Envelhecimento no Brasil: um processo multidimensional
DOI:
https://doi.org/10.33233/eb.v10i5.3871Resumo
O envelhecimento é o resultado de um processo da mudança biológica e comportamental, sua história no contexto social, seu lazer, religiosidade, vivências e adaptação a um novo estilo de vida, compreendendo sua motivação intrínseca e extrínseca [1]. Pode oferecer riscos ao bem-estar psicológico e a qualidade de vida do indivíduo, uma vez que está relacionado a perdas significativas, mudanças na aparência, no desempenho intelectual e na sexualidade [2].
É nessa fase que emergem experiências e características próprias e peculiares, resultantes da trajetória de vida, na qual umas têm maior dimensão e complexidade que outras, integrando assim a formação do indivíduo idoso. A habilidade pessoal de se envolver, de encontrar significado para viver, provavelmente influencia as transformações biológicas e de saúde que ocorrem no tempo da velhice [3].
Entretanto, a população idosa constitui um grupo bastante diferenciado entre si. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, existem desigualdades socioeconômicas no território nacional, sendo que se destaca o baixo nível educacional dos idosos, apresentando uma média de 2,6 anos de estudo, isto, possivelmente, devido ao acesso restrito í educação nas décadas de 1930 e 1940. Quanto ao mercado de trabalho, 77% são aposentados ou pensionistas, sendo esta a principal fonte de renda da população idosa [4].
 o processo de envelhecimento, as famílias envelhecem juntamente com seus membros e sofrem mudanças na sua constituição [5]. Para cada família o envelhecimento assume diferentes valores que, dentro de suas peculiaridades, pode apresentar tanto aspectos de satisfação como de grande desafio [3].
O suporte e o convívio familiar são percebidos como fatores primordiais para o desenvolvimento de um envelhecimento saudável, que pode ser estimulado pela participação do idoso na vida cotidiana [6]. O convívio também em sociedade, fora da família, permite a troca de experiências, ideias, sentimentos, conhecimentos, dúvidas. Isso significa que o idoso necessita estar engajado em atividades que o façam sentir-se feliz, saudável e útil [3].
Em relação í saúde, o efeito coorte é uma condição de saúde da população idosa parcialmente determinada por exposições passadas [7]. As mudanças na estruturação etária da população brasileira implicam um aumento na incidência e prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, com 85% dos indivíduos com 60 anos ou mais apresentando pelo menos uma doença crônica [4].
Esse processo gera expectativa de demanda de serviços de saúde e coloca desafios aos profissionais de saúde. O maior desafio se refere í tarefa de formular propostas de intervenção multiprofissional, tanto em programas geriátricos quanto em políticas sociais gerais, e promover o bem-estar dos que envelhecem [8]. Programas próprios para os idosos, formação profissional e a criação de espaços específicos de atenção ao idoso e de estudos e pesquisas sobre o envelhecimento e sua repercussão na saúde são exemplos de ações que responderiam a esta demanda [2].
Então, o envelhecimento está relacionado í interação entre várias dimensões, que compreendem saúde física, mental, psicossocial, suporte familiar autonomia e independência econômica [9]. Não se trata apenas de que as pessoas idosas tenham saúde, mas que mantenham e se possível melhorem a sua qualidade de vida í medida que envelhecem para o enfrentamento dessas questões fortalecendo e instrumentalizando a população idosa em busca de cidadania e justiça social [10,11].
Desta forma, o cuidado do idoso deve envolver o indivíduo, a família e a comunidade onde ele está inserido [9]. Essa abordagem difere da abordagem padrão ao incluir domínios não médicos, enfatizar a habilidade funcional e a qualidade de vida, e ainda envolver uma equipe multiprofissional: fisioterapia, serviço social, fonoaudiologia, enfermagem, terapia ocupacional, nutrição, psicologia, odontologia, dentre outras [12].
Os novos estudos sobre envelhecimento apontam desafios voltados para compreensão das condições associadas í possibilidade de se tomar o envelhecimento como processo positivo e a velhice como etapa da vida que pode ser acrescida de saúde, bem-estar, prazer e qualidade de vida [10]. Estes servirão de guia para as diversas áreas científicas que se preocupam em entender e medir os aspectos mais intrínsecos que influenciam a vida dos indivíduos no cotidiano e em suas crenças e práticas pessoais e comunitárias.
Diante de todas as mudanças que ocorrem com o indivíduo, não é mais possível entender o envelhecer como uma experiência homogênea. Essa discussão se faz necessária e poderá contribuir para o conhecimento mais profundo sobre o processo de envelhecimento da população brasileira.
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