ARTIGO
ORIGINAL
Obesidade
grau II leva a importantes alterações na capacidade cardiorrespiratória
Changes of cardiorespiratory capacity in obesity grade II
Juliana Carvalho
Schleder, Ft.,M.Sc.*, Fernanda Vieira Simões, Ft.**, Francielly
Binotto Barbosa, Ft.***, Doris Naoko Suzumura, Ft., M.Sc.****, Thatiana Moreira
de Paiva, Ft. M.Sc.*****, Luiz Claudio Fernandes, D.Sc.******
*Doutoranda
em Fisiologia na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fisioterapeuta no
Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais, **Fisioterapeuta da Clínica
de Fisioterapia e Hidroterapia PennaFisio,
***Fisioterapeuta da Clínica de Fisioterapia São Lucas, ****Fisioterapeuta da
Prefeitura de Quatro Barras, Especialista em Fisioterapia Oncológica, *****Fisioterapeuta
no Hospital Araújo Jorge, Especialista em Fisioterapia
Oncológica,******Professor titular do Departamento de Fisiologia da UFPR
Recebido em 27 de
maio de 2016; aceito em 10 de março de 2017.
Endereço
para correspondência:
Juliana Carvalho Schleder, Rua General Cândido Rondon, 601/52, 84070-020 Ponta
Grossa PR, Tel: E-mail: juschleder@yahoo.com.br; Fernanda Vieira Simões:
fernandavsimoes@hotmail.com; Francielly Binotto Barbosa:
franciellybinotto.fisio@hotmail.com; Doris Naoko Suzumura: doris.suz@gmail.com;
Thatiana Moreira de Paiva: thatiana_paiva@hotmail.com; Luiz Claudio Fernandes: lcfer@ufpr.br
Resumo
Introdução: Obesidade é
considerada epidemia mundial e um dos maiores problemas de saúde na atualidade,
bem como as comorbidades a ela associadas que acarretam alterações nas funções
cardiorrespiratórias desses indivíduos. Objetivo: Avaliar parâmetros
cardiorrespiratórios em indivíduos sedentários obesos grau II. Os 44
voluntários foram divididos igualmente em dois grupos, obesos (GOS) e eutróficos
(GE). Material e métodos: Foram mensuradas variáveis de expansibilidade torácica,
força muscular respiratória, pico de fluxo expiratório (PFE), capacidade vital,
além das variáveis do teste de caminhada de seis minutos (TC6). Resultados: Comparando os grupos, o GOS
apresentou expansibilidade torácica com diferença significativa na inspiração
(P = 0,038) e na expiração (P = 0,031) máximas do processo xifoide e na
inspiração máxima (P = 0,039) da cicatriz umbilical, e PFE (P < 0,001). No
TC6 o GOS apresentou frequência cardíaca (FC) em repouso mais elevada (P =
0,022) no pré-teste e saturação de oxigênio (SpO2)
(P = 0,030) e distância percorrida (P < 0,001) menores, e Borg (P <
0,001) maior no pós-teste em relação ao GE. Comparando os parâmetros no pré e
pós-TC6 houve alterações significativas da FC, frequência respiratória (FR), SpO2 e escala de Borg (toda com P < 0,001). Conclusão: A obesidade resulta em várias
alterações cardiorrespiratórias importantes, incluindo aumento do trabalho
respiratório, diminuição da expansibilidade torácica, obstrução ao fluxo aéreo
e diminuição da saturação periférica de oxigênio.
Palavras-chave: obesidade,
fenômenos fisiológicos cardiovasculares, modalidades de fisioterapia.
Abstract
Introduction: Obesity is a worldwide epidemic and one of the largest health problems
leading to changes in the cardiorespiratory system. Objective: The aim of this
study was to evaluate cardiorespiratory features on sedentary obese grade II
subjects. Methods: Forty four
individuals were divided into two groups referred as eutrophic (EG) and obese
(OG). We measured chest expansion, respiratory muscle strength, expiratory peak
flow (EPF), vital capacity and physiological variables in the six minute walk
test (6MWT). Results: OG group showed
a chest expansion with a significant difference in the expiration (P = 0.038)
and expiration (P = 0.031) maximum in the xiphoid process and maximal
inspiration (P = 0.039) of the umbilicus, and EPF (P < 0.001) when compared
to EG group. In the 6MWT, OG showed at the pretest a rest heart rate (HR)
higher (P = 0.022) and oxygen saturation (O2) (P = 0.030) and
distance traveled (P < 0.001) lower, and Borg scale (P < 0.001) higher in
the post-test when compared to GE. Comparison between pre- and post-6MWT was no
significant changes in the HR, respiratory rate (RR), SpO2 and Borg
scale (all P < 0.001). Conclusion:
Sedentary obese individuals grade II have
cardiorespiratory alterations, particularly in the chest expansion, EPF, HR, RR
and SpO2.
Key-words: obesity,
cardiovascular physiological phenomena, physical therapy modalities.
A obesidade é
considerada epidemia mundial, presente tanto em países desenvolvidos como em
desenvolvimento [1]. Relatórios publicados pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) apresenta uma estimativa para 2015 de 2,3 bilhões de adultos acima do
peso e, destes, cerca de 700 milhões, obesos, chamando a atenção para a
epidemia global de obesidade e a necessidade de prevenção primária do excesso
de peso [2]. Pode ser definida de forma simplificada, como uma doença
caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal que pode prejudicar a
saúde. A obesidade é consequência do balanço energético positivo, que acarreta
repercussões à saúde com perda importante não só na qualidade como na
quantidade de vida [3].
Em relação ao
diagnóstico, há várias determinações quanto ao tipo de distribuição de gordura,
as quais podem ser usadas de forma simultânea ou não. Os índices
antropométricos mais utilizados são: índice de massa corporal (IMC) que infere
o grau nutricional do indivíduo [4], relação cintura quadril (RCQ) [5] que
avalia o acúmulo de gordura na região abdominal e visceral [6], e a
circunferência abdominal (CirAb) [7], que é um bom
preditor de risco para doenças metabólicas e que dá o percentual de gordura
corporal do indivíduo.
A obesidade é um dos
maiores problemas de saúde da atualidade, devido às comorbidades associadas:
cálculo na vesícula biliar [8], doenças cardiovasculares incluindo hipertensão
arterial, dislipidemia [9], resistência insulínica, considerada precursora de
diabetes mellitus do tipo 2 [10], maior chance de
desenvolver placas ateroscleróticas [11], embolia pulmonar [12] e síndrome da
apneia obstrutiva do sono [13]. Essas comorbidades acarretam, direta ou indiretamente,
alterações nas funções cardiorrespiratórias desses indivíduos. Ou seja, a
capacidade funcional dos obesos é reduzida, gerando um ciclo
vicioso entre o aumento da obesidade e a diminuição da capacidade
física, o que piora os índices de comorbidades e a mortalidade.
Em obesos mesmo sem
comprometimento pulmonar, o sistema de transporte de gases é alterado
acarretando intolerância ao exercício devido, também, ao aumento do esforço
respiratório dado pelo excesso de adiposidade ao redor do tórax e abdômen [12].
A maior incidência de
obesidade é a classificada como severa ou grau II, ou seja, IMC entre 35,0 e
39,9 kg/m2. Indivíduos classificados com obesidade grau I e II
possuem uma maior susceptibilidade para alterações funcionais respiratórias
[13]. No entanto, na literatura, observam-se lacunas de estudos no que se
refere a alterações cardiorrespiratórias nos indivíduos com obesidade grau II.
O objetivo deste
trabalho foi mensurar parâmetros cardiorrespiratórios em pacientes sedentários
obesos grau II.
Trata-se de estudo
prospectivo de caráter descritivo, aprovado pelo Comitê de Ética de Centro de
Ensino Superior dos Campos Gerais sob o número 511/CEP.
O presente estudo
abrangeu voluntários divididos em dois grupos: eutróficos (GE) que foi o grupo
controle, e grupo obeso sedentário (GOS).
Foram incluídos 52
indivíduos não tabagistas, sedentários, de ambos os gêneros, com idade entre 18
e 60 anos, IMC entre 35,0 e 39,9 para o GOS e até 24,9 para o GE. Destes, 8 foram excluídos: 3 por serem portadores de alterações
neurológicas dificultando o entendimento do teste e 5 por já terem realizado a
cirurgia de gastroplastia. Portanto, a amostra foi constituída de 44
voluntários, 22 em cada grupo, que foram constituídos de 12 voluntárias do sexo
feminino e 10 do sexo masculino, com idade de 35,63 (± 11,77) anos. Foi
realizada uma avaliação inicial para coleta dos dados físicos e características
pessoais dos indivíduos. Em seguida, todos os voluntários foram submetidos à
avaliação pneumofuncional para avaliação de parâmetros da mecânica respiratória
como: expansibilidade torácica, força respiratória, capacidade vital (CV) e
pico de fluxo expiratório (PFE).
Na avaliação da
expansibilidade torácica realizada por cirtometria, o voluntário foi posicionado
na posição ortostática, coluna ereta, olhando para o horizonte com os membros
superiores relaxados ao longo do tronco e os membros inferiores em posição de
passo. Foram mensurados três pontos de referência: prega axilar, apêndice
xifóide e linha umbilical, utilizando-se de fita métrica flexível posicionada
logo abaixo de cada ponto, demarcado com o auxílio de lápis dermatográfico. As
medidas da cirtometria foram realizadas em três momentos: repouso, após uma
inspiração profunda, lenta e máxima até a capacidade pulmonar total e após uma
expiração máxima, lenta, até o volume residual. Todos esses valores foram
registrados em centímetros.
Para a verificação da
força muscular do conjunto da caixa torácica como um todo, foi utilizado um
manovacuômetro (Comercial Médica®), a partir do qual, foram avaliados a pressão
inspiratória máxima (PiMax) e a pressão expiratória
máxima (PeMax). Durante essas mensurações o voluntário foi posicionado sentado
a 90º em cadeira com encosto, com os pés apoiados no chão, e membros superiores
relaxados sobre os membros inferiores, clip nasal e adaptador bucal com
orifício de aproximadamente 2 mm de diâmetro para
evitar a elevação da pressão intra-oral através do escape de ar.
Para a mensuração da PiMax, a inspiração se iniciou a partir do volume residual,
isto é, após uma expiração profunda, depois o pesquisador pediu para o
voluntário fazer uma inspiração forte sustentando a pressão por aproximadamente
2 segundos. Já para a mensuração da PeMax, o
voluntário começou no nível da capacidade pulmonar total, isto é, após uma
inspiração profunda e, então, uma expiração forçada sustentando a pressão por 2
segundos. Para ambas as avaliações, foi considerado o
maior valor após três tentativas e a unidade de medida utilizada foram
milímetros de mercúrio (mmHg).
Para a mensuração da
CV foi utilizado o espirômetro de incentivo a volume, Voldyne®. O voluntário
permaneceu sentado inclinado a 90º e orientado a fazer uma expiração máxima e,
logo em seguida, inspirar o máximo possível. Também, foram realizadas três
manobras e considerada a de maior valor. A unidade de medida utilizada foram
litros (L).
Para a mensuração do
PFE foi utilizado o aparelho Peak Flow® e, com um clip nasal, o voluntário foi
orientado a ajustar os lábios ao bocal de maneira a não permitir escape aéreo e
executar uma inspiração profunda seguido de uma expiração rápida sem utilizar o
músculo bucinador. Também foram realizadas três manobras considerando a de
maior valor e a unidade de medida utilizada foi litros por minuto (L/min).
A última etapa desta
pesquisa consistiu na avaliação cardiorrespiratória aplicando-se o teste de
caminhada de seis minutos (TC6). O voluntário foi posicionado sentado em
repouso de 15 minutos antes da realização do teste, a fim de estabilizar
parâmetros vitais em níveis basais. Passado esse período, foi mensurado a FC
com o uso de um frequencímetro digital (Geratherm®), FR contando-se respirações
por minuto com o auxílio de cronômetro digital portátil (Instrutherm® modelo CD
– 2800); e PA com o uso de estetoscópio (Rappaport marca Premium®) e
esfigmomanômetro marca (Diasyst®) e SpO2
utilizando oxímetro (Nanon®). Esses mesmos parâmetros foram reavaliados após a
realização do TC6.
O TC6 foi executado em
um corredor de 30 metros de comprimento por 5 metros de largura, onde foram
dispostos cones a uma distância de 3 metros entre eles, que indicavam a
distância que o voluntário percorreu. O piso foi marcado com um “X” no início e
no final do percurso, para que o voluntário não diminuísse a distância a ser
percorrida.
Os voluntários foram
informados como deveriam seguir as orientações pré-teste de acordo com as
recomendações de Rondelli et al. [14], sendo orientados a caminhar o
mais longe possível no tempo previsto, sem correr. Durante o teste, eles foram
estimulados verbalmente e indicados sobre o tempo a cada minuto.
Junto ao TC6 foi
aplicada a escala de Borg modificada que é um marcador descritivo de esforço
físico subjetivo a cada número par, onde cada número corresponde um esforço. As
quantificações do esforço percebido e da FC estão linearmente relacionadas à
intensidade da atividade física.
Inicialmente o teste
de Shapiro-Wilk foi utilizado para verificar a distribuição dos dados.
Constatada a não distribuição normal, os dados foram descritos em média e
desvio padrão, e a estatística analítica foi realizada com aplicação do teste
não paramétrico U de Mann-Whitney para amostras independentes. A significância
estatística foi estipulada em 5%.
A média do IMC no GOS
foi de 36,72 (± 1,15) kg/m2, sendo a máxima de 38,81 kg/m2 e a
mínima de 35,15 kg/m2 enquanto a RCQ foi de 0,87 (± 0,07) cm, com
máxima de 0,99 cm e mínima de 0,73 cm. A CirAb dos
homens foi de 109 (± 11,60) cm, com máxima de 125 cm e mínima de 89 cm e das
mulheres foi de 94,17 (± 11,77) cm, com máxima de 112 cm e mínima de 79 cm. A
média do percentual de gordura corporal (%CG) do grupo foi de 47,19 (± 12,95)% com máxima de 60,79% e mínima de 26,76%.
Em relação aos
hábitos de vida do GOS, 5 eram etilistas e 17
voluntários não; quando questionados a respeito de seus hábitos alimentares, 9
voluntários relataram possuir alimentação balanceada, 2 referiram ter
alimentação a base de verduras, 5 a base de proteínas e 6 alimentavam-se predominantemente
de carboidratos.
A Tabela I mostra os
valores obtidos na cirtometria de ambos os grupos. Os dados referentes à
expansibilidade torácica intergrupos, em todos os momentos, estão apresentados
na Tabela II, onde foi encontrada diferença estatisticamente significativa
durante a inspiração e expiração máxima no processo xifoide, e inspiração
máxima na cicatriz umbilical. Os resultados da avaliação da PiMax
e PeMax, forças musculares inspiratória e expiratória respectivamente, da CV e
do PFE, em ambos os grupos, estão descritos na Tabela III onde apenas o PFE
apresentou diferença estatisticamente significativa.
Tabela
I - Cirtometria.
Os dados estão
expressos como média (desvio-padrão) e expressos em cm.
Tabela
II -
Variância da cirtometria em relação ao
repouso.
Os dados estão
expressos como média (desvio-padrão) e expressos em cm. Análise para
verificação da existência de diferença entre as variáveis foi feita a partir do
teste não paramétrico U de Mann-Withney. Adotado valor de significância
estatística quando p < 0,05.
Tabela
III
- Avaliação pneumofuncional.
PiMax (pressão inspiratória
máxima), PeMax (pressão expiratória máxima), CV (capacidade vital), PFE (pico
de fluxo expiratório). Os dados estão expressos como média (desvio-padrão), com
valores arredondados.
As variáveis
cardiorrespiratórias avaliadas no pré-TC6 estão descritos na Tabela IV, onde
encontramos diferença estatisticamente significativa da variável FC. Também na
Tabela IV estão os dados das variáveis mensuradas no pós-TC6, nos quais foram
observadas diferenças estatisticamente significativas nas variáveis SpO2, escala de Borg e distância percorrida
quando comparadas ao controle. Na verificação da diferença estatística dos
parâmetros pré e pós-TC6 do GOS, através do teste não paramétrico de Wilcoxon
para dados pareados, encontrou-se os seguintes valores de P: SpO2
(P < 0,001), FC (P < 0,001), FR (P < 0,001), pressão sistólica (P =
0,684), pressão diastólica (P = 0,160) e esforço subjetivo (P < 0,001).
Alterações significativas nessas variáveis já eram esperadas, uma vez que o TC6
é teste submáximo de esforço. Contudo, a variável pressão arterial não
apresentou diferença estatisticamente significativa.
Tabela
IV -
Parâmetros cardiorrespiratórios do pré e
pós-TC6 e suas comparações.
GE (grupo eutrófico),
GOS (grupo obeso sedentário), SpO2 (saturação
periférica de O2), FR (frequência respiratória), FC (frequência cardíaca),
Diastólica (pressão arterial diastólica), Sistólica (pressão arterial sistólica),
Borg (Escala de Borg). Os dados estão expressos como média (desvio-padrão) com
valores arredondados e valores de P.
Neste estudo a
prevalência de obesidade foi do sexo feminino, com idade média de 35,63 (±
11,77) anos. Esse resultado está de acordo com os dados recentemente divulgados
pelo Ministério da Saúde sobre a obesidade no Brasil em que foi apontado que a
taxa de obesidade não é muito diferente entre os dois gêneros, porém maior
entre as mulheres, com 18,2% enquanto entre os homens a taxa é de 17,9%. Em
relação à idade, o índice de obesidade triplica na comparação entre 18 e 24
anos e 35 e 44 anos que sai de 8,5% para 22%, respectivamente [15].
As
possíveis
complicações relacionadas às doenças
crônicas em indivíduos obesos estão bem
estabelecidas
[16]. A obesidade está associada com morbidades
múltiplas, incluindo risco de
diabetes, hipertensão, doenças cardíacas, apneia
do sono e câncer [17,18].
Nossos dados reportam IMC médio no GOS de 36,72 (± 1,15)
kg/m2, indicando alto
risco de desenvolver doenças crônicas nesses
indivíduos.
A aferição da CirAb reflete de forma indireta o conteúdo de gordura
visceral. Os valores médios da CirAb tanto dos homens
(109 cm) quanto das mulheres (94,16 cm) estão dentro dos valores estabelecidos
pela OMS que preconiza o ponto de corte de 94 cm para homens e 80 cm para
mulheres como corte para risco cardiovascular aumentado. Na população
brasileira, alguns estudos indicam que estes níveis são bons preditores de
risco para doenças metabólicas, principalmente hipertensão arterial. No
entanto, poucos estudos no Brasil avaliaram a adequação do uso desse indicador,
bem como os pontos de corte mais adequados para a população brasileira [19].
Na presente pesquisa,
37% eram não etilistas e 20% referiram ter uma alimentação balanceada. O que
contradiz, em partes, as afirmações da literatura [20] onde relatam que hábitos
de vida inadequados em relação ao consumo de álcool, fumo, má alimentação,
sedentarismo entre outros, podem acarretar grande probabilidade de obesidade.
Todos os voluntários estudados eram sedentários, o que pode explicar como este
estilo de vida pode ter contribuído para o desenvolvimento de obesidade da
amostra.
Ainda, um estudo
recente que avaliou a associação entre fatores de risco cardiovascular e
indicadores antropométricos de obesidade encontrou significativa associação da
alteração do perfil lipídico, HAS, síndrome metabólica, resistência insulínica
e, inclusive, o sedentarismo, como os principais indicadores antropométricos de
obesidade. Os autores chamam a atenção que todos os fatores de risco
cardiovascular analisados neste estudo são modificáveis, por isso, reforçam a
importância de incentivar a adoção de um estilo de vida mais saudável [21].
Verificou-se que o
GOS possui tendência a apresentar um padrão respiratório apical, apresentando
maior mobilidade ou diferença na inspiração e expiração máximas na linha axilar
em relação ao repouso, acredita-se que isso ocorra devido a
compressão extrínseca do tecido adiposo que se localiza em maior quantidade nas
regiões basais pulmonares em relação às apicais. Além disso, o GOS apresentou
expansibilidade torácica significativamente menor em relação ao GE na
inspiração máxima avaliada na região do processo xifóide e da cicatriz
umbilical e na expiração máxima na região do processo xifóide. Essa alteração
da expansibilidade torácica em indivíduos obesos, sem outras enfermidades, foi
relatada previamente em outro estudo [22]. A complacência da parede torácica no
obeso é menor devido à deposição de tecido adiposo no tórax e abdômen, o que
determina consequente retração elástica e redução da distensibilidade das
estruturas extrapulmonares. A obesidade afeta a fisiologia respiratória de
repouso e a de exercício, e produz padrão ventilatório restritivo caracterizado
por redução do volume expiratório de reserva [23].
Ademais, a obesidade
diminui a função pulmonar e pode ter efeitos negativos sobre a força e a
resistência da mecânica respiratória [24]. No entanto, as médias da PiMax e da PeMax do GOS não diferiram significativamente do
GE. Estudos que investigam índices de força muscular respiratória em pacientes
obesos comparando-os com indivíduos eutróficos ou com valores normais não
apresentam resultados consistentes [25-27].
Kelly et al. [25] não encontraram resultados
significativos nos valores de PiMax entre indivíduos obesos (com uma média de
183% do peso previsto) e indivíduos com uma média de 99% do peso. Sarikaya et al. [26] mostraram uma PiMax
significativamente reduzida em indivíduos obesos sem diferença significativa em
comparação com indivíduos eutróficos. Castello et al. [28] analisaram PiMax e PeMax em 12 mulheres com obesidade
mórbida e verificou que as pressões respiratórias máximas estavam claramente
reduzidas, possivelmente devido à redução da complacência pulmonar e redução na
mobilidade do diafragma.
Já os resultados de
Cataneo e Magnani [27] e Gonçalves et al. [29], que
avaliaram as pressões respiratórias máximas de 99 e 39 indivíduos obesos mórbidos,
respectivamente, sugeriram que a obesidade em si não teria impacto negativo na
força muscular respiratória.
Além do aumento no
trabalho respiratório, no indivíduo obeso, há uma elevação do diafragma,
que quando contrai age sob pressão de um abdômen
distendido [31-32]. Essa 'sobrecarga' desencadeia uma variedade de mecanismos
na atividade dos músculos respiratórios e causa um efeito de treinamento a longo prazo, o que pode aumentar a força muscular [26,31].
Além disso, estudos
com animais mostram que cronicamente o aumento pressão intra-abdominal induz
várias alterações histológicas e celulares na composição de músculos
abdominais, especialmente o reto abdominal e diafragma [32-33]. Foram
observadas alterações na composição das fibras musculares com uma proporção
aumentada de fibras musculares tipo II que são fibras de contração rápida
[32-33].
O PFE mede a
velocidade do ar expirado através de um aparelho portátil e é uma medida
simples, quantitativa e reprodutível que permite avaliar o grau de obstrução
das vias aéreas. Na presente pesquisa, verificou-se que o GOS apresentou
diminuição significativa em relação ao GE. Isso pode ser explicado pelo fato da
obesidade resultar em obstrução ao fluxo aéreo causado pelo aumento da
resistência em vias aéreas de menor calibre em baixos volumes pulmonares
associada à redução do volume de reserva expiratória [23]. A obesidade também
pode causar alterações no padrão respiratório, com trocas rápidas e
superficiais e pode induzir a responsividade brônquica por mecanismos
imunológicos.
Já no aspecto
cardiorrespiratório, verificou-se que os voluntários do GOS apresentaram FC em
repouso significativamente mais elevada que dos voluntários do GE, o que já era
esperado. A FC de repouso é geralmente elevada, refletindo um aumento do débito
cardíaco em repouso que se eleva à custa de aumento no volume total de sangue
circulante, ocasionando um estado de pré-carga cronicamente elevada, o que
favorece aumento nas dimensões ventriculares, levando ao desenvolvimento de
hipertrofia ventricular do tipo excêntrica [34]. Esse aumento já foi descrito
anteriormente por Ora et al. [35], no entanto os autores não
encontraram diferença significativa entre os grupos (obesos e eutróficos),
provavelmente, pelo fato da sua amostra ser composta por apenas 12 indivíduos
em cada grupo.
No pós-TC6 o GOS
apresentou SpO2 significativamente menor,
além de referirem maior esforço em relação ao GE. Acredita-se que essa queda na
SpO2, possivelmente tenha sido causada pela
restrição da capacidade ventilatória máxima encontrada em obesos [36] e esse
aumento no esforço tenha contribuído para uma distância percorrida
significativamente menor. No entanto, quando comparado com outros estudos
envolvendo pacientes obesos, essa distância foi semelhante (512,4 ± 48) à
percorrida pelo grupo de obesos saudáveis da pesquisa de Tuttle, Sinacore e
Mueller [37] e maior (420 ± 112) do que a distância percorrida pelos
participantes do estudo de Launois et al. [38] que
avaliaram 45 adultos obesos.
Devido a limitações
de recursos não foram possíveis mensurações mais precisas como espirometria,
pletismografia e ergoespirometria, para avaliação de volumes e capacidades além
do consumo de oxigênio durante a caminhada.
Comparando os
parâmetros no pré e pós-TC6 verificou-se que os obesos apresentaram grande
esforço cardiorrespiratório após o teste, pois as variáveis FC, FR e SpO2 sofreram alterações significativas. Esforço
esse confirmado também através da avaliação da escala de Borg.
A obesidade resulta
em várias alterações cardiorrespiratórias importantes, incluindo aumento do
trabalho respiração, diminuição da expansibilidade torácica, obstrução ao fluxo
aéreo e diminuição da saturação periférica de oxigênio.
Sugerem-se novas
pesquisas para avaliação de volumes e capacidades pulmonares, além do consumo
de oxigênio durante o exercício.