ARTIGO
ORIGINAL
Uso da
micropuntura no tratamento de rugas
Use of micropuncture in wrinkle treatment
Evanilde Costa
Oliveira Sta. Barbara*, Valéria Siqueira Costa
Brito**, Wanessa Ribeiro de Souza da Rocha***, Mariana R de Paula, M.Sc.****
*Discente
do curso Tecnólogo em Estética e Cosmética, Faculdade Opet, **Discente do curso
Tecnólogo em Estética e Cosmética, Faculdade Opet, Graduada e Pós-graduada em
Administração de Empresas, ***Discente do curso Tecnólogo em Estética e
Cosmética, Faculdade Opet, **** Mestre em Engenharia Biomédica, Docente do
curso Tecnólogo em Estética e Cosmética, Faculdade Opet
Recebido 26 de julho
de 2016; aceito 15 de julho de 2017
Endereço
para correspondência:
Mariana R de Paula: mariribpaula@hotmail.com; Evanilde Costa Oliveira Sta. Barbara: evanildeecosta@hotmail.com; Valéria Siqueira
Costa Brito: vscbrito@hotmail.com; Wanessa Ribeiro de Souza da Rocha:
wanessa.rocha@ig.com.br; Mariana R de Paula
Resumo
O Envelhecimento é um
processo biológico dinâmico e progressivo no qual ocorrem alterações
morfológicas, funcionais e bioquímicas que comprometem a manutenção da
homeostasia do organismo. A redução da função das células epiteliais provoca no
tecido cutâneo alterações visíveis que denunciam o envelhecimento cronológico
do indivíduo com o aparecimento de linhas de expressão e rugas. O declínio na
produção de colágeno e elastina são os principais responsáveis pelo
aparecimento das linhas de expressão. Vários tratamentos visam aumentar a
produção destas proteínas (colágeno e elastina). A técnica de micropuntura, promove indução de colágeno por meio de instrumentos que
utilizam agulhas para perfurar a epiderme induzindo assim a cascata
inflamatória. Este estudo teve como objetivo avaliar qualitativamente e
quantitativamente os resultados da micropuntura no tratamento de rugas. A
amostra foi constituída de 10 voluntárias com idade entre 30 e 45 anos com
rugas na região frontal da face. As voluntárias foram submetidas a 4 sessões de micropuntura com intervalo de 7 dias. Os
resultados da pesquisa validam a significância da técnica para o tratamento das
rugas.
Palavras-chave: rugas, indução de
colágeno, micropuntura, envelhecimento.
Abstract
Aging is a dynamic and progressive biological process in which
morphological, functional and biochemical alterations occurs which compromises
organism homeostasis. The epithelial cells function reduction causes visible cutaneous tissue alterations that demonstrates the
individual chronological aging through the expression lines and wrinkles. The
collagen and elastin production decreasing is the main responsible for the
appearance of expression lines. The treatments aim to increase the production
of these proteins (collagen and elastin) by techniques such as micropuncture, which induces the production of collagen by
means of instruments that use needles to pierce the epidermis and cause an
inflammatory cascade. This study aimed to evaluate micropuncture
results in qualitative and quantitative treatment of wrinkles. The sample was
composed by 10 volunteers aged 30 to 45 with wrinkles in the frontal region of
the face. The volunteers were submitted to 4 micropuncture
sessions with an interval of 7 days between the sessions. The results show the
technique is effective for the treatment of wrinkles.
Key-words: wrinkles,
collagen induction, micropuncturae, aging.
A senescência, ou
envelhecimento é um processo lento e contínuo onde ocorre alterações funcionais
e morfológicas, podendo ser dividida em fatores intrínsecos (genética) e
extrínsecos (fotoenvelhecimento) [1].
O tecido conjuntivo torna-se mais rígido e a elastina perde sua elasticidade natural. O declínio das funções do tecido conjuntivo faz com que a camada de gordura não consiga se manter uniforme, a queda nas trocas de nutrientes e oxigênio provoca a desidratação da pele dando origem às rugas [2].
Existem inúmeras técnicas não invasivas ou minimamente invasivas
que procuram amenizar os efeitos do envelhecimento senil, Na literatura existem
vários estudos sobre o Eletrolifting – técnica que utiliza um eletrodo em forma
de agulha associado a uma corrente contínua [2] e mais recentemente sobre Microagulhamento
– técnica que utiliza um rolo de polietileno encravado com micro agulhas de aço
inoxidável [3], ambas se assemelham à Micropuntura – técnica que utiliza um aparelho
de dermógrafo com uma agulha estéril e que através da perfuração da epiderme promovem
a indução do colágeno pelo desencadeamento da cascata inflamatória [4].
O dermógrafo é um
aparelho elétrico, de baixa rotação, com movimento de vai e vem (movimento
parecido com máquina de costura) que utiliza agulha seca. É também utilizado
para micro pigmentação da pele (maquiagem definitiva).
O objetivo deste
estudo experimental foi avaliar os efeitos da micropuntura na redução das rugas
na região frontal da face de 10 voluntárias. A região frontal é formada pelo
osso craniano frontal e por músculos da expressão facial. O principal músculo
cutâneo do couro cabeludo é o occipitofrontal, que tem dois ventres: o frontal
anteriormente e o occipital posteriormente. Quando atuam conjuntamente,
tracionam para trás o couro cabeludo, elevando os supercílios e enrugando a
fronte como uma expressão de surpresa, interesse ou preocupação. O músculo
frontal permite uma alta mobilidade da região frontal, a ação repetida desta
musculatura (mímica facial) é um dos responsáveis pela formação das rugas
horizontais nesta região [7].
As rugas são sulcos
ou pregas na pele devido à perda de elasticidade dos estratos superficiais e
pela falta de hidratação profunda da pele, há o declínio da junção
dermoepidérmica, que, com o passar dos anos a pele perde a ancoragem. O tecido
conjuntivo torna-se gradativamente mais rígido, assim como as fibras elásticas
e de colágeno diminuem em número e função [5].
Segundo Lapière e
Pierard [6], as rugas podem ser divididas em três categorias: rugas de
expressão, sem alterações dermoepidérmica (grau I); rugas finas com alteração
dermoepidérmica (grau II); e dobras e rugas gravitacionais (ptose), com
alteração dermoepidérmica e do subcutâneo (grau III).
O fotoenvelhecimento,
ocasionado pela exposição solar, é responsável pela maior parte das alterações
macroscópicas e microscópicas na pele, principalmente nas rugas finas e
profundas. O quadro abaixo mostra a classificação de Glogau (tabela I) para as
rugas de fotoenvelhecimento [2].
Tabela
I - Classificação de Glogau.
Micropuntura
A técnica da
micropuntura foi desenvolvida pela argentina Java Jeimam em 1989 utilizando-se
um aparelho de dermógrafo que utiliza uma agulha estéril de ponta seca para
fazer sucessivas perfurações na pele [4].
A micropuntura é
indicada para o tratamento de linhas de expressão e rugas faciais, cicatrizes
de acne e estrias. Como todo tratamento de indução de colágeno, não deve ser
realizada em gestantes, lactantes, pessoas portadoras de diabetes (devido a falha no processo de coagulação), pacientes oncológicos,
pessoas que fazem uso de medicamentos vasodilatadores, anti-inflamatórios e
anticoagulantes e que possuem alergia a metais [8]. Pacientes com fototipo acima
de IV devem ter um cuidado maior sobre a técnica, pois há um maior risco de
ocorrer pigmentação pós-inflamatória, já que a melanina tem papel fundamental
na proteção celular [4].
A agulha é regulada
para uma profundidade de 0,5 mm para que atinja somente a região epidérmica.
Para a aplicação, é realizado a técnica de ponteamento
quádruplo – perfuração 4 vezes no mesmo ponto, sem “pesar” a mão iniciando um
pouco aquém da ruga trabalhada e encerrando após o término da ruga, com à
distância de mais ou menos 3 mm entre cada ponto. O posicionamento da caneta do
dermógrafo é de 90° com a superfície da pele [8].
A redução da ruga
está ligada ao aumento da produção de colágeno e elastina na região.
Imediatamente após a aplicação da micropuntura, devido ao trauma exercido pela
penetração da agulha, observa-se a hiperemia (figura 1) e leve edema, típico de
qualquer reação inflamatória, devida à vasodilatação e aumento da
permeabilidade dos vasos. A região é preenchida por um composto de leucócitos, eritrócitos,
proteínas plasmáticas e fibrinas.
A aplicação da
técnica deverá ter o intervalo mínimo de 7 dias e
máximo de 14 dias para que o processo de inflamação aguda, com duração
aproximada de 3 a 4 dias, seja absorvido pelo organismo [5].
Fonte: Pesquisadora,
2015
Figura
1 - Hiperemia após aplicação de micopuntura.
Durante o processo de
reparação tecidual, os fibroblastos ativados pelo processo inflamatório,
produzem fibras colágenas e elásticas além de proteoglicanas, ocorre um aumento
no número de fibroblastos jovens (neocolagenese) preenchendo os sulcos da ruga
[1].
O trauma, causado
pela perfuração da agulha na epiderme, desencadeia a cascata inflamatória que
gera mediadores químicos que induzem uma maior produção de colágeno e elastina
pelos fibroblastos a fim de regenerar o tecido lesionado [2].
A inflamação pode ser
aguda – tem por célula principal os neutrófilos – ou crônica – as células
principais são os linfócitos e macrófagos. Ambas têm os mesmos mecanismos iniciais,
porém são diferenciadas pelo tempo de exposição ao agente agressor, ao tipo de
agente e a resposta imune.
O processo
inflamatório e cicatricial pode ser dividido em três fases: a fase inflamatória
ocorre logo após a lesão. O extravasamento sanguíneo preenche o local com
plasma e elementos celulares, principalmente plaquetas. Estes geram um tampão
que restabelece a homeostasia, forma uma barreira contra invasão de
micro-organismos e organizam matriz provisória para a migração celular.
A fase proliferativa
– responsável pelo fechamento da lesão, dura de 5 a 20 dias. Ocorre a
reepitelização logo após a fase inflamatória, com a movimentação das células
epiteliais; a fibroplasia e angiogênese que compõem o tecido de granulação
responsável pela ocupação do tecido lesionado. Os macrófagos produzem vários
fatores de crescimento, tais como o PDGF, o TGF-α, o fator de crescimento
de fibroblastos (FGF) e o VEGF, que se destacam como as principais citocinas
necessárias para estimular a formação do tecido de granulação.
A primeira etapa que
ocorre nessa fase é a permeabilidade vascular, a vasoconstrição para impedir
uma possível hemorragia e vasodilatação para que haja maior número de sangue, e
assim, de leucócitos.
A fase de remodelagem
ocorre a tentativa de recuperação tecidual. É a fase
da reorganização da matriz extracelular (de provisório para definitiva). Grande
quantidade dos vasos, fibroblastos e células inflamatórias desaparecem do local
lesionado levando a formação da cicatrização [9].
Nessa fase a
reposição de colágeno é evidente, de forma alinhada. O colágeno inicial é
substituído por um colágeno mais espesso e organizado, gerando uma boa
cicatrização e dando aumento da força tênsil na ferida. Esta fase inicia-se a
pós o vigésimo primeiro dia e pode durar por alguns meses.
A cicatrização é o
processo que envolve a organização de células, sinais químicos e matriz
extracelular com o objetivo de reparar o tecido. O aumento da vasodilatação e
permeabilidade capilar da fase inflamatória gera os sintomas de dor, calor,
rubor e edema [10].
O estudo
caracterizou-se como uma pesquisa experimental, sendo aprovada pelo comitê de
ética em pesquisa da Faculdade Inspirar com o número de 1.282.379.
A pesquisa contou com
10 mulheres com idade entre 30 e 45 anos com rugas estáticas na região frontal
da face e que não estivessem realizando tratamentos para redução de rugas e
reposição hormonal.
Os critérios de
exclusão da amostra foram mulheres fora da faixa etária de 30 a 45 anos; que
estavam realizando reposição hormonal; que utilizavam remédios anticoagulantes,
anti-inflamatórios, vasodilatadores; em tratamento de hipo ou hipertireoidismo;
hipertensos; diabéticos; gestantes e lactantes; alérgicas e que tenham
tendência a formação de queloide.
Em cada voluntária,
foram mensuradas três rugas horizontais frontais, estas foram escolhidas por
serem facilmente visualizadas.
Procedimentos
A captação da amostra
dos voluntários foi na Faculdade OPET através de edital afixado no mural da
faculdade explicando a pesquisa.
Primeiramente foi
aplicada ficha de anamnese para verificação dos critérios de inclusão e
exclusão. Das 21 voluntárias apresentadas, 9 foram
eliminadas após a avaliação da ficha de anamnese constar alguma das restrições
citadas nos critérios de exclusão, restando apenas 12 voluntárias aptas.
As voluntárias que
aceitaram participar da pesquisa foram informadas individualmente sobre a
justificativa, objetivos, riscos e benefícios esperados, após a orientação
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido embasados nas normas e
diretrizes da resolução CNS 466/12.
A avaliação física
foi constituída de fotos e as rugas frontais foram mensuradas com um
paquímetro.
As fotos foram
realizadas com a máquina fotográfica Fujifilm Finepix S seguindo um padrão de 5 cm de distância do ponto da lente à face da voluntária com
o auxílio de iluminação à 30 cm de distância e sem zoom.
Após realizar a
anamnese, avaliação física e orientações sobre a pesquisa os procedimentos
foram iniciados.
As sessões foram
realizadas no laboratório de estética facial e corporal da Faculdade Opet,
sendo um total de 4 sessões com intervalos de 7 dias.
O protocolo no dia da
sessão foi: higienização da região frontal da face com gel de limpeza e água;
em seguida foi aplicado o anestésico tópico local a base de lidocaína 5%;
aguardou-se 30 minutos, após este período, o anestésico foi removido com água;
aplicou-se álcool 70°GL para a assepsia do local e realizou-se a técnica de
micropuntura nas rugas da região frontal; a técnica de micropuntura foi
realizada com o dermógrafo Easy Make K8000, 2015 (figura 2). A agulha foi
regulada para uma profundidade de 0,5 mm para atuar somente na região
epidérmica, após o uso a agulha foi descartada. Foi realizado
a técnica de ponteamento quádruplo – perfuração 4 vezes no mesmo ponto, sem
“pesar” a mão iniciando um pouco aquém da ruga trabalhada e encerrando após o
término da ruga, com a distância aproximada de 3 mm entre cada ponto. O
posicionamento da caneta do dermógrafo é de 90° com a superfície da pele; foi
aplicada a loção adstringente com gaze e o voluntário foi liberado após receber
orientações sobre os cuidados pós micropuntura (anexo III). Dentre os cuidados
ressaltamos a não utilização de filtro solar por 24 horas pós
sessão para que o mesmo não seja permeado na pele [11-13].
Figura
2 – Dermografo.
A aplicação da
técnica (figura 3) teve o intervalo de 7 dias para que
o processo de inflamação aguda, que gira em torno de 3 a 4 dias, seja absorvido
pelo organismo [5]. Após 7 dias da última sessão,
foram realizadas as fotos finais (no mesmo local e posicionamento que a fotos
iniciais), a medição com o paquímetro das rugas da região frontal da face e a
aplicação do questionário de satisfação.
Figura
3 – Aplicação da técnica.
Foram utilizadas as
estatísticas descritivas (média, desvio padrão e mediana) na caracterização da
amostra. As comparações das médias obtidas foram analisadas pelo teste “t” de
Student considerando uma probabilidade p < 0,05 em todas as
análises.
As fotos serviram de
comparação do antes e depois onde foram
observadas a
redução/eliminação, ou não, das
rugas e melhora, ou não, do viço epidérmico.
O
questionário
avaliou se o voluntário ficou ou não satisfeito com os
resultados do
tratamento, respondendo “sim” ou “não”
na ficha de Avaliação de Satisfação.
Das 12 voluntárias
que iniciaram a pesquisa, duas não compareceram após a primeira sessão. A
pesquisa foi finalizada com a participação de 10 voluntárias e 30 rugas
horizontais avaliadas, sendo a idade média de 37 anos.
Após 7 dias da última sessão de micropuntura, as voluntárias
foram fotografadas no mesmo local e posição das fotos iniciais e realizada a
tomada de medida da extensão das 3 rugas, as mesmas inicialmente mensuradas, da
região frontal. Obtivemos níveis variados de redução das rugas como mostra o
gráfico abaixo:
No total, foram
mensuradas 30 rugas horizontais frontais onde observou-se
uma redução média, em centímetro, de 1,45. O teste t student mostrou que o
valor de P foi sempre < 0,001, o que nos permite dizer que a técnica é muito
eficaz no tratamento de rugas frontais.
Após a realização das
fotos finais e medições, as voluntárias responderam o questionário de avaliação
de satisfação cujo resultado foi: 100% ficou
satisfeita com o resultado final do tratamento; 100% indicaria este tratamento;
90% observou redução nas rugas na região frontal; 90% observou melhora na
qualidade geral da pele; 70% acha necessário realizar mais sessões para
alcançar melhora do resultado.
Provavelmente os
excelentes resultados da pesquisa qualitativa e quantitativa ocorreram porque o
trauma exercido na pele pela técnica de micropuntura realmente faz o estímulo
necessário para que a cascata inflamatória libere as citocinas necessárias para
estimular a formação do tecido de granulação e remodelação tecidual. A
reorganização das fibras promove melhoria na junção dermoepidérmica deixando a
pele mais lisa e as rugas menos evidentes, como podemos observar nos casos
tratados nesta pesquisa (figuras 4 e 5)
Figura
4 – Foto inicial (esquerda) e após 4 sessões de micropuntura.
Figura
5 – Foto inicial (esquerda) e após 4 sessões de micropuntura.
O estudo da
literatura mostra a eficiência das técnicas que promovem trauma tecidual,
desencadeiam reação inflamatória local e posterior indução de colágeno. A
pesquisa realizada comprova esta eficiência, os resultados obtidos após 4 aplicações da técnica de micropuntura no tratamento de
rugas na região frontal são de extrema significância, om p = 0,00001. A redução
percebida pelas voluntárias e a satisfação do tratamento corroboram os
resultados. Conclui-se que a micropuntura é uma técnica eficaz para redução de
rugas na região frontal.
Agradecemos à
coordenadora do curso de Estética e Cosmética da Faculdade Opet, professora
Roxane Wirschum Silva, que disponibilizou os recursos necessários.