ARTIGO
ORIGINAL
Análise
das impressões plantares de bailarinas através de parâmetros plantigráficos
Analysis of plantar prints of ballet dancers through plantigraphy
parameters
Ana Vannise de Melo
Gomes, Ft., Esp.*, Darlan de Oliveira Alencar, Ft.**, Nandeyara Cardoso dos
Santos, Ft.**, Rebeca Conceição Torres Santos da Costa, Ft, Esp.***
*Docente
do Curso de Fisioterapia da Uninovafapi, **Uninovafapi, ***Especialista em
fisioterapia traumato-ortopédica manipulativa pela CEUT
Recebido em 12 de
abril de 2016; aceito em 27 de dezembro de 2016.
Endereço
para correspondência:
Rebeca Conceição Torres Santos da Costa, Rua Cícero Soares 2320 Morada Nova
64023-005 Teresina PI, E-mail: beca_ts@yahoo.com.br; Ana Vannise de Melo Gomes:
anavannise@ig.com.br; Darlan de Oliveira Alencar: darlan-alencar@hotmail.com
Resumo
Introdução: O ballet clássico é uma dança que na
maioria das vezes utiliza posições extremas como rotação externa dos quadris e
flexão plantar de tornozelos e pés. Podendo, estes últimos, sofrerem alterações
morfo-estruturais. Objetivo: O objetivo do estudo foi analisar as impressões
plantares de bailarinas clássicas através de parâmetros plantigráficos. Material e métodos: Trata-se de um
estudo descritivo observacional que foi realizado numa amostra de 66 bailarinas
clássicas da cidade de Teresina/PI, com média de idade de 17,0 ± 3,1 anos e no
mínimo 2 anos de prática. O instrumento avaliativo
utilizado foi um plantígrafo da marca PODO tech e a classificação seguiu os
critérios definidos por Viladot. Os dados foram analisados por estatística
descritiva e pelo teste de correlação linear de Pearson. Resultados: Verificou-se prevalência de pés cavos (62,1%), seguido
por pés normais (36,4%) e pé plano (1,5%). Não houve correlação entre o tipo de
pé e o tempo de prática. Contudo, encontrou-se correlação fraca e moderada
entre o tipo de pé e os pontos de hiperpressões e as dores, respectivamente. Conclusão: A prática do ballet clássico
contribui para a formação de um pé cavo, sendo necessária intervenção frente a
possíveis danos que possam estar associados a este fato.
Palavras-chave: impressões
plantares, pé plano, pé cavo, dor.
Abstract
Introduction: The classical ballet is a dance that most of the times uses extreme positions such as extern rotation of the hips
and plantar flexion of ankles and feet. These last ones may suffer morpho structural alterations. Objective: The objective of
this study was to analyze the plantar prints of classical dancers through plantigraphy parameters. Methods: It is an observational descriptive study carried out with
a sample of 66 classical dancers of Teresina/PI, 17.0 ± 3.1 years old and with
at least 2 years of practice. The evaluation instrument used was a PODO tech
brand plantigraph and the classification followed Viladot criteria. Data were analyzed using descriptive
statistics and the Pearson linear correlation test. Results: We observed the prevalence of cavus
deformity (62.1%) followed by normal feet (36.4%) and flatfoot (1.5%). There
was no correlation between the type of feet and the period of practice.
However, it has been found a weak and moderate correlation between feet type
and the points of overpressure and pain, respectively. Conclusion: The practice of classical ballet contributes to the
formation of cavus deformity, requiring intervention
against possible damage that may be associated to this fact.
Key-words: plantar
prints, flatfoot, cavus deformity, pain
O ballet clássico é uma forma de dança que
utiliza um conjunto de posturas para expressar emoções e intenções do artista,
envolve também uma complexa sequência de movimentos e demandas físicas de
força, estabilidade e flexibilidade. Os princípios básicos do ballet clássico são: postura ereta; uso
do en dehors (rotação externa dos
membros inferiores); verticalidade corporal e simetria [1]. A prática dessa
modalidade exige uma ampla e complexa movimentação dos pés, posições extremas e
antianatômicas. O movimento de rotação externa de membros inferiores e flexão plantar de tornozelos e pés colocam tensões nas articulações
do pé e sobrecarregam músculos, ligamentos e tendões, podendo desencadear dor e
alterações posturais [2].
A estrutura anatômica
dos pés é complexa e responsável por funções variadas como apoio, equilíbrio,
impulsão, absorção de impacto e postura. A capacidade de permanecer em posição
estática e desenvolver movimento é decorrente da presença do equilíbrio e da
manutenção da base de sustentação fornecida pelos pés. Qualquer que seja a
alteração decorrente dos arcos plantares haverá influência direta sobre as
forças de pressão plantar [3]. Os mesmos autores afirmam que pés com arcos
plantares patológicos parecem influenciar a biomecânica prejudicando a marcha e
os apoios.
O pé apresenta três
arcos plantares, sendo formado pelos ossos do tarso e metatarso. O arco
longitudinal medial e lateral se estende desde o calcâneo até os metatarsos e
ossos do tarso e o arco transverso é formado pelas bases dos metatarsos [4]. De
acordo com esses arcos e bases de apoio no solo, os pés podem ser classificados
em normal quando a largura mínima do istmo não chega à metade da largura máxima
do antepé, pé plano caracterizado pelo achatamento das duas abóbodas
longitudinais e pé cavo caracterizado pelo aumento do arco longitudinal medial
[5].
O método
antropométrico é de extrema importância na análise das impressões e
distribuição de pressão plantar. Este irá dimensionar as causas e consequências
de modificações estruturais dos pés, buscando o entendimento das sobrecargas
atuante no aparelho locomotor das bailarinas [6]. A análise dessas pressões
desempenha papel importante para uma proposta de prevenção aos transtornos e
dores nos membros inferiores, especialmente nos pés.
Existem alguns
equipamentos, tal como o plantígrafo, que emitem as impressões plantares, que
podem ser analisadas, fornecendo informações para classificar o tipo de pé. A
plantigrafia é a impressão grafada em papel das superfícies plantares dos pés
com a carga do peso corporal. O mesmo consiste num exame simples, não invasivo,
acessível, de baixo custo e viável, e sua realização permite a classificação
morfológica dos pés em normal, plano ou cavo, e ainda gera informações sobre pico
de pressões [7].
O estudo do ballet clássico é importante, pois esse
estilo de dança é muito frequente e praticado desde a infância, podendo
produzir alterações morfológicas nos pés, porém há controvérsias sobre esses
efeitos. Tendo em vista o que foi exposto e a importância clínica da saúde
corporal e dos pés de bailarinas clássicas, o presente estudo foi realizado com
o objetivo de analisar as impressões plantares destas por meio de parâmetros
plantigráficos, caracterizando os tipos de pés das mesmas e correlacionando
possíveis alterações com o tempo de prática do ballet, presença de pontos de
hiperpressões plantares e a ocorrência de dores.
Foi realizado um
estudo descritivo analítico de caráter observacional seccional com abordagem
quantitativa. O mesmo foi desenvolvido em três das principais escolas de ballet
da cidade de Teresina/PI no período de maio a julho de 2013. Participaram do
estudo 66 bailarinas clássicas cujas características estavam de acordo com os
critérios de inclusão pré-determinados, tais como: aquelas com idade entre 15 e
25 anos com tempo de prática do ballet
maior ou igual a dois anos com assinatura prévia do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As bailarinas que
apresentaram lesão neuromusculoesquelética recente em membros inferiores,
déficits cognitivos comprovados, bem como aquelas que praticavam outro tipo de
dança ou que se negaram a assinar o TCLE não participaram do presente estudo.
Todas as
participantes foram orientadas acerca dos procedimentos realizados para a
coleta dos dados. Esta foi dividida em duas fases. Na primeira, as
participantes responderam a um questionário informativo elaborado pelos
próprios pesquisadores referente ao problema e objetivos abordados pelo estudo
(vide apêndice). Na segunda, foi realizada a coleta das impressões plantares
das bailarinas por meio de um plantígrafo (PODO Tech; Dimensões: 376 x 189,9 x
10 mm; Peso: 220 g; Composição: acrílico e látex), além de almofada de carimbo,
papel sulfite e rolo de pintura. Cada participante foi avaliada
individualmente, usando roupas leves e descalças e em posição ortostática. O
plantígrafo foi posicionado sobre uma superfície antiderrapante e próximo a uma
parede, garantindo assim a segurança necessária as participantes para a
avaliação. Para o exame, seguiram-se as seguintes etapas: 1) tingiu-se o rolo
de pintura com tinta na almofada de carimbo; 2) passou-se o rolo banhado de
tinta na superfície texturizada do plantígrafo; 3) garantiu-se que a tinta
envolvesse toda a superfície pintando no sentido horizontal e vertical; 4)
colocou-se o papel a ser carimbado em um plano liso e deitou-se o plantígrafo
com a superfície pintada na face em contato com o papel; 5) o mesmo foi
posicionado na frente da bailarina; 6) pediu-se para a participante da pesquisa
pisar com firmeza com um dos pés no centro do plantígrafo descarregando o peso
corporal sobre este; 7) repetiu-se o processo avaliando o pé contralateral.
Para análise dos
dados utilizou-se uma régua (50 cm) para traçar as linhas entre os arcos
plantares. Dividiu-se o pé em três regiões: antepé, médio pé e retropé,
traçando-se quatro linhas. A primeira linha traçada correspondeu ao ponto mais
extremo do retropé; a segunda linha transversal foi traçada na região do
segundo pododáctilo até o extremo do retropé, para ser dividida em centímetros
e chegar ao arco plantar; a terceira linha foi traçada na medida do antepé,
para obter a largura maior do pé, e dessa forma poder comparar os centímetros
do arco plantar; a quarta linha foi traçada no arco plantar, que é encontrado
com a primeira e segunda linha, e após foi comparado com a medida do antepé. As
medidas obtidas foram registradas em uma ficha de avaliação para classificação
de cada pé quanto ao tipo. Nessa abordagem foi utilizada a metodologia proposta
por Viladot (1987).
O processamento dos
dados e a análise estatística foram realizados através do programa SPSS®, versão
18.0. Primeiramente foi aplicado o teste de Shapiro-Wilk para avaliar a
normalidade das variáveis quantitativas, e como as variáveis apresentaram
distribuição normal, aplicaram-se testes paramétricos. Para correlacionar as
variáveis, foi utilizada a correlação linear de
Pearson considerando um nível de significância estatística de 95% (p
< 0,05).
O estudo foi
realizado de acordo com os preceitos éticos que norteiam a Resolução 466/2012
do CNS, sendo o mesmo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro
Universitário Uninovafapi com o CAAE: 14111413.4.0000.5210.
Este estudo foi
realizado por meio da análise das impressões plantares de uma população de
praticantes de ballet clássico,
utilizando-se como instrumento a plantigrafia, numa amostra constituída por 66
bailarinas.
Observou-se que a
média de idade das participantes foi de 17,0 anos com desvio padrão de ± 3,1.
Segundo descrito no gráfico 1, houve predominância de
pés cavos em bailarinas praticantes de ballet
clássico. A classificação morfológica dos pés de acordo com os critérios
adotados por Viladot mostrou a ocorrência de 62,1% (n = 41) de pés cavos, 36,4%
(n = 24) de pés normais e somente 1,5% (n = 1) de pés planos. Esses dados
permitem caracterizar o tipo de pisada do grupo em estudo, pois indivíduos com
pés cavos apresentarão propensão em terem uma pisada supinada ou lateral, bem
como aqueles com pés classificados como normais ou planos apresentarão
tendência a terem uma pisada neutra e medial, respectivamente.
Fonte: Pesquisa direta
Gráfico
1 - Distribuição de frequência dos tipos de pé
de bailarinas clássicas de acordo com a classificação de Viladot. Teresina/PI,
2013.
Concernente a
ocorrência de dores, 69,7% das bailarinas clássicas relataram no mínimo um
local em que tal sintoma é frequente, com predominância de dor de intensidade
moderada, como mostra o gráfico 2. 65,2% das
bailarinas que apresentaram queixas dolorosas indicaram mais de uma região
corporal onde a dor aparece, com destaque para as coxas com 54,3%. Em seguida
aparecem as pernas 43,5%, coluna 39,1%, joelhos 37,0%, pés 34,8% e quadril 4,3%
(Gráfico 3).
Fonte: Pesquisa direta
Gráfico
2 - Distribuição de frequência segundo o relato
de presença de dor em bailarinas clássicas. Teresina/PI, 2013.
Fonte: Pesquisa direta
Gráfico
3 - Distribuição de frequência segundo a
localização da dor através do relato de bailarinas clássicas. Teresina/PI,
2013.
Ao relacionar o tempo
de prática do ballet clássico com o
tipo de pé (Tabela I), o teste de Pearson não encontrou relação
estatisticamente significativa com r = 0,227 e p = 0,067 (correlação de Pearson
fraca e não significativa).
Tabela
I - Correlação entre tipo de pé e tempo de
prática do ballet clássico. Teresina/PI, 2013.
O estudo ainda
mostrou que 53,0% (n = 35) das bailarinas apresentaram pontos de hiperpressões
plantares. Ao verificar a relação entre o tipo de pé e a presença desses
pontos, a correlação de Pearson foi fraca, porém significativa com r = 0,253 e
p = 0,040 (Tabela II), onde 63,4% daquelas que tiveram pé cavo apresentaram
pontos de hiperpressões plantares.
Tabela
II -
Correlação entre o tipo de pé e a
presença de pontos de hiperpressões em bailarinas clássicas. Teresina/PI, 2013.
Por fim, a tabela III
mostra que na análise da relação entre tipo de pé e a presença de dor em
bailarinas clássicas, os resultados evidenciam que a correlação de Pearson foi
moderada e significativa com r = 0,331 e p = 0,007, observando que 83,0% das
bailarinas que tinham pé cavo relataram dor, independente do grau de
intensidade.
Tabela
III
- Correlação entre tipo de pé e a
presença de dor em bailarinas clássicas. Teresina/PI, 2013.
O presente estudo
caracteriza-se pela análise plantigráfica com o intuito de classificar os tipos
de pé e fazer algumas correlações em uma população de praticantes de ballet clássico, sendo todas do gênero
feminino com média de idade de 17,0 ± 3,1 anos.
Embora não haja um
consenso sobre o método ideal para classificação dos tipos de pé, sabe-se que a
plantigrafia é um método fidedigno e popular para registrar e analisar a área e
a forma do contato do pé no chão, o que a faz ser utilizada em diversos estudos
e, além disso, Filoni et al. [8] descrevem-na como um método
simples, de baixo custo e de fácil acesso.
Os resultados
demonstraram predominância significativa de pés cavos (62,1%). Esta prevalência
nesse grupo populacional pode ser explicada pela tendência que as bailarinas
têm em rotacionar os pés para fora deslocando o peso corporal para a borda
externa do pé quando na posição en pointe,
estimulando a formação do pé cavo. Esse tipo de pé leva a pessoa a ter uma
pisada mais lateral ou supinada. Em contrapartida, indivíduos com pés planos
terão uma pisada mais medial com tendência a pronação. Aqueles com pés normais
apresentarão uma pisada neutra, onde o arco plantar estará compreendido entre
1/3 e 1/2 do antepé. Todavia, é importante compreender que a caracterização do
tipo de pisada no estudo em questão foi realizada de forma indireta,
desprezando-se outras alterações posturais. O estudo ainda mostrou que não
foram encontradas diferenças consistentes entre os índices dos arcos plantares
do pé direito e esquerdo das bailarinas.
Ao se comparar esses resultados
com os encontrados no estudo de Minghelli et al. [9] pode haver algumas interrogações no que diz respeito a
classificação morfológica dos pés. Este avaliou um grupo de escolares com idade
entre 2 e 18 anos que não praticavam ballet clássico,
ou seja, diferindo da presente pesquisa que avaliou bailarinas clássicas de 15
a 25 anos. Os resultados de Minghelli [9] mostraram que foi verificado pé cavo
apenas em indivíduos com 17 e 18 anos, predominando nas outras faixas etárias o
pé plano ou normal. Dessa forma, mesmo sabendo da prevalência de pés cavos
entre as bailarinas clássicas, haveria a necessidade de se investigar se o pé
cavo foi induzido pela prática do ballet
ou fruto do desenvolvimento musculoesquelético com o avançar da idade.
Respondendo a essa questão, Sá [10] afirmou que o arco longitudinal plantar
sofre pouca modificação com a evolução da idade, e tem total dependência dos
estímulos a que os pés são submetidos. Depreende-se disso que a prática do ballet clássico influencia na arquitetura
morfológica dos pés de seus praticantes, pois sucessivamente são aplicados
estímulos em flexão plantar que acabam promovendo alguns graus de modelação
óssea.
Estabeleceu-se
concordância com a pesquisa de Thiesen e Sumiya [3], assim como a de Militão
[2] que objetivou verificar a ocorrência dos tipos de pés em bailarinas
clássicas. Este avaliou 23 bailarinas com média de idade de 19,0 anos, tempo
médio de prática de 7,1 anos com frequência média de 1,4 horas/dia, encontrando
prevalência de 56,6% de pés cavos, 34,8% de pés normais e 8,6% de pés planos.
Já no estudo de Picon
e Franchi [6] houve predominância de pé normal em 73,3% dos indivíduos. No
estudo de Ratzlaff [11] realizado com 16 bailarinas clássicas com média de
idade de 25,13 anos e média de tempo de prática do ballet de 64,88 meses, um fato importante de ser destacado é que
nenhuma das colaboradoras avaliadas na sua pesquisa apresentou o pé do tipo
plano, sendo este dado confirmado por Picon e Franchi [6] que afirmaram não
haver resultados de queda do arco longitudinal medial em bailarinas que treinam
em pontas, devido aos estímulos de flexão plantar que ocorrem para o alcance da
posição en pointe. Assim sendo, o
presente estudo ratifica tais achados, uma vez que somente 1,5% das bailarinas
tiveram pé do tipo plano.
É importante
compreender que a utilização de critérios metodológicos diferentes podem
ocasionar disparidades nos resultados finais e produzirem falsas conclusões.
Cantalino e Mattos [7] verificaram em seu estudo comparativo entre a
plantigrafia e a baropodometria para classificação do tipo de pé uma
concordância estatisticamente não significativa. Estudos descreveram a
baropodometria como um equipamento para avaliar a pressão plantar. Assim, é
necessário atenção na escolha do método mais adequado para cada objetivo [12].
Os achados referentes
à relação entre o tipo de pé e o tempo de prática do ballet não foram significativos. Deduz-se, assim, que o tempo de
prática de no mínimo dois anos pode não ser suficiente para a indução de um pé
cavo em bailarinas. Todavia, as conclusões frente a
ocorrência de pés cavos em bailarinas clássicas não pode levar em conta apenas
o fator tempo, visto que o mesmo não é absoluto, tornando-se necessário a
observância de características individuais e questões adaptativas no que se
refere a prática da dança. Mesmo verificando proporção maior de pé cavo entre
aquelas que praticavam a dança há mais de cinco anos, observou-se também que a maior ocorrência de pé normal e plano aconteceu nesse
mesmo tempo de prática, o que explica os achados estatísticos. Tais resultados
concordam com os de Figueirêdo [13] e Simas e Melo [14]. Em contrapartida,
estudos de Grego [15], Guimarães e Simas [16] encontraram resultados
diferentes.
A presença de pontos
de hiperpressões plantares pode ser esclarecida devido ao treinamento em
pontas, o que acaba dissipando o peso corporal para o antepé, da mesma forma
que acontece durante o sauté, momento em que o pico de pressão sobre a região
do retropé é menor. Fisiologicamente, o calcâneo recebe 60% das cargas do pé, o
médio pé recebe 8% e o antepé recebe 32%. Pelos pontos de hiperpressões,
observa-se que houve inversão destas forças, onde o antepé configurou-se como a
região que sofre maior sobrecarga, destacando-se o hálux, 1º e 5º metatarsos.
Apesar de utilizarem instrumentos avaliativos distintos, esses dados corroboram
os de Menz e Morris [17] quando observaram que a pressão exercida sobre o hálux
está associada com sua força flexora, bem como os de Amaral, Higashiama e
Oliveira [18] que também encontraram resultados semelhantes. Ressalta-se,
porém, que a plantigrafia não permite quantificar os valores reais destas
pressões.
Com relação à
prevalência de dor, os resultados vão ao encontro do que diz a literatura
acerca dessa questão, diferindo somente no que diz respeito às principais
regiões acometidas. Como verificado no gráfico 3, as
coxas foram a região mais citada pelas bailarinas (54,3%), seguida das pernas
(43,5%) e coluna (39,1%). Este fato pode ser justificado pelo uso exaustivo da
musculatura nesses segmentos corporais, seja por contrações mantidas ou
estiramentos excessivos, principalmente durante a execução de movimentos com
maior grau de exigência como flexão plantar de tornozelos associado com
extensão extrema dos joelhos e acentuação da lordose lombar, fatores estes
preponderantes para a perfeita execução da técnica.
No estudo de Ratzlaff
[11], as coxas foram a quarta região mais acometida
segundo relato das bailarinas. Nos estudos de Grego [15], Menezes [19] e
Batista e Martins [20] encontraram prevalência de dor nos joelhos das
bailarinas, sendo relatada como de grau moderado. Já nesta pesquisa, os joelhos
apareceram somente como a quarta região mais indicada (37,0%). Porém, ao analisar
a intensidade das dores, os resultados obtidos coincidem com tais achados. A
proporção de relatos de dor na coluna não é um dado comum, pois esta é mais
frequente em indivíduos na fase adulta que realizam performances com maior grau
de dificuldade e apresentam maior nível técnico. Isso ganha apoio no estudo
realizado por Dore e Guerra [21] que, ao analisar 141 bailarinos profissionais
de ambos os gêneros, encontraram relato de dor lombar em 85,8% destes.
Foi encontrada
correlação moderada e significativa no que diz respeito ao tipo de pé das
bailarinas e a presença de dor, 83,0% das bailarinas que apresentaram pé cavo
tiveram relato de dor, sendo predominante a dor de intensidade moderada. Por
outro lado, apenas 17,1% das que tinham pé cavo não relataram dor. Assim, foi
visto que o pé cavo predispõe a ocorrência de dores em alguns segmentos
corporais.
Verifica-se então que
a presença de dor em bailarinas clássicas pode ser decorrente da biomecânica
corporal que a dança exige, bem como tão somente de alterações morfológicas nos
pés ou da associação de ambas. Contudo, cabe ressaltar que o relato de dor é
subjetivo e, em alguns momentos no ballet clássico, esta é ignorada em nome da
técnica [22].
A avaliação
antropométrica de bailarinas clássicas permitiu caracterizar parâmetros
fundamentais para a classificação do tipo de pé e pisada do grupo em análise.
Foi possível confirmar a hipótese de que a prática do ballet clássico induz a mudanças morfo-estruturais nos pés
contribuindo para a formação de um pé cavo como verificado na presente pesquisa
com prevalência de 62,1% dos casos. Este dado permitiu a caracterização do tipo
de pisada, mesmo que de forma indireta, com predominância de uma pisada mais
lateral. A dor, por sua vez, é um sintoma predominante nos relatos das
bailarinas, estando, neste estudo, relacionada com o tipo de pé, porém com uma
distribuição bastante variada no que se refere à localização. Assim, novas
tecnologias em equipamentos e materiais precisam ser desenvolvidas com o
intuito de minimizar as dores na prática do ballet clássico.
Verificou-se também a
presença de pontos de hiperpressões nos pés das bailarinas quando realizam a
descarga de peso, havendo certa ligação entre o tipo de pé e a ocorrência de
tais pontos. Todavia, a correlação encontrada foi fraca, porém, significativa.
Já na relação entre o tipo de pé e o tempo de prática do ballet a correlação
foi fraca e não significativa. Através desta análise plantigráfica,
compreende-se a importância na forma de repensar a biomecânica no ballet clássico, levando em conta
princípios fisiológicos na execução da técnica, sem prejuízo na função.
Admitindo-se as
limitações deste estudo e a pequena abordagem científica sobre o tema
discutido, propõe-se a realização de estudos longitudinais com delineamentos
prospectivos.
Araujo AGS, Toniote
G. Principais alterações posturais encontradas em bailarinas clássicas.
Cinergis 2015;12(3):228-30.
Militão LN, Santos
AS, Santana LA. Prevalência dos tipos de pés de praticantes de ballet clássico
que utiliza sapatilhas de ponta. Fisioter Bras 2011;12(6):406-9.
Thiesen T, Sumiya R.
Equilíbrio e arco plantar no balé clássico. ConScientiae-Saúde
2011;10(1):138-42.
Hall S. Biomecânica
básica. 5ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2009.
Zalpour C. Anatomia e
fisiologia para fisioterapeutas. São Paulo: Santos; 2005.
Picon AP, Franchi SS.
Análise antropométrica dos pés de praticantes de ballet clássico que utiliza
sapatilhas de pontas. Revista Uniara 2007;20:176-89.
Cantalino JLR, Mattos
HM. Análise das impressões plantares emitidas por dois equipamentos distintos. ConScientiae Saúde 2008;7(3):367-72.
Filone E, Martins
Filho J, Fukuchi RK, Gondo RM. Comparação entre índices do
arco plantar. Rev Educ Fís 2009;5(4):850-60.
Minghelli B,
Marreiros N, Valente F, Ribeiro T, Andrez T, Varela E et
al. Desenvolvimento do arco plantar na infância e na adolescência: análise
plantar em escola pública. Saúde & Tecnologia 2011;5:5-11.
Sá MR, Lobo da Costa
PH, Dominguez Rodriguez M, Avila AOV, Serrão JC, Amadio AC. Estudo descritivo
de parâmetros antropométricos dos pés de crianças de 3 a 10 anos de idade. In:
Anais do Simpósio Brasileiro de Biomecânica do Calçado; 2001. p.43-47.
Ratzlaff AF. A
postura corporal estática e as disfunções de membros inferiores na prática do
ballet clássico en pointe. Novo Hamburgo: Universidade Feevale; 2011.
Pryzsiezny WL,
Formonte M, Pryzsiezny E. Estudo do comportamento da distribuição plantar
através da baropodometria em indivíduos sem queixas físicas. Terapia Manual 2003;2(1):28-32.
Figueirêdo LC.
Avaliação estática do arco longitudinal medial plantar
em bailarinas clássicas em Teresina-PI dos 12 aos 17 anos [Dissertação]. São
José dos Campos: Universidade do Vale do Paraíba; 2012.
Simas JPN, Melo SIL. Padrão postural de bailarinas clássicas. Rev
Educ Fís 2000;11(1):51-7.
Grego LG, Gonçalves
A, Monteiro HL, Padovani CR, Aragon FF. Agravos músculos esqueléticos em
bailarinas clássicas, não clássicas e praticantes de educação física. Arq Ciênc
Saúde 2006;13(3):153-61.
Guimarães ACA, Simas
JPN. Lesões no ballet clássico. Rev Educ Fís 2008;12(2):89-96.
Menz HB, Morris ME. Clinical determinants of plantar forces and pressures during
walking in older people. Gait & posture 2006;24:229-36.
Amaral AS, Higashiama
T, Oliveira CS. Análise baropodométrica estática plantar comparativa entre
adultos jovens sedentários e bailarinos. X Encontro Latino Americano de
Iniciação Cientifica e VI Encontro Latino Americano de Pós Graduação. São Jose
dos Campos: Universidade do Vale do Paraíba; 2007.
Menezes CRO, Oliveria
PMP, Bigi JS, Jorge JG. Avaliação antropométrica dos pés das bailarinas
clássicas. Rev Ciênc Saúde 2009; n. especial, 59.
Batista CG, Martins
EO. A prevalência de dor em bailarinas clássicas. J Health Sci Inst 2010;28(1):47-9.
Dore BF, Guerra RO.
Sintomatologia dolorosa e fatores associados em bailarinas profissionais. Rev
Bras Med Esporte 2007;13(2):77-80.
Gonçalves MC, Vaz AF. Dor, domínio do corpo, conformações subjetivas: um estudo sobre o balé. Impulso 2011;(51):85-95.