para atender aos objetivos propostos, e se a metodologia empregada será suficientemente adequada para que eles sejam alcançados. A etapa mais importante do desenvolvimento do pensamento científico é o delineamento experimental que possibilita a análise de limitações impostas pela pesquisa, visando eliminar ou minimizar, ao máximo, os inerentes vieses do projeto acadêmico.
À vista disso, em meio í trivialização da qualidade científica, que preconiza quantidade e minimiza a qualidade, é preciso despir-se de convenções acadêmicas e optar pela objetividade. Independentemente de valores P, níveis de significância ou estatísticas descritivas. O "fazer ciência" está diretamente relacionado ao delineamento experimental realizado com esmero, que é a chave para obter resultados que sirvam de base para a evolução científica. Tratando-se de ciência: menos também é mais. Â Â Â Â Â Â