ARTIGO
ORIGINAL
Os
efeitos preliminares de 20 sessões de Mat Pilates sobre a força respiratória em adultos jovens
The preliminary effects of 20 Mat Pilates sessions on respiratory
strength in young adults
Érica Jacira de
Araújo Silva*, Bruno Rafael Vieira Souza Silva**, Yumie
Okuyama da Silva Gauto***
*Centro
Universitário Tabosa de Almeida – ASCES-UNITA,
Caruaru/PE, Grupo de Pesquisas em Saúde Pública - GPESP/ASCES, **Universidade
de Pernambuco (UPE), Recife/PE, ***Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Recife/PE, Centro Universitário Tabosa de Almeida–
ASCES-UNITA, Caruaru/PE
Recebido em 29 de
agosto de 2017; aceito em 31 de julho de 2018.
Endereço
de correspondência:
Erica Jacira de Araújo Silva, Avenida Portugal, 584, Bairro Universitário,
55016-400 Caruaru PE, E-mail: ericajacira@gmail.com; Bruno Rafael Vieira Souza
Silva: brunorafael45@hotmail.com; Yumie Okuyama da Silva Gauto: yumieokuyama@asces.edu.br
Resumo
Objetivo: Avaliar a força
respiratória de participantes de um projeto de extensão de Pilates
Mat do Centro Universitário ASCES-UNITA. Material e métodos: Participaram do
estudo 4 mulheres e um homem sedentários com idade
média 29,2 ± 7,89 anos, inscritos no projeto de extensão praticando Pilates (PROEXP-PILATES) na ASCES-UNITA. Um equipamento
conhecido como Manovacuômetro M120 com intervalo
operacional de ± 120 cmH2O foi utilizado
para a mensuração da pressão inspiratória máxima (PImáx)
e pressão expiratória máxima (PEmáx). Foram
realizadas três manobras tecnicamente satisfatórias de
inspiração e expiração máximas com cada participante e foi considerado o
maior valor. As medidas foram obtidas antes e depois de 20 sessões de Pilates Mat. Cada sessão de Pilates
Mat teve duração de 50 minutos, 2
vezes na semana durante 10 semanas. Resultados:
Os valores médios obtidos foram para PImáx
88,0 ± 29,7 cmH2O e 102,0 ± 16,04 cmH2O e para PE máx 56,0 ± 25,1 cmH2O e 79,0 ± 37,48,
respectivamente antes e depois da intervenção com o Pilates
Mat. Houve diferença significativa para PEmáx (p <
0,05), entretanto não foi encontrada diferença para PImáx.
Conclusão: Conclui-se que as 20
sessões do Mat Pilates
proporcionaram aumento significativo da pressão expiratória máxima em adultos
jovens. Assim, o Mat Pilates
é uma das práticas recomendadas para melhoria do fortalecimento dos músculos
expiratórios.
Palavras-chave: respiração,
técnicas de exercício e de movimento, adulto jovem.
Abstract
Objective: To evaluate
the respiratory strength of participants of an extension project of mat Pilates
ASCES-UNITA. Methods: The study
included four women and a sedentary man with mean age 29.2 ± 7.89 years,
enrolled in the extension project practicing Pilates (PROEXP-PILATES) in
ASCES-UNITA. A device known as a manometer M120 with operating range of ±
120cmH2O was used for the measurement of maximal inspiratory
pressure (MIP) and maximal expiratory pressure (MEP). Three technically
satisfactory maneuvers of inspiration and maximum expiration with each
participant were performed and the highest record value was considered. The
measurements were taken before and after 20 Pilates Mat sessions. Each Mat
Pilates session lasted 50 minutes, 2 times a week for 10 weeks. Results: The mean values obtained were
for MIP 88.0 ± 29.7 cmH2O and 102.0 ± 16.04 cmH2O and MEP
56.0 ± 25.1 cmH2O and 79.0 ± 37.48 respectively before and after the
intervention with the Pilates mat. There was a significant difference for MEP
(p <0.05), however, it was not found difference to MIP. Conclusion: We concluded that the 20 Pilates Mat sessions provided
significant increase in maximal expiratory pressure in young adults so the
Pilates Mat is one of the best practices for improving the strength of the
expiratory muscles.
Key-words: respiration,
exercise movement techniques, young adult.
Os exercícios de Pilates consistem em uma série de movimentos que visam à
harmonia corporal, por meio do equilíbrio e fortalecimento muscular. Esses
exercícios são utilizados tanto em programas de condicionamento físico quanto
em programas de reabilitação física. Os exercícios podem ser realizados em
aparelhos ou no solo. Quando realizados nos aparelhos, conhecidos como estúdio Pilates, têm como principal
característica o uso de resistência elástica. No solo, chamado de Mat Pilates requer principalmente
do trabalho do próprio peso corporal, também podem ser utilizados acessórios
como, por exemplo, bolas, faixas elásticas e magic circle utilizados para englobar e atrair
para essa prática. Ambos envolvem uma variedade de exercícios que são
orientados de perto e norteados por princípios tradicionais do método [1].
Wells et al. [2] revisaram sistematicamente a
definição dos exercícios de Pilates e concluíram que
uma maior ênfase pode ser colocada sobre a postura em pessoas com dor lombar,
enquanto os princípios tradicionais como a respiração pode ter menor
relevância. Em contrapartida, o criador do método, Joseph H. Pilates afirmou que antes de qualquer benefício que possa
ser alcançado com o uso do método a pessoa necessita “aprender
a respirar corretamente’’[3].
A respiração no
método Pilates é exigida de forma a dar ênfase nos
músculos expiatórios com o objetivo de aumentar a pressão intra-abdominal para
a estabilidade da coluna e pelve [4]. O diafragma é o músculo que divide o
tórax do abdômen, portanto a caixa torácica apresenta íntima relação com os
pulmões e o ciclo respiratório exigindo sincronismo entre o pulmão e a
musculatura, atuando de forma coordenada [5].
A base do trabalho de
Pilates está no fortalecimento do centro de força “Powerhouse”, expressão que denomina a circunferência do
tronco inferior, a estrutura que suporta e reforça o tronco, ajudando a
melhorar a postura, facilitando a realização de movimentos equilibrados,
afinando o controle motor das extremidades [4,6,7].
A força dos músculos
respiratórios pode ser diretamente medida usando as pressões estáticas
inspiratória e expiratória máximas (PImáx
e PEmáx, respectivamente) [8,9]. A PImáx reflete a força dos músculos
inspiratórios e do diafragma; enquanto que a PEmáx
representa a força dos músculos abdominais e expiratórios. Essas medidas são
realizadas através da manovacuometria – uma
mensuração simples e prática que tem um importante papel no diagnóstico e
prognóstico de desordens neuromusculares e pulmonares [9].
Diversos são os
estudos que reportam a debilidade dos músculos inspiratórios e expiratórios,
como, por exemplo, os pacientes com a doença de Parkinson e pneumonia
aspirativa tem diminuição da força dos músculos expiratórios [11]. A asma é uma
doença crônica comum em crianças e adultos jovens, os asmáticos podem ter
limitação do fluxo aéreo expiratório comprometendo a atividade dos músculos
inspiratórios no final da expiração [12]. O treinamento dos músculos inspiratórios
pode melhorar a dispneia [13] e a dor cervical crônica [14]. Diversas técnicas,
ligadas à fisioterapia respiratória, são utilizadas para o fortalecimento dos
músculos inspiratórios e expiratórios que aumentam a força e resistência do
diafragma e da musculatura acessória da respiração [15,16].
Dessa forma, os
exercícios de Pilates seriam uma forma alternativa
para fortalecimento dos músculos inspiratórios e expiratórios, de maneira
dinâmica, com exercícios diferenciados e princípios que enfatizam o
fortalecimento e controle dos músculos inspiratórios e expiratórios. Assim, o
objetivo deste estudo foi avaliar a força respiratória, com a utilização da manovacuometria, de participantes de um projeto de extensão
de Mat Pilates da faculdade
ASCES.
Trata-se de um estudo
piloto longitudinal e prospectivo que foi realizado no Centro Universitário Tabosa de Almeida– ASCES-UNITA junto ao laboratório de
avaliação física, academia escola e projeto de extensão praticando Pilates. Todos os participantes assinaram o termo de
consentimento livre e esclarecido antes da intervenção. O estudo foi aprovado
pelos comitês de ética em pesquisa do Centro Universitário Tabosa
de Almeida – ASCES-UNITA Plataforma Brasil CAAE: 44000615.8.0000.5203, número
do Parecer: 1.132.202 e teve início após sua aprovação.
Participantes
Doze mulheres e 2 homens sedentários participantes do projeto de extensão
praticando Pilates (PROEXP-PILATES) do Centro
Universitário ASCES-UNITA participaram do estudo. O projeto de extensão realiza
suas atividades com o Mat Pilates
desde 2013, atendendo os funcionários e comunidade local. A cada semestre são
oferecidos dois horários, um desses horários ficou disponível para a pesquisa.
As vagas foram organizadas conforme lista de espera. Os critérios de inclusão
foram adultos com idade entre 22 e 40 anos, sedentários e com disponibilidade
de participar do PROEXP-PILATES, e os critérios de exclusão foram o histórico
de doenças respiratórias e neurológicas que impedissem a prática dos exercícios
de Pilates. Apenas 5
concluíram toda a pesquisa, 4 mulheres e um homem com idade 29,2 ± 7,89 anos,
altura 1,62 ± 0,12 cm, massa corporal 59,14 ± 13,09 kg e IMC 22,12 ± 2,55
kg/m2. Acredita-se que a mudança de horário e local possa ter contribuído para
essa perda amostral.
Protocolo
de avaliação
Os participantes
realizaram 20 sessões de Mat Pilates
durante 10 semanas, duas vezes por semana, com duração de cada sessão de 50
minutos. Os exercícios realizados durante as sessões estão apresentados na
tabela I, conforme planejamento e organização do PROEXP-PILATES. Esses
exercícios foram incluídos gradualmente nas sessões conforme adaptação do
grupo.
Tabela
I – Lista de exercícios realizados no
PROEXP-PILATES.
As sessões foram
instruídas pelo coordenador do PROEXP-Pilates,
que
possui formação no método, e monitores que
são alunos de graduação em Educação
física e Fisioterapia. As atividades foram realizadas sobre um
tatame, sem uso
de calçados para um melhor contato com o solo. O programa de
atividades
apresenta exercícios respiratórios, posturais e
abdominais, além de exercícios
para o tronco, membros superiores e membros inferiores. Os
princípios consistem
na realização da respiração sempre
coordenada com o movimento. A expiração deve
ser forçada e a inspiração deve ser o mais natural
possível.
Antes e depois da
intervenção foram coletados os dados antropométricos e foram realizadas a
avaliação da força abdominal e a avaliação da pressão respiratória. Para a
avaliação da pressão respiratória foi utilizado um Manovacuômetro
M120 com intervalo operacional de +/- 120 cmH2O. Cada
esforço inspiratório ou expiratório foi realizado com um intervalo de 45
segundos a cada manobra, de acordo com o método descrito por Black e Hyatt (1969). Nos quais as voluntárias utilizarão clip
nasal e permanecerão na posição sentada com o tronco em ângulo de 90 graus com
a coxa. A PImáx foi
mensurada a partir do volume residual após uma expiração máxima, e a PEmáx foi mensurada a partir da capacidade pulmonar total
após uma inspiração máxima. As mesmas foram instruídas a manter a pressão por
pelo menos dois segundos, considerado-se
o maior valor para a análise. Cada voluntário executou 3esforços
de uma inspiração e expiração
máxima, considerados tecnicamente satisfatórios.
O maior valor obtido de todas as manobras realizadas foi o valor
registrado. As
pressões respiratórias máximas previstas foram
calculadas para cada voluntário,
por meio das seguintes equações propostas por Neder et
al.: PImax = -0,49 (idade) + 110,4 e PEmax = -0,61 (idade) + 115,6.
Foi utilizado o teste
t pareado para pré e pós-intervenção para comparação
das médias no software SPSS 18.0. E o nível de significância adotado foi de p =
0,05. Foi analisada a variação das repetições pelo coeficiente de variação.
A avaliação da força
respiratória é representada pela medida das pressões respiratórias máximas em
nível de boca. A tabela II apresenta os resultados de PImáx e PEmáx pré e pós-intervenção com o Mat Pilates. Ao compararmos as médias dos valores obtidos,
observa-se diferença significativa apenas para a PE máx
p < 0,05.
Ao analisarmos os
valores brutos, individualmente, com valores de PImáx e PEmáx com medidas
estimadas mostraram que alguns sujeitos encontraram-se dentro da normalidade e
outros com valores de PEmáx abaixo do normal
sugerindo fadiga do músculo respiratório [10]. Ainda, o declínio normal da
pressão respiratória máxima relacionado com a idade estima-se cerca de 10 cmH20 em ambos os sexos [10]. Para se obter
uma boa medida de PImáx e PEmáx
é importante avaliar a variabilidade das respostas, no presente estudo
solicitamos a realização de 3 manobras [9]. Dessa forma, os valores obtidos,
levando em considerando a graduação da qualidade dos testes de força como
indicadores de grau de confiança, encontram-se em
excelente esforço e reprodutibilidade e a diferença entre as medidas é < 5
cm H2O, conforme demonstrado nas tabelas III e IV pré e pós-intervenção.
Tabela
III
– Valores pré-intervenção
obtidos de pressão inspiratória e expiratória máxima (N = 5) nas três manobras
coletadas, média e desvio padrão.
Tabela
IV -
Valores pós-intervenção obtidos de
pressão inspiratória e expiratória máxima (N=5) nas três manobras coletadas,
média e desvio padrão.
Os achados do
presente estudo vão ao encontro de estudo semelhante [16] em ensaio clínico, o
qual avaliou a força respiratória de 7 idosas e
durante 11 semanas encontraram um aumento significativo na pressão expiratória
máxima 46 ± 18 para 75 ± 29 cm H2O.
O método Pilates tem ênfase no fortalecimento da parte central do
corpo, segundo Muscolino e Cipriani
[4], os músculos anterior e posterior do tronco, os anteriores são os músculos
do abdome e responsáveis pela força expiratória. Recentemente, tem se visto na
literatura que os exercícios de abdominal que são realizados com a expiração
lenta podem reduzir a atividade elétrica do músculo esterno cleiomastoideo
e aumentar a dos músculos abdominais [18], assim como a técnica da respiração
pode aumentar a atividade elétrica dos músculos profundos da região abdominal
[19]. Isso pode justificar a o aumento significativo das pressões expiratórias
máximas e sugere a melhora da dor cervical crônica [13] devido aos princípios
preconizados no método Pilates. Embora não se tenha
observado a melhora significativa da força abdominal e nas pressões
inspiratórias máximas, pode-se observar uma melhora qualitativa.
É importante
salientar que há carência de estudos que relacionem o método Pilates com a força da musculatura respiratória. Um
protocolo de estudo foi recentemente publicado relacionando a eficácia de
terapia física convencional e o Pilates na força
muscular respiratória em paciente com problemas renais [9]. O protocolo
apresenta exercícios do Mat Pilates,
similares aos que foram utilizados na intervenção, uma amostra de 56 pacientes,
sessões de Mat Pilates de
30 minutos, uma vez por semana e uma reavaliação após completar 10 sessões.
Apesar dos resultados
favoráveis para a força expiratória máxima em adultos, o número de
participantes do estudo não é significativo para afirmar que os exercícios do Mat Pilates são indicados para
aumentar a força respiratória. O pequeno número de participantes pode facilmente
ter tido uma interferência de uma pessoa com debilidade inspiratória. A
consequência deste fato é que a análise estatística não deve ter encontrado uma
diferença existente na força inspiratória (na estatística é conhecido como
erro do tipo II). Portanto, a recomendação é que estudos futuros devam usar um
maior número de sujeitos indicado pelo cálculo amostral.
É importante
ressaltar que a pesquisa foi vinculada com um projeto de extensão existente na
instituição, o cronograma da pesquisa foi adequado ao projeto de extensão
justificando o protocolo de avaliação e, também se precisa promover entre
alunos do projeto, acadêmicos e docentes a indissociabilidade
entre ensino, pesquisa e extensão [20].
Sugere-se que novos
estudos sejam pensados com amostras maiores estratificados por sexo, grupo
controle, análise residual das variáveis ao longo do tempo e variação nos
métodos de intervenção aproveitando outros projetos de extensão da instituição
como, por exemplo, escolinha de futebol, aulas de natação, academia escola e
clínica escola. Frente ao exposto, vinte sessões de Mat
Pilates proporcionaram aumento significativo na
pressão expiratória máxima em adultos jovens, sendo uma opção alternativa para
o fortalecimento dos músculos responsáveis da expiração.