ARTIGO
ORIGINAL
Alopecia
por tração causada por utilização de implante capilar artificial em cabelos
relaxados
Traction alopecia caused by the use of artificial hair implant in
relaxed hair
Fernanda Ribeiro
Scotelano Amorim*, Hamislécia Aparecida de Magalhães*, Julia Luiza Barbosa da
Cunha*, Liliane Campos do Amaral*, Lorrana Cristina Borges Ramos*, Luciene da
Silva Moura*, Rafaella Mesquita Silva* Rayssa Karine Santos Dias*, Paula Lima
Bosi**
*Tecnólogo
em Estética Centro Universitário UNA, **Mestre em
Fisioterapia Universidade Federal de São Carlos, Docente Centro Universitário
UNA
Recebido 10 de junho
de 2017; aceito 15 de julho de 2017.
Endereço
para correspondência:
Fernanda Ribeiro Scotelano Amorim: fernandascotelmo@hotmail.com; Hamislecia
Aparecida de Magalhães: migs-magalhaes@live.com; Julia Luiza Barbosa da Cunha:
jubarbosa7012@gmail.com; Lorrana Cristina Borges Ramos:
lorranaborges@outlook.com; Luciene da Silva Moura: silvamoura@yahoo.com.br;
Rafaella Mesquita Silva: rafaella.mesquita@yahoo.com.br; Rayssa Karine Santos
Dias: rayssakarine@hotmail.com; Paula Lima Bosi: paula.bossi@prof.una.br
Resumo
A alopecia por tração
é uma disfunção observada no couro cabeludo e causada por uma agressão mecânica
externa, como por exemplo, a constante tração dos fios. O implante capilar
artificial pode ser relacionado então como possível causa da alopecia por
tração, pois, as usuárias não respeitam os prazos de manutenção, implantam
quantidades de cabelo em excesso e associam ainda o relaxamento capilar. Tudo
isso pode danificar a estrutura do fio de cabelo e o couro cabeludo. O objetivo
deste estudo foi analisar se o uso de implante capilar artificial, associado ao
relaxamento do fio, que pode causar a alopecia por tração. Foi realizado estudo
comparativo com 30 mulheres, todas com as mesmas características capilares,
adeptas do relaxamento capilar à base de hidróxido alcalino e uso de implante
capilar artificial do tipo nó italiano. Para determinar a existência da
alopecia por tração foi feita análise do couro cabeludo, por imagem, empregando
o scanner modelo Babyvision. As imagens geradas foram avaliadas e interpretadas
na tentativa de estabelecer correlação entre relaxamento capilar, implante capilar
e alopecia de tração. Conclui-se que devido à tração realizada pelo implante
artificial capilar houve comprometimento do couro cabeludo ocasionando a
calvície permanente naquele local, denominada alopecia por tração.
Palavras-chave: alopecia, cabelo,
implante de cabelo.
Abstract
Traction alopecia is a dysfunction observed in the scalp and caused by
an external mechanical aggression, such as the constant pulling of the hair.
The artificial capillary implant can be related as a possible cause of traction
alopecia, since users do not observe maintenance periods, implant excessive
amounts of hair and also associate capillary relaxation. All of this can damage
the structure of the hair strand and the scalp. The objective of this study was
to analyze whether the use of artificial capillary implants, associated with
the relaxation of the thread can cause traction alopecia. A comparative study
was performed with 30 women, all with the same capillary characteristics,
adherents of capillary relaxation based on alkaline hydroxide and use of
artificial capillary implant Italian knot type. To determine the existence of
traction alopecia, scalp analysis was performed using the Babyvision
scanner. The images were evaluated and interpreted in an attempt to establish a
correlation between capillary relaxation, capillary implant and traction
alopecia. It was concluded that, due to the traction performed by the
artificial capillary implant, the scalp was compromised, causing permanent
baldness at the site, called traction alopecia.
Key-words: alopecia,
hair, hair implant.
A alopecia, conhecida
popularmente por calvície, pode ser entendida como um conjunto de desordens que
gera a falta de cabelos ou pelos em locais próprios do corpo humano [1].
A perda de cabelo é
um problema comum que afeta tanto homens como mulheres. Porém é um tipo de
patologia que acomete os homens em maior parte e com menos frequência as mulheres [2].
Cada folículo capilar
possui seu próprio ciclo de desenvolvimento, que compreende três fases,
anágena, catágena e telógena. A fase anágena compreende o crescimento do
cabelo. A fase catágena é a fase transitória, onde o cabelo para de crescer. E
a fase telógena é onde o cabelo cai, sendo substituído por um novo folículo [3].
Os distúrbios da
alopecia podem ser divididos naqueles em que o folículo de cabelo é normal, mas
o ciclo de crescimento do cabelo é anormal e aqueles em que o folículo de
cabelo é danificado [4]. A alopecia pode aparecer no decorrer das fases do desenvolvimento
do cabelo. Ao final da fase telógena, por exemplo, se o folículo não retornar
mais para a fase anágena, ou seja, não produzir mais fios, tem-se então o
início da alopecia [5].
Existem vários tipos
de perda capilar que podem ter causas diferentes. Dentre as mais comuns,
podemos citar as causas hormonais, relacionadas principalmente aos andrógenos,
os traumas e doenças sistêmicas [2]. O diagnóstico da alopecia geralmente é
definido através da observação do padrão da queda dos cabelos; algumas formas
podem determinar uma desordem mais grave, motivo para se procurar um tratamento
adequado [6,7].
Sua evolução traz
transtornos psicológicos às pessoas e com isso, faz com que elas procurem
recursos que revertam essa situação. O minoxidil tópico e a finasterida oral
são as únicas drogas autorizadas pela Food
and Drug Administration (FDA), para o tratamento de alopecias [8], porém
apresentam reações adversas, como redução da libido, do volume ejaculatório e
impotência [9,10].
A alopecia se divide
em cicatricial, caracterizada pela destruição permanente do folículo piloso, e
perda capilar irreversível e a não cicatricial, onde ocorre a preservação dos
folículos pilosos [5,11].
Dentre os tipos mais
conhecidos, a alopecia areata é uma afecção crônica dos folículos pilosos e das
unhas, de etiologia desconhecida, caracterizada pela queda de cabelos ou pelos.
Outra alopecia é a androgenética, conhecida também como hereditária, sendo o
tipo mais frequente de perda de cabelos, acometendo mais o sexo masculino,
determinada como uma calvície comum, assim, considerada como progressão normal
e fisiológica dos folículos [12].
Em 1907, quando foi
relatado o primeiro caso de alopecia por tração, denominada na época como
alopecia groelândica, referia-se ao rabo de cavalo comumente usados por meninas
e mulheres [13].
Nos Estados Unidos a
alopecia por tração é generalizada entre afro-americanos, devido à comum
prática de estilo de cabelo em tranças apertadas, também relatadas em
enfermeiros que fixam limites para seu couro cabeludo, com uso de um nó (coque)
na parte de trás da cabeça. No entanto, alopecia por tração afeta pessoas de
grupos étnicos diferentes e o que varia são as práticas de cuidado com os
cabelos [14].
Inicialmente a perda
de cabelo é reversível, sendo não cicatricial, e consiste na perda “momentânea”
do cabelo: apesar do fio ter caído, o folículo permanece íntegro, o que permite
o crescimento de um novo fio. Entretanto a alopecia permanente pode resultar de
uma tração crônica, caracterizada como alopecia cicatricial que é perda
irreversível do folículo piloso. Podem ser divididas em primária, que se
classifica pela predominância inflamatória, com perda visível dos óstios
foliculares que pode ser de difícil tratamento [15].
Nas formas
secundárias pode ocorrer como dano paralelo a agressão não específica da derme
ou como evento terminal de outras doenças. Os folículos danificados podem
perder a capacidade de regeneração, resultando na perda definitiva dos pelos,
causando cicatriz e alopecia definitiva [16].
Atualmente, tem se
utilizado diferentes materiais e métodos físicos e químicos para a alteração
física do cabelo, como alisamento, relaxamento, ondulação, tinturas, entre
outros que variam de acordo com aspirações individuais e de status social [17].
No processo de
relaxamento basicamente são utilizadas duas técnicas, sendo que cada uma
promove uma modificação química particular: uma consiste na oxirredução da
fibra, formando um filme após a fase de redução, sendo assim, recuperando sua
elasticidade e fixação, e a outra utiliza produtos alcalinos que modificam os
fios de forma irreversível, podendo deixar um efeito liso mais efetivo e
duradouro [18].
O objetivo do
presente trabalho foi analisar se o uso de implantes capilares artificiais,
associado ao relaxamento capilar podendo causar alopecia por tração.
Foi realizado um
estudo comparativo, com 30 voluntárias com idade entre 20 e 50 anos com
finalidade de analisar o couro cabeludo de mulheres com implantes capilares
artificiais.
Foram incluídas no
grupo mulheres com cabelos negroides que fazem uso de implantes capilares
artificiais há mais de 12 meses, associados ao relaxamento capilar.
Foi aplicado um
questionário às voluntárias, com o objetivo de anamnese e confirmação da
possibilidade em participar da pesquisa. Além disso, todas as voluntárias
assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido concordando em
participar do estudo.
Os critérios de
exclusão foram: indivíduos que não atendiam as características capilares determinadas
no estudo e aqueles que não puderam se comprometer com a análise.
Foram avaliadas as 30
voluntárias. A técnica de implante usada na avaliação foi a de nó italiano, já
os relaxamentos usados para ambos os grupos foram a
base de hidróxido de guanidina e hidróxido de sódio.
As mulheres
selecionadas apresentavam cabelos crespos de classificação negroide e de
espessura fina.
As voluntárias foram
divididas nos seguintes grupos: 10 voluntárias no grupo controle (C) que não
haviam realizado nenhum procedimento capilar, 10 voluntárias no grupo relaxado
(R), onde as mulheres só apresentavam o relaxamento nos cabelos e 10
voluntárias no grupo implantes (I), onde as voluntárias haviam realizado
relaxamento capilar associado ao uso de implantes.
A análise do couro
cabeludo foi realizada com uso do scanner Babyvision,
sendo as imagens obtidas do próprio aparelho equipado com câmera CCD NTSC Color
de alta definição com resolução de 420 linhas. Este estudo consiste em uma
análise qualitativa do tipo exploratória que possibilita analisar e constatar
os resultados a partir de analises de imagens do scanner.
A análise feita pelo
scanner foi captada e selecionada de acordo para que haja possíveis
comprovações na comparação entre os grupos.
Foram realizadas
imagens dos cabelos das voluntárias a uma distância de 100 cm da câmera para a
voluntária e também do couro cabeludo. Sendo que no grupo implantes, foram
realizadas imagens do couro cabeludo em regiões onde não foram implantados cabelos
e regiões que havia sofrido a aplicação de implantes capilares por 12 meses
ininterruptos. Foi analisada a quantidade de folículos pilosos por área captada
do scanner.
A seguir, as imagens
dos resultados obtidos através da análise do couro cabeludo das voluntárias
selecionadas.
Figura
1 - Cabelo da voluntária do grupo controle (A);
Imagem do couro cabeludo a partir do scanner (B).
Figura
2 - Cabelo da voluntária do grupo controle (A);
Imagem do couro cabeludo a partir do scanner (B).
Pode-se observar na
imagem do couro cabeludo uma quantidade considerada normal de folículos
pilosos, não caracterizando nenhum tipo de alopecia.
Figura
3 - Cabelo da voluntária do grupo relaxado (A);
Imagem do couro cabeludo a partir do scanner (B).
Figura
4 - Cabelo da voluntária do grupo relaxado (A);
Imagem do couro cabeludo a partir do scanner (B).
No grupo relaxado
também pode ser observado uma quantidade considerável de folículos, quando
comparadas ao grupo controle.
Figura
5 - Cabelo da voluntária do grupo relaxado
associado ao implante capilar (A); Imagem de parte do couro cabeludo a partir
do scanner sem implante (B); Imagem de parte do couro cabeludo a partir do
scanner com implante (C).
Figura
6 - Cabelo da voluntária do grupo relaxado
associado ao implante capilar (A); Imagem de parte do couro cabeludo a partir
do scanner sem implante (B); Imagem de parte do couro cabeludo a partir do
scanner com implante (C).
Neste grupo, foi
verificado que na região do couro cabeludo onde nunca foi utilizado o implante
artificial, (B), não sofreu danos. Porém nas regiões onde os implantes
artificiais foram utilizados, apresentaram quadro de alopecia (C).
A alopecia por tração
é a perda de cabelo traumático secundário, devido à aplicação de forças de
tração no couro cabeludo. Pode ser classificada como marginal ou não marginal,
onde em ambos os casos o trauma induzido muitas vezes é o resultado de cultura
social, estética e práticas não intencionais, como o uso de implantes capilares
por longos períodos como demonstrou nosso estudo [6].
Podem ser observadas
várias técnicas de implantes capilares artificiais (mega hair) disponíveis atualmente, com o objetivo de adequar à
necessidade de cada pessoa. Pode ser usado por pessoas que almejam cabelos
longos e volumosos, pois o alongamento capilar proporciona essa façanha com
aspecto natural. As técnicas mais usadas são o nó italiano, queratina, micro
link e tic tac
[19] este fato pode ser observado no nosso estudo, onde foi verificado que as
técnicas mais utilizadas pelas voluntárias foram queratina e tic tac.
Khumalo [14] afirma
que a alopecia por tração afeta pessoas de grupos étnicos diferentes e o que
varia são as práticas de cuidado com os cabelos. Este fato pode ser comprovado
em nosso estudo que mostra que o uso a longo prazo de
um artefato capilar ocasiona a alopecia por tração.
Conclui-se que o
acometimento ocasionado por tração contínua dos fios pode comprometer de forma
irreversível a regeneração do folículo piloso, acarretando em uma calvície
permanente naquele local. Fato que ocorre simplesmente pela busca por uma
aparência esteticamente aceitável, que visa somente o embelezamento, sem se
preocupar com os danos causados.