ARTIGO
ORIGINAL
Análise
cinemática da marcha em pacientes portadores da doença de Alzheimer
Kinematic gait analysis in patients with Alzheimer disease
Daniella Demossi
Bassani*, Daniela Helena Pasa*, Nicole Menegolla Sacchet*, Laise Trapo Bonella
da Silva*, Raquel Saccani, D.Sc.**, Leandro Viçosa
Bonetti, D.Sc.**, Patrícia Pereira**, Fernanda Cechetti, D.Sc.***
*Graduação
em Fisioterapia pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), Caxias do Sul/RS,
**Docente do Curso de Fisioterapia da UCS, ***Docente do Curso de Fisioterapia
da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) Porto
Alegre/RS
Recebido em 16 de
novembro de 2016; aceito em 25 de maio de 2017.
Endereço
para correspondência:
Fernanda Cechetti, Rua Sarmento Leite, 245, 90050-170 Porto Alegre RS, E-mail:
nandacechetti@gmail.com; Daniela Demossi Bassani: daniella_bassani@hotmail.com;
Daniela Helena Pasa: danielahpasa@hotmail.com; Nicole Menegolla Sacchet:
nick_sacchet@hotmail.com; Laise Trapo Bonella da Silva: juniorlaize@gmail.com;
Raquel Saccani: raquelsaccani@yahoo.com.br; Leandro Viçosa Bonetti: leandrovbonetti@gmail.com
Resumo
A doença de Alzheimer
(DA) é uma doença neurodegenerativa progressiva que provoca demência. É
decorrente de uma disfunção cerebral, afetando, inicialmente, a formação
hipocampal e o centro de memória de curto prazo, ocorrendo perturbação de
múltiplas funções cognitivas e motoras. O objetivo deste estudo foi analisar a
cinemática da marcha de pacientes portadores de DA, identificando a presença do
dano cognitivo por meio de testes como o Mini Exame de Estado Mental e o Clinical Demential Rating. Constituiu-se
de uma pesquisa descritiva com delineamento transversal. Foram analisados um
grupo controle (GC) composto por 10 idosos sem alterações cognitivas e um grupo
Alzheimer (GA) composto por 8 idosos com demência. A
coleta de dados foi realizada por meio do Sistema VICON, e marcadores foram
fixados em determinados pontos anatômicos dos membros inferiores. Com os
resultados obtidos neste estudo, pode-se observar que os indivíduos do GA
apresentaram valores significativamente menores quando comparados ao GC na
cadência (p = 0,006), velocidade (p = 0,001), comprimento do passo (p = 0,01) e
passada (p = 0,005). Portanto, pode-se concluir que os indivíduos com Doença de
Alzheimer, além da perda cognitiva, apresentam alterações nas variáveis
espaçotemporais estudadas, e que esta perda motora interfere significativamente
na cinemática da marcha.
Palavras-chave: doença de
Alzheimer, fenômenos biomecânicos, marcha.
Abstract
Alzheimer's disease (AD) is a progressive neurodegenerative disease that
causes dementia. It is due to a cerebral dysfunction, initially affecting the
hippocampal formation and the short-term memory center, with disturbance of
multiple cognitive and motor functions. The objective of this study was to
analyze the gait kinematics of patients with AD, identifying the presence of
cognitive damage through tests such as Mini-Mental State Examination and
Clinical Demential Rating. It consisted of
descriptive research with a cross-sectional design. A control group (GC)
composed of 10 elderly individuals without cognitive alterations and an
Alzheimer (GA) group composed of 8 elderly people with dementia were analyzed.
The data collection was performed through the VICON System, where markers were
fixed in certain anatomical points of the lower limbs. With the results
obtained in this study, it can be observed that GA individuals presented
significantly lower values when compared to CG in the rate (p = 0.006),
velocity (p = 0.001), step (p = 0.01), and stride length (P = 0.005).
Therefore, it can be concluded that individuals with Alzheimer's disease, in
addition to cognitive loss, present alterations in the spatiotemporal variables
studied, and that this motor loss significantly interferes with gait
kinematics.
Key-words: Alzheimer’s
disease, biomechanical phenomena, gait.
A doença de Alzheimer
(DA) atingiu proporções epidêmicas tanto nos Estados Unidos como globalmente
[1]. Trata-se de uma doença neurodegenerativa que provoca demência, com
progressiva perda da memória e outras alterações cognitivas [2]. Em relação à
sintomatologia destes indivíduos, as alterações cognitivas são as mais
perceptíveis. Déficits na memória são os primeiros sintomas de DA e são também
os que causam maior frustração e incapacidade do paciente, comprometendo a
realização de suas atividades diárias e consequentemente da sua qualidade de
vida [3].
Além da diminuição
cognitiva, aparecem também alterações motoras, como, por exemplo, a
instabilidade postural, caracterizada pela oscilação excessiva e descontrolada,
que se degrada com o envelhecimento e é um fator de risco para a ocorrência de
quedas, especialmente em doenças neurodegenerativas, como a doença de
Alzheimer. E este distúrbio postural influencia diretamente a marcha destes
indivíduos, o que desencadeia quedas mais graves em comparação com pessoas
idosas não degradadas [4]. Somado a isso, em nível musculoesquelético, conforme
a patologia progride a hipotrofia muscular ocorre, somando-se às contraturas
musculares. Além disso, a força muscular, principalmente em membros inferiores,
também é prejudicada com o avanço da doença, ocorrendo uma diminuição no
recrutamento e na ativação das unidades motoras [5].
Atualmente, sabe-se
que o ato de deambular em ambientes construídos e naturais implica em demandas
sobre a interação entre as funções cognitivas (funções de atenção
principalmente) e funções motoras [6]. Existe, por exemplo, uma necessidade
constante de adaptação dos movimentos do corpo a situações relacionadas com
locais lotados e tráfego. Uma boa capacidade de manter, mudar e dividir a
atenção entre fatores ambientais e funcionais do corpo é, portanto, essencial
para caminhar com segurança na vida cotidiana [7].
Considerando os
benefícios de manter a capacidade de caminhar e a independência e bem-estar
durante a progressão da DA [8], é importante esclarecer a deterioração da
marcha e sua relação com a diminuição da função em pessoas acometidas por esta
patologia [7]. Somado a isso, a marcha tem sido foco de interesse ao longo da
história [9], pois a análise desse processo, além de possibilitar a compreensão
da normalidade, é uma ferramenta poderosa para avaliar as manifestações
clínicas e consequências funcionais de muitas doenças. Embora a análise
quantitativa da marcha seja, constantemente, realizada em vários países, ainda
é pouco difundida no Brasil [10]. Portanto, este trabalho tem como objetivo
analisar a cinemática da marcha de indivíduos portadores da doença de
Alzheimer, obtendo informações que possam auxiliar os profissionais desta área
na amenização da progressão das alterações motoras que possam levar ao declínio
precoce da marcha.
Esta é uma pesquisa
descritiva, observacional com delineamento transversal, aprovada pelo Comitê de
Ética (CEP-UFCSPA: 362.784), o qual segue e atende às diretrizes da Resolução
466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.
A coleta foi
realizada no laboratório de marcha localizado no bloco 70 no Instituto de
Medicina do Esporte, da Universidade de Caxias do Sul. O mesmo conta com toda a
infraestrutura necessária, sendo um local que presta serviço a pacientes de
média complexidade. A coleta de dados iniciou-se após assinatura de termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) contendo explicações detalhadas sobre
o estudo proposto e a sua finalidade.
Grupos
experimentais
O estudo foi
constituído por indivíduos com mais de 60 anos de idade, indicados por médicos
geriatras e neurologistas da cidade de Caxias do Sul. Inicialmente estes idosos
foram avaliados pelas pesquisadoras através da aplicação de três questionários:
uma ficha de avaliação, Mini Exame de Estado Mental (MEEM), e o Clinical Dementia Rating (CDR).
A ficha de avaliação
foi elaborada pelas próprias pesquisadoras para coletar informações básicas a
respeito dos sujeitos selecionados, como, por exemplo: data da avaliação, nome
completo, data de nascimento, idade, escolaridade, procedência, peso e altura.
O Mini Exame de Estado Mental é composto por diversas questões, as quais
objetivam avaliar funções cognitivas específicas, tais como: orientação
temporal, espacial, capacidade de linguagem, memória, atenção, cálculo e
construção visual. O escore pode variar de um mínimo de zero até um total
máximo de trinta pontos [11]. Os pontos de corte para o MEEM segundo o nível de
escolaridade em nosso meio são: 13 pontos para analfabetos, 18 para
escolaridade média (até 8 anos de instrução formal) e
26 para indivíduos de alta escolaridade (mais de 8 anos) [11].
Para finalizar, o CDR
avalia cognição e comportamento, além da influência das perdas cognitivas na
capacidade de realizar adequadamente as atividades de vida diária. Esse
instrumento está dividido em seis categorias: memória, orientação, julgamento
ou solução de problemas, relações comunitárias, atividades no lar ou de lazer e
cuidados pessoais, classificadas em: 0 (nenhuma
alteração); 0,5 (questionável); 1 (demência leve); 2 (demência moderada); e 3
(demência grave) [12].
Após estas
avaliações, os sujeitos foram alocados em um dos grupos experimentais do
estudo: GC (grupo controle: critérios de inclusão - indivíduos sem alterações
cognitivas - com valores do MEEM e CDR dentro da normalidade), e GA (grupo
Alzheimer: critérios de inclusão -indivíduos com
diagnóstico de DA, com alterações nos valores de normalidade do MEEM e CDR, classificados
nos estágios 1, 2 e 3, segundo Caixeta L [13], que são indivíduos que
apresentam danos cognitivos, mas que ainda apresentam marcha independente
preservada).
Como principais
critérios de exclusão foram indivíduos que apresentaram doenças psiquiátricas
ou qualquer patologia osteomuscular em membros inferiores, ou que fossem
dependentes para realização da marcha. Particularmente no grupo GA, também não
fizeram parte do estudo indivíduos classificados no estágio 4
e 5 segundo Caixeta L[13], no qual apresentam perda cognitiva e consequente
perda da marcha.
Aquisição
dos dados
Após esta minuciosa
avaliação cognitiva, os sujeitos selecionados foram encaminhados ao laboratório
de marcha, para coleta dos dados, a qual foi baseada no protocolo de Laroche et al.[14]. Para adaptação dos participantes ao protocolo,
primeiramente foi solicitado aos sujeitos que caminhassem 8 metros em linha
reta na velocidade autosselecionada no local destinado à coleta de marcha no
laboratório. Os sujeitos memorizavam o número de passos e o ritmo necessário
para serem capazes de realizar o contato com a plataforma ora com o pé direito
inteiro, ora com o pé esquerdo inteiro.
Após a
familiarização, foram afixados marcadores reflexivos nos seguintes pontos anatômicos:
crista ilíaca superior anterior, crista ilíaca superior posterior, coxa,
joelho, tíbia, tornozelo, calcanhar e primeiro dedo do pé, todos estes em ambos
os lados. O protocolo consistiu na realização de passos sobre a plataforma,
fazendo em todas as tentativas o mesmo percurso da sessão da familiarização.
Tentativas foram realizadas até que oito passos fossem capturados integralmente
[14]. Para a captura da trajetória tridimensional dos marcadores posicionados
no corpo dos sujeitos, foi utilizado um sistema de cinemetria dotado de 7 câmeras integradas (Vicon MX systems, Oxford Metrics
Group, UK). Os dados cinemáticos foram coletados em uma taxa de amostragem de 100Hz. Os dados de força de reação do solo (FRS) foram
coletados por meio de duas plataformas de força (50,8 cm × 46,4 cm, OR6-7-1000,
AMTI, USA) adaptadas no mesmo plano do solo do laboratório.
Análise
de dados
Os dados coletados
foram analisados através do programa estatístico SPSS 17.0 (Statistical Package of Social Sciences for
Windows). Para descrição das variáveis cinemáticas da marcha, foi utilizada
a estatística descritiva com distribuição de frequência simples e relativa, bem
como as medidas de tendência central (média/mediana) e
de variabilidade (desvio padrão). Para as comparações dos dados entre os grupos
foi utilizado teste t independente, tendo como critério de decisão p < 0,05.
O presente estudo
contou inicialmente com 35 idosos, mas, após aplicação dos critérios de
inclusão pré-estabelecidos, foram analisados um total de 18 sujeitos, dos quais
oito destes se enquadravam no GA e dez que não apresentavam qualquer alteração
cognitiva (GC). Na Tabela I abaixo foram demonstrados os dados referentes às
características dos sujeitos envolvidos na pesquisa.
Na tabela II
observam-se os resultados da análise das variáveis
cinemáticas espaço-temporais da marcha. Os resultados destacam
diferenças entre os grupos estudados em todos os aspectos estudados, exceto na
largura do passo. Todos os valores foram claramente especificados na Tabela II.
Tabela
I - Características e cognitivas biológicas dos
participantes do estudo.
GC = grupo controle;
GA = grupo Alzheimer; n = número amostral; % = percentagem; F = feminino; M =
masculino; IMC = índice de massa corporal; MEEM = Mini Exame do Estado Mental;
CDR = Clinical Dementia Rating; *valores estatisticamente diferentes entre os
grupos Controle e Alzheimer através do teste t independente (p = 0,001).
Tabela
II -
Descrição das variáveis cinemáticas da
marcha dos Grupos Controle (GC) e Alzheimer (GA).
Md = média; DP =
desvio-padrão; D = Direita; E = Esquerda; m = metros; s = segundos; m/s =
metros/segundo; p/s = passos por minuto; *valores estatisticamente diferentes
entre os grupos Controle e Alzheimer através do teste t independente.
O principal objetivo
deste estudo foi analisar a cinemática espaçotemporal da marcha de pacientes
portadores de DA, comparados a um grupo de idosos sem alterações cognitivas.
Através dos resultados, fica bastante evidente a diferença existente entre os
grupos em relação às variáveis estudadas. Os sujeitos do Grupo Alzheimer
apresentaram valores bastante diminuídos quando comparados ao grupo controle,
exceto na largura do passo.
Através da Tabela I,
percebemos que os sujeitos entre os grupos analisados apresentam uma
regularidade nos itens que poderiam causar algum viés de interpretação, como,
por exemplo, a idade e biotipo corporal. Corroborando este achado, Neumann [15]
enfatiza que todas as variáveis espaciais e temporais obtidas na análise da
marcha podem variar de acordo com fatores biológicos, como idade e
características físicas (por exemplo, altura e peso). Em relação às avaliações
cognitivas, além do diagnóstico médico fechado de DA, dois testes ajudaram a
reforçar tal achado. Atualmente o MEEM e CDR são testes rápidos, de fácil
aplicação e muito utilizados na detecção de alterações cognitivas [11-12].
Em relação à
prevalência de gênero em nosso estudo, principalmente no GA, a mesma foi de
pacientes do sexo feminino, corroborando dados da literatura que demonstram uma
frequência de desordens neurodegenerativas ligeiramente maior em mulheres, em
parte porque as mesmas geralmente vivem mais que os homens. Além disso, a
incidência de DA aumenta aproximadamente exponencialmente com a idade até que
um ponto de inflexão é atingido aos 85 anos [16,17].
Ainda na Tabela I, os
sujeitos do GA apresentaram um valor bastante baixo em relação ao MEEM,
demonstrando uma perda cognitiva acentuada. Segundo Teixeira [18], as perdas na
memória já são evidentes nos estágios iniciais da doença, e esta perda se
acentua conforme a patologia progride [19]. Algumas respostas emocionais também
são comuns, como o aumento apatia, ansiedade ou depressão. Conforme a doença
progride, o que se pode perceber é que, além das perdas associadas à cognição,
surge uma diminuição significativa das habilidades funcionais [18,20]. Aspectos
como atividades domésticas, cuidado pessoal e locomoção também são afetados.
Segundo a literatura, o grau de incapacidade aumenta com o avanço do déficit
cognitivo [21].
Em relação à Tabela
II, pode-se verificar que ao realizar a comparação entre os grupos, os danos
motores dos pacientes com Alzheimer seguem uma mesma evolução que o
comportamento cognitivo, ou seja, decrescem. Ficou evidente que tanto a
cadência, comprimento do passo, passada e velocidade diminuem seus valores de
maneira expressiva. Christofoletti et al. [22]
evidenciaram que idosos com DA apresentam comprometimento na
agilidade/mobilidade, quando comparados a idosos sem demência, seguindo a
progressão da doença. Outro estudo feito por Carvalho et
al. [23] afirma que a fraqueza muscular de membros inferiores e a diminuição da
sensibilidade periférica são agravadas em pacientes portadores de DA, estes têm
dificuldade de regulação das respostas relacionadas à velocidade e à precisão,
afetando diretamente a locomoção.
Ainda corroborando
nossos achados que demonstraram claramente alterações importantes nas variáveis
espaçotemporais, Eggermont et al. [24], em um estudo
comparando a função de membros inferiores em pacientes que apresentavam e não
apresentavam alterações cognitivas, através de testes funcionais como o Time Up
and Go e Sit to Stand Test, comprovaram que pacientes com DA demonstravam
alterações significativas em membros inferiores, comprometendo diretamente a
velocidade da marcha e a mobilidade funcional destes indivíduos quando
comparados a idosos sem demência. Tais achados estão ainda de acordo com o
estudo de Marquet [25], no qual foram analisados pacientes dementes com o
objetivo de estudar mudanças longitudinais na função da marcha. Observou-se que
durante a execução da mesma, houve uma diminuição da velocidade, do comprimento
da passada e uma assimetria dos passos. Somado a isso, ocorre uma diminuição da
magnitude das acelerações do tronco [26]. Estes autores sugerem que estas
alterações encontradas na marcha destes indivíduos, também encontradas no
presente estudo, podem estar diretamente relacionadas com mudanças no fluxo
sanguíneo na região frontal do córtex cerebral, a qual é responsável pela
atenção e função executiva que estão deficitárias em pacientes portadores de
DA.
Alguns estudos
relatam que distúrbio da marcha é um sintoma mais aparente em estágios
avançados da Doença de Alzheimer [27]. Há, no entanto, crescentes evidências de
que os distúrbios da extremidade inferior também estão presentes nas fases mais
leves da doença e pode estar relacionada com o nível de déficit cognitivo [28].
Cedervall et al. [29] relatam em um estudo longitudinal
com esta população que a velocidade da marcha e o comprimento do passo durante
atividades de dupla-tarefa deteriorizaram à medida que avançava a DA. Em
pessoas idosas, a função das extremidades inferiores, por exemplo, o andar,
envolve a intenção e a integração de informações corticais sensoriais e,
portanto, o déficit cognitivo também pode prejudicar a deambulação [6,30].
Alternativamente, deficiências de função na extremidade inferior como, por
exemplo, deficiências de marcha, podem mesmo prever o futuro declínio cognitivo
e a demência [31].
Tem sido sugerido que
as diferenças na função das extremidades inferiores em todo o envelhecimento
cognitivo podem ser explicadas pela atrofia de uma rede, incluindo o córtex
pré-frontal dorsolateral, giro do cíngulo, áreas de associação parietal,
gânglios da base e lobos temporais, particularmente o hipocampo [32], além de
mudanças na morfologia sulcal e reduções significativas na espessura cortical e
volume da substância branca dos giros [33]. Vários estudos de imagem cerebral
encontraram apoio para tal rede envolvida em ambas as funções: cognição e
função dos membros inferiores. Por exemplo, um estudo demonstrou através de um
sistema informatizado por tomografia computadorizada que o desempenho da função
motora foi associado à atrofia dos lobos temporais [32]. Além disso, outro
estudo de imagem mostrou uma associação entre maior atividade em regiões do
cérebro que estão envolvidos em funções cognitivas complexas (área do córtex
pré-frontal e hipocampo), e aumento da complexidade da marcha humana [34].
Outro detalhe
importante de ser salientado através destes dados é que além da diminuição dos
valores cinemáticos do GA, o Grupo Controle também apresenta números abaixo da
normalidade quando comparados com a literatura científica [15]. Essas
diferenças foram evidentes para cadência, velocidade,
comprimento do passo e passada, cujos valores considerados como normais
são, respectivamente, 140 p/min, 1,37 m/s, 0,72 m e 1,44 m [15]. Tal achado
pode ser justificado pelo fator idade, diretamente relacionado com as
alterações corporais provocadas pelo envelhecimento. Com o aumento desta, é
comum se detectar uma diminuição da massa muscular, força e flexibilidade,
assim como um acréscimo na perda de habilidades e funções. Essas alterações
podem resultar em dificuldades em algumas atividades de vida diária, inclusive
no que condiz a respeito da marcha [35]. Novaes, Mirando e Dourado sugerem que
a velocidade da marcha e, consequentemente, a cadência declinam com a idade em
indivíduos com idade superior ou igual a 70 anos
quando comparados com indivíduos com idades entre 40-59 anos [36] e que estes
parâmetros podem representar um marcador sensível para o declínio cognitivo em
idosos [37].
Portanto, fica
bastante evidente neste estudo que a Doença de Alzheimer afeta diretamente
tanto a parte cognitiva como motora, causando uma diminuição nos valores
espaçotemporais da marcha como a cadência, velocidade, comprimento do passo e
passada, interferindo diretamente na locomoção do indivíduo que apresenta esta
patologia. Como principal limitação deste estudo, sugere-se o baixo número
amostral, tornado a análise estatística limitada na sua avaliação.