ARTIGO
ORIGINAL
Efeitos
da intervenção motora com tarefa dupla na cognição e presença de depressão em
idosos residentes em instituição de longa permanência
Effects of motor intervention with dual task in cognition and the
presence of depression in elderly living in long-stay institutions
Rafaela Sartóri,
Ft.*, Carolina Medeiros de Souza, Ft.*, Fabiano Moura Dias, Ft., M.Sc.**, Alessandra Paiva de Castro Vidal, Ft., D.Sc.***,
Fernanda Moura Vargas Dias, Ft., D.Sc.**
*Aluna
de iniciação científica do curso de Fisioterapia da UFES, bolsista PIBIC UFES,
**Professor do curso de Fisioterapia da Universidade de Vila Velha - UVV,
***Professora adjunta do curso de Fisioterapia da UFES
Recebido em 14 de
setembro de 2015; aceito em 16 de setembro de 2016.
Endereço
para correspondência:
Fernanda Moura Vargas Dias, Rua Luiz Fraga, 70, Maruípe 29043-180 Vitória ES,
E-mail: fernandamvargas@yahoo.com.br; Rafaela Sartóri: rafaela.sartori@hotmail.com;
Carolina Medeiros de Souza: cah_moraess@hotmail.com; Fabiano Moura Dias:
fabianomdias@yahoo.com.br; Alessandra Paiva de Castro Vidal: alessandrapaiva2@yahoo.com.br
Resumo
Introdução: Existe uma escassez
de programas sociais e de saúde voltados para a manutenção do idoso dependente,
o que leva ao aumento do número de idosos institucionalizados e a um quadro
precoce de demência e/ou depressão. Objetivo:
Avaliar os efeitos da intervenção motora com tarefa dupla na cognição e presença
de depressão nos idosos deste estudo e a aplicabilidade dos instrumentos Mini
Exame do Estado Mental (MEEM) e Avaliação Cognitiva Montreal (MoCA) na detecção de alterações cognitivas. Material e métodos: Foi realizado um
estudo experimental com 33 idosos: 14 idosos realizaram os exercícios com
tarefa dupla por 5 semanas e foram chamados grupo
intervenção (GI); 19 idosos não participaram da intervenção e foram chamados
grupo controle (GC). Os grupos foram avaliados pelo: MEEM, MoCA
e Escala de Depressão Geriátrica (EDG). Resultados:
Não houve diferença significante na função cognitiva dos idosos após a
intervenção em nenhum dos dois grupos estudados. O GC apresentou na EDG escore
acima de 5, indicando depressão. Foi constatada uma
forte correlação entre a MoCA e o MEEM. Conclusão: A intervenção
fisioterapêutica com tarefa dupla, durante 5 semanas,
não foi suficiente para melhora cognitiva. O fato da presença de depressão no
GC pode estar relacionada ao nível de atividade e
socialização desse idoso. O MoCa mostrou-se um
instrumento capaz de detectar comprometimento cognitivo leve, enquanto o MEEM
foi um instrumento de mais fácil aplicação.
Palavras-chave: idoso, instituição
de longa permanência para idosos, fisioterapia, cognição.
Abstract
Introduction: There is a shortage of social and health programs for the maintenance
of dependent elderly, which leads to an increase in the number of
institutionalized elderly and an early disorder of dementia and/or depression. Objective: To evaluate the effects of
motor intervention with dual task in cognition and the presence of depression
in the elderly of this study and the applicability of the instruments Mini
Mental State Examination (MMSE) and Montreal Cognitive Assessment (MoCA) in detecting cognitive impairment. Methods: We conducted an experimental
study of 33 elderly, 14 elderly performed the exercises with double duty for 5
weeks and were called the intervention group (GI); 19 elderly did not
participate in the intervention and were called control group (CG). The groups
were evaluated by: MMSE, MoCA and Geriatric
Depression Scale (GDS). Results:
There was no significant difference in cognitive function of the elderly after
the intervention in any of the two groups. The CG presented in EDG score above
5 indicating depression. A strong correlation was found between the MoCA and the MMSE. Conclusion:
Physical therapy intervention with double duty for 5 weeks was not enough to
cognitive improvement. The fact of the presence of depression in the GC may be
related to the level of activity and socialization of that old. MoCA proved to be an instrument able to detect mild
cognitive impairment, while the MMSE was an instrument easier to apply.
Key-words: aged, homes
for the aged, physical therapy, cognition.
Com a atual transição
demográfica brasileira, é possível notar um aumento da população idosa
juntamente à maior incidência de déficits cognitivos e depressão [1]. Segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS) a população idosa crescerá de tal forma, que
o Brasil futuramente será o sexto do mundo, tendo cerca de 15 milhões de
pessoas com 60 anos ou mais no ano de 2020 [2].
Um estudo realizado
no Distrito Federal que avaliou a presença de depressão em 118 idosos de cinco
instituições de longa permanência (ILP) mostrou que a proporção de indivíduos
com depressão, bem como sua gravidade, aumenta de acordo com o aumento da
idade. A depressão severa, que corresponde a zero na
faixa etária entre 60-69 anos, aumentou para 14,3% entre indivíduos com 70-80
anos e para 19% entre os idosos acima de 80 anos. Houve uma maior prevalência
de mulheres com depressão de severa e leve [3].
No Brasil, a escassez
de programas sociais e de saúde voltados para a manutenção do idoso dependente,
além da ausência de membros que constituem a família ou pessoas disponíveis
para cuidar das pessoas mais velhas em situação de dependência, em muitos
casos, levam internação precoce em ILP. Marinho et al. [4] observaram que os idosos em ILP apresentavam pelo
menos algum grau de dependência para as Atividades de Vida Diária (AVD) e
apresentaram dificuldades para a higiene pessoal, o vestir-se e o banho, que
são as atividades de autocuidado mais comprometidas.
A institucionalização
do idoso deveria ser considerada como recurso derradeiro, visto que este
indivíduo fica isolado da sociedade e da família e inativo fisicamente,
predispondo-o a comorbidades psicológicas e cognitivas, além das próprias
alterações provenientes do processo de envelhecimento o que pode levar à
incapacidade motora e desautonomia [5]. Nesse sentido, a avaliação cognitiva é
fundamental para a identificação de indivíduos que possivelmente evoluirão para
quadros demenciais. A identificação precoce pode propiciar maior qualidade de
vida ou desaceleração do declínio cognitivo leve para a síndrome demencial
através de intervenções terapêuticas [6]. O Mini Exame do Estado Mental (MEEM)
e a Avaliação Cognitiva Montreal (Moca) são instrumentos muito utilizados para
avaliar o comprometimento cognitivo. Estudos mostram que a MoCA
é um teste com maior sensibilidade e especificidade em diferenciar o
Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) dos casos de doença de Alzheimer (DA) e de
idosos normais, quando comparado ao MEEM [7,8].
A Tarefa Dupla pode
ser uma opção de tratamento para prevenir ou retardar essas alterações e
incapacidades. Dupla Tarefa consiste na execução de duas tarefas concomitantes,
a tarefa motora associada ao estímulo cognitivo [9]. Um estudo realizado por
Bueno et al. com 9 indivíduos (> 50 anos) com diagnóstico
de doença de Parkinson (DP) teve como objetivo verificar a efetividade do
treinamento da dupla tarefa no sistema motor e cognitivo nesses indivíduos.
Estes autores observaram redução significante na progressão da doença em
relação ao tempo de execução das tarefas simples e das duplas tarefas, além do
comprometimento cognitivo (avaliado pela MoCA). A
terapia proposta foi efetiva, especialmente no que diz respeito aos desfechos
motores [10].
Expostas as lacunas
das pesquisas sobre o tema, estabeleceram-se as perguntas que nortearam a
pesquisa: 1) A Tarefa Dupla melhora a cognição nos idosos deste estudo? 2) Os idosos institucionalizados apresentavam depressão? 3) Há diferenças na aplicabilidade dos instrumentos MEEM e
MoCA na detecção de alterações cognitivas?
Desta forma, os
objetivos do presente estudo foram avaliar os efeitos da intervenção motora com
tarefa dupla na cognição e presença de depressão em idosos residentes em
instituição de longa permanência, bem como avaliar a aplicabilidade do MEEM e
da MOCA na detecção de alterações cognitivas.
Foi realizado um
estudo experimental aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa - UFES: n°
848.307. Os critérios de inclusão da pesquisa foram os participantes
apresentarem idade igual ou superior a 60 anos e deambular sem auxílio. Foram
excluídos do estudo os idosos que apresentassem problemas visuais não
corrigidos, de fala ou audição que impossibilitassem a avaliação deste
indivíduo. A população era de 78 idosos residentes em uma instituição de longa
permanência para idosos em Vitória/ES, Brasil. Destes, apenas 31 enquadravam-se
dentro dos critérios de inclusão. Os idosos que participaram do estudo ou os
seus representantes legais, assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
Os idosos responderam
previamente uma Anamnese, nesta foram incluídas perguntas como (identificação, queixa principal, comorbidades, antecedentes pessoais,
hábitos de vida e medicamentos em uso). Os indivíduos foram avaliados quanto à
função cognitiva antes e após o protocolo de intervenção fisioterapêutica
através do MEEM e a MoCA. O MEEM mostrou-se um
instrumento de identificação de déficit cognitivo de boa confiabilidade, possui
pontuação máxima de 30 pontos, onde ≤ 24 pontos indica déficit cognitivo [11,12].
A MoCA foi desenvolvida como um instrumento de breve
de rastreio para deficiência cognitiva leve. O mesmo acessa diferentes domínios
cognitivos como atenção e concentração, funções executivas, memória, linguagem,
habilidades viso-construtivas, conceituação, cálculo e orientação. O teste
totaliza 30 pontos, no qual a pontuação ≤ 26 indica comprometimento cognitivo
[13]. Para avaliação de sintoma depressivo foi aplicada a Escala de depressão
geriátrica (EDG) que possui apenas 15 itens (EDG-15). É uma versão curta da
escala original que foi elaborada por Sheikh e Yesavage [14], a partir dos
itens, a pontuação ≥ 5 pode indicar depressão. A
escala mostra boa sensibilidade e confiabilidade na detecção de sintomas
depressivos [15].
A intervenção
fisioterapêutica teve duração de 5 semanas, realizada
de janeiro a fevereiro de 2015. As atividades foram realizadas três vezes por
semana, em dias não consecutivos. Cada sessão com duração total de 60 minutos.
O protocolo de
exercícios com tarefa dupla foi composto de 15 sessões. A primeira sessão
consistiu em:
1. Aquecimento com
duração de 5 minutos sendo realizada movimentação ativa das principais
articulações do corpo (músculos cervicais, articulação do ombro, articulação do
cotovelo, articulação do punho, articulação coxofemoral, articulação do joelho,
articulação do tornozelo e caminhada);
2 e 3. Resistência
aeróbica e capacidades coordenativas (agilidade), duração de 15 minutos;
Exemplo: Formando duplas, cada um sobre uma das linhas laterais do pátio,
frente a frente, ao comando do professor realizar corrida até o centro da
quadra encontrando-se com o colega e executar um movimento pré-determinado, e
voltar para o seu lado do pátio (ex.: saltar e bater as mãos, agachar, girar de
braços dados com o colega, bater mãos embaixo das pernas, etc.);
4. Treinamento de
resistência de força, com duração de 15 minutos (Flexores e extensores de
cotovelo, extensores de joelho, glúteos e flexores plantar);
5. Flexibilidade,
duração de 10 minutos com alongamento da musculatura envolvida nas articulações
(coxofemoral, joelho, tornozelo, ombro, cotovelo);
6. Relaxamento,
duração de 5 minutos. Exemplo: idoso sentado em uma cadeira, mantendo ombros e
coluna alinhados, coloca as mãos sobre a parte inferior da caixa torácica,
sentindo a movimentação de toda a musculatura envolvida na respiração.
As demais sessões só
diferem da primeira ao tipo de atividade desenvolvida para a resistência
aeróbica e capacidades coordenativas e dos grupos musculares trabalhados na
resistência de força e flexibilidade (ex.: extensores de joelho, dorsais e
abdutores de ombro).
Durante toda a
atividade física foram realizados estímulos cognitivos (tarefa dupla), como
contagem regressiva, alternância de exercícios, memorização/reconhecimento de
palavras, cores e números.
Os dados mensurados a
partir da anamnese foram tabulados em Excel 2003 e demonstrados em frequência
relativa e absoluta. Foram realizadas correlações e teste de
diferença entre as médias. O teste de Shapiro-Wilk foi utilizado para
comprovar a distribuição normal entre os grupos e o teste de t Student pareado
foi utilizado antes e após a intervenção fisioterapêutica, além da correlação
de Pearson para os instrumentos MEEM, MoCA e EDG. A
estatística foi realizada através do programa GRAPH PAD PRISM 5. Os resultados foram considerados significantes para P
< 0,05.
Dos 78 idosos
residentes na ILP estudada (população do estudo), 2
foram excluídos porque faleceram e 2 foram excluídos
porque eram novos no asilo. Um total de 41 idosos foi excluído da amostra por:
serem acamados (19); não aceitarem participar da pesquisa (15); ou por não
aceitarem realizar todos os testes (7). Desta maneira, constituiu a amostra um
total de 33 idosos, destes, 14 que realizaram os exercícios fisioterapêuticos
por 5 semanas foram considerados grupo intervenção
(GI); e 19 idosos foram avaliados pelos testes cognitivos, mas não quiseram
participar da intervenção fisioterapêutica, sendo assim considerados grupo
controle (GC).
Não houve diferença
significante na média de idade dos integrantes do grupo controle (78 ± 2,4
anos) e do grupo intervenção (77 ± 8,02 anos) (Teste t não pareado, P >
0,05). O grupo intervenção apresentava-se com uma maior quantidade de homens
(71,42%) que o grupo controle (31,57%), demonstrando a maior aderência dos
homens à participação da pesquisa. Quanto à raça, o grupo intervenção teve
maior quantidade de pessoas pardas (50%) e o grupo controle maior quantidade de
pessoas brancas (47,3%). As pessoas da raça branca mostraram-se menos dispostas
a intervenção. Os viúvos tiveram maior participação na intervenção (57%),
enquanto os solteiros foram os que menos participaram (63,2%). Os idosos que
apresentavam ensino fundamental incompleto foram mais adeptos à intervenção
(64,5%). Por outro lado, os analfabetos mostraram menor aceitação (42,1%)
(Tabela I).
Tabela
I - Características dos idosos participantes da
pesquisa.
Resultados
demonstrados em Frequência absoluta (Frequência relativa%), Fa (Fr%), P <
0,05.
Na tabela II, o grupo
controle apresentou maior prevalência de trombose (5,3%), hipertensão (57,9%),
dispneia (26,3), alergia (21,1%), distúrbio de sono (42,1%), tabagismo (26,3%)
e etilismo (21,1%) em relação ao grupo intervenção.
Tabela
II -
Questões respondidas pelos idosos durante
anamnese.
Resultados
demonstrados em Frequência absoluta (Frequência relativa%), Fa (Fr%), P <
0,05.
Os idosos foram
avaliados através do MEEM antes (GI: 16,21 ± 1,80; GC: 12,68 ± 1,83) e após a
intervenção fisioterapêutica (GI: 16,79 ± 1,17; GC: 13,89 ± 1,88). Como é
possível observar na Figura 1, não houve diferença significante nos pontos
obtidos no MEEM após a intervenção fisioterapêutica em nenhum dos dois grupos
estudados (Teste t pareado, P> 0,05). A média dos pontos obtidos no MEEM em
ambos os grupos, antes e após intervenção, está abaixo de 24 pontos, o que
reflete o comprometimento, quando se compara com o escore de referência deste
instrumento.
Grupo controle (GC);
Grupo intervenção (GI). Teste t pareado, P > 0,05.
Figura
1 - Mini exame do estado mental (MEEM) em idosos
residentes em instituição de longa permanência.
Os idosos também
foram avaliados através da MoCA antes (GI: 9,43 ±
0,95; GC: 7,11 ± 1,34) e após (GI: 10,23 ± 1,42; GC: 7,47 ± 1,43) a intervenção
fisioterapêutica. Não houve diferença significante nos pontos obtidos na MoCA após a intervenção fisioterapêutica em nenhum dos dois
grupos estudados conforme observado na figura 2 (Teste t pareado, P > 0,05).
Quando comparados aos valores de referência da MoCA
(26 pontos), a média dos pontos obtidos no GI e no GC sugere grande
comprometimento cognitivo.
Grupo controle (GC);
Grupo intervenção (GI). Teste t pareado, P> 0,05.
Figura
2 - Avaliação cognitiva Montreal (MoCA) em idosos residentes em instituição de longa
permanência.
Na Figura 3
observa-se que não houve diferença estatisticamente significante nos pontos
obtidos na EDG quando foram comparados os GC (7,11 ± 0,86) e GI (4,92 ± 1,03).
Porém, quando comparado ao valor de referência da EDG, o grupo GC apresenta
depressão, considerando ponto de corte 5. Entretanto,
o GI encontra-se abaixo desse valor, não indicando depressão.
Grupo controle (GC);
Grupo intervenção (GI). Teste t não pareado, P > 0,05.
Figura
3 - Escala de Depressão em idosos residentes em
instituição de longa permanência.
Quando foi realizada
a correlação entre as variáveis MEEM, MoCA e EDG foi
possível observar forte correlação positiva entre o MEEM e a MoCA, ou seja,
quanto maior a pontuação no MEEM, maior também era a pontuação da MoCA antes e
após a intervenção (Correlação de Pearson, *P< 0,05). Por outro lado, a
Escala de depressão não se correlacionou com o MEEM e com a MoCA
conforme observado na tabela III (Correlação de Pearson, P> 0,05).
Tabela
III
- Correlação entre as variáveis MEEM, MoCA e EDG.
Mini-exame do estado
mental (MEEM), Avaliação cognitiva Montreal (MoCA), Escala
de depressão geriátrica (EDG). Correlação de Pearson, *P < 0,05.
No presente estudo
pode-se observar que a média de idade dos idosos participantes do GC e GI não
foi diferente de forma estatisticamente significante, tornando os grupos
homogêneos em relação à idade. Entretanto, houve maior participação dos idosos
do sexo masculino na intervenção fisioterapêutica. Estudos mostram que o sexo
feminino é menos ativo que o sexo masculino o que diminui a participação
mulheres em atividades físicas [16]. Em relação à cor da pele, demonstrou-se
que a raça branca foi a que mais rejeitou a atividade física. Esta relação pode
estar ligada ao nível social, pessoas de raça branca em geral possuem um nível
socioeconômico melhor o que leva diminuição do seu deslocamento com uso de
caminhada ou bicicleta ao uso de carros, motos [17].
Analisando o estado
civil e nível de escolaridade, este estudo mostrou que os solteiros e os
analfabetos foram os que mais se recusaram a participar da intervenção. Estudos
mostraram resultados diferentes, idosos casados ou com ensino fundamental incompleto
foram os que obtiveram o menor nível de atividade física [18,19]. O fato dos
idosos casados da comunidade serem menos ativos em relação aos demais estados
civis pode estar relacionado à presença de um companheiro em casa. Este fato
diminui o isolamento do idoso, não necessitando se deslocar até centros de
convivência. O que difere os idosos da comunidade aos idosos deste estudo é que
estes se encontram institucionalizados pela ausência de algum conjugue ou
familiar que possa prestar assistência. Portanto ocorre um aumento do número
idosos solteiros em ILP e diminui a adesão destes à atividade física. Em
relação ao nível de escolaridade, esse resultado pode modificar dependendo da
população estudada.
Neste estudo
observa-se que a presença de comorbidades é maior no grupo controle em
comparação ao grupo intervenção. Este fato pode estar relacionado com uma vida
ativa que reflete no envelhecimento. Estudos mostram que existe uma maior
presença de doenças associadas a idosos menos ativos, como problemas articulares,
cardíacos e hipertensão arterial. Contudo observa-se que a atividade física
contribui com a diminuição da pressão arterial sendo importante para redução de
riscos de doenças cardíacas [19-21].
Apesar de não ter
apresentado resultados significantes na comparação do GC e GI em relação à
presença de depressão, observa-se que o GC apresentou média de escore na EDG
acima de 5 pontos, o que indica alto nível de
depressão, enquanto o GI obteve média abaixo do considerado depressão. Isso
pode estar relacionado ao fato destes idosos serem mais ativos e sociáveis do
que os do GC. Junior e Gomes avaliaram o percentual de depressão em idosos
residentes em ILP e observaram que mais de 60% dos idosos apresentavam algum
grau de depressão. Os fatores que podiam estar relacionados a esse resultado
são: o nível de escolaridade, o abandono familiar e a ausência à submissão aos
exames de rotina [22].
Quando avaliado o
escore do MEEM (24 pontos), tanto no GC como o GI os idosos apresentavam
déficit cognitivo. Entretanto, quando comparado o resultado da pontuação do
MEEM, antes e após a intervenção, não houve diferença estatisticamente
significante. Este resultado se assemelha ao encontrado no estudo de Hernandez,
Coelho e Gobbi, no qual dezesseis idosos com idade média de 78,5 ± 6,8 anos
foram alocados em dois grupos: grupo intervenção (GI; n = 9) e grupo rotina
(GR; n = 7). Neste estudo a intervenção consistiu em um programa de atividade
física e mental realizado 3 vezes por semana durante 6
meses, e os idosos foram avaliados pelo MEEM no pré e pós-intervenção, e não
houve melhora estatisticamente significante [23].
Outro estudo que
corrobora esse resultado é o de Martins et al.[24], que
foi realizado com idosos acima de 60 anos residentes em ILP da cidade de Campo
Grande/MS que avaliou os efeitos de uma estimulação cognitivo-motora sobre as
funções cognitivas. Para a análise deste estudo foram utilizados o MEEM, Teste
de Fluência Verbal Semântica, Bateria de Avaliação Frontal e Teste do Desenho
do Relógio. Porém não foi encontrado efeito sobre as funções cognitivas dos
sujeitos, tendo sido obtidas respostas similares nos grupos
experimental e controle.
No presente trabalho,
tanto GC como GI apresentaram alto nível de comprometimento cognitivo quando
comparado a média da pontuação na MoCA com o valor de
corte (26 pontos). Observou-se também que os valores da MoCA
no pré e pós-intervenção do GI e GC se mantiveram semelhantes não estabelecendo
diferença significante após intervenção em ambos os grupos. O mesmo foi
encontrado no estudo de Apostolo et al. [25] que
avaliou o efeito da estimulação cognitiva em idosos (idade: 74,45 ± 6,97 anos)
residentes na comunidade no centro de Portugal, a intervenção foi realizada
durante 7 semanas, utilizaram estímulos cognitivos associados a atividade
motora. Os idosos foram avaliados pelo MEEM e MoCA
antes e após intervenção, no entanto não foi observada melhora estatisticamente
significante ao comparar a pré e pós-intervenção na função cognitiva, porém
notou-se que 48,49% dos idosos evoluíram positivamente na MoCA.
O fato dos resultados
encontrados no MEEM e na MoCA não apresentarem
significância quando comparado GC e GI antes e após a intervenção pode ser
atribuído ao reduzido tempo de intervenção fisioterapêutica.
Uma forte correlação
entre o MEEM e a MoCA foi constatada. Quanto maior a
pontuação no MEEM, maior na MoCA. Esse resultado foi
encontrado também no estudo de Cecato et al. [8].
Estudos que utilizaram o MEEM e a MoCA para avaliação
cognitiva, observaram que a MoCA pode ser uma ferramenta mais sensível para
identificar comprometimento cognitivo precoce. A MoCA
por ser composta de mais variáveis, os pacientes cometem mais erros que no
MEEM. Além disso, a MoCA possui maior valor preditivo
para diferenciar doença de Alzheimer (DA), de comprometimento cognitivo leve
(CCL), e também diferenciar CCL de pessoas normais [7,8,26]. Entretanto, o MEEM
é um instrumento de mais fácil aplicação, tendo em vista que possui tempo entre
5-10 minutos, além de ser universalmente aplicado na investigação de demências
ou outras amostras neurológicas [27], possui boa confiabilidade na detecção de
comprometimento cognitivo em idosos [12].
A intervenção
fisioterapêutica com tarefa dupla, durante 5 semanas,
não foi suficiente para melhora cognitiva dos participantes deste estudo. Os
idosos do GC apresentaram alto nível de depressão comparado ao GI que obteve
média de escore abaixo do considerado depressão. Este fato pode estar
relacionado ao nível de atividade e socialização desse idoso. Uma forte
correlação foi encontrada entre o MEEM e a MoCA, sendo
a MoCA uma ferramenta mais sensível para identificar comprometimento cognitivo
precoce, porém o MEEM é de mais fácil aplicação sendo o mais utilizado
universalmente. Sugere-se que os próximos estudos sejam realizados em um
período de tempo maior.