ARTIGO
ORIGINAL
Estudo
comparativo da prevalência de alterações posturais na coluna vertebral em
escolares do ensino fundamental do município de Quixadá/CE
Comparative study of the impact of postural changes on spine in
elementary school of Quixadá/CE
Denilson de Queiroz Cerdeira,
Ft.,M.Sc.*, Cristiane Clemente de Mello Salgueiro, D.Sc.**, José Ferreira Nunes, D.Sc.***
*Doutorando
em Biotecnologia – RENORBIO (UFPB), Docente dos Cursos de Fisioterapia,
Nutrição, Enfermagem e Psicologia do Centro Universitário Estácio do Ceará,
**Médica Veterinária, Orientadora, Docente do Programa de Doutorado da Rede
Nordeste de Biotecnologia – RENORBIO, ***Médico Veterinário, Orientador,
Docente do Programa de Doutorado da Rede Nordeste de Biotecnologia – RENORBIO
Recebido em 9 de agosto de 2017; aceito em 9 de julho de 2017.
Endereço
de correspondência:
Denilson de Queiroz Cerdeira, Rua Cajazeira, 501,
Casa 39 Lagoa Redonda 60831-310 Fortaleza CE, E-mail:
denilsonqueiroz@hotmail.com; Cristiane Clemente de Mello Salgueiro:
crismelloacp@gmail.com; José Ferreira Nunes: nunesuece@gmail.com
Resumo
Introdução: A má postura
caracteriza-se pela relação defeituosa entre as várias partes do corpo que
produz uma maior tensão nas estruturas de apoio. Objetivo: Comparar a prevalência de alterações posturais da coluna
vertebral em alunos do ensino fundamental de duas escolas, uma da rede privada
e outra da rede pública, do município de Quixadá/CE. Métodos: Avaliaram-se 40 alunos voluntários de ambas as escolas,
sendo 48% do sexo masculino e 52% do sexo feminino, com idades entre 11 e 15
anos. Analisaram-se com ajuda de bolas de isopor sobrepostas nos principais
relevos anatômicos e em seguida fotografias, nas quatro vistas, anterior,
posterior, lateral esquerda e lateral direita, de forma estática, posicionados
atrás do simetrógrafo, analisando através do software
Coreldraw,
marcando as alterações mais evidentes. Resultados:
Demonstraram a saúde deficiente da coluna vertebral em escolares, com a
identificação de várias alterações posturais, sendo mais prevalente na
instituição da rede municipal de Quixadá/CE. Sendo elas: hipercifose,
desequilíbrio pélvico, desequilíbrio escapular, inclinação lateral cervical, anteriorização cervical e elevação unilateral do ombro.
Entretanto, os alunos da instituição da rede privada apresentaram as mesmas
alterações, sendo em um menor índice. Conclusão:
Observou-se que o fator socioeconômico das instituições e dos alunos que as
compõe pode provocar futuras alterações posturais, devido às mobílias e a forma
de transporte de materiais serem inadequadas. O estudo sugere a presença de um
fisioterapeuta no ambiente escolar onde seria possível intervir na evolução dessas
alterações e a fixação dos desvios, visando o trabalho preventivo e
educacional.
Palavras-chave: postura,
epidemiologia, escoliose, Fisioterapia.
Abstract
Introduction: Bad posture is characterized by the defective relationship between the
various parts of the body that produces a greater tension in the supporting
structures. Objective: To compare the
prevalence of postural alterations of the spine in elementary school students
from two schools, one private and another public, from the municipality of Quixadá/CE. Methods:
A total of 40 students from both schools were evaluated, 48% male and 52% female,
aged 11 to 15 years. We analyzed with the aid of styrofoam balls overlapped in the main anatomical
reliefs and then photographied, in the four views,
anterior, posterior, left lateral and right lateral, in a static way,
positioned behind the symetrograph, analyzing through
Coreldraw software, marking the most evident changes.
Results: The results showed poor
health of the spine in schoolchildren, with the identification of several
postural alterations, being more prevalent in the public institution. These
include: hyperkyphosis, pelvic imbalance, scapular
imbalance, cervical lateral inclination, anterior cervical and unilateral
shoulder elevation. However, the students from the private institution showed
the same changes, but in a lower level. Conclusion:
We observed that the socioeconomic factor of institutions and students can
cause future postural alterations, due to the furniture and the inadequate way
of transportation of school materials. The study suggests the presence of a
physiotherapist in the school environment where it would be possible to modify
the evolution of these alterations and the establishment of deviations, aiming
at preventive and educational work.
Key-words: posture,
epidemiology, scoliosis, physiotherapy.
Diante dos problemas
comumente enfrentados na sociedade em que se vive, o corpo humano, de forma
geral, está envolvido numa complexa fusão entre os aspectos físicos,
psicológicos e sociais aos quais se inserem num entendimento mais completo de
saúde, contrapondo a uma visão puramente mecanicista. Entende-se que o corpo
humano é uma verdadeira máquina e que pode ser completamente visualizada e
compreendida de acordo com o funcionamento e organização de suas peças [1].
Um mau funcionamento
desta união de mecanismos, logo na infância, pode causar desorganização
corporal durante a vida adulta. Alterações posturais são frequentemente encontradas
em crianças e adolescentes. Nessa fase, a postura sofre uma série de ajustes e
adaptações às mudanças no próprio corpo [2].
A postura muitas
vezes é definida como uma reorganização das partes do corpo. Uma boa postura é
aquela em que o sistema musculoesquelético protege as estruturas corporais
contra lesões e/ou deformidades. Uma má postura caracteriza-se pela relação
defeituosa entre as várias partes do corpo que produz uma maior tensão nas
estruturas de apoio [3].
A coluna vertebral humana
é uma complexa estrutura que age como uma haste elástica que proporciona
suporte rígido e flexibilidade, tendo como função proteger a medula espinhal e
transferir cargas da cabeça e do tronco à pelve [4]. Composta por 33 vértebras,
destas 24 móveis que se articulam adjacentemente para permitir o movimento em
três planos. A coluna ganha estabilidade através da ação dos discos
intervertebrais, ligamentos e músculos; os discos e ligamentos promovem
estabilidade intrínseca e os músculos dão suporte extrínseco.
A postura adequada na
infância ou a correção precoce de desvios posturais nessa fase possibilitam
padrões posturais corretos na vida adulta, pois esse período é da maior
importância para o desenvolvimento musculoesquelético do indivíduo, com maior
probabilidade de prevenção e tratamento dessas alterações posturais na coluna
vertebral. Por outro lado, na maturidade podem se tornar problemas
irreversíveis e sem tratamento específico. Sendo assim, a idade escolar
compreende a fase ideal para recuperar disfunções da coluna de maneira eficaz
[5].
Através dos exames
clínicos ou avaliações posturais se podem diagnosticar os desvios posturais que
acometem a coluna vertebral. Os desvios são encontrados da seguinte forma:
através da verificação do aumento de suas curvaturas fisiológicas ou do
aparecimento de desvios laterais chamados de escolioses [6].
Do ponto de vista
biomecânico, a coluna vertebral é uma das regiões mais complexas do corpo
humano e uma deformação óssea estrutural pode ocorre durante o crescimento
devido à retração de partes moles. Durante o período escolar, a criança pode
sofrer um aumento da tensão de determinados grupos musculares, causado pelo
rápido crescimento ósseo [7].
Os problemas
posturais, em especial aqueles relacionados com a coluna vertebral, têm sua
origem no período de crescimento e desenvolvimento corporal, ou seja, na
infância e na adolescência. Além disso, os indivíduos estão sujeitos, durante
essas fases, a comportamentos de risco para a coluna, principalmente aqueles
relacionados à utilização de mochilas e à postura sentada por um tempo
prolongado [8].
Doenças que afetam o
sistema musculoesquelético, ocasionadas por desvios posturais advindas
principalmente da velocidade de crescimento de crianças, veem sendo relatadas
com frequência por vários pesquisadores [9].
Considerando que as
crianças permanecem por um longo período de tempo nas instituições escolares e
que estas podem não apresentar condições ergonômicas adequadas, torna-se
conveniente realizar estudos sobre alterações posturais, sobretudo da coluna
vertebral, por entender que as mesmas possam gerar agravos futuros e também
pelo elevado número de adultos incapacitados para uma vida social ativa por
problemas desse tipo [10].
A escola apresenta-se
como o local ideal para prevenir e orientar os escolares com relação aos
desequilíbrios posturais, informando e conscientizando a comunidade escolar
sobre a importância da prevenção. Assim, observa-se que a escola é mais um
local de atuação para o fisioterapeuta, onde podem ser desenvolvidos e
aplicados recursos fisioterapêuticos disponíveis, como informação, prevenção,
diagnóstico precoce, terapêutica específica, a fim de combater o aparecimento e
evolução das alterações posturais.
Compreendendo o
funcionamento e crescimento estrutural de nosso corpo, as atenções recaem sobre
a coluna vertebral, pois este é um segmento complexo e funcionalmente
significativo do corpo humano. Através deste referencial buscar-se-á conhecer,
identificar e comparar a prevalência de alterações posturais da coluna
vertebral, em alunos do ensino fundamental, sendo uma instituição privada e a
outra pública do município de Quixadá do estado do Ceará.
Assim, o presente
estudo objetivou quantificar o número de alterações posturais na região da
coluna vertebral em escolares de 11 a 15 anos, do ensino fundamental de duas
escolas, uma da rede pública e outra da rede privada no município de
Quixadá/CE.
Tratou-se de um
estudo quantitativo, por método comparativo e transversal em duas escolas do
ensino fundamental de Quixadá/CE, uma da rede pública de ensino e outra da rede
privada.
A pesquisa foi
realizada no período de janeiro a dezembro de 2014 nas instituições de ensino:
Colégio Valdemar de Alcântara (GVA) pertencente à rede privada de ensino,
mantido pela Província Vicentina e Escola de Ensino Fundamental Deputado Flavio
Portela Marcilio (EEFDFPM) pertencente à rede pública de ensino, mantido pelo
governo do estado do Ceará, ambas localizadas no município de Quixadá/CE.
A amostra foi
composta de 40 alunos, sendo 20 de escola privada e 20 de escola pública, com
idades entre 11 e 15 anos, de ambos os sexos. Participaram do estudo os alunos
que não apresentaram nenhuma deficiência física, que estavam com matrícula
efetiva na escola, e os alunos que estavam em posse do termo de consentimento
livre e esclarecido assinado pelo responsável da criança. Foram excluídos da
pesquisa os escolares participantes que apresentaram déficit auditivo e
cognitivo e dependência funcional para o desenvolvimento da pesquisa, ou que se
recusaram a participar do estudo.
Os dados foram
coletados pelo pesquisador por meio de uma avaliação postural, descrita no
livro intitulado Desequilíbrios Estáticos de Marcel Bienfait
cujo foco principal é a coluna vertebral [11]. A pesquisa foi realizada nas instituições
de origem dos pesquisados.
Inicialmente,
coletaram-se os dados dos participantes. Os dados obtidos foram lançados em um
formulário de coleta de dados contendo todos os dados necessários para o
levantamento desta pesquisa. Os dados foram analisados e agrupados de acordo
com o objetivo do estudo e dispostos em tabelas e gráficos no Software Statistical Package for
Social Sciences (SPSS) versão 20.0 e Microsoft
Excel e comparados com a literatura.
Depois de selecionada
a amostra, agendaram-se as datas para que o pesquisador pudesse se dirigir às
instituições, onde os alunos foram submetidos às avaliações posturais. Os dados
foram coletados nos meses de janeiro a dezembro 2014 durante toda a semana,
disponibilizado um tempo de 20 minutos para cada aluno.
Para a avaliação
postural dos alunos, foi necessário que eles estivessem de trajes adequados
(meninos de short e meninas de top e short) e sem uso de calçados, o
pesquisador se encontrava em uma posição onde tinha uma visão por inteiro do
indivíduo avaliado, que em seguida foi fotografado em quatro vistas, anterior,
posterior, lateral direita e lateral esquerda, focalizando a parte superior
visualizando cabeça e ombros, da coluna e pelve, dos membros inferiores e uma
de corpo inteiro.
Para realização das
fotos foram utilizadas bolas de isopor com espessura de 25 mm fixadas em
regiões anatômicas específicas e um simetrógrafo
(modelo CARCI) que foi posicionado à frente do avaliado. As fotografias foram
analisadas no software Coreldraw
para realização da avaliação postural. Os ângulos e as distâncias entre as
regiões anatômicas foram quantificadas em graus e centímetros, respectivamente,
e foram calculadas com auxílio das linhas traçadas através do software Coreldraw v.13.0, baseadas nas linhas de referência do simetrógrafo e nas regiões anatômicas: visão lateral
(acrômio, espinha ilíaca póstero superior, ântero
superior e o trocanter), na visão anterior (acrômios
bilateralmente, espinha ilíaca Antero superior bilateralmente e a ponta do
nariz) e na visão posterior (escapulas: ângulo superior e inferior, processo
espinhoso de C7, T3, T6, T9, T12 e espinha ilíaca póstero superior).
Após a avaliação
postural, os dados foram analisados e classificados, e em seguida, expostos os
mais relevantes e de maior prevalência entre os alunos de ambas as instituições
pesquisadas.
Em uma reunião com os
alunos de ambas as escolas, o desenvolvimento do estudo e sua finalidade foram
esclarecidos assegurando sigilo e anonimato dos participantes e das
instituições escolhidas para a pesquisa na apresentação dos dados, através do
termo de consentimento livre e esclarecido do responsável da criança e o termo
de fiel depositário, respectivamente.
Foi exposto aos
alunos que a participação era livre conforme estabelece a resolução 466/12 do
Conselho Nacional de Saúde, referente a estudos com seres humanos, e foi
esclarecido que em momento algum os alunos sofrerão riscos ou terão algum ônus
financeiro [12].
O termo de
consentimento livre esclarecido foi assinado em duas vias, permanecendo uma
cópia com o responsável e outra com o pesquisador.
Este estudo foi
enviado, juntamente com o termo de consentimento livre e esclarecido, ao Comitê
de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Faculdade Católica Rainha do Sertão,
aprovado sob o parecer de nº 757.118.
Foram analisados de
forma comparativa 40 escolares, sendo 20 de escola pública, composta por 11
indivíduos do sexo feminino e 9 do sexo masculino e 20
de escola particular composta por 10 indivíduos do sexo feminino e 10 do sexo
masculino. Evidenciando que em ambas as escolas os escolares apresentavam idade
entre 11 e 15 anos, sendo a idade de 13 anos, a mais prevalente na escola
pública, e a idade de 15 anos na escola particular. Na amostra geral foi
encontrada uma prevalência no sexo feminino com um percentual de (52,50%)
(Figura1).
Figura
1 - Dados da prevalência do sexo da amostra.
Quixadá/CE, 2014.
Podemos observar de
uma maneira geral a prevalência do sexo feminino, diferentemente do observado
por Santos et al. que constaram em sua pesquisa com os
alunos de primeira a quarta série do ensino fundamental, na escola municipal
Prefeito Joaquim Pires Sobrinho, localizada na cidade de Jaguariúna, interior
de São Paulo, uma prevalência do sexo masculino [13]. Contrapartida Minghelli, em seu estudo intitulado detecção precoce de
posturas escolióticas em adolescentes das escolas de
Silves, localizada em Algarves, Portugal obteve uma prevalência do sexo
feminino [14]. Knoplich cita que em seu estudo a
incidência de problemas posturais é muito maior nas meninas do que nos meninos
[15], estando de acordo com a Figura 1.
Figura
2 - Dados da prevalência de anteriorização
da cabeça da amostra. Quixadá/CE, 2014.
Conforme a figura 2,
a grande maioria dos indivíduos observados entre as duas escolas apresentavam anteriorização da cabeça. A escola particular apresentou
41,5% de anteriorização e apenas 7.3% apresentavam-se
normais; já na escola pública houve um maior percentual de anteriorização
cervical com 46,3% e apenas 4,9% apresentavam-se normais. Anteriorização
da cervical, desta forma, mostrando um maior número de alterações posturais na
coluna vertebral alunos pertencentes à rede pública de ensino. Unindo os dados
encontrados entre as duas escolas observou-se o alto índice de anteriorização da cabeça com 87,8% e apenas 12.2% da
amostra se apresentando normais.
Fisberg [16], em seu estudo
realizado com crianças e adolescentes, encontrou um elevado número de
alterações posturais, dentre elas a anteriorização da
cabeça, ocasionados pela sobrecarga do sistema musculoesquelético, estando de
acordo com o nosso estudo.
Contraposto aos
nossos achados, em sua pesquisa com alunos do centro de ensino médio da cidade
de Paranoá, Brasília/DF, foi encontrada uma predominância do padrão normal em
relação à coluna cervical nos alunos avaliados [17]. Santos et al. [13], em seu estudo, também sobre alterações posturais em
escolares do ensino público fundamental de Jaguariúna/SP, encontraram 11,7% dos
alunos com anteriorização cervical.
Martelli e Treaber [5], também citam a proporção significativa de hipercifose (11,0%) associada à anteriorização
da cabeça entre os indivíduos, embora inferior aos valores encontrados em
Catanduva/SP por Kavalco [18], que constatou que
entre escolares de 6 a 17 anos dessa cidade, 20,9% apresentavam hipercifose e 6,9% apresentavam hipercifose
associada à anteriorização de cabeça.
De acordo com nosso
estudo, Rego e Scartoni [19] também demonstraram em
sua pesquisa a presença de anteriorização da cabeça
em 11 avaliados, e no mesmo estudo relatam que 24% dos alunos apresentavam anteriorização da cabeça. Caracterizando-se desta forma o
reflexo da adoção de uma postura inadequada ao sentar, projeção da cabeça para
frente.
Figura
3 - Dados da prevalência de inclinação da cabeça
da amostra. Quixadá/CE, 2014.
A figura 3 mostra os
resultados encontrados entre as duas escolas em relação à inclinação cervical.
A instituição particular apresenta um maior número de alunos com inclinação
cervical, que em sua amostra geral apresentou 42,5% de inclinação cervical e
7,5% apresentaram-se normais, esse valor se refere a ambos os lados. O lado
mais prevalente foi o lado esquerdo com 25% e o lado menos prevalente o direito
com 17,5% dos casos. Já o colégio da rede municipal apresentou-se com menos
casos de inclinação cervical. Sua amostra geral foi que 37,5% dos indivíduos
avaliados apresentaram inclinação e 12% apresentavam-se normais, o lado
prevalente foi o lado direito com 22,5% e o menos prevalente o lado esquerdo
com 15%. Com isso pode-se ver que a instituição da rede privada apresenta mais
casos de inclinação cervical que a instituição da rede pública.
Constatou-se na
amostra geral, analisando tanto a instituição da rede privada como a da rede
pública, um alto índice de inclinação cervical. 80% dos indivíduos que
participaram da avaliação apresentaram inclinação para ambos os lados e apenas
20% apresentam-se sem inclinação cervical.
Contraposto ao nosso
estudo, outro estudo realizado com crianças do ensino fundamental do 5º a 6º
ano mostra que os indivíduos avaliados apresentaram 100% de normalidade da
coluna cervical [19]. Já Fernandes et al. [20] dizem
que o uso inadequado de mochilas e a forma de sentar-se, durante o período
escolar, pode levar a várias alterações posturais, inclusive aquelas relacionadas
à coluna vertebral e dentre essas alterações a inclinação cervical esta
incluída de forma prevalente em crianças em idade escolar.
Santos et al. [13] evidenciam em seu trabalho a
inclinação cervical sendo a alteração que menos se repetiu em sua avaliação com
247 crianças de ambos os sexos, que foram divididas em 5 grupos por faixa
etária. No total apenas 38 crianças apresentaram inclinação cervical,
representando apenas 15,4% da amostra geral.
Folle et al. [21] dizem que a maioria dos escolares não apresenta desvios
corporais em relação à cabeça, ou seja, 70% possuem a cabeça alinhada. No
entanto, um percentual significativo de 30% dos alunos apresenta um
desequilíbrio corporal, seja inclinação à direita ou à esquerda, fato que não
deve ser desconsiderado.
Num estudo realizado
por Politano
[22], em uma escola estadual do
município de Cacoal/Rondônia, com 129 escolares de ambos
os sexos na faixa
etária de 11 a 15 anos, encontraram-se resultados semelhantes em
relação à
prevalência de escolares sem desequilíbrios no plano
frontal relativos à
avaliação da cabeça (89,2%), sendo, também,
entre estes adolescentes a
inclinação à direita (7%) superior à
inclinação à esquerda (3,8%), também
não
condizendo com nossos achados.
Da mesma forma,
realizaram um estudo com 205 estudantes de um centro de ensino médio da cidade
de Brasília/DF, com média de idade de 17 anos, identificando no plano anterior
que 96,5% dos alunos não apresentavam desvios na cabeça, 3% apresentavam-na
inclinada à esquerda e apenas 0,3% à direita [17].
Figura
4 - Dados da prevalência de elevação do ombro da
amostra. Quixadá/CE, 2014.
A figura 4 relaciona
o desnivelamento de ombro entre ambas às escolas. Como pode se observar, na
escola da rede privada, que dos alunos avaliados, 32,5% apresentaram o ombro
elevado para o lado esquerdo e 15% para o lado direito, e apenas 2,5%
apresentaram-se normais. Na amostra geral entre o colégio particular houve um
índice de desnivelamento de ombro de 47,5% contra 2.5% normais. Na escola da
rede municipal observou-se que dos alunos que participaram da avaliação, 40%
apresentaram o ombro elevado para o lado esquerdo, e 7,5% apresentaram o ombro
elevado para o lado direito com apenas 2,5% apresentando-se normais.
Diante da amostra
geral da escola da rede municipal 47,5% apresentaram desnivelamento de ombro,
contra 2,5% normais. Com isso pode-se observar em um comparativo entre as duas
escolas, que o número de desnivelamento de ombros encontrado entre as duas escolas
foi igual, tanto na escola da rede privada como na escola da rede municipal
encontrou-se um alto índice para o lado esquerdo, no entanto os alunos da
escola da rede municipal apresentaram mais caso para o lado esquerdo.
Analisando toda a amostra entre os alunos de ambas as instituições, pode-se
identificar um alto índice de desnivelamento de ombro, 95% dos alunos
participantes da pesquisa apresentaram desnivelamento de ombro para ambos os
lados e apenas 5% não apresentaram.
Rego e Scartoni [19], em seu trabalho com 46 crianças de ambos os
sexos do 5º ao 6º do ensino fundamental sobre alterações posturais encontraram
em 12,8% dos avaliados desnivelamento de ombros. Com relação ao desalinhamento
de ombros, no plano frontal, Penha et al. [3] dizem
estar relacionado ao lado dominante do participante. O ombro mais baixo
corresponde ao lado dominante; o ombro direito é frequentemente mais baixo do
que o lado esquerdo indo de acordo com nossos achados, pois o lado esquerdo foi
o que se encontrou mais elevado e em predominância.
Pinto e Lopes [17],
numa análise dos resultados de alterações posturais em alunos do centro de
ensino médio de Paranoá, mostraram em relação ao ombro, predominância do padrão
normal, contudo na comparação entre sexo, observou-se que 37,9% do sexo
masculino apresentaram ombros elevados em relação ao sexo feminino. Penha et al. [3] encontraram em seu estudo
realizado apenas com meninas com idades de 7 a 10 anos entre varias alterações
posturais desnivelamento do ombro, porém com um índice muito baixo.
Detsch et al. [8] em estudo de caráter epidemiológico, realizado apenas com
meninas da cidade de São Leopoldo do Sul no estado do Rio Grande do Sul,
observaram alterações posturais em estudantes de escolas públicas e encontraram
maior prevalência de alterações quando comparadas com os estudantes de escolas
privadas. Verificou-se uma prevalência de desvios posturais e patologias da
coluna vertebral em todos os casos analisados tendo uma frequência maior quando
os segmentos corporais selecionados foram escápulas, triângulo de Tales e
ombros.
Santos et al. [13], em uma análise da frequência
dos desvios posturais pelo número total de alunos, independentemente da idade,
observaram que 50,2% dos alunos apresentaram desnível de ombro, e no mesmo
estudo puderam observar que, de acordo com a faixa etária, evidenciou-se que
alterações como desnível e protrusão de ombro, estiveram presentes em todos os
grupos etários, com frequência acima de 20% de acordo com nossos achados.
Figura
5 - Dados da prevalência de elevação pélvica da
amostra. Quixadá/CE, 2014.
De acordo com a
figura 5, pode-se observar o índice de elevação pélvica. Na escola da rede
privada temos 30% de sua amostra com elevação de EIAS direita, 15% EIAS
esquerda e 5% apresentando-se normais, totalizando 45% de alterações pélvicas.
Já na rede de ensino municipal observou-se que 30% de
sua amostra apresentava elevação da EIAS esquerda e 15% da EIAS direita e
apenas 5% normais, totalizando também em sua amostra 45% de alterações
pélvicas.
Com isso analisando
comparativamente as instituições pode-se ver que foi o mesmo percentual de
alunos acometido entre as duas escolas tendo apenas a diferença de lado, pois
na escola de rede privada prevaleceu a elevação da
EIAS direita, e na escola de rede municipal prevaleceu mais o lado esquerdo,
com isso pode-se dizer que não há diferença de alterações pélvicas entre as
escolas, visto que totalizando as alterações de toda a amostra apresenta um
alto índice de alterações pélvicas com 90% do percentual de toda amostra com
apenas 10% se apresentando normais.
Indo de encontro a
nossos achados, em relação às alterações compensatórias, mecanismos
biomecânicos para manter a linha de gravidade no centro do corpo e promover um
menor gasto energético, a inclinação pélvica foi observada em 21,5% dos alunos.
A diferença no comprimento do membro inferior, a alteração unilateral da fáscia
plantar, a contratura na musculatura adutora ou abdutora podem ser fatores
desencadeantes desse mecanismo compensatório [13].
Na pesquisa em uma
instituição de ensino médio de Paranoá com crianças, foi observado que no
quadril 61,5% apresentaram desequilíbrio, destes, 60,0% apresentaram quadril
inclinado, sem predomínio de sexo corroborando nossos achados [17].
Sobre as simetrias da
pelve, foi convencionado que se os ângulos entre os lados direito e esquerdo
fossem iguais, a obliquidade sagital de pelve seria simétrica e caso os ângulos
entre os lados fossem diferentes, a obliquidade pélvica seria assimétrica [8]. Bienfait reforça dizendo que os exames estáticos pélvicos
através da análise subjetiva da postura ou de medidas angulares da pelve
demonstram as alterações do equilíbrio pélvico, estando sempre o equilíbrio
associado a alterações na coluna lombar, uma anteversão
com uma postura lordótica e uma retroversão com uma
postura cifótica, uma situação equilibrando a outra [11].
Por outro lado, o
estudo descritivo de alterações posturais em crianças com idade entre 10 e 16
de Martelli e Traebert [5]
mostrou resultados inferiores aos encontrados em nosso estudo, dentre outras
alterações, a inclinação pélvica foi a menos encontrada. Bankoff
et al. [6] afirmam que em seu estudo sobre
postura corporal em crianças foi encontrada uma assimetria pélvica que estava
relacionada ao peso e à altura dos indivíduos participantes.
Figura
6 - Dados da prevalência de anteversão
e retroversão pélvica da amostra. Quixadá/CE, 2014.
No gráfico 6, foram encontrados os seguintes resultados, na escola da
rede privada de ensino observou-se um alto índice de anteversão
22,5%, e retroversão 7,5%, e 20% dos indivíduos analisados apresentavam-se
normais. Na escola pertencente à rede municipal de ensino observa-se um índice
muito pequeno de alterações pélvicas, com 12,5% de anteversão,
7,5% de retroversão, e com 30% de normalidade.
Comparou-se então
quem entre as duas escolas, os alunos da escola particular apresentam um maior
número de alterações pélvicas, do que os alunos da rede municipal, apontando
apenas uma igualdade no percentual de retroversão. Visualizando toda a amostra
comprovou-se um alto percentual de alterações pélvicas no plano sagital, com
50% de alterações tanto em anteversão como em
retroversão.
Poucos estudos foram
feitos para determinar cuidadosamente o ângulo lordótico
normal, ma acreditasse que o ângulo em que a pelve se
encontra normal é de 12° a 15° graus [23]. Quando o mesmo apresenta valor
superior a 15° passa a ser considerado como anteversão
e inferior a 12° como retroversão. Com isso afirma que para desenvolver hipolordose, precisa-se de um ângulo inferior a 23° e para
uma hiperlordose um ângulo superior a 68°.
Um estudo realizado
por Penha et al. [3], avaliou 132 sujeitos do sexo
feminino com idade entre 7 e 10 e encontraram os seguintes desvios, anteversão pélvica, hiperlordose lombar.
Nos achados de Martelli e Traebert
[5], a hiperlordose foi à alteração mais prevalente
(20,3%) corroborando também o estudo anteriormente citado.
Na cidade de Marília,
São Paulo, a prevalência de alteração do tipo hiperlordose
foi de 35,1% também entre escolares de acordo com o estudo de Marrele [24]. Em outro estudo realizado por Kavalco [18], com escolares de 7 a 12 anos em uma escola
pública de São Paulo, constatou-se a prevalência de hiperlordose
lombar de 73,8% .
Outro estudo de Resende
& Sanches [25] também apresentou um percentual alto de hiperlordose
lombar enquanto que Rosa Neto [26] apresentou um percentual mais baixo de
avaliados com o desvio lombar. Em nosso estudo, verificou-se que a prevalência
de crianças com desvios lombares foi relativamente alta para ambas
escolas, a de maior prevalência foi na escola particular.
Os exames estáticos
pélvicos através da análise subjetiva da postura ou de medidas angulares da
pelve demonstram alterações do equilíbrio pélvico, estando sempre esse
equilíbrio associado a alterações na coluna lombar, uma anteversão
com uma postura lordótica e uma retroversão com uma
postura cifótica, uma situação equilibrando a outra [11].
Knoplich [15] conclui que
este é mais um motivo para servir de alerta a todos sobre a importância da
prevenção e tratamentos precoces dos desvios posturais, evitando que crianças
se tornem adultos portadores de problemas na coluna vertebral.
Figura
7 - Dados da prevalência de hipercifose
da amostra. Quixadá/CE, 2014.
Observou-se, como
exposto na figura 7, o percentual de hipercifose
encontrado nas escolas. Pode-se ver que na escola da rede privada obteve-se 20%
de hipercifose e 30% de normalidade entre os alunos
que participaram da pesquisa. Obtendo assim um maior número de indivíduos
normais em relação a indivíduos com hipercifose. Na
escola da rede municipal o índice de hipercifose em
relação ao colégio particular foi bem maior, com 32,5% de hipercifose,
e apenas 17,5% normalidade. Tendo em vista toda amostra, constata-se um
percentual relevante de hipercifose de 52,5% de
alterações, com apenas 47,5% de normalidade.
Desth et al. [8], em seu estudo realizado com crianças de novo Hamburgo
observou em relação à coluna vertebral, apenas 29,22% das meninas avaliadas
apresentaram a coluna vertebral sem nenhum desvio enquanto que 70,78%
apresentaram alguma alteração postural da coluna vertebral.
Outro estudo
encontrou a hipercifose em meninas de 7 a 10 anos,
como uma das principais alterações dentre outras [3]. Diante do estudo de Rasch e Burke [27], dos 83 casos com escápula alada, 41
apresentam hipercifose. Segundo um raciocínio análogo
aos relatos dos autores acima citados, esses achados indicam que os 42
adolescentes restantes que não apresentam hipercifose
provavelmente irão desenvolver com o passar do tempo.
O estudo de Bertolini
e Gomes [28] mostra que no sexo feminino a hipercifose
esteve presente em 44 casos (58%) e no sexo masculino em 32 casos (42%),
havendo diferenças significativas em relação ao sexo. No mesmo estudo foi
observado predomínio de hipercifose em adolescentes
com sinais de puberdade (75%) estando semelhante à pesquisa.
Em estudo envolvendo
escolares de 6 a 17 anos de idade, a hipercifose
estava presente em 20,9%, com predominância no sexo masculino. Outro estudo
realizado pelos mesmos autores também com escolares mostrou que 84,9% das
crianças de 7 a 14 anos apresentavam e hipercifose
dorsal [5]. Em outro estudo mais recente, viram que a prevalência de alterações
posturais encontrada foi 28,2%. As duas alterações mais prevalentes foram a hiperlordose com 20,3% e hipercifose
com 11,0%. Outros tipos de alterações posturais foram menos frequentes [13].
Arruda e Simões [29]
relatam que, através de metodologia quantitativa, nos escolares obesos foi
observada hipercifose em 40% dos casos e 32% no grupo
não obeso. Os resultados destes estudos citados estão de acordo com nossos
resultados em que se observou que os escolares obesos mostraram valores mais
acentuados, da curvatura torácica.
Figura
8 - Dados da prevalência de alterações
escapulares da amostra. Quixadá/CE, 2014.
Diante da figura 8, pode-se observar as alterações relacionadas à cintura
escapular que são encontradas com mais frequência nas instituições
participantes da pesquisa. Na escola da rede privada foram encontradas as
seguintes alterações: 25% dos indivíduos avaliados apresentavam-se normais,
7,5% tinham escápulas aduzidas, 7,5% escápulas aladas e 10% escápulas rodadas em
ambos os lados. E na escola da rede municipal observou-se que 20% dos
indivíduos avaliados apresentavam-se normais, 5% apresentavam escápulas
abduzidas, 7,5% escápulas aduzidas, 5% escápulas aladas e 12,5% escápulas
rodadas. Tendo em vista esses dados, observou-se, de
forma comparativa, que houve uma diferença significativa entre as duas
instituições. Na escola de rede pública houve um maior percentual de alterações
escapulares, e apresentado uma alteração que não houve na escola da rede
privada, sendo ela escápulas abduzidas. Desta forma, pode-se concluir que a
escola da rede municipal tem um alto índice de alterações escapulares. Com
isso, observando-se toda a amostra verificou-se que 45% de todos os indivíduos
apresentavam-se normais, 15% apresentam escápula aduzidas, 12,5% escápula
aladas, 22,5% escápula rodadas para ambos os lados e 5% escápula abduzidas, que
se apresentou apenas na escola municipal.
Rasch e Burke [27]
escrevem que a abdução da escápula, como defeito postural, resulta, quase sempre,
de um trabalho prolongado com os braços mantidos na frente do tronco. Quando se
escreve, quando se segura um livro em posição para ler e em inúmeras outras
ocupações, os braços e os ombros se mantêm para frente com a contração do
músculo serrátil e dos músculos peitoral maior e
menor, enquanto que os músculos trapézio, romboide e elevador da escápula estão
relaxados permitindo que a escápula se mova para frente. Entretanto, uma
deformidade favorece a instalação da outra e é muito frequente que ambas apareçam
juntas como um desequilíbrio em conjunto.
Reforçando nossos
achados, Desth et al. [8]
observam em relação às escápulas que, em todas as faixas etárias, houve grande
incidência de abdução escapular, totalizando 80,51% das meninas com escápulas
abduzidas.
A
avaliação postural realizada em 247 escolares, 131 masculinos e 116 femininos,
identificou
várias incidências de alterações, dentre elas a escápula alada com 40,5% do
percentual de toda a amostra, que também se mostrou relevante em relação a
nossos achados [13]. Porém, nossa incidência foi menor do que a do estudo
realizado por Ferronato et al. [30] no qual a
alteração esteve presente em 100% dos alunos avaliados com idade entre sete e
14 anos. Contudo, os resultados deste estudo foram próximos aos de Penha et al. [3], que identificaram a mesma alteração em 64,7% de
meninas de sete a dez anos de idade. Desth et al. [8] realizaram em Novo Hamburgo um estudo em que a
presença de escápula alada incidiu em 80,5% da amostra de 154 alunas entre 7 e
17 anos.
O estudo apresentado
mostrou resultados que demonstram a saúde deficiente da coluna vertebral em
escolares, com a identificação de várias alterações posturais, sendo mais
prevalente na instituição da rede municipal de Quixadá/CE, sendo elas: hipercifose, alterações pélvicas, alterações escapulares,
inclinação cervical, inclinação do ombro e anteriorização
cervical.
Entretanto, os alunos
da instituição da rede privada apresentaram as mesmas alterações, sendo em um
menor índice. Observou-se, assim, que o fator socioeconômico das instituições e
dos alunos que as compõe podem provocar futuras alterações posturais, devido às
mobílias e forma de transporte de materiais serem inadequados.
Com isso é de
fundamental importância à presença de um fisioterapeuta no ambiente escolar,
onde se é possível intervir para impedir a evolução dessas alterações e a
fixação dos desvios, tendo como objetivo de trabalho aspectos preventivos e
educacionais, possibilitando uma instalação de hábitos favoráveis e mudanças em
hábitos inadequados.