REVISÃO
Efeitos
do Kinesio Taping sobre o edema linfático
Effects of Kinesiology Taping on the lymphatic edema
Hedioneia Maria
Foletto Pivetta, D.Sc.*, Gustavo do Nascimento Petter,
Ft.**, Giana Berleze Penna, Ft.***, Thaís Nogueira de Oliveira Martins****,
Luana Farias dos Santos****, Ana Cristina Goettems Pautz****
*Docente
do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Santa Maria, **Mestrando do
Programa de Pós Graduação em Educação Física pela Universidade Federal de Santa
Maria, ***Fisioterapeuta do Programa de Residência em Área Multiprofissional em
Saúde da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre,
****Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Santa Maria
Recebido em 1 de julho de 2016; aceito em 13 de abril de 2017.
Endereço
para correspondência:
Hedioneia Maria Foletto Pivetta, Rua Recanto Verde, 5/ Loteamento Behr, Bairro
Camobi 97105-604 Santa Maria RS, E-mail: hedioneia@yahoo.com.br; Gustavo do
Nascimento Petter: gustavo.petter@hotmail.com; Luana Farias dos Santos:
lulys2001@hotmail.com; Thaís Nogueira de Oliveira Martins: thais21_oliveira@hotmail.com
Resumo
Introdução: O linfedema é
caracterizado pelo acúmulo excessivo e persistente de fluidos e proteínas nos
espaços intersticiais pela incompetência do sistema linfático. Acredita-se que
a propriedade elástica da bandagem promove tensões e trações superficiais na
pele capazes de drenar os fluidos corporais. Objetivo: Esta revisão sistemática se propôs a investigar os
efeitos da Kinesio Taping (KT) sobre o edema linfático. Métodos:
Pesquisa do tipo exploratório-documental com abordagem
quantitativa, cujas bases de dados consultadas foram: Lilacs, Medline,
Scielo e
Periódicos Capes. Utilizaram-se os descritores: “bandagem
elástica funcional”
“fita atlética”, ”linfotaping”
“linfedema”, “linfoedema” e seus respectivos
termos em inglês. Resultados: Foram
selecionados cinco ensaios clínicos randomizados e comparados os elementos
considerados relevantes para a análise dos efeitos da KT, como o público alvo,
o grau de edema linfático do membro superior, o método utilizado para avaliação
do linfedema, a disposição dos grupos nas pesquisas e o método de aplicação da
KT. Conclusão: Os resultados
evidenciam redução significativa do linfedema nos grupos que utilizaram a KT,
tanto de forma isolada como associada a outras técnicas, porém a KT quando
comparada a Terapia Complexa Descongestiva apresenta resultados inferiores na
redução do linfedema.
Palavras-chave: linfedema, fita
atlética, Fisioterapia.
Abstract
Introduction: Lymphedema is characterized by excessive and persistent accumulation
of fluids and proteins in the interstitial space, caused by the incompetence of
the lymphatic system. It is believed that the elastic property of the bandage
promotes tensions and superficial skin tractions which are able to drain body
fluids. Objective: This systematic
review intends to investigate the effects of Kinesiology Taping (KT) on the
lymphatic edema. Methods: This
research is exploratory-documentary type with a quantitative approach, whose
databases consulted were: Lilacs, Medline, Scielo and
Capes. It was used the keywords: “bandagem elástica funcional” “fita atlética”,”linfotaping” “linfedema”, “linfoedema”
and their respective terms in English. Results:
Five randomized clinical trials were selected and we compared the relevant
elements to the analysis of the effects of KT, as the patient target, the
degree of lymphedema of the upper limb, the method that was used for the
evaluation of lymphedema, the arrangement of the groups in the studies and the
KT method application. Conclusion:
The results showed there was a significant reduction of lymphedema in the
groups that used KT, used either alone or associated with other techniques,
however the KT compared to the Complex Decongestive Therapy presents lower
results in reducing lymphedema.
Key-words: lymphedema,
athletic tape, Physical Therapy Specialty.
O linfedema é uma
condição crônica e progressiva caracterizado pelo acúmulo excessivo e
persistente de fluidos e proteínas nos espaços intersticiais pela incompetência
do sistema linfático [1,2]. Estudos sugerem que a incidência de linfedema de
membros superiores, principalmente o linfedema secundário decorrente do
tratamento do câncer de mama, varia entre 25% e 38 % [3]. Uma pesquisa
identificou prevalência de pacientes com linfedema após o tratamento para o
câncer de mama de 44,8% [4].
Dentre as principais
intercorrências desencadeadas pela presença de linfedema, destacam-se as
repercussões físicas, tais como deformidades decorrentes da tumefação,
dificuldades para realizar atividades cotidianas assim como consequências de
ordem emocional também são observadas, pois o aumento de
volume em algum segmento corporal afeta a autoestima do paciente e pode
ocasionar limitações sociais e profissionais [5].
Há inúmeros
tratamentos conservadores (não-cirúrgicos) utilizados para
a redução do linfedema periférico [6], porém, mesmo os métodos amplamente
usados ainda carecem de bons estudos científicos. Dentre os métodos mais
difundidos mundialmente está a Terapia Complexa Descongestiva (TCD) ou Terapia
Física Complexa (TFC), reconhecida como padrão ouro para o tratamento do
linfedema [7]. A TCD é um método que combina a drenagem linfática manual (DLM),
bandagens compressivas, exercícios miolinfocinéticos, cuidados com a pele e
cuidados nas atividades cotidianas. Entretanto, observa-se que, apesar dos bons
resultados angariados pela TCD, até mesmo as mulheres que têm orientação
adequada possuem dificuldades para aderir a todos os procedimentos previstos
nessa terapia [8].
Atualmente, a técnica
Kinesio Taping (KT) vem ganhando reconhecimento na prática clínica.
Desenvolvida por Kenzo Kase em 1973, a KT consiste em uma técnica terapêutica
também conhecida como bandagem elástica funcional. Foi disseminada mundialmente
nas olimpíadas de Seul em 1988 com objetivo de auxiliar os músculos e outros
tecidos a buscarem a sua homeostase [9]. Atualmente, a técnica tem sido
utilizada como um recurso inovador no tratamento do linfedema capaz de
proporcionar a reabsorção de exsudatos em direção aos vasos linfáticos mais
profundos, ductos linfáticos e linfonodos [10,11].
Acredita-se que a
propriedade elástica da bandagem promove a elevação da pele favorecendo a
ocorrência de tensões e trações superficiais capazes de drenar os fluidos
corporais [9]. De acordo com os autores, é possível que mediante os movimentos
corporais, a bandagem provoque diferença de gradiente de pressão entre as
camadas da pele tracionando os filamentos de ancoragem levando a abertura e
fechamento dos linfáticos iniciais.
Entretanto, não há
estudos com evidência científica suficiente que comprove os efeitos da KT sobre
o edema linfático. Acredita-se que a técnica pode representar uma importante
estratégia para o tratamento do linfedema, assim como pode contribuir para a
maior adesão dos pacientes ao tratamento, uma vez que se trata de um recurso
esteticamente mais agradável e menos incômodo que a TCD. Mediante o exposto,
este estudo teve por objetivo investigar os efeitos KT sobre o edema linfático
através de uma revisão sistemática da literatura.
Para alcançar o
objetivo proposto neste estudo, do tipo exploratório-documental e abordagem
quantitativa, utilizamos a revisão sistemática da literatura como método. A
escolha pela revisão sistemática da literatura deve-se ao fato de que as mesmas
são particularmente relevantes e integram um conjunto de estudos que foram
realizados separadamente sobre determinada intervenção que podem apresentar
resultados distintos. Além disso, esse tipo de pesquisa permite identificar
temas que ainda necessitam de evidência científica, o que contribui para o
campo científico e orienta as futuras investigações [12,13].
Foi realizado o
levantamento das produções científicas publicadas nos últimos 15 anos nas bases
de dados eletrônicas Lilacs, Medline, Scielo e Periódicos Capes, consultadas
nas dependências de uma Instituição de Ensino Superior Pública do Sul do
Brasil. A escolha deste período de busca deu-se pelo fato de que as produções
científicas acerca da utilização do KT se acentuaram a partir do ano 2000 [9].
A
busca foi realizada
no período compreendido entre janeiro e março de 2015.
Buscaram-se estudos na
língua portuguesa e inglesa utilizando a
associação dos descritores e seus
respectivos termos em inglês, assim como variações
de denominação da técnica,
são eles: “bandagem elástica funcional”
“fita atlética”, ”linfotaping”
“linfedema”, “linfoedema” e seus respectivos
termos em inglês “kinesiotaping”,
“kinesiotape” “taping”, “tape”,
“therapeutic elastic tape”, “lymphtaping”,
“athletic tape”,“lymphedema”,“lymphoedema”.
Para fazer parte do
estudo elencaram-se como critérios de inclusão: artigos completos publicados em
periódicos impressos ou online, originais ou de revisão, nas línguas portuguesa
e inglesa, nos anos de 2000 a 2015 que investigaram os efeitos da KT sobre o
linfedema. Foram excluídos artigos que apresentaram somente os resumos (sem
acesso gratuito ao estudo na íntegra), teses e dissertações, resumos publicados
em anais de eventos, livros e capítulos de livros, assim como aqueles que não
alcançaram o nível mínimo de avaliação da qualidade através da Escala PEDro (Physiotherapy
Evidence Database) [14].
Como critério de
elegibilidade, a busca foi realizada a partir de dois pesquisadores
independentes que primeiramente selecionaram os artigos pelo título e leitura
do resumo, selecionando aqueles que se enquadravam no objetivo deste estudo. Na
primeira etapa de análise realizou-se o pareamento dos estudos encontrados
pelos pesquisadores independentes eliminando as duplicidades para,
posteriormente, aplicar os critérios de inclusão e exclusão.
Os periódicos
selecionados foram analisados na íntegra e avaliados através da Escala PEDro de maneira independente entre os dois pesquisadores. O
objetivo da utilização desta escala foi auxiliar na avaliação da qualidade
metodológica dos estudos, o que se denomina de validade interna (critérios 2 a
9), bem como avaliar a descrição estatística (se o estudo contém informações
estatísticas mínimas para que os resultados possam ser interpretáveis),(critérios 10 e 11). A escala possui uma pontuação total
de até 11 pontos. Para cada critério definido na escala, um ponto (1) foi
atribuído quando se encontrou a presença do indicador da qualidade da
evidência, e zero ponto (0) na ausência desses indicadores [13,14]. Os artigos
que não alcançaram três pontos, por ambos os pesquisadores, foram excluídos do
estudo. Para avaliar o nível de concordância entre os revisores em relação à
pontuação dos artigos pela escala PEDro foi utilizado
o Índice Kappa.
De posse dos artigos
selecionados mediante validade pela Escala PEDro,
realizou-se nova leitura integral de cada artigo. Nesta etapa de análise,
procedeu-se a descrição e sistematização dos estudos selecionados para
apresentação das evidências da intervenção investigada, ou seja, os efeitos da
KT no edema linfático.
A figura 1 apresenta
o caminho percorrido desde a elaboração do problema de pesquisa até a análise
dos estudos selecionados (Figura adaptada) [15].
Foram encontrados 286
artigos conforme a associação dos descritores. Destes, 192 foram excluídos por
título e resumo, assim como 74 artigos duplicados também foram eliminados.
Aplicados os critérios de exclusão, cinco artigos foram eliminados em função do
idioma (dois artigos publicados em Espanhol, um em Francês, um em Russo, um em
Turco) e um foi publicado antes do ano 2000. Permaneceram 12 artigos para
leitura na íntegra e, após esta etapa, dois artigos foram excluídos por não
atenderem aos objetivos do estudo. Mediante aplicação da Escala PEDro, cinco artigos apresentaram escores maiores que três,
sendo considerados então como de qualidade aceitável para pertencer ao estudo.
A qualidade metodológica mínima dos artigos selecionados foi 6
pontos [16] e a máxima foi de 8 pontos [17-19] e um artigo alcançou 7 pontos
[20]. Em relação a esta classificação os avaliadores apresentaram alta
concordância (Kappa = 1; IC95% (1–0,38); p = 0,002). Assim sendo, de acordo com
os critérios do estudo, foram selecionados 5 artigos para
integrar esta revisão sistemática (figura 2).
Figura
1 - Fluxograma da pesquisa.
Figura
2 – Fluxograma da seleção dos artigos nas bases
de dados pesquisadas.
A tabela I apresenta
os artigos selecionados, dispostos pelo período de publicação, com os dados
relativos ao método e principais resultados encontrados.
Para a análise dos
cinco estudos, elencaram-se elementos considerados relevantes para a
investigação dos efeitos da KT, como a população estudada e suas
características clínicas, a configuração dos grupos nas pesquisas, o método de
aplicação da KT, o tempo de intervenção e a periodicidade, o método utilizado
para avaliação do linfedema e, por fim, os principais resultados encontrados.
Os demais itens que também poderiam ser considerados relevantes, mas que apenas
um ou dois artigos abordaram foram levantados apenas na discussão.
A população de todos
os estudos envolveu mulheres com linfedema originado a partir do tratamento do
câncer de mama. Dois deles avaliaram apenas mulheres que foram submetidas à
mastectomia radical unilateral, outros dois especificaram o tipo de cirurgia
somente como mastectomia, e um dos estudos avaliou mulheres pós-mastectomia
radical e também pós-cirurgia conservadora de mama. Dos estudos analisados apenas
um apresentou cálculo amostral [19] e o tamanho amostral médio foi de 44,6 ±
13,28, sendo a menor amostra de 28 sujeitos.
Um estudo [19]
interviu em dois grupos, o primeiro recebeu a TCD e a compressão pneumática
(CP), sendo denominado como Grupo Bandagem. Já o segundo foi submetido à TCD
modificada, sem enfaixamento, mais a CP e a aplicação de KT (Grupo KT - GKT).
Em outro estudo [20], as mulheres foram divididas em dois grupos, um grupo
recebeu aplicação da KT e o outro grupo, denominado grupo controle, não recebeu
tratamento anti-edema. O grupo KT foi ainda
randomizado e dividido em dois subgrupos, com aplicação da fita de modos
distintos, um subgrupo recebeu a fita em região de anastomoses do tronco e
outro subgrupo apenas no membro superior.
Em outro estudo [16],
as mulheres foram randomizadas em dois grupos. O grupo estudo, antes de receber
as aplicações da KT, permaneceu com o braço acometido em elevação por 20
minutos e posteriormente recebeu as aplicações de KT com 10% de estiramento, de
maneira espiral, em todo o membro superior, de distal para proximal, a um
ângulo de 45 graus, no sentido unidirecional na anastomose. O grupo controle
recebeu aplicações de KT pelo modo tradicional, de proximal para distal, e
ambos os grupos receberam orientações educativas e realizaram exercícios
físicos.
Estudo piloto
randomizado [18] foi realizado mediante a separação dos sujeitos em três
grupos, o grupo KT, o qual recebeu aplicação da KT; no grupo quase KT, que
utilizou fitas sem efeitos terapêuticos, constituídos por emplastros cirúrgicos
comuns, simulando a KT, e o grupo Terapia de Multicamadas de Compressão (TMC),
que recebeu o enfaixamento compressivo multicamadas. Além disso, todos os
grupos receberam 45 minutos de CP, 1 hora de DLM e orientações sobre cuidados
com a pele antes da aplicação das técnicas citadas para cada grupo. A aplicação
do KT foi realizada com a porção âncora da fita iniciada no aspecto anterior da
mão, sem tensão, as caudas da fita foram aplicadas nas regiões anterior, medial
e posterior do antebraço e braço com 5-15% a tensão e, em seguida, também
aplicada na região anterior do tórax, próximo ao peitoral.
Em ensaio clínico
randomizado [17], foi comparada a utilização da TCD e da KT, bem como a
associação entre elas. O grupo TCD incluía DLM, bandagem compressiva,
exercícios terapêuticos e cuidados com a pele. O grupo TCD + KT recebeu a
terapia similar ao grupo TCD, porém houve a aplicação da KT abaixo da bandagem
compressiva e o grupo KT também utilizou a TCD associada ao KT, porém sem a
bandagem compressiva. Todas as mulheres foram instruídas a realizar os
exercícios terapêuticos em casa.
Quanto aos métodos
utilizados para a avaliação do linfedema foi observada a perimetria com fita
métrica como a avaliação mais praticada, porém nenhum deles apresentou os
valores deste método, de maneira direta, nas tabelas de comparação de seus
grupos de estudo. Para isso utilizaram-se ou de estimativas de volume do
membro, ou da própria volumetria. Um único estudo utilizou a volumetria por
deslocamento de água, e, além disso, avaliou a quantidade de água no membro
através da análise de bioimpedância [19]. Um estudo mensurou o volume do membro
através de um equipamento chamado Optoelectronic
Perometer 40 T, que é baseado em perimetrias realizadas de maneira
eletrônica e analisadas em computador [18]. Dois estudos basearam-se na
perimetria para a estimativa do volume do membro, porém um utilizou o software Limb Volumes Professional 5.0 [20] e o
outro na fórmula de Frustrum [17]. Por fim, apesar de apresentar, em sua
tabela, percentuais de redução do volume de linfedema [16], utilizou-se da
perimetria como método de avaliação deste desfecho, sem mencionar o uso de
alguma equação para estimativa de volume do membro.
Sobre o efeito de
redução do linfedema promovido pela aplicação da KT foi relatado que este pode
ser um recurso utilizado em pacientes que não aderem a TCD devido a sua
capacidade de reduzir linfedema. Entretanto, ainda não foi comprovado que a KT
pode substituir a TCD, pois as evidências apontam que é maior a redução do
linfedema nos grupos que realizavam a TCD.
Tabela
I - Sistematização dos artigos selecionados por
período de publicação. (ver PDF em anexo)
O fluxo linfático
pode ser incrementado com atividades que causem a deformação tecidual, tais
como: a pulsação arterial, exercícios respiratórios, movimentos peristálticos,
massagem, entre outros [21]. Em decorrência disso, encontramos nos estudos que
a KT, ao ser aplicada sobre a pele, parece ser capaz
de exercer alguma melhoria do fluxo linfático.
Embora os estudos
tenham encontrado uma atuação positiva da KT sobre o edema linfático, as
limitações metodológicas geram dúvidas sobre a legitimidade dos resultados.
Existe ampla variação quanto à qualidade metodológica, incluindo reduzido
tamanho da amostra, ausência de cálculo amostral em quatro estudos [16-18,20],
associação da KT com outras técnicas que denotam a dificuldade de isolar o
efeito real da fita sobre o linfedema [16], ausência em alguns dos estudos do
controle estatístico de variáveis que possam interferir nos resultados [16,17],
incluindo a radioterapia, quantidade de linfonodos retirados, tipo de cirurgia
realizada [22]. Contudo, parece ser plausível que a KT possa exercer alguma
influência sobre o linfedema.
Todos os estudos da
presente revisão são ensaios clínicos randomizados, que sabidamente são
considerados padrão-ouro para determinar os efeitos de uma terapia e, por esse
motivo, são valiosas ferramentas utilizadas na
avaliação das intervenções em saúde [23], entretanto, quando mal conduzidos
podem levar a resultados inconsistentes [24].
A maioria dos estudos
[16,17,20] utilizou a perimetria como método para a
mensuração do linfedema nos membros superiores, no entanto, um estudo [19]
utilizou simultaneamente a perimetria, a volumetria e bioimpedância e outro
[18] utilizou um dispositivo óptico eletrônico constituídos por diodos
emissores de luz. Apesar de a perimetria ser considerada uma técnica objetiva e
de alta confiabilidade [25] apenas um estudo [19] apresentou um índice de
confiabilidade intra ou interavaliador. Esta grande diversidade metodológica de
certa forma dificulta as comparações entre os estudos, sendo a padronização das
técnicas e modos de avaliação uma possibilidade de resolução deste problema.
Os estudos incluídos
nesta revisão utilizam a KT em diversos estágios do linfedema, porém percebe-se
que não houve um parâmetro comum para essa classificação, ou seja, um estudo
[19] classificou o linfedema como moderado quando houve uma diferença de dois
cm na perimetria do membro superior em comparação ao seu contralateral em pelo
menos um ponto. Para outro, [20] o linfedema é considerado moderado quando há
uma diferença de no mínimo 20% de volume entre os membros.
Os trabalhos em que o
grupo estudo (KT) obteve redução do edema superior ao controle [20,16] não
compararam os efeitos dessa terapia com outra técnica [20] ou compararam como
modo tradicional de aplicação [18]. Entretanto, a maioria das mulheres desses
estudos tinham predominantemente edemas grau I, que é o tipo de linfedema mais
facilmente tratável [6], o qual com uma simples elevação do membro edemaciado,
nesses casos, já seria suficiente para promover alguma
redução do edema.
Sabe-se que o
linfedema é uma doença crônica e que quando não tratada pode evoluir [26], como
de fato ocorreu no grupo controle desse estudo [20] que não recebeu nenhuma
terapia antiedema. Sendo assim, esse estudo pode ter superestimado os efeitos
da KT, no grupo estudo houve uma randomização em dois subgrupos com aplicação
da fita em região de anastomoses do tronco em um subgrupo sendo o outro sem
anastomose. Percebe-se que nesta subdivisão não houve diferença intergrupos
quanto ao modo de aplicação, e isso pode ser explicável, segundo os próprios
autores do estudo, pelo fato de que a pesquisa tratou apenas mulheres com o
menor grau de linfedema existente e que, portanto, qualquer modo de aplicação
utilizado não resultaria em grandes diferenças.
Pode-se inferir que o
fluxo linfático, além de seguir o sentido centrípeto, também segue o sentido
dos vasos superficiais para os mais profundos, o que pode justificar a melhora
do edema independente do estímulo em anastomoses ou não. Ou seja, na medida em
que a fita promove o deslocamento da linfa do espaço intersticial para os
linfáticos iniciais e destes para os vasos mais profundos, valvulados, esta
possivelmente ganhe a circulação sistêmica junto ao términus, cumprindo com seu
objetivo [27]. Diante disso, seria então justificável utilizar o modo mais
econômico de aplicação para tratar esse tipo de linfedema (sem anastomose),
visando uma relação custo-benefício favorável. Outro aspecto a salientar, é o
fato de que o KT segundo alguns estudos, está associado a lesões de pele ou
reações alérgicas [18,19], sendo, desse modo, prudente realizar aplicações de
KT utilizando menores áreas de contato pele-fita na tentativa de minimizar a
ocorrência desses problemas, entretanto isso não pode ser considerado para
graus de linfedema mais avançados, bem como em situações comprometedoras do
fluxo linfático.
O estudo que comparou
apenas os métodos de aplicação da KT [16] encontrou redução do linfedema
significativamente superior ao modo tradicional, porém todas as mulheres do
grupo de estudo que propôs um método alternativo realizaram elevação do membro
antes da aplicação da KT, o que favorece o retorno venoso e linfático. Diante
disso, seria difícil deduzir se a redução do edema esteve de fato relacionada
apenas ao novo método de aplicação da fita.
Outro estudo [17]
sugeriu que a associação da KT com a TCD seria mais efetiva na redução do
linfedema, porém convém destacar que nesse grupo havia menos voluntárias que
realizaram a radioterapia, que reconhecidamente pode causar maiores danos ao
sistema linfático, levando a fibrose dos vasos linfáticos superficiais [28].
Outro ponto a ser enfatizado se deve ao fato de que, antes da intervenção, os
grupos foram considerados estatisticamente diferentes quanto ao tipo de
tratamento anticancerígeno, após a cirurgia, o que pode ter influenciado nos
resultados.
Apenas um estudo [19]
sugeriu que a KT poderia substituir a bandagem compressiva naqueles pacientes
que não aderiram a TCD. Contudo, considera-se relevante esclarecer que a
redução do volume do membro com linfedema no grupo KT ocorreu apenas no
antebraço, enquanto no grupo controle (TCD) a redução do volume foi geral, o
que denota a efetividade do método TCD. Ressalta-se que nesse estudo, o grupo
TCD utilizou o enfaixamento compressivo por um tempo reduzido (7.8 horas)
quando comparado ao grupo KT (15.1 horas), fato atribuído ao maior conforto e
comodidade relatados pelas usuárias da KT. Esse achado permite considerar que
mesmo não utilizando por um tempo adequado, que segundo o mesmo estudo seria de
16 horas, a eficácia da terapia coma bandagem compressiva ainda assim foi
superior.
Estudo piloto [18]
comparou a eficácia da KT com o enfaixamento multicamadas (MCT) e uma fita
placebo sem efeitos terapêuticos, consistindo em emplastros cirúrgicos comuns
que simularam a KT e encontrou redução significativa do volume nos três grupos
após a intervenção, porém, o MCT encontrou uma redução do volume superior e os
outros dois grupos tiveram reduções semelhantes. Segundo os autores a diferença
de redução do linfedema entre os grupos MCT e KT pode se dar pela pressão
exercida por cada umas das técnicas; de acordo com os
autores a MCT deve promover uma compressão em torno de 50-60 mmHg para ser
efetiva e pressões abaixo desse valor são consideradas inúteis, corroborando os
resultados do estudo, pois a KT não consegue produzir uma pressão maior que
15-20 mmHg não sendo efetivo na redução do edema. Dessa forma, os autores
concluíram que o KT parece ser ineficaz no tratamento do linfedema
pós-mastectomia e não deve ser uma terapia de escolha no tratamento deste.
Entretanto, cabe
destacar que o efeito da KT sobre o edema linfático não se dá por pressão e sim
por alívio dessa, pois a fita em contato com a pele
provoca micro circunvoluções, ou dobras, nos tecidos, o que provoca um
levantamento da pele facilitando a liberação da pressão dos tecidos e
fornecendo espaço para a movimentação do fluxo linfático, facilitando assim a
drenagem linfática [29].
É interessante
perceber que nesse estudo [20] a terapia de compressão, obteve melhores
resultados na redução do linfedema, e que a utilização do KT ou de uma fita
placebo obteríamos resultados semelhantes. Portanto, com base nesse artigo e,
pensando no custo-benefício, casos e opte por uma terapia sobre a derme, é sugestivo a utilização de fitas comuns.
Dois estudos [17,19]
se propuseram também avaliar sintomas subjetivos relacionados ao linfedema. Em
um deles [19] avaliou onze sintomas (aperto, peso, dor, rigidez, sofrimento,
desconforto, calor, plenitude, formigamento, fraqueza e dormência) e encontrou
que a redução dos sintomas ocorreu tanto no grupo KT (aperto, dor, rigidez,
desconforto, plenitude e formigamento) quanto no grupo controle (tensão, dor,
desconforto e plenitude), porém no período de segmento três sintomas (aperto,
peso e fraqueza) tornaram-se estatisticamente piores no grupo bandagem. Outro
estudo [17] que avaliou sete sintomas (dor, limitação nas atividades de vida
diária, desconforto, peso, tensão, rigidez e dormência) percebeu que a
severidade de quase todos os sintomas, exceto a dormência, foram
estatisticamente reduzidas já na primeira avaliação
apenas no grupo KT.
Até o momento, nenhum
trabalho avaliou os efeitos da KT em longo prazo, o período máximo de
acompanhamento foi de 12 semanas, sendo obtidos resultados semelhantes entre os
grupos.
Os resultados desta
revisão evidenciaram que houve redução significativa do linfedema nos grupos
que utilizaram a KT tanto de forma isolada como associada a outras técnicas, e,
quando comparada a TCD, apresenta resultados inferiores na redução do
linfedema. A combinação do alto custo e menor redução do linfedema, quando
comparado à TCD, torna a KT uma alternativa menos viável até o momento.