ARTIGO
ORIGINAL
Efeitos
do método Pilates sobre o perfil e a percepção postural em crianças
The effects of Pilates method on profile and
postural perception in children
Arianne Ferreira
Fonseca*, Déborah Aline D'Avila Ferreira*, Lilian Pinto Teixeira, Ft.**, Susane
Graup, D.Sc.***, Rodrigo de Souza Balk, D.Sc.****,
Simone Lara, D.Sc.*****
*Acadêmicas
do curso de Fisioterapia, Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), Campus
Uruguaiana/RS, **Especialista, Fisioterapeuta do curso de Fisioterapia da
UNIPAMPA, Campus Uruguaiana/RS, ***Docente de Educação Física da UNIPAMPA,
Campus Uruguaiana/RS, ****Docente do curso de Fisioterapia da UNIPAMPA, Campus
Uruguaiana/RS, *****Docente do curso de Fisioterapia da UNIPAMPA, Campus
Uruguaiana/RS
Recebido em 15 de
agosto de 2016; aceito em 24 de julho de 2017.
Endereço
para correspondência:
Simone Lara, Universidade Federal do Pampa UNIPAMPA, Campus Uruguaiana, caixa
postal 118, 97508-000 Uruguaiana RS, E-mail: simonelara@unipampa.edu.br;
Arianne Fonseca: arianne.ffpj@gmail.com; Deborah Ferreira:
deborah.a.d.ferreira@gmail.com; Lilian Teixeira:
lilianteixeira@unipampa.edu.br; Susane Graup: susanegraup@unipampa.edu.br;
Rodrigo Balk: rodrigo.balk@gmail.com
Resumo
O objetivo deste
estudo foi analisar os efeitos do Método Pilates sobre o perfil e a percepção
postural em crianças e verificar as medidas do mobiliário escolar. Trata-se de
um estudo quase-experimental que avaliou o perfil postural
da coluna cervical, ombro e escápula de crianças, através do Software para
avaliação postural (SAPO). A amostra do estudo foi composta por 40 crianças e,
para avaliar a percepção corporal em relação aos hábitos escolares, foi
utilizado o questionário BackPEI, por meio das
posturas sentado para escrever, sentado na cadeira e de transporte da mochila.
Foram realizadas as medidas do mobiliário escolar: altura das cadeiras e altura
das mesas. Após, as crianças praticaram um protocolo de exercícios baseados no
Método Pilates. A prática de 20 sessões do Método Pilates melhorou o perfil
postural de crianças, nas variáveis relacionadas com o alinhamento horizontal
da cabeça (p = 0,007), dos acrômios (p = 0,005) e da escápula (0,040). Contudo,
não houve modificação sobre o alinhamento vertical da cabeça e sobre a
percepção postural dos escolares pós-intervenção. O mobiliário escolar
apresentou mensurações inadequadas, e representa um fator de risco para as
alterações posturais encontradas no estudo.
Palavras-chave: postura, criança,
atividade física.
Abstract
This study aimed to analyze the effects of Pilates Method on profile and
postural perception in children and to assess the school furniture dimensions.
This was a quasi-experimental study that evaluated the postural profile of the
cervical spine, shoulder and scapula in children through the postural
assessment software (SAPO). The study sample was composed of 40 children, and
we used the BackPEI questionnaire to evaluate the
postural perception of the school habits, through the postures sitting to
write, sitting in the chair and carrying a backpack. The measures of school
furniture were carried out: the chairs and tables
height was estimated. After the children practiced exercises based on Pilates
Method. The practice of 20 Pilates sessions improved postural profile in
children, concerning the head (p = 0.007), the acromions
(p = 0,005) and the scapula (0.040). However, there was no change on head
vertical alignment and postural perception in children post-intervention. The
school furniture presented inadequate dimensions, and it indicates a risk
factor for postural changes found in this study.
Key-words: posture,
child, motor activity.
Conforme Verderi [1],
a melhor postura a ser adotada por um indivíduo é aquela que preenche todas as
necessidades mecânicas de seu corpo e também possibilita ao mesmo manter uma
posição ereta com o mínimo esforço muscular. Dados reportam altas prevalências
de alterações posturais na fase pré-escolar [2], e a adoção de maus hábitos
posturais é responsável pelo desenvolvimento de tais alterações [3]. Durante os
anos escolares, as crianças são expostas a fatores de risco para o
desenvolvimento dessas alterações, incluindo o tempo de permanência na postura
sentada de forma inadequada por períodos prolongados [4], a presença de
mobiliários escolares inadequados [5], o transporte inadequado de mochilas
escolares [6] e o uso de mochilas pesadas [7].
Assim, é relevante o
desenvolvimento de políticas de saúde a fim de reduzir a prevalência de
alterações posturais, através da redução dos fatores de risco [4]. De fato,
programas de educação e saúde na escola, com o enfoque em educação postural
contribuem para a aquisição de conhecimentos teóricos e de hábitos posturais saudáveis
durante a execução das Atividades de Vida Diárias em escolares [8].
No contexto de
hábitos posturais saudáveis, podemos citar a relevância da prática de atividade
física na fase pré-escolar. Nesse sentido, é conhecido que o Método Pilates (MP)
melhora o alinhamento postural, coordenação motora, força muscular e controle
motor [9]. O MP possui como base um conceito denominado contrologia,
representando o controle consciente de todos os movimentos do corpo, além dos
demais princípios como centralização, concentração, controle, precisão,
respiração e fluidez [9].
Considerando a
carência de trabalhos envolvendo a prática do MP sobre a postura de crianças
saudáveis, o presente estudo objetivou analisar os efeitos do MP sobre o perfil
e a percepção postural em crianças e verificar as medidas do mobiliário
escolar, a fim de apurar se tais medidas estão adequadas para as crianças.
Comitê
de ética
De acordo com a
Resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que regulamenta as
pesquisas envolvendo seres humanos, a participação na presente pesquisa foi
voluntária, e um termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado pelos
responsáveis legais das crianças. Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética
e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Pampa, Campus Ciências da Saúde,
Uruguaiana/RS, e aprovado sob o número 457.088, em 13/11/2013.
Seleção
do grupo de estudo
Trata-se de um estudo
quase-experimental, descritivo e quantitativo,
desenvolvido ao longo do período de abril a outubro de 2015, no qual foram
incluídos estudantes do primeiro ano do Ensino Fundamental, de uma escola
pública no município de Uruguaiana, Rio Grande do Sul, de ambos os gêneros, na
faixa-etária de 5 a 7 anos de idade. Como critério de exclusão, considerou-se
alguma incapacidade física ou cognitiva que o impedisse de participar do
estudo, bem como não apresentar frequência mínima de 75% no estudo. Os
estudantes foram submetidos a um protocolo de avaliação, descrito a seguir.
Protocolo
de avaliação
1) Avaliação: Os
procedimentos foram executados pelo mesmo avaliador pré e pós-intervenção,
previamente treinado, no laboratório de avaliação do curso de Fisioterapia, da
Universidade Federal do Pampa, campus Uruguaiana/RS.
2) Avaliação
antropométrica: Verificada a massa corporal, com uma balança antropométrica e a
estatura, com um estadiômetro fixo na parede.
3) Avaliação da
percepção postural: Analisada através do questionário BackPEI, que avalia a
percepção corporal de estudantes em relação aos hábitos escolares, e apresenta
boa confiabilidade com estudantes na faixa escolar [10]. No estudo, foram
utilizadas três posturas: sentado para escrever, sentado na cadeira e o
transporte da mochila [10] (figura 1). Para cada postura, o BackPEI
apresenta uma sequência de 5 alternativas, das quais a segunda alternativa
indica a postura adequada e as demais representam posturas inadequadas.
Optou-se por utilizar duas categorias de percepção postural (adequada e
inadequada), as respostas que indicassem a segunda alternativa como percepção
foram classificadas como adequadas e todas as demais respostas como
inadequadas.
Posturas avaliadas -
1A. Sentado para escrever, 1B. Sentado na cadeira, 1C. Transporte da mochila.
Fonte: Noll et al. 2013.
Figura
1 - Avaliação da percepção corporal de
estudantes em relação aos hábitos escolares.
Avaliação postural:
Realizada por meio do uso da fotogrametria, como forma de obtenção de medidas
lineares e angulares, apresentando alta confiabilidade, especialmente quando
realizada pelo mesmo avaliador [11], conforme realizado no presente estudo. Foi
utilizada uma máquina fotográfica digital Sony 16.1MP DSC-W690, posicionada
sobre um tripé a uma altura de 90 cm do solo e a distância de 300 cm da
criança. As imagens foram feitas em uma parede com fundo preto e utilizado um
fio de prumo à direita, nos perfis anterior, posterior e lateral. As crianças
foram instruídas a ficarem descalças e com trajes de banho. Foram demarcados os
seguintes pontos anatômicos por meio de marcadores reflexivos: trago auricular,
usado para verificar o alinhamento horizontal da cabeça; acromioclavicular,
usado para verificar o alinhamento horizontal dos acrômios; o trago auricular e
a articulação acromioclavicular foram utilizados para verificar o alinhamento
vertical da cabeça; ângulo inferior da escápula e T3, usado para verificar
assimetria horizontal da escápula. As fotografias foram analisadas no Software
para avaliação postural (SAPO). A digitalização das imagens e dos cálculos dos
ângulos foi realizada por um avaliador treinado, a fim de garantir a
confiabilidade da avaliação postural.
No estudo, para
identificar a prevalência de desvios posturais, foram avaliados os escores
brutos, valores entre -1 e 1 foram considerados normais. Logo, para a
classificação dos níveis de desvio, desconsiderando os valores normais citados,
os escores foram divididos em tercis: desvio leve, desvio moderado e desvio grave.
Avaliação do
mobiliário escolar: foi avaliada a altura das mesas e das cadeiras e comparadas
com os valores ideais para crianças, de acordo com a faixa-etária [12].
Protocolo
de intervenção
Após a avaliação, os
estudantes iniciaram a prática supervisionada do MP, conforme protocolo
estabelecido pelos pesquisadores (quadro 1),
constituído de uma sessão semanal com duração aproximada de uma hora cada,
durante cinco meses, totalizando 20 sessões. Cabe ressaltar que foi considerado
o critério de inclusão de 75% de frequência nas atividades (15 - 20 sessões).
Quadro
1 - Protocolo dos exercícios do método Pilates
utilizados na intervenção.
Análise
estatística
Para a análise dos
dados, foi utilizado o programa SPSS, versão 20.0, no qual foi utilizada
análise descritiva, por meio de medidas de média, desvio padrão e frequências.
A normalidade dos dados foi testada por meio do teste de Kolgomorov-Smirnov, indicando
uma distribuição não paramétrica. Desta forma, as diferenças entre as testagens
(pré e pós-testes) foram avaliadas pelo teste de Wilcoxon. Para analisar a
associação entre a percepção das posturas e os desvios posturais (análise
bivariada) foi utilizado o teste de qui-quadrado para heterogeneidade. Para
todas as análises foi considerado um nível de significância de 0,05.
Resultados
Foram avaliados 40
estudantes (20 meninas e 20 meninos), com média de 5,97 ± 0,16 anos, massa
corporal 23,02 ± 3,82 kg e estatura 1,17 ± 0,08 m2. Com relação à percepção
postural das crianças, não houve diferença em relação às três posturas
avaliadas pós-intervenção (tabela I). Porém, é relevante destacar o baixo
percentual de posturas adequadas, evidenciando a presença de hábitos posturais
inadequados nas crianças, especialmente nas posturas sentadas, pré e
pós-intervenção.
Tabela
I - Percepção postural das crianças pré e
pós-intervenção.
n = número da amostra;
P = nível de significância
A tabela II demonstra
o perfil postural das crianças, incluindo as medidas descritivas e o nível de
significância pré e pós-intervenção. Com base nos resultados médios, foi
possível identificar um melhor alinhamento nas variáveis relacionadas com a
inclinação da cabeça para esquerda (P = 0,007), acrômio esquerdo mais alto (P =
0,005), e escápula direita mais abduzida (P = 0,04), pós-intervenção.
Tabela
II -
Perfil postural das crianças pré e
pós-intervenção.
Número de crianças (n);
média (em graus); DP = desvio padrão; P = nível de significância
Na figura 2, as
variáveis relacionadas ao perfil postural das crianças estão classificadas de
acordo com o grau de comprometimento, pré e pós-intervenção. Foi possível
evidenciar que grande parte das crianças apresentou desvio leve nas quatro
variáveis posturais analisadas, pré e pós-intervenção. Destaca-se que a
variável relacionada com o alinhamento vertical da cabeça (figura 2B)
apresentou um maior número de crianças com desvio moderado pré e
pós-intervenção (45% e 42,5%, respectivamente), em comparação com as demais
variáveis. No alinhamento horizontal da escápula (figura 2D)
houve redução dos desvios moderado e grave, porém, não houve significância
estatística das variáveis pré e pós-intervenção.
1A. AHC = Alinhamento
horizontal da cabeça, 1B. AVC = Alinhamento vertical da cabeça, 1C = AHA:
Alinhamento horizontal dos acrômios, 1D. AHE =
Assimetria horizontal da escápula. Dados expressos em percentuais (%).
Figura
2 - Perfil postural das crianças de acordo com o
grau de comprometimento pré e pós-intervenção.
A relação entre a
percepção postural e o perfil postural das crianças não apresentou associação
significativa (P > 0,05) para todas as variáveis analisadas, indicando que o
nível de desvio postural (leve, moderado ou grave) não apresentou associação
com as posturas: sentado para escrever, sentado na cadeira e de transporte da
mochila escolar.
Na avaliação das
medidas do mobiliário escolar, foi possível identificar que a altura das mesas
e das cadeiras dos escolares foi superior aos valores considerados ideais para
a faixa-etária das crianças. Os valores obtidos para a altura da mesa e da
cadeira foram 64 cm e 36,5 cm, enquanto que os ideais são de 46 cm e 31 cm, respectivamente.
No presente estudo, o
percentual de crianças com percepções posturais adequadas, em relação às
posturas de sentar para escrever e sentar em uma cadeira permaneceu baixo,
mesmo após a prática do MP (22,5% e 37,5% respectivamente), não havendo
modificações pós-intervenção. Hábitos escolares inadequados nessas posturas
também foram encontrados no estudo de Sedrez et al. [4] e Antoniolli [13] destacando a baixa prevalência de
hábitos posturais adequados no início da vida escolar.
Com relação à
influência do MP sobre a percepção postural, Schmit [14] reitera que há uma
carência de estudos reportando os efeitos dessa prática nos hábitos posturais.
Em seu estudo, avaliou os efeitos de 30 sessões do MP sobre a percepção postural
de mulheres sedentárias, através da aplicação do questionário BackPEI. Contudo, não encontrou efeitos sobre os hábitos
posturais nas posturas sentadas, e justifica seu resultado inferindo a ausência
de exercícios nessa postura no protocolo trabalhado. Tal justificativa é
cabível ao presente estudo, no qual o protocolo de exercícios utilizados
compreendeu posturas, na maioria das vezes, em decúbito e não na postura
sentada, fato esse que pode estar associado a não alteração da percepção
postural dos estudantes nas posturas avaliadas.
No atual estudo, a
prática de 20 sessões do MP influenciou positivamente o padrão postural das
crianças, no qual houve um melhor alinhamento horizontal da cabeça, do acrômio
e da escápula, pós-intervenção. Corroborando, Schmit [14] retrata que a prática
de 30 sessões do MP em adultas sedentárias promoveu ajustes posturais e um
melhor alinhamento corporal. Adicionalmente, 20 sessões do MP foram eficazes
para melhorar o padrão postural relacionado com o alinhamento da cabeça em
idosas [15]. Em mulheres na meia idade, 36 sessões do MP mostraram-se efetivas
para melhorar o alinhamento postural [16]. Moura et al. [17] encontraram um melhor alinhamento de cabeça, em uma
adolescente com diagnóstico clínico de escoliose, após a prática de 10 sessões
do método. Contin et al. [18] elucidaram melhorias no padrão
postural de um adolescente com escoliose e hipercifose de Scheuermann, após 30
sessões do MP. O estudo de Goulart, Teixeira e Lara [19] evidenciou um melhor
alinhamento postural de ombro e escápula em crianças praticantes do MP, quando
comparadas as não praticantes. Silva et al. [20]
identificaram efeitos positivos do método sobre a diminuição da inclinação e
anteriorização da cabeça em crianças de 6 a 12 anos de idade.
Por outro lado,
Sinzato et al. [21] avaliaram os efeitos de 20
sessões do MP sobre o alinhamento postural em mulheres jovens saudáveis, e não
identificaram alterações. Cruz-Ferreira et al. [22]
sugerem que os efeitos do método sobre o perfil postural, especialmente sobre o
alinhamento horizontal dos ombros, iniciam a partir da prática de 24 sessões,
fato este que não ocorreu no presente estudo, em que a prática de 20 sessões
promoveu melhorias sobre o alinhamento postural dos ombros. Cabe ressaltar que
Cruz-Ferreira et al. [22] retrataram esses efeitos em
sujeitos adultos, e o atual estudo abordou crianças, ou seja, as
características biológicas e individuais devem ser consideradas nesse contexto.
De fato, segundo uma revisão sistemática [23], frequentemente os trabalhos
reportam os efeitos do MP sobre a postura em indivíduos com dor lombar, ou
comparando sujeitos com e sem dor lombar. Portanto, a influência do método
sobre a postura de crianças saudáveis é escassa.
Um alto percentual de
crianças com anteriorização cervical foi identificado neste estudo, assim como
os achados de Rego e Scartoni [24]. Santos et al. [25] reiteram que essa alteração necessita de intervenção
precoce, pela possibilidade de instalação e progressão durante a adolescência e
a vida adulta. De fato, esse fator é relevante uma vez que, no presente estudo,
essa variável apresentou percentuais importantes de crianças com desvio
moderado, indicando a possibilidade de agravamento desse desvio. Weis e Müller
[26] afirmam que o alto índice de crianças com alterações cervicais indica que
muitos estudantes não apresentam a postura adequada da cabeça durante as
atividades escolares. Essa afirmação vai ao encontro dos achados do estudo, em
que houve um baixo percentual de posturas adequadas ao escrever e ao sentar em
uma cadeira.
Considerando a alta
frequência de alteração postural na coluna cervical das crianças no atual
estudo, é possível destacar três elementos: o início da fase de escolarização
das crianças, a falta de Educação Física Escolar e o mobiliário inadequado.
Após finalizarem a
educação infantil quando iniciaram os primeiros anos de escolarização com o
desenvolvimento da alfabetização e da escrita, assumindo postura sentada por
períodos prolongados de tempo, as crianças deste estudo cursam o primeiro ano
do Ensino Fundamental, no qual perpassam por uma fase de transição, com uma
característica mais ativa, incluindo brincadeiras e recreação. Resende e Borsoi
[27] ressaltam que o período crítico ocorre quando a criança inicia a escrita,
uma vez que padrões posturais inadequados começam a ser determinados nesse
período e se tornam habituais em fases posteriores.
A falta de Educação
Física no currículo escolar dessas crianças pode contribuir para o
desenvolvimento de alterações posturais, uma vez que Kratěnová et al. [28] associam o
desenvolvimento dessas alterações com o maior tempo em postura sentada e um
menor tempo para práticas esportivas e recreativas.
Com relação ao
mobiliário escolar, foram identificadas altas discrepâncias entre os valores
ideais e os valores encontrados pelo estudo, e, sugere-se que a manutenção da
postura sentada inadequada, por longos períodos na fase de formação do
esqueleto e desenvolvimento do escolar, possa contribuir para o desenvolvimento
de alterações posturais atuais ou futuras [29]. Segundo Moro [30], existe uma
relação entre o aumento da flexão e anteriorização da cabeça com a altura da
mesa, pois, ao utilizar uma mesa com a superfície plana, o aluno tem que
realizar uma flexão de tronco para se aproximar da mesa e uma flexão cervical
para uma melhor visualização do caderno, já com os mobiliários mais altos os
alunos são forçados a se posicionarem nas bordas do assento, provocando maiores
alterações posturais. Sedrez et al. [4] complementam
que existe uma relação entre a postura sentada de forma inadequada e um padrão
flexor de tronco. Assim, esse fator pode explicar, em parte, os achados do
estudo, em que os mobiliários das crianças estavam mais altos do que o
adequado, e houve um significativo percentual de crianças com anteriorização
cervical.
Conforme Kloubec
[31], o MP busca a simetria corporal, uma vez que trabalha sobre os movimentos
do tronco buscando integrar o equilíbrio, flexibilidade e fortalecimento
muscular. Porém, após a prática do MP, não houve um melhor alinhamento vertical
da cabeça, e, sugere-se que o número de sessões do método, praticado pelas
crianças no atual estudo, possa ter influenciado a não existência de mudança
sobre essa variável postural pós-intervenção, já que Cruz-Ferreira et al. [22] destacam que ajustes posturais
sobre essa variável ocorrem após 48 sessões, e Lee et al. [32] após 30 sessões do método. Contudo, a partir da relação
entre o mobiliário escolar inadequado e o aumento da anteriorização cervical, é
possível que a prática do MP tenha contribuído para manter a angulação dessa
variável estável, uma vez que não houve agravamento da mesma pós-intervenção.
A partir dos
resultados do presente estudo, foi possível perceber a ocorrência expressiva de
alterações posturais em fase pré-escolar. Nesse contexto, é possível inferir
que esse período é considerado como o mais eficaz para prevenção e tratamento
desses desvios decorrentes do mau hábito postural e da sobrecarga biomecânica,
devido à maturação osteomuscular que ocorre nessa fase [33], o que torna
relevante a inserção de programas voltados para a Educação Postural [34] e o
incentivo à prática de atividade física.
Como limitação do
estudo, destaca-se a não avaliação de um grupo controle para fins de comparação
dos resultados, e, devido à lacuna de dados reportando os efeitos do MP sobre a
postura de crianças saudáveis em idade escolar, sugere-se a realização de
maiores estudos a fim de elucidar melhor tais relações. De fato, questões como
o número e a frequência de sessões do MP, tempo de intervenção, tipo de
protocolo (Pilates solo, com acessórios ou com aparelhos), características
amostrais (idade, gênero, situações clínicas), devem ser consideradas.
A prática de 20
sessões do MP melhorou o perfil postural de crianças, nas variáveis
relacionadas com o alinhamento horizontal da cabeça, dos acrômios e da
escápula. Contudo, não houve modificação sobre o alinhamento vertical da
cabeça, e sobre os hábitos posturais dos escolares. Foi evidenciado que o
mobiliário escolar apresentou medidas inadequadas, e sugere-se que esse fator
possa ter contribuído para o alto índice de anteriorização cervical encontrado
nas crianças do presente estudo.